Francisco, o Papa de todos
"O primeiro Papa latino-americano e primeiro religioso jesuíta escolhido para o ministério petrino já visitou 27 países e inaugurou um novo contato com os fiéis pelas redes sociais"
"O Papa Francisco é um fenômeno!" A frase dita por Bento XVI, na ocasião em que encontrou alguns cardeais da Cúria Romana, em 2014, ilustra a força da presença de Francisco nestes quatro anos e três meses de pontificado. O Papa argentino deu início ao ministério petrino, no dia 19 de março de 2013, ao receber o Pálio e o anel de pescador. E lá se foram mais de 1550 dias intensos, seguidos por gente do mundo inteiro, simpatizantes ou não.
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
Um Pontífice da era digital, que sabe navegar e levar a voz da Igreja aos cinco continentes por meio do Instagram, Twitter e sites vaticanos. Sua conta no Instagram, Franciscus, em cinco idiomas, por exemplo, conta com 5 milhões de seguidores. Ele também inaugurou uma forma nova de falar com os fiéis gravando vídeos no celular, que são viralizados nas redes.
"Igreja pobre para os pobres"
Uma Igreja missionária, de portas abertas, que vá às periferias reais e existenciais é a maior insistência de Francisco. "Como gostaria de uma Igreja pobre para os pobres!", já exclamou em diversas ocasiões. Um "plano de pontificado"2, que desponta em seus discursos e atitudes.
Exemplo são as viagens internacionais que já somam 19, sendo a 27 países. Dentro da Itália, Francisco visitou 16 cidades e se encontrou com milhares de fiéis. Todas permanecerão para a história. Um destaque certo, no entanto, tem a viagem ao Brasil, por ser a primeira de seu pontificado, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013. A visita a Cuba e aos Estados Unidos, em setembro de 2015, ocorreu dois meses após restabelecimento das relações diplomáticas, processo que Francisco participou.
União e paz
Antes de chegar ao México, em fevereiro de 2016, o Papa se encontrou com o Patriarca russo ortodoxo Kirill (no aeroporto de Havana), sendo o primeiro encontro entre os líderes das duas igrejas após o cisma de 1054. A visita relâmpago à ilha Grega de Lesbos, onde se encontrou com refugiados de países em guerra como a Síria, também desponta em seu pontificado. O Papa levou para morar em residencias cedidas pelo Vaticano 12 desses refugiados.
Em visita à Armênia, Francisco gerou polêmica reconhecendo como "genocídio", a morte de cerca de 1,5 milhões de armênios que viviam no império otomano durante a 1ª Guerra Mundial. Afirmação que trouxe admiração dos armênios e duras críticas da Turquia.
Em comunhão com os pontificados precedentes, é um incansável propagador da paz. A jornada de oração pela paz, ocorrida no Vaticano em junho de 2014, com presença do então presidente de Israel, Shimon Peres, e o líder palestino, Mahmoud Abbas, significa um marco neste campo. O Pontífice acompanhou de perto, por exemplo, as negociações de paz entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias (Farc), e em setembro deste ano visitará o país.
Reforma
A palavra mais dita nos últimos anos pela mídia a respeito de Francisco é reforma. Embora não seja novidade, mas sim um processo de continuidade com o pontificado anterior, Francisco ganha o mérito de mudanças significativas no campo administrativo da Cúria Romana.
Para esse fim, criou o Conselho de Cardeais, chamado popularmente de C9, um grupo de purpurados que se reúne para analisar e propor as mudanças necessárias. Nesse contexto, seguem também as medidas de máxima transparência as ações do "Banco Vaticano", o Instituto para as Obras de Religião (IOR). Aliás, transparência também é um empenho do Papa nos últimos tempos, para evitar informações errôneas e manipuladas pela mídia.
Espaço às mulheres e entrevistas
Em questão de novidade, Francisco trouxe uma séria reflexão sobre o papel das mulheres na Igreja. Criou uma comissão oficial para estudar a questão do diaconato das mulheres. Autorizou também a criação de uma comissão, abrigada pelo Pontifício Conselho para a Cultura, composta por 37 mulheres, que têm o papel de propor reflexões e mudanças.
Unindo novidade à transparência, Francisco lida com facilidade com os meios de comunicação, falando de assuntos polêmicos de modo franco e aberto. Acessível aos jornalistas, durante os voos papais, ele responde a perguntas livres. Em 4 anos de pontificado, já é recordista no número de entrevistas concedidas a TVs, jornais, rádios e até meios de comunicação universitários.
Um Papa de acentuado bom humor
Por fim, uma característica que faz recordar o grande Papa São João XXIII: o bom humor. Um sorriso largo e fácil recebe sempre os peregrinos que se encontram com Francisco. Os telefonemas "surpresa", que faz muitos desligarem "na cara do Papa" por não acreditar ser verdade, são momentos hilários.
As histórias engraçadas da infância e situações vividas durante o serviço à Igreja argentina já renderam muitas risadas. Em uma ocasião, uma senhora, que acreditava ser afligida por uma grande provação, perguntou-lhe o que fazer para que seu filho de 33 anos arrumasse emprego, se casasse e construísse a própria vida. Sem exitar, Francisco respondeu: "Isso é fácil, e só a senhora deixar de lavar e passar a roupa dele".
Contato com o povo
Há e haverá, certamente, muito o que dizer de Francisco, mas, assim como o Papa emérito Bento XVI deu o tom do início do texto, é dele também a ideia final. Segundo Ratzinger3, o que mais caracteriza o Pontífice argentino é o tempo e a atenção que dispensa ao povo, a maneira como se relaciona com a multidão, aperta as mãos, olha nos olhos e anuncia um Deus misericordioso.
1 https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/bento-xvi/papa-francisco-e-um-fenomeno-diz-bento-xvi/
2 http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/documents/papafrancesco_20130316_rappresentanti-media.html
3 Livro "Bento XVI: As últimas conversas" de Peter Seewald
Para aprofundar os temas tratados neste artigo, acesse a página especial Francisco, no noticias.cancaonova.com
Liliane Borges
Jornalista e Missionária da Comunidade Canção Nova, trabalhou na cobertura de dois conclaves em Roma. Ela também acompanhou o funeral do Papa João Paulo II e o pontificado de Bento XVI. Atualmente, trabalha no Departamento de Jornalismo Canção Nova, onde é responsável pela cobertura dos eventos com o Papa Francisco e a Igreja no Brasil.
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/um-fenomeno-chamado-papa-francisco/