26 de junho de 2017

A esperança é o combustível da vida

Entenda por que a esperança é o combustível da vida

A esperança corresponde à aspiração de felicidade existente no coração de cada pessoa. Interessante observar que quem perde a esperança mais profunda perde o sentido de sua vida; sem esperança, viver não tem sentido. O próprio antônimo dessa palavra é desespero, ou melhor, a perda quase que em estado definitivo da esperança. E esse desespero é capaz de corroer o coração.

A-esperança-é-o-combustível-da-vidaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

A esperança é a vacina contra o desânimo e contra a possibilidade de invasão do egoísmo, porque, apoiados nela, dedicamo-nos à construção de um mundo melhor. A perda da esperança endurece nossos sentimentos, enfraquece nossos relacionamentos, deixa a vida cinza, fazendo-a perder parte do seu sabor. Porém, todos os dias, somos atingidos por inúmeras situações que podem nos desesperar.

A esperança é o combustível da vida, e a forma de mantê-la viva é não prender os olhos nas tragédias, pois, a cada desgraça que contemplamos, corremos o risco de perder o combustível. Existe, na mitologia grega, a presença de uma figura interessante: uma ave chamada fênix, que, quando morria, entrava em autocombustão; passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. A fênix, o mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Revestida de penas vermelhas e douradas, as cores do sol nascente, possuía uma voz melodiosa, que se tornava triste quando a morte se aproximava.

A impressão causada em outros animais por sua beleza e tristeza chegava a lhes provocar a morte. Nossa vida passa por esse processo várias vezes num único dia, ou seja, sair das tragédias para contemplar a beleza que não morreu, a vida que existe ainda, como fazia essa ave mitológica. Alguns historiadores dizem que o que traria a fênix de volta à vida seria somente o seu desejo de continuar viva. Depois de completar quinhentos anos, elas perdiam o desejo de viver e aí, se morressem, não mais reviviam. O desejo de continuar a viver era sua paixão pela beleza, que é a vida.

Vida sem esperança perde o sabor

Vida sem sabor é vida sem perspectivas. Quem cansou de tentar, cansou de lutar e desistiu de tudo, uma vida que apenas espera o seu fim, por pensar que nada que se faça pode mudar coisa alguma. Quem perdeu a capacidade de sonhar, viu o desejo de felicidade confundiu-se com a utopia. Felizmente, não existe motivo para desanimar, lembrando as palavras de São Paulo: "A esperança não decepciona" (Rm 5,5). Não falamos aqui de qualquer esperança, mas da autêntica esperança, que não se apoia em ilusões, em falsas promessas, que não segue uma ilusão popular em que tudo se explica.

A esperança verdadeira, vinda de Deus, é uma atitude muito realista, que não tem medo de dar às situações seu verdadeiro nome e tem sempre Deus como fator principal. Não tem medo de rever as próprias posições e mudar o que deve ser mudado.

À medida que perdermos ilusões e incompreensões, temos o espaço real no qual pode crescer a esperança, que nada mais é do que a certeza de que tudo pode ser melhor do que aquilo que já vemos. O desejo de caminhar na direção da vida, atraídos pela sua beleza, que no momento pode somente ser sonhada, é contemplada pelo coração.


O homem pode ser resistente às palavras, forte nas argumentações, mas não sobrevive sem esperança. Ninguém vive se não espera por algo bom, que seja bem melhor do que aquilo que já conhece, já possui ou já experimentou. Deus alimenta nossa vida por meio da esperança!

23 de junho de 2017

Como fazer com que a espiritualidade se torne parte do nosso dia?

A espiritualidade precisar ser um exercício diário de fé e reconhecimento da presença de Jesus

Cultivar a espiritualidade ainda não faz parte do cotidiano de muitas pessoas. Pouco se compreende que esse exercício é um pilar determinante na sustentação da interioridade e de uma qualificada participação na vida social. Por isso, muitas dinâmicas estão comprometidas. Ilusoriamente, pensa-se – talvez por forças de secularismos, excesso de racionalizações ou imediatismos – que a espiritualidade é opcional, mais apropriada para alguns mais devotos. Na verdade, a espiritualidade é indispensável para sustentar a vida de todos em parâmetros qualificados. Assim, um permanente desafio é estar em sintonia com o que diz o salmista nas Sagradas Escrituras: "Desde a minha concepção me conduzistes, e no seio maternal me agasalhastes. Desde quando vim à luz vos fui entregue, desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus".

