26 de junho de 2020

Os pais se divorciaram. Como fica o relacionamento com os filhos?

O casamento se mantém como uma promessa de união eterna. Ao escolher uma esposa ou marido, é comum o desejo de ter consigo essa pessoa até o fim da vida. Essa também é a interpretação da sociedade. Famílias e amigos creem na permanência do matrimônio, aceitando os cônjuges como um. Nesse contexto, o fim do matrimônio é sempre uma situação de constrangimento, não necessariamente pela rejeição, mas pela quebra de uma promessa social de união. Mais difícil se torna a situação quando o casal tem filhos, que podem se tornar vítimas indefesas desse momento de tribulação.

Os motivos que acarretam o fim do matrimônio são os mais diversos. Na infeliz hipótese de um rompimento – seja qual for o motivo –, o cônjuge que não deseja o fim da relação tem que lidar com o próprio sentimento de rejeição e, como o sofrimento tende a nos cegar para as consequências dos nossos atos, os filhos, frequentemente, são vítimas ingênuas. Poucas pessoas conseguem gerir o sentimento de rejeição de forma saudável.

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Para amenizar as consequências do divórcio nos filhos é preciso, primeiro, controlar os conflitos dos pais. Diante do sofrimento, é difícil exigir dos pais a compreensão de que as agressões entre eles são exemplos fortemente influenciadores em seus filhos. Isso porque a separação conturbada tende a fundamentar acusações, xingamentos, discussões e outros males que tomam toda a atenção dos pais, acabando por não observar o comportamento dos filhos.

Sofrimento individual, filhos e a Igreja

É preciso uma compreensão clara de que, mesmo diante de mágoas, intrigas e até traições, o pai continua pai e a mãe continua mãe. O homem ou a mulher que tanto magoou ainda tem muito a acrescentar na criação dos filhos. Claro que, na teoria, isso parece bem óbvio e simples, mas, na prática, não é bem assim. O fim da união é, geralmente, vivido sem a coragem do perdão, da paciência, da reconciliação e até do sacrifício. Portanto, cabe a cada um dos ex-cônjuges manter-se ponderado diante dos filhos, para que as mazelas da separação os atinjam de forma menos traumática.

Superado o sofrimento individual, é preciso voltar os olhos para os filhos e exercer toda a paciência e compaixão para explicar o que, muitas vezes, nem mesmo os pais entenderam. E se há dificuldade em apresentar uma solução particular para os pais que estão se divorciando, é possível demonstrar o papel da Igreja diante do sofrimento dos fiéis, sugerida pelo Sínodo dos Bispos na III Assembleia Geral Extraordinária:


"Um discernimento particular é indispensável para acompanhar pastoralmente os separados, os divorciados, os abandonados. Deve ser acolhido e valorizado o sofrimento daqueles que padeceram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então, por causa dos maus-tratos do cônjuge, foram obrigados a interromper a convivência. O perdão pela injustiça sofrida não é fácil, mas se trata de um caminho que a graça torna possível. Daqui, deriva a necessidade de uma pastoral da reconciliação e da mediação, também através de centros de escuta especializados, que devem ser criados nas dioceses".

É preciso compreensão da comunidade cristã diante de algumas dissoluções matrimoniais. O cuidado com eles não é demérito para a Doutrina da Igreja, pelo contrário, é demonstração de caridade. Com isso, inseridos em um cenário de acolhimento e amenizados os sofrimentos individuais, o tratar dos filhos se torna resultado natural do amor em comum que os pais têm por eles. Que o amor seja sempre o fundamento de nossas relações, e se surgir, em nosso meio, a separação, que a caridade e a compreensão possam amparar os que sofrem. Que assim seja.

 



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã. Advogado com atuação na área de Direito de Família e Direito Bancário. Tecnólogo em Gestão Empresarial. Professor de cursos técnicos-profissionalizantes.
Instagram: @luisguconde Contato: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/divorcio/os-pais-se-divorciaram-como-fica-o-relacionamento-com-os-filhos/

24 de junho de 2020

Como é viver a santidade na vida cotidiana?

A santidade é a vocação de todo cristão batizado, independentemente do seu estado de vida e da realidade em que esteja inserido. Em sua Encíclica Gaudete et Exsultate sobre o chamado à santidade no mundo atual, Papa Francisco nos diz que a santidade é, sem dúvida, o rosto mais belo de Deus, e que "O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente".

Os santos foram homens e mulheres que se deixaram transformar pela graça de Deus e corresponderam a essa graça numa vida honesta, virtuosa e, acima de tudo, uma vida de vivência da Palavra de Deus. Em outras palavras, poderíamos dizer que ser santo é viver o Evangelho, é fazer a vontade de Deus onde se está inserido. Por muito tempo, achávamos que a santidade era algo só para quem vivia nos mosteiros, para os padres e as freiras, mas isso é um pensamento errôneo, pois a santidade é possível para todos – para o estudante, para a mãe de família, para o pai trabalhador, para o jovem universitário –, independentemente da profissão ou do cargo que ocupe.

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Uma devoção à santidade

São Francisco de Sales, em seu livro intitulado de 'Filoteia' ou 'Introdução à vida devota', aponta-nos que a vida de devoção e santidade é possível, que ela não é para uma elite separada; a santidade é para todo homem de boa vontade. Outra grande verdade é que a santidade não é fruto de nossos esforços humanos nem de nossos méritos, ou seja, não somos nós que nos transformamos em santos; a santidade é, acima de tudo, um dom da graça de Deus, e é Ele quem nos transforma em santos. Da nossa parte, temos a obrigação de corresponder a tamanho dom que nos foi dado no dia do nosso batismo, pois todos os dons já nos foram dados no nosso batismo.

