9 de março de 2018

O que é fofoca?

Fofocar é uma ação que tem, como intenção, denegrir a imagem do outro

Quando somos capazes de perceber a limitação, o defeito do outro? Quando convivemos com ele, não é mesmo!?

Créditos: kzenon by Getty Images

Pois é, então, poderia dizer que perceber as limitações e os defeitos dos outros é natural e bom. O problema consiste no que eu vou fazer após perceber a falha do outro. Diante disso, seguem algumas dicas de atitudes a serem tomadas:

– Não imitar (reproduzir/aprender) o que não é bom. Olhar para sua história e avaliar, se você não faz igual e nem percebe;

– Corrigir o amigo quando vocês estiverem sozinhos;

– Entender que, o processo de mudança requer tempo, e ir acompanhando com "lentes de aumento" os pequenos passos para a mudança;

– Aceitar as limitações do outro;

– Olhar o que o outro faz, o que para você é quase impossível fazê-lo. Analisar que você, também, tem dificuldades de mudar.

Com essas atitudes os dois crescem com o relacionamento. A amizade se concretiza. Amigo é aquele a quem você conhece e cresce com ele.

O que define fofoca?

Falar do outro não define que seja fofoca, porque, quando estamos falando bem do outro, não se costuma dizer que isso é fofoca. Avaliar com quem errou, também, não define uma fofoca. Da mesma forma que, quando sentamos com nosso superior para fazer avaliação individual da equipe de trabalho, também, não estamos fofocando.

Um pai conversando com a mãe sobre as características físicas e emocionais de cada filho não está fazendo fofoca. Pais explicando ao filho que não deverá andar na companhia de pessoas que usam drogas, também, não estão fofocando.


O que define fofoca é –  o objetivo que se quer atingir com o que se fala -, exemplo: uma filha, cuja mãe é católica, chega para essa e conta uma verdade: "Mãe, a "fulana" está indo todos os dias à Missa, rezando o Terço" (isso é real). No outro dia, ela conta à mãe que a "tal fulana" assiste a Canção Nova. Na semana seguinte, conta que a "dita pessoa" usa roupas discretas (…).

Mas, o objetivo da filha é ir preparando o caminho, para que a mãe lhe permita ir na casa da "tal fulana que está indo à Missa, assistindo a Canção Nova, etc.", pois, está namorando, escondido da mãe, o irmão dessa "fulana". Com que objetivo usou a informação?

Revelar um segredo é fofoca? Por exemplo, sou psicóloga, preciso ser ética e devo ao meu cliente sigilo. No entanto, esse usa um medicamento cujos efeitos colaterais desconheço, então, preciso me informar a respeito disso. Posso precisar trocar dados significativos sobre o uso desse medicamento com um médico para que, possa ajudar ao meu cliente. Se fizer isso, sem revelar quem é o cliente, não é fofoca.

Fofoca, um procedimento ardiloso

A fofoca é uma ação que, geralmente, é verbal, mas pode ser (também) não verbal. Como aqueles olhares, cutucões que, parecem sublinhar as falhas e os erros dos outros.

Fofocar é uma ação que tem, como intenção, denegrir a imagem do outro. Portanto, o que vai nos ajudar a identificar o que é fofoca é a intenção.

A fofoca é uma narração de um fato, em segredo, fazendo uso da astúcia e muitas vezes da maledicência. É um procedimento ardiloso. Poderíamos pensar em cilada, armadilha, traição, embuste, procedimento ardiloso. Alguém tecendo uma rede para complicar, confundir o outro. É importante pensar no processo repetitivo, no qual se repete a informação, dando-lhe uma ênfase especial.

Cláudia May Philippi
Membro da Comunidade Canção Nova – Segundo Elo

6 de março de 2018

Os princípios da crise do homem moderno sob a luz da Igreja

A Igreja tem o olhar voltado para o homem

O Concílio Vaticano II teve seu início não por conta de um problema da Igreja, mas sim, por conta da (como podemos chamar) "crise do homem moderno". Basta ler os documentos do Concílio, e será possível perceber que não haviam problemas dogmáticos na Igreja, e sim, problemas de como atingir o homem moderno que está cada vez mais perdido, especialmente, nos últimos 500 anos. A evolução científica, não é prova de desenvolvimento humano, moral, espiritual, e sim, somente do desenvolvimento técnico.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Na filosofia antiga já haviam sido detectados os problemas que o Concílio veio a perceber mais tarde. Porém, com o advento do cristianismo, as coisas melhoraram entre os gregos e o início da cristandade. Santo Agostinho, no livro "De vera religione" (A Verdadeira Religião), diz que os problemas (espiritual e moral) relatados pelos gregos no cristianismo, haviam sido superado. Com o tempo, as coisas foram se perdendo, e nos últimos 500 anos piorou com maior velocidade.

