1 de julho de 2020

Paternidade e maternidade responsável

A família verdadeiramente cristã busca viver intensamente os preceitos evangélicos e a doutrina da Igreja. Por isso, quando a Igreja propõe a paternidade e maternidade responsável, ela não está impondo uma nova lei ou algo arbitrário. Está na linha do que lhe é próprio e devido, como ideal inerente à vocação familiar.

 

Paternidade e maternidade responsável

Foto Ilustrativa: by Getty Images/monkeybusinessimages

 

A busca de uma paternidade e maternidade responsável é um processo lento e gradativo

É o plano de Deus e está na ordem natural a realização humana, mas o que se vê, nos dias de hoje, é uma espécie de inversão dessa ordem e um afastamento, por parte das pessoas, desse desejo de Deus. Parece que existe, especialmente nos jovens, um temor em assumir as responsabilidades do matrimônio, um medo ou uma insegurança quanto ao futuro. O matrimônio parece assustar.

Logicamente, há causas fáceis a serem determinadas: a instabilidade econômica, a dificuldade em se conseguir emprego estável, desarmonia familiar e tantas outras. Chega-se a duvidar do amor, a questionar a vida, a desacreditar da liberdade.

De onde vem esse estado de coisas?

De uns tempos para cá, o número de separações tem aumentado. E, cada vez mais, os jovens preferem experiências sexuais temporárias, provisórias a relacionamentos efetivos. Nem mesmo ao namoro estão dispostos, preferem "ficar". Por não se ter perspectiva de futuro, nem o presente é valorizado. Como consequência, muitas vezes, ainda mais terrível, sobrevém uma gravidez indesejada que acaba sendo interrompida por abortamento. Onde estaria a solução? Qual o caminho certo? Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que: a vida familiar faz parte do plano de Deus.

O Santo Papa João Paulo II nos exorta a construirmos a base da humanidade e da Igreja sobre a família (Familiaris Consortio). Por isso, é preciso lutar pela família não apenas enquanto realidade social, mas como plano de Deus, e considerar suas consequências como: visão clara de Igreja, aceitação de suas exigências morais e espirituais. Isso se realiza com séria preparação para a vida familiar, visão exata da sexualidade, fecundidade, aceitação livre e consciente dos filhos como "o dom mais excelente do Matrimônio" e a educação dos mesmos e o acompanhamento nas diversas etapas da vida (cf.: Gaudium et Spes, nº 50; Humanae Vitae, nº9).

A paternidade e maternidade responsável liberta para o amor

A busca de uma paternidade e maternidade responsável é um processo lento e gradativo, e deve acompanhar os jovens mediante catequese adequada que favoreça o crescimento em idade e conhecimento do mundo e da realidade. No momento decisivo de preparação imediata para o matrimônio, essa responsabilidade receberá grande impulso. Aos jovens que buscam, com sinceridade, essa preparação, a Igreja está sempre pronta a oferecer ajuda. A paternidade e a maternidade responsáveis libertam decidida e definitivamente o jovem casal de toda insegurança, perplexidade, medo, permissividade, amor livre. Liberta para o amor, pois revela todo o valor, o preço da pessoa humana em si mesma e no seu relacionamento "familiar".

Visão de fé

Com essa visão de fé será bem mais fácil superar as dificuldades, as limitações, enfrentar corajosamente as pressões sociais. Uma vida a dois e a bênção dos filhos é sinal da grande responsabilidade dada por Deus. Porém, Ele mesmo fortalece o casal cristão com as virtudes necessárias para viver o dever de estado. Isso, mediante o sacramento do matrimônio.

Diz a Doutora Elizabeth Kipman Cerqueira (citação de nosso livro: "Preparação para o Casamento e para a Vida Familiar"): "Não podemos falar de paternidade responsável, no sentido restrito e amplo da palavra, tomando por base valores transitórios. O valor da criatura gerada não pode estar subordinado às restrições e distorções do ambiente social ou submetido a uma lei contingente. A única análise possível é pela . De nada servem outros raciocínios. O homem deve ser homem em absoluto e basta" (cf. p.68).


"Que Deus nos conceda famílias bem estruturadas!"

O Papa Paulo VI, em sua Encíclica Humanae Vitae, falava aos casais cristãos nestes termos: "Foi a eles (aos casais cristãos) que o Senhor confiou a missão de tornarem visível aos homens a santidade e a suavidade da lei que une o amor mútuo dos esposos com a sua cooperação com o amor de Deus, autor da vida humana. Não pretendemos, evidentemente, esconder as dificuldades, por vezes graves, inerentes à vida dos cônjuges cristãos: para eles, como para todos, de resto, "é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida" (Mt 7,14; Hb 12,11).

A esperança desta vida, no entanto, precisamente, deve iluminar o seu caminho, enquanto eles corajosamente se esforçam por "viver com sabedoria, justiça e piedade no tempo presente" (Tt 2,12), sabendo que "a figura desse mundo passa" (1 Cor 7,31).

