16 de julho de 2020

Sou obrigado a rezar por quem me odeia?

Em nosso último artigo sobre a oração, vimos como é um dever rezarmos uns pelos outros. Esse dever não possui exceções, pois contempla tantos os pecadores quanto os santos, e rezamos para que uns se convertam e para que os outros progridam sem cessar no amor a Deus.

Dito isso, Santo Tomás de Aquino nos lembra que "é necessário que nas nossas orações coletivas, que fazemos pelos outros, não estejam excluídos os inimigos." Sim, o preceito emitido por Jesus em Mt 5, 44: "Orai pelos que vos perseguem e vos caluniam", continua válido e necessário. Afinal, como Ele mesmo nos lembra, se fizermos o bem somente para aqueles que amamos e que nos amam, que merecimento teríamos? Até os pecadores e os malvados tratam bem aqueles a quem amam.

Como assim devo rezar por quem me odeia?

Antes de prosseguir com a necessidade da oração pelos inimigos e por aqueles que não nos amam (ou chegam até mesmo a nos odiar), precisamos entender um pouco sobre a dificuldade que temos em controlar a nossa raiva. Essa "paixão" da alma, também chamada de cólera, é a grande criadora do ódio e do rancor em nós, e foi bem estudada por um monge do século IV chamado Evágrio Pôncio, ou Pôntico, ou do Ponto, porque nasceu na antiga região "do Ponto" que pertencia à Grécia e atualmente faz parte da Turquia.

Sou obrigado a rezar por quem me odeia?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

O monge Evágrio dedicou uma especial atenção às paixões da alma ou doenças espirituais, assim como a atuação dos demônios que promovem e instigam essas paixões em nós. Para viver bem o preceito de rezar pelos nossos inimigos e por todos aqueles que nos odeiam abertamente, é importante entendermos alguns princípios explicados por Evágrio.

Ensinamentos

O primeiro ensinamento é que, embora seja impossível amarmos a todas as pessoas igualmente, podemos aprender a agir de modo justo com todos com quem nos relacionamos, não alimentando em nós mesmos rancores nem ódios. Para isso, deve-se lembrar constantemente de que a raiva nunca deve ser dirigida para o pecador, ela só é útil contra o pecado. Todos os seres humanos continuam a ser imagem de Deus, mesmo que não se comportem como tal e, portanto, não existe ninguém que não é digno de ser amado.


Deste modo, Evágrio é categórico em dizer que "não existe absolutamente cólera justa contra o próximo". Se alguém busca a oração de pura intimidade com Deus, precisa dominar a cólera e vigiar os pensamentos que são seus brotos: a suspeita, a raiva e o rancor. Eles são os pensamentos que cegam o intelecto e destroem seu contato com Deus. São Paulo nos exorta a isso quando diz que "ergamos para o Senhor as mãos puras, sem cólera nem disputas" (1 Tim, II, 28).

Seu outro ensinamento neste campo é que nossa parte irascível, que nos faz fortes e determinados, precisa estar ordenada corretamente, isto é, submissa à razão. Quando isso acontece, ela nos ajuda a sermos resilientes e perseverantes na santidade e a combater ferozmente nossas fragilidades e as paixões que nos levam a pecar. Também ajuda a resistir e ser violentos contra os demônios que nos tentam e procuram desvirtuar. Infelizmente, um irascível descontrolado, é o que nos faz brigar e criar disputas com outras pessoas, criando rixas, desavenças e comportamentos "infernais" que não condizem com nossa própria filiação divina e nem com o mandamento do Senhor de nos amarmos uns aos outros.

Ou seja, segundo Evágrio, a ira só é adequada e corretamente ordenada se dirigida contra nossos verdadeiros inimigos: os demônios. Não contra os homens que são imagens e semelhança de Deus e que somos obrigados a amar incondicionalmente. É pensando nisso que ele explica que os demônios farão de tudo para que a nossa parte irascível seja insubmissa à razão e combata os outros homens. Usando uma metáfora, podemos dizer que o irascível é como um cão feroz que mora no nosso interior, ele precisa ser ensinado a nos defender dos lobos, que são os demônios, e nunca atacar as ovelhas que são nossos irmãos.

Quem você não gostaria de encontrar no céu?

Pensando nisso e entendendo que devemos ter ódio do pecado, não do pecador, precisamos amar no nosso inimigo por causa de sua existência, que é semelhança de Deus, e não deixar de amá-lo por causa do erro que cometeu ou da culpa que carrega. Mas esteja atento, pois mesmo aqueles que dizem não ter "inimigos", cultivam desafetos e aversões secretas ou não. É o vizinho "que não me cai bem", o atendente da loja que é "insuportável", um patrão que "preferia que morresse". Sejamos, num primeiro momento, honestos com nossos sentimentos para que, depois, possamos vencê-los com determinação.

Existe um teste bem simples para localizar em nosso interior esses de quem não amamos ainda o suficiente: quem você não gostaria de encontrar no céu? Algumas pessoas chegam ao absurdo de dizer: "Se fulano estiver lá, nem quero entrar". São esses que, no nosso interior, são tratados como inimigos, mesmo que não o façamos socialmente.

