24 de julho de 2019

Você sabia que homem sente medo?

Essa afirmação ainda assusta muitas pessoas. Para alguns, dizer que homem tem medo é o mesmo que duvidar de sua masculinidade. Para outros, é dizer que esses homens são fracos, incapazes. No entanto, afirmar que homem também tem medo, pode ser libertador. E mais que isso, pode ajudar a muitos homens que dizem não ter medo de nada, a descobrirem seu verdadeiro papel no mundo: a missão dada a cada um pelo próprio Deus.

Para tanto, basta olharmos para São José, o pai adotivo de Jesus. Se lermos atentamente o Evangelho segundo São Mateus, na passagem sobre o Nascimento de Jesus, veremos que, naquele momento, esse grande santo sentiu medo em virtude de tudo o que estava acontecendo na sua vida. Diz o texto que Maria estava prometida a José, mas antes que coabitassem, ela engravidou por obra do Espírito Santo.

José, por ser homem bom, resolveu rejeitá-la secretamente para não lhe causar mal (Cf. Mt 1,18-19). Ele já tinha se decidido a isso, até que, em sonho, um anjo do Senhor lhe apareceu e disse: "José, filho de Davi, não tenhas medo de acolher Maria como tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo" (Mt 1,20).

Você sabia que homem sente medo?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

José, exemplo de homem de Deus que também sentiu medo

O pai adotivo de Jesus teve medo. Se isso não fosse verdade, o anjo não o teria tranquilizado e dito a frase: "Não tenhas medo". Isso não diminui o heroísmo e as virtudes de tão grande santo. Pelo contrário, mostra que ele não somente teve medo, mas também o enfrentou, confiando na Palavra do Senhor. Com esse impulso divino, assumiu a missão que lhe fora confiada.

O que aconteceu foi algo que precisamos analisar à luz do Antigo Testamento. São José sentiu-se perplexo e sem orientação diante de tão grande mistério, pois sabia que não seria capaz de compreender. Essa reação de fuga diante da presença misteriosa de Deus e, ao mesmo tempo, de medo frente ao chamado divino, nós a vemos repetidas vezes na história de vários profetas e personagens do Antigo Testamento.

Esse ato de José pode, então, significar seu chamamento, sua vocação que, após o assombro frente à tão grande mistério e consequente negativa diante de tamanha responsabilidade, assume a missão que lhe é confiada de proteger a vida do Menino Jesus, Aquele que salva, Deus conosco. Sendo assim, o texto nos apresenta uma dinâmica que deseja chamar a nossa atenção, entre outras coisas, para o chamado e missão do pai adotivo de Jesus.

É preciso transcender o medo

Tudo isso para nos dizer que é normal ter medo. Especialmente, nós, homens, podemos ter medo diante das situações complexas nas quais vivemos, ter medo frente às coisas novas que se nos apresentam, medo do chamado de Deus, medo de assumirmos nosso papel no meio em que vivemos.

Pelo exemplo de São José, não podemos parar no medo. É preciso transcender esse sentimento e captar nesses momentos a doce voz de Deus, que nos chama para a missão e nos conduz pelos Seus caminhos. Para que assim também levemos aos outros, e a nós mesmos, a salvação e a presença de Jesus, o Deus conosco, como o fez o nosso glorioso São José por meio do seu exemplo e, agora, pela sua intercessão.

Na hora da tribulação, o anjo não vos valeu? Valei-nos, São José!



Denis Duarte

Denis Duarte é graduado em letras, especialista em Bíblia e mestre em Ciências da Religião. Professor e vice-diretor da Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-masculina/voce-sabia-que-homem-sente-medo/

18 de julho de 2019

Os dez atos para o casamento feliz

Para que a família viva bem, é preciso que o casal esteja vivendo bem. Para que uma família seja feliz, é importante que o casal experimente a felicidade. Nesses anos de trabalho como terapeutas familiares, temos atendido casais e, diante dos atendimentos, identificamos alguns atos para um casamento feliz. Muitos autores trataram sobre essa temática, no entanto, para nós, esses atos, comportamentos ou mesmo princípios que abordaremos neste capítulo, serão alguns dos quais identificamos a partir da nossa prática clínica e que julgamos serem de suma importância.