A importância da sabedoria

No mesmo Concílio é pedido, claramente, que se formem homens sábios, porque esses já não existiam mais. Dessa maneira, encontra-se manisfesto na Gaudium et Spes, um documento do Concílio Vaticano II,  que deixa claro a ajuda que a Igreja recebe do mundo com a contribuição dos sábios, dos crentes e dos que não creem. Frente a uma sociedade que modifica-se cada vez mais rápido, em que o pensamento está em transformação quase que de forma instantânea; é dever do povo de boa fé, especialmente pastores e teólogos, com a graça do Espírito Santo: ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, pondo sob à luz da Palavra de Deus, a fim de que, a verdade revelada seja profundamente percebida, compreendida e expressa de maneira convincente (cf. GS 44).

A Santa Igreja, de maneira sábia, ainda orienta o povo de Deus que dedicando-se aos estudos da filosofia, da história, da matemática, das ciências naturais e ocupando-se também das artes, o homem contribui elevando-se aos níveis mais altos de verdade, bondade e de beleza, levando a um juízo de valor universal, sendo ele iluminado pela sabedoria (cf. GS 57). Mas o que é a sabedoria?

O que é a sabedoria?

A sabedoria é a capacidade de elevar a inteligência humana até o máximo de sua capacidade. Não é o acúmulo de informações, mas sim a capacidade de desenvolvimento intelectual e espiritual. A partir desse desenvolvimento, será possível estudar qualquer outra coisa. Até porque, a vida intelectual não se passa com o desenvolvimento do cérebro, mas com o desenvolvimento do homem em um todo. Infelizmente não ensina-se em lugar nenhum o desenvolvimento da sabedoria; ensina-se somente o desenvolvimento social para a produção econômica.

Desde o Concílio, já estava claro que, não viam-se mais pessoas sábias assim como os gregos, os santos padres e, consequentemente, não temos mais onde aprender a sabedoria. Para a formação de uma sociedade de homens sábios, é preciso que a sociedade esteja voltada para isso. Só se consegue uma sociedade voltada à busca da sabedoria, se nessa sociedade houverem homens sábios. Sem homens sábios, não se consegue mais construir uma sociedade de sábios (Platão).

4 de março de 2018

Como participar liturgicamente da Santa Missa?

Aprenda a participar liturgicamente da Santa Missa e a crescer na fé

Para que a nossa participação na Santa Missa seja consciente, ativa e frutuosa, é necessário conhecermos bem o que celebramos. Contudo, muitos católicos não receberam uma formação adequada acerca da liturgia da Santa Missa, e seguem aquilo que lhes foi ensinado sem questionamento algum.

A Igreja quer manter sempre a sua unidade. Não são várias Igrejas Católicas, mas uma única Igreja. Por isso mesmo, é necessário que haja uma unidade na liturgia, e aqueles que presidem as celebrações são os primeiros que devem vivenciar aquilo que celebram em plena unidade com a Igreja em todo o mundo. Por isso mesmo, todo presbítero deve ser o primeiro a aceitar e praticar as normas litúrgicas que regulam a liturgia. Triste é observarmos que, em muitos casos, o rito da celebração foi totalmente desfigurado por acréscimos que visam apenas inflar o ego de quem preside. Lembramos com carinho a frase de Adélia Prado: "A Missa é como um poema, não suporta enfeite nenhum".

Créditos: Daniel Mafra / cancaonova.com

Participação da assembleia na Santa Missa

Criou-se, em muitos lugares, o costume de a assembleia rezar junto com o sacerdote as orações que são próprias de quem preside a Santa Missa. Algumas orações são próprias de quem preside. A assembleia tem a sua participação em momentos próprios:

"Para fomentar a participação ativa, promovam-se as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as ações, gestos e atitudes corporais. Não deve deixar de observar-se, a seu tempo, um silêncio sagrado" (Sacrosanctum Concilium, 30).

