20 de abril de 2020

Céu, nossa pátria definitiva

A Pátria definitiva que desejamos habitar é a casa cuja construção começa na terra. A Palavra de Deus reúne o povo que lhe pertence, convocando-o à comunhão com o próprio Senhor para ser um sinal de um mundo diferente, possível para todos os homens e mulheres pela ação da graças. Jesus, Filho de Deus verdadeiro, veio ao mundo e trouxe a "cultura do céu", oferecendo-a com generosidade. "De rico que era, tornou-se pobre por amor para que nos enriquecer com sua pobreza" (2 Cor 8,9).

N'Ele e com Ele se encontra o chamado e a graça a restaurar todas as coisas. Em Jesus Cristo, Deus "nos fez conhecer o mistério de sua vontade, segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, para realizá-lo na plenitude dos tempos: recapitular tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra" (Ef 1,9-10). Esta terra não é um restolho a ser desprezado, mas campo de prova e de missão, entregue a todos os filhos amados de Deus. A nós cabe a resposta a este plano de amor!

Não faltam os desafios a serem enfrentados para que os sonhos de Deus e de seus filhos se realizem. Dentre estes, assoma significativo o verdadeiro abismo entre grupos sociais, passando da extrema e escandalosa miséria até chegar à abundância, ao esbanjamento e ao desperdício que têm provocado indignação e clamado soluções construtivas. A sensibilidade especial do Evangelho de São Lucas para os pobres e pequenos (Cf. Lc 16, 10-31) mostra Jesus que, através da provocante linguagem das parábolas, quer suscitar novas atitudes, semeando novas relações entre as pessoas.

Céu, nossa pátria definitiva

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O Céu está bem perto de nós

Lázaro, o pobre de outrora e de sempre, assim como o rico epulão continuam presentes e incômodos, quando a parábola é contada por Jesus. Mas o céu, com seu modo de viver baseado na comunhão e na partilha, está bem perto de nós. Antes de pôr o dedo na ferida da desigualdade e da injustiça presentes em nosso tempo, faz bem olhar ao nosso redor e identificar onde se encontram experiências diferentes, nas quais o céu desce à terra. Perto e dentro de nós, existem gestos de comunhão, gente de coração generoso, sensibilidade diferente à fraternidade. Penso em tantas iniciativas tomadas por pessoas e grupos, como as tantas obras sociais da Igreja ou de outras instâncias da sociedade, nas quais se superam as distâncias e a fraternidade se instala. E quantas são as pessoas tocadas pela força da Palavra de Deus e hoje mais fraternas e sensíveis às necessidades dos outros, capazes de acolher os outros e proporcionar-lhes caminhos novos de promoção e autonomia.

Depois, trata-se de alargar a compreensão para verificar as marcas de verdadeiro inferno existentes em torno a nós, onde o egoísmo se espalha e deixa seu rastro destruidor. Uma imagem de tal situação me veio há poucos dias diante dos olhos: um morador de rua recolhendo água suja de uma valeta numa grande cidade, para "quase fazer de conta" se lavar no início de um novo dia.

Penso em tantos homens e mulheres que veem seus filhos vagando pelas ruas, revestidos de andrajos, com o coração dolorido por não terem roupas adequadas. E os homens e mulheres que recolhem restos de comida, quais lázaros que competem com cães vadios? Brada ao Céu a terra que edificamos! A dignidade humana, inscrita por Deus em todos os seus filhos, grita por novas atitudes. Para acordar a humanidade adormecida dentro de nós, foram dados lei, profetas e, mais ainda, alguém que ressuscitou dos mortos (Cf. Lc 16, 29-31). E não falta o grito da realidade, mas ouvidos sensíveis!