Essas atitudes ou atos dizem respeito a comportamentos que trazem a alegria para dentro da casa, e aqueles casais que os praticam têm menor chance de escolher o divórcio como saída.

Não se vive junto para ser cada vez menos feliz, mas para aprender a ser feliz de maneira nova, a partir das possibilidades que abrem uma nova etapa. (Francisco, 2016, p. 193)

Os dez atos para o casamento feliz

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

O que, na verdade, é ser feliz? O que é ter um casamento feliz?

Será que um casamento feliz é aquele isento de conflitos? Primeiro, é importante entender que não existe casamento sem conflito, pois os relacionamentos geram tensões e, certamente, teremos conflitos no casamento e na família. Mas os conflitos não significam, de forma nenhuma, que somos infelizes ou que o nosso casamento é infeliz. Segundo Ferraz, Tavares e Zilberman (2007),

a felicidade é uma emoção básica, caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de prazer, associados à percepção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo.

Os mesmos autores ressaltam ainda que "a felicidade é uma condição que difere da ausência de infelicidade", ou seja, ser feliz não significa a alegria constante, sem nenhum momento de infelicidade. Esses autores demonstram, com a ajuda de pesquisas, que fatores externos, como riqueza, poder e fama, ou mesmo o fato de nos vestirmos conforme a moda, consumirmos determinados produtos, apresentarmos determinada aparência física e tantos outros elementos são ineficazes na busca da felicidade. O artigo aponta teorias que apresentam o otimismo, a resiliência e, principalmente, a religiosidade como fatores preponderantes para a felicidade. De acordo com o trabalho, as pesquisas atestam que pessoas que se descrevem como religiosas tendem a reportar maiores índices de felicidade e satisfação com a vida.

Isso ocorre, porque a espiritualidade ajuda as pessoas a encontrarem um sentido e um propósito; além disso, ao participar da religião conjuntamente com os demais, os religiosos tendem a se sentir menos sozinhos e, talvez por isso, são mais felizes (Ferraz, Tavares e Zilberman, 2007).

O que é a felicidade?

Para nós, a felicidade, realmente, está no agradecimento e reconhecimento de pequenas situações vividas. A felicidade se encontra nas pequenas manifestações da vida. Se quisermos encontrar a felicidade em grandes acontecimentos, talvez nunca nos reconheçamos felizes. Se olharmos para o nosso casamento com um julgamento minucioso, procurando a tristeza, com certeza a encontraremos, mas se entendermos que a felicidade é simples e que o sofrimento é constitutivo da vida, poderemos perceber a felicidade no nosso cotidiano, mesmo que tenhamos sofrimentos.

Muitas vezes, nós idealizamos um final feliz, mas nos esquecemos de investir na felicidade de cada dia; essa felicidade diária se relaciona a pequenas atitudes, comportamentos simples que nos farão interpretar a vida mais positivamente e, portanto, nos tornarão mais felizes.

Então, para que possamos construir um casamento cada vez mais feliz, nós apontamos alguns atos que poderão nortear a nossa vivência, partindo-se do pressuposto de que a felicidade não se encerra nela mesma, mas no dia a dia, em alguns detalhes. É preciso olhar para o que é bom, para descobrir a felicidade. Somos muitos insatisfeitos. Existe em nós uma dificuldade de reconhecer as boas coisas e de ter um coração grato. Quando não fazemos este exercício de ver o bom e reconhecê-lo, podemos experimentar uma expressão popular que muitos dizem no final da vida: "Eu era feliz e não sabia".

Notadamente, um casamento feliz depende das atitudes tanto do esposo quanto da esposa, uma vez que se trata de um relacionamento e, por esse motivo, claramente, os dois são responsáveis pelo bom andamento do matrimônio. Assim, é indispensável o investimento de ambos os cônjuges, e é preciso que se dediquem para que tudo caminhe para o bem da família. Por isso, entendemos que o investimento deve ser de todos.


A seguir, os dez atos para um casamento feliz:

1. Ter Deus como centro;
2. Buscar a cura pessoal;
3. Estar disposto a não desistir;
4. Perdoar;
5. Ser amigo;
6. Namorar;
7. Dialogar;
8. Priorizar o outro;
9. Ser verdadeiro;
10. Ser tolerante com as diferenças e dificuldades do outro.

Para entender melhor esses mandamentos, adquira o livro "Diagnóstico familiar".

