5 de junho de 2018

Luz da Fé: Sagrada Escritura, alimento e força para os filhos de Deus

Se a Palavra de Deus é alimento e força para nossa vida, o que acontece quando não fazemos uso dela?

Neste programa 'Luz da Fé', quero refletir com você sobre o número 104 do Catecismo da Igreja Católica, o qual nos ensina o seguinte:

104. Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra, incessantemente, seu alimento e sua força, pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de Deus. "Com efeito, nos Livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala."

Foto ilustrativa: Luciano Camargo / cancaonova.com

Ao ensinar que a Igreja encontra, na Sagrada Escritura, seu alimento e força, "pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de Deus", o Catecismo da Igreja nos recorda aquilo que está escrito em I Tessalonicenses 2,13: "Agradecemos a Deus sem cessar, porque, ao receberdes a palavra de Deus que ouvistes de nós, vós a recebestes não como palavra humana, mas como o que ela de fato é: palavra de Deus, que age em vós que acreditais". 

Esse acréscimo que I Tessalonicenses 2,13 traz sobre a Palavra de Deus é muito importante, pois age em vós que acreditais. Pois afirma que a Palavra de Deus é atuante, ou seja, a Palavra Divina age naquele que crê. E a Igreja nos ensina – através do Catecismo – que essa Palavra Divina, que age naquele que crê, é alimento e também força para cada um de nós.

No seu livro "A Bíblia no meu dia a dia", monsenhor Jonas Abib, ao falar sobre a Canção Nova, essa Obra de Deus que em 2018 celebra seus 40 anos de fundação, afirma o seguinte: "Nós nascemos da Palavra, da receita que se chamou 'A Bíblia foi escrita para você'. O que somos e fazemos, hoje, continua sendo resultado da Palavra de Deus trabalhada com afinco por meio dessa ferramenta que Deus pôs em nossas mãos".

Monsenhor Jonas nos ensina que a Palavra de Deus é ferramenta que nos orienta. O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez, ensina-nos que a Palavra é alimento e força para nós.

O que você tem feito com a sua Bíblia?

Então, diante de tudo isso, permita que eu seja bem direto com você e lhe pergunte: O que você tem feito com a sua Bíblia? Em que local ela se encontra hoje? Ela está guardada dentro da gaveta? Escondida naquele "criado-mudo"? Sua Bíblia está juntando poeira em cima daquela estante? Veja: está na hora de você fazer uso da sua Bíblia, pois a Palavra de Deus é ferramenta, alimento e força para a nossa vida.


Ora, se a Palavra de Deus é alimento e força para a nossa vida, o que acontece quando não fazemos uso dela? Resposta: vamos ficando desnutridos e fracos na fé. Porém, não é a isso que somos chamados. Pelo contrário! Somos chamados a estarmos fortes e bem nutridos em Deus. Portanto, volto a lhe perguntar: O que você tem feito com a Palavra de Deus na sua vida? Questione-se!

Ao longo dessa semana, eu convido você a tomar nas mãos sua Bíblia (talvez empoeirada pela falta de uso) e começar a ler a Sagrada Escritura novamente. Mais ainda: faça o estudo bíblico diariamente, e você verá como tudo irá mudar na sua vida.

Um forte abraço!

Assista ao programa:


Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal 'Formação' do Portal Canção Nova.

30 de maio de 2018

Como Deus pode nos ajudar na construção da vida espiritual?

Deus investe na nossa santidade, através dos Sacramentos

Nestes próximos artigos da série Caminho Espiritual e as Moradas veremos como Deus, além de não nos deixar sozinhos na construção da vida espiritual, investe enormemente na nossa santidade fornecendo os meios necessários para a santificação.

