14 de julho de 2017

Quebrar uma corrente de oração pode me dar azar?

Você já recebeu alguma corrente de oração?

Quem nunca recebeu, em seu celular, pela internet ou mesmo nos bancos das igrejas, a conhecida corrente de oração? Quem nunca recebeu aquela mensagem: "Passe essa oração para no mínimo…?". Falo aqui daquelas correntes em que as pessoas pedem que se propague a devoção a um santo ou um modelo de oração, sob a pena de maldição e desgraças. As pessoas recebem esses tipos de oração e ficam temerosas por não continuarem a corrente.

-Quebrar-uma-Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Sou obrigado ou não a passar esse tipo de oração a diante?

Uma coisa é a corrente de oração por uma pessoa ou uma intenção sadia, ou seja, por alguém que esteja precisando de uma graça da cura de uma doença, um emprego, uma necessidade particular, por exemplo. Não estou falando desse tipo de oração. Jesus ao dizer, "Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,19), declara-nos a importância de nos unirmos em oração para pedir a graça do Pai. Podemos nos unir em oração por uma intenção concreta e real, mesmo quando não conhecemos as pessoas participantes da oração ou não conhecemos a pessoa por quem estamos rezando.

Outra coisa bem diferente são essas correntes ameaçadoras, ou seja, "ameaçam" com certos castigos aqueles que não as seguirem à risca. São orações que prometem desgraças a quem não as fizer ou a quem as interromper temporária ou definitivamente, ou a quem não as repassar. Além disso, procuram sustentar tais ameaças citando falsos exemplos ou testemunhos de pessoas que supostamente as romperam e sofreram punições; esse tipo de ameaça realiza verdadeira "chantagem psicológica".

Em nome de Deus

A oração é instrumentalizada e transformada em superstição, ou seja, em oração pagã. Esse tipo de oração ou superstição tem a intenção de instrumentalizar Deus, como que O obrigasse a cumprir nossos desejos. Fomentam um tipo de oração, a fim de conseguir resultados de modo mágico, fáceis, rápidos e interesseiros, sem considerarem a verdadeira vontade de Deus. Apresentam receitas ou fórmulas mágicas para conseguir resultados em detrimento da própria fé. Promove uma atitude de medo de Deus ao apresentá-Lo como castigador. Difundem uma imagem cada vez mais equivocada do Senhor, obrigam as pessoas a fazer mau uso da oração, desvirtuando-a ou banalizando-a.


Posso ou não quebrar a corrente?

A Igreja não admite que a oração seja instrumentalizada e reduzida a essa espécie de "chantagem psicológica". Mesmo que se admita a boa intenção, a de fazer crescer a devoção a determinado santo, na realidade, é superstição, atribui-se à simples materialidade dessas supostas orações uma eficácia que nelas não existem. Não podemos manipular Deus. Ele não se pauta pela vontade humana nem é um dispensador de milagres conforme nossos interesses.

O cristão não pode promover esses tipos de correntes de oração em nome de Deus, porque se tornam falsos profetas, e ninguém pode ameaçar ninguém em nome de Deus. As ameaças e fórmulas mágicas para conseguir resultados são contrárias à verdadeira fé, por isso, não só comete falta quem cria, envia e difunde essas correntes de oração, mas também quem acredita nelas.

Vincular desgraça ou recompensa a uma determinada corrente de oração é contrário aos ensinamentos da Igreja. Nem prêmio nem condenação decorrem de se participar ou deixar de participar de uma "corrente". O Catecismo nos lembra que "atribuir só à materialidade das orações ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das disposições interiores que exigem, é cair na superstição" (CIC, 2111).

Quebrar a corrente

Ninguém precisa se sentir mal por ignorá-las, quebrá-las. Aconselho que até quebrem esses tipos de correntes de oração, porque elas nos enganam, apresentam uma falsa imagem de Deus, algo que Ele não é, um Deus castigador e ameaçador. A pessoa acaba colocando a confiança na corrente, na materialidade da oração e não em Deus. É por isso que essas "correntes de oração" não merecem nossa credibilidade, e podem ser quebradas.