O batizado é um vocacionado à santidade, ou seja, é alguém que deve ter consciência da vida nova que lhe foi infundida e, por isso, vive como pessoa salva em Cristo, vivendo fiel e honestamente o seu batismo.

Ser santo não é não pecar ou não ser gente, ser santo é corresponder à graça de Deus, amar a Deus acima de tudo e o próximo com amor verdadeiro que sai de si. É viver o Evangelho, a ternura, a bondade, a conversão nas pequenas e grandes coisas do cotidiano da vida.

São Bento, em sua regra, aponta-nos um meio tão eficaz chamado de "a conversão dos costumes", ou seja, auxiliados pela força de Deus, devemos nos converter, mudar aquelas atitudes que não edificam ou não ajudam o próximo no seguimento a Cristo. Os grandes santos eram profundamente homens e totalmente de Deus, não viviam uma santidade destacada da realidade, ou algo longe de se alcançar, mas algo no concreto do dia a dia, vivido com paciência e amor. Não viviam nas alturas só preocupados consigo mesmos, ao contrário, os santos eram homens e mulheres à frente do seu tempo, eram, como nos diz Jesus no Evangelho, o fermento de Deus no meio do mundo.

Grande exemplo dessa santidade nas pequenas coisas e no cotidiano da vida é Santa Teresa do Menino Jesus, que viveu a chamada pequena via, uma santidade que se dava no dia a dia. Em tudo aquilo que ela fazia, colocava amor, fazia por amor, principalmente as coisas mais humilhantes, suportava tudo sem murmurar, mas por amor.

Nosso século está recheado de testemunhos autênticos de pessoas que, em diferentes realidades, viveram a santidade, foram se transformando pela graça de Cristo. Pessoas que, alcançadas pelo amor e misericórdia de Deus, não pararam em si mesmas, mas se lançaram em ajudar o próximo, pessoas essas que são para nós como luzeiros a iluminar nosso caminho nas noites escuras que, muitas vezes, vivemos.

Os santos não são apenas para ficar nos altares bonitinhos e rezarmos a eles, mas, antes e acima de tudo, são para nós modelos, modelos a serem imitados no dia a dia, adaptando a nossa vida a nossa realidade, buscando viver as virtudes nas situações que vamos vivendo na caminhada. Os santos são nossos irmãos mais velhos na fé. Olhemos para a vida deles e percebamos que é possível, podemos chegar lá, não sozinho, mas correspondendo à graça de Deus acima de tudo.


O fundador do Opus Dei, São Josemaria Escrivá, tem uma frase belíssima e, ao mesmo tempo, muito forte, que nos leva a questionarmos a nossa vida: "Meu Deus, faz-me santo, nem que seja a pauladas". Portanto, meus irmãos, a santidade não é um presente de bom comportamento, mas uma graça dada por Deus, que consiste na vivência da Sua Palavra. O santo não se pertence, é alguém vazio de si e cheio de Deus.

Portanto, meus irmãos, vivamos a santidade em tudo aquilo que fizermos, seja na cozinha, no escritório, no campo, na escola, no hospital, na faculdade e em qualquer lugar que estejamos, suportando tudo por amor de Deus e pagando o mal com o bem sempre, pois o bem feito com amor nunca será esquecido.



José Dimas

José Dimas da Silva é seminarista e candidato às Ordens Sacras da Comunidade Canção Nova. Natural de Gravatá (PE) e graduando do curso de Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP). Atua na liturgia durante os eventos e é produtor de conteúdo para este canal formativo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-e-viver-a-santidade-na-vida-cotidiana/

22 de junho de 2020

Escolha pelo time de Jesus

Eu estava ouvindo uma pregação do monsenhor Jonas em que ele falava muito de decisão, estava nos levando a tomar uma decisão. É hora de jogar fora tudo aquilo que não presta, por causa da vinda do Senhor.

Monsenhor Jonas falou muito de times. No mundo existem dois times, o de Jesus e o do maligno. No céu, todos estavam em um único time, até que houve uma divisão, como está escrito no livro do Apocalipse 12,7 em diante. Diz ainda que o dragão foi precipitado na terra. No começo do Gênesis, só havia um time, Adão e Eva, e a serpente foi criar a divisão. No Evangelho de João, capítulo 10, versículos 9 e 10, nós podemos observar dois times.

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Foto Ilustrativa: Zbynek Pospisil by Getty Images

O sedutor nos tira do time de Jesus

O sedutor vem para nos seduzir e, quando nos seduz, ele nos tira do time de Jesus. Não que nós queiramos, mas nós como não conhecemos o time de Jesus, entramos no time dele. Porém, quando entramos no time dele, nós entramos para morrer. Ele nos seduz através da bebida, cigarro, a fim de nos levar à perdição. Jesus disse que era o Caminho, então, nós temos de passar por Jesus para sermos salvos. Por isso, nós temos de evangelizar para mostrar para os outros que eles estão do lado errado. Nós pedimos a ajuda de Nossa Senhora para ficar no time de Jesus. Neste dia, o Senhor te pergunta em qual time você está? Outra passagem que Jesus fala de dois times está em Mateus 13, 24-30: os que estiverem do lado do inimigo, o joio, serão amarrados e queimados. Depois, no versículo 36 até 43, nós vemos a explicação da parábola do joio. E Jesus nos mostra que, neste mundo, existem dois times: aqueles que estão com o Senhor, muitas vezes, sofrendo na porta estreita e os que estão com o outro, na folga, com a porta larga.