A humanidade, mesmo emoldurada por diferentes manifestações confessionais e religiosas, não prioriza o hábito de cultivar a espiritualidade. As consequências são o comprometimento da vida, com equívocos nos critérios que regem discernimentos e escolhas, a prevalência da mediocridade na emissão de juízos e nas iniciativas que deveriam corresponder à dignidade própria do ser humano, na sua inteireza. A cultura da dimensão espiritual no cotidiano significa reconhecer a presença de Deus no lugar que Lhe é próprio, conforme ensina o salmista, em oração: "Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança, em vós confio desde a minha juventude. Sois meu apoio desde antes que eu nascesse, desde o seio maternal, o meu amparo. Vosso louvor transborda nos meus lábios, cantam eles vossa glória o dia inteiro. Não me deixeis quando chegar minha velhice, não me falteis quando faltarem minhas forças. Eu, porém, sempre em vós confiarei, sempre mais aumentarei vosso louvor".

Como-fazer-com-que-a-espiritualidade-se-torne-parte-do-nosso-diaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O exercício da espiritualidade

O lado espiritual não é apenas uma parte da existência. Trata-se de alicerce para a vida, cultivado pelo desenvolvimento da competência de se contemplar, isto é, tornar-se capaz de mergulhar no sentido mais profundo de cada ser, de cada criatura, superando superficialidades. E a oração é, por excelência, a experiência do exercício da espiritualidade. Causa empobrecimento considerar a oração como um recurso de poucos, para momentos passageiros de aflições maiores. As preces possibilitam o enraizamento de si mesmo na verdade e na fonte do amor que é Deus. Tertuliano, reconhecido escritor dos primeiros anos da era cristã, destaca a força da oração, ao comentar: "nos tempos passados, a oração livrava do fogo, das feras e da fome. Agora, a oração cristã não faz descer o orvalho sobre as chamas, ou fechar a boca de leões, nem impede o sofrimento. Mas, certamente vem em auxílio dos que suportam a dor com paciência, afasta as tentações, faz cessar as perseguições, reconforta os de ânimo abatido, enche de alegria os generosos, acalma tempestades, detém ladrões, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam e confirma os que estão de pé".

A oração possibilita ao humano experimentar o deserto de seu próprio ser. Leva-o a reconhecer sua condição solitária e pobre, para explicitar sua dependência de Deus. O lado espiritual de cada pessoa é que lhe permite assumir e conquistar a humanidade verdadeira e integral. Na espiritualidade, cultiva-se o silêncio que faz da própria vida um ouvir determinante, gera-se a competência para o diálogo que promove a cultura do encontro e quebra, com propriedade, a rigidez da mesquinhez.  A experiência espiritual qualificada é que nos permite cultivar e aproveitar os nossos dons, edificando a unidade interior básica, que permite a inteireza moral e existencial. Quando se compromete essa unidade, a conduta pessoal sofre com reflexos negativos. E o caminho da espiritualidade, que possibilita uma condição humana qualificada, não pode ser trilhado apenas com a própria força, nem mesmo unicamente com a luz da razão. Trata-se de percurso impulsionado pelo Espírito Santo, que está presente em cada um dos que cultivam a abertura para receber seus dons.


A humanidade carrega um fardo pesado por não compreender a importância de cultivar a espiritualidade. Por isso, o cidadão contemporâneo fica moralmente enfraquecido gerando os descompassos que degradam o mundo. Assim, o investimento para transformar a realidade exige, de cada um, cultivar o lado espiritual. Eis o caminho que é fonte de soluções para os muitos problemas enfrentados pela humanidade.

21 de junho de 2017

Por que devo estudar o Catecismo da Igreja Católica?