Quando se encontra no banco de uma igreja, na porta da casa, papéis divulgando essas correntes de oração, lançando maldições; ou mesmo quando recebe via internet essas correntes, não se deve temê-las nem ficar preocupado, mesmo que prometam desgraças para quem não as divulgar. Esses tipos de ameaças, com certeza, não têm lugar na verdadeira religião cristã.


Padre Mário Marcelo

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/quebrar-uma-corrente-de-oracao-pode-me-dar-azar/

12 de julho de 2017

Alma feminina e sua importância para compreender o mundo

A alma feminina e o seus dons para propagar o amor e a esperança

Com muito respeito, alegria e senso de responsabilidade, aceitei esse imenso desafio de, como homem e sacerdote, escrever sobre a realidade da mulher, na certeza de que sua presença agrega um valor inestimável para este mundo. Sua alma é portadora de talentos e dotes capazes de trazer novas cores e esperanças em meio às penumbras de nosso tempo.

Marias, Fernandas, Franciscas ou Bárbaras, cada mulher é um universo particular composto pelo mosaico de suas experiências, aprendizados, dores e alegrias. Há mulheres mais frágeis, outras mais fortes e destemidas, algumas do campo, outras da cidade. Cada uma com uma história diferente, escrevendo, com a caneta da alma, enredos e capítulos muito peculiares na biografia que a existência lhes confiou.

Alma feminina e sua importância para compreender o mundoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

 

Dons femininos

Cada mulher precisa se compreender, enxergar-se e valorizar-se como um verdadeiro dom. Ela não pode se "nivelar por baixo", abrindo mão de sua dignidade em virtude das inseguranças ou de um cárcere de dominação emocional fabricado por carências. Quando uma mulher se permite dominar pelo medo, insegurança ou frustração, e troca sua dignidade pelo desejo de ser aceita e falsamente amada, ela está traindo o propósito divino de felicidade que há sobre sua vida, jogando pelo ralo as inúmeras possibilidades que descansam sobre sua história.

É claro que são muitas as realidades que podem ferir a alma de uma mulher, no entanto, haverá sempre um caminho de regresso para o coração ferido, que se perdeu em busca de afeto e aprovação: haverá sempre a possibilidade de reconstruir a própria história, reencontrando o caminho de virtude e felicidade que o Criador escreveu em cada alma feminina.


Deus, que criou com infinito amor cada mulher, é especialista em compreender os anseios e dilemas presentes em cada alma feminina. Saiba que Ele te entende como você é; e interpreta com exatidão suas lágrimas e os pedidos que, muitas vezes, você não foi capaz sequer de formular, mas que estão presentes em suas emoções, tornando opaca a realidade de seus afetos e motivações.

Enfim, é um pouco disso e muito mais que você encontrará neste meu novo livro.



Padre Adriano Zandoná

Padre Adriano Zandoná é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em Filosofia e Teologia, tem quatro livros publicados pela Editora Canção Nova e participação em dois CDs de oração.

Todas as segundas-feiras, o sacerdote preside a Missa na Catedral Nossa Senhora do Líbano, às 19h30, em São Paulo (SP). A transmissão é ao vivo pela TV Canção Nova. Padre Zandoná apresenta o programa 'Pra ser Feliz' na mesma emissora, todas as quintas-feiras ao meio dia, e também na Rádio América CN AM 1410, todas as quintas-feiras às 13h.

Atualmente, o sacerdote exerce a função de responsável local da Canção Nova em São Paulo (SP) e promove o evento 'Abraça São Paulo'.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/alma-feminina-e-sua-importancia-para-compreender-o-mundo/

10 de julho de 2017

A fofoca gera pessimismo de vida

Entenda por que a fofoca gera pessimismo de vida e um negativismo constante

É muito difícil manter a paz e a serenidade até descobrirmos a paz inquieta. Ela é exatamente o contrário da apatia: provoca-nos as mudanças necessárias e nos ajuda a aceitar o que não pode ser mudado.