Que Deus nos conceda, cada vez mais, famílias bem estruturadas, jovens ardorosos e cheios de grandes ideais e sonhos. Jovens que se entusiasmem pelo Evangelho da vida, pelos valores da "Comunidade de amor e vida", qual exemplo do amor de Cristo pela sua Santa Igreja! A Pastoral Familiar entrará em cena como grande auxiliar para jovens nubentes, jovens neo-casados e para casais adentrados em sua vida e experiência familiar.

Dom Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/fertilidade/paternidade-e-maternidade-responsavel/

29 de junho de 2020

Quais razões para dedicar-se mais à vida de oração?

Deus tem sede de nós e deseja que tenhamos sede d'Ele e, por isso, nos convida a um relacionamento, a uma vida com Ele, uma vida de oração. Muitas vezes, já experimentamos a eficácia da oração em nossa vida, contudo, tendenciamos a buscar esses momentos somente quando surgem as dificuldades. Isso, porque, ainda não entendemos o que é a oração. Orar sempre e continuamente significa estar sempre com Deus de maneira consciente, incluindo a presença d'Ele em nossos pensamentos e ações.

A oração nos coloca na presença de Deus. É um simples olhar lançado ao céu, uma entrega humilde e confiante de nossa vontade humana à vontade do Pai. Muito mais do que alcançar benefícios ou ter uma "garantia de segurança", é olhar para a vida sob a perspectiva de Deus e confiar n'Ele, sabendo-nos amados e deixando-nos sermos guiados segundo a vontade d'Ele.

Quais razões para dedicar-se mais à vida de oração

Foto Ilustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

Viver uma vida de oração é viver uma vida com Deus. Para tanto a oração não pode ser vista somente como uma obrigação a ser seguida, e sim como um meio para nos relacionarmos com o Senhor, oferecendo nosso tempo a Ele, dizendo o que vivemos e escutando os seus direcionamentos. Quando vivemos a partir dessa perspectiva, todos os acontecimentos da nossa vida se tornam matéria de oração, motivo para falar com Deus e estabelecer com Ele uma relação de amizade. Rezamos com pensamentos, palavras, com lágrimas, no recolhimento interior e também com as nossas atitudes e, assim, "oramos sem cessar".

Os benefícios de uma vida de oração

A vida de oração é a fonte de cura para o nosso coração. Nela descobrimos um amigo, um abrigo, um consolo e a certeza de que eu não vivemos só. A partir dela vamos devolvendo a Deus o espaço que é d'Ele em nossa vida. Como nos ensina Santo Afonso de Ligório, a nossa salvação depende da oração: "Quem reza se salva, quem não reza se condena". Isso, porque, quando nos dedicamos a ela, acontecem dois movimentos simultâneos muitos importantes: Deus se revela a nós e nos revela a nós mesmos.

No momento em que Ele nos revela a nós mesmos, tomamos consciência de quem somos, do amor que tem por nós, mas, tocamos também em nossos traumas, nossos limites, fraquezas e realidades onde precisamos ser curados. Assim, nosso coração é conduzido à conversão, somos lapidados, restaurados a Sua imagem e semelhança.


E, quando Deus se revela a nós, nos tornamos conhecedores da Sua grandeza, entendemos que nada em nossa vida é maior do que a bondade d'Ele. Somos, então, encorajados a permanecer de pé, a lutar diante das dificuldades, a não desanimar. Quanto mais Ele se revela, mais cresce nossa fé e confiança. Nesta hora, não mais O seguimos pelo que realiza ou pelo consolo que nos dá, mas simplesmente e somente por quem Ele é. Assim podemos descansar em Sua presença independente do que nos aconteça, e essa sim é a grande graça da oração.

Contudo, a oração não surge de um espontâneo impulso interior. Para orar é preciso querer. Viver uma vida de oração exige dedicação. A resposta é livre e pessoal: passa pela nossa razão e pela nossa vontade. Diante de tantos motivos para se dedicar à vida de oração, a escolha é sempre nossa. Deus estará sempre a nos esperar com desejo de saciar a nossa sede!



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/quais-razoes-para-dedicar-se-mais-a-vida-de-oracao/

26 de junho de 2020

Os pais se divorciaram. Como fica o relacionamento com os filhos?

O casamento se mantém como uma promessa de união eterna. Ao escolher uma esposa ou marido, é comum o desejo de ter consigo essa pessoa até o fim da vida. Essa também é a interpretação da sociedade. Famílias e amigos creem na permanência do matrimônio, aceitando os cônjuges como um. Nesse contexto, o fim do matrimônio é sempre uma situação de constrangimento, não necessariamente pela rejeição, mas pela quebra de uma promessa social de união. Mais difícil se torna a situação quando o casal tem filhos, que podem se tornar vítimas indefesas desse momento de tribulação.

Os motivos que acarretam o fim do matrimônio são os mais diversos. Na infeliz hipótese de um rompimento – seja qual for o motivo –, o cônjuge que não deseja o fim da relação tem que lidar com o próprio sentimento de rejeição e, como o sofrimento tende a nos cegar para as consequências dos nossos atos, os filhos, frequentemente, são vítimas ingênuas. Poucas pessoas conseguem gerir o sentimento de rejeição de forma saudável.