"Sem dúvida, o povo participa sempre ativamente e nunca de forma puramente passiva: 'associa-se ao sacerdote na fé e com o silêncio, também com as intervenções indicadas no curso da Oração Eucarística, que são: as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a aclamação depois da consagração e a aclamação 'Amém', depois da doxologia final, assim como outras aclamações aprovadas pela Conferência de Bispos e confirmadas pela Santa Sé'" (Redemptionis Sacramentum, 54).

Compreendendo a liturgia

Quando falamos em seguir as normas litúrgicas previstas, não estamos falando de coisas sem importância, mas de unidade eclesial. A liturgia não é nossa, mas sim um tesouro da Igreja. Celebrar segundo as prescrições significa, também, criar comunhão com o Corpo Místico de Cristo.

Ninguém tem autoridade para modificar ou variar os textos litúrgicos. Muitos tem transformado as celebrações litúrgicas em verdadeiros espetáculos de mau gosto. Desfiguraram tanto o rosto da Santa Missa, que chegam a confundi-la, muitas vezes, com um culto neopentecostal.


"Contudo, o sacerdote deve estar lembrado de que ele é servidor da Sagrada Liturgia e de que não lhe é permitido, por própria conta, acrescentar, tirar ou mesmo mudar qualquer coisa na celebração da Missa" (Instrução Geral do Missal Romano, 24).

"Cesse a prática reprovável de que sacerdotes ou diáconos, ou mesmo os fiéis leigos, modificam e variem, à seu próprio arbítrio, aqui ou ali, os textos da sagrada Liturgia que eles pronunciam. Quando fazem isso, trazem instabilidade à celebração da sagrada Liturgia e não raramente adulteram o sentido autêntico da Liturgia" (Redemptionis Sacramentum, 59).



Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor do livro "Amor Sem Fronteiras" pela Editora Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: facebook.com/peflaviosobreiro

28 de fevereiro de 2018

Não existe a fórmula perfeita para ser mãe. Não se cobre tanto!

Toda mãe traz em si a obrigação de ser infalível, mas não existe mãe perfeita

Quem não chegou em um momento da vida que precisou se deparar com as fragilidades de sua própria mãe? Que frustração! Ela era uma heroína, quase "imaculada" àqueles olhos infantis. Nesse dia, passamos a ter de compreender que ela tem muitas fraquezas e não dá conta de tudo como imaginávamos.

Quando fomos introduzidos em nossa cultura, herdamos essa imagem materna de alguém que não erra, que nos protege, que é forte e quase podemos dizer que é dotada de "superpoderes".

Foto ilustrativa: Daniel Mafra / Fotografia

Toda mãe traz em si essa enraizada "obrigação" de ser infalível para seus filhos. Principalmente nos dias atuais, em que é preciso dar conta de uma jornada de trabalho longa, cuidar da saúde dos filhos, assim como escola, atividades extras, alimentação, roupa, higiene, organização da casa, relacionamento com o marido, agenda da família, e assim vai. Ufa! E, ainda, tem o cuidado com si mesma. Por que isso só me veio à lembrança por último? Sim, é assim que acontece. Toda mãe traz consigo o dom da renúncia e de querer fazer o melhor possível para os filhos, mesmo que esse melhor requeira não colocar a si mesma na lista de prioridades.

Com essa "obrigação" de acertar em tudo, perde-se também o direito de cometer falhas. E quando elas acontecem, desmorona um "mundo" sobre os próprios ombros, justamente porque sabemos que nos foi confiado alguém que depende totalmente de nós. "Educar e suprir as necessidades de um filho não é uma tarefa fácil, pois consome todo tempo e energia da mãe. É um cuidado integral, de intensa dependência, que pode, muitas vezes, gerar sentimentos de angústia, ansiedade, fracasso e culpa", esclarece a psicóloga Lisandra Borges.

Os motivos que fazem as mães não se sentirem ideais

Comum é encontrar alguém não se sentindo a mãe ideal, e os motivos são díspares. Algumas vezes, porque se acham muito protetoras ou muito ausentes. Outras vezes, porque são muito rígidas ou ainda não conseguem ter a firmeza necessária. Quantas vezes choramos depois de gritarmos com as crianças, mas também, porque percebemos nossas omissões e limitações. Ou ainda sentimos aquela angústia e medo por não conseguirmos dar para eles o que precisam. Se o desenvolvimento do filho não está da melhor forma, se as notas na escola estão baixas, se tem ficado doente com frequência ou se o filho está muito rebelde… Ai, meu Deus! Onde estou errando? Tudo pode se tornar motivo de preocupação dentro da cabeça de uma mãe, pois ela entende que suas atitudes são determinantes na vida dos filhos.