A fofoca gera pessimismo de vidaFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Infelizmente, o mundo parece não gostar das coisas boas. Prova disso é o amplo espaço que dá às coisas negativas. Fico muito triste quando vejo as pessoas valorizando somente o que é negativo. Basta olharmos para as manchetes dos jornais e da TV para perceber o quanto o mundo parece gostar do que não presta. Existe uma sede muito grande de fofoca. São os "urubus" sócias, que ficam à espera de algo negativo para poder arladear. Mentiras, fofocas e calúnias. Isso gera pessimismo de vida, um negativismo constante. Com isso, as pessoas não sabem mais sorrir. Vivem se criticando e lamentando-se. Acho que aqui se encontra uma das grandes causas da maioria das doenças.

O motivo da fofoca

Sabemos que existe uma causa para tudo isso. As pessoas que vivem para falar mau das outras, na verdade, estão querendo se esconder por trás de tudo isso. Com medo de que descubram o quanto são infelizes e frustradas, elas procuram comentar a vida alheia, esperando que suas carências e frustrações passem despercebidas. São doentes sociais, não aprenderam a saborear a vida. São carentes e mal-amados; além disso, deixam de buscar auxílio. A fofoca, na verdade, esconde sentimentos negativos plantados no coração dessas pessoas.

Muitos não descobriram a paz inquieta, porque são especialistas em criticar os outros. São aqueles que estão sempre atentos a descobrir o erro alheio e mais prontos ainda para alardear esses erros aos quatro ventos.


A paz inquieta não se consegue por meio de brigas, discussões, ações penais, autodefesa nem tantos outros caminhos que as pessoas nos sugerem. A paz inquieta é fruto de um coração sereno. Ela nos vem pela graça de Deus e pela humildade.

Humildade não é sinônimo de apatia nem roupas velhas ou surradas, é uma atitude de vida, é saber quem somos. Conhecer nossos defeitos, limitações e lutar para mudar o que pode ser mudado. Isso exige um coração curado.

Pela cura interior, o Espírito Santo molda nosso coração, tornando-o semelhante ao coração de Jesus Cristo. É um processo lento e progressivo. Exige que sempre fiquemos atentos às moções do Espírito, que sempre procuremos nos alimentar com a Palavra de Deus e com os sacramentos que o Espírito Santo presenteou a Igreja, especialmente o sacramento da Eucaristia e da reconciliação.

A cura interior nos ensina que viver é como nadar contra a corrente. Não podemos parar nunca. Por isso precisamos sempre ter objetivos bem-definidos para nossa vida. Quem sabe para onde vai não se detém diante de críticas injustas. A cura interior nos ajuda também a discernir o valor da crítica positiva e construtiva. Ela nos revela que todos somos passíveis de erros e falhas e nos ajuda a aceitar tudo isso como um grande processo de amadurecimento.

Padre Léo


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/a-fofoca-gera-pessimismo-de-vida/

7 de julho de 2017

Solidariedade: é preciso considerar a importância do outro

O valor da solidariedade

Viver a solidariedade é indispensável para possibilitar que as práticas políticas recuperem a sua inteireza. É necessária uma limpeza nos mais variados mecanismos de funcionamento da política, e de forma urgente.

A solidariedade, por ser um valor capaz de requalificar, permite reconstruir o esgarçado tecido da cidadania. Por isso, em todos os momentos, em diferentes sociedades, é indispensável fazer referência, propor iniciativas e refletir sobre a solidariedade. No coração da prática solidária está o princípio fundamental e inegociável da consideração para com o outro.

