Há alguma palavra que possa alcançar as raízes de nossa angústia?
Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas.
Diante da página em branco, eu visitava minhas lembranças felizes, quando, na mais tenra infância, eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo, na garupa, um imenso saco de laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso, alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu, tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor essa distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?
Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!"
Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser!
O que posso falar sobre o que sinto?
O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há alguma palavra que possa alcançar as raízes de nossa angústia? Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.
Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.
Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve.
Fazer uma escolha nem sempre é uma tarefa fácil. Você tem escolhido bem?
Imagine que você se encontra diante de uma decisão importante, que pode mudar toda a sua vida. Alguém se aproxima e lhe diz: "Não há como fugir. Você precisa escolher. Terá de fazer sua opção". Você se sente, então, entre a cruz e a espada. E as circunstâncias se agravam ainda mais se a sua decisão envolver outras pessoas. Em momentos assim, a escolha pode se tornar muito difícil, uma verdadeira arte. Seria muito bom se essas escolhas não comportassem certa carga de angústia. Mas escolher dói, causa inquietação, medo, insônia, porque significa também abrir mão de algo.
Toda escolha implica também uma renúncia. Ao escolher uma estrada, você desiste de caminhar por todas as outras; assim como, ao escolher uma esposa ou um marido, você dispensa todos os outros possíveis candidatos. É a encruzilhada da vida. Mas é isso que torna linda a história, e que a faz única, irrepetível e merecedora do nosso amor, porque amamos não uma vida sem erros, mas uma vida de possibilidades e escolhas.
Escolhemos lutar!
Nós amamos ser livres. E por piores que as opções nos pareçam, mesmo que nos vejamos sem saída, ainda nos resta escolher o que vamos fazer na situação difícil: se vamos lutar ou nos entregar. É, justamente aqui, que jorra uma força, uma energia, um poder, pois um milagre acontece cada vez que alguém se supera e tira o bem de onde os outros só viam maldades ou não viam nada. O céu faz uma festa quando nós nos recusamos a ser escravos da tristeza e da depressão. Deus salta de alegria quando nós escolhemos nos levantar mesmo contra as expectativas de todos a nossa volta.
Se alguém diz a uma pessoa de fé que não existem mais saídas, ela dobra os joelhos, até que uma porta nova se abra. Não o faz por pirraça, mas por amor; porque a fé faz brotar esse sentimento. E o amor nos faz enfrentar todos os problemas – ele [amor] mesmo nos dá a vitória sobre os males. Viver assim é perigoso, é subversivo. Viver assim é comprometer-se, é abraçar a cruz de uma vida levada a sério, vivida sem medo até às últimas consequências. E a morte não tem poder sobre uma vida assim. A dor e o sofrimento jamais terão vitória sobre o amor, porque, quando este se torna a medida de cada decisão, toda morte termina em ressurreição.
As falsas amizades são os maiores obstáculos para o crescimento espiritual
Assim como Deus nos dá amigos para nos conduzir à vida eterna e experimentarmos as realidades do céu, corremos o risco de nos deixar confundir pela falsidade, pelo erro das amizades que podem aparecer para nos desencaminhar da santidade e da verdade. Precisamos pedir o discernimento dos espíritos [cf. I Coríntios 12,10], a fim de analisar se as amizades são de Deus ou não.
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Podemos ter amigos que querem nosso bem e outros que querem o mal. Estes últimos são chamados de falsos amigos. As falsas amizades são as que se fundem em qualidades sensíveis ou frívolas: "Não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas ideias frívolas" (cf. Efésios 4,17), que são uma espécie de egoísmo disfarçado. Essas amizades vivem daquilo que é mundano: "Principalmente aqueles que correm com desejos impuros atrás dos prazeres da carne e desprezam a autoridade" (cf. II Pedro 2, 10).
Três espécies de falsas amizades
São Francisco de Sales distingue três espécies de falsas amizades: as amizades carnais, que atraem pelas paixões carnais e pela devassidão (cf. II Pedro 2, 18) buscando os prazeres voluptuosos; as amizades sensuais, que se prendem ao ver a formosura, ao ouvir uma doce voz, ao tocar; e as amizades frívolas, fundadas em qualidades vãs (festas, bebedeiras etc).