Esse sentimento é fruto do muito amor, de alguém que não sabe fazer nada além de se doar, um verdadeiro martírio, como tem citado Papa Francisco, ressaltando também que esse dom não é só o de gerar o filho, mas de lhe dar a vida, a sua própria vida no dia a dia, nas suas escolhas.


Por outro lado, na vivência desse dom, a mulher é chamada a cuidar de si mesma para que esteja também em boas condições para lidar com aqueles que tanto ama e para que tenha saúde e disposição para as lutas diárias. Lisandra Borges dá algumas dicas que favorecem esse processo.

"Lembre-se de que a mãe perfeita não existe, pois somos seres humanos e estamos aprendendo todos os dias. Além disso, nenhuma criança vem com manual de instruções, então, aprendemos no dia a dia, com a experiência. Aceite a imperfeição, isso já é um começo! É importante saber que você está fazendo o melhor, atendendo as necessidades do seu filho, mas nunca as conseguirá sanar cem por cento. Aproveite os bons momentos junto com os filhos, valorizando mais os sentimentos positivos", ensina a psicóloga.

Cuidar-se

Esse consumir-se provoca um esgotamento, por isso é necessário dar-se o direito de ser cuidada, sem culpa; e aqui vale reafirmar: sem culpa mesmo. Não é porque você se tornou mãe, que vai esquecer de si mesma. Quando nos sentimos bem, os filhos colhem o melhor de nós e são os primeiros beneficiados. Quando você se sente bonita, por exemplo, tudo muda, principalmente o humor.

Separar um tempo para si

Em meio a tanta correria, não é fácil ser prioridade, porém vale muito a pena separar um tempo para si. De repente, cuidar das unhas, do cabelo ou fazer algo que lhe dê prazer. Que tal encontrar-se com os amigos de que tanto gosta? Separar um momento para estar a sós com Deus? Ou então deixar as crianças com alguém para curtir um cineminha com o marido? De repente, um jantar a dois!

Filhos são os melhores presentes que uma pessoa pode receber de Deus, mas, as mães precisam respirar novos ares de vez em quando, retomar as forças para dar o melhor de si para esses tesouros.

É preciso também, e principalmente, olhar para o Senhor

Ele sabe das nossas intenções, como está em 1 João 3,19-20: "Nisto conheceremos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração; porque se o coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas".

Com isso, a mãe é chamada a confiar na graça de Deus. Aliás, mulheres heroínas só existem nas telas de cinema e revistas em quadrinhos. Nós, simples pecadoras, dependemos da graça de Deus. Uma boa forma de nos depararmos com nossas fragilidades e limitações é entendermos que sem Ele não conseguimos realizar nossa missão, que não somos suficientes.


Sempre é tempo de retomar

Pedir ajuda é uma excelente saída. Muitas vezes, escondemo-nos atrás de lamúrias ou autopiedade, para não enfrentarmos os problemas.

"Se o sentimento de culpa realmente tiver fundamento e você conseguir identificar alguns pontos que pode melhorar, faça isso, encontre soluções práticas para resolver o problema. Se você se sente culpada por não estar sempre presente com seu filho, encontre uma hora para estar somente os dois", diz a psicóloga Lisandra Borges.

Aproveite para escutar seu filho e refletir o que está fora do equilíbrio e, talvez, minando sua maternidade. Os nossos exageros como mães, muitas vezes, deixam-nos cegas. Porém, dá para respirar fundo e recomeçar.

A Palavra de Deus nos diz ainda que "a mulher será salva pela maternidade, contanto que permaneça com modéstia na fé, na caridade e na santidade" (I Tm 2,15). Portanto, abandonemo-nos nas mãos de Nosso Senhor, pois, à medida que fazemos isso, o fardo se torna leve. A maternidade não é algo que possuímos, mas um presente que nos faz participar da criação e paternidade de Deus. Uma linda experiência do amor de Deus.

Não deixe que a tristeza tome conta de seu coração. Cuide de você sem culpa, cuide de seu filho e acredite na graça de Deus. Celebre, porque Deus, Aquele que realmente é perfeito, faz festa com sua maternidade!