Devemos, então, relembrar que o maior amor que pode existir por alguém, seja amigo ou inimigo, parente ou desafeto, é desejar a sua salvação eterna e a sua santificação na Terra. Aqueles que rezam pela salvação dos seus desafetos carregam um verdadeiro sinal de santidade, imitando perfeitamente Cristo, que rezou e intercedeu por seus assassinos.

Deus permite um mal temporário?

Embora devamos desejar sua correção e sua santificação, Santo Tomás também lembra que, às vezes, é lícito lutar contra os inimigos, pois, se isso não fosse possível, teríamos que admitir que todas as guerras seriam sempre ilícitas, e não o são. Neste caso, também chega a ser lícito rezar pedindo males temporais para os inimigos para que se corrijam, mas, obviamente, se – e somente se – o objetivo do pedido for a correção deles e não um pedido de vingança. Deus permite o mal para que o pecador se corrija e, pela correção, o pecado seja destruído e o pecador redimido.

Tomei conhecimento de um exemplo concreto disso quando uma religiosa me disse que havia rezado para que o seu irmão, um empresário muito bem sucedido, perdesse tudo. A oração foi atendida e o objetivo alcançado: levando uma vida insensível a Deus e voltada para o materialismo, a completa falência fez com que repensasse seus valores e mudasse finalmente o rumo de sua vida. Anos mais tarde, como um "bônus", recuperou sua condição privilegiada de bens materiais, mas, graças a Deus, já havia se tornado um novo homem.

No próximo artigo, veremos que a oração é tão dinâmica e profunda que podemos rezar mesmo sem palavras. Até lá, coloque em prática sua vida de oração e reze por aqueles que ama, que conhece, mas também por aqueles que não ama tanto assim, que são desconhecidos e até por aqueles que você sabe que acabaram desenvolvendo um ódio ou declarando-se seus inimigos pelos erros que você cometeu ou, até mesmo sem motivo algum. Que possamos todos, sem exceção, gozarmos juntos da bem-aventurança celeste.



Flávio Crepaldi

Flavio Crepaldi é teólogo, casado e pai de três filhas. Além do bacharelado em Teologia, possui formação em Comunicação e especialização em Gestão, sendo colaborador da TV Canção Nova desde 2006. É o autor do livro "Santidade para todos: Descobrindo as Moradas Interiores", em que, de maneira prática e descomplicada, ele explica o caminho espiritual pela busca da santidade.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/reflexao-sobre-a-oracao/sou-obrigado-a-rezar-por-quem-me-odeia/

13 de julho de 2020

E se o milagre não vier? Você já se questionou?

Todos temos alguma história de dor, perda, angústia ou medo para contar. Nesse tempo de pandemia então, não são poucos os dramas com os quais nos deparamos a cada dia. É o pai de família que perdeu o emprego e não sabe como colocará o pão de cada dia na mesa para sua esposa e seus filhos; a mulher grávida que teme contrair o coronavírus e ver em risco sua vida e a do seu bebê que cresce inocentemente em seu ventre; o filho que vê seu pai ser internado num hospital e por morar em outra cidade não pode acompanhá-lo, devido às restrições próprias da pandemia; a família que sequer pode enterrar seu ente querido. Esses são apenas alguns exemplos, e talvez você tenha vivido ou esteja vivendo alguma situação parecida com essas bem de perto. Nesses momentos, brota do peito ferido um grito de socorro dirigido para o Senhor. Queremos que a dor passe, que o medo e a angústia cessem. Queremos consolo em meio a esse vale de lágrimas que parece ter virado a nossa vida. A consolação muitas vezes parece vir por meio de orações de súplica que, alimentadas pela nossa esperança, aos poucos vão se tornando verdadeiros brados de vitória. Surgem então, no nosso diálogo com Deus, expressões como:

"Meu milagre vai chegar!"

"Deus vai me honrar!"

"Eu proclamo a vitória de Deus na minha vida!"

E se o milagre não vier? Você já se questionou?

Foto ilustrativa: sdominick by Getty Images

O clamor do pedido de milagre vem acompanhado de dor

Usualmente, esse tipo de oração é seguido por lágrimas e grandes louvores, que trazem a sensação de alívio ao coração. Mas é um sentimento diferente de paz, porque há uma condição vinculada a ele. O alívio vem porque creio que o milagre vai chegar, a vitória vai acontecer, Deus vai me honrar, a graça que pedi me será concedida. A pergunta que fica é: e se o milagre não vier? É justo que peçamos socorro a Deus, que imploremos que Ele nos livre das nossas angústias. Contemplemos o itinerário de Jesus na Via-Sacra. Quando Ele estava com o coração dilacerado de dor no Horto das Oliveiras, também pediu socorro ao Pai. O pedido de Jesus, contudo, foi um pouquinho diferente. Ele esclarece logo que está pedindo desde que aquilo seja possível dentro dos planos do Pai e acrescenta um "mas" que muda tudo: "Se for possível, Meu Pai, afasta de mim esse cálice, mas não se faça o que eu quero, e sim o que tu queres".