Existem diversos tipos de amigos falsos: os amigos do copo, que se reúnem somente para beber; amigos da prostituição; amigos do furto e roubo; amigos de fofocas; amigos de ganância e interesses; amigos do sexo.
Como podemos identificar a origem dessas falsas amizades?
Partimos da origem: elas começam de maneira repentina e forte, pois parte de uma simpatia, de um instinto, de qualidades exteriores e brilhantes e emoções vivas ou apaixonantes. Seu desenvolvimento: alimentadas por meios de conversas insignificantes, mas afetuosas, outras por meio de conversas muito íntimas e perigosas, por olhares frequentes, por carícias entre outros. Efeitos: são vivas, absorventes e exclusivas, imaginam que serão eternas e seguidas por outras afeições.
Perigos dessas amizades: são os maiores obstáculos para o crescimento espiritual. À medida que os apegos vão crescendo, vai-se perdendo o recolhimento interior, a paz da alma, o gosto dos exercícios espirituais e do trabalho. O pensamento foge, muitas vezes, para o amigo ausente. A sensibilidade toma as rédeas da vontade, a qual se torna fraca. Partindo para os perigos relacionados à pureza.
Devemos fugir dessas amizades por intermédio da aplicação do remédio certo desde o começo, pois assim é mais fácil, porque o coração ainda não está preso. O rompimento deve ser feito de maneira firme e energética. É necessário evitar procurar e pensar na pessoa em questão, e cortar toda espécie de vínculo ou ligação, antes que seja tarde.
"Cortai, despedaçai, rompei; não vos deveis deter a descoser essas loucas amizades, é forçoso rasgá-las; não convém desatai os seus nós, devem-se romper ou cortar" (São Francisco de Sales). Quem se expõe ao perigo acaba por sucumbir.
Família é lugar de acolher a bênção de Deus e multiplicá-la
Essa é uma das mais fundamentais verdades da fé cristã: a família é o privilegiado lugar escolhido por Deus, para aí derramar a sua bênção.
Muito acima do sentido humano de proteção e convivência, ou seja, o papel sociológico, a família é um lugar teológico onde Deus se revela. Nela, o ser humano aprende a crescer segundo o projeto de Deus. A família é lugar de humanização divina.
O ser humano aprende a ser humano dentro da família
"Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens" (cf. Lucas 2,25). Interessante essa anotação, pois, para esse crescimento integral, o próprio Jesus precisou de uma família humana. A bênção divina sobre a família não é somente uma questão espiritual, envolve também o físico e o psíquico. Ninguém é humanamente equilibrado sem alimentar essa tríplice dimensão da existência humana.
O ser humano aprende a ser humano dentro da família. Graça significa alimento do espírito. O ser humano é físico, psíquico e espiritual; contudo, lamentavelmente, muitas famílias se preocupam bastante apenas com a dimensão física – uma ótima casa, conforto, estudo, roupas –, mas se esquecem das outras duas dimensões. Infelizmente, a família não está sendo o lugar dessa bênção de Deus para a afetividade das pessoas.
Família deve ser o lugar onde aprendemos a amar
Se a família é a mais perfeita semelhança de Deus, que é amor e cria ser humano por amor e para o amor, e o cria família, ela tem de ser o lugar onde aprendemos a exercer o amor.
Para ser lugar da bênção de Deus, muitas vezes, não é preciso muita coisa. Pequenos detalhes fazem um grande amor, mas um grande amor não é feito de grandes coisas. Grandes coisas qualquer pessoa faz, tanto para o bem quanto para o mal, se ela estiver no desespero. Agora, fazer, a cada dia, pequenas coisas, de modo extraordinariamente maravilhoso, só quem tem o Espírito Santo de Deus; do contrário, não consegue. E aí está a santidade, esse é o segredo.
Ser uma família cristã no meio do mundo é muito mais do que se dizer católico ou frequentar determinadas práticas religiosas. Ser cristão é adequar nossa vida ao projeto de Deus, ensinado e vivido por Jesus Cristo. Ser cristão é imitar Jesus, especialmente em Sua constante luta por permitir que Deus reinasse neste mundo. Uma família cristã é o espaço privilegiado para se gestar e praticar esse projeto. O casal cristão procura, a dois, realizar esse projeto de vida, e, depois, com todos os seus familiares e nos seus relacionamentos. É uma união de carismas e dons para alcançar uma meta comum.