O primeiro passo é saber que o céu, pátria definitiva em que desejamos habitar, é a casa cuja construção começa na terra. Dar guarida a cada pessoa que clama pelo nosso amor, sem deixar quem quer que seja passar em vão ao nosso lado. Diante do aleijado encontrado pelas ruas, Pedro e João tinham muito mais do que recursos materiais: "Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!" (At 3,5). Deram a cura, abriram o coração do homem para Deus. E os textos dos Atos dos Apóstolos mostram que os primeiros cristãos lutaram pela comunhão de bens, um dos sinais da presença de Cristo Ressuscitado. Palavra, pão, remédio, abraço, consolo, sorriso, mãos que elevam, cura. Tudo serve e certamente haverá, no tesouro do coração de cada pessoa, algo a oferecer. Começar já, do jeito que é possível para cada um de nós.

Mas muitos podem oferecer outras coisas! Quem tem responsabilidades públicas, à frente de organismos da sociedade, pode aguçar sua sensibilidade e priorizar ações correspondentes aos valores da dignidade humana e proporcionar maior respeito às pessoas, especialmente aos mais necessitados. Há muita cara fechada e muita burocracia a serem superadas nas repartições públicas. Muitas filas podem diminuir, se crescer a boa vontade. Há projetos em vista do bem comum a serem implantados, vencendo interesses corporativos que emperram a vida dos cidadãos. Existe um caminho de conversão adequado para as pessoas que detêm cargos eletivos, quem sabe, inscritos até nos discursos bonitos da campanha eleitoral! Há mãos a serem lavadas na água pura da fonte da vida!

O Céu é o limite

Tudo isso só será possível se os valores que norteiam o comportamento tiverem referências diferentes. Escrevendo a Timóteo, companheiro de jornada no anúncio do Evangelho, São Paulo fez notar que "na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas, procura antes a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado quando fizeste a tua bela profissão de fé diante de muitas testemunhas" (1 Tm 6, 10-16). A atualidade patente da Escritura provoca novas atitudes. Só com homens e mulheres renovados e transformados com os critérios do Evangelho se pode implantar relações novas na sociedade.

Enfim, vale dizer que se o céu é o limite, não há de temê-lo. Quando a Escritura e a Igreja falam das realidades definitivas, chamadas "novíssimos do homem", não desejam incutir o pavor nem converter à força as pessoas. Não fomos feitos para rastejar no pecado e no egoísmo, mas pensados por Deus para a felicidade, construída e partilhada nesta terra e vivida em plenitude na eternidade.



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/ceu-nossa-patria-definitiva/

16 de abril de 2020

Contribuição das redes sociais em tempo de quarentena

Sabemos que a velocidade com que a informação se propaga, num mundo tecnológico e de redes sociais, é imensa e varre todo o canto do mundo em segundos. O que, antes, levaria horas ou dias para chegar ao conhecimento do outro, hoje, em apenas um toque torna-se sabido a milhões de pessoas.

A velha brincadeira do telefone sem fio pode se tornar perigosa, catastrófica, desumana, irreal e trazer pânico. Como temos lido, muitas vezes, nos últimos dias: morri com a informação ou a desinformação que tive. Sabe aquela história do ouvir dizer, que alguém disse e foi comprovado pela fala de um terceiro? Pois é: é sobre esse perigo que falamos. O poder das fake news ou das notícias falsas é especialmente perigoso e pode destruir pessoas.

Vale a pena, contudo, olharmos para as redes sociais como uma forma rica e até mesmo divertida de entretenimento e informação, desde que consultadas as fontes.

Contribuição das redes sociais em tempo de quarentena

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Dicas para usar bem as redes sociais, principalmente neste tempo

Usar bem um recurso diz de tirar o melhor que ele pode nos oferecer e usar com sabedoria e discernimento. Essa é a principal lição que podemos tirar deste tempo.

Uma outra rica contribuição das redes sociais é o poder de aproximar as pessoas: aos filhos, que longe estão dos seus pais; dos irmãos que conversam uns com os outros; dos coleguinhas de escola que, sem se verem, sentem a falta um do outro; daqueles que trabalham na área da saúde e têm evitado estar próximos de suas famílias; dos que estão nos hospitais e, por força da internação, comunicam-se com seus familiares. Tudo isso é rico, é fonte de amor e cuidado, é a forma saudável pela qual as redes sociais nos aproximam.

