1 de março de 2017

Por que fazer jejum?

A prática do jejum nos ajuda a estarmos prontos para a renúncia

Não existe uma forma menos "sofrida" de adquirir a virtude da temperança? São João Cassiano (370-435) explica por que é necessário que o corpo sofra um pouco. A razão é muito simples: não é possível cometer o pecado da gula sem a cooperação do corpo. E isso é evidente, já que os anjos, por exemplo, não podem pecar por gula, no sentido próprio da palavra. Ora, se é com o corpo que acontece o pecado, o combate à doença da gastrimargia só pode acontecer caso o corpo entre na luta. Por isso, deve-se fazer jejum. Esses dois vícios [a gula e a luxúria], por não se consumarem sem a participação da carne, exigem, além dos remédios espirituais, a prática da abstinência.

Por que fazer jejum

Não basta o propósito do espírito

Na verdade, para quebrar os seus grilhões, não basta o propósito do espírito (como acontece em relação à ira, à tristeza e às outras paixões que, sem afligir o corpo, a alma sozinha consegue vencer), mas é imprescindível a mortificação corporal pelos jejuns, as vigílias e os trabalhos que levam à contrição, podendo-se acrescentar também a fuga das ocasiões insidiosas. Sendo tais vícios oriundos da colaboração da alma e do corpo, não poderão ser vencidos sem ambos se empenharem nesse processo. Nós, medíocres que somos, não temos a maturidade necessária para a santidade, por isso não seríamos capazes de nos manter em ordem, naquele equilíbrio que "tempera" a vida, sem o auxílio do jejum. Com o jejum somos capazes de rechaçar as incursões hostis da sensualidade e libertar o espírito para que se eleve a regiões mais altas, onde possa ser saciado com os valores que lhes são próprios. É a imagem cristã do homem quem exige esses voos.

Fazer jejum não é passar fome

Devemos estar prontos para a renúncia e a severidade de um caminho que termina com a instauração da pessoa moral completa, livre e dona de si mesma, porque um dever natural nos impulsiona a ser aquilo que devemos ser por definição. Nunca é demais insistir no fato de que o jejum não nasce de corações ressentidos e que odeiam a vida. A Igreja e seus santos sempre reconheceram a bondade fundamental desta vida e dos alimentos que a sustentam. Um santo não é um faquir, e o ideal ascético cristão nunca foi o de deitar numa cama de pregos ou engolir cacos de vidro. Desde o Novo Testamento, a Igreja sempre condenou o "destempero" dos santarrões e das suas seitas. Jejuar não é simplesmente passar fome. Se assim o fosse, a anorexia das modelos seria virtude heroica e os famélicos da história poderiam ser canonizados. Mas a simples fome não santifica ninguém. Para que dê o seu fruto, o jejum deve ser acompanhado de uma atitude espiritual adequada, pois a doença espiritual que desejamos curar é, seja permitida a redundância, espiritual.


A intenção não é detalhe

O pecado não está no alimento, mas no desejo. São Doroteu de Gaza (século VI) explica isso a partir de uma comparação com o casamento. O ato sexual realizado por um devasso pode ser externamente idêntico ao de um esposo, mas sua natureza é completamente diferente. Nos atos humanos, a intenção não é um mero detalhe.

Assim também é na alimentação. O homem sadio e o homem que sofre de gastrimargia podem comer os mesmos alimentos nas mesmas quantidades, mas somente o doente comete idolatria. Quando, diante dos alimentos, nos esquecemos de Deus e começamos a desejar o nosso próprio bem, mais do que a glória de Deus, geramos uma desordem no nosso próprio ser.

(Trechos extraído do livro "Um olhar que cura – Terapia das doenças espirituais" pag. 64 a 69) de Padre Paulo Ricardo)


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/por-que-fazer-jejum/

27 de fevereiro de 2017

Em busca da felicidade

A sede de felicidade foi colocada em nosso coração pelo próprio Deus

Um jovem rico procurou o Filho de um carpinteiro, que não vinha da capital judaica, mas sim da província do norte da Galileia, que era muito pobre. Esse jovem perguntou a Jesus: "Mestre, o que devo fazer para ter a vida eterna, a felicidade, a paz?

