16 de junho de 2020

A esperança cristã presente no gesto do Papa Francisco

Uma imagem que "rodou" o mundo e emocionou os católicos foi quando o Papa Francisco, no dia 24 de maio de 2020, Domingo da Ascenção do Senhor, apareceu na janela do Vaticano para abençoar o povo que estava na Praça de São Pedro durante a oração do Regina Coeli. Essa imagem não se repetia desde o dia 8 de março de 2020, quando a Praça de São Pedro foi totalmente fechada por causa da pandemia do coronavírus, que contaminava e matava milhares de pessoas em todo o mundo. "A emoção do reencontro depois de quase dois meses", essa era a frase estampada nos jornais.

Não se podia falar de multidão na Praça de São Pedro como era costume, pois respeitava as regras do distanciamento, mas, mesmo que seja um pequeno grupo de fiéis presente na Praça, para os católicos do mundo, que acompanhavam pelas TVs e Redes Sociais, a possibilidade do povo rezar com seu pastor é um sinal de esperança de que a vida voltará ao seu ritmo normal, como o próprio Papa afirma na oração a Maria, neste tempo de pandemia: "Vós, Salvação do Povo, sabeis do que precisamos e temos a certeza de que no-lo providenciareis para que, como em Caná da Galileia, possa voltar a alegria e a festa depois desta provação".

A esperança cristã presente no gesto do Papa Francisco

Foto Ilustrativa: by Getty Images / powerofforever

A angústia diante da provação

Socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na capital paulista, de acordo com Francis Fujii, seu diretor médico, relata que, o atendimento a casos de suicídio e de tentativa de suicídio aumentou com a pandemia de coronavírus. Tal constatação confirma a análise publicada no Journal of the American Medical Association – Psychiatry, em abril de 2020, nos Estados Unidos, trata dos efeitos colaterais das necessárias medidas de isolamento e distanciamento social por conta da Covid-19 que podem aumentar o risco de suicídio. Os autores da pesquisa apontam como influenciadores da mortalidade por suicídio e Covid-19, entre eles, o estresse econômico e a incerteza sobre a própria subsistência; a solidão e a desconexão social; a dificuldade no tratamento da saúde mental devido à sobrecarga do sistema pelos pacientes da pandemia; o medo diante de doenças pré-existentes; e o aumento na ansiedade diante da doença.

O que foi apresentado acima é apenas um dos exemplos das consequências originárias de toda as condições de isolamento, estresse, tristeza, medo do futuro, incertezas, solidão, etc. provocado pela pandemia do coronavírus.

Esperança humana

A esperança é uma virtude própria da existência humana. Além de teológica, é uma realidade antropológica. O ser humano vive a realidade presente projetada para o futuro na esperança de uma existência plena.

O provérbio "A esperança é a última que morre" está presente na consciência e fala do povo, bem como, "no fim vai dar certo" ou "tudo vai ficar bem". Apesar de todas as formas de desânimo presentes na vida do povo sempre fica um pouco de esperança, a possibilidade de ter uma solução. Encontramos hoje muitos exemplos concretos da coragem de viver e enfrentar a vida, por exemplo, pais que já não enxergam mais nada de mudança em sua frente, mas esperam dias melhores para seus filhos e por isto fazem sacrifícios duros, para que eles não sofram o que eles aguentaram. Pessoas enfermas que lutam contra a doença com todas as possibilidades, a vontade de viver e sobreviver costuma vencer a inclinação para a morte.

A esperança é sustentada pela confiança, as duas se completam e se supõem. A esperança é vista como realizável pela confiança. No horizonte da esperança humana, há incertezas e temores, mas também existe o ousar, a aventura, a confiança que empurra e sustenta a pessoa na conquista do bem e sempre repetir: "tudo vai ficar bem".

Esperança cristã e o cumprimento das promessas

No Antigo Testamento, Deus é apresentado como o "Deus da Promessa". O elemento primeiro e fundador da Revelação foi a promessa aos pais na Fé, os Patriarcas. E viver dessa promessa é o que dá sentido para a existência e luta deste povo. Deus promete terra, descendência, vida (cf. Gn 12,3.17; 13,14-16; 15,3.7.18; 18,10; 22,17;…).