O Catecismo da Igreja Católica é o instrumento da missão que Jesus Cristo nos deixou

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) é o texto que a Igreja Católica Apostólica Romana apresenta a seus fiéis, a fim de que conheçam a doutrina católica e, com base nesta fonte segura e fiel, possam elaborar os catecismos locais. De modo mais particular, o texto permite aos cristãos que se adentrem profundamente na riqueza da fé, para que assim possam conhecer a verdade, "e a verdade os libertará" (cf. Jo 8, 32). O CIC, desejado e sugerido pelo Sínodo dos Bispos de 1985, foi elaborado por uma comissão de doze Cardeais e Bispos em um trabalho que durou seis anos, e foi presidido pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, o qual, em 2005, se tornaria Papa Bento XVI.

A catequese representa o esforço cristão para dar cumprimento à missão que Jesus Cristo nos deixou: fazer discípulos em seu nome, transmitindo seus ensinamentos e a doutrina cristã (Mt 28,19-20). Para tanto, o CIC se apresenta como instrumento para o desempenho da missão de ensinar o povo de Deus, destinando-se, primeiramente, aos responsáveis pela catequese, que são, em primeiro lugar, os bispos, enquanto doutores da fé e pastores da Igreja; e, por meio dos bispos, aos sacerdotes e catequistas.

Por que devo estudar o catecismo da Igreja CatólicaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Quais são os conteúdos do CIC?

No prólogo do Catecismo da Igreja Católica, lemos que sua finalidade é apresentar uma exposição organizada e resumida dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do Concílio Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja. É que o XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, conhecido como Concílio Vaticano II, teve como objetivo principal a defesa e difusão da doutrina cristã. No discurso de abertura do Concílio, o Santo Papa João XXIII deixou claro que "o que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz".

Ainda em observância ao Concílio Vaticano II, em outubro de 2002, o Papa João Paulo II convocou o Congresso Catequético Internacional para comemorar o décimo aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, no qual foi considerada a urgência de um Catecismo breve para todos os fiéis, com a redação de uma síntese autorizada, segura e completa. Certamente, era necessário que esse texto refletisse fielmente o Catecismo da Igreja Católica, no que diz respeito aos aspectos essenciais da fé e da moral cristãs.


Desta forma, mais uma vez foi confiada ao Cardeal Joseph Ratzinger a missão de presidir os trabalhados dos quais resultaria o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Pouco mais de dois anos depois, agora o já Papa Bento XVI apresentava o Compêndio em um discurso no qual ensinava que o texto reflete fielmente o Catecismo da Igreja Católica, que permanece tanto a fonte em que se inspira para compreender melhor o próprio Compêndio, como o modelo para o qual olha incessantemente, em vista de encontrar a exposição harmoniosa e autêntica da fé e da moral católica, e como o ponto de referência, para a elaboração dos catecismos locais.

Compreensão da doutrina cristã

Atualmente, tanto o Catecismo da Igreja Católica, que mantém sua autoridade e importância, quanto o Compêndio, no qual se encontra uma síntese fundamental de educação na fé, estão disponíveis, íntegra e gratuitamente, no site oficial da Santa Sé, no qual se reforça seu caráter de texto confiável e fiel à doutrina cristã. Devemos estar atentos para que dúvidas superficiais não enfraqueçam nossa fé. Por mais que os questionamentos em nosso coração possam soar ao longe de início, o desconhecido é um obstáculo incômodo no caminho da salvação. Não há mal em questionar. A busca pelo conhecimento, de coração aberto e humilde, aproxima-nos da verdade da fé e, esteja certo, que encontrará resposta. Cremos na Igreja de Jesus Cristo.