-Solidariedade:-é-preciso-considerar-a-importância-do-outro-Foto: STILLFX by Getty Images

O apóstolo Paulo faz essa recomendação, estabelecendo esse valor como fundamento da identidade daquele que tem fé. Explica o apóstolo: exemplar é o gesto de Deus ao oferecer à humanidade o que tem de mais precioso, seu filho Jesus, o Salvador. Assim, Deus antecipa-se no gesto de reconciliação com o ser humano, deixando a lição fundamental de que é preciso reconhecer a importância do outro. Esse "outro" é você, eu, cada um de nós. Esse princípio tem força de equilíbrio, pois conduz a civilização na direção humanística que permite superar crises.

Semear a solidariedade

Embora, muitas vezes, reconheça-se o valor da solidariedade, sabe-se que não é tão simples plantar e fazer florescer essa convicção nos corações. Na política, por exemplo, em vez de se investir nos gestos solidários, prevalece a crença de que avanços diversos dependem de conchavos, ideologias partidárias ou simplesmente das promessas nunca cumpridas. Contenta-se assim com ensaios de lucidez, insuficientes para atender aos urgentes anseios do povo, principalmente de quem é mais pobre. Falta, pois, na sociedade brasileira, um tecido solidário de qualidade.

Quase sempre, o que se verifica no Brasil é um discurso de autoelogio sobre certas práticas dedicadas aos outros. Em "alto e bom som", há os que proclamam que a cultura latina e a brasilidade têm na solidariedade um valor inerente. Fazem referências desdenhosas a outras culturas marcadas pela objetividade, interpretando essa característica como "frieza". Mas, na prática, isso serve apenas para aliviar as consciências de pessoas que não se doam ou se contentam em fazer tímidas doações a projetos sociais.

Amar o outro como a si mesmo

Ora, isso é bem diferente do que ensina o princípio apresentado pelo apóstolo Paulo – considerar a importância do outro. O apóstolo adverte que a liberdade, quando se torna pretexto para buscar o que satisfaz, mas não convém, provoca desastres. Incapacita a competência humana e espiritual de amar ao outro como a si mesmo. O resultado é nefasto, diz o apóstolo: "Se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros!". Paulo indica o caminho a seguir: "Fazei-vos servos uns dos outros, pelo amor".

Ao trilhar esse percurso e reconhecer o valor da solidariedade, colabora-se com a construção de uma cultura que contemple fortes sentidos de pertencimento, patriotismo e apurada sensibilidade humana, que se desdobra em gestos e ofertas mais generosas. Quem se faz servo apura a própria visão da realidade e consegue ouvir os clamores de quem necessita de ajuda.

Vivenciar a solidariedade

Por isso mesmo, urgente e prioritário, neste momento em que a sociedade brasileira precisa sair da crise, é reconhecer que a solidariedade é determinante nas dinâmicas sociais. Isso não é uma simples reflexão teórica, mas indicação de uma exigência moral com força transformadora, pois possibilita o surgimento de atitudes que estão na contramão das violências que dizimam, das corrupções que sucateiam e da perda da percepção de que todos são destinatários, igualmente, de condições dignas.


A solidariedade é, pois, princípio social e virtude moral. Vivenciá-la é investir na edificação de um contexto novo e melhor. Sem esse princípio e virtude, não se conquistam os ordenamentos sociais almejados. As relações pessoais continuarão comprometidas e em processo crescente de deterioração. E um perverso ciclo é alimentado, pois as pessoas se tornam cada vez mais distantes das estruturas dedicadas à solidariedade. Com isso, por ignorância, são perpetuadas regras e leis, que são inumanas e pesadas.

Praticar

Para além de um sentimento qualquer de compaixão vaga e superficial, a solidariedade tem o valor de despertar e criar o gosto imperecível pelo bem comum. E todo cidadão, para ser eterno aprendiz do valor da solidariedade, tem de praticá-la, diariamente, permanentemente.

Esse exercício exige considerar a importância do outro, abrir os olhos e os ouvidos para nunca ser indiferente às dores do mundo, lutar para sair das zonas de conforto e deixar-se incomodar pelos sofrimentos da humanidade. Uma postura que requer, inclusive, a disposição para tirar do próprio bolso quantias a serem destinadas a projetos sociais e ações solidárias. Pois, a sociedade estará na direção de superar seus descompassos e a cidadania se qualificará quando prevalecer o inestimável valor da solidariedade.