Trecho extraído do livro "Diagnóstico familiar".



Diácono João Carlos e Maria Luiza

João Carlos Medeiros é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova. Psicólogo clínico e familiar, Medeiros também é logoterapeuta, sexólogo e mestre em sexologia humana. Casado com Maria Luiza da Silva Medeiros que também é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova, é psicóloga clínica e familiar. Ela é pós-graduada em psicoterapias cognitivas e em neuropsicologia.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/os-dez-atos-para-o-casamento-feliz/

15 de julho de 2019

Quando a tribulação vem, como você age?

"É formosa a misericórdia do tempo de tribulação, como nuvem de chuva no tempo de seca" (Eclo 5,26).

Essa palavra é de inquietar o coração de qualquer ser humano, além de despertar um questionamento: como posso enxergar belo o amor do tempo de tribulação?

Muitas vezes, quando estamos passando por alguma tribulação, somos tentados a parar unicamente na dor que ela nos causa. Não enxergamos mais nada, apenas nos lamentarmos por viver aquela tribulação. Aí entra a murmuração e, se deixar, escrevemos até um livro com tanta lamentação.

Por causa disso, perdemos a grande oportunidade de experimentar e perceber o quanto é formosa a misericórdia nos tempos de tribulações de nossa vida… Acostumamos-nos a parar somente no negativo e não sabemos transformar as situações, exatamente por não enxergar a beleza das pequenas coisas, apreciar as situações com outros olhos.

Quando a tribulação vem, como você age?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A misericórdia age no tempo da tribulação

A mão de Deus, muitas vezes, em meio às tribulações de nossa vida, age devagar, silenciosamente, de um jeito simples, até para nos poupar de coisas piores. Mas como não foi do jeito que planejamos, ou saiu dos nossos projetos, somos tentados a só enxergar o negativo da situação. Não é assim que, muitas vezes, acontece conosco?

Sempre que passarmos por tribulações e pararmos nelas, se ficarmos a olhar somente o sofrimento que nos causa, não perceberemos o que essa Palavra nos traz, nem conseguiremos experienciá-la em nossa vida. Perceber o quanto é formosa a misericórdia no tempo de tribulação, consiste em fitar nossos olhos nos pequenos gestos, pequenos fatos, acontecimentos que, muitas vezes, passam despercebidos. Isto é, ver a "nuvem de chuva" que ainda não é chuva, mas é a certeza de que a chuva virá e, por isso, em meio à tribulação, já refaz nossa esperança e confiança em Deus.

Pergunto a você: hoje, diante das tribulações da sua vida, você consegue perceber a "nuvem de chuva"?


Lembre-se de Jesus ao carregar a cruz: Ele olhou para "nuvem de chuva" (ressurreição), mesmo passando pela grande tribulação do calvário. Então, meu irmão(ã): ALEGRIA! Seja fortalecida a sua esperança! Seja fortalecida sua confiança! Todas as vezes que conseguirmos enxergar a nuvem de chuva, conseguiremos ver a formosura da misericórdia no tempo de tribulação, então, nossa esperança será fortalecida para continuarmos nossa jornada nessa vida.

Diante dessa Palavra, convido você a fazer a essa maravilhosa experiência de passar pelas tribulações da vida, mas fitar seus olhos nas "nuvens de chuva" e, assim, provar da grande alegria de ver o quanto é formosa a misericórdia do tempo de tribulação.

Deus abençoe você!

Cícera Gonçalves


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/quando-tribulacao-vem-como-voce-age/

11 de julho de 2019

Saiba os sintomas da Dependência Tecnológica

Nas mais diferentes culturas, aceitamos plenamente que a realidade em nosso tempo é o uso cada vez mais frequente das tecnologias como forma de comunicação, informação, formação e entretenimento. Embora seja um grande desafio gerenciar a quantidade do tempo que passamos diariamente frente a essas máquinas, muito do nosso trabalho está ligado à equipamentos e softwares que facilitam nossa vida, mas diminuem o contato e o relacionamento humano.

Saiba os sintomas da Dependência Tecnológica

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Há alguns indicadores para saber o quanto uma criança tem um comportamento de dependência à tecnologia

Quando falamos em crianças em plena fase de desenvolvimento, podemos pensar no seguinte: quanto tempo elas ficam on-line, jogando? Qual a frequência de tempo frente ao computador? Já parou para analisar essas questões de família? O tempo é apenas uma forma de "medir" se estamos ou não dependentes, mas há outros fatores a serem considerados.