Lembremo-nos que nas primeiras moradas que já refletimos, a Igreja ensina: "só quando os germes estranhos forem tirados do campo do nosso coração, as sementes da virtude podem ser convenientemente alimentadas em nós". Essa verdade, aqui registrada nas palavras do Papa São Leão Magno (Sermão XXXIX), nos lembra de que as primeiras moradas são o território em que nos defrontamos com nossas próprias falhas, vícios e paixões. Elas, via de regra, impedem nosso avanço espiritual e constroem aquela imensa fatia de cristãos que, embora fiéis à Igreja e professando uma fé verdadeira, não são tão exemplos de conduta e santidade.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Ressaltamos que, Aquele que nos chama à santidade, não nos abandona no caminho, nem nos deixa sucumbir sobre um pesado fardo (Sl 54,23). Ele também não age com prepotência esperando que tenhamos corrigido plenamente nossa humanidade para depois nos presentear com dons e virtudes espirituais (Rom 5,6). Assim, estar em "estado de graça", após uma confissão válida, significa que Deus derrama sobre o batizado a Graça Santificante, ou seja, um organismo sobrenatural que nos torna capazes de ouvi-Lo e acatar a Sua vontade para nós. Claro que, como vimos nos artigos anteriores, nossas tendências desregradas e paixões cultivadas por muitos anos, acabam criando uma barreira à ação plena de Deus em nós. Somente com o avanço nas moradas e a retirada dos "germes estranhos" é que as "sementes da virtude" infundidas por Deus em nós, através da Graça Santificante, podem germinar e desenvolver-se com força.

Os Sacramentos que nos impulsionam

Um meio altamente eficaz de aumentar a Graça Santificante e, consequentemente, a recepção de virtudes e dons, é por meio dos Sacramentos. Para a vida espiritual, dois deles colaboram durante todo o percurso rumo à santidade e, também, fornecem um grande impulso para atravessar as primeiras moradas.

O Sacramento da Eucaristia é o mais sublime de todos os sacramentos. É o próprio Cristo em presença real. Chama-se presença real porque além da alma e divindade de Jesus, entramos em contato com o Seu Corpo e Sangue materiais. Temos plenamente Jesus em Sua divindade e humanidade. Isso não quer dizer que a presença de Cristo na comunidade, na oração particular ou na Palavra seja menos verdadeira, somente não tem essa conotação também material e, dessa forma, atua poderosamente no nosso corpo e materialidade.

Para o caminho de perfeição precisamos nos convencer cada vez mais desta certeza: ao comungar, temos um contato direto com Deus e, Ele mesmo, vem habitar em nós. Essa presença real aumenta enormemente a graça santificante e, quanto mais estivermos preparados, abertos e ansiosos por recebê-Lo, mais essa presença real será aumentada. É por essa disposição interior mais perfeita que duas pessoas recebem o mesmo Cristo e uma delas colhe frutos melhores e mais profundos. Assim, quanto melhor é a participação na Santa Missa, quanto melhor está preparado o coração de quem comunga, maior e melhor será a aquisição de graças.

Infelizmente é necessário lembrar aqui que, quem comunga em estado de pecado mortal, não só não recebe nenhuma dessas graças, como se condena acrescentando um novo e mais grave pecado: participar indignamente do Corpo e Sangue de Cristo (1Cor 11,29). Usando uma metáfora, aquele que comunga sem se confessar, atua como Judas Iscariotes e, sob a aparência de um gesto de amor, esconde uma traição.

A importância da Eucaristia

A Eucaristia repercute em nós como a oração; quanto mais, melhor. Mas, exatamente como a oração, a Eucaristia não pode ser um gesto mecânico, sob o risco de perder a eficácia. Assim, ir à Missa diariamente e comungar frequentemente por puro "hábito", sem atenção e reverência ao que se está fazendo, é um caminho certo para lugar nenhum. Pior, podemos desenvolver uma impermeabilidade à e uma insensibilidade aos nossos próprios pecados. Comungar, portanto, precisa ser sempre um ato consciente de fé e amor. Sendo assim, se for diário e bem feito, é melhor.