Sendo uma realidade dinâmica, o matrimônio está aberto à construção e também às feridas que machucam e atrapalham o crescimento da vida familiar. Algumas situações acabam sendo grandes possibilidades de ruptura, mas também podem se transformar em momentos de graça e vida plena.
É preciso aprender a construir a restauração da família.
Texto extraído do livro 'Famílias restauradas', de padre Léo.
A Sagrada Escritura, na carta aos Hebreus capítulo 11 versículo 1, diz que "a fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem". A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele em nós, que nos certifica dos bens vindouros, como a promessa da vida eterna.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que "a fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse, revelou e a Santa Igreja nos propõe a crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, "o homem livremente se entrega todo a Deus". Por isso, o fiel procura conhecer e fazer a vontade d'Ele. "O justo viverá da fé" (Rm 1,17). A fé viva "age pela caridade" (Gl 5,6). (CIC. 1814).
Nessa perspectiva, a Igreja diz que "a fé é, primeiramente, uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o assentimento livre a toda verdade que Deus revelou" (CIC 150). Isso porque "a fé é a resposta do homem a Deus, que se revela e a ele se doa, trazendo, ao mesmo tempo, uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida" (CIC 26). Dessa forma, não é suficiente dizer que temos fé, mas é preciso responder, concretamente, com a vida o que Deus nos revelou, o seu amor e salvação: Jesus Cristo.
Com isso, para que o homem possa entrar em intimidade com Deus, numa experiência pessoal, o próprio Senhor quis "revelar-se ao homem e dar-lhe a graça de poder acolher esta revelação na fé. Contudo, as provas da existência de Deus podem dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à razão humana." (CIC. 35). Pois, como bem explicou o Papa João Paulo II: "a fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade."
O que é ser uma pessoa de fé?
A carta aos Hebreus, no capítulo 11, após acentuar o que é fé, traz também instruções sobre o que é ser uma pessoa de fé.
"É pela fé que compreendemos que os mundos foram organizados por uma Palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas" (Hb 11,3). A pessoa de fé é aquela que crê na existência de Deus, que criou todas as coisas visíveis e invisíveis, e que é Ele o organizador de toda a criação.
"Foi pela fé que Henoc foi arrebatado (…). Antes de ser arrebatado, porém, recebeu o testemunho de que foi agradável a Deus. Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável" (Hb 11,5-6). Uma pessoa de fé é agradável a Deus, porém, deve-se crer não pelos possíveis benefícios a serem recebidos, mas simplesmente por aquilo que Deus é.
"Foi pela fé que Noé, avisado divinamente daquilo que ainda não se via, levou a sério o oráculo e construiu uma arca para salvar a sua família" (Hb 11,7). Ser pessoa de fé é ouvir a Deus e colocar em prática aquilo que aos olhos humanos parece impossível. Assim como Noé, é preciso confiar no anúncio de Deus, que nos é direcionado diariamente.
"Foi pela fé que Abraão, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para uma terra que devia receber como herança, e partiu sem saber para onde ia" (Hb 11,8). Só quem crê, confia. A pessoa de fé obedece e responde a Deus, mesmo sem ter seguranças humanas e materiais, pois, como Abraão, é necessário caminhar na fé rumo à pátria celeste, que é o céu.
"Foi pela fé que também Sara, apesar da idade avançada, tornou-se capaz de ter uma descendência, porque considerou fiel o autor da promessa" (Hb 11,11). A fé nos faz perseverar nas promessas de Deus, que pode até tardar, mas não falha, porque para Deus nada é impossível.
"Foi pela fé que Moisés (…) deixou o Egito, sem temer o furor do rei, e resistiu como se visse o invisível. Foi pela fé que atravessaram o mar vermelho, como se fosse terra enxuta" (HB 11,24.27.29). Uma pessoa de fé acredita no ordinário e extraordinário, que leva a vislumbrar o que não se vê. Já que, também, "foi pela fé que as muralhas de Jericó caíram, depois de um cerco de sete dias" (HB 11,30).