Eu estou aqui para dizer aos que estão no time do outro, mesmo sem saber, que é para irem para o time de Jesus. É preciso tirar da bolsa e do bolso o que não presta. E é preciso que nós coloquemos no bolso e na bolsa o que é de Jesus. O demônio não nos ama, ele nos odeia, enquanto Jesus nos ama. O demônio nos quer levar para a perdição eterna, e Jesus quer nos salvar. É momento de decisão.

É hora de ir para o time de Jesus

Em Marcos 14, 24-27, diz o que acontecerá: Jesus vai reunir os seus eleitos. Ele não vai reunir todos, mas os seus eleitos, ou seja, aqueles que abandonaram o pecado e ficaram com Ele. Aí, não existirá dois times, o outro será derrotado. Depois disso, não haverá mais essas porcarias por aí, não precisaremos ficar mais por aí, fazendo jejuns e outras coisas mais. Tem uma passagem que diz que todos verão, não haverá cegos, todo o mundo verá o Senhor. E aí será uma grande decepção para aqueles que não renunciaram ao pecado e uma grande alegria para aqueles que estão lutando contra o pecado, os eleitos do Senhor, e aí ficaremos com o Senhor. Todos os olhos O verão.

Amoleça o seu coração meu irmão, não fique no time do outro. É hora de ir para o time de Jesus. No time de Jesus só há vencedor, não há derrotado. Quem está no time de Jesus, vencerá hoje e por toda a eternidade. Feliz de você que abriu a sua bolsa e jogou tudo o que não prestava fora, que largou o pecado, que abandonou o time do outro. Agora é tempo de permanecer no Senhor porque Ele diz que aquele que permanecer será salvo. Para permanecer existem os grupos de oração, os acampamentos de oração, a devoção a Nossa Senhora, as pastorais das dioceses, a reza do terço… Muitos deixam o Senhor enganados pelo inimigo e dizendo que só sofreram com o Senhor. Eu te digo: sofre na terra, mas no céu não sofre não. Muitos andam dizendo que não tem mais jeito, que não tem mais força. Mas Jesus tem a força. O único jeito é gritar pelo nome de Jesus.


O outro está fazendo de tudo para te acorrentar, ele não quer te perder, pois você está sendo um bom jogador. Então, se você está nesta decisão e para não te perder, de repente, algo dá errado: alguém morre na sua família ou você perde o emprego. Daí vem um pensamento para você não sair do time d'Ele. Olha o discernimento: se você estava com emprego e perdeu ao escolher pelo Senhor, é porque você estava do lado d'Ele e Ele estava te enganando com um emprego. E para você que diz que não tem mais jeito, eu te digo: "O jeito é Jesus Cristo".

Quando você achar que não tem mais o que fazer, faça o que está escrito em Atos 2, 37. É essa pergunta que você deve fazer ao Senhor! Não é para ficar falando que não tem mais jeito. E a resposta está no versículo 38.

Você tem forças para largar o pecado

"Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo". Mude de time, essa é a resposta! Você tem forças para largar o pecado, pois Jesus te deu a força! Aqueles que estão dizendo que não tem mais força, tem de dobrar o joelho no chão e se arrepender do que fez, jogar fora a prova do seu pecado e decidir-se pelo Senhor. Abandone aquilo que não fala de Deus. Então, Jesus entra na sua vida porque você jogou fora o que impedia Jesus de entrar. Você não foi esquecido por Deus.

O inimigo vai fazer de tudo para você ficar com vontade de voltar àquilo que você jogou fora. Você que abandonou as coisas do time do outro fuja dos lugares onde você pode cair. A vontade vai abaixando até você não ter mais vontade. Fuja das ocasiões de pecado. Você pode até ter saudade das cebolas do Egito, mas é hora de se alimentar do Corpo e o do Sangue do Senhor. Depois que você largar o mal, você entrará para o time do Senhor. Agora, você faz parte do time do Senhor. No time de Jesus é só graça e paz, de Jesus!

Santidade é isso: você fazer parte do time de Jesus. É você se armar com as armas de Jesus, é buscar a intercessão de Nossa Senhora, é seguir os impulsos do Espírito Santo. Quem está lutando pela santidade sofre e luta contra as tentações. São Francisco sofreu tentação na carne, mas não fez como nós, ele lutou, jogou-se nas rosas, então, a tentação passou.

No momento em que você jogar o mal para fora, você será o trigo de Jesus. E Ele virá nos buscar, então, o juiz irá apitar o final de jogo, o apito final será quando o Senhor voltar.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/escolha-pelo-time-de-jesus/

18 de junho de 2020

O que significa benzer? O que significa abençoar?

Pediram-me para responder estas duas perguntas: O que significa benzer? O que significa abençoar? Começo com o verbo "abençoar" ou com o substantivo "bênção" e percebo, antes de tudo, que o termo "bênção", na Bíblia, sintetiza toda a história da salvação. De fato, toda a história de Israel é a história da bênção prometida a Abraão (Gênesis 12,3) e dada ao mundo por Jesus, "fruto bendito" do "seio bendito" de Maria (Lucas 1,42). Aliás, essa bênção já começa com a criação, como lemos em Gênesis 1,28: "E Deus os abençoou e lhes disse: 'Sejam fecundos' (…)". Por outro lado, o pecado desencadeia a "maldição" sobre "a serpente" (3,14-15) e sobre o solo (3,17).