Há alguns indicadores para saber o quanto uma criança (e até mesmo um jovem) está com dificuldade de trocar o computador [por outra atividade] ou até mesmo tem um comportamento de dependência [do equipamento]:

– Quando o jogo – ou o uso de mídias sociais – torna-se a atividade mais importante da vida da criança, dominando seus pensamentos e comportamentos;

– Modificação de humor/euforia: experiência subjetiva de prazer, euforia ou mesmo alívio da ansiedade quando está no ato de jogar;

– Necessidade de usar o computador por períodos cada vez maiores para atingir a mesma modificação de humor, ou seja, para sentir-se bem;

– Fase de Abstinência: estados emocionais e físicos desconfortáveis quando ocorre descontinuação ou redução súbita do uso do computador (intencional ou forçada);

– Vivência de conflitos: pode ser entre aquele que usa o computador excessivamente e as pessoas próximas (conflito interpessoal), conflito com outras atividades (trabalho, escola, vida social, prática de esportes etc.) ou mesmo do indivíduo com ele mesmo, relacionado ao fato de estar jogando excessivamente (conflito intrapsíquico).

Cuidado com a individualidade gerada no uso da tecnologia

Não podemos negar as maravilhas oferecidas pela tecnologia, a facilidade de acesso, a disponibilidade de informações e a realidade que se encontra com este tipo de acesso e relacionamento, porém, cada vez mais frequente se torna a realidade das famílias dividas pela individualidade gerada no uso de tecnologia. Enquanto um fala ao telefone no quarto fechado, o outro está ligado no computador horas sem falar com ninguém, e a outra prende-se à TV, sem parar.


Quantas vezes as crianças, além do uso em casa, deixam de comprar um lanche para jogar nas lan houses? São capazes de passar dias inteiros, fins de semana longe do relacionamento interpessoal. O uso do computador e seus jogos, que era reservado apenas como lazer, torna-se praticamente a atividade principal delas. O sono é prejudicado, a alimentação também, pois as crianças comem em frente ao computador sem ao menos saber quanto e o quê, gerando obesidade. O isolamento continua, e a irritação, por não usar o computador ou imaginar que vão ficar sem ele, torna-se imensa, com um grande desconforto emocional.

Como família, é muito importante que possamos voltar nossa atenção para esse assunto, a fim de que possamos desenvolver crianças e jovens com uma vida mais saudável, favorecendo as relações humanas mais sadias.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.


9 de julho de 2019

A espiritualidade dos casais em segunda união

A Igreja não quer discriminar nem punir os casais em segunda união, mas lhes oferecer um caminho espiritual-pastoral adaptado à sua situação, o qual é apontado claramente pela Familiaris Consortio. Esse caminho pode ser chamado e é, de fato, um caminho espiritual-pastoral, muito rico de frutos de vida cristã, mesmo que o "status permanente" de segunda união seja uma situação irregular.

É direito de todo cristão manter um relacionamento com Deus, inclusive os casais em segunda união

A Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 1981, de João Paulo II, no n. 84, exorta os casais divorciados a participar de um caminho de vida cristã que deve consistir em:

"Ouvir a Palavra de Deus, frequentar o sacrifício da Missa, perseverar na oração, incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, educar os filhos na fé cristã, cultivar o espírito e as obras de penitência, que se resume em "perseverarem na oração, na penitência e na caridade".

A Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, 2007, de Bento XVI, no n.29, reafirma o convite de cultivar, quanto possível, um estilo cristão de vida por meio da participação da Santa Missa, ainda que sem receber a comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração Eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos.

A espiritualidade dos casais em segunda união

Foto ilustrativa: by PeopleImagens

A comunhão com a Palavra de Deus

Escutar é mais que ouvir, é atender o que se diz. É ir assimilando e tornando pessoal o que foi dito. É algo ativo, não passivo. É uma abertura a Deus que a eles dirige a Sua Palavra. Por intermédio de Isaías ou de Paulo, fala-lhes aqui e agora. Algumas vezes, essa Palavra os consola e os anima. Outras, julga suas atitudes e desautoriza seu estilo de vida, convidando-os para a conversão. Sempre os ilumina, os estimula e os alimenta.