Em busca da felicidade
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Centenas de jovens vão, todos os meses, da Europa para a Índia. Se você lhes perguntar por que eles estão deixando os países deles para uma terra de tantos miseráveis e desconfortos, eles dirão: "Viemos aqui em busca da paz e felicidade. Diga-nos aonde devemos ir. Queremos ir a uma casa de retiros dos hindus. Diga-nos a que guru devemos procurar".

O jovem rico que buscava incessantemente a felicidade

Era exatamente isso que aquele jovem rico pedia a Jesus. Vocês sabem muito bem a resposta, pois acreditam na Doutrina Católica. O jovem rapaz declarou ao Senhor que, desde que se lembrava, havia tentado ser bastante religioso, acreditava em toda a doutrina da religião e ainda assim era infeliz. Isso é o que muitas pessoas dizem no dia de hoje: "Eu tentei tudo e ainda não sou feliz. Ainda busco a felicidade no meu coração".

Apesar de todo esforço daquele jovem para ser bom e religioso, ele ainda era infeliz. Diz a Palavra: Jesus o amou. Por quê? Por causa da humildade, por ele ter dito que precisava de Deus na vida dele, pois ainda não conseguia encontrar a paz em seu coração.

Nós encontramos muitas pessoas como esse rapaz rico que diz: "Padre, apesar de ter uma casa muito bonita, carro, tudo que o mundo pode lhe oferecer, ainda assim sou muito infeliz".

Cristo disse para aquele jovem rico: Você tentou tudo e ainda assim fracassou. Mas há apenas uma coisa que você precisa fazer: vender tudo o que tem e seguir-me. Ou seja, o Senhor afirmou ao jovem: Largue isso, porque constitui um obstáculo para uma vida feliz e em paz. Ou há alguma coisa que está tomando o lugar de Deus na sua vida?


No caso daquele rapaz, o que estava tomando o lugar de Deus na vida dele era o apego às riquezas. Em nosso caso, pode ser um amigo, que é mais importante para nós do que nossa família; pode ser nosso trabalho, que é mais importante para nós do que ficar em casa. Há na vida de cada um de nós, alguma coisa que nos está bloqueando de chegar mais perto de Deus. Essa coisa que está tomando o lugar do Altíssimo no centro da nossa vida.

Jesus não disse ao jovem que ele tinha uma vida ruim, mas talvez não tinha um bom sistema de valores, visto que criaturas estavam tomando o lugar do Criador na vida dele. É isso que Santo Agostinho dizia: "Oh, Deus, quão maravilhoso Tu és e eu me voltei para criaturas que se tornaram mais importantes do que o Senhor, Deus Todo-poderoso".


Todas as pessoas que vieram até Jesus buscando a felicidade, uma nova vida, Ele não lhes disse: "Você tem de acreditar nessas doutrinas aqui". O que Jesus fala? "Siga-me". O Cristianismo não é só uma questão de obedecer aos mandamentos, cumprir uma doutrina, mas seguir uma Pessoa, seguir Jesus Cristo. Acima de tudo, fazer d'Ele o centro da nossa vida.

Não há limite para Deus fazer milagres na sua vida, basta reconhecer Jesus como único líder religioso do mundo, o qual afirmou: "Eu sou a única verdade, o único caminho, a única vida". Amém!

Padre Rufus Pereira


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/em-busca-da-felicidade/

24 de fevereiro de 2017

O grande valor da comunhão espiritual

A comunhão espiritual é o caminho para as pessoas que não podem recebê-la sacramentalmente na Missa

A comunhão espiritual é um ato de desejo interior, consciencioso e sério, de receber a Sagrada Comunhão e, mais especificamente, de se unir ao Senhor. Ela pode ser feita por palavras ou por pensamentos interiores que nos levam a uma íntima união com Cristo, e Jesus não deixará de nos conceder as suas copiosas bênçãos.
Nos dias de hoje, pode-se fazer, com frequência, a comunhão espiritual como desejo de maior união e intimidade com Deus ao longo dos dias da nossa vida. Ela é e pode ser o único meio de união e intimidade com Deus para quem, por exemplo, não guardou uma hora de jejum eucarístico, vive numa situação de irregularidade perante a Igreja ou pratica outra religião.