Quantas vezes temos coragem de suplicar a Deus nesses termos? Senhor, se for possível, afasta de mim esse cálice da doença, da infidelidade do cônjuge, do desemprego, da solidão… Mas não se faça o que eu quero, mas o que tu queres! Quantas vezes eu rezo a Deus assim, a oração completa? Será que estou parando no "afasta de mim o cálice" e já pulo para o "proclamo a vitória de Deus" ou "Deus vai me honrar" e "o milagre vai acontecer"? Depois que Jesus pede socorro ao Pai, seu sofrimento só se intensifica, até chegar à morte humilhante na cruz. Em que momento da Paixão podemos imaginar Jesus proclamando que o milagre iria acontecer na sua vida, ou dizendo que o Pai iria honrá-lo e extinguir aquele sofrimento? Sabemos como Jesus foi glorificado: após o sofrimento e a morte. Ele não foi poupado de nenhum dos seus sofrimentos, muito menos da cruz. Ele é o cordeiro imolado, vítima inocente, sem pecado, enquanto eu sou apenas um miserável que o ofendo incontáveis vezes ao longo do dia com meus pecados.


Como posso querer escapar da cruz?

Há dois riscos intrinsecamente ligados quando a minha oração passa a ser pedir incessantemente a Deus a graça, o milagre, a vitória. O primeiro é esquecer o fundamental: a Graça, o Milagre e a Vitória já aconteceram há dois mil anos, quando Deus se fez homem, anunciou a Boa Nova e morreu para me redimir dos meus pecados. Sem eu merecer, a vitória de Cristo sobre a morte me deu por graça o céu, que deve ser o que mais desejo na minha vida. O segundo risco é parar de olhar para o Cristo, que morreu para me dar tão grande graça, e olhar somente para mim: eu que sofro, eu que tenho medo, eu que estou angustiado, eu que preciso de um milagre, de um emprego, de um marido ou de um filho. Se não consigo sair dessa realidade, com o tempo as coisas começarão a se inverter e um pensamento terrível pode se formar dentro de mim: na verdade, é Deus quem está em débito comigo, não o contrário. Eu rezo, eu suplico, eu choro, eu louvo. Eu sofro, eu espero, eu não alcanço o que quero. Eu "estou fazendo tudo certo", mas o sofrimento continua, então a que conclusão eu chego? Deus está me devendo! Aos poucos, vou ficando cego para os meus pecados, minhas misérias, para a necessidade que eu tenho de me converter e começo a me achar no direito de proclamar que "Deus vai me honrar", me concedendo as graças que peço. Não! Está tudo errado, tudo invertido. Eu tinha uma dívida que jamais teria como pagar, e Jesus a quitou de maneira irrevogável e definitiva com a sua morte na cruz. Foi um ato gratuito de Deus, por amor, mas ao mesmo tempo que deixei de ser devedor perante a Justiça Divina, tornei-me devedor ainda maior diante da Misericórdia de Deus. Ele não me deve nada, absolutamente nada. Minhas orações e meus louvores devem ser movidos, portanto, por uma imensa gratidão por esse Deus tão amoroso. Por conta disso, a minha oração mais frequente deve ser para que Deus converta meu coração, e não que me conceda essa ou aquela graça.

Devo então ignorar meu sofrimento, fingir que ele não existe? Nada mais distante disso. Na Canção Nova há um termo próprio da nossa espiritualidade: os "tempos fortes". Fazem parte dos tempos fortes as visitas de Deus, que podem ser os momentos de dor, doença e cruz. O Monsenhor Jonas Abib nos ensina que esse é um tempo de graça, e por isso precisamos ser sensíveis à presença de Deus e ceder tempo e espaço para que Ele possa agir. Há uma graça sobrenatural que Deus reserva para esses momentos e que produz frutos de conversão profunda para a vida do cristão. Nós só conseguiremos experimentar essa graça e colher esses frutos, entretanto, se estivermos firmes na vida de oração, que nos auxiliará a nos mantermos na perspectiva da fé: ainda que a dor seja grande, trata-se de uma preciosa visita de Deus, e por isso devo louvá-lo. Ninguém quer sofrer, mas, como diz a canção, há um reconhecimento de Deus que só acontece na cruz. Se a dor é inevitável, que eu não a desperdice, mas a aproveite para mergulhar nos mistérios da Paixão de Cristo, que sofreu muito mais do que eu. Voltemos mais uma vez nosso olhar para Jesus, que não tinha pecado: Senhor, se possível, afaste de mim esse cálice, mas que não seja feita a minha vontade, mas a sua.

Peça ao Senhor a graça, mas também força

Se é possível, Senhor, afaste de mim o medo, a dor, a angústia, a provação que vivo hoje. Se é possível, conceda-me a graça, o milagre que eu peço, mas não esqueça, Senhor: que não seja feita a minha vontade, mas a sua. Se o milagre não vier, ainda assim eu creio na Sua infinita bondade. Se a graça não acontecer, continuo a crer que és onipotente e sabes tudo. Se o que eu peço não se realiza, Senhor, que eu me converta então nesse tempo de dor e de espera. Talvez eu esteja precisando aprender a amar mais, ou a perdoar mais. Talvez eu precise da humilhação para diminuir o meu orgulho ou da dor para crescer na fé. Não sei, Senhor, mas sei que o que mais quero é te agradar. O milagre que quero é a conversão, Senhor. A graça que quero é merecer o céu. A vitória que quero é abraçar a minha cruz. E só assim quero ser honrado, Senhor: com a salvação da minha alma.