Outro ponto importante para o crescimento da vida espiritual com a Eucaristia é nos lembrarmos de sempre realizarmos uma completa e eficiente ação de graças após a comunhão. Durante o tempo em que as espécies ainda não se dissolveram no nosso organismo, temos em nós o Cristo, em uma união tão íntima como jamais poderíamos tê-Lo se Ele estivesse andando entre nós, como fez com o discípulos d'Ele. É o momento de amá-Lo e treinar esse contato com Ele. Sim, isso mesmo, treinar. Precisamos ter cada vez mais consciência desse contato e mantê-lo ativo em nós. É um treinamento porque, mais tarde, quando tivermos em adoração ou simples oração, precisamos nos lembrar de que estamos estabelecendo um verdadeiro contato com o Senhor e nesse novo contato, precisamos amá-Lo da mesma forma que O amamos na ação de graças após a comunhão.


Como relatado no artigo anterior, precisamos crescer e evoluir nos nove graus de oração até a santidade perfeita e, este artigo é uma espécie de caminho, equivalente o das Moradas, mas com outra divisão. É o contato com o Senhor na Eucaristia e o treino em amá-Lo durante essa presença real em nós, que nos prepara para o terceiro grau de oração: a oração afetiva. Nesse tipo de oração, mais do que falar com Deus (primeiro grau ou oração vocal), mais do que pensar em Deus (segundo grau de oração, oração mental ou meditação), precisamos amar a Deus cada vez mais e nos afeiçoar a Ele (oração afetiva). Esse grau de oração só é alcançado plenamente, nas segundas moradas. Mas é necessário uma prévia aqui, para que possa ficar claro a importância do Sacramento da Eucaristia nesse treinamento para um grau mais elevado de oração.

O padre Antonio Royo Marín, OP, lembra que, nunca expulsamos uma visita que recebemos na nossa casa. Esperamos que ela vá embora sozinha. E, se a amamos, se ela é importante para nós, se for uma alta autoridade, pedimos para que fique o máximo de tempo possível em nossa companhia. Do mesmo modo, ao receber Jesus na comunhão, não devemos sair correndo, começar a conversar ou nos distrair com qualquer coisa. A hora é de acolhê-Lo e amá-Lo o máximo de tempo que nos for permitido.

Os sacramentos que fortalecem a alma contra o pecado

O outro Sacramento que serve de impulso nas primeiras moradas é o sacramento da Reconciliação, da Penitência ou da Confissão. Já tratamos dele como condição fundamental para habitar o Castelo Interior da própria alma e avançar nas moradas rumo à santificação pessoal. No entanto, além de nos restituir a graça santificante com o perdão dos pecados mortais, ele tem uma outra ação eficaz na santificação: fortalecer a alma contra o pecado.

É fato que, mesmo com grande esforço para levar a vida espiritual com seriedade e desejo sincero de não errar, acabamos caindo e cometendo um pecado mortal. O Sacramento da Reconciliação, nesse caso, não só restabelece em nós a Graça Santificante, como também infunde uma fortaleza especial contra aquele pecado em particular. Assim, se ao cair, existir um arrependimento imediato e sincero; e, o mais breve possível, realizamos uma confissão válida, com verdadeiro desejo de conversão, também recebemos uma virtude infusa para nos tornarmos mais fortes diante daquele tipo de pecado.

Isso também é verdadeiro para os pecados veniais. Assim, embora não seja necessário confessar os pecados veniais, se mesmo assim os confessarmos com o sacerdote, o Sacramento da Reconciliação nos ajuda a nos livrarmos mais rapidamente do risco de voltar a cair nesses mesmos pecados. Os que se confessam regularmente, experimentam esta eficácia: as quedas (no mesmo tipo de pecado) tornam-se cada vez mais espaçadas, até que tornam-se raras e desaparecem.

Nas primeiras moradas vimos que devemos combater os dois vícios principais: a ira e a concupiscência. A utilização frequente do Sacramento da Reconciliação, focando principalmente em todos os pecados dessas áreas, mesmo os veniais, ajuda a rapidamente vencê-los e a desenvolver solidamente a virtude da paciência e a virtude da temperança.