Elzirene Pereira
Jornalista e Missionária da Comunidade Canção Nova 



26 de fevereiro de 2018

Você sabe o significado do termo "narcisismo digital"?

O narcisismo digital é um sintoma de que algo não vai bem

Você é daquelas pessoas que não perdem a oportunidade de apontar o celular para si e tirar uma selfie? Fica angustiado quando ninguém curte sua foto e extremamente realizado quando percebe um "pontinho vermelho" ali nas notificações do facebook? Não consegue mais viver sem estar em evidência nos mais diversos grupos de "amigos" online? Se a resposta for sim, você pode estar apresentando os sintomas do que os especialistas chamam de: narcisismo digital.

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Foto ilustrativa: master1305 by Getty Images

O que é narcisismo?

A mitologia grega nos fala de um jovem com imensurável beleza chamado Narciso, que vendo a sua bela imagem refletida nas águas de um lago apaixonou-se por si mesmo e acabou sendo tragado pela própria beleza, caindo no lago e morrendo afogado. Este mito foi usado mais tarde pela psiquiatria e pela psicanálise para classificar pessoas que são extremamente preocupadas com a autoimagem, geralmente muito vaidosas, precisam chamar atenção a todo momento numa tentativa de estar sempre em evidência. Tudo isso porque há um investimento da libido (energia psíquica) voltado para a própria pessoa, que – inconscientemente – acaba regredindo em comportamentos infantis de melindres, dramaticidade e insegurança, como se fosse perder o amor da pessoas amada ou sofrer abandono por parte dos pais.

A sociedade da imagem

O mundo moderno gira entorno do espetáculo da imagem. O importante é o corpo, a aparência glamurosa, excitante, bonita, impecável. A televisão, as revistas, as mídias sociais produzem e lucram nos oferecendo este modelo de imagem "perfeita" e "bem sucedida", ao mesmo tempo em que nos mostram as referências que precisamos imitar para estar "bem na foto". Sem nos darmos conta, estamos lá, postando a nossa selfie com a roupa igual da atriz da novela, o "corpo sarado" daquele(a) modelo, o mesmo corte de cabelo e tatuagem daquele jogador de futebol.

Um exemplo deste fenômeno da superexploração da imagem é que hoje um dos itens mais importantes nas academias – mais do que os próprios aparelhos – é o espelho. O problema do espelho é que ele não nos mostra o vazio interior e a angustia da alma, mas ele tem revelado que, por trás de cada cada foto – seja dos bíceps, do peitoral, dos glúteos ou apenas de um rostinho bonito – talvez encontra-se um grito de socorro.


Mundo digital e o novo "lago de Narciso"

Assim como Narciso viu a sua imagem reflexa no lago e apaixonou-se por si mesmo até as últimas consequências, hoje temos novas águas que refletem e amplificam uma imagem inflada de nós mesmos. Todos nós conhecemos alguém que não perde uma oportunidade de se mostrar na internet, inclusive ao ridículo.

O problema, no entanto, não é da internet e nem das redes sociais em si, mas de algo que não está bem na pessoa. Cada tentativa de postar uma nova foto ou receber uma curtida pode esconder a necessidade de aceitação externa para compensar a baixa autoestima, muito comum em pessoas narcísicas. Essas pessoas precisam de ajuda para não se "afogarem" no mar do mundo digital, ao ponto de perderem o contato com a realidade.

Como perceber se sou narcisista digital?

– Consigo ficar mais de um dia sem postar fotos pessoais nas diferentes redes sociais?
– Fico triste, depressivo ou angustiado quando minhas postagem não me dão um feedback, tipo curtidas?
– A cada troca de roupa me dirijo ao espelho para tirar foto de mim mesmo (a) e logo em seguida postar?
– Passo uma imagem na internet que não corresponde à minha realidade?
– Sinto inveja e/ou raiva quando outras pessoas ficam em maior evidência do que eu na internet?
– Costumo me comparar com outras pessoas e assumir uma postura de competição nas redes sociais?

Se a resposta para a maioria das perguntas acima for "sim", é preciso buscar ajuda.


Daniel Machado

Daniel Machado de Assis, natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.



23 de fevereiro de 2018

A felicidade é um mito?

Pode-se dizer que a felicidade é um mito?