A promessa para o povo de Israel tem como objeto a terra e a descendência, a promessa é concreta, o povo confia e esta promessa se torna o fundamento da Aliança. Nesta confiança o povo vai construindo sua história feita de lutas, conquistas, comemorações e esperanças (cf. Dt 6,20-25). O Deus da promessa cria o povo da esperança.

Os profetas garantem que a história da salvação é conduzida por Deus que cumpre sua promessa e aí o povo encontra forças para suportar o imprevisto dos acontecimentos, as instituições, os sistemas, as inovações, os progressos, bem como as calamidades, as guerras, as enfermidades, as invasões, os imperialismos e toda espécie de desafios e de crises, com a certeza: "Eu serei vosso Deus, e vós sereis o meu Povo" (Ex 19,5).

Jesus é o cumprimento pleno da Esperança prometida no Antigo Testamento. O pleno cumprimento das promessas em Cristo, na sua cruz e ressurreição (cf. 2Cor 1,20) vem a ser a perfeita revelação da Esperança. Na cruz, o vazio total de Jesus revela a plenitude do Deus Amor. A morte e ressurreição de Jesus é este ato total de Esperança.
Em Cristo, a Esperança se torna plenamente teologal, ou seja, Divina. Tudo, nós esperamos somente de Deus, do Deus Amor, que nos conduz pelos caminhos do amor: "Nada nos poderá separar do Amor que Deus nos manifestou em Cristo" (Rm 8,39).


No discurso de despedida, Evangelho de São João, 14,15-21, Jesus promete enviar o Espírito Santo: "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro defensor, para que permaneça convosco". Esta promessa é a certeza de que Deus não nos abandona. Jesus fala no envio do "Paráclito" (paráklêtos), "advogado", "auxiliar", "defensor". Sentido de "consolador", de "intercessor"; o advogado, ad-vocatus, "chamado para", "aquele que vem para perto para defender". O Espírito é apresentado como "a força de Deus" que vem em nosso socorro. No mesmo discurso Jesus reafirma aos discípulos, "não vos deixarei órfãos", garante-lhes com grande força a sua presença através do Espírito Santo. Essa mesma promessa e força da Esperança é hoje também para nós que cremos.

Pela Fé trazemos a certeza de que não estamos sozinhos, pois o Espírito Santo não abandona, uma vez que estabelece morada permanente; essa é a verdade que Jesus revelou, essa é a verdade que em nós o Espírito sustenta e defende. Quando a provação encontra alguém ancorado na confiança na Palavra do Senhor, e no abandono a Ele, então é purificada, lança-o no caminho do Ressuscitado e suscita Esperança.

A Esperança fundamentada na Ressurreição de Jesus não decepciona (Rm 5,5). Não se trata de um simples otimismo ou animação em determinadas circunstâncias, mas de uma atitude fundamental de quem vive esta esperança cristã que faz olhar para frente e enxergar a realidade com mais lucidez e alegria e proclamar com o apóstolo Paulo: "Estava plenamente convencido de que Deus era Poderoso para cumprir o que prometeu" (Rm 4,21).

A Esperança não consiste simplesmente em ficar parado, ocupando-se com o desnecessário, esperando até que o Senhor volte, como fizeram alguns membros da Igreja de Tessalônica (2Tm 3,6-12). Viver na esperança é colocar os pés na estrada, construir caminhos, aplainar as veredas, dar pão a quem tem fome, um copo de água a quem tem sede, vestir o nu, visitar o doente, o preso, acolher o imigrante (cf. Mt 25,31-46) é construir o Reino que com Jesus já está no meio de nós. O agir do cristão possui um caráter de confiança em Deus, fundamento e fim último de toda Esperança. A Esperança cristã é vivida na oração, na virtude da paciência e na prática da caridade. Por tudo isto, o cristão tem de ser profeta da Esperança e não do medo e do desespero.

A Esperança cristã não aceita o "correr em vão" (1Cor 9,26). O homem corre em busca da felicidade divina e felicidade humana. Agarra-se à certeza do Reino prometido, que já está em marcha, presente pela força da graça, na existência de cada um e na história da humanidade que caminha em busca do Reino prometido. A esperança supõe a confiança nas promessas de Deus e na sua bondade que deseja a salvação de todos e faz com que a fé se torne uma força que move, sustenta a existência cristã (Cl 1,4-5).