5 de julho de 2017

Por que devo fazer o sinal da cruz quando passo por uma igreja?

Conheça a importância do sinal da cruz para o cristão

O sacrifício de Jesus Cristo é o sinal maior do amor de Deus por nós. Para que pudéssemos nos ver livres do pecado, Aquele que viveu livre dele foi condenado e crucificado, e, em Seu sacrifício, traçou sobre o mundo o sinal da cruz. Nas Palavras do Papa Francisco, "a cruz de Jesus é a nossa única esperança verdadeira! Eis por que a Igreja 'exalta' a santa cruz, e eis por que nós cristãos abençoamos com o sinal da cruz". Podemos ler, nos Evangelhos de Lucas e Mateus, o convite dirigido a nós por Jesus: "Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz" (Mt 16,24 e Lc 9,23). Traçar sobre nosso corpo esse sinal é professar nossa fé sem palavras.

Porque devo fazer o Sinal da Cruz quando passo por uma IgrejaFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Em que momentos podemos ou devemos fazer o sinal da cruz?

Na celebração da Santa Missa, em observância ao rito litúrgico, há momentos em que o sinal da cruz se apresenta como obrigatório, como se faz no início e ao fim da celebração. Também é traçado o sinal da cruz em reverência à leitura do Evangelho, com o polegar da mão direita, sobre si mesmo, na testa, na boca e no peito. Nesses momentos, ao traçar sobre o corpo o sinal da cruz, que se faça com a devida devoção, eis que é na sagrada liturgia que se opera a santificação dos homens e na qual, por meio de sinais sensíveis, prestamos o culto público de Deus. E a todo momento, em nosso cotidiano, ao professar a fé pelo sinal da cruz, lembremo-nos das palavras de São Paulo: "De fato, Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo, pois a linguagem da cruz é louca para aqueles que se perdem. Mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus" (1Cor 1,17-18).

Professar a fé sem palavras é expressão sutil e humilde de devoção e não deve ser empregue sem a adequada veneração, sob o risco de fazê-lo de modo supersticioso. Com efeito, não há obrigatoriedade em traçar o sinal da cruz ao passar por uma igreja, o que não diminui seu significado. É que, no Cerimonial dos Bispos, no número 110, verifica-se a citação de uma antiga prática cristã no uso da água benta, que diz: "Seguindo louvável costume, todos, ao entrar na igreja, molham a mão na água benta, contida na respectiva pia, e fazem com ela o sinal da cruz, como recordação do seu próprio batismo". Daí, verifica-se o costume de muitas pessoas em traçar o sinal da cruz ao entrar na igreja, que, em sinal de respeito e devoção, foi se estendendo para o exterior do templo, até que tomou a forma que vemos muitos cristãos praticarem atualmente, de traçar sobre si o sinal da cruz ao passar na frente de uma igreja.


Faça o sinal da cruz

Certos de que a força de Deus nos acompanha em nossas provações diárias, façamos do sinal da cruz um gesto de fortalecimento e profissão de fé, atentos para que sempre que o traçarmos, seja com o coração repleto de devoção. Como nos ensina o Santo Papa João Paulo II: "Quem quer que seja que acolha Deus em Cristo, acolhe-O mediante a cruz. E quem acolheu Deus em Cristo, exprime isso mesmo mediante esse sinal: quem O aceitou, efetivamente, benze-se com o sinal da cruz sobre a fronte, sobre os ombros e sobre o peito, para manifestar e para professar que, na cruz, encontra-se de novo totalmente a si mesmo, alma e corpo, e que com este sinal abraça e aperta ao peito Cristo e o seu reino".

REFERÊNCIAS

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.

PAPA FRANCISCO. Angelus. 14 set. 2014. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2014/documents/papa-francesco_angelus_20140914.pdf>

PAPA JOÃO PAULO II. Palavras no final da via-sacra. 4 abr. 1980. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1980/april/documents/hf_jp-ii_spe_19800404_via-crucis.html>

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Cerimonial dos Bispos. Cerimonial da Igreja.