Na via ascética, embora pareça que todo o esforço para sermos santos parte de nós, fica evidente que Deus atua com todos os meios possíveis para nos santificar e nos renovar segundo a imagem daquele que Ele enviou (Cl 3,9). Aqui vimos, detalhadamente, os dois sacramentos: a Eucaristia e a Reconciliação. Nos próximos artigos desta série "Caminho Espiritual e as Moradas", veremos como as três virtudes teologais devem ser vividas e aumentadas nas primeiras moradas. Logo depois, veremos como os dons do Espírito Santo se apresentam e se desenvolvem em nós, um após o outro, seguindo uma ordem bem clara e sucessiva, para nos levar até as segundas moradas.



Flávio Crepaldi

Flavio Crepaldi é casado e pai de 3 filhas. Especialista em Gestão Estratégica de Negócios, graduado em Produção Publicitária e com formação em Artes Cênicas. É colaborador na TV Canção Nova desde 2006 e atualmente cursa uma nova graduação em Teologia com ênfase em Doutrina Católica.

28 de maio de 2018

Um compromisso para toda a vida

Conseguiremos levar a cabo a fidelidade de um compromisso por toda nossa vida quando nos empenharmos em ser melhores

A ideia do compromisso eterno pode nos provocar calafrios. Como poderíamos medir o infindável se nossa percepção de tempo está compreendida dentro de um calendário, montado e definido por homens, com 365 dias e formatados em 24 horas?

Foto ilustrativa: Paula Dizaró / cancaonova.com

Ficamos surpresos em conhecer casais que, numa idade em que a vitalidade de suas vidas esteja apoiada por muletas, ainda celebram suas bodas. Acreditar que nossos relacionamentos durarão por toda uma vida pode até nos trazer um sentimento de impossibilidade ao seu cumprimento, quando deparamos com a vulnerabilidade de nossa natureza humana. Conscientes de nossa fragilidade, entendemos que jamais poderíamos por nós mesmos atingir este objetivo, ainda que fosse por um período pré-determinado por homens e regido por um contrato.

Muitas pessoas se casam na expectativa de nunca viverem crises conjugais ou acreditam que jamais terão problemas com filhos ou amigos. Atritos, nem sempre leves, acontecerão na vida em família e em todas as outras esferas de nossos relacionamentos. E o desejo de rescindir o compromisso assumido não passará longe de nossas considerações quando emergirem as tensas dificuldades.

Dar um novo sabor à relação

Defrontamos com algumas situações de convivência que exigem de nós empenho e coragem para continuarmos a viver o propósito assumido, especialmente quando parecem estar sem sabor ou impossíveis de serem sustentadas. Nessas ocasiões, poderíamos apenas tolerar o outro para manter uma aparência favorável, mas estaríamos longe de um vínculo verdadeiro, digno daqueles que realmente se esforçam para ser melhores.

Uma cozinheira, como se não estivesse contente com aquilo que comumente faz, não hesita em acrescentar um condimento especial, seguindo sua intuição em querer fazer melhor uma determinada receita. Em nossas vidas, de maneira semelhante, devemos estar sempre prontos a realizar algo diferente do que a maioria normalmente tenderia a fazer. Acreditar que poderá surgir um novo sabor na relação vivida, mesmo depois de atritos, seria o "condimento especial" da eterna reconciliação à qual deveríamos acrescentar na receita da boa convivência.


Alguns poetas, lançando mão da liberdade da escrita e na tentativa de escapar do compromisso exigido por um relacionamento dinâmico e vivo, enquadram o sentido do eterno à fragilidade dos sentimentos fugazes, como justificaria Vinicius de Moraes: "Que seja eterno enquanto dure…"

Entretanto, diante da convidativa proposta de nossa fragilidade, precisamos lembrar que somente poderia nos propor a condição de um compromisso eterno Aquele que por natureza o é; e que tem o domínio de todas as coisas, inclusive de nossa limitada e débil natureza. Portanto, conseguiremos levar a cabo a fidelidade de um compromisso por toda nossa vida, quando nos empenharmos em querer ser melhores e depositarmos a confiança em Deus que nos capacitará para assimilarmos e ultrapassarmos os golpes contrários que surgirão com relação a esse propósito.

Deus abençoe.