Depois do dilúvio, uma nova bênção dá-se à humanidade: poder e fecundidade (9,1).

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Abençoar é bíblico

A partir de Abraão, no entanto, a bênção é de um tipo novo, pois nela aparece o desígnio de Deus de abençoar "todas as nações da terra" (Gênesis 12,3).

Uma fase importante, na qual se manifesta de maneira significativa a bênção de Deus, é a aliança com o povo de Israel. E a fidelidade a essa aliança é a garantia das bênçãos de Deus (Deuteronômio 28,1-14).

Deus é bondoso

Deus abençoa e, ao mesmo tempo, é abençoado, porque os fiéis reconhecem que Deus é bom e providente. A oração dos Salmos, com frequência, é um exemplo disso. "Seja bendito, Javé! Ele fez por mim maravilhas de amor" (Salmo 31,22). "Bendiga a Javé, ó minha alma, e todo o meu ser ao seu nome santo! Bendiga a Javé, ó minha alma, e não esqueça nenhum dos seus benefícios" (Salmo 103,1-2).

Muito significativo a esse respeito é o cântico de Zacarias no dia da circuncisão do filho João Batista. Esse cântico é repetido todos os dias na Liturgia das horas: "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo" (Lucas 1,68).

A bênção acontece também de homem para homem, como quando Melquisedeque abençoa Abraão (Gênesis 14,18-19), ou Isaac abençoa Jacó (Gênesis 27,27).

E por que não pensar nas bênçãos de Jesus? Ele abençoa as crianças (Marcos 10,16) e Seus discípulos (Lucas 24,50). Antes de partir o pão, nas multiplicações dos pães (Marcos 6,42; 8,7) e na última ceia (14,22), Ele pronunciou, conforme o costume judaico, uma fórmula de bênção, isto é, glorificou a Deus por causa do pão. Ensinou a Seus discípulos a responder com uma bênção as maldições dos seus inimigos (Lucas 6,28), descreveu a eterna felicidade dos justos como a bênção definitiva dada pelo Pai (Mateus 25,34). O mesmo Jesus foi abençoado pelos piedosos judeus (Marcos 11,9-10).


Rito de bênção

E hoje a Igreja abençoa, e até com ritual de bênção. Pense, por exemplo, na bênção das casas ou dos objetos de devoção. E como não lembrar o belo costume que ainda vigora em alguns lugares, dos filhos pedirem a bênção dos pais quando estão saindo de casa! Os pais respondem ao pedido de bênção dos filhos invocando a Deus: "Deus te abençoe, meu filho!".

Se olharmos para a etimologia, quer dizer, a origem da palavra, na língua latina, os termos "benedicere" (benzer, abençoar) e benedictio (bênção) significam "dizer bem", "palavra benevolente". Nesse sentido, a "bênção de Deus" sobre nós corresponde a uma "palavra criadora" de bem. Em outros termos, Deus, com a Sua poderosa palavra, cria o bem na nossa vida. E quando nós bendizemos a Deus, reconhecemos o bem que Ele nos fez e nos faz. Quando nós abençoamos os outros, pedimos a Deus que derrame o bem sobre eles.

Acreditamos que quem está mais perto de Deus pode interceder por nós. Eis por que nós nos aproximamos dessas pessoas pedindo a bênção. Às vezes, poderia haver até uma superstição: motivo pelo qual "benzer", ou "benzedeiro" teria outro significado. Nos dicionários da língua portuguesa, o termo "benzedeiro" chega a ter, entre outras acepções, também a definição de "bruxo" ou "feiticeiro". Por isso, vale a pena seguir o conselho do apóstolo Paulo: "Examinem tudo e fiquem com o que é bom" (1 Tessalonicenses 5,21).

Que Deus, na Sua misericórdia, abençoe todos nós!



Lino Rampazzo

Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma), Lino Rampazzo é professor e pesquisador no Programa de Mestrado em Direito do Centro Unisal – U.E. de Lorena (SP) – e coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-que-significa-benzer-o-que-significa-abencoar/

16 de junho de 2020

A esperança cristã presente no gesto do Papa Francisco

Uma imagem que "rodou" o mundo e emocionou os católicos foi quando o Papa Francisco, no dia 24 de maio de 2020, Domingo da Ascenção do Senhor, apareceu na janela do Vaticano para abençoar o povo que estava na Praça de São Pedro durante a oração do Regina Coeli. Essa imagem não se repetia desde o dia 8 de março de 2020, quando a Praça de São Pedro foi totalmente fechada por causa da pandemia do coronavírus, que contaminava e matava milhares de pessoas em todo o mundo. "A emoção do reencontro depois de quase dois meses", essa era a frase estampada nos jornais.

Não se podia falar de multidão na Praça de São Pedro como era costume, pois respeitava as regras do distanciamento, mas, mesmo que seja um pequeno grupo de fiéis presente na Praça, para os católicos do mundo, que acompanhavam pelas TVs e Redes Sociais, a possibilidade do povo rezar com seu pastor é um sinal de esperança de que a vida voltará ao seu ritmo normal, como o próprio Papa afirma na oração a Maria, neste tempo de pandemia: "Vós, Salvação do Povo, sabeis do que precisamos e temos a certeza de que no-lo providenciareis para que, como em Caná da Galileia, possa voltar a alegria e a festa depois desta provação".

