2 de maio de 2018

Luz da Fé: Deus quer o meu bem

Deus se revela, porque Ele quer o nosso bem

Neste programa 'Luz da Fé', quero refletir com você sobre o número 50 do Catecismo da Igreja Católica, o qual ensina o seguinte:

Deus vem ao encontro do homem

50. Mediante a razão natural, o homem pode conhecer Deus, com certeza, a partir de Suas obras. Existe, no entanto, outra ordem de conhecimento que o homem, de modo nenhum, pode atingir por suas próprias forças: a da Revelação Divina (22). Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e doa-se ao homem. Ele o faz revelando Seu mistério, Seu projeto benevolente, que concebeu, desde toda a eternidade, em Cristo e em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto ao enviar Seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo.

Créditos: Wesley Almeida / cancaonova.com

Esse número 50 afirma algo maravilhoso: Deus se revela ao homem. Anteriormente, refletimos sobre as vias de conhecimento de Deus, que são a criação e a pessoa humana. Agora, o Catecismo nos ensina que "existe outra ordem de conhecimento que o homem, de modo nenhum, pode atingir por suas próprias forças, a da Revelação divina". 

Essa Revelação Divina é uma iniciativa livre por parte de Deus. Em João 3,16-17 está escrito: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele". Deus tomou a iniciativa para nossa salvação! E Ele faz isso unicamente por amor.

O Catecismo ensina que "Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem". E como Ele faz isso? O Catecismo explica que Deus toma essa iniciativa revelando seu mistério, seu projeto benevolente. Essa palavra benevolente é muito importante. Essa palavra, em sua origem no latim, significa querer o bem do outro. Não se trata somente de fazer o bem, mas querer o bem do próximo. Portanto, a gente começa a compreender que Deus se revela, porque Ele quer o nosso bem.

Meu irmão, Deus quer o seu bem! A você, que hoje está sofrendo num leito de dor, enfrentando essa enfermidade, passando por um desgastante tratamento, eu afirmo: Deus quer o seu bem. A você que está endividado, eu afirmo: Deus quer o seu bem. A você que está sofrendo no seu casamento por causa de uma terrível traição, saiba: Deus quer o seu bem. A você que sofre a dor da perda de um ente querido, eu também afirmo: Ele quer o seu bem.

O Senhor tem um projeto para sua vida, e esse projeto é benevolente, pois tem como meta, como objetivo final, nossa felicidade, ou seja, nosso bem.


As três árvores

Conta-se que havia, no alto da montanha, três pequenas árvores que sonhavam o que seriam depois de grandes.

A primeira, olhando as estrelas disse:

– Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros. Para tal, até me disponho a ser cortada.

A segunda olhou para o riacho e suspirou:

– Eu quero ser um grande navio para transportar reis e rainhas.

A terceira árvore olhou o vale e disse:

– Quero ficar aqui, no alto da montanha, e crescer tanto, que as pessoas, ao olharem para mim, levantem seus olhos e pensem em Deus.

Muitos anos se passaram e, certo dia, veio um lenhador e cortou as três árvores. Todas ansiosas em serem transformadas naquilo que sonhavam. Mas lenhadores não costumam ouvir nem entender sonhos.

A primeira árvore acabou sendo transformada num coxo de animais, coberto de feno.

A segunda, virou um simples e pequeno barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias.

A terceira, mesmo sonhando em ficar no alto da montanha, acabou cortada em grossas vigas e colocadas num depósito.

Todas as três se perguntavam desiludidas e tristes: "Para que isso?".

Numa certa noite, cheia de luz e estrelas, onde havia mil melodias no ar, uma jovem mulher colocou seu filho recém-nascido naquele coxo de animais. De repente, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro que existe: o Filho de Deus, que se encarnou para nos salvar.

A segunda árvore, anos mais tarde, acabou transportando um homem que acabou dormindo no barco, mas, quando a tempestade quase afundou o pequeno barco, o homem se levantou e disse: "Paz!". Num relance, a segunda árvore entendeu que estava carregando o Rei dos Céus e da Terra.

Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem todo ferido foi pregado nela. Logo, sentiu-se horrível e cruel. Mas, no Domingo, o mundo vibrou de alegria. E a terceira árvore entendeu que nela havia sido pregado o Salvador da humanidade, e que as pessoas sempre se lembrariam de Deus e de Seu filho Jesus Cristo ao olharem para ela.

Assim como essas três árvores da historinha, nós também trazemos sonhos. E é certo que Deus tem sonhos infinitamente maiores e melhores para nossa vida. É necessário percebermos que esses sonhos divinos fazem parte desse projeto benevolente que o Senhor tem para cada um de nós, afinal, Deus quer o nosso bem.

Um forte abraço!

Alexandre Oliveira
Missionário da Comunidade Canção Nova

(22) Cf. Conc. Vaticano I: DS 3015

30 de abril de 2018

Entenda qual é o verdadeiro papel da mulher na sociedade

A identidade e a força do papel e do ser mulher

A revolução sexual trouxe um novo olhar sobre a mulher, mas está querendo tirar dela o seu verdadeiro papel, a sua verdadeira identidade.

Eu faço parte das mulheres do século XXI e tenho convivido com os inúmeros conflitos e questionamentos, que dizem respeito à mulher atualmente. Sinceramente, penso que nunca, em toda a história, nós tivemos tantas crises de identidade como hoje. Desde a revolução sexual, nos anos 60, a identidade e o lugar da mulher na sociedade são interrogados.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Qual o valor da mulher? Ela nasceu apenas para ser mãe e dona de casa? Ela tem os mesmos direitos que o homem? A mulher é proprietária do seu corpo e, por isso, tem direito de fazer dele o que desejar?

Por outro lado, também são inquestionáveis as inúmeras conquistas femininas ao longo dos últimos séculos: o direito de votar, de participar ativamente na sociedade e no trabalho. É impossível não se lembrar da médica Zilda Arns, que trabalhou incansavelmente contra a mortalidade infantil, e fundou a Pastoral da Criança e do Idoso. Com certeza, você também deve lembrar-se de outras grandes mulheres que fizeram a diferença na história do mundo. Hoje, elas já têm um vasto espaço conquistado e consolidado.

Mas por que os conflitos continuam?

Em 1968, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos da América, as mulheres queimaram seus sutiãs. Para elas, isso representou a "queima" da opressão feminina. Hoje, muitas continuam afirmando que o topless é uma maneira de serem livres e usarem do seu corpo como desejarem. Mas, eu lhe pergunto: para você, isso é liberdade?

Entre a liberdade e a libertinagem existe um abismo. Sim, a revolução sexual trouxe um novo olhar sobre a mulher, mas trouxe, também, dilemas que tocam a própria dignidade humana. Usar a liberdade é o maior desafio existencial. Direito de ser mulher? Sim, é nosso direito assumir nosso ser feminino. Contudo, só quem sabe seus direitos é capaz de usá-los com a devida liberdade sem partir para a libertinagem. Quando somos libertinos, não há limites, tudo é válido e, por isso, não há mais o conceito de certo ou errado; qualquer coisa é relativa ou "normal".



Relembro outra grande mulher dos nossos tempos, Madre Teresa de Calcutá, ela ganhou o prêmio Nobel da Paz, teve reconhecidos seu valor e seu papel como mulher na sociedade, mas nunca precisou queimar o sutiã para mostrar sua dignidade.

Explico-lhe, agora, o significado da palavra "dignidade" e a coloco no feminino. Segundo o dicionário, digna é aquela merecedora de elogios; honesta; honrada. Sinônimos para "digna" são: casta; correta; íntegra; imaculada. Quando nós deixamos de exercer a liberdade e passamos à libertinagem, ouso dizer que começamos a ser o antônimo de digna, ou seja, passamos a ser indignas; vis; inadequadas; inconvenientes; obscenas; indecentes; escandalosas; imorais; menosprezíveis; vergonhosas; baixas; pornôs; (o dicionário relata 75 antônimos para digno). É o resultado do mau uso da dignidade, virtude a que somos chamadas a viver como mulheres.