 


José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/e-se-o-milagre-nao-vier-voce-ja-se-questionou/

11 de julho de 2020

O cristão deve acender a luz de Cristo no mundo

Jesus veio ao mundo para salva-lo. Depois de cumprir até o fim a Sua missão, passando pela morte e ressurreição, deixou a Igreja para continuar a obra da salvação de cada pessoa. Para isso, enviou os Apóstolos: "Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). Esta é, portanto, a missão da Igreja e também de cada um de nós que recebeu o santo Batismo. Cada cristão deve ser, como diziam os Padres da Igreja, "alter Christus" (um outro Cristo) que vai pelo mundo propagando o Evangelho, com a vida e com as palavras. Em cada cristão, consciente disso, Cristo continua a Sua missão salvífica. Assim, Ele nos deu a honra e a glória de o ajudarmos a construir o Seu Reino, que também é nosso.

Desfrutará das delícias desse Reino eterno, todo aquele que tiver trabalhado para construí-lo. Antes de Jesus partir para a Casa do Pai, Ele rezou profundamente pelos seus. É a oração sacerdotal de Jesus, que São João teve a felicidade de captar, naquela noite amarga em que o Senhor foi traído por Judas, negado por Pedro e abandonado pelos apóstolos. Antes de sofrer a Paixão, e enfrentar a morte, ele recomendou nos ao Pai: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livre do mal. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo" (Jô 17,15´16).

O cristão deve acender a luz de Cristo no mundo

Foto ilustrativa: ijeab by Getty Images

Acenda a luz de Cristo no mundo!

Não somos do mundo, não pertencemos a este mundo, mas Jesus nos quer vivendo nele, para levá-lo a Deus. Jesus precisa do cristão na sociedade, para ser "a luz do mundo e o sal da terra" (Mt 5,13-14). Sem os cristãos, o mundo não tem luz e não tem saúde moral e espiritual. Diante de tantas profanações da pessoa humana, diante de tanta corrupção, diante de tanto roubo, de tanto crime, de tanta prostituição e pornografia, enfim, diante de tantas trevas, não é difícil de se concluir que a luz de Cristo ainda brilha muito pouco, mesmo numa civilização que se diz cristã. Por isso tudo, é urgente evangelizar; é urgente acender a luz de Cristo, no mundo do trabalho, no mundo da ciência, no mundo da economia, no mundo das leis, no mundo do comércio… E essa é exatamente a missão que o Senhor confiou a cada um de nós leigos, que vivemos no mundo.

O documento do Concílio Vaticano II, sobre os leigos, Apostolicam Actuositatem, conclama-nos a abraçar a missão de iluminar o mundo com a luz de Cristo: "Nosso tempo exige dos leigos um zelo não menor pois as circunstâncias atuais reclamam deles um apostolado mais intenso e mais amplo" (AA,1). "Faz-se porém mister que os leigos assumam a renovação da ordem temporal como sua função própria "(AA,7). O santo Concílio, iluminado pelo Espírito, deixou claro a nossa missão: consagrar o mundo em que vivemos a Deus. Estabelecer nele as Suas leis, construir nele o Seu Reino. E nesta imensa tarefa, ninguém está dispensado. Alguém já disse que no Reino de Deus não há desempregados e nem aposentados. Todos são indispensáveis.

Cada um recebeu dons próprios que os outros não receberam; é mister colocar esses dons a serviço da construção do Reino de Cristo para a glória do Pai e a salvação dos irmãos. A mola propulsora de todo este trabalho há de ser sempre o amor a Deus e aos irmãos. Deus nos deu tudo: a vida, o ser, o mundo material com todas as suas belezas e riquezas, e nos deu o Seu Filho Único para sofrer e morrer pela nossa salvação. O que mais poderíamos pedir a Deus? Nada. Resta-nos agradecer. Mas não apenas com palavras e orações, mas com o comprometimento de toda a nossa existência no Seu projeto de reunir de novo todos os homens em Jesus Cristo, pela Igreja.


O amor é o combustível da evangelização

Cristo veio a nós e deu nos a maior prova de amor que alguém poderia dar, deu a Sua vida, a fim de que pudéssemos voltar para a Casa do Pai, onde a felicidade é eterna. E, agora, Ele precisa de cada um para salvar a todos. Então, o nosso agradecimento será realizado se lhe entregarmos o coração e as mãos. Jesus ama loucamente cada uma das Suas criaturas humanas, pois cada uma delas é única, irrepetível, criada à Sua imagem e semelhança. Por isso, Ele não quer perder nenhuma de Suas ovelhas, por mais fraca que seja. Ele garantiu que há mais alegria no Céu por um único pecador que se converta; mais até por causa de noventa e nove justos que já fazem penitência (Lc 15). Veja como Ele ama cada um com um amor eterno!