Dado Moura

Dado Moura trabalha atualmente na  Editora Canção Nova, autor de 4 livros, todos direcionados a boa vivência em nossos relacionamentos. Outros temas do autor estão disponíveis em www.meurelacionamento.net twitter: @dadomoura facebook: www.facebook.com/reflexoes

25 de maio de 2018

Confie, sempre existe uma Palavra para cada momento

'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'. (Mt 4,4)

Essa é a resposta de Jesus à primeira das três tentações que ele sofreu no deserto, depois de ter jejuado "quarenta dias e quarenta noites". E é a mais elementar das tentações, a fome. Justamente por isso, o tentador aproveita a ocasião para propor a Jesus que se utilize de seus próprios poderes para transformar as pedras em pão. Que mal existiria no fato de satisfazer uma necessidade própria da condição humana? Jesus, porém, percebe a armadilha que está por trás daquela proposta: a sugestão de instrumentalizar Deus, pretendendo que Ele se coloque somente a serviço das nossas necessidades materiais. No fundo, o tentador quer levar Jesus a uma atitude de autonomia e não de abandono filial ao Pai. Eis, portanto, a resposta de Jesus, que é também uma resposta a todos os nossos porquês diante da fome no mundo, e também à reivindicação cada vez mais dramática de milhões de seres humanos que necessitam de alimento, de casa, de roupas. Ele, que alimentará as multidões com o milagre da multiplicação dos pães, e que fundamentará o juízo final também no ato de dar de comer aos que têm fome, nos diz que Deus é maior que a nossa fome e que a sua Palavra é o nosso principal e essencial alimento.

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Foto ilustrativa: 4maksym by Getty Images

"Está escrito: 'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'."

Jesus apresenta a Palavra de Deus como pão, como alimento. Este pensamento, esta comparação de Jesus nos ajuda a entender como deve ser o nosso relacionamento com a Palavra. Mas, afinal, como podemos nos alimentar da Palavra? Se, antes de ser o que é, o grão é semente, depois se torna espiga e finalmente pão, assim a Palavra é como uma semente plantada em nós que deve germinar; é como um pedaço de pão que é comido, assimilado, transformado em vida da nossa vida.

A Palavra de Deus, o Verbo pronunciado pelo Pai e que se encarnou em Jesus, é uma presença de Deus entre nós. Cada vez que acolhemos e procuramos colocar a Palavra em prática é como se nós nos alimentássemos de Jesus. Se o pão nos alimenta e nos faz crescer, a Palavra nos nutre e faz crescer o Cristo em nós, nossa verdadeira personalidade. Uma vez que Jesus veio à Terra e se fez nosso alimento, não pode ser mais suficiente um alimento natural como o pão. Precisamos do alimento sobrenatural que é a Palavra para crescer como filhos de Deus.

"Está escrito: 'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'."

A natureza deste alimento – a Palavra – é tal que se pode dizer dele o que se diz de Jesus na Eucaristia que, quando dele nos alimentamos, ele não se transforma em nós, mas somos nós que nos transformamos nele, porque somos, de certo modo, assimilados por ele. Portanto, o Evangelho não é um livro de consolação onde nos refugiamos unicamente nos momentos dolorosos, mas sim o código que contém as leis da vida, leis que não devem ser apenas lidas, mas assimiladas, "comidas" com a alma e, assim, elas nos fazem semelhantes a Cristo em cada momento da vida. Podemos nos tornar outros Jesus atuando plenamente e ao pé da letra a sua doutrina. As suas Palavras são Palavras de um Deus, cheias de uma força revolucionária, inimaginável.

Logo, devemos nos alimentar da Palavra de Deus. E, assim como hoje o alimento necessário para o corpo pode ser concentrado numa única pílula, também nós podemos nos alimentar de Cristo vivendo a cada momento uma única Palavra do Evangelho, porque em cada uma de suas Palavras Jesus está presente. Existe uma Palavra para cada momento, para cada situação da nossa vida. E é a leitura do Evangelho que poderá nos revelar cada uma delas. Então, por amor a Deus, vivamos agora o amor ao próximo que é um concentrado de todas as Palavras.