Foto Ilustrativa: fizkes by Getty Images

Para amenizar as consequências do divórcio nos filhos é preciso, primeiro, controlar os conflitos dos pais. Diante do sofrimento, é difícil exigir dos pais a compreensão de que as agressões entre eles são exemplos fortemente influenciadores em seus filhos. Isso porque a separação conturbada tende a fundamentar acusações, xingamentos, discussões e outros males que tomam toda a atenção dos pais, acabando por não observar o comportamento dos filhos.

Sofrimento individual, filhos e a Igreja

É preciso uma compreensão clara de que, mesmo diante de mágoas, intrigas e até traições, o pai continua pai e a mãe continua mãe. O homem ou a mulher que tanto magoou ainda tem muito a acrescentar na criação dos filhos. Claro que, na teoria, isso parece bem óbvio e simples, mas, na prática, não é bem assim. O fim da união é, geralmente, vivido sem a coragem do perdão, da paciência, da reconciliação e até do sacrifício. Portanto, cabe a cada um dos ex-cônjuges manter-se ponderado diante dos filhos, para que as mazelas da separação os atinjam de forma menos traumática.

Superado o sofrimento individual, é preciso voltar os olhos para os filhos e exercer toda a paciência e compaixão para explicar o que, muitas vezes, nem mesmo os pais entenderam. E se há dificuldade em apresentar uma solução particular para os pais que estão se divorciando, é possível demonstrar o papel da Igreja diante do sofrimento dos fiéis, sugerida pelo Sínodo dos Bispos na III Assembleia Geral Extraordinária:


"Um discernimento particular é indispensável para acompanhar pastoralmente os separados, os divorciados, os abandonados. Deve ser acolhido e valorizado o sofrimento daqueles que padeceram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então, por causa dos maus-tratos do cônjuge, foram obrigados a interromper a convivência. O perdão pela injustiça sofrida não é fácil, mas se trata de um caminho que a graça torna possível. Daqui, deriva a necessidade de uma pastoral da reconciliação e da mediação, também através de centros de escuta especializados, que devem ser criados nas dioceses".

É preciso compreensão da comunidade cristã diante de algumas dissoluções matrimoniais. O cuidado com eles não é demérito para a Doutrina da Igreja, pelo contrário, é demonstração de caridade. Com isso, inseridos em um cenário de acolhimento e amenizados os sofrimentos individuais, o tratar dos filhos se torna resultado natural do amor em comum que os pais têm por eles. Que o amor seja sempre o fundamento de nossas relações, e se surgir, em nosso meio, a separação, que a caridade e a compreensão possam amparar os que sofrem. Que assim seja.

 



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã. Advogado com atuação na área de Direito de Família e Direito Bancário. Tecnólogo em Gestão Empresarial. Professor de cursos técnicos-profissionalizantes.
Instagram: @luisguconde Contato: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/divorcio/os-pais-se-divorciaram-como-fica-o-relacionamento-com-os-filhos/

24 de junho de 2020

Como é viver a santidade na vida cotidiana?

A santidade é a vocação de todo cristão batizado, independentemente do seu estado de vida e da realidade em que esteja inserido. Em sua Encíclica Gaudete et Exsultate sobre o chamado à santidade no mundo atual, Papa Francisco nos diz que a santidade é, sem dúvida, o rosto mais belo de Deus, e que "O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente".

Os santos foram homens e mulheres que se deixaram transformar pela graça de Deus e corresponderam a essa graça numa vida honesta, virtuosa e, acima de tudo, uma vida de vivência da Palavra de Deus. Em outras palavras, poderíamos dizer que ser santo é viver o Evangelho, é fazer a vontade de Deus onde se está inserido. Por muito tempo, achávamos que a santidade era algo só para quem vivia nos mosteiros, para os padres e as freiras, mas isso é um pensamento errôneo, pois a santidade é possível para todos – para o estudante, para a mãe de família, para o pai trabalhador, para o jovem universitário –, independentemente da profissão ou do cargo que ocupe.

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Foto Ilustrativa: flukyfluky by Getty Images

Uma devoção à santidade

São Francisco de Sales, em seu livro intitulado de 'Filoteia' ou 'Introdução à vida devota', aponta-nos que a vida de devoção e santidade é possível, que ela não é para uma elite separada; a santidade é para todo homem de boa vontade. Outra grande verdade é que a santidade não é fruto de nossos esforços humanos nem de nossos méritos, ou seja, não somos nós que nos transformamos em santos; a santidade é, acima de tudo, um dom da graça de Deus, e é Ele quem nos transforma em santos. Da nossa parte, temos a obrigação de corresponder a tamanho dom que nos foi dado no dia do nosso batismo, pois todos os dons já nos foram dados no nosso batismo.

O batizado é um vocacionado à santidade, ou seja, é alguém que deve ter consciência da vida nova que lhe foi infundida e, por isso, vive como pessoa salva em Cristo, vivendo fiel e honestamente o seu batismo.