Caminho para quem não pode recebê-la na Missa

A comunhão espiritual é o caminho para as pessoas que não podem recebê-la sacramentalmente na Missa, "mas podem recebê-la espriritualmente" na hora santa, ao entrar em uma igreja, quando estiver em casa ou no trabalho, ou nas situações de dificuldade pelas quais se passa na vida. "Senhor, que de Vós jamais me aparte" (Jo 6,35), pois, "Quem come deste pão viverá eternamente" (Jo 6,58).

É bom cultivar o desejo da plena união com Cristo através da prática da comunhão espiritual, recordada por João Paulo II e recomendada por santos mestres de vida espiritual (SC,55). Uma visita ao Santíssimo Sacramento é uma boa oportunidade para se fazer essa comunhão.

Documentos da Igreja

Um dos melhores meios para os divorciados recasados participarem ativamente da comunidade cristã é, segundo o ensinamento da Igreja, a comunhão espiritual.

Que o magistério reconheça a relação entre a graça e a comunhão espiritual que se deduz especialmente do convite que a mesma Igreja faz aos divorciados recasados de unir-se a Cristo pela comunhão espiritual.

Mais ainda: "Os fiéis devem ser ajudados na compreensão mais profunda do valor da participação ao sacrifício de Cristo na Missa, da comunhão espiritual, da oração, da meditação da Palavra de Deus, das obras de caridade e de justiça" (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos,1994, n.6).

"A prática da comunhão espiritual, tão querida à tradição católica, poderia e deveria ser em maior medida promovida e explicada para ajudar os fiéis a melhor se comunicarem sacramentalmente, quer para servir de verdadeiro conforto a quantos não podem receber a comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo, quer por várias razões. Pensamos que esta prática ajudaria as pessoas sozinhas, em particular os deficientes, idosos, presos e refugiados. Conhecemos afirmam os bispos do Sínodo – a tristeza de quantos não podem ter acesso à comunhão sacramental devido a uma situação familiar sem conformidade com o mandamento do Senhor (cf. Mt 19, 3-9). Alguns divorciados que voltaram a casar-se aceitam com sofrimento o fato de não poderem receber a comunhão sacramental e oferecem-no a Deus. Outros não compreendem esta restrição e vivem uma frustração interior. Reafirmamos que, mesmo com irregularidade na sua situação (cf. CIC 2384), vocês não estão excluídos da vida da Igreja. Pedimos-lhes que participem na Santa Missa dominical e que se dediquem assiduamente à escuta da Palavra de Deus para que ela possa alimentar a sua vida de fé, caridade e partilha" (Mensagem da XI Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus. Cidade do Vaticano, 21 de outubro de 2005).

A Exortação Apostólica pós-sinodal "Sacramentum caritatis", de 22 de fevereiro de 2007, confirma: "Mesmo quando não for possível abeirar-se da comunhão sacramental, a participação na Santa Missa permanece necessária, válida, significativa e frutuosa; neste caso, é bom cultivar o desejo da plena união com Cristo, por exemplo, através da prática da comunhão espiritual, recordada por João Paulo II (170) e recomendada por santos mestres de vida espiritual" (171) SC,55).

Na teologia

É importante, segundo o padre G. Muraro redescobrir a doutrina do desejo do sacramento – através da comunhão espiritual – para continuar a presença de Jesus na vida dos divorciados. Ele apela ao antigo princípio, segundo o qual o caminho sacramental não esgota todos os caminhos da graça.

O lugar teológico de referência para entender este caminho alternativo se encontra em Santo Tomás, o qual trata da comunhão espiritual.

Segundo a explicação de Santo Tomás, a realidade do sacramento pode ser obtida antes da recepção ritual do mesmo sacramento, somente pelo fato que se desejar recebê-lo (cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologicae, III, q. 80,a, 4).