Referências

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. In textos fundamentais. Arquivo do Vaticano. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c3_142-184_po.html>

JOÃO PAULO II. Constituição Apostólica Fidei Depositum para a publicação do Catecismo da Igreja Católica redigido depois do Concílio Vaticano II. 11 out. 1992. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_constitutions/documents/hf_jp-ii_apc_19921011_fidei-depositum.html>

PAPA JOÃO XXIII. Discurso na abertura solene do ss. Concílio Vaticano II. 11 out. 1962. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-xxiii/pt/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council.html>

JOÃO PAULO II. Carta ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pela elaboração do "Compêndio do Catecismo da Igreja Católica". 2 fev. 2003. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/2003/documents/hf_jp-ii_let_20030307_ratzinger.html>

PAPA BENTO XVI. Apresentação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. 28 jun. 2005. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/june/documents/hf_ben-xvi_spe_20050628_compendium.html>

19 de junho de 2017

É preciso vivenciar o Evangelho em sua profundidade e radicalidade

Não quero um Evangelho fácil

Olhando para o Evangelho deste tempo, a liturgia nos apresenta o Evangelho de São Mateus: são normas, leis e vida para entrar no Reino de Deus. Nós sabemos que Jesus não tem meio-termo: Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não (cf. Mt 5,37).

Muitos interpretam a Palavra do Senhor de qualquer jeito, mas Ele é firme, radical e sem meio-termo. Para entrar no Reino de Deus, precisamos viver o Evangelho na sua profundidade e moldar nossa vida de acordo com a vida de Jesus.

É-preciso-vivenciar-o-Evangelho-em-sua-profundidade-e-radicalidadeFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O único Evangelho é o do Reino de Deus. Jesus é o Rei, o Senhor, a autoridade máxima. Jesus é e está no centro do Evangelho, que é Cristocêntrico. Em contraposição, temos visto um Evangelho cujo centro é o homem, um evangelho para o homem, um evangelho humano, antropocêntrico. Torna-se, assim, um tipo de propaganda, de oferta tentadora, na qual se faz abatimento e se abrem facilitações para o freguês. Levam um evangelho de múltiplas vantagens para quem o aceitar, afirma monsenhor Jonas Abib.

Evangelho fácil

Hoje, o mundo tem medo das palavras de Jesus, porque elas incomodam, trazem luz às trevas, denunciam e libertam. O povo quer um Evangelho fácil, querem que as palavras de Jesus se adaptem àquilo que vivem e não querem se adaptar ao Evangelho. Muitos estão vivendo a impureza, deixando-se ser moldados pelas paixões e pelos prazeres sexuais, alegando que hoje não têm como viver a pureza, e que todos somos fracos. Mas o Senhor nos fala que bem-aventurados são os puros de coração, porque verão Deus!

Outros querem viver a ganância, porque a vida fácil é melhor, querem seres ricos, não querem sofrer, não têm misericórdia para com seu semelhante e querem viver a lei do olho por olho, dente por dente. O Senhor, no entanto, nos fala: "Bem-aventurados os que têm um coração de pobre. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Não julgueis, e não sereis julgados".

Ficam dizendo que não é tudo isso que Jesus quis dizer e que Ele não era tão radical como pregam por aí, como a Igreja fala e os cristãos querem viver. No entanto, nós não podemos viver um Evangelho de meia medida!

Conversão

Querem ouvir somente que Deus é amor e misericórdia, mas não querem se converter. O amor e a misericórdia não estão separados, e a conversão é uma busca radical pelo Senhor. A noção de conversão é expressa de maneira muito concreta por meio do verbo "voltar", ou seja, voltar para o Senhor com todo o coração, retomar o caminho das suas veredas. Porém, a conversão se dá numa vida de busca do Senhor, de renúncias das coisas que levam ao pecado, na vivência do Evangelho. Jesus precisa passar a ser o centro da nossa vida!

Claro que todos nós continuamente estamos em processo de conversão, isto é, dessa volta para o Senhor. Precisamos dizer que não queremos outra vida, a não ser seguir a voz do Senhor, fazer a vontade d'Ele, mesmo que venhamos a ser criticados, perseguidos, pois a vida é garantida para quem busca o Senhor Deus como o coração em uma vida nova.