Cada um de nós aqui na terra pode fazer acontecer uma festa entre os anjos de Deus lá no céu, toda vez que convertemos um pecador do seu mal caminho. Não importa que você não possa converter a muitos; mas Deus espera que você converta para Ele aquele que está ao alcance do seu braço; aquele que é o seu próximo mais próximo. Comece amando-o, gratuitamente. Não diga a ele logo: "Deus te ama", pois ele pode não acreditar. Diga-lhe primeiro: "eu te amo"; e prove isso com os seus atos. Só depois, você vai dizer-lhe: "Deus te ama"; aí, então, ele vai acreditar e vai querer conhecer o seu Deus. O amor é o combustível da evangelização. Ninguém pode evangelizar se não for movido pelo amor; amor a Deus e amor aos filhos de Deus.

A única recompensa que deve esperar aquele que abraçou esta missão, é a alegria de agradar ao seu Deus e ter o seu nome escrito no céu. Se buscarmos outra recompensa que não seja esta, perdemos todo o mérito diante de Deus. "Já receberam a sua recompensa" (Mt 6,2.5.16). Cada um de nós deve se apropriar daquela palavra do Apóstolos: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho! Se o fizesse da minha iniciativa, mereceria recompensa. Se o faço independentemente de minha vontade, é uma obrigação que se me impõe" (1 Cor 9,16´18).

Não tenha medo nem desanime!

Quando Deus chamou o profeta Jeremias para revelar Sua dura palavra aos hebreus que já não obedeciam as Suas leis, o profeta teve medo e se viu como se fosse uma criança despreparada para a missão. Mas o Senhor não pensava assim. "'Ah! Senhor Javé, eu nem sei falar, pois que sou como uma criança'". Replicou, porém, o Senhor: 'Não digas: 'Sou apenas uma criança'; porquanto irás procurar todos aqueles aos quais te enviar, e a eles dirás o que Eu ordenar. Não os deves temer porque estarei contigo para livrar te oráculo do Senhor'" (Jer 1, 4-8). Quando o Senhor nos envia em seu Nome, seja ao próximo mais próximo, seja aos confins da terra, Ele nos dá a Sua graça; e, mais ainda, a Sua própria Presença.

"Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,20) Não tenhamos, portanto, nem medo nem desânimo, pois a obra é d'Ele e a batalha lhe pertence, somos apenas os seus comandados.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/o-cristao-deve-acender-luz-de-cristo-no-mundo/

8 de julho de 2020

As consequências do mau relacionamento dos pais na vida dos filhos

Quando os pais se relacionam mal, isso gera consequências aos filhos, independente da idade que esses tenham.

Atitudes são decisões internas que geram comportamentos e ações, diante de diferentes circunstâncias. Esses comportamentos são frutos do temperamento, do ambiente que vivem e das escolhas que vão sendo feitas, a partir de determinadas realidades que os pais vivem com os filhos.

Muitos problemas de comportamento são gerados no relacionamento com pessoas, tais como colegas, professores e irmãos, mas o de grande impacto é a interação com os pais.

Muitos pais, no entanto, não percebem que a forma como se relacionam um com o outro interfere na formação, no comportamento dos filhos.

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

 

As consequências na vida dos filhos

Discussões entre o casal podem marcar uma criança por toda a sua vida, gerando comportamentos conflituosos ou inadequados.

A percepção dos filhos sobre o amor, o matrimônio, o companheirismo, os confrontos e divórcios, entre outras situações vivenciadas pelos pais, pode ser causa de um tumulto na vida adulta dos filhos.

As crianças, na primeira infância, ficam vulneráveis e confusas diante de um ambiente conturbado; muitas vezes, assumem a culpa pelas dificuldades do casal. Por não terem ainda muita consciência, acabam escamoteando os sentimentos.

Na idade escolar, podem apresentar problemas de relacionamento consigo e com o outro, de aprendizado na escola e, em alguns casos, podem fugir de casa para se livrarem do ambiente conturbado ou por acharem que vão unir os pais.

Na adolescência, o impacto do mau relacionamento dos pais reflete no amadurecimento precoce, na vergonha, no uso de drogas por parte dos filhos e na gravidez precoce.

Filhos não querem se casar

Muitas vezes, as brigas presenciadas na infância impedem que os filhos, na fase adulta, queiram se casar, pois, têm medo de que situação conflituosa possa se repetir, e isso paralisa algumas pessoas.

Em todas as idades, quando o relacionamento do casal se deteriora, causando a separação, os filhos podem apresentar hostilidade, insegurança pela perda do amor de quem sai do lar e medo do padrasto tomar o lugar paterno.

Em casos de separação, é importante manter a presença física e emocional, pois, a ausência paterna é entendida como falta de amor, podendo aumentar o sentimento de culpa pela separação dos pais.


O quanto mais cedo os pais tiverem consciência dessas consequências, melhor, porque permite que eles ensinem aos filhos a trabalharem os sentimentos diante das situações; criarem espaço para que seja compartilhada e entendida a ansiedade que as brigas provocam e tentem reconstruir uma relação saudável na vida conjugal em benefício da vida atual e futura dos filhos.

Em alguns casos, torna-se necessário a contratação de um profissional, a fim de que, juntos, entendam as circunstâncias que acarretam o problema de comportamento e a forma de relacionamento entre a criança e seus pais, pois uma melhor interação contribui para romper o círculo vicioso de comportamentos negativos.