Um mito é uma coisa inacreditável, um enigma, uma utopia, uma pessoa ou coisa incompreensível. É, também, uma interpretação alegórica de um fato real. Algumas pessoas são consideradas mitos, porque fizeram algo extraordinário, impensável para a época, quase impossível. Dependendo da lente com a qual enxergamos o mundo e nos posicionas nele, a felicidade pode ser um mito para nós.

Se, por exemplo, digitarmos a palavra "felicidade" no Google, aparecerão mais de 34 milhões de possibilidades. Os primeiros resultados mostram frases feitas, atribuídas a pensadores, personalidades, intelectuais, artistas e pessoas desconhecidas. É essa a verdadeira felicidade da qual falamos e que nós cristãos almejamos? No dicionário, a felicidade se traduz em bem-estar, contentamento e bom êxito; é o estado de quem é feliz.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Novelas e redes sociais

Revistas, filmes, novelas e redes sociais nos apresentam pessoas sempre bonitas, bem vestidas, muito sorridentes em suas belas casas, desfrutando de longas viagens em lugares paradisíacos, com seus carros do ano, roupas de grife e cabelos da moda. São vidas que parecem tão absolutamente perfeitas, que alçam pessoas comuns ao status de "mito", e atribui aquele estilo à felicidade. Afinal, nem todos nós teríamos condições de, um dia, usufruir essa vida cara, estereotipada e padronizada que nos é apresentada como modelo de felicidade.

Nessa ótica, talvez passemos pela vida considerando a felicidade um mito, se assumirmos que precisamos de tal padrão para sermos felizes. Infelizmente, o que há de pessoas que não conseguem enxergar nem valorizar o que tem e, por isso, consideram-se infelizes, "não está no gibi"!

Jesus dá uma receita

Jesus deu uma receitinha boa de felicidade, que não tem nada de mitológica, ao contrário, está completamente ao nosso alcance, ao alcance da nossa essência, e se torna mais fácil ou mais difícil de viver conforme nosso comprometimento com Seu Evangelho. Essa "receita" está na passagem conhecida como o sermão das bem-aventuranças. Não vou descrever todas aqui, apenas atentar-me a um ponto: "Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia" (Mt5,7).

Tivemos no ano de 2016 o Jubileu da Misericórdia. Nesse ano, o Papa Francisco abriu a Porta Santa e o declarou um Ano Santo, ou Jubileu da Misericórdia, isso significou a abertura de um caminho extraordinário para a salvação, um convite para voltarmos às raízes do Cristianismo, que não exclui ninguém, mas está de portas abertas para acolher a todos, sem distinção. Nisso consiste a verdadeira felicidade. A misericórdia não é um mito, ela é real, mas depende de nós para que se materialize em felicidade para nossa vida e para a vida dos demais.

A palavra "misericórdia" é a junção de dois termos latinos: miseratio (compaixão) + cordis (coração). Trazendo essa junção para nossa vida, entendemos como "ter o coração compadecido" pelos demais, com sentimentos e ações que demonstrem essa misericórdia. A compaixão pelo outro nos recorda a compaixão que o próprio Deus tem por cada um de nós.


Quem de nós é digno e merecedor

Quem de nós é digno e merecedor de tudo aquilo que Deus faz em nossa vida? Ele tem uma misericórdia infinita, que não leva em consideração nossa pequenez nem fraqueza, e só isso já deve ser motivo suficiente para sermos felizes. Por mais que não consigamos perceber a mão de Deus nas diferentes situações de nossa vida, a misericórdia nos alcança. Sejamos felizes por isso!

Eu o desafio a fazer um propósito em 2018: pare de falar que você não é feliz. Se as coisas estão ruins, reze e faça a sua parte, busque sair do seu lugar e tente fazer as coisas de maneira diferente. Passe menos tempo admirando a vida dos outros e esses estereótipos de felicidade, e mais tempo cultivando a sua vida, a sua família, os seus amigos, e construindo a sua história de felicidade. Seja misericordioso com quem está mais perto de você. Isso mesmo!

A felicidade é acessível

Então, que tal se, antes do julgamento, praticássemos a misericórdia entre nós, na nossa casa, no nosso trabalho e com a vizinhança? Que saiamos da superfície das relações, para agir com misericórdia, aproximando nosso coração do coração do outro. Que o nosso coração se dobre com a dor e a dificuldade do outro, que saibamos ser Jesus na vida das pessoas que estão perto de nós.