Toda Esperança se apoia na certeza de que é possível alcançar o bem prometido por Deus. Na esperança humana, o fundamento de tal convicção são as forças humanas e a crença na bondade fundamental das criaturas. No fiel cristão, isso se transforma na confiança numa providência divina, em um Deus que se revelou como Pai e quer o bem de seus filhos. Deus é fiel por si mesmo e sua promessa, mesmo com a infidelidade do homem, Deus permanece fiel (Gn 2,15), como afirma o apóstolo: "Nada nos poderá separar do Amor que Deus nos manifestou em Cristo" (Rm 8,39).

É dever do cristão suscitar no povo a fé nas promessas de Deus, em Jesus, no Espírito Santo. Iluminar corações e mentes com a Boa Notícia da Salvação para que todos possam compreender que a esperança humana, os anseios mais profundos do homem, se realizam, de modo definitivo na Esperança cristã (cf. Gaudium et Spes, 92).

Papa Francisco e a Esperança cristã

O Papa Francisco, profeta por palavras e gestos, tem a missão de dar as razões desta Esperança cristã (cf. 1Pd 3,15). O Papa tem consciência que, suscitar Esperança nas pessoas é sempre importante em qualquer tempo e lugar, sobretudo nas atuais circunstâncias de pandemia do coronavírus, é urgente e necessário.

A Esperança cristã fundada na Ressurreição de Jesus foi anunciada pelo Papa Francisco na celebração da Vigília Pascal da Basílica de São Pedro no dia 11 de abril de 2020: "Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância, com o aflorar dum sorriso. Não. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. 'Tudo correrá bem': repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida".

Referências:

[1] Fonte: https://www.vaticannews.va/pt.html

[1] Fontes: https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/05/31/atendimento-de-urgencia-relacionado-a-suicidio-cresce-durante-a-pandemia.htm

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/05/31/pandemia-de-coronavirus-modifica-relacao-das-pessoas-com-o-luto.htm



Padre Mário Marcelo, scj

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética. Membro do grupo Interdisciplinar de Peritos (GIP) da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/esperanca-crista-presente-no-gesto-papa-francisco/

13 de junho de 2020

Esperar em Deus como crianças

Quando Jesus disse que para entrarmos no Reino dos Céus teríamos que ser como crianças, tenho quase certeza de que Ele estava se referindo à confiança irrestrita que elas têm nos pais, mas de modo algum falava da virtude da paciência. Sim, as crianças confiam nos pais, e, até certa idade, de maneira absoluta, mas ao mesmo tempo elas são tão impacientes quanto é possível ser.

Todas as vezes que vou ao supermercado, trago para os meus filhos algo que não é comum consumirmos no dia a dia. Pode ser um chocolate, um doce, um salgadinho de milho, sucrilhos. Eles sabem disso e aguardam ansiosos o meu retorno, pois se lhes digo que vou trazer algo, nem entra na cabeça deles a ideia de que eu poderia frustrar essa expectativa. É a confiança própria das crianças.

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Foto ilustrativa: FG Trade by Getty Images

Assim que passo pela porta de casa, eles correm e começam a revirar as sacolas que eu trouxe, procurando o prêmio. "Calma aí", eu lhes digo. "Podem voltar para o seu lugar. Deixem-me arrumar tudo". Elas ficam pulando de tanta empolgação, sem conseguir se conter. Querem porque querem saber o que eu trouxe. É a impaciência também própria das crianças. Esse é apenas um pequeno exemplo, mas no cotidiano não faltam situações que se apliquem à minha filha de nove meses, ao de cinco anos, à de nove anos e mesmo ao de dezesseis. Cada um, de acordo com a sua idade, traz em si as marcas da confiança e da impaciência, mesmo quando já estão mais crescidos. Contudo, o movimento natural da vida e da aquisição da maturidade é que os filhos vão crescendo e percam, com o passar do tempo, aquela confiança inabalável nos pais, ao tempo em que cultivem em si mais paciência para lidar com as dificuldades que vão encontrando em seu caminho.