Por fim, no Novo Testamento, o iniciador e consumador da fé, Jesus Cristo, é o exemplo por excelência de uma pessoa de fé, e é n'Ele que nós encontramos a plenitude do que devemos crer e realizar. Assim, é pela obediência da fé ao Cristo que conseguimos dar respostas a Deus. Mesmo sem ver, cremos, pois o próprio Jesus diz: "Felizes aqueles que creem sem ter visto" (Jo 20,29).
O sexo exige o envolvimento da pessoa em sua totalidade
Na sua sabedora milenar, a Igreja não cessa de ensinar que "a sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até a morte." (CIC 2361). Por que o sexo antes do casamento é pecado?
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Este texto do Catecismo nos fornece material suficiente para respondermos essa pergunta. A primeira e mais relevante afirmação é que o ato sexual é próprio dos esposos. Isso por um motivo nobre e justo: tal envolvimento não é puramente biológico, pois envolve a pessoa na sua integralidade. A segunda coisa é que nós homens, seja do ponto de vista biológico ou psicológico, somos completamente diferentes dos animais.
Corpo e alma
Analisemos, no primeiro momento, a diferença entre o animal e o homem no que toca a sexualidade. O animal, em uma relação sexual, quer chegar ao ápice do prazer a todo custo. Ao chegar à satisfação sexual, não lhe interessa quem ele acabou de acasalar. Já o ser humano não quer só chegar ao ápice do prazer sexual, isto é, ao orgasmo, ele quer também a companhia da pessoa. Existe entre ambos uma afetividade. Isso mostra, como ensina a Igreja, que existe algo que transcende o biológico.
Além de tudo isso que acabei de citar, vale recordar que o ser humano possui alma espiritual. Isso implica dizer que, em uma relação sexual, existe o envolvimento da pessoa em sua totalidade, corpo e alma. Esse fato de o ser humano possuir também alma espiritual faz toda a diferença em comparação com os animais. Fica evidente, desse modo, que o ensinamento da Igreja é claro, o sexo deve ser compreendido do ponto de vista espiritual e não meramente biológico. A alma busca felicidade e não mero prazer.
Por isso mesmo, há a insatisfação de muitas pessoas que vivem o sexo de maneira desregrada, pois sempre está lhe faltando alguma coisa, mesmo que tenha sexo diariamente e com mais de uma pessoa. Quando os seres humanos unem seus corpos, igualmente unem suas almas. Aqui está a razão e a necessidade do sacramento do matrimônio. Não podem se unir corporalmente se a alma não está unida por meio do sacramento.
Comprometimento
Outro aspecto muito importante dentro de um relacionamento é o comprometimento. Em uma união sexual, o homem diz para a mulher e a mulher para o homem "sou todo seu, sou toda sua!", mas quando o sexo é vivido fora do matrimônio, essa promessa não passa de uma mentira. Tanto é que, após a relação sexual, ambos se levantam do leito e cada qual vai para sua casa.
Vale ressaltar, dentro de tudo isso que estamos falando, do sentimento que a mulher tem de estar sendo usada. Ao atender pessoas que viveram tais experiências, percebo que esse fato é constante, pois há um forte sentimento de ter sido usada pelo namorado após a relação sexual. Isso a psicologia feminina não perdoa. A mulher, mais que sentir prazer, precisa sentir-se amada. No entanto, como ela vai se sentir amada se, ao término da relação sexual, o amado já não está mais ao seu lado? Surge, então, uma pergunta básica neste momento: "Ele me ama de verdade ou está me usando?". Esse sentimento de estar sendo usada é inevitável quando não se tem o compromisso.
Consequências do amor
A partir disso, vemos que a pessoa só se realiza plenamente dentro do relacionamento sexual se não lhe faltar o ingrediente principal: o amor. O problema é que, muitas vezes, o amor é confundido com sentimento ou algo parecido, quando, na verdade, ele é muito mais que isso, o amor compromete, exige renúncia, desapego e tantas outras coisas.