A felicidade não é um mito. Ela é acessível a nós e não depende de dinheiro, fama ou de seguirmos nenhum estereótipo. Ela passa entre outras bem-aventuranças, como a nossa atitude de misericórdia no mundo. Façamos as escolhas que podemos fazer e sejamos felizes com elas. Quanto àquilo que não podemos escolher, acreditemos na misericórdia de Deus e sejamos misericordiosos com quem está perto de nós.

Desejo a todos nós um 2018 de menos mitos e mais misericórdia!

 

 


Mariella Silva de Oliveira Costa

Mineira , esposa, católica, feliz e amante de uma boa prosa. Jornalista, pesquisadora e professora universitária, é doutora em Saúde Coletiva (UnB), mestre em tocoginecologia (Unicamp), especialista em jornalismo científico (Unicamp) e graduada em comunicação social (UFV). Participa da RCC desde 1998 tendo atuado no Ministério Universidades Renovadas e no Ministério de Comunicação Social. Cofundadora do projeto Muitas Marias.com
Contato: mariellajornalista@gmail.com Twitter: @_mari_ella_


21 de fevereiro de 2018

Para que realmente foram criados os contraceptivos?

Os contraceptivos foram criados para evitar gravidez indesejada. Será?

Essa é uma pergunta que, à primeira vista, parece óbvia: os contraceptivos foram inventados para evitar uma gravidez indesejada. Será? Para evitar uma gravidez, sempre existiu um método 100% seguro e eficaz, chamado abstinência. Portanto, a única conclusão possível é que os métodos contraceptivos foram criados para justificar nossa entrega à luxúria, pois querem nos poupar do trabalho que experimentamos ao ter de optarmos pela abstinência. Os animais não possuem controle sobre a sua vontade e seus instintos, por isso, precisamos castrá-los caso não desejemos que se reproduzam. Ao utilizar os contraceptivos, estamos nos rebaixando aos animais, porque estamos dizendo que, por não conseguirmos controlar o nosso instinto sexual, precisamos nos "castrar" (temporária ou permanentemente) para não procriarmos.

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Foto Ilustrativa: areeya_ann by Getty Images

Nega a liberdade do autodomínio

Dessa forma, a contracepção está nos negando a liberdade que nos foi dada para amar, porque afirma que a pessoa não pode abster-se. Esses métodos são ilícitos, porque desvirtuam as leis da natureza e podem também prejudicar a saúde, e alguns deles chegam a provocar o aborto. Por isso, São João Paulo II diz que "os métodos anticoncepcionais são algo profundamente ilícito, que nunca, por nenhuma razão, poderão ser justificados" (Audiência de 17.09.83) Os meios contraceptivos ainda facilitam a infidelidade conjugal, cooperam para o descontrole sexual ou fomentam a falta de domínio dos impulsos mais primários; propiciam o perigo de instrumentalizar a mulher, colocando-a a serviço do egoísmo masculino; facilita à autoridade pública invadir, com diferentes métodos, a intimidade conjugal. "Portanto, se não se quer expor ao arbítrio dos homens a missão de gerar a vida, devem-se reconhecer necessariamente limites intransponíveis no domínio do homem sobre o próprio corpo e sobre as suas funções; limites que a nenhum homem, seja ele simples cidadão privado ou investido de autoridade, é lícito ultrapassar. Esses mesmos limites não podem ser determinados senão pelo respeito devido à integridade do organismo humano e das suas funções" (Paulo VI, no n.º 17 da Encíclica Humanae vitae).

Abrir portas para uma sexualidade egoísta

Os métodos contraceptivos abriram a porta a uma sexualidade cada vez mais egoísta e impessoal. Usa-se e abusa-se da relação sexual "segura", pois já não existe o "perigo" de uma gravidez indesejada. Isso ajudou a aumentar a trágica realidade que se dá na vida íntima dos esposos, na qual o ato conjugal se pratica desligado da comunicação pessoal, do diálogo e da afetividade.


A Igreja Católica não se opõe ao controle da natalidade

Ao contrário da crença popular, a Igreja Católica não se opõe ao controle da natalidade, ela se opõe ao contraceptivo. Contracepção é a escolha que, por qualquer meio, impede o potencial procriativo de um ato sexual. Em outras palavras, o casal que escolhe a contracepção optaram por ter uma relação sexual, mas, vendo que seu ato pode gerar uma nova vida, eles intencionalmente suprimem sua fertilidade. Isso pode ser feito ao empregar uma grande variedade de dispositivos artificiais e hormônios, ou a esterilização por procedimentos cirúrgicos. Isso pode ser feito sem usar nada artificial, como o caso do coito interrompido.