Queremos uma vida diferente daquela que antes vivíamos. É uma adesão radical por Jesus, uma mudança de comportamento, de falar e agir; esse é o processo de conversão pelo qual precisamos passar. Mas ninguém muda da noite para o dia, passa também pela paciência, pelo recomeçar todos os dias, pela mudança diária e, principalmente, pela vida de oração e a busca do Senhor e abandono da vida velha.

Viver o Evangelho

Efetivamente, a nossa fé não é uma ideologia, mas a adesão ao Nosso Senhor Jesus Cristo. É o próprio Senhor que o declara: "Convertei-vos a mim!". O profeta Joel explica e justifica esse convite: "Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo", e ele mesmo, por sua vez, compreende e perdoa.


Não podemos ser cristãos que buscam as coisas fáceis e algo como mágica. Estamos numa geração de cristãos que não querem ser radicais no seguimento a Jesus. É difícil viver o Evangelho radical neste mundo; contudo, não podemos desistir. Por isso, estou incentivando você, leitor, a não desistir do nosso Deus, a lutar pela santidade e pela vida autêntica de cristão. Vivamos o Evangelho na sua profundidade e radicalidade.

15 de junho de 2017

Quando o inesperado bate à nossa porta

Precisamos aprender a viver intensamente cada momento

No nosso cotidiano, envolvidos nas tarefas e nas situações do dia a dia, sempre nos esquecemos de algumas coisas básicas, até nos depararmos com o inesperado. Muitas vezes, nós nos envolvemos tanto com as tarefas, que acabamos nos esquecendo de Deus, dos irmãos, e de que a nossa vida é finita. Vivemos como se o nosso tempo aqui fosse infinito; e, assim, perdemos tempo. Deixamos de amar aqueles que nos cercam.

Foto: ImagineGolf, 17329893 , iStock photos by gett image

A finitude do nosso tempo faz com que nos esforcemos para aproveitar o tempo de vida de que dispomos e não deixemos passar em vão ocasiões e momentos irrepetíveis. Cada minuto de nossa vida, ao lado das pessoas que conhecemos e amamos, é único e precisa ser aproveitado com toda a sua intensidade. Cada encontro com o outro é uma oportunidade que não volta a se repetir.

Uma experiência com o inesperado

Em 2002, vivi a experiência do inesperado bater à minha porta, quando meu irmão sofreu um grave acidente de carro e, em fevereiro de 2004, foi para junto de Deus. No ano do acidente, posso dizer que tive a graça de aproveitar breves momentos, intensamente.

Ele morava em Araguaína (TO) e eu estava na missão de Natal (RN). Ele foi para casa de férias, no fim de ano, mas, devido à missão, eu não pude ir. Como somos pernambucanos, ele estava a poucas horas da cidade onde eu estava, e, na hora de voltar para sua cidade, ele mudou a rota e passou, em plena madrugada, na minha casa, para matarmos um pouco as saudades. Essa foi a última vez que eu vi o meu irmão com vida. Foram poucos minutos, mas vividos com intensidade, vividos como únicos e irrepetíveis.


Hoje, compreendo que a consciência de nossa finitude nos dá oportunidade para concentrarmos a atenção no essencial. Dá-nos oportunidade de entendermos que cada pessoa é única e irrepetível. Ensina-nos a não pararmos nas diferenças, mas olharmos a individualidade de cada um como riqueza. Ensina-nos a sairmos de nós mesmos para servir o outro, para amarmos o outro. Ensina-nos a viver cada momento como único.

Assim, conseguimos viver o tempo presente como ele deve ser vivido, colocando nossas preocupações em Deus e nos concentrando na essência da vida: amar e servir. Precisamos aprender a viver intensamente cada momento. Aprender a não nos deixarmos levar pelas tarefas e atividades do cotidiano, para não deixarmos passar em vão os momentos de encontro com o outro, a não deixarmos passar em vão as oportunidades para amar.

14 de junho de 2017

Conheça a história da Festa de Corpus Christi

Conheça a origem da Festa de Corpus Christi

Todas as quintas-feiras, depois da oitava de Pentecostes, a Igreja celebra a festa de Corpus Christi, mas nem sempre foi assim. Vejamos, então, como essa festa tomou a proporção que ela tem hoje.