Vale uma dica bastante importante: evite ficar o dia todo nas redes sociais, não tenha este meio como única fonte de informação. Procure mesclar seu tempo em outras tarefas e responsabilidades do seu dia, até porque qualquer tipo de excesso é prejudicial em nossa vida.

Leia mais:
::Estar em casa é também voltar para a nossa Galileia
::Como enfrentar o período de férias em casa?
::O exercício das "pequenas coisas" durante a quarentena
::Testemunho de um padre na China

Busque distrair-se!

Aproveite este tempo para selecionar seu conteúdo preferido: informação, diversão, atualização e passatempo. Tudo isso pode ser vivido, levando em consideração os pontos que destacamos.

Estando em distanciamento social, isolamento ou mesmo para aqueles que necessitam sair às ruas para trabalhar, as três situações causam preocupação e alterações significativas de humor: a incerteza de futuro, a condição financeira alterada, e diversas preocupações que poderíamos destacar aqui estão rondando cada um de nós.

É natural e saudável, inclusive, que busquemos fontes de distração, de alívio de tensões: vídeos de orientação, de música, de um universo gigantesco de informação. É um lembrete bem importante: use com consciência, moderação e com aquele bom filtro para selecionar aquilo que pode agregar valor para sua vida e para seu princípios.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.


13 de abril de 2020

Viver ressuscitado é saboroso como o chocolate

Que conceito bonito este de que a família é a Igreja doméstica! "Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concilio Vaticano II chama a família, usando uma antiga expressão, de 'Eclésia doméstica'. É no seio da família que os pais são 'para os filhos, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada'" (Catecismo da Igreja Católica, n° 1656).

O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso, o lar é chamado, com toda razão, de "Igreja doméstica", comunidade de graça e oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã (Catecismo da Igreja Católica, n° 1666).

Viver ressuscitado é saboroso como o chocolate - 1600x1200Foto: Copyright: 1905HKN, iStock by getty images

A Páscoa é uma festa de família, porque viver ressuscitado é saboroso como o chocolate

Os pais são os primeiros a transmitir a fé, os valores cristãos e universais e uma boa educação para os filhos. Pai e mãe são mestres da vida; pela palavra e pelo exemplo, eles nos ensinam coisas que vamos levar para a vida toda, que vão influenciar nossas escolhas e, principalmente, formar a nossa consciência do bem e do mal. Serão os primeiros catequistas, que, muito mais do que ensinar, vão transmitir pela prática, porque os filhos os verão fazendo.

Eu mesmo poderia dizer da minha mãe e da minha avó quando as via rezar o terço diante da imagem de Nossa Senhora: "Era uma santa ouvindo o que a outra santa dizia!". Meus pais imprimiram em mim muito mais do que traços biológicos e heranças hereditárias, qualidades e defeitos e o desejo de um futuro brilhante. Eles fizeram com que eu experimentasse o amor de Deus e a graça da fé. Quando ainda era criança, sem que eu entendesse, deram-me um banho de Água Viva, que me fez nascer de novo e me enxertou em Cristo Jesus. Dando-me assim o dom da imortalidade e a graça de pertencer a uma família muito grande: a Igreja!

Como explicar para as crianças e os jovens que o mais importante é a festa da vida?

Como explicar para as crianças e os jovens que, na Páscoa, o mais importante é a festa da vida que vence a morte? Que Cristo verdadeiramente foi morto numa cruz e que, por aceitar morrer assim, Ele nos libertou do pecado e nos salvou pela Sua Ressurreição? A Páscoa é uma festa de família, porque viver ressuscitado é saboroso como o chocolate, é cheio de vida como o ovo e é tão fecundo como um casal de coelhinhos. É preciso ter a coragem de celebrar a fé em família e ensinar o verdadeiro sentido de ser cristão.