A esperança cristã presente no gesto do Papa Francisco

Foto Ilustrativa: by Getty Images / powerofforever

A angústia diante da provação

Socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na capital paulista, de acordo com Francis Fujii, seu diretor médico, relata que, o atendimento a casos de suicídio e de tentativa de suicídio aumentou com a pandemia de coronavírus. Tal constatação confirma a análise publicada no Journal of the American Medical Association – Psychiatry, em abril de 2020, nos Estados Unidos, trata dos efeitos colaterais das necessárias medidas de isolamento e distanciamento social por conta da Covid-19 que podem aumentar o risco de suicídio. Os autores da pesquisa apontam como influenciadores da mortalidade por suicídio e Covid-19, entre eles, o estresse econômico e a incerteza sobre a própria subsistência; a solidão e a desconexão social; a dificuldade no tratamento da saúde mental devido à sobrecarga do sistema pelos pacientes da pandemia; o medo diante de doenças pré-existentes; e o aumento na ansiedade diante da doença.

O que foi apresentado acima é apenas um dos exemplos das consequências originárias de toda as condições de isolamento, estresse, tristeza, medo do futuro, incertezas, solidão, etc. provocado pela pandemia do coronavírus.

Esperança humana

A esperança é uma virtude própria da existência humana. Além de teológica, é uma realidade antropológica. O ser humano vive a realidade presente projetada para o futuro na esperança de uma existência plena.

O provérbio "A esperança é a última que morre" está presente na consciência e fala do povo, bem como, "no fim vai dar certo" ou "tudo vai ficar bem". Apesar de todas as formas de desânimo presentes na vida do povo sempre fica um pouco de esperança, a possibilidade de ter uma solução. Encontramos hoje muitos exemplos concretos da coragem de viver e enfrentar a vida, por exemplo, pais que já não enxergam mais nada de mudança em sua frente, mas esperam dias melhores para seus filhos e por isto fazem sacrifícios duros, para que eles não sofram o que eles aguentaram. Pessoas enfermas que lutam contra a doença com todas as possibilidades, a vontade de viver e sobreviver costuma vencer a inclinação para a morte.

A esperança é sustentada pela confiança, as duas se completam e se supõem. A esperança é vista como realizável pela confiança. No horizonte da esperança humana, há incertezas e temores, mas também existe o ousar, a aventura, a confiança que empurra e sustenta a pessoa na conquista do bem e sempre repetir: "tudo vai ficar bem".

Esperança cristã e o cumprimento das promessas

No Antigo Testamento, Deus é apresentado como o "Deus da Promessa". O elemento primeiro e fundador da Revelação foi a promessa aos pais na Fé, os Patriarcas. E viver dessa promessa é o que dá sentido para a existência e luta deste povo. Deus promete terra, descendência, vida (cf. Gn 12,3.17; 13,14-16; 15,3.7.18; 18,10; 22,17;…).

A promessa para o povo de Israel tem como objeto a terra e a descendência, a promessa é concreta, o povo confia e esta promessa se torna o fundamento da Aliança. Nesta confiança o povo vai construindo sua história feita de lutas, conquistas, comemorações e esperanças (cf. Dt 6,20-25). O Deus da promessa cria o povo da esperança.

Os profetas garantem que a história da salvação é conduzida por Deus que cumpre sua promessa e aí o povo encontra forças para suportar o imprevisto dos acontecimentos, as instituições, os sistemas, as inovações, os progressos, bem como as calamidades, as guerras, as enfermidades, as invasões, os imperialismos e toda espécie de desafios e de crises, com a certeza: "Eu serei vosso Deus, e vós sereis o meu Povo" (Ex 19,5).

Jesus é o cumprimento pleno da Esperança prometida no Antigo Testamento. O pleno cumprimento das promessas em Cristo, na sua cruz e ressurreição (cf. 2Cor 1,20) vem a ser a perfeita revelação da Esperança. Na cruz, o vazio total de Jesus revela a plenitude do Deus Amor. A morte e ressurreição de Jesus é este ato total de Esperança.
Em Cristo, a Esperança se torna plenamente teologal, ou seja, Divina. Tudo, nós esperamos somente de Deus, do Deus Amor, que nos conduz pelos caminhos do amor: "Nada nos poderá separar do Amor que Deus nos manifestou em Cristo" (Rm 8,39).


No discurso de despedida, Evangelho de São João, 14,15-21, Jesus promete enviar o Espírito Santo: "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro defensor, para que permaneça convosco". Esta promessa é a certeza de que Deus não nos abandona. Jesus fala no envio do "Paráclito" (paráklêtos), "advogado", "auxiliar", "defensor". Sentido de "consolador", de "intercessor"; o advogado, ad-vocatus, "chamado para", "aquele que vem para perto para defender". O Espírito é apresentado como "a força de Deus" que vem em nosso socorro. No mesmo discurso Jesus reafirma aos discípulos, "não vos deixarei órfãos", garante-lhes com grande força a sua presença através do Espírito Santo. Essa mesma promessa e força da Esperança é hoje também para nós que cremos.

Pela Fé trazemos a certeza de que não estamos sozinhos, pois o Espírito Santo não abandona, uma vez que estabelece morada permanente; essa é a verdade que Jesus revelou, essa é a verdade que em nós o Espírito sustenta e defende. Quando a provação encontra alguém ancorado na confiança na Palavra do Senhor, e no abandono a Ele, então é purificada, lança-o no caminho do Ressuscitado e suscita Esperança.