O valor da comunhão espiritual como caminho extrasacramentário da graça encontra apoio no fato de que a Igreja "com firme confiança, crê que, mesmo aqueles afastatos do mandamento do Senhor e que vivem agora neste estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação se perseverarem na oração, na penitência e na caridade FC 84" (cf. G. Muraro, I divorziati risposati nella comunitá cristiana, Cinisello Balsamo, Paoline,1994 in Sc. Catt. art. cit. 564-565).

Dom Edvaldo, enfatizando o valor e o bem da comunhão espiritual, encoraja os casais em segunda união e os aconselha a fazer esta comunhão na Santa Missa, devidamente dispostos e desejosos de receber o Corpo de Cristo por uma oração sincera. Se sua fé e amor for tão intenso e apaixonado, é possível talvez que eles obtenham maior proveito espiritual do que aqueles que, por rotina e sem piedade alguma, recebem a sagrada hóstia em nossas celebrações sem nenhuma convicção e adequada preparação espiritual.

Pe Luciano Scampini
Sacerdote da paróquia N. S. Aparecida, da Arq. Campo Grande


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-grande-valor-da-comunhao-espiritual/

20 de fevereiro de 2017

Namoro, um envolvimento sem pular etapas

Muitos hoje pulam as etapas do namoro e vão para a cama sem mesmo conhecer quem está ao lado

Nós só enxergaremos o que Deus traz para nós se estivermos puros; da mesma forma, nós só viveremos um bom relacionamento se formos puros, pois a impureza desfigura nossos relacionamentos. Quando, no namoro ou no casamento, damos espaço para a impureza, afastamo-nos de Deus.

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Foto: skynesher, 19970184, by iStock getty images

Uma vez, ouvi alguém dizer que o sexo é como uma coceirinha que temos de coçar. Logo me lembrei de um rapaz que conheci, ele tinha uma mancha branca na perna, que coçava sempre, a qual se transformou numa ferida e, pouco tempo depois, virou um caroço do tamanho de um limão. Por mais que ele escondesse, aquilo foi percebido por sua família. Esta o levou ao médico e este disse que teriam de amputar a perna dele, pois aquilo tinha virado um tumor. Tempos depois, ele veio a falecer por causa daquela enfermidade, que foi tomando conta de várias partes de seu corpo.

Aquela coceirinha desfigurou aquele rapaz, pois ele perdeu a perna; depois lhe tirou a vida. Isso, muitas vezes, acontece conosco por causa daquilo que vivemos em nossos relacionamentos. Muitas vezes, pensamos que não há nada demais em viver um relacionamento de forma errada, mas se vivemos na impureza, aos poucos o vamos matando. Podemos até não morrer, mas se aquela pessoa era para ser seu marido ou sua esposa, acaba não o sendo por causa de um relacionamento vivido de forma errada.

Existem dois medos das pessoas que querem ter alguém em sua vida: o primeiro medo é morrer sem ninguém, é o medo de não achar a pessoa certa para sua vida. Mas quem já tem alguém também tem um medo. Você, às vezes, ainda é assombrado pelo medo de estar ao lado da pessoa que não era para estar, ou seja, da pessoa errada. Você quer saber o que deve fazer para descobrir a pessoa certa para sua vida? Você quer ter a certeza de que a pessoa que está ao seu lado é a certa para você?


Quando Deus criou o homem, Ele mesmo disse que não era bom que este ficasse só, e que iria dar-lhe uma ajuda que lhe fosse adequada. Se você não tem a sua esposa ou o seu marido como melhor amigo ou amiga, alguma coisa errada tem. A pessoa que entrar na sua vida para ser seu marido ou esposa tem que ser trazida por Deus.

É necessário que conheçamos bem a pessoa, pois muitos hoje pulam as etapas do namoro e vão para a cama sem mesmo conhecer quem está ao lado. Dão seu corpo ao outro, muitas vezes, sem nem saber o nome dele.