O sentido dos símbolos pascais

Celebrar a Páscoa é renascer com Cristo ressuscitado, é passar da morte para a vida, é vencer o pecado e a morte. É também celebrar a vida com o sabor de um ovo de chocolate e mostrar ao mundo que o cristão precisa ser como o coelho: fecundo em virtudes, amor e santidade. É arrumar uma ceia e acender uma vela para convidar os amigos e parentes para se iluminarem com a luz de nossa fé. Uma fé que nasce e renasce constantemente no seio de nossas famílias. É ser criativo e pedir ao Espírito Santo que grave em nossos corações a graça e o verdadeiro sentido dos símbolos pascais:

O Círio Pascal: Representa o Cristo Ressuscitado, que deixou o túmulo, radioso e vitorioso. Na vela pascal ficam gravadas as letras Alfa e Ômega, significando que Deus é o princípio e o fim. Os algarismos do ano também ficam gravados no Círio Pascal. Nas casas cristãs, é comum o uso da vela no centro da mesa no almoço de Páscoa.

O ovo, aparentemente morto, é o símbolo da vida que surge repentinamente, destruindo as paredes externas e irrompendo com a vida. Simboliza a Ressurreição.

O Cordeiro: Na Páscoa da antiga aliança, era sacrificado um cordeiro. No Novo Testamento, a vítima pascal é Jesus Cristo, chamado Cordeiro Pascal.

O Coelho: Símbolo da rápida e múltipla fecundidade da Igreja, que está espalhada por toda a parte, reproduzindo fiéis: há um número incalculável de filhos de Deus, frutos da Graça da Ressurreição.

O Trigo e a Uva: Simbolizam o pão e o vinho da Santa Missa e, por seu grande significado com a Trindade Santa, traduzem, por excelência, o símbolo Pascal. Para a ornamentação da mesa de Páscoa, nada mais indicado que um centro feito com uvas e trigo, entre cestas de pães e jarras de vinho.

O peixe é o mais antigo dos símbolos de Cristo. Se Ele é o Grande Peixe, somos os peixinhos d'Ele. Isso quer dizer que devemos sempre viver mergulhados na graça de Cristo e na vida divina, trazidas a nós pela água do batismo, momento em que nascemos espiritualmente, como os peixinhos nascem dentro d'água.

Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!

FELIZ PÁSCOA!



Padre Luizinho

Padre Luizinho, natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 22 de dezembro de 2000, cujo lema sacerdotal é "Tudo posso naquele que me dá força". Twitter: http://@peluizinho


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/pascoa/viver-ressuscitado-e-saboroso-como-o-chocolate/

7 de abril de 2020

Buscar ajuda ou enfrentar os problemas sozinhos?

Vivemos um tempo de desconfiança e autossuficiência, em que o ser humano se isola, cada vez mais, em seu universo, principalmente no que diz respeito aos conceitos e à vida interior. O fato de estarmos imersos neste mundo da superficialidade nos impede e cega de enxergar, muitas vezes, aquilo que é óbvio.

O problema é que nossa cegueira vem sempre com justificativas de ideais e ideias, os quais assumem o lugar da verdade e, no fundo, impedem-nos de ver a Verdade. Imagine você preso em um quarto em chamas, que se encontra com todas as janelas trancadas, e a única porta de saída emperrada. Você está inalando aquela fumaça tóxica e não suportará muito tempo neste lugar, até que perca a consciência e venha a desmaiar e, com muita sorte, não morra. Neste momento, você acha que precisa de ajuda ou não? Creio que você irá concordar que uma ajuda externa, neste momento, é extremamente necessária.

Buscar ajuda ou enfrentar os problemas sozinhos?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Bom, assim somos nós quando estamos imersos em nossos pensamentos catastróficos, disfuncionais, irrealistas; quando estamos inseridos em um problema que nos tira de "órbita" e ficamos reféns de nossas emoções. Esses problemas acontecem em nossa vida com mais frequência do que imaginamos, e um olhar de quem está de fora pode ser essencial para sair deste quadro trágico. Ter humildade para buscar ajuda é algo que precisamos aprender a fazer, pois, como disse, neste tempo de autossuficiência e orgulho, pedir ajuda tem um tom de humilhação. Mas nos enganamos quando pensamos assim, pois, muitas vezes, quem está fora deste quarto cheio de fumaça enxerga e respira melhor que aquele que já não sabe se irá sobreviver.