A origem da Festa de Corpus ChristiFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

História

Uma primeira coisa a saber é que não existe registo do culto ao Santíssimo Sacramento fora da Missa no primeiro milênio. Nesse período, a Eucaristia ministrada fora da Missa era somente para os doentes.

A partir do segundo milênio, no entanto, por meio de um movimento eucarístico, cujo centro foi a Abadia de Cornillon, fundada em 1124, pelo Bispo Albero em Liége, na Bélgica, podemos constatar costumes eucarísticos: exposição e bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante sua elevação na Missa e, consequentemente, a festa do Corpus Christi.

A Solenidade em honra ao Corpo do Senhor – "Corpus Chisti" –, que hoje celebramos na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Santíssima Trindade, é oficializada somente em 1264 pelo Papa Urbano IV.

Como bem sabemos, Deus costuma se revelar aos humildes e pequenos, e Ele se utilizou de uma simples jovem para lhe revelar a festa de Corpus Christi.  Segundo os registros da Igreja, Santa Juliana de Cornillon, em 1258, numa revelação particular, teria recebido de Jesus o pedido para que fosse introduzida, no Calendário Litúrgico da Igreja, a Festa de Corpus Domini.

Santa Juliana nasceu, em 1191, nos arredores de Liège, na Bélgica. Essa localidade é importante, e, naquele tempo, era conhecida como "cenáculo eucarístico". Nessa cidade, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa.

Tendo ficado órfã aos cinco anos de idade, Juliana, com a sua irmã Inês, foram confiadas aos cuidados das monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont Cornillon. Mais tarde, ela também uma monja agostiniana, era dotada de um profundo sentido da presença de Cristo, que experimentava vivendo, de modo particular, o Sacramento da Eucaristia.

Com a idade de 16 anos, teve a primeira visão. Via a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. Compreendeu que a lua simbolizava a vida da Igreja na Terra; a linha opaca representava a ausência de uma festa litúrgica, em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

Durante cerca de 20 anos, Juliana, que entretanto se tinha tornado priora do convento, conservou no segredo essa revelação. Depois, confiou o segredo a outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: Eva e Isabel. Juliana comunicou essa imagem também a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liége. Mais tarde, a Jacques Pantaleón, que, no futuro, se tornou o Papa Urbano IV. Quiseram envolver também um sacerdote muito estimado, João de Lausanne, pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre aquilo que elas estimavam.

Foi precisamente o Bispo de Liége, Dom Roberto de Thourotte, que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e das suas companheiras, e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Christi na sua diocese, precisamente na paróquia de Sainte Martin. Mais tarde, também outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais. Depois, tornou-se festa nacional da Bélgica.

A festa ficou conhecida

Dessa forma, a festa foi crescendo cada vez mais, e outros bispos faziam a mesma coisa em sua diocese. Tomou tal proporção, que veio a tornar-se não só uma festa do território da Bélgica, mas sim de todo o mundo. Sendo que, a festa mundial de Corpus Christi foi decretada oficialmente somente, em 1264, seis anos após a morte de irmã Juliana, em 1258, com 66 anos.

Na cela onde jazia, foi exposto o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana faleceu contemplando, com um ímpeto de amor, a Jesus Eucaristia, por ela sempre amado, honrado e adorado.

Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada, em 1599, pelo Papa Clemente VIII.  Como vimos, ela morreu sem ver a procissão de forma mundial.

Depois da morte do Papa Alexandre IV, foi eleito o novo Papa, o cardeal Jacques Panteleón. Naquela época, a corte papal era em Orvieto, um pouco ao norte de Roma. Muito perto dessa localidade fica a cidade de Bolsena, onde, em 1264, aconteceu o famoso Milagre de Bolsena.


Em que consiste esse milagre? Um padre da Boemia, Alemanha, que tinha dúvidas sobre a verdade da transubstanciação, presenciou um milagre. Durante uma viagem que fazia da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a Santa Missa na tumba de Santa Cristina, na cidade de Bolsena, Itália, no momento da consagração, viu escorrer sangue da Hóstia Consagrada, banhando o corporal, os linhos litúrgicos e também a pedra do altar, que ficaram banhados de sangue.