3 de julho de 2017

Cirurgia plástica é pecado?

Existem muitas dúvidas sobre a cirurgia plástica ser um pecado

A insatisfação com o corpo pode gerar distúrbios; na pressa para emagrecer, muitas mulheres querem fazer cirurgia plástica para resolver o "problema".

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Foto: 12577267,  webphotographeer, Istock by getty images

Estou com autoestima baixa, por isso preciso fazer cirurgia plástica

O verão está chegando e a preocupação com o corpo vai se intensificando. Olhar no espelho e deparar-se com qualquer imperfeição é desesperador. Aprender a conviver com a frustração de não gostar da própria imagem é um desafio. Atualmente, numa sociedade pós-moderna, a busca frenética pelo corpo perfeito tem aumentado. Fazer cirurgia plástica, por exemplo, virou moda pela sua capacidade de construir corpos esculturais. Mas será que a procura desenfreada por esses procedimentos tem sido benéfica?

Quando o assunto é cirurgia plástica, é necessário verificar a necessidade com cuidado e, se possível, com o acompanhamento de um psicólogo, que comprove se tal ato será determinante para sua autoestima. Às vezes, essa realidade é só a ponta do iceberg, a exteriorização de insatisfações muito maiores.

Como ter um corpo saudável e bonito?

A beleza física da mulher engloba boa alimentação, exercícios físicos, hidratação da pele e cuidados exteriores. Isso tudo, de modo geral, é interessante, porque melhora a saúde. Com a saúde melhor, a mulher vai ter uma estética agradável. Mas é necessário tomar cuidado com os exageros, para que não se tornem vícios e, consequentemente, doenças psicológicas. Mulher, esteja atenta para que algo bom não se torne ruim, porque a vida precisa ser vivida com responsabilidade, foco e leveza.

Acordar cedo e enfrentar os exercícios de academia não é algo que gera prazer na maioria das pessoas. A decisão de encarar a malhação após o trabalho tende a ser uma boa alternativa, porém, o desgaste enfrentado durante o dia – reuniões, cuidados com as crianças, almoço e trânsito – pode ser desmotivador. O cansaço, depois dessa maratona, tende a impedir a vontade de malhar. E o que tem se tornado comum é a procura por "dietas milagrosas".


A nutricionista Michelle Barros aconselha as mulheres a procurarem um profissional antes de começar qualquer tipo de dieta. "Hoje, são muito comuns vários tipos de regimes que prometem 'milagres' para a perda de peso, na busca pelo corpo perfeito, esquecendo-se dos efeitos nocivos que essas dietas causam no organismo de mulher como: infertilidade, desmotivação, perda severa de nutrientes, distúrbios alimentares e até depressão."

O que a Igreja diz sobre cirurgia plástica?

A preocupação com o peso ideal e a beleza refletida no corpo tem levado muitas mulheres a terem transtornos alimentares, autoestima baixa e complexo de inferioridade. A Igreja não condena cirurgias estéticas, mas, como mãe, orienta a julgar com liberdade, caso a caso, de maneira que a moralidade da cirurgia plástica deve ser avaliada de acordo com a virtude da temperança, que é a capacidade de moderação.

A vida e a saúde física são bens preciosos doados por Deus. Devemos cuidar delas com equilíbrio, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum. […] Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz dela um valor absoluto, insurgindo-se contra uma concepção neopagã, que tende a promover o culto do corpo. […] A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso (Catecismo da Igreja Católica 2288, 2289 e 2290).