Não é qualquer ajuda que pode socorrê-lo

No entanto, é extremamente importante saber que não é qualquer ajuda que pode nos socorrer diante desses dias difíceis. É preciso ser uma pessoa qualificada, seja ela no campo da saúde, como um psicólogo ou psiquiatra, ou na dimensão espiritual, sendo um diretor espiritual. Para cada dor existe um especialista. Avalie apenas se essa pessoa com quem você buscou ajuda está a sua frente, de algum modo, na linha de amadurecimento. Pois só quem está a nossa frente é capaz de nos auxiliar neste caminho de saída.


Faça o que lhe for proposto, mesmo que doa, pois para sair desse quarto você vai precisar se violentar e ter forças que você já pensava não ter mais. Sempre que iniciamos um tratamento, os primeiros dias são caóticos, parece que tudo piorou, pois toda a fumaça está diante dos meus olhos e não se vê a saída. Até que tudo se assenta e a porta de saída fica aberta diante dos nossos olhos, aguardando apenas que nos levantemos e atravessemos aquela que parecia intransponível.

Então, não tenha medo nem vergonha de pedir socorro, pois é necessário. Apenas tenha cuidado com suas escolhas, pois elas podem também vir disfarçada, e você pode nem perceber que está sendo conduzido para um outro quarto, fechado, escuro e cheio de fumaça. Seja criterioso e observe se aquele que o auxilia vive a verdade e a bondade de que o ser humano tanto necessita. Você, ao enxergar isso na vida dele, a esperança brotará em você e o socorro virá.



Aline Rodrigues

Aline Rodrigues é missionária da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo. É psicóloga desde 2005, com especializações na área clínica e empresarial e pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental. Possui experiência profissional tanto em atendimento clínico, quanto empresarial e docência.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/buscar-ajuda-ou-enfrentar-os-problemas-sozinhos/

5 de abril de 2020

O mundo está na quarentena, mas a Igreja está na Quaresma


Estamos às portas da Semana Maior, a chamada Semana Santa; e a Quaresma é o chamado, a grande convocação aos católicos para o tempo litúrgico mais aguardado de nosso calendário.
O célebre Bento XVI, nosso Papa emérito, em seu pontificado nos ensinou: "A Igreja Católica existe no mundo para conter o avanço do inferno sobre a Terra". E como ela faz isso? Mantendo sua essência. Como esposa, ela caminha na mesma direção que seu Esposo, Cristo, que, neste tempo, está a caminho do Calvário.
A liturgia do tempo quaresmal é uma convocação para trilharmos os mesmos passos do Mestre, portanto, esse confinamento, aí dentro de sua casa, que o impede de ir e vir, não é e não pode ser um impedimento dos passos que eu e você precisamos dar enquanto filhos da Igreja, pois o Corpo de Cristo está em movimento. É dentro de casa que nos movemos, sobrenaturalmente, no ritmo da Sagrada Liturgia.
O mundo está na quarentena, mas a Igreja está na Quaresma
Foto ilustrativa: Larissa Ferreira/cancaonova.com
No hall dos padres da Patrística, encontramos falas preciosas que nos alertam sobre a vocação e a importância da Igreja para todos os tempos. São Justino, por exemplo, padre e filósofo, nascido na Judeia do século I, ensinou: "O mundo foi criado em vista da Igreja".

A quarentena não é desculpa para deixar de viver a Quaresma

Isso é extremamente significativo, ressalta que as "tempestades" que ora visitam o mundo encontrarão sua calmaria a partir do mover da Santa Igreja. Estar confinado não é "passaporte" para nos isentarmos do tempo mais fecundo da liturgia que a Igreja propõe, por isso precisamos, com discernimento, viver o tempo da reclusão sem abdicar do tempo quaresmal.