A Palavra que Deus lhes dirige é, sobretudo, uma Pessoa: o Seu Verbo, a Sua Palavra, Jesus Cristo. Ele não se dá somente no Pão e no Vinho, mas está, realmente, presente na Palavra que nos é proclamada e que escutamos. Também a nós o Pai continua a dizer: "Este é o meu Filho muito amado: escutai-O".

A leitura da Sagrada Escritura, acompanhada pela oração, estabelece um colóquio de familiaridade entre Deus e o homem, pois a Ele falamos quando rezamos, a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos (DV 25). Este colóquio torna-se mais intenso pela Lectio Divina, ou seja, pela leitura meditada da Bíblia, que se prolonga na oração contemplativa. A Lectio é divina, porque se lê a Deus na Sua Palavra e com o Seu Espírito, pode ajudar os casais em segunda união na consecução de uma grande familiaridade não só com a Palavra, mas com o mesmo Deus.

A visita e a adoração ao Santíssimo Sacramento

Jesus, sendo vivo e presente no Sacrário, pode ser visitado e adorado. Ele espera, ouve, conforta, anima, sustenta e cura. Por conseguinte, a visita e a adoração ao Santíssimo é um verdadeiro e íntimo encontro entre o visitante e o Visitado, que é Jesus. A visita e a adoração são uma escolha pessoal do visitante, e, acima de tudo, um ato de amor para com o Visitado. A simples visita ao Santíssimo transforma-se em adoração, que é o ponto mais alto desse encontro.

Os casais em segunda união são chamados e convidados para serem os adoradores do Santíssimo pela prática tradicional da hora santa, que muito os ajudará na espiritualidade, seja do grupo como também do próprio casal. A prática frequente da hora santa não é um opcional, por isso não se pode deixá-la facilmente de lado, pois ela é necessária para a perseverança.

A visita a Maria Santíssima: um conforto para o seu povo

Se o próprio Jesus, moribundo na cruz, deu Maria como Mãe ao discípulo: "Mulher, eis aí teu filho"; e a você discípulo como Mãe: "Eis aí, tua mãe!" (João 19, 26-27), é bom e recomendável que o casal em segunda união não tenha medo em fazer esta visita de carinho para receber conforto, força e consolação de sua Mãe. Essa visita pode ser feita numa capela dedicada a Virgem Maria ou em casa junto com a família ou na intimidade do seu quarto. Pensando nisso, é bom e confortável que o casal em segunda união não se esqueça de visitar, quantas vezes puder, Maria Santíssima.

Visitar Maria, a Mãe de Jesus, é ir ao seu encontro sem reservas, é entregar-se de coração a um coração que não tem limites para amar. Nossa Senhora, em Medjugorie, disse aos videntes e a nós seus filhos: "Se soubésseis quanto vos amo, choraríeis de alegria". Maria nos ama muito, como filhos queridos. O que ela mais deseja é ver seus filhos deixarem-se amar por ela. O seu desejo é o de seu Filho: salvar a todos. A Santíssima Virgem nos espera, todos os dias, e ela sabe que quanto mais perto estivermos dela, mais perto ficaremos de Jesus, pois a sua meta é a de nos levar a Ele.

Perseverança na Oração

O casal em segunda união é convidado a perseverar na oração, e essa oração pode ser pessoal, pode ser como casal, com a família e os filhos ou oração comunitária com os outros casais ou com outros fiéis.


Participação da Santa Missa: um encontro de amor

O casal de segunda união, como todo bom cristão, considerando este amor infinito de Jesus, deve participar da Santa Missa com amor fervoroso, de modo a particular do momento da consagração, pois é nesse momento que Jesus é vivo e presente.

Bento XVI, em recente discurso ao clero de Aosta, valoriza a participação dos casais recasados na Santa Missa mesmo sem a comunhão eucarística. A esse respeito, o Papa fez este lindo e confortável comentário:

"Uma Eucaristia sem a comunhão eucarística não é, certamente, completa, pois lhe falta algo essencial. Todavia, é também verdade que participar na Eucaristia sem a comunhão eucarística não é igual a nada, é sempre um estar envolvido no mistério da cruz e da ressurreição de Cristo. É sempre uma participação no grande sacramento, na dimensão espiritual, pneumática e também eclesial, se não estreitamente sacramental.