Ser santo não é não pecar ou não ser gente, ser santo é corresponder à graça de Deus, amar a Deus acima de tudo e o próximo com amor verdadeiro que sai de si. É viver o Evangelho, a ternura, a bondade, a conversão nas pequenas e grandes coisas do cotidiano da vida.

São Bento, em sua regra, aponta-nos um meio tão eficaz chamado de "a conversão dos costumes", ou seja, auxiliados pela força de Deus, devemos nos converter, mudar aquelas atitudes que não edificam ou não ajudam o próximo no seguimento a Cristo. Os grandes santos eram profundamente homens e totalmente de Deus, não viviam uma santidade destacada da realidade, ou algo longe de se alcançar, mas algo no concreto do dia a dia, vivido com paciência e amor. Não viviam nas alturas só preocupados consigo mesmos, ao contrário, os santos eram homens e mulheres à frente do seu tempo, eram, como nos diz Jesus no Evangelho, o fermento de Deus no meio do mundo.

Grande exemplo dessa santidade nas pequenas coisas e no cotidiano da vida é Santa Teresa do Menino Jesus, que viveu a chamada pequena via, uma santidade que se dava no dia a dia. Em tudo aquilo que ela fazia, colocava amor, fazia por amor, principalmente as coisas mais humilhantes, suportava tudo sem murmurar, mas por amor.

Nosso século está recheado de testemunhos autênticos de pessoas que, em diferentes realidades, viveram a santidade, foram se transformando pela graça de Cristo. Pessoas que, alcançadas pelo amor e misericórdia de Deus, não pararam em si mesmas, mas se lançaram em ajudar o próximo, pessoas essas que são para nós como luzeiros a iluminar nosso caminho nas noites escuras que, muitas vezes, vivemos.

Os santos não são apenas para ficar nos altares bonitinhos e rezarmos a eles, mas, antes e acima de tudo, são para nós modelos, modelos a serem imitados no dia a dia, adaptando a nossa vida a nossa realidade, buscando viver as virtudes nas situações que vamos vivendo na caminhada. Os santos são nossos irmãos mais velhos na fé. Olhemos para a vida deles e percebamos que é possível, podemos chegar lá, não sozinho, mas correspondendo à graça de Deus acima de tudo.


O fundador do Opus Dei, São Josemaria Escrivá, tem uma frase belíssima e, ao mesmo tempo, muito forte, que nos leva a questionarmos a nossa vida: "Meu Deus, faz-me santo, nem que seja a pauladas". Portanto, meus irmãos, a santidade não é um presente de bom comportamento, mas uma graça dada por Deus, que consiste na vivência da Sua Palavra. O santo não se pertence, é alguém vazio de si e cheio de Deus.

Portanto, meus irmãos, vivamos a santidade em tudo aquilo que fizermos, seja na cozinha, no escritório, no campo, na escola, no hospital, na faculdade e em qualquer lugar que estejamos, suportando tudo por amor de Deus e pagando o mal com o bem sempre, pois o bem feito com amor nunca será esquecido.



José Dimas

José Dimas da Silva é seminarista e candidato às Ordens Sacras da Comunidade Canção Nova. Natural de Gravatá (PE) e graduando do curso de Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP). Atua na liturgia durante os eventos e é produtor de conteúdo para este canal formativo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-e-viver-a-santidade-na-vida-cotidiana/

22 de junho de 2020

Escolha pelo time de Jesus

Eu estava ouvindo uma pregação do monsenhor Jonas em que ele falava muito de decisão, estava nos levando a tomar uma decisão. É hora de jogar fora tudo aquilo que não presta, por causa da vinda do Senhor.

Monsenhor Jonas falou muito de times. No mundo existem dois times, o de Jesus e o do maligno. No céu, todos estavam em um único time, até que houve uma divisão, como está escrito no livro do Apocalipse 12,7 em diante. Diz ainda que o dragão foi precipitado na terra. No começo do Gênesis, só havia um time, Adão e Eva, e a serpente foi criar a divisão. No Evangelho de João, capítulo 10, versículos 9 e 10, nós podemos observar dois times.

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Foto Ilustrativa: Zbynek Pospisil by Getty Images

O sedutor nos tira do time de Jesus

O sedutor vem para nos seduzir e, quando nos seduz, ele nos tira do time de Jesus. Não que nós queiramos, mas nós como não conhecemos o time de Jesus, entramos no time dele. Porém, quando entramos no time dele, nós entramos para morrer. Ele nos seduz através da bebida, cigarro, a fim de nos levar à perdição. Jesus disse que era o Caminho, então, nós temos de passar por Jesus para sermos salvos. Por isso, nós temos de evangelizar para mostrar para os outros que eles estão do lado errado. Nós pedimos a ajuda de Nossa Senhora para ficar no time de Jesus. Neste dia, o Senhor te pergunta em qual time você está? Outra passagem que Jesus fala de dois times está em Mateus 13, 24-30: os que estiverem do lado do inimigo, o joio, serão amarrados e queimados. Depois, no versículo 36 até 43, nós vemos a explicação da parábola do joio. E Jesus nos mostra que, neste mundo, existem dois times: aqueles que estão com o Senhor, muitas vezes, sofrendo na porta estreita e os que estão com o outro, na folga, com a porta larga.