Entenda: estocar comida, álcool em gel, cercar-se de todos os cuidados que são necessários para evitar contágio do vírus não pode ser sua única ocupação; falar/ouvir sobre COVID-19 não pode ser o nome mais comentado entre os seus. Uma casa em que pouco se fala de Jesus, de modo especial na Quaresma, é uma casa que fechou portas e janelas, cercou-se de todos os procedimentos para não proliferar o vírus, mas não abriu as portas do coração e os olhos, que são as janelas da alma, para viver e testemunhar que não está apenas em quarentena, mas que está, acima de tudo, na Quaresma.
Não feche as portas da sua casa para a Quaresma! Há uma recompensa inestimável àqueles que caminham rumo ao Calvário. Os noticiários, em sua maioria, intoxicam; a liturgia purifica. Eu não sei quando o vírus vai morrer, mas sei que, no terceiro dia, Jesus Cristo vai ressuscitar, e estará passando, em revista, nas casas dos filhos da Igreja para saber quem irá ressuscitar com Ele.
Vamos?


Evandro Nunes


Membro da Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro (SP), Evandro Nunes tem se dedicado à vida missionária desde 2010, exercendo o Ministério da Pregação em todo o Brasil e no exterior. Casado, Nunes também é autor dos livros 'Do Céu para você' e 'Se Tu queres Senhor, eu quero', ambos lançados pela Editora Canção Nova.

Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/o-mundo-esta-na-quarentena-mas-igreja-esta-na-quaresma/

31 de março de 2020

Refeição em família traz benefícios ao lar

Em vez de desperdiçar tempo no celular, aproveite a refeição para viver momentos agradáveis e fortalecer vínculos.

Mããããe….. paaaaaai….. Baaaaaa (é assim que ela chama o irmão). É dessa maneira que a Serena, nossa filha de um ano e meio, chama na expectativa de despertar alguém ainda antes das seis da manhã. Toda feliz, ela desperta com fome. A adrenalina começa logo cedo lá em casa. Tobias, o mais velho de cinco anos e meio, já está todo independente, mas precisa de direções bem objetivas para não se distrair nem perder a hora da escola.

O café da manhã, ele ajuda a preparar, mas, de repente, em um segundo que a gente se distrai, surge um tsunami: o leite com chocolate se transforma em uma onda, cai sobre a mesa toda, se espalha pelo chão, suja sua roupa, a roupa da irmã. Um caos está prestes a acontecer… Respiramos fundo. Agimos com calma [quando possível]. Tudo isso, para montar o cenário de uma refeição em família. Sem contar, a criança que resolve transformar o prato em chapéu ou o bolo em confete espalhando-o pela casa inteira.

Refeição em família traz benefícios ao lar

Foto ilustrativa: monkeybusinessimages by Getty Images

Usufrua da refeição em família

Além dessa agitação, tomar refeição em família pode ser muito especial, divertido, além de estimular uma alimentação saudável. Alguns pais, no entanto, com o objetivo de manter os filhos quietinhos e conseguirem fazer as refeições mais tranquilos, optam por oferecer celular às crianças. Os pais não estão isentos dessa tentação. Recentemente, Papa Francisco chamou à atenção para esse assunto: "devemos retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, mas se comunicar com os irmãos, entre eles…".

A comunicação familiar pode se tornar um círculo virtuoso; e o hábito cultivado em casa se tornará um importante aliado nos encontros com amigos. "Tu, em tua família, sabes te comunicar, ou és como aqueles jovens na mesa, cada um com um telefone celular, [que] estão [trocando mensagens] em chats? Naquela mesa, parece um silêncio, como se estivessem na Missa… Mas não se comunicam", alertou o Papa Francisco num dos últimos compromissos públicos de 2019.

"Maria, José e Jesus, a Família de Nazaré, representa uma resposta uníssona à vontade do Pai. Os três componentes dessa família singular se ajudam reciprocamente a descobrir e realizar o plano de Deus. Eles rezavam, trabalhavam, comunicavam-se", disse o Papa, indicando o exemplo da Sagrada Família.


Comunicação familiar

Caso sua família enfrente obstáculos para fazer juntos as refeições, comece criando hábitos aos poucos, sem se preocupar com a perfeição. Primeiro, identifique os obstáculos; depois, estipule metas realistas. Aos poucos, percebendo os benefícios, vocês podem avançar. Como temos um ritmo bem intenso, por conta de nossa opção por uma vida missionária, buscamos aproveitar bem as ocasiões em que estamos reunidos, envolvendo a família na preparação da mesa.