E dado que é o sacramento da Paixão do Senhor, é Cristo sofredor que abraça, de modo particular, essas pessoas e comunica-se com elas de outra forma; portanto, elas podem sentir-se abraçadas pelo Senhor crucificado, que cai por terra e sofre por elas e com elas.

Por conseguinte, é necessário fazer compreender que mesmo que, infelizmente, falte uma dimensão fundamental, todavia tais pessoas não devem ser excluídas do grande mistério da Eucaristia, do amor de Cristo aqui presente. Isso parece-me importante, como é importante que o pároco e a comunidade paroquial levem tais pessoas a sentir que, se por um lado, devemos respeitar a indissolubilidade do sacramento e, por outro, amamos as pessoas que sofrem também por nós. E devemos também sofrer juntamente com elas, porque dão um testemunho importante, a fim de que saibam que, no momento em que se cede por amor, se comete injustiça ao próprio sacramento, e a indissolubilidade parece cada vez mais menos verdadeira".


Pe. Alir Sanagiotto


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/segunda-uniao/a-espiritualidade-dos-casais-em-segunda-uniao/

2 de julho de 2019

Como rezar bem o rosário?

Você reza o terço? Já viu imagens de Nossa Senhora representando-a tal como apareceu em Lourdes e em Fátima? Maria está com o terço na mão. Ela acompanhou, silenciosamente, passando as contas, o terço que a menina Bernadete rezava na gruta de Lourdes. Em Fátima, também com o terço na mão, a Santíssima Virgem pediu aos Três Pastorinhos que o rezassem todos os dias. Tomara que, algum dia, você possa dizer, como o Papa João Paulo II: "O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade!".

Mas, para isso, será preciso que você comece a rezá-lo e, se já o reza com frequência, que aprenda a fazê-lo cada dia melhor. Vamos ver como podemos fazer isso. Primeiro, vencendo as dificuldades:

Uma primeira dificuldade ao rezar o rosário

"Não sei rezar o terço", "Não conheço os vinte mistérios (ou seja, os cinco correspondentes a cada um dos quatro terços que compõem o rosário), não os sei de cor". Solução: comprar logo ou pedir a alguma pessoa amiga algum folheto ou livrinho de orações (há muitos!) que traga a explicação dessa oração: como rezá-lo, quais são os mistérios, que mistérios devem ser rezados nos diferentes dias da semana. É fácil! Pessoas simples aprenderam tudo isso em pouco tempo.

Um esclarecimento: a pessoa que reza o terço sem conhecer ou sem lembrar os "mistérios" faz, mesmo assim, uma oração válida, ainda que, naturalmente, ela fique incompleta (mas é melhor rezá-lo incompleto do que não o rezar).

Como rezar bem o rosário?

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Segunda dificuldade

"Não tenho terço" (o instrumento, o terço material, com as contas, a cruzinha etc.; ou então o terço em forma de anel, que se usa girando no dedo). Compre-o, pois é baratíssimo! E enquanto não o tiver, conte nos dedos, mas tenha em conta que vale a pena usar o terço material. Se o seu terço (de contas ou de anel) foi bento por um padre ou diácono, ao usá-lo para rezar você ganhará indulgências (por sinal, você sabia que pode ganhar nada menos que a indulgência plenária – com as devidas condições –, quando o reza em família, comunitariamente, num grupo?).

 Terceira dificuldade

"Não tenho tempo de rezar o terço". Essa desculpa "não gruda". O terço pode ser rezado, se for preciso, andando pela rua, fazendo exercício físico de corrida, indo de ônibus, metrô ou trem, guiando carro (melhor do que se irritar com o trânsito), na sala de espera do médico ou do laboratório, em casa entre outros lugares. E você pode rezá-lo sentado, andando, de joelhos e até deitado (se estiver doente ou em repouso forçado etc.).


Por sinal, não sei se você sabe que, nas livrarias católicas, são vendidos CDs com o rosário e também há arquivos em áudio para player portátil. Basta ligar o áudio e acompanhar o que ouve.

Quarta dificuldade

Finalmente, a dificuldade mais comum é a aparente monotonia. "Dizemos sempre a mesma coisa". "A repetição de tantas Ave-Marias acaba ficando mecânica, cansativa, sem sentido". "De que adianta fazer uma oração tão repetitiva, que fica rotineira, parece oração de papagaio?".