Pessoas com 20 anos de casamento não se conhecem totalmente, imagine as que se conheceram há alguns meses! Espere essa pessoa lhe provar que você é a única para ele, que você é o único para ela. Não se case com um traidor, pois ninguém se torna traidor, geralmente já o é antes mesmo de se casar. Conheça a pessoa, pois se você não a conhece corre o risco de ser traído.

Você não pode enganar ninguém! Se você não tem coragem de terminar um relacionamento, hoje, porque pensa em se separar se o casamento não der certo, provavelmente seu matrimônio não dará certo. Você precisa temer o Senhor, dar a Ele o lugar que é d'Ele.

Você tem coragem de dizer tudo à pessoa amada?

Eu converso tudo com minha mulher. Você tem coragem de dizer tudo à pessoa que está ao seu lado? Você tem coragem de dizer à pessoa sobre seus fracassos, pecados e tentações? Partilhando tudo com minha mulher, antes mesmo de nos casarmos, eu pude conhecê-la sem ter de ir para a cama com ela. E nós fomos nos conhecendo melhor sem queimar etapas.

Aprenda a conversar com seu namorado, com sua namorada, pois nós só amamos aquilo que conhecemos. Você vai reconhecer em Deus a pessoa que é para você. É impossível, aos olhos do mundo, um amor puro entre homem e mulher, mas para nós cristãos o amor é lei. Os cristãos eram reconhecidos pelo amor que tinham um pelo outro, e nós precisamos ser reconhecidos assim também, tanto no namoro como no casamento.

Esse desejo louco que você sente de encontrar alguém é apenas a confirmação de que Deus tem alguém reservado para você!

Márcio Mendes
Escritor, teólogo e missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/namoro-um-envolvimento-sem-pular-etapas/

16 de fevereiro de 2017

Radicalidade nos desejos e sentimentos

A radicalidade nos sentimentos pode levar à decepção

Partimos agora para a radicalidade nos desejos, o qual, às vezes, nos enganam e levam à perdição. Na sua profundidade, os desejos não são pecados, mas podem se tornar um grande meio para o pecado. Eles significam vontade de possuir ou de gozar, anseio, aspiração etc.; e estão ligados ao agir humano, pois revelam o mais profundo do homem. Desvelam o homem e expõem a sua intimidade, aquilo que, muitas vezes, está oculto no mais profundo do seu ser.

Todos nós temos desejos por alguma coisa, e nossa vida gira em volta de alguns deles. Quem não quer ser feliz ou fazer o outro feliz? Isso já está dentro de cada um, mas os nossos desejos foram feridos pelo pecado e passamos a entregá-los à ação do mal, pois o desejo do mundo presente é a nossa perdição; a maior ambição do demônio é nos ver no inferno, longe da graça de Deus.

Radicalidade nos desejos e sentimentosFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Não seguir os desejos da carne

Veja dentro de você se existem somente desejos para o bem e a pureza. Geralmente, queremos aquilo que o nosso corpo deseja ou vai satisfazer os prazeres carnais. "A carne, em seu sede, opõe-se ao Espírito, e o Espírito à carne; entre eles há antagonismo, por isso não fazeis o que quereis" (cf. Gl 5,17).

Precisamos querer somente Deus, inclinar-nos para Ele e buscar o Alto. Não nos deixemos ser seduzidos pelas vontades humanas nem influenciados pelos outros. Canalizemos tudo para o Senhor.

O amor deve ser a aspiração maior do nosso coração, pois causa em nós o desejo do bem ausente e a esperança de consegui-lo" (cf. CIC 1765). Queremos o mal e aquilo que nos leva para longe de Deus, porque ainda não experimentamos o amor d'Ele em nossa vida, que é capaz de preencher toda solidão e ausência de bem. ""A graça desvia o coração dos homens da ambição e da inveja, e o inicia no desejo do Sumo Bem; instrui-o aos desejos do Espírito Santo, que sacia sempre o coração do homem" (CIC 2541).