A sacralidade do domingo, por exemplo, é transmitida por meio da frequência à missa, de atividades em família como um passeio no parque. No domingo, chocolate é permitido, e chega como uma surpresa ao final do almoço. O trabalho realizado com empenho e alegria desperta nos filhos o apreço e o interesse por contribuir na edificação da sociedade. A comunicação familiar é em constante. Até mesmo as palavras não ditas podem ser assimiladas pelas crianças. Sugiro uma avaliação do que e do como está acontecendo a comunicação em sua casa. "A família é um tesouro precioso: é preciso sempre apoiá-la, protegê-la, em frente!", afirma o Papa Francisco.



Rodrigo Luiz dos Santos

Missionário na Canção Nova, Rodrigo é, atualmente, responsável de missão da Canção Nova em São Paulo (SP). Apresentador da TV Canção Nova, estudou Filosofia e formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/refeicao-em-familia-traz-beneficios-ao-lar/

26 de março de 2020

Faça da sua casa uma casa de oração

Não há como negar, estamos vivendo um tempo difícil, o inimigo é invisível e corremos o risco de nos desesperamos frente às provas que a humanidade está vivendo. No entanto, é importante termos uma certeza: não estamos sozinhos!

Intercessão da Virgem Maria

São João Paulo II, em sua carta encíclica Redemptoris Mater nos diz: "A Virgem Maria está, constantemente, presente na caminhada de fé do povo de Deus" (n. 35). Essa presença de Nossa Senhora, como Mãe que nos direciona para Cristo, é real e concreta. Ela viveu com fidelidade sua missão, foi fiel ao seu 'sim', ao seu fiat (faça-se) , e não desviou o olhar da vontade de Deus em sua vida, mesmo nos tempos de adversidades.

Faça da sua casa uma casa de oração

Foto ilustrativa: ThitareeSarmkasat by Getty images

O que a humanidade vive, neste tempo, precisa nos alicerçar ainda mais em nossa fé, num olhar atento para o céu: "Elevo os meus olhos para os montes: de onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra" (Salmos 121,1).

E para o alto a Mãe da Humanidade nos aponta. Sim, Nossa Senhora é feliz (bem-aventurada), porque acreditou, porque caminhou na estrada com fé, sem vacilar. Ao olhar a Virgem Santa Mãe de Deus aos pés na cruz, podemos aprender com ela a confiar.

Em Fátima, aos pequenos pastores do Aljustrel, a Virgem mais brilhante que o sol disse, em nosso idioma, na aparição de 13 de junho de 1917: "E tu, sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus" (In Memórias da Ir. Lúcia p 175).

Eis a voz que deve ecoar em nossos corações. Não estamos sozinhos, essa mão materna está segurando a nossa. Sim, ela pode nos tocar, pois nada pode deter seu amor de Mãe, essa presença amorosa que tem acompanhado o mundo em tempos difíceis de guerras, de pestes, de frieza, indiferença… Essa presença amorosa nos ensina que Cristo é a luz nos tempos de escuridão, e que não há estrada que o Filho de Deus não possa iluminar.


Oração do terço em família

Vamos, então, fazer da nossa casa uma casa de oração? Crie um ambiente oracional, acenda uma vela, coloque uma imagem de Nossa Senhora. Ambiente pronto? Pegue o terço nas mãos e reúna os que estão com você (só os da sua casa, obedecendo os direcionamentos para este tempo). Rezem o terço, contemplem os mistérios, deixem este lar ser visitado pelo Amor, pelo consolo e pela esperança.

Você, talvez, não saiba contemplar os mistérios (nós os apresentaremos aqui), mas não deixe de fazer da sua casa uma casa de oração. Ah! Motive seus amigos, vizinhos e quem está longe de você neste tempo; use as redes sociais, os meios que estão a sua disposição, e firme, em seu coração, esta certeza: "O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus", pois a minha casa é uma casa de oração.

Cristiane Henrique, missionária  da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/faca-da-sua-casa-uma-casa-de-oracao/