Segundo padre Wagner Ferreira, doutor em Teologia Moral, a intervenção cirúrgica depende de cada caso, sobretudo quando se fala da saúde física e psíquica. "Se a pessoa quer fazer uma cirurgia após outra apenas por questões estéticas, para atender a essa ideologia do 'culto ao corpo', é claro que é imoral. No entanto, às vezes, a pessoa está com a autoestima baixa e a saúde psíquica comprometida, sentindo-se inferiorizada por causa de determinada parte do corpo; neste caso, pode-se fazer a intervenção, mas, antes de tudo, é preciso um caminho que mostre a essa pessoa que a sua beleza está acima da estética. A pessoa deve ter consciência de que ela não é escrava de uma cultura de beleza, a qual, muitas vezes apresentada como padrão determinado por uma economia, quer vender cosméticos, cirurgias, um corpo bonito e assim por diante", diz o sacerdote.

A Igreja orienta seus fiéis a cuidarem do corpo com zelo e equilíbrio. Portanto, você que enfrenta a insatisfação com si mesma e deseja passar por procedimentos cirúrgicos, esteja atenta para não se deixar levar pelo culto ao corpo, lute para alcançar a virtude da temperança, que o ajudará no discernimento e nas escolhas a serem feitas. A Palavra de Deus diz: "Não vos conformeis com este mundo, mas transforma-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito" (Rm 12,2).

Rezemos juntas: "Senhor Jesus, eis-me aqui, suplicando a Tua misericórdia. Submeto ao Teu domínio as insatisfações físicas que trago comigo e que me aprisionam. Eu quero ser livre e me sentir linda como eu sou. Amém".

 


29 de junho de 2017

Um fenômeno chamado Papa Francisco

Francisco, o Papa de todos

"O primeiro Papa latino-americano e primeiro religioso jesuíta escolhido para o ministério petrino já visitou 27 países e inaugurou um novo contato com os fiéis pelas redes sociais"

"O Papa Francisco é um fenômeno!" A frase dita por Bento XVI, na ocasião em que encontrou alguns cardeais da Cúria Romana, em 2014, ilustra a força da presença de Francisco nestes quatro anos e três meses de pontificado. O Papa argentino deu início ao ministério petrino, no dia 19 de março de 2013, ao receber o Pálio e o anel de pescador. E lá se foram mais de 1550 dias intensos, seguidos por gente do mundo inteiro, simpatizantes ou não.

-Um-fenômeno-chamado-Papa-Francisco-Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Um Pontífice da era digital, que sabe navegar e levar a voz da Igreja aos cinco continentes por meio do Instagram, Twitter e sites vaticanos. Sua conta no Instagram, Franciscus, em cinco idiomas, por exemplo, conta com 5 milhões de seguidores. Ele também inaugurou uma forma nova de falar com os fiéis gravando vídeos no celular, que são viralizados nas redes.

"Igreja pobre para os pobres"

Uma Igreja missionária, de portas abertas, que vá às periferias reais e existenciais é a maior insistência de Francisco. "Como gostaria de uma Igreja pobre para os pobres!", já exclamou em diversas ocasiões. Um "plano de pontificado"2, que desponta em seus discursos e atitudes.

Exemplo são as viagens internacionais que já somam 19, sendo a 27 países. Dentro da Itália, Francisco visitou 16 cidades e se encontrou com milhares de fiéis. Todas permanecerão para a história. Um destaque certo, no entanto, tem a viagem ao Brasil, por ser a primeira de seu pontificado, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013. A visita a Cuba e aos Estados Unidos, em setembro de 2015, ocorreu dois meses após restabelecimento das relações diplomáticas, processo que Francisco participou.

União e paz

Antes de chegar ao México, em fevereiro de 2016, o Papa se encontrou com o Patriarca russo ortodoxo Kirill (no aeroporto de Havana), sendo o primeiro encontro entre os líderes das duas igrejas após o cisma de 1054. A visita relâmpago à ilha Grega de Lesbos, onde se encontrou com refugiados de países em guerra como a Síria, também desponta em seu pontificado. O Papa levou para morar em residencias cedidas pelo Vaticano 12 desses refugiados.

Em visita à Armênia, Francisco gerou polêmica reconhecendo como "genocídio", a morte de cerca de 1,5 milhões de armênios que viviam no império otomano durante a 1ª Guerra Mundial. Afirmação que trouxe admiração dos armênios e duras críticas da Turquia.