Eu estou aqui para dizer aos que estão no time do outro, mesmo sem saber, que é para irem para o time de Jesus. É preciso tirar da bolsa e do bolso o que não presta. E é preciso que nós coloquemos no bolso e na bolsa o que é de Jesus. O demônio não nos ama, ele nos odeia, enquanto Jesus nos ama. O demônio nos quer levar para a perdição eterna, e Jesus quer nos salvar. É momento de decisão.

É hora de ir para o time de Jesus

Em Marcos 14, 24-27, diz o que acontecerá: Jesus vai reunir os seus eleitos. Ele não vai reunir todos, mas os seus eleitos, ou seja, aqueles que abandonaram o pecado e ficaram com Ele. Aí, não existirá dois times, o outro será derrotado. Depois disso, não haverá mais essas porcarias por aí, não precisaremos ficar mais por aí, fazendo jejuns e outras coisas mais. Tem uma passagem que diz que todos verão, não haverá cegos, todo o mundo verá o Senhor. E aí será uma grande decepção para aqueles que não renunciaram ao pecado e uma grande alegria para aqueles que estão lutando contra o pecado, os eleitos do Senhor, e aí ficaremos com o Senhor. Todos os olhos O verão.

Amoleça o seu coração meu irmão, não fique no time do outro. É hora de ir para o time de Jesus. No time de Jesus só há vencedor, não há derrotado. Quem está no time de Jesus, vencerá hoje e por toda a eternidade. Feliz de você que abriu a sua bolsa e jogou tudo o que não prestava fora, que largou o pecado, que abandonou o time do outro. Agora é tempo de permanecer no Senhor porque Ele diz que aquele que permanecer será salvo. Para permanecer existem os grupos de oração, os acampamentos de oração, a devoção a Nossa Senhora, as pastorais das dioceses, a reza do terço… Muitos deixam o Senhor enganados pelo inimigo e dizendo que só sofreram com o Senhor. Eu te digo: sofre na terra, mas no céu não sofre não. Muitos andam dizendo que não tem mais jeito, que não tem mais força. Mas Jesus tem a força. O único jeito é gritar pelo nome de Jesus.


O outro está fazendo de tudo para te acorrentar, ele não quer te perder, pois você está sendo um bom jogador. Então, se você está nesta decisão e para não te perder, de repente, algo dá errado: alguém morre na sua família ou você perde o emprego. Daí vem um pensamento para você não sair do time d'Ele. Olha o discernimento: se você estava com emprego e perdeu ao escolher pelo Senhor, é porque você estava do lado d'Ele e Ele estava te enganando com um emprego. E para você que diz que não tem mais jeito, eu te digo: "O jeito é Jesus Cristo".

Quando você achar que não tem mais o que fazer, faça o que está escrito em Atos 2, 37. É essa pergunta que você deve fazer ao Senhor! Não é para ficar falando que não tem mais jeito. E a resposta está no versículo 38.

Você tem forças para largar o pecado

"Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo". Mude de time, essa é a resposta! Você tem forças para largar o pecado, pois Jesus te deu a força! Aqueles que estão dizendo que não tem mais força, tem de dobrar o joelho no chão e se arrepender do que fez, jogar fora a prova do seu pecado e decidir-se pelo Senhor. Abandone aquilo que não fala de Deus. Então, Jesus entra na sua vida porque você jogou fora o que impedia Jesus de entrar. Você não foi esquecido por Deus.

O inimigo vai fazer de tudo para você ficar com vontade de voltar àquilo que você jogou fora. Você que abandonou as coisas do time do outro fuja dos lugares onde você pode cair. A vontade vai abaixando até você não ter mais vontade. Fuja das ocasiões de pecado. Você pode até ter saudade das cebolas do Egito, mas é hora de se alimentar do Corpo e o do Sangue do Senhor. Depois que você largar o mal, você entrará para o time do Senhor. Agora, você faz parte do time do Senhor. No time de Jesus é só graça e paz, de Jesus!

Santidade é isso: você fazer parte do time de Jesus. É você se armar com as armas de Jesus, é buscar a intercessão de Nossa Senhora, é seguir os impulsos do Espírito Santo. Quem está lutando pela santidade sofre e luta contra as tentações. São Francisco sofreu tentação na carne, mas não fez como nós, ele lutou, jogou-se nas rosas, então, a tentação passou.

No momento em que você jogar o mal para fora, você será o trigo de Jesus. E Ele virá nos buscar, então, o juiz irá apitar o final de jogo, o apito final será quando o Senhor voltar.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/escolha-pelo-time-de-jesus/

18 de junho de 2020

O que significa benzer? O que significa abençoar?