Espaçar a gravidez é um ato de responsabilidade

Além disso, a Igreja ensina a Paternidade Responsável quando há justa razão para espaçar a gravidez; não porque é "natural" como oposto a "artificial", mas porque não é, de maneira nenhuma, contraceptivo. Um casal que vive a paternidade responsável não escolhe impedir o potencial procriativo de um ato sexual. Trata-se de uma "contracepção natural", e não é, de nenhuma forma, contracepção.

A promiscuidade sexual tem conexão direta com a cultura atual, onde se vende a relação sexual como algo que se deve ter, sem qualquer limite ou barreira. Tudo é permitido, desde que a pessoa tenha prazer. Partindo dessa premissa, se devemos ter a relação sexual quando queremos, devemos também ter a contracepção para atender essa demanda. Seguindo os passos da contracepção, temos o aborto como plano alternativo caso a contracepção falhe. As mulheres são as que mais sofrem as consequências nefastas desse comportamento; e o advento da pílula anticoncepcional foi o catalisador do aumento de outros grandes males sociais, como o divórcio, as doenças sexualmente transmissíveis, a gravidez fora do casamento e o aborto.[2]

Usar a contracepção é ter a mentalidade do "toma lá da cá" dentro do casamento, tornando-o mais como um relacionamento contratual do que um matrimônio fundado na vontade de tornarem-se "uma só carne". "(…) um ato conjugal imposto ao próprio cônjuge, sem consideração pelas suas condições e pelos seus desejos legítimos, não é um verdadeiro ato de amor, pois nega uma exigência da reta ordem moral nas relações entre esposos. Assim, quem refletir bem deverá reconhecer, de igual modo, que um ato de amor recíproco, que prejudique a disponibilidade para transmitir a vida que Deus Criador de todas as coisas nele inseriu segundo leis particulares, está em contradição com o desígnio constitutivo do casamento e com a vontade do Autor da vida humana. Usar desse dom divino, destruindo seu significado e sua finalidade, ainda que só parcialmente, é estar em contradição com a natureza do homem, bem como com a da mulher e da sua relação mais íntima; e, por conseguinte, é estar em contradição com o plano de Deus e sua vontade." (Humanae Vitae no. 13)

O Papa Paulo VI fez ainda previsões muito acertadas, em 1968, pois, na Encíclica Humanae Vitae, disse que aconteceriam quatro grandes problemas sociais caso a contracepção fosse disponível amplamente:

(1) haveria um rebaixamento generalizado da moralidade;
(2) o respeito à mulher decairia dramaticamente;
(3) os governos adotariam políticas coercitivas de controle da natalidade;
(4) nós "perderíamos a reverência ao organismo como um todo e suas funções naturais".

Infelizmente, todas essas previsões concretizaram-se, como facilmente comprova-se hoje.

Autoras:

Foto- Fabiana  Fabiana Azambuja,  educadora e  coordenadora Centro de Atendimento Especializado em Regulação da Fertilidade no Posto Médico Padre Pio da Rede de Desenvolvimento Social da Canção Nova.

Flávia Ghelardi_Foto  Flávia Ghelardi ,educadora , advogada , escritora e  membro do Movimento Apostólico de Schoenstatt.

Referências do texto:
[1]WEST, Christopher Teologia do Corpo para Principiantes – Uma introdução básica à revolução Sexual de João Paulo II. Ed. Myriam. Porto Alegre. 2008 pg 119

[2] http://www.eumed.net/rev/cccss/11/ntrs.htm, acessado em 05.01.2015 http://new.d24am.com/noticias/saude/pesquisa-revela-que-pilula-anticoncepcional-pode-aumentar-incidencia-de-dsts/16410, acessado em 05.01.2015 http://providafamilia.org/doc.php?doc=doc58376, acessado em 05.01.2015 http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc97368, acessado em 05.01.2015


Fabiana Azambuja

Fabiana Azambuja é instrutora Qualificada do Método de Ovulação Billings™ e Coordenadora do 'Centro de Formação Famílias Novas', no Posto Médico Padre Pio, em Cachoeira Paulista (SP). familiasnovas@cancaonova.com