Seremos sempre como crianças diante de Deus

Podemos olhar para nós mesmos e percebermos que, diante de Deus, seremos sempre como crianças, tendo que lidar com a confiança que temos nele, que é um Pai amoroso, e com a nossa impaciência de filhos amados. É possível que tenhamos trilhado o percurso de primeiro perder, para depois recuperar a confiança em Deus. Nas mais diversas áreas da nossa vida, fomos exercitando a fé, a esperança e o amor, experimentando em situações concretas as palavras de Jesus: "O vosso Pai do céu sabe que tendes necessidade de tudo isso".

Se confiar em Deus como crianças é um exercício difícil e no qual talvez já tenhamos avançado bastante, não podemos desprezar o desafio que é a espera confiante. Sim, "pedi e recebereis", disse Jesus, e cremos nisso, mas o Mestre não deixou claro quando  receberíamos. Aqui entra um componente que nos faz voltar a ser criancinhas ansiosas pelo doce que o papai trouxe do supermercado. O Pai do Céu nos deu a certeza de que receberíamos, mas só conseguimos pensar com o nosso tempo, que é o do "aqui e agora". O relógio de Deus, entretanto, não é assim. Ele não atrasa nem adianta, não demora nem se apressa, porque seus planos são perfeitos e a sua hora é sempre precisa. Fazer essa sintonia entre o nosso relógio, cujo alarme já disparou há tempos, e o de Deus, que sequer tem ponteiros, é doloroso e muitas vezes angustiante, porque paramos na nossa humanidade ferida, limitada.

Esperar é doloroso

"Mas papai, eu quero comer o chocolate agora". "Só depois do almoço, filho". Às vezes, o desejo é tão grande que as lágrimas escapam dos olhos diante da frustração da espera, mas com o tempo a criança vai aprendendo que naquela casa existe uma regra, um relógio, um tempo que é diferente do seu e que ele tem somente duas opções: ficar na graça e esperar o tempo dos pais ou desobedecer no oculto e enfrentar as consequências deste ato quando for descoberto (porque os pais sempre descobrem, a criança sabe bem disso). Esperar é doloroso, mas o bem almejado vai chegar na hora que os pais julgarem adequada. É assim numa casa equilibrada e é assim no Reino de Deus. Que desafio tremendo, contudo, crer que a hora adequada é a do Pai e não a minha!

É inevitável que, nessa espera por Deus, passemos por situações que nos deem aquela impressão de que nadamos, nadamos e morremos na praia. Isso pode ocorrer nas mais diversas situações, como aquele casal que tem dificuldade para ter filhos e passa por um longo tratamento, com muitas visitas ao médico, muitos sonhos alimentados e que consegue finalmente engravidar, mas sofre a perda do bebê ainda no início da gestação. Uma família que sonhava em construir a sua casa e sair do aluguel e que esperou anos por isso, até que surgiu uma oportunidade que envolvia uma mudança no trabalho, um aumento na renda que parecia certo. Essa família sonhou, imaginou os filhos correndo pela casa, mas quando tudo parecia resolvido, o aumento não veio, novas despesas surgiram e o projeto da casa ficou para Deus sabe quando.

Uma moça que sonha em se casar, constituir família, ter filhos, um lar para cuidar, mas que vê que o tempo passar, sem que seu José chegue. Um dia, ela encontra um rapaz e começa a cultivar um sentimento por ele e parece haver reciprocidade. Mesmo depois de muito relutar interiormente, ela investe sua vida, sua esperança, seu tempo cada vez mais escasso num namoro, num noivado, apenas para descobrir que o outro tem planos diferentes, talvez outra moça, e ele termina o relacionamento.

Faça o pedido certo!

Nos três casos, parecia que depois de tanto tempo a espera iria finalmente acabar, mas ficou apenas a tristeza, a dor lancinante e, às vezes, uma revolta, que nos leva a pensar que Deus brinca com nossos sentimentos, como se fosse um sádico. É nessa hora que devemos recorrer ao que nos ensina São Tiago: se não obtemos o que pedimos, é porque talvez estejamos pedindo mal. Não que querer um filho, uma casa para morar ou sonhar com o casamento sejam coisas ruins. Longe disso! São pedidos justos e bons, mas o grande ponto é ter a clareza de qual é o grande pedido que devemos fazer incessantemente a Deus: a salvação da nossa alma.