Quem não está disposto a arcar com as consequência do amor nunca saberá o que é amar verdadeiramente. As pessoas têm sede do amor verdadeiro, o problema é que estão bebendo em fonte errada. Estão buscando o amor no prazer, na satisfação pessoal, mas, infelizmente, não o encontrarão. Quem busca saciar sua sede de amor no prazer, fatalmente, morrerá de sede.
Assim sendo, o sexo antes do casamento é pecado não porque a Igreja proíbe, mas porque fere a natureza humana. O homem, além de ser biológico, é também espiritual. Mais que buscar prazer, ele busca a felicidade; sendo que a felicidade só será encontrada mediante a vivência concreta do amor. Quem buscar no outro somente o prazer nunca saberá o que é amar alguém de verdade.
Reflita sobre o que seriam os votos íntimos que fazemos ao longo da vida
A grande verdade é que muitos de nós já vivemos a realidade de termos feito algum tipo de voto íntimo ou o que muitos chamam de voto secreto ao longo de nossa vida. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres (Jo 8,36).
A primeira coisa importante a saber é do que, de fato, se trata a realidade de um voto íntimo ou voto secreto. Todo voto é um tipo de compromisso, uma aliança, um pacto que estabelecemos diante de uma situação ou até mesmo de uma pessoa. Uma vez estabelecido esse compromisso, essa aliança, acabamos por nos deixar influenciar por eles de alguma forma.
Em geral, votos íntimos estão sempre relacionados a acontecimentos traumáticos da nossa história ou a situações de sofrimentos que vivemos. Por causa desses acontecimentos dolorosos, estabelecemos, conscientemente ou não, uma aliança com aquela situação de dor. Essas situações, de certa forma, deixaram-nos marcas interiores, e, conforme o tempo foi passando, pode parecer até que deixamos esses traumas para trás, que nos esquecemos deles, mas se eles não foram resolvidos interiormente em nós, não conseguiremos ser homens e mulheres plenamente livres.
Memórias do passado
Viveremos o tempo presente, mas com um passado vivo, ferido e permanente dentro de nós. Um passado que, ao ser relembrado, nos traz ainda a mesma dor dos sentimentos e das emoções do tempo em que fomos feridos.
Para nós, que trabalhamos com a realidade da oração de cura e libertação, sabemos que os acontecimentos dolorosos, os sentimentos e emoções são tão reais, hoje, nessas pessoas, quanto o foram no passado quando ocorreram. E isso as faz, de certo modo, escravas do passado.
Essas situações de dor não resolvidas vão nos descaracterizando, ferindo nossa real identidade. Nesses momentos é que estabelecemos os votos íntimos, os quais permanecem dentro do nosso subconsciente. Mesmo guardados ali, estão vivos.
Quando, por algum motivo, em nosso momento presente, vivemos alguma realidade que seja parecida com a situação de dor que vivemos no passado, é como se abríssemos aquela gaveta e experimentássemos tudo de novo, com a mesma intensidade.
Existem pessoas que, quando criança ou adolescente, por exemplo, experimentaram, em casa, a traumática experiência de ver o casamento do seu pai e da sua mãe sendo destruído pelo álcool e pela violência. Aquele adolescente, ao ver sua mãe apanhando do seu pai, disse para si mesmo: "Eu não acredito no casamento! Eu não quero nunca me casar!".
Isso foi, na verdade, um voto intimo, pois a pessoa experimentou toda a dor da violência de seus pais e aquilo lhe feriu interiormente e não foi resolvido; ficou uma ferida. Pode acontecer que, quando essa pessoa crescer e começar a relacionar-se afetivamente com outra, iniciar um namoro, possa perceber que, até determinado ponto do relacionamento, tudo vai bem, mas, quando o relacionamento se tornar mais sério e começarem a conversar sobre um possível casamento, essa pessoa não conseguirá ir para frente com o namoro. Poderá dizer até mesmo que, por algum motivo, deixou de gostar da (o) namorada(o). Na verdade, o que está acontecendo, dentro dela, é que aquela situação de dor não resolvida e guardada, juntamente com aquele voto íntimo que ela fez, dizendo que "nunca se casaria", está vindo para fora novamente. Ela abriu a gaveta da situação dolorosa que a marcou, e agora, de maneira inconsciente, precisa cumprir o voto, o pacto que fez com si mesma. Para isso, precisa terminar o namoro, senão, ele a colocará frente a frente com o matrimônio.