A força da mulher

Lutamos tanto para sermos iguais aos homens, que esquecemos nossa feminilidade. Na Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, João Paulo II escreve: "A mulher é forte pela consciência dessa missão, forte pelo fato de que Deus 'lhe confia o homem', sempre e em todos os casos, até nas condições de discriminação social em que ela se possa encontrar. Esta consciência e esta vocação fundamental falam à mulher da dignidade que ela recebe de Deus mesmo, e isto, a torna 'forte' e consolida a sua vocação. Deste modo, a 'mulher perfeita' (cf. Prov 31, 10) torna-se um amparo insubstituível, e uma fonte de força espiritual para os outros que percebem as grandes energias do seu espírito. A estas 'mulheres perfeitas' muito devem às suas famílias e, por vezes, inteiras nações".

A mulher tem o papel de gerar vida. Naturalmente, ela tem em si o dom da maternidade. Gerar vida e não morte; gerar alegria e não tristeza; gerar coragem e não medo; gerar união e não discórdia; gerar paz e não guerra; gerar amor e não o ódio.

Magda Ishikawa
Missionária da Comunidade Canção Nova

27 de abril de 2018

Adoração na confiança

Os efeitos da adoração

O clima de adoração é muitas vezes prejudicado por tormentos interiores que não nos deixam livres para ficar graciosamente na presença de Deus, por amor. Entre esses sentimentos de profundo medo, os de culpabilidade são os mais perigosos. Eles são inimigos da oração de fé.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Mas o sentimento de nossos erros nem sempre está ligado a uma culpa real. Não somos sempre culpados perante Deus, mesmo que sentimentos duvidosos nos habitem. A experiência (espiritual) da própria culpa nos conduz a pedir o perdão e a Misericórdia de Deus sobre nós. (E por que não fazer isso dentro do sacramento da penitência?) O sofrimento interior ligado a um sentimento de culpa nos convida a esperar a cura de um medo profundo, que é quase sempre a causa desse sentimento.

A cura dos medos que nos infundem a culpa, pode vir pela oração de intercessão ou de súplica a Deus. Mas, essa cura pode também ser "e sem dúvida é" recebida na adoração. Essa terá o grande mérito, independentemente do processo de intercessão, de nos fazer voltar a atenção para o Cristo que adoramos, em vez de nos concentrarmos nos medos que nos enclausuram em nós mesmos. É, na verdade, uma adoração baseada na decisão (espiritual) de confiar. Não pedimos uma cura ao Senhor: de certo modo nós a tomamos, nos apropriamos dela, pois Ele já nos quer dar a cura. Isto é confiança espiritual: nos apropriarmos daquilo que sabemos que Deus já está nos concedendo.

Momento de oração

Coloque-se diante de Jesus, se possível de joelhos, mas com a cabeça erguida, o olhar mergulhado em Seu olhar. Pronuncie então com fé e confiança:

Deus de bondade, apesar dos meus medos, não trairei mais o Seu amor;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, não negligenciarei mais a Sua presença;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, permanecerei fiel ao meu chamado;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, não me envergonharei mais do Seu nome;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, darei testemunho de Sua verdade;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, procurarei Sua sabedoria, mesmo que ela me pareça sem sentido ou difícil de cumprir;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, permanecerei atento à voz do Espírito Santo;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, rezarei por aqueles que o Senhor me confia;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, distribuirei Sua paz aos corações;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, não fecharei mais meu coração ao sofrimento dos meus irmãos;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, escolherei perdoar aquele que me feriu;
Deus de ternura, apesar dos meus medos, me anularei diante de um insulto e do desprezo.

25 de abril de 2018

O que a Igreja diz sobre purgatório?

Foi no Concílio de Florença e de Trento que se desenvolveu a fé no purgatório

Se temos uma certeza a respeito da vida é a de que a morte um dia virá, ela é certa; cedo ou tarde nós nos depararemos com ela. O que nos consola como cristãos é a nossa fé na ressurreição.

Jesus ressuscitou e com Ele todo aquele que n'Ele crer, ressuscitará. Talvez, você já tenha se perguntado: "O que vai ser daquele meu parente ou amigo que faleceu? Ele era gente boa, porém, tinha uns pecados. Ele vai para o céu? E se eu morrer, mas não estiver "tão em Deus", o que vai ser de mim?".