A Esperança fundamentada na Ressurreição de Jesus não decepciona (Rm 5,5). Não se trata de um simples otimismo ou animação em determinadas circunstâncias, mas de uma atitude fundamental de quem vive esta esperança cristã que faz olhar para frente e enxergar a realidade com mais lucidez e alegria e proclamar com o apóstolo Paulo: "Estava plenamente convencido de que Deus era Poderoso para cumprir o que prometeu" (Rm 4,21).

A Esperança não consiste simplesmente em ficar parado, ocupando-se com o desnecessário, esperando até que o Senhor volte, como fizeram alguns membros da Igreja de Tessalônica (2Tm 3,6-12). Viver na esperança é colocar os pés na estrada, construir caminhos, aplainar as veredas, dar pão a quem tem fome, um copo de água a quem tem sede, vestir o nu, visitar o doente, o preso, acolher o imigrante (cf. Mt 25,31-46) é construir o Reino que com Jesus já está no meio de nós. O agir do cristão possui um caráter de confiança em Deus, fundamento e fim último de toda Esperança. A Esperança cristã é vivida na oração, na virtude da paciência e na prática da caridade. Por tudo isto, o cristão tem de ser profeta da Esperança e não do medo e do desespero.

A Esperança cristã não aceita o "correr em vão" (1Cor 9,26). O homem corre em busca da felicidade divina e felicidade humana. Agarra-se à certeza do Reino prometido, que já está em marcha, presente pela força da graça, na existência de cada um e na história da humanidade que caminha em busca do Reino prometido. A esperança supõe a confiança nas promessas de Deus e na sua bondade que deseja a salvação de todos e faz com que a fé se torne uma força que move, sustenta a existência cristã (Cl 1,4-5).

Toda Esperança se apoia na certeza de que é possível alcançar o bem prometido por Deus. Na esperança humana, o fundamento de tal convicção são as forças humanas e a crença na bondade fundamental das criaturas. No fiel cristão, isso se transforma na confiança numa providência divina, em um Deus que se revelou como Pai e quer o bem de seus filhos. Deus é fiel por si mesmo e sua promessa, mesmo com a infidelidade do homem, Deus permanece fiel (Gn 2,15), como afirma o apóstolo: "Nada nos poderá separar do Amor que Deus nos manifestou em Cristo" (Rm 8,39).

É dever do cristão suscitar no povo a fé nas promessas de Deus, em Jesus, no Espírito Santo. Iluminar corações e mentes com a Boa Notícia da Salvação para que todos possam compreender que a esperança humana, os anseios mais profundos do homem, se realizam, de modo definitivo na Esperança cristã (cf. Gaudium et Spes, 92).

Papa Francisco e a Esperança cristã

O Papa Francisco, profeta por palavras e gestos, tem a missão de dar as razões desta Esperança cristã (cf. 1Pd 3,15). O Papa tem consciência que, suscitar Esperança nas pessoas é sempre importante em qualquer tempo e lugar, sobretudo nas atuais circunstâncias de pandemia do coronavírus, é urgente e necessário.

A Esperança cristã fundada na Ressurreição de Jesus foi anunciada pelo Papa Francisco na celebração da Vigília Pascal da Basílica de São Pedro no dia 11 de abril de 2020: "Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância, com o aflorar dum sorriso. Não. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. 'Tudo correrá bem': repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida".

Referências:

[1] Fonte: https://www.vaticannews.va/pt.html

[1] Fontes: https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/05/31/atendimento-de-urgencia-relacionado-a-suicidio-cresce-durante-a-pandemia.htm

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/05/31/pandemia-de-coronavirus-modifica-relacao-das-pessoas-com-o-luto.htm



Padre Mário Marcelo, scj

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética. Membro do grupo Interdisciplinar de Peritos (GIP) da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/esperanca-crista-presente-no-gesto-papa-francisco/

13 de junho de 2020

Esperar em Deus como crianças

Quando Jesus disse que para entrarmos no Reino dos Céus teríamos que ser como crianças, tenho quase certeza de que Ele estava se referindo à confiança irrestrita que elas têm nos pais, mas de modo algum falava da virtude da paciência. Sim, as crianças confiam nos pais, e, até certa idade, de maneira absoluta, mas ao mesmo tempo elas são tão impacientes quanto é possível ser.

Todas as vezes que vou ao supermercado, trago para os meus filhos algo que não é comum consumirmos no dia a dia. Pode ser um chocolate, um doce, um salgadinho de milho, sucrilhos. Eles sabem disso e aguardam ansiosos o meu retorno, pois se lhes digo que vou trazer algo, nem entra na cabeça deles a ideia de que eu poderia frustrar essa expectativa. É a confiança própria das crianças.

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Foto ilustrativa: FG Trade by Getty Images

Assim que passo pela porta de casa, eles correm e começam a revirar as sacolas que eu trouxe, procurando o prêmio. "Calma aí", eu lhes digo. "Podem voltar para o seu lugar. Deixem-me arrumar tudo". Elas ficam pulando de tanta empolgação, sem conseguir se conter. Querem porque querem saber o que eu trouxe. É a impaciência também própria das crianças. Esse é apenas um pequeno exemplo, mas no cotidiano não faltam situações que se apliquem à minha filha de nove meses, ao de cinco anos, à de nove anos e mesmo ao de dezesseis. Cada um, de acordo com a sua idade, traz em si as marcas da confiança e da impaciência, mesmo quando já estão mais crescidos. Contudo, o movimento natural da vida e da aquisição da maturidade é que os filhos vão crescendo e percam, com o passar do tempo, aquela confiança inabalável nos pais, ao tempo em que cultivem em si mais paciência para lidar com as dificuldades que vão encontrando em seu caminho.