Pediram-me para responder estas duas perguntas: O que significa benzer? O que significa abençoar? Começo com o verbo "abençoar" ou com o substantivo "bênção" e percebo, antes de tudo, que o termo "bênção", na Bíblia, sintetiza toda a história da salvação. De fato, toda a história de Israel é a história da bênção prometida a Abraão (Gênesis 12,3) e dada ao mundo por Jesus, "fruto bendito" do "seio bendito" de Maria (Lucas 1,42). Aliás, essa bênção já começa com a criação, como lemos em Gênesis 1,28: "E Deus os abençoou e lhes disse: 'Sejam fecundos' (…)". Por outro lado, o pecado desencadeia a "maldição" sobre "a serpente" (3,14-15) e sobre o solo (3,17).

Depois do dilúvio, uma nova bênção dá-se à humanidade: poder e fecundidade (9,1).

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Abençoar é bíblico

A partir de Abraão, no entanto, a bênção é de um tipo novo, pois nela aparece o desígnio de Deus de abençoar "todas as nações da terra" (Gênesis 12,3).

Uma fase importante, na qual se manifesta de maneira significativa a bênção de Deus, é a aliança com o povo de Israel. E a fidelidade a essa aliança é a garantia das bênçãos de Deus (Deuteronômio 28,1-14).

Deus é bondoso

Deus abençoa e, ao mesmo tempo, é abençoado, porque os fiéis reconhecem que Deus é bom e providente. A oração dos Salmos, com frequência, é um exemplo disso. "Seja bendito, Javé! Ele fez por mim maravilhas de amor" (Salmo 31,22). "Bendiga a Javé, ó minha alma, e todo o meu ser ao seu nome santo! Bendiga a Javé, ó minha alma, e não esqueça nenhum dos seus benefícios" (Salmo 103,1-2).

Muito significativo a esse respeito é o cântico de Zacarias no dia da circuncisão do filho João Batista. Esse cântico é repetido todos os dias na Liturgia das horas: "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo" (Lucas 1,68).

A bênção acontece também de homem para homem, como quando Melquisedeque abençoa Abraão (Gênesis 14,18-19), ou Isaac abençoa Jacó (Gênesis 27,27).

E por que não pensar nas bênçãos de Jesus? Ele abençoa as crianças (Marcos 10,16) e Seus discípulos (Lucas 24,50). Antes de partir o pão, nas multiplicações dos pães (Marcos 6,42; 8,7) e na última ceia (14,22), Ele pronunciou, conforme o costume judaico, uma fórmula de bênção, isto é, glorificou a Deus por causa do pão. Ensinou a Seus discípulos a responder com uma bênção as maldições dos seus inimigos (Lucas 6,28), descreveu a eterna felicidade dos justos como a bênção definitiva dada pelo Pai (Mateus 25,34). O mesmo Jesus foi abençoado pelos piedosos judeus (Marcos 11,9-10).


Rito de bênção

E hoje a Igreja abençoa, e até com ritual de bênção. Pense, por exemplo, na bênção das casas ou dos objetos de devoção. E como não lembrar o belo costume que ainda vigora em alguns lugares, dos filhos pedirem a bênção dos pais quando estão saindo de casa! Os pais respondem ao pedido de bênção dos filhos invocando a Deus: "Deus te abençoe, meu filho!".

Se olharmos para a etimologia, quer dizer, a origem da palavra, na língua latina, os termos "benedicere" (benzer, abençoar) e benedictio (bênção) significam "dizer bem", "palavra benevolente". Nesse sentido, a "bênção de Deus" sobre nós corresponde a uma "palavra criadora" de bem. Em outros termos, Deus, com a Sua poderosa palavra, cria o bem na nossa vida. E quando nós bendizemos a Deus, reconhecemos o bem que Ele nos fez e nos faz. Quando nós abençoamos os outros, pedimos a Deus que derrame o bem sobre eles.

Acreditamos que quem está mais perto de Deus pode interceder por nós. Eis por que nós nos aproximamos dessas pessoas pedindo a bênção. Às vezes, poderia haver até uma superstição: motivo pelo qual "benzer", ou "benzedeiro" teria outro significado. Nos dicionários da língua portuguesa, o termo "benzedeiro" chega a ter, entre outras acepções, também a definição de "bruxo" ou "feiticeiro". Por isso, vale a pena seguir o conselho do apóstolo Paulo: "Examinem tudo e fiquem com o que é bom" (1 Tessalonicenses 5,21).

Que Deus, na Sua misericórdia, abençoe todos nós!



Lino Rampazzo

Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma), Lino Rampazzo é professor e pesquisador no Programa de Mestrado em Direito do Centro Unisal – U.E. de Lorena (SP) – e coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-que-significa-benzer-o-que-significa-abencoar/

16 de junho de 2020

A esperança cristã presente no gesto do Papa Francisco

Uma imagem que "rodou" o mundo e emocionou os católicos foi quando o Papa Francisco, no dia 24 de maio de 2020, Domingo da Ascenção do Senhor, apareceu na janela do Vaticano para abençoar o povo que estava na Praça de São Pedro durante a oração do Regina Coeli. Essa imagem não se repetia desde o dia 8 de março de 2020, quando a Praça de São Pedro foi totalmente fechada por causa da pandemia do coronavírus, que contaminava e matava milhares de pessoas em todo o mundo. "A emoção do reencontro depois de quase dois meses", essa era a frase estampada nos jornais.