O ideal é que morramos em Deus, sem pecados, e que tenhamos vivido a reconciliação com todos o amor e a gratidão. Enfim, se morrermos em Jesus Cristo, na pureza e sem pecado, com certeza o Céu será o nosso destino final, pois lá é a morada dos santos. Devemos, dia após dia, viver o anúncio de Jesus Salvador para alcançarmos a "pátria eterna" que, por Misericórdia, Ele concede aos Seus filhos.

Lugar da purificação

Parece impossível, não é? Mas muitos santos conseguiram e eram pessoas como nós.

De qualquer forma, se morrermos não tão santos ou com alguns pecados, a Igreja nos ensina sobre o Purgatório, o lugar da purificação final dos eleitos, daqueles que morreram em Deus, mas ainda precisam de purificação para chegar à glória dos Céu.

Foi no Concílio de Florença e de Trento que se desenvolveu a fé no purgatório. Na Bíblia, há algumas passagens que falam desse fogo que purifica (I Cor 3,15; I Pd 1,7). O segundo livro do Macabeus 12,46 fala de Judas, que ofereceu sacrifícios em expiação dos pecados de falecidos.

Quando se menciona Purgatório, não diz respeito aos condenados ao Céu ou ao inferno, não se trata ainda de um lugar, mas de um estado onde é possível a purificação.

Assim, como em nossas orações, preces, Missas e em nossos jejuns somos purificados, quem já morreu não pode fazer mais nada por si mesmo.

Se quem já morreu não pode fazer nada por si mesmo, o que os vivos poderão fazer por quem já se foi?


Como pedir por aqueles que morreram

Cremos na comunhão dos santos e no Batismo que nos une a Cristo. Por meio de orações, sacrifícios e, principalmente, pela celebração da Santa Eucaristia pedimos pelos falecidos, por aqueles que partiram.

Por fim, irmãos, essa é a nossa católica.

Vamos com muita confiança viver nossa vida cristã na busca constante e perseverante pela santidade. Vamos, com muita garra, anunciar Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e orar por aqueles que partiram, por parentes e amigos falecidos.

Rezemos, também, por aqueles que morreram esquecidos, perdidos ou abandonados, para que sejam purificados pelo fogo do Senhor e cheguem ao Seu Reino.


Padre Marcio

Padre Márcio do Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 20 de dezembro de 2009, cujo lema sacerdotal é "Fazei-o vós a eles" (Mt 7,12), padre Márcio cursou Filosofia no Instituto Canção Nova, em Cachoeira Paulista; e Teologia no Instituto Mater Dei, em Palmas (TO). Twitter: @padremarciocn

23 de abril de 2018

Até que ponto é comum a rebeldia na adolescência?

Não sei se o adolescente é rebelde ou se está rebelde

Fico em dúvida se o adolescente tem sido criado para ser rebelde ou se tudo isso é só conversa, se a verdade é que eles são rebeldes por conta das mudanças hormonais. Será? Antigamente, até que acontecia isso mesmo, bastava chegarem à adolescência que a rebeldia se manifestava. Mas, hoje é comum ouvir expressões como: "Que criança rebelde!","Mas essa juventude é uma rebeldia!", "Olha para isso, um velho desse rebelde!". Portanto, já não sei mais se a rebeldia é uma característica comum da adolescência.

Foto ilustrativa: Wavebreakmedia / by Getty Images

A realidade do mundo moderno me faz pensar sobre até que ponto é comum esta mudança de comportamento tão irreverente estar apenas na adolescência, pois temos ouvido e visto, pelos veículos de comunicação, que a rebeldia está presente em todas as fases ou posições que o ser humano se coloca.