Ângela Abdo

Mestre em Ciências Contábeis pela Fucape, pós-graduada em Gestão de Pessoas pela FGV, Gestão de Pessoas pela Faesa, graduada em Serviço Social pela Ufes e psicanalista. Consultora e Executiva na área de RH e empresa hospitalar. Foi coordenadora do grupo fundador do Movimento Mães que Oram pelos Filhos da Paróquia São Camilo de Lellis, em Vitória (ES) e do grupo de Amigos da Canção Nova de Vitória. Atualmente, é coordenadora nacional e internacional do Movimento Mães que Oram pelos Filhos. Escritora dos livros "La Salette, o grito de uma Mãe!" (2018), "Superação x Rejeição: Aprendendo a ser livre" (2017), "Ser Mulher À Luz da Bíblia: Porque Deus Pode Tudo!" (2016) e "Mães que Oram pelos Filhos" (2016). Participa do programa "Papo de Mãe que Ora", no canal Mães que Oram pelos Filhos Oficial, e do "Mães que Oram pelos Filhos", na Rádio América.  Autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/as-consequencias-do-mau-relacionamento-dos-pais-na-vida-dos-filhos/

6 de julho de 2020

Uma santidade experimentada no dia a dia da vida

Os santos da nossa Igreja foram homens e mulheres que nunca desistiram da vontade de Deus e, por isso, tiveram de passar muitas vezes por grandes desafios ao longo de suas vidas. Seguir Jesus é, muitas vezes, passar pela via crucis, é carregar a cruz a cada dia com paciência e sem esmorecer; mas é carregar a cruz com confiança e olhando sempre para Jesus que é nosso grande modelo. A vida dos santos nos evangeliza, nos dá esperança, pois vemos que eles foram gente como nós, mas que se deixaram transformar pela graça de Cristo e, com isso, se tornaram pessoas melhores para eles mesmos e para a sociedade.

Recordo-me da grande apóstola do Sagrado Coração de Jesus, a Beata Italiana Madre Clélia Merlone, que, diante de tantas injustiças, decepções, falsos testemunhos levantados ao seu respeito, suportou tudo em silêncio, sem reclamar, mas, ao mesmo tempo, confiando em Deus, e sabia que no devido tempo o Senhor seria sua justiça. Madre Clélia soube, diante de toda dor, esperar em Deus.

Uma santidade experimentada no dia a dia da vida

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

E nós sabemos esperar em Deus? Diante das injustiças da vida, sabemos esperar e confiar em Deus? Clélia, mesmo diante da dor, não perdeu tempo, não parou na sua dor, não permitiu que tudo aquilo que fizeram com ela a tornasse amarga, triste, mas, ao contrário, no coração de Clélia vivia Jesus, no coração dela estava o Sagrado Coração que a fortalecia em sua caminhada, não parava, dava catequese para as crianças, ajudava na paróquia. E, anos depois, a verdade apareceu, viram a grande injustiça que fizeram com essa mulher que só fez o bem. Madre Clélia foi experimentada na vida, foi forjada no sofrimento. Porém, soube transformar as amarguras que lhe davam em pérolas a Jesus e em caridade para com o próximo.

Outro grande testemunho é a vida simples e extraordinária da Beata Ana Maria Taigi, uma simples esposa, mãe e dona de casa, que, no dia a dia como mulher simples, soube viver o evangelho com sua família. Suportou com paciência e com amor os quarenta e nove anos de vida matrimonial com Domingos Taigi, um homem extremamente violento e que não era fiel a ela. Nada disso roubava a sua paz, mas, diante dos sofrimentos da vida, a fazia confiar mais em Deus. Quanta coisa essa mulher viveu no silêncio da sua casa, quantas lágrimas não derramou em seus rosários! Mas o Senhor não abandona quem Nele confia.

Como posso experimentar a vida em santidade?

O que leva uma pessoa igual a mim e a você perdoar ao extremo, amar sem limites aqueles que não mereciam amor, dar uma resposta diferente diante de toda dificuldade? Só existe uma explicação: a graça de Deus. As Beatas citadas encontravam forças em Deus para vencer a todo obstáculo. Ser santo não é viver de espetáculos, não é curar o mundo. Ser santo é mudar a si mesmo, é viver o amor e o perdão de forma extraordinária na vida. Vemos as imagens dos santos lindos em nossos altares, em nossas Igrejas, mas só Deus sabe o que eles viveram para chegarem ali, foram provados na vida. A Palavra de diz: "Quem perseverar até o fim esse será salvo".

A verdadeira santidade se dá no dia a dia na sua casa, sem ninguém ver, sem ser notado, fazendo tudo por amor, suportando tudo pela glória de Deus, mas, acima de tudo, tendo o coração unido ao coração de Deus. E, diante de cada realidade que aparecer a você, se perguntar: "O que faria Jesus no meu lugar? O que diria Jesus estando ele no meu lugar? Como Jesus reagiria diante desta situação ou diante desta determinada pessoa?".


A santidade tem o poder de transformação

Não creio numa santidade que não te faça mais gente, mais misericordioso, mais terno, mais de oração. Ser santo não é rezar direto ou passar o dia inteiro numa Igreja; ser santo é viver direto em oração no teu coração, tendo teu coração unido a quem tanto te amou na cruz, é colocar amor em tudo que fazes, é ter bondade, é ter gestos de carinho, principalmente com aquelas pessoas mais difíceis. É saber que nada escapa do olhar de Deus e ter sempre a certeza de ele te vê, nada que sofre ou que vive é indiferente a Ele.