Em comunhão com os pontificados precedentes, é um incansável propagador da paz. A jornada de oração pela paz, ocorrida no Vaticano em junho de 2014, com presença do então presidente de Israel, Shimon Peres, e o líder palestino, Mahmoud Abbas, significa um marco neste campo. O Pontífice acompanhou de perto, por exemplo, as negociações de paz entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias (Farc), e em setembro deste ano visitará o país.

Reforma

A palavra mais dita nos últimos anos pela mídia a respeito de Francisco é reforma. Embora não seja novidade, mas sim um processo de continuidade com o pontificado anterior, Francisco ganha o mérito de mudanças significativas no campo administrativo da Cúria Romana.

Para esse fim, criou o Conselho de Cardeais, chamado popularmente de C9, um grupo de purpurados que se reúne para analisar e propor as mudanças necessárias. Nesse contexto, seguem também as medidas de máxima transparência as ações do "Banco Vaticano", o Instituto para as Obras de Religião (IOR). Aliás, transparência também é um empenho do Papa nos últimos tempos, para evitar informações errôneas e manipuladas pela mídia.

Espaço às mulheres e entrevistas

Em questão de novidade, Francisco trouxe uma séria reflexão sobre o papel das mulheres na Igreja. Criou uma comissão oficial para estudar a questão do diaconato das mulheres. Autorizou também a criação de uma comissão, abrigada pelo Pontifício Conselho para a Cultura, composta por 37 mulheres, que têm o papel de propor reflexões e mudanças.

Unindo novidade à transparência, Francisco lida com facilidade com os meios de comunicação, falando de assuntos polêmicos de modo franco e aberto. Acessível aos jornalistas, durante os voos papais, ele responde a perguntas livres. Em 4 anos de pontificado, já é recordista no número de entrevistas concedidas a TVs, jornais, rádios e até meios de comunicação universitários.

Um Papa de acentuado bom humor

Por fim, uma característica que faz recordar o grande Papa São João XXIII: o bom humor. Um sorriso largo e fácil recebe sempre os peregrinos que se encontram com Francisco. Os telefonemas "surpresa", que faz muitos desligarem "na cara do Papa" por não acreditar ser verdade, são momentos hilários.

As histórias engraçadas da infância e situações vividas durante o serviço à Igreja argentina já renderam muitas risadas. Em uma ocasião, uma senhora, que acreditava ser afligida por uma grande provação, perguntou-lhe o que fazer para que seu filho de 33 anos arrumasse emprego, se casasse e construísse a própria vida. Sem exitar, Francisco respondeu: "Isso é fácil, e só a senhora deixar de lavar e passar a roupa dele".

Contato com o povo

Há e haverá, certamente, muito o que dizer de Francisco, mas, assim como o Papa emérito Bento XVI deu o tom do início do texto, é dele também a ideia final. Segundo Ratzinger3, o que mais caracteriza o Pontífice argentino é o tempo e a atenção que dispensa ao povo, a maneira como se relaciona com a multidão, aperta as mãos, olha nos olhos e anuncia um Deus misericordioso.

1 https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/bento-xvi/papa-francisco-e-um-fenomeno-diz-bento-xvi/

2 http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/documents/papafrancesco_20130316_rappresentanti-media.html

3 Livro "Bento XVI: As últimas conversas" de Peter Seewald

Para aprofundar os temas tratados neste artigo, acesse a página especial Francisco, no noticias.cancaonova.com

Liliane Borges
Jornalista e Missionária da Comunidade Canção Nova, trabalhou na cobertura de dois conclaves em Roma. Ela também acompanhou o funeral do Papa João Paulo II e o pontificado de Bento XVI. Atualmente, trabalha no Departamento de Jornalismo Canção Nova, onde é responsável pela cobertura dos eventos com o Papa Francisco e a Igreja no Brasil.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/um-fenomeno-chamado-papa-francisco/