A quebra dos limites; o desrespeito no trânsito; as brigas nos estádios; o abandono familiar; os desvios das funções da escola e do Estado; foram situações que promoveram um ambiente completamente rebelde. O dicionário on-line de português traduz esse conceito como "ato de rebelar-se; não conformidade; reação. Figura de oposição, resistência". A Bíblia alerta sobre a rebeldia quando diz: "Ai dos filhos rebeldes ,diz o Senhor, que executam planos que não procedem de mim e fazem aliança sem a minha aprovação para acrescentarem pecado sobre pecado!" (Isaías 30,1). Então, precisaremos dispensar atenção, cuidado, critérios para educar os nossos pequeninos que se tornarão não só adolescentes, mas pais de família e profissionais. Considerando que a nossa vontade de pais cristãos é formá-los dentro dos princípios bíblicos e todas as coisas lhes serão acrescentadas.

O adolescente por si só teria alguns argumentos que os deixam, de fato, mais imponentes e donos de si, mas não necessariamente precisariam entrar na frequência da rebeldia ou tornar-se rebelde. O ambiente é um fator, muitas vezes, determinante para tal comportamento. Os pais tendem a dar muita assistência, afeto positivo, carinho, escuta enquanto os filhos ainda se encontram na primeira e segunda infância. Com o passar do tempo, vive-se uma ilusão que esses filhos estão crescendo e se tornando autônomos. Quem não foi ensinado para se tornar autônomo pode ser com tanta facilidade e rapidez. E aí está a brecha para rebeldia.

Os pais, a escola e a sociedade iniciam um processo de cobrança muito grande, a ponto de levar o adolescente a não suportar tantas desqualificações. Ora, ele nunca arrumou a cama nem levou sua toalha para o varal. Só porque fez 12 anos ou entrou no curso Fundamental II precisará fazer. Ele nunca cedeu sua cadeira para os mais velhos, muito menos os ajudou, quando pequeno, a tirar a feira de supermercado do carro; nunca foi treinado, estimulado positivamente a realizar tais procedimentos. Como ele, o adolescente, não ficará rebelde? Claro. É preciso entender que a adolescência faz parte de um processo de desenvolvimento humano; ela não cai do céu. "Agora tornou-se adolescente." Abriu-se a porta da sala e o "aborrecente" entrou em casa. Esse adolescente esteve sempre em nossa casa, foi o filhinho de que trocamos as fraldas, que levamos para passear, tomar sorvete, visitar os parentes aos domingos e brincar de bicicleta na pracinha. O que se perdeu com o passar do tempo? Onde nós nos perdemos? Continuamos beijando-o quando voltamos do trabalho ou apenas lhe fazemos perguntas básicas como: "estudou?; fez o dever?; tomou banho?; comeu o quê?" (…).

Defendo o princípio que a fase da adolescência não precisaria ser marcada pela rebeldia, mas respeitada por suas mudanças orgânicas e psicossociais, assim como todo ritual de passagem que precisa ser atualizados na forma de pensar e agir da família, escola e sociedade. As pessoas que compõem o ambiente familiar do indivíduo precisam estar bem informadas sobre cada fase que nos constituem como seres humanos. Vejamos: que tal nos lembrarmos da nossa adolescência? O que nossos pais diriam?


Os adolescentes não devem ser uma ameaça para a família

Nós precisamos enxergar essa fase como fruto da nossa educação. Os adolescentes não devem ser uma ameaça para a família. Eles são ricas bênçãos para quem tão bem os educou. Os pais deverão livrá-los da rebeldia, desta aparente liberdade que só os faz sofrer. Portanto, vamos fazer o caminho de volta? Vamos atrás de quem é nosso. Vamos deixar as regras claras em casa, dar bons exemplos, oportunizar bons modelos aos nossos filhos, aos nossos alunos, a fim de que eles possam chegar à fase dos 12 aos 18 anos produzindo autoestima, seguros de si mesmos. Filhos pequenos superprotegidos ou abandonados de orientações e de convivência familiar se tornarão filhos (adolescentes) rebeldes, amargos e grosseiros. Esse tipo de criação não ensina o caminho da gratidão e do respeito. Às vezes, não damos o melhor e queremos "tirar o tapete" dos filhos quando chegam nesta fase da vida.