Há dentro de cada ser humano a vontade de buscar Deus e a bem-aventurança, as quais respondem ao desejo natural de felicidade, cuja origem é divina: Deus o colocou no coração do homem a fim de atraí-lo para si, pois só Ele pode satisfazê-lo" (CIC 1718).

Cabe a nós purificarmos nossos desejos de toda impureza e somente buscar o que Deus planeja para nossa vida, que é a nossa santificação. Isso não quer dizer que todos os nossos desejos sejam maus, mas é necessário que purifiquemos aqueles que nos afastam de Deus e não nos levam à santidade.

O amor não é só sentimento

Quanto aos sentimentos, esses, muitas vezes, enganam e levam-nos a nos perdermos neles, pois o sentir não é pecado, mas o consentir. Não podemos confundir amor com sentimento. O amor não é só sentimento, mas adesão e iniciativa. O sentimento pode ser consequência das emoções, e não podemos nos guiar pelas emoções, pois estas são traiçoeiras e enganadoras, vêm de maneira rápida e desaparecem de repente. O sentimento é sensibilidade.

Tornamo-nos sensíveis de acordo com determinadas situações. É um estado de espírito, e não podemos usar de sentimentos no nosso relacionamento com Deus; este precisa ser concreto e radical, não viver de sentimentalismo. Purifiquemos os nossos sentimentos de toda impureza.

 

14 de fevereiro de 2017

A relação entre o Antigo e o Novo Testamento

Para entendermos as Sagradas Escrituras, é necessário termos essa visão de unidade entre o Antigo e o Novo Testamento

A Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a revelação divina nas Sagradas Escrituras, ensina-nos que Deus, inspirador e autor dos livros dos Testamentos, dispôs tão sabiamente as coisas que o Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo está patente no Novo.

Isso indica que há uma relação viva entre o Antigo e o Novo Testamento. E é também por isso que, às vezes, encontramos na Bíblia palavras ou expressões que parecem estar soltas, sem sentido naquele texto. Nessa hora, é preciso entender que existe uma ligação entre os textos e ficar atentos ao campo semântico a que essas palavras e expressões talvez pertençam.

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Foto: Wesley Almeida / cancaonova.com

Mas o que é campo semântico? É um grupo de palavras que se relacionam entre si, pois se ligam pelo sentido que representam. Por exemplo, quando dizemos um grupo de palavras como: multa, semáforo, pedestres, saberemos que essas palavras fazem parte do campo semântico do trânsito, pois elas se relacionam e adquirem sentido.

A ligação entre os textos acontece, porque muitas expressões, em uma dada cultura, possuem um sentido específico que, em geral, não são compreendidas por pessoas de outro meio cultural. Por exemplo: em Minas Gerais (MG), se você disser a palavra trem, um mineiro vai entender que essa palavra é utilizada para fazer referência a várias coisas e não só ao meio de transporte com locomotiva e vagões. Se um estrangeiro chega a Minas e não conhece a cultura local, dificilmente vai entender o uso amplo que essa palavra possui nessa região do Brasil.

Da mesma maneira acontece com os textos bíblicos que possuem essas chamadas tradições linguísticas. Algumas vezes, para entender uma passagem, precisamos recorrer a outro livro bíblico, a outro texto no qual teremos a explicação de alguma palavra, trecho ou expressão que não entendemos. Essa ligação entre os livros bíblicos faz com que o autor de um texto utilize um conhecimento prévio que já foi citado em outro livro e, por isso, a compreensão total de uma passagem depende de outra.

Como identificar e entender essas tradições e ligações literárias na Bíblia? Nossas traduções, em geral, dão-nos condições de encontrar essas passagens que se relacionam e explicam o texto que estamos lendo. Em algumas Bíblias, essas referências veem na lateral da página, em letras miúdas, indicando outras passagens bíblicas. Em outras traduções, essas referências estão na nota de rodapé.


Você pode ainda, consultar uma Chave ou Concordância Bíblica. Esses são livros que apresentam determinadas palavras e em quais lugares elas aparecem na Palavra de Deus. Você pode adquirir essas obras ou, de maneira mais prática, conferir se no final de sua Bíblia existe uma espécie de glossário bíblico que, muitas vezes, trazem a palavra a ser explicada, juntamente com algumas passagens nas quais essa mesma palavra se encontra.