Seremos sempre como crianças diante de Deus

Podemos olhar para nós mesmos e percebermos que, diante de Deus, seremos sempre como crianças, tendo que lidar com a confiança que temos nele, que é um Pai amoroso, e com a nossa impaciência de filhos amados. É possível que tenhamos trilhado o percurso de primeiro perder, para depois recuperar a confiança em Deus. Nas mais diversas áreas da nossa vida, fomos exercitando a fé, a esperança e o amor, experimentando em situações concretas as palavras de Jesus: "O vosso Pai do céu sabe que tendes necessidade de tudo isso".

Se confiar em Deus como crianças é um exercício difícil e no qual talvez já tenhamos avançado bastante, não podemos desprezar o desafio que é a espera confiante. Sim, "pedi e recebereis", disse Jesus, e cremos nisso, mas o Mestre não deixou claro quando  receberíamos. Aqui entra um componente que nos faz voltar a ser criancinhas ansiosas pelo doce que o papai trouxe do supermercado. O Pai do Céu nos deu a certeza de que receberíamos, mas só conseguimos pensar com o nosso tempo, que é o do "aqui e agora". O relógio de Deus, entretanto, não é assim. Ele não atrasa nem adianta, não demora nem se apressa, porque seus planos são perfeitos e a sua hora é sempre precisa. Fazer essa sintonia entre o nosso relógio, cujo alarme já disparou há tempos, e o de Deus, que sequer tem ponteiros, é doloroso e muitas vezes angustiante, porque paramos na nossa humanidade ferida, limitada.

Esperar é doloroso

"Mas papai, eu quero comer o chocolate agora". "Só depois do almoço, filho". Às vezes, o desejo é tão grande que as lágrimas escapam dos olhos diante da frustração da espera, mas com o tempo a criança vai aprendendo que naquela casa existe uma regra, um relógio, um tempo que é diferente do seu e que ele tem somente duas opções: ficar na graça e esperar o tempo dos pais ou desobedecer no oculto e enfrentar as consequências deste ato quando for descoberto (porque os pais sempre descobrem, a criança sabe bem disso). Esperar é doloroso, mas o bem almejado vai chegar na hora que os pais julgarem adequada. É assim numa casa equilibrada e é assim no Reino de Deus. Que desafio tremendo, contudo, crer que a hora adequada é a do Pai e não a minha!

É inevitável que, nessa espera por Deus, passemos por situações que nos deem aquela impressão de que nadamos, nadamos e morremos na praia. Isso pode ocorrer nas mais diversas situações, como aquele casal que tem dificuldade para ter filhos e passa por um longo tratamento, com muitas visitas ao médico, muitos sonhos alimentados e que consegue finalmente engravidar, mas sofre a perda do bebê ainda no início da gestação. Uma família que sonhava em construir a sua casa e sair do aluguel e que esperou anos por isso, até que surgiu uma oportunidade que envolvia uma mudança no trabalho, um aumento na renda que parecia certo. Essa família sonhou, imaginou os filhos correndo pela casa, mas quando tudo parecia resolvido, o aumento não veio, novas despesas surgiram e o projeto da casa ficou para Deus sabe quando.

Uma moça que sonha em se casar, constituir família, ter filhos, um lar para cuidar, mas que vê que o tempo passar, sem que seu José chegue. Um dia, ela encontra um rapaz e começa a cultivar um sentimento por ele e parece haver reciprocidade. Mesmo depois de muito relutar interiormente, ela investe sua vida, sua esperança, seu tempo cada vez mais escasso num namoro, num noivado, apenas para descobrir que o outro tem planos diferentes, talvez outra moça, e ele termina o relacionamento.

Faça o pedido certo!

Nos três casos, parecia que depois de tanto tempo a espera iria finalmente acabar, mas ficou apenas a tristeza, a dor lancinante e, às vezes, uma revolta, que nos leva a pensar que Deus brinca com nossos sentimentos, como se fosse um sádico. É nessa hora que devemos recorrer ao que nos ensina São Tiago: se não obtemos o que pedimos, é porque talvez estejamos pedindo mal. Não que querer um filho, uma casa para morar ou sonhar com o casamento sejam coisas ruins. Longe disso! São pedidos justos e bons, mas o grande ponto é ter a clareza de qual é o grande pedido que devemos fazer incessantemente a Deus: a salvação da nossa alma.

Diante da imperativa necessidade de que nos salvemos, Deus, em sua bondade infinita, tem seus desígnios, e não é sempre que os compreenderemos. Meu filho de cinco anos pode ser incapaz de entender que antes do almoço não é bom que ele coma o chocolate que eu trouxe, mas quando ele tiver dezesseis, a idade do mais velho, talvez ele compreenda. Se confio em Deus, devo confiar inclusive e principalmente na espera, sabendo que nada que me acontece é aleatório, mas tudo faz parte de um plano que tem por objetivo último a salvação da minha alma.