Diante da imperativa necessidade de que nos salvemos, Deus, em sua bondade infinita, tem seus desígnios, e não é sempre que os compreenderemos. Meu filho de cinco anos pode ser incapaz de entender que antes do almoço não é bom que ele coma o chocolate que eu trouxe, mas quando ele tiver dezesseis, a idade do mais velho, talvez ele compreenda. Se confio em Deus, devo confiar inclusive e principalmente na espera, sabendo que nada que me acontece é aleatório, mas tudo faz parte de um plano que tem por objetivo último a salvação da minha alma.

A confiança precisa ser maior que a impaciência

Dessa maneira, se aquele casal não engravidou agora, não é porque Deus não ouviu as suas preces, mas porque no plano divino eles precisam viver algum processo, quem sabe de conversão ou cura, que envolve a dor de não ter um filho. Talvez o filho venha depois, mas talvez não. Está tudo nas mãos de Deus. "Humilhai-vos diante do Senhor e ele vos exaltará", complementa São Tiago. Que humilhação e que exaltação são essas? Humilhar-se nada mais é que dizer a Deus incessantemente que tenho sonhos e projetos, mas que eles só são bons, que eu só quero que eles permaneçam se me auxiliam na salvação da minha alma. Disponho-me, portanto, a abrir mão de tudo para receber a exaltação de Deus, que para um cristão não pode ser outra coisa senão habitar o céu, ser salvo.

Não há plano melhor, nem projeto mais aprazível diante do Senhor, mas a batalha é árdua. É imitar Cristo e fazer não a nossa vontade, mas a vontade do Pai, o que implica arrancar, com lágrimas de dor, aquelas lascas de sonhos e vontades que estão incrustadas no nosso coração, vivendo uma agonia similar à que Jesus viveu no Horto das Oliveiras, quando disse que preferiria não beber aquele cálice, mas que antes de tudo, fosse feita a vontade do Pai.

Essa resposta custou a Jesus lágrimas e sangue! Não pode ser diferente conosco, se queremos segui-lo. Há um abismo de distância entre a angústia de uma criança que só vai poder comer o doce depois do almoço e a de uma mãe que sonha em ter um filho ou de uma mulher que sonha com o casamento, isso é bem claro. Mas há também uma distância incomparável entre a recompensa que essa criança receberá se for obediente e a recompensa que receberão os que esperam no Senhor. Perseveremos, pois, na espera, para que mesmo que não entendamos os porquês de Deus, nossa confiança seja maior que a nossa impaciência.



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de cinco filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/esperar-em-deus-como-criancas/

10 de junho de 2020

A riqueza do convívio dos mais íntimos

Nós somos seres relacionais e, por assim dizer, precisamos aprender a viver com todos, nos relacionar com outras pessoas, isso é inerente para a vida. Imagine Jesus Cristo quando escolheu seus apóstolos: João, Pedro, Mateus, Judas, André etc., todos tinham diferenças, mas isso era uma riqueza.

Cada um que passa na nossa vida contribui para que sejamos pessoas melhores. Mesmo que tenha sido uma má experiência, aquele fato ou situação move a nossa existência rumo à melhoria, isto é, se soubermos aproveitar as
situações. Um bom exemplo que podemos aplicar para a vida é o simples fato de olhar um objeto qualquer. Quando você o enxerga, o observa de um ângulo privilegiado; quando outra pessoa o vê, acontece a mesma coisa. E quando se conversam, apresentam as diferentes visões de uma mesma coisa, ambos se enriquecem. Viver em comunidade, viver na sua pequena comunidade, desde a sua casa até o seu grupo de trabalho, todas as situações nos revelam a nós mesmos e revelam quem são os outros.

A riqueza do convívio dos mais íntimos

Foto Ilustrativa:by Getty Images / FG Trade

A boa vivência é uma riqueza

A boa vivência com os mais íntimos é, de fato, um vínculo de paz, entretanto, isso acontece quando se tem conhecimento de si mesmo e do outro com mais profundidade, a ponto de se conservar a paz e a tranquilidade nos
relacionamentos, uma vez que você sabe dos limites, das fragilidades e do jeito do outro. Enquanto observamos o outro, também nos alegramos com suas qualidades, e percebemos pelos nossos e pelo erro do outro o quanto somos
criaturas frágeis e que o vínculo da paz é perfeito quando enlaçado pelo amor.

