Você sabe o que são votos íntimos? Se não sabe, vamos juntos refletir sobre o assunto
Quantas vezes vamos assumindo "inverdades" em nossa vida, permitindo que se tornem verdades absolutas? Ou quantas vezes deixamos que certas falas que disseram a nós ditem nossos comportamentos e atitudes, fazendo assim uma vida de jugos e amarras existenciais? No ambiente religioso, chamamos de "votos íntimos" essas inverdades, falas e jugos que determinam nosso interior, levando-nos a uma exterioridade não sadia nem livre.
Na psicologia comportamental, chamamos essa realidade de pensamentos automáticos, pensamentos que surgem de forma instantânea e determinam nossas atitudes. Esses pensamentos automáticos são construídos por "crenças", que se solidificaram pelas experiências que tivemos no decorrer de nossa história. Por exemplo: talvez, quando você era ainda uma criança, foi esquecido pelos pais na escola, e aquele sentimento de abandono registrou uma crença de que "você não é amado". Logo, toda vez que você for "esquecido", surgirá, de maneira automática, aquela voz dizendo: "você não é amado". Dessa forma, vamos deixando que nosso interior e exterior se formem na autoridade de tais pensamentos. Talvez, aquele esquecimento na escola tenha acontecido, porque seus pais enfrentaram uma longa estrada de engarrafamento e, por isso, atrasaram-se. Não há nada a ver com o "não amar" você.
Foto: Arquivo Pessoal
O pensamento automático, ou se quiser chamar de voto íntimo, pode, em muitos casos, ser uma grande prisão na sua forma de viver a vida.
Pare e pense
Por exemplo: Se fico sozinho, devo ser indesejável. As pessoas que não têm companheiros são perdedoras. Tenho de ter um companheiro para ser feliz. Preciso me sair bem em tudo o que fizer. Se não me sair bem em alguma coisa, devo ser um fracasso.
Diante dessas frases que vão determinando nossas vidas, precisamos usar o próprio pensamento lógico para nos desvencilharmos dessas armadilhas. Temos de explorar a realidade e, quem sabe, nesta hora, traduzir tudo em uma sincera oração? "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Busque a verdade sobre todas as questões, enfrente-a e não se permita ser escravizado pelas inverdades da vida.
Quando os sonhos e metas se entrelaçam e dão um novo ânimo para a vida
Ano novo, vida nova! Depois da virada de mais um ano, existe algo diferente no ar. Já diz o poeta: "Ainda bem que existem janeiros". Na mídia, na rua, no trabalho é comum ouvir alguém dizer que, neste ano, vai comprar uma casa, viajar para tal lugar, trocar de carro ou simplesmente que este ano vai ser diferente!
São sonhos e metas que se entrelaçam e dão um novo ânimo para a vida. Algo interessante que descobri nesses dias é a diferença que separa um sonho de uma meta. Talvez até hoje você só tenha sonhado com o que gostaria de realizar na vida, mas nunca tenha dado nem um passo concreto para realizar este sonho, ou seja, está vivendo sem metas.
Segundo a psicóloga e escritora Danielle Tavares, "meta é um alvo definido, um ponto certo aonde se quer chegar; e pode-se aplicar esse conceito nas diversas áreas da vida: família, profissão, estudo, relacionamento afetivo e social, economia, finanças pessoais etc."
Em clima de recomeço, considero importante avaliar nossos reais objetivos e reconhecer quais destes são metas. "Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho já serve."
Atirando para todos os lados
Quando não buscamos concretamente o que queremos ou sonhamos, acabamos "atirando para todos os lados" sem acertar o alvo. Desse jeito, pode-se chegar ao fim sem ter o que comemorar, e isso não é a vontade de Deus para nenhum de seus filhos, inclusive você.
Pergunto-lhe: Você sabe que rumo está dando para sua vida com o trabalho que realiza agora? Tem buscado, no dia a dia, o que realmente deseja alcançar? Se a resposta for negativa, provavelmente você não esteja feliz, e é possível que sua vida esteja sem sentido. Daí vem a pergunta: E agora, o que fazer?
Acredito que, neste e em todos os casos, devemos sempre lembrar que nunca é tarde para recomeçar. Independente da idade ou situação em que esteja, com a graça de Deus e força de vontade tudo é possível. Sonhar e querer algo é importante, mas isso não basta quando se trata de realização. É hora de traçar metas e dar passos concretos.
Diferença entre sonho e meta
Ouvi uma historinha, há pouco tempo, que me ajudou a entender a diferença entre meta e sonho. Havia cinco macacos no galho de uma árvore: dois deles decidiram pular e pegar algumas bananas que estavam ali perto. Então, vem a pergunta: Quantos macacos permaneceram no galho? A resposta é simples: os cinco animais continuaram no galho. Sabe por quê? Porque decidiram pular, mas nenhum deles fez isso de fato.