Fonte: www.focolares.org.br


23 de maio de 2018

Qual é a natureza da virtude da religião para nós cristãos?

Essa virtude nos aproxima do encontro pessoal com Deus

A natureza da virtude da religião é sobrenatural: é uma virtude moral, que nos inclina à vontade de prestar a Deus o culto que lhe é devido, por causa da sua excelência infinita e do seu supremo domínio sobre nós.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida

É uma virtude anexa à virtude da justiça, por nos fazer prestar a Deus o culto que lhe é devido. É justo, tanto quanto possível à nossa natureza, prestar o culto mais perfeito a Deus.

É uma virtude distinta das três teologais, cujo objeto direto é Deus, ao passo que o objeto próprio da religião é o culto de Deus, tanto interno como externo. No entanto, ela precisa da virtude da fé, que nos ajuda iluminando acerca dos direitos de Deus. Quando é informada pela caridade, a virtude da religião acaba por ser uma manifestação das três virtudes teologais. Seu objeto formal ou motivo é reconhecer a excelência infinita de Deus, nosso primeiro princípio e último fim, o Ser perfeito, o Criador de que tudo depende e para o qual tudo deve gravitar.

Como praticar a virtude da religião?

Pelos ​atos internos, submetemos a Deus a nossa alma, em todas as nossas potências, sobretudo a inteligência e a vontade.

Um desses atos internos é a ​adoração​, que prostra inteiramente todo nosso ser diante daquele que dá o ser a todas as coisas. Na adoração, cultivamos a admiração respeitosa diante de Suas infinitas perfeições. Outro ato interno é a nossa ​gratidão​ Àquele que é a fonte de todos os bens que possuímos. Outro ato interno é a penitência​ que repara a ofensa cometida. Por fim a ​oração​, onde buscamos Seu auxílio para fazer o bem.

Veja que é preciso vigiar, para que o nosso relacionamento com Deus não seja somente uma pedição sem fim, por curas, milagres, graças e libertações. A virtude da religião, para crescer em nós e nos ajudar a crescer em uma intimidade com Deus, precisa ser, antes, uma vivência de amor a Deus, e não de pedições, onde a maioria de nós se afasta de Deus tão logo alcançada a graça pedida.

Os ​atos externos se manifestam a partir dos internos, onde podemos atingir expressões mais perfeitas.

Incontestavelmente, o maior de todos os atos externos é o santo sacrifício da Missa. Ato externo e social, pelo qual o sacerdote oferece a Deus, em nome da Igreja, uma vítima imolada, para reconhecer o seu supremo domínio, reparar a ofensa feita a sua Majestade e entrar em comunhão com Ele. Juntamente à Missa, as preces públicas em nome da Igreja por seus representantes.
Outros atos externos são o Ofício Divino;, as bênçãos do Santíssimo Sacramento, as orações em particular, os juramentos e votos feitos com discrição em honra a Deus, dentro das condições dos tratados de teologia moral.

De tudo isso, pode-se concluir que a virtude da religião é a mais excelente das virtudes morais.


Necessidades da virtude da religião

Estamos numa completa e inteira dependência de Deus. Uma vez que Ele criou todas as coisas do nada, para elas permanecerem existindo, é necessário que Ele as mantenha existindo. Sem Ele, nossa existência termina imediatamente. Ele nos conserva e ajuda com Sua graça. Por causa disso, devemos dar-lhe glória todo o tempo! É dever do homem, e tão somente dele, capacitado de intelecto e de razão, louvar o Criador em nome de toda a criação. É dever do sacerdote, justamente por sua posição e missão entre os homens, dar a Deus aquilo que nós, envolvidos e perdidos no meio secular, fazemos de modo imperfeito: glória e adoração a Deus.

Meios para a prática da virtude da religião

O primeiro passo para a vivência da virtude da religião, para alcançar um avanço espiritual, é pedir a fé a Deus insistentemente, de manhã, de tarde e de noite. "Senhor, aumenta a minha fé!" É graça dada tão logo é pedida. Outro passo é permanecer em estado de graça. Para isso, é preciso evitar ao máximo os pecados graves. E se caso venha a cometê-los, buscar a confissão sacramental imediatamente.