O problema é que há diversos tipos de votos íntimos que vamos fazendo e que podem, realmente, influenciar nossa vida, mas nem percebemos que uma coisa está ligada a outra. Vamos criando pactos íntimos e carregando-os como jugo em nossa vida, como se tivéssemos o compromisso com tal ato!
Nunca diga nunca!
De certa forma, todo voto íntimo pode trazer algum tipo de consequência, principalmente quando está ligado a uma situação de dor, mágoa, tristeza ou decepção. Isso pode refletir mais claramente em nossa vida, por exemplo, quando dizemos:
"Nunca mais vou amar ninguém" "Nunca mais vou confiar em homem/mulher algum" "Nunca vou conseguir engravidar" "Nunca serei feliz com essa pessoa" "Para sempre vou viver essa vida de pobreza" "Não vou conseguir jamais dirigir um carro!" "Eu não presto para nada" "Eu sou muito burro!"
Um outro exemplo é de uma jovem apaixonada por um rapaz e quer muito se casar com ele, mas, por situações adversas, o relacionamento acaba sendo rompido. Essa jovem, ainda apaixonada, diz: "Se eu não me casar com ele, eu não me casarei com mais ninguém".
Nessa afirmação, ela fez um pacto com si mesma, estabelecendo seu voto íntimo. Depois disso, é possível perceber que essa moça somente consegue relacionar-se e apaixonar-se por pessoas erradas ou com rapazes que não queiram se casar com ela. Isso porque, lá no seu subconsciente, relacionar-se com pessoas erradas é uma forma de não conseguir se casar, cumprindo, assim, aquilo que ela determinou para sua vida, que só se casaria com aquele antigo namorado.
Deu para entender? Ficou claro?
Acabamos assumindo esses votos como verdades, as quais ficam guardadas em nosso subconsciente, e, de uma hora para outra, poderão vir à tona, causando-nos grandes prejuízos! Há pessoas que acabam determinando toda a sua vida em cima desses votos íntimos que fizeram; e, às vezes, se veem sem forças para sair dessas situações.
Qual é o caminho para a libertação dos votos íntimos?
O primeiro passo importante é fazermos uma averiguação e identificarmos se, em nossa história de vida, houve momentos de dores, sofrimentos, raivas, mágoas ou tristezas, que nos fizeram intimamente estabelecer um pacto com aquilo que afirmamos contra nós mesmos.
Uma vez que conseguirmos identificar isso, é necessário, agora, que o nosso passado, ainda vivo, seja ressignificado dentro de nós, reescrito. Isso acontece sempre pela luz do Espírito Santo, que nos ajuda a nos reconciliarmos com a nossa própria história, a perdoarmos nós mesmos, perdoar pessoas e até mesmo a necessidade de perdoar o próprio Deus. Esse caminho de reconciliação com nossa própria história é um passo fundamental para a libertação completa.
Após essa reconciliação, é necessário que a oração coloque tudo no seu devido lugar novamente. É preciso, por meio da oração, pedir que o Senhor quebre toda a força que essas palavras possam ter tido sobre nossa vida, pedir que tudo aquilo que nos prendia à força dessas palavras caiam por terra. Será necessário também uma Oração de Renúncia contra esses votos, para que isso seja desvinculado de nossa vida. Assim como, pessoalmente, por causa de situações dolorosas e por meio de palavras, fazemos os votos íntimos, será também por conta da ação do amor de Deus e por meio de nossas palavras que esses votos serão desfeitos.
Depois desses passos, é necessário que tenhamos, agora, a força e a determinação de superarmos o que antes, para nós, seria impossível. Começamos a perceber que, sobre determinadas situações que nos paralisavam, e talvez nos deixem em pânico, temos outros sentimentos e reações. É claro que pode surgir aquele medo ou receio de não conseguirmos, mas podemos ver que haverá uma força para enfrentarmos e superarmos tal situação. Força essa que, antes, achávamos que não tínhamos.
Esse, portanto, é o caminho que precisamos trilhar para nossa completa libertação dos votos íntimos. Que o Espírito Santo o ilumine e inspire.