O compêndio de Doutrina Social da Igreja menciona por vários parágrafos sobre a pessoa humana e, em especial, vemos no nº 145 algo que alarga nossa visão sobre este assunto: "Somente o reconhecimento da dignidade humana pode tornar possível o crescimento comum e pessoal de todos (cf. Tiago 2, 1-9)." Logo, a pessoa que mora com você é outro "eu". Amar o próximo é conservar a paz com todos. Até São Paulo diz em uma de suas cartas que se fosse possível que se conserva-se a paz com todos (Romanos 12, 18).


Os vínculos nos fazem crescer

Progredindo ainda mais no assunto e fazendo uma breve síntese do que vimos até aqui, é certo que precisamos reconhecer que o outro é uma riqueza para nós, mas que isso só se pode entender quando se convive, e é assim que se aprofundam as relações e se pode tocar nas fragilidades e qualidades. O dar-se a conhecer e o conhecer o outro gera em nós o amor fraterno e sincero. E quando temos a possibilidade de fazer esse itinerário com os que estão mais
próximos de nós, os íntimos, ainda mais precisamos primar pela paz por vínculos que nos fazem crescer e geram uma vida ainda mais sadia.

Concluímos com uma prática simples: vá ao encontro de todos aqueles que estão próximos a você e, se necessário, recomece de onde você parou. Queira viver de modo mais cristão, esteja aberto ao convívio e ao amor.


 


Guilherme Razuk

Guilherme Henrique de Lima Razuk é candidato às ordens sacras na Comunidade Canção Nova. Graduando do curso de Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), ele atua na liturgia durantes os eventos realizados pela comunidade católica. Razuk é produtor de conteúdo de algumas categorias deste canal formativo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/a-riqueza-do-convivio-dos-mais-intimos/

8 de junho de 2020

Os efeitos do amor

"Amor tem o seu preço", já dizia o poeta. Porém, o amor também tem seus efeitos, e é sobre eles que partilho. Esses dias, ao  ler os escritos do padre Kentenich, encontrei sua definição sobre os efeitos do amor, e também faço meu o pensamento dele.

"O verdadeiro amor é como o sol ardente, ele desperta e faz germinar todas as sementes ocultas no homem. Muitos não se desenvolvem nem moral nem espiritualmente, porque em vão esperam saudosos, um simples gesto de amor. Outros trazem em si a inclinação ao heroísmo e poderiam elevar-se como águia, até o sol, porém permanecem em planos inferiores, porque recebem e dão pouco amor". Levando em consideração que, o amor que nos cura e nos faz crescer é o amor que damos e não o que recebemos, é justo que comecemos agora mesmo a dar mais atenção ao assunto.

Foto Ilustrativa: by Getty Images / FG Trade

Os efeitos do amor que dou

Santo Agostinho nos diz: "O amor é a força de atração da alma"; e São Francisco de Sales nos lembra: "Como o corpo foi criado para a alma, assim a alma foi feita para o amor". E Deus, que criou o homem, portanto: o corpo e a alma por amor e com amor, também espera do homem, no mínimo, a disposição para amar.

Mas como amar meu próximo na medida certa? Cristo nos ensinou quando disse ao escriba: "Amarás teu próximo como a ti mesmo", portanto, está aí a medida certíssima! Porém, como não posso dar aquilo que não possuo, então, para amar o meu próximo, devo ter também um sadio amor próprio, concorda? Agora, mãos à obra!


Começando por uma autoanálise: me amo e me aceito como sou ou tenho me desprezado, fugindo de mim tentando amar os outros? Que tipo de amor tenho oferecido às pessoas que se relacionam comigo? Feita sua conclusão, lembre-se de que: o amor que cura é o amor que você dá e não o que você recebe, além do mais, não se pode dar aquilo que não se tem.

Peço a Deus que lhe conceda, hoje, a graça de amar, na medida certa, o próximo como a ti mesmo, e que você leve os efeitos do amor em sua vida.