A pessoa que luta pela vida de santidade não se preocupa com fama, não faz nada para ser aplaudido ou visto; suporta tudo por amor, passa pela provação com alegria e lágrimas, mas confiando sempre "No amanhã de Deus". Ensina-nos tão bem o grande e pequeno São Rafael Barón Arnaiz: "Quero ser santo, diante de Deus, e não dos homens; uma santidade que se desenvolva no coro, no trabalho, sobretudo, no silêncio; uma santidade conhecida somente de Deus e da qual nem mesmo eu me dê conta, pois, então, já não seria verdadeira santidade".

Que a graça de Deus nos auxilie a cada dia e que, em meios às provações e sofrimentos que passamos na vida, esperemos sempre o socorro do Alto. Que a fé seja a nossa fortaleza e alegria sempre!



José Dimas

José Dimas da Silva é seminarista e candidato às Ordens Sacras da Comunidade Canção Nova. Natural de Gravatá (PE) e graduando do curso de Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP). Atua na liturgia durante os eventos e é produtor de conteúdo para este canal formativo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/uma-santidade-experimentada-no-dia-a-dia-da-vida/

1 de julho de 2020

Paternidade e maternidade responsável

A família verdadeiramente cristã busca viver intensamente os preceitos evangélicos e a doutrina da Igreja. Por isso, quando a Igreja propõe a paternidade e maternidade responsável, ela não está impondo uma nova lei ou algo arbitrário. Está na linha do que lhe é próprio e devido, como ideal inerente à vocação familiar.

 

Paternidade e maternidade responsável

Foto Ilustrativa: by Getty Images/monkeybusinessimages

 

A busca de uma paternidade e maternidade responsável é um processo lento e gradativo

É o plano de Deus e está na ordem natural a realização humana, mas o que se vê, nos dias de hoje, é uma espécie de inversão dessa ordem e um afastamento, por parte das pessoas, desse desejo de Deus. Parece que existe, especialmente nos jovens, um temor em assumir as responsabilidades do matrimônio, um medo ou uma insegurança quanto ao futuro. O matrimônio parece assustar.

Logicamente, há causas fáceis a serem determinadas: a instabilidade econômica, a dificuldade em se conseguir emprego estável, desarmonia familiar e tantas outras. Chega-se a duvidar do amor, a questionar a vida, a desacreditar da liberdade.

De onde vem esse estado de coisas?

De uns tempos para cá, o número de separações tem aumentado. E, cada vez mais, os jovens preferem experiências sexuais temporárias, provisórias a relacionamentos efetivos. Nem mesmo ao namoro estão dispostos, preferem "ficar". Por não se ter perspectiva de futuro, nem o presente é valorizado. Como consequência, muitas vezes, ainda mais terrível, sobrevém uma gravidez indesejada que acaba sendo interrompida por abortamento. Onde estaria a solução? Qual o caminho certo? Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que: a vida familiar faz parte do plano de Deus.

O Santo Papa João Paulo II nos exorta a construirmos a base da humanidade e da Igreja sobre a família (Familiaris Consortio). Por isso, é preciso lutar pela família não apenas enquanto realidade social, mas como plano de Deus, e considerar suas consequências como: visão clara de Igreja, aceitação de suas exigências morais e espirituais. Isso se realiza com séria preparação para a vida familiar, visão exata da sexualidade, fecundidade, aceitação livre e consciente dos filhos como "o dom mais excelente do Matrimônio" e a educação dos mesmos e o acompanhamento nas diversas etapas da vida (cf.: Gaudium et Spes, nº 50; Humanae Vitae, nº9).

A paternidade e maternidade responsável liberta para o amor

A busca de uma paternidade e maternidade responsável é um processo lento e gradativo, e deve acompanhar os jovens mediante catequese adequada que favoreça o crescimento em idade e conhecimento do mundo e da realidade. No momento decisivo de preparação imediata para o matrimônio, essa responsabilidade receberá grande impulso. Aos jovens que buscam, com sinceridade, essa preparação, a Igreja está sempre pronta a oferecer ajuda. A paternidade e a maternidade responsáveis libertam decidida e definitivamente o jovem casal de toda insegurança, perplexidade, medo, permissividade, amor livre. Liberta para o amor, pois revela todo o valor, o preço da pessoa humana em si mesma e no seu relacionamento "familiar".

Visão de fé

Com essa visão de fé será bem mais fácil superar as dificuldades, as limitações, enfrentar corajosamente as pressões sociais. Uma vida a dois e a bênção dos filhos é sinal da grande responsabilidade dada por Deus. Porém, Ele mesmo fortalece o casal cristão com as virtudes necessárias para viver o dever de estado. Isso, mediante o sacramento do matrimônio.

Diz a Doutora Elizabeth Kipman Cerqueira (citação de nosso livro: "Preparação para o Casamento e para a Vida Familiar"): "Não podemos falar de paternidade responsável, no sentido restrito e amplo da palavra, tomando por base valores transitórios. O valor da criatura gerada não pode estar subordinado às restrições e distorções do ambiente social ou submetido a uma lei contingente. A única análise possível é pela . De nada servem outros raciocínios. O homem deve ser homem em absoluto e basta" (cf. p.68).