Existem várias passagens bíblicas que apresentam as consequências de pessoas que foram rebeldes. Um grande exemplo foi o que aconteceu com o povo de Israel: Deus havia libertado os israelitas da terra do Egito, onde esses eram escravos. Mesmo com tantos milagres, eles se rebelaram contra o Senhor, fizeram um bezerro de ouro para adorar, e, como castigo, peregrinaram quarenta anos pelo deserto e somente alguns conquistaram a terra prometida.

O comportamento de rebeldia não agrada a Deus, não nos faz pessoas felizes. Nascemos para ser aceitos, aprovados. O bom convívio social é cura para nossa alma, alegria para o nosso viver. Qualquer tipo de rebeldia está diretamente ligada ao pecado, pois envolve a desobediência deliberada e infringe os padrões de autoridade que foram estabelecidos por Deus. Não importa se é rebeldia contra os pais, contra os líderes da Igreja, contra a lei; seja qual for, está totalmente contra aos princípios bíblicos. Não estou aqui autorizando a subserviência, a alienação ou a cegueira espiritual. O filho precisa ter seu espaço, sua voz escutada e compreendida, logo, muito bem orientada e disciplinada. Assim, os pais precisam se impor como pais de alguém a quem lhe foi atribuída a função de educar na graça e na sabedoria. Não desistir do 'sim' quando deverá ser 'sim', e do 'não' quando deverá ser 'não'. Filhos precisam respeitar, admirar e amar os pais como autoridades. Os pais precisam ser respeitados, admirados e amados por seus filhos como autoridades. Portanto, os pais deverão trazer consigo o desejo e a determinação de ter filhos adolescentes amigos, disciplinados, estudiosos e em paz com si mesmos e com os outros.

Vamos lá, família! Não vamos nos render aos modelos tão seculares ou efêmeros.

Esses modelos querem nos seduzir. Não vamos desistir nem terceirizar a nossa função, mesmo quando nos sentirmos perdidos, sem saída para enfrentar todas as fases que nossos filhos estejam vivendo.



Judinara Braz

Administradora de Empresa com Habilitação em Marketing.
Psicóloga especializada em Análise do Comportamento.
Autora do Livro "Sala de Aula, a vida como ela é."
Diretora Pedagógica da Escola João Paulo I – Feira de Santana (BA).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/ate-que-ponto-e-comum-a-rebeldia-na-adolescencia/

19 de abril de 2018

Ensino uma coisa e, com o coleguinha, meu filho aprende outra

Como agir diante desses confrontos?

Quantos pais investem tempo e energia para educar seus filhos! Quantos buscam introjetar valores que eles acreditam serem certos e importantes, tais como "quem fala a verdade não merece castigo!". Porém, quando os filhos começam a ter contato com valores externos, esses parecem ter uma força maior do que a dos familiares. Os filhos aprendem com os colegas que a mentira pode ser uma forma de fugir de conflitos e fazer aquilo que querem.

Como agir diante desses confrontos? Não há receita pronta, mas há trilhas que ajudam. Conquistar o coração é o início do processo para modelar a mente e a alma de seu filho, e não deixar que outros conquistem esses lugares.

Ensino uma coisa e, com o coleguinha, meu filho aprende outra-artigo

Foto Ilustrativa: kali9 / by Getty Images

A base de tudo é lembrar que as pessoas é quem decidem de quem vão aceitar a educação e como isso se dará. Portanto, todo trabalho da família deve ser buscar, junto aos filhos, ser essa pessoa para eles. A pergunta principal é: como conseguir que os filhos deleguem para você o direcionamento do processo de aprendizagem?


É preciso criar laços fortes com os filhos

Para que o filho delegue aos pais e não ao colega o ensino, o primeiro passo é criar laços fortes com ele. As crianças aprendem e assumem como verdade os ensinamentos de pessoas com as quais possuem laços afetivos e relação de confiança. Se a convivência familiar é pior do que a convivência com os amigos, o filho começa a rejeitar o processo de aprendizagem interno. Ele vai se tornando indócil, rebelde e desinteressado na fala com os pais. Mas, se no relacionamento entre eles existir o diálogo, será possível resolver as discordâncias entre a educação dada pelos pais e pelos colegas.