O sacerdote, impressionado com o que viu, correu até a cidade de Orvieto, onde morava o Papa Urbano IV, que mandou a Bolsena o Bispo Giacomo, para ter a certeza do ocorrido e levar até ele o linho ensanguentado. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. O Pontífice foi ao encontro do Bispo até a ponte do Rio Claro, hoje atual Ponte do Sol. O Papa pegou as relíquias e mostrou à população da cidade.

O Santo Padre, movido pelo pelas visões de Santa Juliana, pelo prodígio e também a petição de vários bispos, fez com que a festa do Corpus Christi se estendesse por toda a Igreja por meio da bula Transiturus de hoc mundo, em 11 de agosto de 1264. Esses fatos foram marcantes para se estabelecer a festa de Corpus Christi.

A morte do Papa Urbano IV, em 2 de outubro de 1264, um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no concílio geral de Viena, em 1311, ordenou mais uma vez a adoção desta festa. Em 1317, foi promulgada uma recompilação das leis por João XXII e assim a festa foi estendida a toda a Igreja.

Foi assim que a festa de Corpus Chisti aconteceu, tendo como testemunho estes dois fatos: as visões de Santa Juliana e o milagre eucarístico de Bolsena.

13 de junho de 2017

Bíblia: uma junção do ato humano e divino

Na Bíblia, temos o sagrado que une o ato humano e a ação divina

A princípio, parece uma coisa óbvia dizer que a Bíblia é um livro, ou melhor, uma coleção de livros, e que, como tal, são para serem lidos; mais do que óbvio, é a entendermos como literatura. No entanto, quando se trata das Sagradas Escrituras, nem sempre a coisa é simples, porque a Bíblia é, para nós, a Palavra de Deus.


Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Por ser Palavra do Senhor, a Igreja venera a Bíblia profundamente. O que acontece, muitas vezes, é que as pessoas entendem de modo equivocado o fato de a termos como Palavra de Deus e de a venerarmos como tal. Acabam, então, por um respeito fora da normalidade, tendo medo de ler a Bíblia.

Destaque para a Palavra de Deus

Eu acho bacana quando chego em uma casa e a Palavra de Deus está aberta, geralmente num lugar de destaque. A pessoa tem aquela Bíblia grande, ilustrada e a coloca na sala, aberta. Isso é bem bonito! É muito importante dar destaque à Palavra de Deus, e a Igreja nos incentiva a fazer isso. No entanto, grande parte dessa pessoas ficam com medo ou respeito excessivo e não a leem. Por isso quero comentar sobre a Bíblia como literatura.

Para ficar mais fácil, vamos separar as palavras: Bíblia e Sagrada. "Bíblia" significa um conjunto de livros, e como já dissemos, livro é para ser lido. Ato humano. E a outra palavra "Sagrada", segundo o dicionário, é algo relativo às coisas divinas, algo santo, separado. Ato divino. Percebemos aí o que Deus quer: a união do divino com o humano.


Ato humano e ação divina

Na composição da Bíblia Sagrada, temos, no momento da redação dos livros, a mão humana, mas também, e principalmente, a inspiração divina, que é o que torna a Bíblia algo sagrado para nós. Temos aí essa junção do ato humano e da ação divina.

Fazemos o que cabe a nós no ato humano da leitura dos textos; e Deus faz o Lhe cabe, enviando-nos Seu Espírito Santo, que nos ilumina e encaminha nessa leitura.

A Igreja nos ensina que a graça de Deus é oferecida a todo ser humano, mas que para produzir seu efeito é necessário que haja a cooperação humana. É o que a Igreja chama de livre adesão do homem à graça divina. Assim também o é com a Bíblia. Para que a Palavra de Deus, em toda sua sacralidade, e para que o ato divino aconteça em nós, precisamos realizar o ato humano da leitura dos textos.

Fique com Deus. Até a próxima.