Precisamos começar bem o ano, para vivê-lo bem por inteiro. Acredito que definir as prioridades e dar passos para chegar aonde se quer é um ótimo ponto de partida. Disso vem a transformação de vida: a partir das atitudes e preferências concretas do dia a dia. Claro que isso não se consegue de uma hora para outra, empenho e perseverança são fundamentais. É também uma questão de escolha e disciplina pessoal. O apóstolo Paulo, em uma de suas cartas, diz: "Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras" (II Timóteo 2,5).
Que o Senhor nos ensine a buscarmos do jeito certo as metas que queremos alcançar neste ano novo e sempre.
Conheça três dicas para você virar o ano sem dívidas
O ano de 2016 está próximo do fim! Natal, férias e virada do ano são o contexto do momento. Dada a atual crise econômica, muitas famílias estão focadas não nas celebrações, mas em como passar de ano sem dívidas. Embora o noticiário hora ou outra dê uma notícia razoável, ainda estamos sendo bombardeados de notícias ruins: alta do combustível, queda do PIB, endividamento crescente do Governo, reformas que vão cortar benefícios para ajustes de contas. Diante desse cenário, como virar o ano sem dívidas? Como pagar as contas e curtir a virada do ano sem preocupações?
Em primeiro lugar, não há mágica nem sorte em finanças e economia. Não existe uma forma de virar o ano sem dívidas se estas estiverem fora de controle. O que se pode alcançar é administrar as dívidas ou até mesmo quitá-las, mas isso depende muito da situação particular de cada pessoa/família. O planejamento financeiro, no fim do ano, é imprescindível, até mesmo porque dezembro e janeiro são marcados por gastos altos com festas de Natal, presentes, viagens, matrícula escolar, impostos e contas de fim de ano.
Foto: Wesley Almeida
Vamos aos três principais pilares para pagar as dívidas ou virar o ano com tranquilidade de ter tomado as rédeas das suas finanças:
1. Planilha Financeira
Se você é daqueles que faz as contas de cabeça, chegou o momento de mudar sua atitude. Quem não fizer o planejamento do fim de ano e início de 2017 pode cair em armadilhas e gastar além do necessário. Planejamento financeiro inclui prever os gatos e ter alternativas para emergências ou imprevistos. Baixe aqui uma planilha modelo que vai ajudá-lo nessa empreitada.
2. Quanto e Quando
Em Finanças e Economia, essas são as perguntas a serem respondidas sempre. Quanto eu devo ao somar tudo o que tenho a pagar? Cartão de crédito + consignado + financiamentos etc. Nessa pergunta, coloque o que você vai ter de pagar em janeiro: material escolar, IPVA, contas do fim de ano, pagamento de 13º para funcionários. A palavra "quando" faz toda a diferença. Posso gastar agora o que estou vendo nas vitrines, propagandas e internet? Ou posso, dado o tamanho da minha dívida, esperar as promoções de janeiro? É uma questão de tempo. Adiar o consumo pode fazer você virar o ano com mais tranquilidade.
3. Equilíbrio entre pagar dívida e comemorar com a família
É imprescindível celebrar o Natal em família, comemorar a data mais importante do Cristianismo, dar ou ganhar presentes. No entanto, se já temos um planejamento financeiro e sabemos o quanto devemos ou precisamos pagar em dezembro e janeiro, podemos entrar na palavra "quando". Diante dos números e da necessidade de celebração com a família e os amigos, qual a escolha razoável que podemos tomar? Para os casados, decisões compartilhadas e dialogadas são sempre a melhor opção. Para famílias com filhos, a dica é dialogar com eles, explicar a situação, ser transparente; isso é fundamental para celebrar sem se preocupar.
Neste fim de ano, não vire 2016-2017 sem refletir sobre suas finanças. É melhor tomar o pé da situação e ver o tamanho do passo que se pode dar. Passos maiores que as pernas podem dar dor de cabeça na entrada do ano. Se você tem 13º e possui dívidas, procure usar uma boa parte para quitá-las. Muitos, no fim do ano, abusam do cartão, cheque especial, e são surpreendidos logo no início do ano seguinte.
É melhor prever agora. Viva o tempo das festas com sobriedade, mas sem abrir mão da alegria em família. Afinal, o dinheiro existe para servir, mas não podemos nos enroscar, pois a conta sempre chega!
Ser mãe é padecer no paraíso. Mas é preciso dizer que tudo isso vale a pena!
Tantas vezes ouvi este ditado e, hoje, quero manifestar a minha interpretação sobre ele. Será que isso é ruim? A expressão padecer traz essa conotação negativa, pesada, mas, na verdade, não é bem assim. As mães vivem um certo desconforto desde a gestação (enjoos, azia, inchaço). No parto, com suas dores próprias; depois, nos primeiros dias, a adaptação e interpretação do choro do bebê, o sono, o cansaço. São situações reais que parecem eternas pela intensidade, mas, de repente, passam… Alguns meses depois, o padecimento é outro: voltar ao trabalho e deixar o filho, afinal, ninguém vai saber cuidar do dele como a mãe. Doce ilusão!