O segundo passo é trabalhar o canal da comunicação. É importante escutar o aprendizado externo e mediar com o interno, mostrando ganhos e perdas. Conversar sobre consequências sem moralismo é um caminho para o esclarecimento. Lembre-se de que, muitas vezes, eles trazem novidades que vão mexer com o status atual da família, os quais precisarão ser revistos. Não assuma posições radicais. Ouça, encontre as causas do conflito e busque concordâncias.

A flexibilidade dos pais pode ajudar

Outro passo é saber que, os pais não são donos da verdade; eles precisam reconhecer a necessidade de mudanças. Mostrar flexibilidade naquilo que não é importante, e firmeza em relação àquilo que é fundamental para o bem-estar dos filhos, sabemos que é uma linha tênue e difícil de ser definida. Não desanime, concentre esforços nos itens que têm alto impacto no caráter das crianças.

Outra dica importante é: trazer para dentro de casa os coleguinhas de seus filhos, conhecer com quem eles estão convivendo. Usando o conhecimento anterior, de que laços afetivos e confiança aproximam pessoas e permitem influência sobre elas, busque isso junto aos colegas de seus filhos. A prática nos ensina a usar o ensino por tabela. Às vezes, é mais fácil influenciar os coleguinhas para que, esses, atuem melhor sobre nossos filhos.

Outras pessoas podem ajudar os pais na educação dos filhos

Lembra-se de que a educação não é uma ação solitária. Os pais podem e devem buscar apoio da escola, dos colegas e de profissionais nessa tarefa. O importante nesta caminhada não é ter razão, e sim, conseguir que seu filho seja uma pessoa feliz, saudável, realizada como pessoa, ele precisa lembrar-se de que não está só no planeta. Assim, ele poderá contribuir para que outros, também, possam alcançar esse mesmo patamar. Neste processo, a caminhada espiritual ajuda muito, ela imprime valores coletivos: de perdão mútuo; de verdade que liberta; entre outros.

Nossa missão não se restringe aos nossos filhos, mas à educação de gerações. Eles serão futuros educadores de seus filhos, e como foram modelados por seus pais, provavelmente modelarão os outros.


Ângela Abdo

Ângela Abdo é coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES) e assessora no Estudo das Diretrizes para a RCC Nacional. Atua como curadora da Fundação Nossa Senhora da Penha e conduz workshops de planejamento estratégico e gestão de pessoas para lideranças pastorais.

Abdo é graduada em Serviço Social pela UFES e pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e em Gestão Empresarial. Possui mestrado em Ciências Contábeis pela Fucape. Atua como consultora em pequenas, médias e grandes empresas do setor privado e público como assessora de qualidade e recursos humanos e como assistente social do CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador). É atual presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) do Espírito Santo e diretora, gerente e conselheira do Vitória Apart Hospital.

17 de abril de 2018

O significado de cada letra da palavra família

Saiba qual o significado de cada letra da palavra família

Qual o significado da família? Pare e pense um instante para responder essa pergunta. O valor contido nessa instituição, um ambiente familiar, é imenso, incalculável. Isso nos remete aos nossos ancestrais: pais, avós e bisavós. Graças à união deles e a nossa árvore genealógica, estamos aqui para refletir e ter o coração grato ao nosso passado.

E, para esse olhamos com gratidão; para o presente, com paixão, e contemplamos o futuro com esperança. Atento às necessidades do mundo atual, o Santo Padre acompanhou, com ternura de pai, a realização do Sínodo Ordinário dos Bispos sobre a Família até a sua conclusão. Depois de três semanas de trabalhos, o Papa ouviu atentamente as declarações dos cerca de trezentos participantes.

Foto ilustrativa: evgenyatamanenko by Getty Images

Com sabedoria e discernimento próprios dele, o primeiro Papa jesuíta da Igreja Católica, apresentou seu discurso de conclusão. A palavra "significado" acompanhou cada parágrafo do documento. As três semanas de trabalho no Vaticano foram o ponto de chegada de um longo caminho percorrido por cristãos do mundo todo.

Os debates deram demonstrações da vitalidade da Igreja Católica. Quase despercebido, no rodapé, um detalhe do discurso do Papa Francisco, disponível na internet, chama à atenção. Uma análise em forma de acróstico ajuda a resumir a missão da família na Igreja.