Para entendermos as Sagradas Escrituras, é necessário termos essa visão de unidade entre o Antigo e Novo Testamento. Sabendo disso, a Igreja orienta que nossas traduções nos deem esse aparato para melhor compreendermos a Bíblia.

Concluindo, completo a citação que abriu esse artigo sobre a unidade de ambos os Testamentos, pois, apesar de Cristo ter alicerçado a Nova Aliança no seu sangue (cf. Lc 22,20; 1 Cor 11,25), os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente assumidos na pregação evangélica, adquirem e manifestam a sua plena significação no Novo Testamento (cf. Mt 5,17; Lc 24,27; Rm 16,25-26; 2 Cor 3,14-16), que por sua vez o iluminam e explicam.

Denis Duarte
Especialista em Literatura Bíblica e Mestre em Ciências da Religião


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/a-relacao-entre-o-antigo-e-o-novo-testamento/

11 de fevereiro de 2017

Amar dói

Entenda por que o amor dói

Um dia, alguém me disse que o amor, para ser amor, tinha de doer. Não acreditei muito nisso, mas hoje percebo que é verdade, pois amar é morrer a cada dia para as nossas vontades, é buscar sempre o último lugar, é querer antes a felicidade do outro que a nossa. Tudo isso é muito doloroso, pois dentro de nós há um desejo de sermos reconhecidos pelo que fazemos, um desejo de sermos retribuídos da mesma forma.

Amar-doiFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O verdadeiro amor é gratuito, não pede nada em troca, é silencioso, discreto e exigente. Alguns dizem que o amor é um verbo; outros, que é um sentimento; uns, que é uma decisão, mas o que mais me chamou à atenção foi ouvir que ele é um comportamento, pois se alguém me magoa ou me decepciona, vou continuar amando-o, pois o amor dentro de mim é maior que essa frustração. Isso não é ser falso, é ser verdadeiro, pois se fosse um sentimento, na primeira decepção deixaríamos de amar.

Por que o amor dói?

O amor dói, porque exige esse comportamento de sempre esperar, sempre acreditar e descobrir jardins em meio a desertos de tantos corações. Corações feridos por causa de um mundo que prega o amor fútil, de conveniência, de prazer e que vai formando, hoje, pessoas cada vez mais insensíveis, com medo de amar, pois já sofreram muito com esse "tal de amor", vivido de forma incoerente, que escraviza e oprime, ilude e até mata.

Jesus soube viver de forma tão humana quanto divina esse amor-comportamento; na verdade, foi Ele quem nos deixou o caminho livre para vivê-lo. Ele sim amou verdadeiramente até doer, sofreu, porque nos amou incondicionalmente.

Aliás, o amar e o sofrer andam lado a lado, pois o amor não nos impede de sofrer, assim como o sofrimento também não nos impede de amar. Mesmo que doa, você deve continuar amando. Interessante que o amor "doa", visto que essa palavra tem um duplo sentido: doa de "doer" e de "doar". Faça de sua forma de amar a alegria para os outros e você verá que essa dor de amor é algo sublime e simples.

Bom, a decisão é sua para levar essa novidade tão antiga a esse mundo tão carente do amor verdadeiro.

Se até hoje não amamos, talvez seja porque não tenhamos sido amados. Dê o primeiro passo e ame, pois o amor que cura é o amor que damos aos demais. Então, você perceberá que vale a pena amar, mesmo doendo.

Deus abençoe você.


Adriano Gonçalves

Mineiro de Contagem (MG), Adriano Gonçalves dos Santos é membro da Comunidade Canção Nova. Formado em filosofia e Psicologia. Atua na TV Canção Nova como apresentador do programa Revolução Jesus. É autor dos seguintes livros: "Santos de Calça Jeans", "Nasci pra Dar Certo!", "Quero um Amor Maior" e " Agora e Para Sempre: como viver o amor verdadeiro".


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/amar-doi/