É preciso cultivar a devoção. É a disposição habitual da vontade que faz com que nos entreguemos pronta e generosamente a tudo quanto é do serviço de Deus. Em última análise, uma manifestação do amor de Deus. É assim que a religião se liga à caridade. Para exercitar bem a virtude da religião, é fundamental observar as leis de Deus e da Igreja. Evitar as distrações e perdas de tempo nos divertimentos mundanos, dos devaneios inúteis (TV, internet). Eles causam em nós a distração na oração e a falta de atenção em Deus. Devemos buscar o recolhimento antes e durante a oração.

Cultivar um sentimento profundo, misto de respeito e temor, onde reconhecemos Deus como nosso Criador e Mantenedor, supremo Senhor, do qual em tudo dependemos d'Ele. Amar em tudo ao Pai amabilíssimo e amantíssimo, que nos adotou por filhos e não cessa de nos envolver em Sua ternura paternal. Daí, brotam a admiração, ação de graças, o louvor. Procurar glorificar o Pai com a nossa vida, mesmo em meio aos sofrimentos e em tudo contentar a Deus. Procurar atrai-Lo e dar-nos a Ele, para que, em nós, conosco e por nós a virtude da religião seja praticada.

Deve-se viver em espírito de sacrifício, crucificando prontamente as tendências da natureza corrompida e obediência prontamente às inspirações da graça. Para isso, importante nos é pedir a Deus a graça de saber mortificar as nossas más inclinações: jejuns, abstinências, sofrimento com confiante alegria, caridade para os necessitados, esmola e perdão. Então, todas as nossas ações agradarão a Deus e serão outras tantas hóstias, outros tantos atos de religião, louvando e glorificando a Deus, nosso Criador e nosso Pai. Por esse meio, proclamamos praticamente o tudo de Deus e o nada da criatura, já que imolamos até as últimas parcelas todo o nosso ser, todas as nossas ações à glória do nosso supremo Senhor.

21 de maio de 2018

Síndrome espiritual da macrocefalia e microcardia

Você sabe o que é a síndrome espiritual da macrocefalia e microcardia?

Macrocefalia e microcardia espiritual, a doença do século XXI. As pessoas têm crescido em conhecimento, porém pouco em sabedoria. Possui uma mente grande para armazenar conhecimento e informações. Porém, um coração pequeno e insensível às necessidades dos outros. Descreve o Evangelista São Lucas que "Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens" (Lc 2,52).  Sendo Jesus o modelo por excelência para todos os homens, podemos nele nos inspirar e seguir.

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Foto ilustrativa: kaelhser by Getty Images

São Lucas é categórico, afirma que Jesus crescia em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus. A sequência das palavras são significativas. O crescimento em sabedoria antecede os demais, vem por primeiro. Isso para expressar que o homem deve ser cheio de sabedoria antes de qualquer coisa. Crescer em estatura, mas não em sabedoria, isto consiste em um desajuste, em uma deformação.

Jesus é o modelo do crescimento completo e integral de todos os homens. Na sequência das palavras, o ultimo crescimento é em graça diante de Deus. Ou seja, quem cresce em sabedoria e em estatura, cresce de forma harmônica, consequentemente será cheio da graça de Deus.

Em nenhum outro tempo o mundo teve acesso a tantas informações e conteúdos diversos. Assuntos de religião, política ou economia. Livros impressos ou digitais. São inúmeras as facilidades para obter conhecimento. Desta forma, o ser humano tem se tornado conhecedor de quase tudo. Através da técnica tem buscado explorar a natureza e tornar a vida humana menos pesada. Por outro lado, também é verdade que as pessoas têm perdido a sensibilidade com o próximo e pensado somente em si. Isso significa que elas têm crescido em conhecimento mediante as informações recebidas, mas não têm crescido em sabedoria, fruto do Espírito Santo. A sabedoria está ligada às necessidades do coração. O amor ao próximo, a  solidariedade, o perdão… Todos esses são atributos do coração.