O significado de cada letra da palavra família

O texto original foi escrito em italiano, portanto, as iniciais são da palavra famiglia:

Formar as novas gerações para viverem seriamente o amor, não como pretensão individualista, baseada apenas no prazer e no "usa e joga fora", mas para acreditarem novamente no amor autêntico, fecundo e perpétuo, como único caminho para sair de si mesmo, para abrir-se ao outro, sair da solidão e viver a vontade de Deus, para realizar-se plenamente e compreender que o matrimônio é o "espaço onde se manifesta o amor divino, para defender a sacralidade da vida, de toda a vida, e defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente" (Homilia na Missa de Abertura do Sínodo, 4 de Outubro de 2015); enfim, para valorizar os cursos pré-matrimoniais como oportunidade de aprofundar o sentido cristão do sacramento do matrimônio;

Aviar-se ao encontro dos outros, porque, uma Igreja fechada em si mesma é morta; uma Igreja que não sai do seu aprisco para procurar, acolher e conduzir todos a Cristo, atraiçoa a sua missão e vocação;


Manifestar e estender a misericórdia de Deus às famílias necessitadas; às pessoas abandonadas; aos idosos negligenciados; aos filhos feridos pela separação dos pais; às famílias pobres que lutam para sobreviver; aos pecadores que batem às nossas portas e àqueles que se mantêm longe; aos deficientes e a todos aqueles que se sentem feridos na alma e no corpo; e aos casais dilacerados pela dor, doença, morte ou perseguição;

Iluminar as consciências, frequentemente rodeadas por dinâmicas nocivas e subtis

Iluminar as consciências, frequentemente rodeadas por dinâmicas nocivas e subtis, que procuram até se pôr no lugar de Deus Criador.

Tais dinâmicas devem ser desmascaradas e combatidas no pleno respeito pela dignidade de cada pessoa; ganhar e reconstruir com humildade a confiança na Igreja, seriamente diminuída por causa da conduta e dos pecados dos seus próprios filhos.

Infelizmente, o contratestemunho e os escândalos cometidos dentro da Igreja por alguns clérigos afetaram a sua credibilidade e obscureceram o fulgor da sua mensagem salvífica;

Labutar intensamente por apoiar e incentivar as famílias sãs, as famílias fiéis e numerosas que continuam, não obstante as suas fadigas diárias, a dar um grande testemunho de fidelidade aos ensinamentos da Igreja e aos mandamentos do Senhor;

Tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos

Idear uma pastoral familiar renovada, que esteja baseada no Evangelho e respeite as diferenças culturais; uma pastoral capaz de transmitir a Boa Nova com linguagem atraente e jubilosa, tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos; uma pastoral que preste uma atenção particular aos filhos que são as verdadeiras vítimas das lacerações familiares; uma pastoral inovadora que implemente uma preparação adequada para o sacramento do matrimônio e ponha termo a costumes vigentes, os quais, muitas vezes, preocupam-se mais com a aparência de uma formalidade do que com a educação para um compromisso que dure a vida inteira;

Amar incondicionalmente todas as famílias e, de modo particular, aquelas que atravessam um período de dificuldade.

Nenhuma família deve sentir-se sozinha ou excluída do amor e do abraço da Igreja; o verdadeiro escândalo é o medo de amar e manifestar concretamente esse amor.

A Igreja não tem medo de abalar as consciências anestesiadas

O Santo Padre afirma que a Igreja "não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as mãos com discussões animadas e francas sobre a família".

Os bispos buscaram olhar e ler as realidades com os olhos de Deus, para acender e iluminar com a chama da fé os corações das pessoas numa época marcada por desânimo, crise social, econômica, moral e negativa.

Corações fechados também foram observados, bem como tentativas de julgamento, com sinais de superioridade e superficialidade.

No entanto, no Sínodo prevaleceram livre expressão de opiniões e resultaram em um diálogo rico e animado, "proporcionando a imagem viva de uma Igreja que não usa – impressos prontos-, mas que, da fonte inexaurível da sua fé, tira água viva para saciar os corações ressequidos".