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/os-efeitos-do-amor/

5 de junho de 2020

Como manter os olhos fixos em Jesus?

Neste mundo, todos nós estamos sujeitos ao sofrimento. Tanto os pagãos como os cristãos são, em todos os momentos, visitados pelas intempéries da vida, ninguém está isento. A grande diferença é como cada um responde a esses desafios cotidianos. Entretanto, manter-se em Jesus é algo que nos desafia.

Nenhum de nós pode dizer como vai reagir a cada tragédia ou acidente, as respostas vêm no momento, até porque não adivinhamos quando a dificuldade baterá à nossa porta. Como será que você vai reagir se descobrir que está com uma doença terminal? Ou como será sua resposta diante da morte de seus pais? Ninguém pode dizer sobre isso, porém, ora ou outra as fatalidades acontecem.

Como manter os olhos fixos em Jesus

Foto Ilustrativa: by Getty Images / LordRunar

Agarre-se em Jesus!

Nessas horas, é preciso agarrar-se firmemente em Jesus e clamar pelo Seu socorro e Sua força para continuar. Agarrar-se em Jesus não quer dizer que pediremos e Ele irá resolver todos os nossos problemas, e sim que Ele nos dará forças para superá-los. Essa superação acontece por meio da fé que, primeiramente, é dom de Deus e, por isso, é graça, assim, nós pedimos e recebemos.

O ato de crer, além de dom divino, está vinculado à memória. É como fazer um esforço para recordar das coisas boas que Deus fez, das vitórias que Ele nos deu e, desse modo, acreditar que Ele continuará nos dando. É ter boas lembranças para ser impulsionado a esperar um bom futuro. "Se Deus me ajudou naquilo, Ele me ajudará nisso".


A exemplo disso, o próprio São Paulo pregou na sinagoga fazendo memória das obras de Deus, a fim de suscitar a naquele povo (veja em Atos 13,14-43). Além dele, tantos outros profetas, a todo tempo, diziam do passado para que o povo fosse fiel no presente em que vivia.

Portanto, fazer memória e pedir a graça de Deus é o que nos dará fé para continuar. Em comparação com o jargão popular que diz "recordar é viver", nós, cristãos, podemos dizer que "recordar é permanecer". Recorde das coisas boas que Deus fez em você, daquilo que Ele fez na vida do povo de Israel, nas promessas que Ele nos deixou: "Eis que estou convosco todos os dias" (Mt 28,20).



Rafael Vitto

Rafael Vitto, natural da cidade de Cuiabá (MT), é membro da Comunidade Canção Nova desde 2015. Hoje, ele é seminarista e estudante da curso de Filosofia na Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-manter-os-olhos-fixos-em-jesus/

2 de junho de 2020

Busque sua libertação pela Palavra de Deus

Pela graça da Palavra de Deus você pode encontrar a libertação de que tanto necessita.

A libertação da nossa vida acontece por meio da Palavra de Deus. Foi assim desde o início da missão de Jesus. Ele veio para curar todas as doenças que trazemos dentro da nossa genealogia, dos nossos antepassados, da nossa árvore genealógica e até mesmo do ventre materno. Jesus vem curar todas as doenças que entraram na nossa vida por conta do nosso pecado.



Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Vejamos como exemplo a cura da hemorroíssa: essa mulher sofria há doze anos de uma doença para a qual ela tinha procurado a cura e gastado todo seu dinheiro com os médicos, mas estes não a tinham curado. Agora, ela encontra Jesus. E ela vai ver Jesus. Ao vê-Lo, ela é curada. Jesus sente que sai uma força d'Ele. E essa força é o que cura essa mulher. Ela, pela fé, tomou posse; e a maldição que pesava sobre ela foi quebrada. Essa é a pior doença relatada na Sagrada Escritura, porque o livro do Levítico (cf. Lv 15, 25-27) diz que quando uma mulher estava com sangramento, ela tornava-se maldita, e tudo o que ela viesse a tocar tornaria-se também maldito.

Muito maior do que o sangramento, do que a doença dessa mulher, era exatamente a humilhação de viver isolada, longe dos seus filhos, longe do seu marido, longe da sociedade e sem poder tocar em nada, porque tudo o que ela tocasse se tornaria maldito.