É por isso que nossa sociedade tem adoecido e se deformado pela síndrome da macrocefalia e da microcardia, isto é, cabeça grande e coração pequeno. Meus irmãos é preciso sim, crescermos em conhecimento. Porém, não podemos esquecer que é preciso também, crescer em sabedoria e Graça diante de Deus. Não seja uma pessoa deformada. Se crescer a cabeça, não esqueça de aumentar da mesma forma o coração.



Elenildo Pereira

Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários.

18 de maio de 2018

Coloque o pecado para escanteio

Nossa vida de fé também precisa passar por todo o processo de condicionamento espiritual

Em um jogo de futebol, o escanteio é utilizado para reiniciar uma partida. Durante um jogo de futebol, muitos são os momentos em que é preciso reiniciar a partida. E, em nossa vida espiritual? Quando é preciso reiniciar a caminhada? Quando é preciso recomeçar? Quando precisamos romper com o pecado?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida / cancaonova.com

No jogo da vida, buscamos a vitória sobre o pecado. Corremos, suamos, driblamos o adversário e queremos, junto com nossos irmãos, ser os campeões no time da santidade. Mas, nem sempre conseguimos alcançar o troféu da vida sobre a morte. Muitas vezes, encontramo-nos despreparados. Falta-nos um treinamento mais intensivo para que possamos entrar em campo e vencer as forças do mal. Todo jogador passa por esse processo: antes de entrar em campo para uma partida de futebol, ele passa por um rigoroso treinamento: estuda as táticas do adversário, ensaia jogadas e busca um condicionamento físico que lhe seja favorável em campo. Sem esse treinamento rigoroso, a vitória é praticamente impossível de ser alcançada.

Algumas regras para vencer

Nossa vida de fé também precisa passar por todo o processo de condicionamento espiritual para colocarmos o pecado de escanteio e reiniciarmos uma nova jogada a favor da santidade. Para que o nosso desempenho no campo da vida seja favorável, algumas regras para vencer são fundamentais:

1) Vida de oração: drible a preguiça com sua força de vontade e disciplina, invista em momentos diários de oração. Faça deles sua vitória contra o desânimo. Seja o artilheiro do campeonato da vida e marque muitos gols contra o pecado!

2) Cultive a paciência: se você errou a jogada ou algo lhe roubou a paz, se marcou um gol a favor do pecado, não desanime! Vença o jogo pela luta da santidade com fé! Seja persistente ao buscar a vitória e ganhe de virada. Olhe sempre para o objetivo principal de sua vida em campo. Sua meta é ser santo, mas tenha a plena certeza de que para sê-lo é, antes, preciso aprender a ser humano. Por isso mesmo, faça um gol de placa contra a falta de paciência com si mesmo.

3) Tenha amigos que busquem os mesmos objetivos que você. A união faz a força, e os amigos verdadeiros nos levam para os caminhos de Deus. No campo da vida, somente será vitorioso o time que aprender a partilhar os lances e jogar em união. Junte-se aos seus amigos e faça uma barreira contra o pecado. Sozinhos, nada conseguimos; mas quando partilhamos as dificuldades, nenhuma jogada do pecado consegue ultrapassar nossas barreiras.

4) Aproveite bem o seu tempo: evite fazer faltas, pois muitas delas podem ocasionar um pênalti. Assim, você fica mais propenso a levar um gol sem necessidade! Jogue com sabedoria e confiança, mas sem ser agressivo. Faça do tempo seu amigo para alcançar a vitória. Quem vence um jogo somente com faltas, arrisca sua vida; e suas jogadas contra o pecado não têm força, ao contrário, alimentam-no ainda mais.

5) Coloque o pecado de escanteio: reinicie uma nova partida no campo da fé sempre que precisar. No jogo da santidade contra o pecado, sempre temos a oportunidade de recomeçar. Não há necessidade de amarelar diante do adversário. Seja o artilheiro do amor, o goleiro da esperança e o técnico da sabedoria na vitória contra o pecado!




Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor do livro "Amor Sem Fronteiras" pela Editora Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: facebook.com/peflaviosobreiro