"Que Deus nos conceda famílias bem estruturadas!"

O Papa Paulo VI, em sua Encíclica Humanae Vitae, falava aos casais cristãos nestes termos: "Foi a eles (aos casais cristãos) que o Senhor confiou a missão de tornarem visível aos homens a santidade e a suavidade da lei que une o amor mútuo dos esposos com a sua cooperação com o amor de Deus, autor da vida humana. Não pretendemos, evidentemente, esconder as dificuldades, por vezes graves, inerentes à vida dos cônjuges cristãos: para eles, como para todos, de resto, "é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida" (Mt 7,14; Hb 12,11).

A esperança desta vida, no entanto, precisamente, deve iluminar o seu caminho, enquanto eles corajosamente se esforçam por "viver com sabedoria, justiça e piedade no tempo presente" (Tt 2,12), sabendo que "a figura desse mundo passa" (1 Cor 7,31).

Que Deus nos conceda, cada vez mais, famílias bem estruturadas, jovens ardorosos e cheios de grandes ideais e sonhos. Jovens que se entusiasmem pelo Evangelho da vida, pelos valores da "Comunidade de amor e vida", qual exemplo do amor de Cristo pela sua Santa Igreja! A Pastoral Familiar entrará em cena como grande auxiliar para jovens nubentes, jovens neo-casados e para casais adentrados em sua vida e experiência familiar.

Dom Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/fertilidade/paternidade-e-maternidade-responsavel/

29 de junho de 2020

Quais razões para dedicar-se mais à vida de oração?

Deus tem sede de nós e deseja que tenhamos sede d'Ele e, por isso, nos convida a um relacionamento, a uma vida com Ele, uma vida de oração. Muitas vezes, já experimentamos a eficácia da oração em nossa vida, contudo, tendenciamos a buscar esses momentos somente quando surgem as dificuldades. Isso, porque, ainda não entendemos o que é a oração. Orar sempre e continuamente significa estar sempre com Deus de maneira consciente, incluindo a presença d'Ele em nossos pensamentos e ações.

A oração nos coloca na presença de Deus. É um simples olhar lançado ao céu, uma entrega humilde e confiante de nossa vontade humana à vontade do Pai. Muito mais do que alcançar benefícios ou ter uma "garantia de segurança", é olhar para a vida sob a perspectiva de Deus e confiar n'Ele, sabendo-nos amados e deixando-nos sermos guiados segundo a vontade d'Ele.

Quais razões para dedicar-se mais à vida de oração

Foto Ilustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

Viver uma vida de oração é viver uma vida com Deus. Para tanto a oração não pode ser vista somente como uma obrigação a ser seguida, e sim como um meio para nos relacionarmos com o Senhor, oferecendo nosso tempo a Ele, dizendo o que vivemos e escutando os seus direcionamentos. Quando vivemos a partir dessa perspectiva, todos os acontecimentos da nossa vida se tornam matéria de oração, motivo para falar com Deus e estabelecer com Ele uma relação de amizade. Rezamos com pensamentos, palavras, com lágrimas, no recolhimento interior e também com as nossas atitudes e, assim, "oramos sem cessar".

Os benefícios de uma vida de oração

A vida de oração é a fonte de cura para o nosso coração. Nela descobrimos um amigo, um abrigo, um consolo e a certeza de que eu não vivemos só. A partir dela vamos devolvendo a Deus o espaço que é d'Ele em nossa vida. Como nos ensina Santo Afonso de Ligório, a nossa salvação depende da oração: "Quem reza se salva, quem não reza se condena". Isso, porque, quando nos dedicamos a ela, acontecem dois movimentos simultâneos muitos importantes: Deus se revela a nós e nos revela a nós mesmos.

No momento em que Ele nos revela a nós mesmos, tomamos consciência de quem somos, do amor que tem por nós, mas, tocamos também em nossos traumas, nossos limites, fraquezas e realidades onde precisamos ser curados. Assim, nosso coração é conduzido à conversão, somos lapidados, restaurados a Sua imagem e semelhança.


E, quando Deus se revela a nós, nos tornamos conhecedores da Sua grandeza, entendemos que nada em nossa vida é maior do que a bondade d'Ele. Somos, então, encorajados a permanecer de pé, a lutar diante das dificuldades, a não desanimar. Quanto mais Ele se revela, mais cresce nossa fé e confiança. Nesta hora, não mais O seguimos pelo que realiza ou pelo consolo que nos dá, mas simplesmente e somente por quem Ele é. Assim podemos descansar em Sua presença independente do que nos aconteça, e essa sim é a grande graça da oração.

Contudo, a oração não surge de um espontâneo impulso interior. Para orar é preciso querer. Viver uma vida de oração exige dedicação. A resposta é livre e pessoal: passa pela nossa razão e pela nossa vontade. Diante de tantos motivos para se dedicar à vida de oração, a escolha é sempre nossa. Deus estará sempre a nos esperar com desejo de saciar a nossa sede!



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/quais-razoes-para-dedicar-se-mais-a-vida-de-oracao/