Não se podia falar de multidão na Praça de São Pedro como era costume, pois respeitava as regras do distanciamento, mas, mesmo que seja um pequeno grupo de fiéis presente na Praça, para os católicos do mundo, que acompanhavam pelas TVs e Redes Sociais, a possibilidade do povo rezar com seu pastor é um sinal de esperança de que a vida voltará ao seu ritmo normal, como o próprio Papa afirma na oração a Maria, neste tempo de pandemia: "Vós, Salvação do Povo, sabeis do que precisamos e temos a certeza de que no-lo providenciareis para que, como em Caná da Galileia, possa voltar a alegria e a festa depois desta provação".

A esperança cristã presente no gesto do Papa Francisco

Foto Ilustrativa: by Getty Images / powerofforever

A angústia diante da provação

Socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na capital paulista, de acordo com Francis Fujii, seu diretor médico, relata que, o atendimento a casos de suicídio e de tentativa de suicídio aumentou com a pandemia de coronavírus. Tal constatação confirma a análise publicada no Journal of the American Medical Association – Psychiatry, em abril de 2020, nos Estados Unidos, trata dos efeitos colaterais das necessárias medidas de isolamento e distanciamento social por conta da Covid-19 que podem aumentar o risco de suicídio. Os autores da pesquisa apontam como influenciadores da mortalidade por suicídio e Covid-19, entre eles, o estresse econômico e a incerteza sobre a própria subsistência; a solidão e a desconexão social; a dificuldade no tratamento da saúde mental devido à sobrecarga do sistema pelos pacientes da pandemia; o medo diante de doenças pré-existentes; e o aumento na ansiedade diante da doença.

O que foi apresentado acima é apenas um dos exemplos das consequências originárias de toda as condições de isolamento, estresse, tristeza, medo do futuro, incertezas, solidão, etc. provocado pela pandemia do coronavírus.

Esperança humana

A esperança é uma virtude própria da existência humana. Além de teológica, é uma realidade antropológica. O ser humano vive a realidade presente projetada para o futuro na esperança de uma existência plena.

O provérbio "A esperança é a última que morre" está presente na consciência e fala do povo, bem como, "no fim vai dar certo" ou "tudo vai ficar bem". Apesar de todas as formas de desânimo presentes na vida do povo sempre fica um pouco de esperança, a possibilidade de ter uma solução. Encontramos hoje muitos exemplos concretos da coragem de viver e enfrentar a vida, por exemplo, pais que já não enxergam mais nada de mudança em sua frente, mas esperam dias melhores para seus filhos e por isto fazem sacrifícios duros, para que eles não sofram o que eles aguentaram. Pessoas enfermas que lutam contra a doença com todas as possibilidades, a vontade de viver e sobreviver costuma vencer a inclinação para a morte.

A esperança é sustentada pela confiança, as duas se completam e se supõem. A esperança é vista como realizável pela confiança. No horizonte da esperança humana, há incertezas e temores, mas também existe o ousar, a aventura, a confiança que empurra e sustenta a pessoa na conquista do bem e sempre repetir: "tudo vai ficar bem".

Esperança cristã e o cumprimento das promessas

No Antigo Testamento, Deus é apresentado como o "Deus da Promessa". O elemento primeiro e fundador da Revelação foi a promessa aos pais na Fé, os Patriarcas. E viver dessa promessa é o que dá sentido para a existência e luta deste povo. Deus promete terra, descendência, vida (cf. Gn 12,3.17; 13,14-16; 15,3.7.18; 18,10; 22,17;…).

A promessa para o povo de Israel tem como objeto a terra e a descendência, a promessa é concreta, o povo confia e esta promessa se torna o fundamento da Aliança. Nesta confiança o povo vai construindo sua história feita de lutas, conquistas, comemorações e esperanças (cf. Dt 6,20-25). O Deus da promessa cria o povo da esperança.

Os profetas garantem que a história da salvação é conduzida por Deus que cumpre sua promessa e aí o povo encontra forças para suportar o imprevisto dos acontecimentos, as instituições, os sistemas, as inovações, os progressos, bem como as calamidades, as guerras, as enfermidades, as invasões, os imperialismos e toda espécie de desafios e de crises, com a certeza: "Eu serei vosso Deus, e vós sereis o meu Povo" (Ex 19,5).

Jesus é o cumprimento pleno da Esperança prometida no Antigo Testamento. O pleno cumprimento das promessas em Cristo, na sua cruz e ressurreição (cf. 2Cor 1,20) vem a ser a perfeita revelação da Esperança. Na cruz, o vazio total de Jesus revela a plenitude do Deus Amor. A morte e ressurreição de Jesus é este ato total de Esperança.
Em Cristo, a Esperança se torna plenamente teologal, ou seja, Divina. Tudo, nós esperamos somente de Deus, do Deus Amor, que nos conduz pelos caminhos do amor: "Nada nos poderá separar do Amor que Deus nos manifestou em Cristo" (Rm 8,39).