A confiança precisa ser maior que a impaciência

Dessa maneira, se aquele casal não engravidou agora, não é porque Deus não ouviu as suas preces, mas porque no plano divino eles precisam viver algum processo, quem sabe de conversão ou cura, que envolve a dor de não ter um filho. Talvez o filho venha depois, mas talvez não. Está tudo nas mãos de Deus. "Humilhai-vos diante do Senhor e ele vos exaltará", complementa São Tiago. Que humilhação e que exaltação são essas? Humilhar-se nada mais é que dizer a Deus incessantemente que tenho sonhos e projetos, mas que eles só são bons, que eu só quero que eles permaneçam se me auxiliam na salvação da minha alma. Disponho-me, portanto, a abrir mão de tudo para receber a exaltação de Deus, que para um cristão não pode ser outra coisa senão habitar o céu, ser salvo.

Não há plano melhor, nem projeto mais aprazível diante do Senhor, mas a batalha é árdua. É imitar Cristo e fazer não a nossa vontade, mas a vontade do Pai, o que implica arrancar, com lágrimas de dor, aquelas lascas de sonhos e vontades que estão incrustadas no nosso coração, vivendo uma agonia similar à que Jesus viveu no Horto das Oliveiras, quando disse que preferiria não beber aquele cálice, mas que antes de tudo, fosse feita a vontade do Pai.

Essa resposta custou a Jesus lágrimas e sangue! Não pode ser diferente conosco, se queremos segui-lo. Há um abismo de distância entre a angústia de uma criança que só vai poder comer o doce depois do almoço e a de uma mãe que sonha em ter um filho ou de uma mulher que sonha com o casamento, isso é bem claro. Mas há também uma distância incomparável entre a recompensa que essa criança receberá se for obediente e a recompensa que receberão os que esperam no Senhor. Perseveremos, pois, na espera, para que mesmo que não entendamos os porquês de Deus, nossa confiança seja maior que a nossa impaciência.



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de cinco filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/esperar-em-deus-como-criancas/

10 de junho de 2020

A riqueza do convívio dos mais íntimos

Nós somos seres relacionais e, por assim dizer, precisamos aprender a viver com todos, nos relacionar com outras pessoas, isso é inerente para a vida. Imagine Jesus Cristo quando escolheu seus apóstolos: João, Pedro, Mateus, Judas, André etc., todos tinham diferenças, mas isso era uma riqueza.

Cada um que passa na nossa vida contribui para que sejamos pessoas melhores. Mesmo que tenha sido uma má experiência, aquele fato ou situação move a nossa existência rumo à melhoria, isto é, se soubermos aproveitar as
situações. Um bom exemplo que podemos aplicar para a vida é o simples fato de olhar um objeto qualquer. Quando você o enxerga, o observa de um ângulo privilegiado; quando outra pessoa o vê, acontece a mesma coisa. E quando se conversam, apresentam as diferentes visões de uma mesma coisa, ambos se enriquecem. Viver em comunidade, viver na sua pequena comunidade, desde a sua casa até o seu grupo de trabalho, todas as situações nos revelam a nós mesmos e revelam quem são os outros.

A riqueza do convívio dos mais íntimos

Foto Ilustrativa:by Getty Images / FG Trade

A boa vivência é uma riqueza

A boa vivência com os mais íntimos é, de fato, um vínculo de paz, entretanto, isso acontece quando se tem conhecimento de si mesmo e do outro com mais profundidade, a ponto de se conservar a paz e a tranquilidade nos
relacionamentos, uma vez que você sabe dos limites, das fragilidades e do jeito do outro. Enquanto observamos o outro, também nos alegramos com suas qualidades, e percebemos pelos nossos e pelo erro do outro o quanto somos
criaturas frágeis e que o vínculo da paz é perfeito quando enlaçado pelo amor.

O compêndio de Doutrina Social da Igreja menciona por vários parágrafos sobre a pessoa humana e, em especial, vemos no nº 145 algo que alarga nossa visão sobre este assunto: "Somente o reconhecimento da dignidade humana pode tornar possível o crescimento comum e pessoal de todos (cf. Tiago 2, 1-9)." Logo, a pessoa que mora com você é outro "eu". Amar o próximo é conservar a paz com todos. Até São Paulo diz em uma de suas cartas que se fosse possível que se conserva-se a paz com todos (Romanos 12, 18).


Os vínculos nos fazem crescer

Progredindo ainda mais no assunto e fazendo uma breve síntese do que vimos até aqui, é certo que precisamos reconhecer que o outro é uma riqueza para nós, mas que isso só se pode entender quando se convive, e é assim que se aprofundam as relações e se pode tocar nas fragilidades e qualidades. O dar-se a conhecer e o conhecer o outro gera em nós o amor fraterno e sincero. E quando temos a possibilidade de fazer esse itinerário com os que estão mais
próximos de nós, os íntimos, ainda mais precisamos primar pela paz por vínculos que nos fazem crescer e geram uma vida ainda mais sadia.

Concluímos com uma prática simples: vá ao encontro de todos aqueles que estão próximos a você e, se necessário, recomece de onde você parou. Queira viver de modo mais cristão, esteja aberto ao convívio e ao amor.


 


Guilherme Razuk

Guilherme Henrique de Lima Razuk é candidato às ordens sacras na Comunidade Canção Nova. Graduando do curso de Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), ele atua na liturgia durantes os eventos realizados pela comunidade católica. Razuk é produtor de conteúdo de algumas categorias deste canal formativo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/a-riqueza-do-convivio-dos-mais-intimos/