A libertação vem de Jesus

No caminho, Jesus estava indo à casa de Jairo, onde a filha deste estava morta. Ela tinha doze anos, e Jesus lhe disse: "Talitá, cum!" (Menina, levanta-te!); e a menina levantou-se imediatamente. A doença leva à morte. Jesus leva à vida!

Jesus é a cura. O nome de Jesus já diz: "Ele é o Salvador". E a palavra "salvador", no grego, significa "aquele que vem trazer a cura". Cura do corpo e da alma. Jesus é Aquele que vem para quebrar toda a maldição de doença que se encontra no ser humano.

Essa hemorroíssa representa todas as gerações antes de Jesus Cristo, ou seja, as doze tribos de Israel. A filha de Jairo, por sua vez, representa todas as gerações até a última vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, a geração apostólica. Então, a cura em Jesus é para todos aqueles da nossa família que nos antecederam. É também para todos aqueles que virão depois de nós até a última vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Bíblia deixa isso muito claro!


Oração

Eu estendo as minhas mãos sobre você agora e, em nome de Jesus, pelo poder de todas as chagas do Senhor, pelo poder do Sangue de Jesus aspergido em cada uma dessas chagas, eu ordeno que toda doença física, toda célula cancerígena, toda bactéria de infecção, todo tumor, toda doença degenerativa, toda e qualquer doença que esteja no seu corpo, nos ossos, nos músculos, na pele, na carne, na corrente sanguínea, toda doença diagnosticada, em tratamento ou desconhecida, que ela se retire agora da sua vida e vá aos pés da Cruz de Cristo, e que você receba o milagre. Nesse ato de fé, eu ordeno a toda central de distribuição de células cancerígenas, que ela seja, agora, cancelada em nome de Jesus. Que você receba o milagre em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Deus o abençoe. E que por essa graça da Palavra de Deus você encontre a cura e a libertação de que tanto necessita.

 




Ironi Spuldaro

Ironi Spuldaro é Membro do CAE (Comissão de Ação Evangelizadora) da diocese de Guarapuava. Membro do conselho diocesano, estadual e nacional da RCC (Renovação Carismática Católica) movimento do qual participa desde 1987. Ironi exerce o ministério de pregação em todo o Brasil e em outros países, como Argentina, Paraguai, Bolívia, Estados Unidos, Itália, Coréia do Sul, Inglaterra e Suiça. Fundador da Missão Há Poder de Deus, escritor e apresentador do Programa Há Poder de Deus.

Site: www.ironispuldaro.com.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/busque-sua-libertacao-pela-palavra-de-deus/

25 de maio de 2020

Onde está meu coração?

Diz a Palavra de Deus: "Onde está o teu tesouro, lá também está teu coração" (Mt 6, 21). É que o nosso coração está sempre onde está quem ou o que amamos. Basta pensar na pessoa querida e um sentimento já conhecido, mas sempre novo, nos invade. Seria amor, paixão, sentimentalismo. Seja o que for, o certo é que nos transporta de um lugar ao outro em fração de segundos.

O Padre kentenich diz, em um de seus escritos, que o amor não é novo, porém, nova é a maneira como Cristo nos amou e nos ensina a amar: "Deveis amar-vos uns aos outros assim como eu vos amei". E como foi mesmo que Cristo nos amou? Doando-se inteiramente por nós sem poupar nada, nem mesmo a própria vida. É assim que Cristo nos ensina a amar: doando-nos sem reservas!

Foto Ilustrativa: by Getty Images / a_lis

Onde estiver o nosso coração também estará o nosso tesouro

Ao falarmos de amor, pensamos naquela inclinação espontânea, na atração por um objeto ou uma pessoa que move o coração quando descobrimos algo de belo, bom ou agradável que, de alguma forma, nos completa. Neste caso, constatamos que, muitos têm se deixado completar por "quase nada" e, portanto, estão sempre vazios. Vemos, hoje, a palavra amor sendo utilizada de maneira tão errada e até mesmo agressiva, que ficamos inibidos na hora de usá-la da maneira correta. Porém, na essência ela não perdeu o seu significado e valor, nós, cristãos, não podemos abrir mão disso.




Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/onde-esta-meu-coracao/