No discurso de despedida, Evangelho de São João, 14,15-21, Jesus promete enviar o Espírito Santo: "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro defensor, para que permaneça convosco". Esta promessa é a certeza de que Deus não nos abandona. Jesus fala no envio do "Paráclito" (paráklêtos), "advogado", "auxiliar", "defensor". Sentido de "consolador", de "intercessor"; o advogado, ad-vocatus, "chamado para", "aquele que vem para perto para defender". O Espírito é apresentado como "a força de Deus" que vem em nosso socorro. No mesmo discurso Jesus reafirma aos discípulos, "não vos deixarei órfãos", garante-lhes com grande força a sua presença através do Espírito Santo. Essa mesma promessa e força da Esperança é hoje também para nós que cremos.

Pela Fé trazemos a certeza de que não estamos sozinhos, pois o Espírito Santo não abandona, uma vez que estabelece morada permanente; essa é a verdade que Jesus revelou, essa é a verdade que em nós o Espírito sustenta e defende. Quando a provação encontra alguém ancorado na confiança na Palavra do Senhor, e no abandono a Ele, então é purificada, lança-o no caminho do Ressuscitado e suscita Esperança.

A Esperança fundamentada na Ressurreição de Jesus não decepciona (Rm 5,5). Não se trata de um simples otimismo ou animação em determinadas circunstâncias, mas de uma atitude fundamental de quem vive esta esperança cristã que faz olhar para frente e enxergar a realidade com mais lucidez e alegria e proclamar com o apóstolo Paulo: "Estava plenamente convencido de que Deus era Poderoso para cumprir o que prometeu" (Rm 4,21).

A Esperança não consiste simplesmente em ficar parado, ocupando-se com o desnecessário, esperando até que o Senhor volte, como fizeram alguns membros da Igreja de Tessalônica (2Tm 3,6-12). Viver na esperança é colocar os pés na estrada, construir caminhos, aplainar as veredas, dar pão a quem tem fome, um copo de água a quem tem sede, vestir o nu, visitar o doente, o preso, acolher o imigrante (cf. Mt 25,31-46) é construir o Reino que com Jesus já está no meio de nós. O agir do cristão possui um caráter de confiança em Deus, fundamento e fim último de toda Esperança. A Esperança cristã é vivida na oração, na virtude da paciência e na prática da caridade. Por tudo isto, o cristão tem de ser profeta da Esperança e não do medo e do desespero.

A Esperança cristã não aceita o "correr em vão" (1Cor 9,26). O homem corre em busca da felicidade divina e felicidade humana. Agarra-se à certeza do Reino prometido, que já está em marcha, presente pela força da graça, na existência de cada um e na história da humanidade que caminha em busca do Reino prometido. A esperança supõe a confiança nas promessas de Deus e na sua bondade que deseja a salvação de todos e faz com que a fé se torne uma força que move, sustenta a existência cristã (Cl 1,4-5).

Toda Esperança se apoia na certeza de que é possível alcançar o bem prometido por Deus. Na esperança humana, o fundamento de tal convicção são as forças humanas e a crença na bondade fundamental das criaturas. No fiel cristão, isso se transforma na confiança numa providência divina, em um Deus que se revelou como Pai e quer o bem de seus filhos. Deus é fiel por si mesmo e sua promessa, mesmo com a infidelidade do homem, Deus permanece fiel (Gn 2,15), como afirma o apóstolo: "Nada nos poderá separar do Amor que Deus nos manifestou em Cristo" (Rm 8,39).

É dever do cristão suscitar no povo a fé nas promessas de Deus, em Jesus, no Espírito Santo. Iluminar corações e mentes com a Boa Notícia da Salvação para que todos possam compreender que a esperança humana, os anseios mais profundos do homem, se realizam, de modo definitivo na Esperança cristã (cf. Gaudium et Spes, 92).

Papa Francisco e a Esperança cristã

O Papa Francisco, profeta por palavras e gestos, tem a missão de dar as razões desta Esperança cristã (cf. 1Pd 3,15). O Papa tem consciência que, suscitar Esperança nas pessoas é sempre importante em qualquer tempo e lugar, sobretudo nas atuais circunstâncias de pandemia do coronavírus, é urgente e necessário.

A Esperança cristã fundada na Ressurreição de Jesus foi anunciada pelo Papa Francisco na celebração da Vigília Pascal da Basílica de São Pedro no dia 11 de abril de 2020: "Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância, com o aflorar dum sorriso. Não. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. 'Tudo correrá bem': repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida".

Referências:

[1] Fonte: https://www.vaticannews.va/pt.html

[1] Fontes: https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/05/31/atendimento-de-urgencia-relacionado-a-suicidio-cresce-durante-a-pandemia.htm

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/05/31/pandemia-de-coronavirus-modifica-relacao-das-pessoas-com-o-luto.htm



Padre Mário Marcelo, scj

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética. Membro do grupo Interdisciplinar de Peritos (GIP) da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/esperanca-crista-presente-no-gesto-papa-francisco/