Deus, faça com que, após as ter lido, sobretudo depois de tentar aplicá-las, você dê razão às palavras de São Josemaria: «Há monotonia, porque falta amor».

Padre Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canônico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/como-rezar-bem-o-rosario/

29 de junho de 2019

Igreja e meio ambiente, olhos voltados para a Amazônia

Papa Francisco, exercendo sua missão de sucessor do apóstolo Pedro, no zelo apostólico com o povo da Amazônia e para qualificar sempre mais a presença missionária e servidora da Igreja Católica, convocou um Sínodo Especial para a Amazônia, a ser realizado de 6 a 27 de outubro deste ano, em Roma. 

Sabe-se que a Igreja Católica, incontestavelmente, tem uma qualificada presença capilar em diferentes culturas de todo o mundo e sua presença na região pan-amazônica é de especial importância, com todos os muitos desafios e exigências. Lidar com essas exigências e desafios requer o exercício da escuta para servir mais e melhor no anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. O Sínodo é, pois, um longo caminho de escuta. Oportunidade para a Igreja Católica qualificar ainda mais a sua missão na Amazônia, oferecendo a todos singular chance de se dedicar mais atenção a essa realidade ambiental, histórica, cultural, política e religiosa de notável relevância. Por isso mesmo, a realização do Sínodo interpela as pessoas a ouvirem a Amazônia, repleta de vida e sabedoria.

Igreja e meio ambiente, olhos voltados para a Amazônia

Foto ilustrativa: by Getty Images: AndamanSE

Cuidar do meio ambiente é cuidar da Casa Comum que Deus nos deu, e olhar para a Amazônia é essencial para este falar deste tema

Essa realidade clama e exige novas posturas para enfrentar o doloroso processo de desflorestamento e extrativismo, urgindo uma conversão ecológica integral. A consideração do território amazônico deve se transformar em grande oportunidade de mudanças sociais e civilizatórias com ganhos para essa região e todo o conjunto da sociedade. Essa é a valiosa contribuição promovida pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), alargando e clareando horizontes para um tempo de muitas conversões. De modo especial, é urgente a conversão ecológica para assimilação de novos rumos e, em razão das ricas singularidades, ouvir a voz da Amazônia.

É preciso considerar a grave crise socioambiental em curso, atingindo de modo fatal a Amazônia. Ora, a Amazônia é fonte de vida. Por isso, o Sínodo considera o conjunto da vida na região amazônica – o território, a Igreja, os povos e o planeta. Avançar na consideração da Amazônia a partir dos parâmetros da ecologia integral é determinante. O horizonte é o Evangelho de Jesus Cristo e a Igreja Católica com sua presença evangelizadora é essencial. Seu foco mais importante é, pois, o discipulado no seguimento de Jesus Cristo, desdobrado em compromisso com a vida plena, oferta de Jesus que todos têm a responsabilidade de buscar, contemplando os povos indígenas –  respeitados os seus parâmetros de bem viver. Cultivar a harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres humanos e com Deus é a conquista exemplar a ser buscada.

Descuidar da natureza também é descuidar da vida

Há de se encontrar caminhos para superar os processos que ameaçam a vida, pela destruição e exploração que depreda a Casa Comum e viola direitos humanos elementares da população amazônica. Essa ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos de setores dominantes da sociedade com conivências de governos. É preciso, assim, enfrentar a exploração irracional e construir um novo tempo, tempo de Deus, humanizado, na Amazônia.


Importa agora estar em comunhão com esse caminho. Isso significa buscar uma participação mais ativa e estar aberto a um novo modo de viver, conforme a dinâmica do Evangelho de Jesus Cristo. Um momento para aprender e exercitar-se numa nova compreensão. Deixar-se educar à luz da Palavra de Deus, que revela a aliança fecunda entre a humanidade e o ambiente, para uma cultura do encantamento, do cuidado responsável e da beleza, inspirados no Criador que "viu que tudo era bom" (Gn 1, 31). Eis a oportunidade para grande virada civilizatória, a partir de nova compreensão desdobrada em comprometimentos com os valores do Evangelho de Jesus Cristo pela força missionária da Igreja na Amazônia.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/igreja-e-meio-ambiente-olhos-voltados-para-amazonia/