Mais adiante, a entrada na escola. "Quem será o professor?", "Será que vai acompanhar a aula?", "O que vai comer no lanche?", "Quem serão os colegas?" "E se alguém bater no meu filho?" Nós insistimos em viver a vida dos filhos e, com isso, padecemos, pois não temos o mesmo entendimento das crianças. E quando chega a adolescência? Nossa! Aí entra outra fase. Só mudam as preocupações: filho criado, trabalho dobrado! Mas e aquilo que plantamos na educação deles? Não valeu a pena?
As mães de hoje são, na sua maioria, frutos da geração de transição do feminismo e do sexo, drogas e rock'n roll. Achar o equilíbrio não é fácil. Anterior a nós, houve a geração de pais que acreditavam que a liberdade era a melhor opção de educação para os filhos vivendo o "é proibido proibir".
Hoje, já percebemos que os limites são necessários na formação de qualquer ser humano. Por isso, às vezes, dar um "não" ao filho chega a ser um padecimento, pois sabemos que ele queria muito tal coisa ou tal situação, mas percebemos que não é o melhor naquele momento, e isso gera um certo desconforto no relacionamento entre mãe e filho.
Mais do que padecer é compadecer, é sofrer, pois, apesar de estarmos conscientes da decisão tomada, não gostamos de ver nosso filho triste. Mais uma vez, apesar de toda intensidade, veremos que isso também vai passar! Assim como nós, hoje, neste papel de mãe, reconhecemos e aceitamos a postura que as nossas mães tiveram conosco. E pensamos: "Elas estavam certas…" Olhando tudo isso, parece que o ditado está certo: "Ser mãe é padecer no paraíso". Agora, é preciso dizer que tudo isso vale a pena!
A presença, a realização, as conquistas, alegrias e tristezas de um filho não têm preço. Esse é o nosso paraíso: a maternidade! As mães são capazes de abrir mão e renunciar a várias coisas na vida, somente não conseguem renunciar à maternidade, pois esta é inegociável!
Parabéns a todas as mães, avós, tias, madrinhas, sogras que, de uma forma ou outra, são mães em nossas vidas!
Maria, Mãe de Jesus e da Igreja, ensine-nos e conduza na vivência da maternidade segundo o coração de Deus!
Carla Astuti – Missionária da Comunidade Canção Nova
Neste tempo de Natal, precisamos criar em nós a capacidade de repensar e redescobrir valores
Um dos maiores milagres, deste tempo de Natal, é o de criarmos em nós a capacidade de repensar e redescobrir valores que, ao longo do ano, foram deixados de lado ou roubados pela cultura do bem-estar individual. Nesta época do ano, somos mais família, solidários, falamos mais de amor e paz, de respeito ao próximo, porque, "no coração de cada homem e de cada mulher, habita o anseio de uma vida plena, que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros". 1
Entendemos que este sentimento de solidariedade e fraternidade, que nos invade no Natal, está dentro de nós, é uma vocação do homem. Mas por que este 'espírito natalino' não se torna algo efetivo, no nosso dia a dia, durante os outros 11 meses do ano?
Foto: Arquivo CN
O fato é que estamos mergulhados numa sociedade que já não constrói pontes entre seus semelhantes, pelo contrário, evidenciam-se, a cada dia, os abismos entre o "eu" e o "tu". Construímos muros cada vez mais altos ao redor de nossas casas, nos agrupamos, inseguramente, em condomínios que são verdadeiras fortalezas (ou prisões) de luxo, consumimos compulsivamente – agora sem sair de casa – para entorpecer nossas angústias interiores. Até ter filhos se tornou um peso associado ao 'custo x benefício', que pode prejudicar uma viagem para Cancun ou Paris, ou até mesmo a aquisição do carro do ano.
Parece que temos mais, vivemos mais, temos melhores condições e conforto, mas, existencialmente, nos sentimos fracassados, inseguros e infelizes. Como diz o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, "a certeza e a segurança das condições existenciais dificilmente podem ser compradas com os recursos da conta bancária". 2
Papa Francisco
Em sua mensagem do dia 1º de janeiro de 2014, por ocasião do Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco fez duras críticas ao que vem chamando de "cultura do descartável", reflexo dessa sociedade individualista e materialista. Segundo Francisco, não há vida digna se cada homem e mulher não redescobrir a sua vocação à fraternidade e à comunhão, ou seja, não podemos falar de paz se não sairmos do nosso comodismo para cuidar de nossos irmãos mais necessitados. Toda guerra, toda injustiça e desigualdade social, segundo o Papa, têm a sua gênese na "rejeição radical da vocação de ser irmãos".
A fome, a desigualdade, a corrupção, o racismo, a violência, as drogas, tudo aquilo que desejamos extirpar da nossa sociedade, tem a sua fonte no meu e no seu individualismo. Sobre todos esses problemas sociais, questionou-nos o Papa Francisco quando veio ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude: "Você é o que lava as mãos e vira para o outro lado?" 3
Esses discursos de Francisco contra a cultura do conforto e do individualismo nos ajudam a entender que não basta lutar contra a pobreza, contra a corrupção ou até fazer uma boa ação de Natal se não combatermos uma doença muito mais profunda no coração do homem moderno: o egoísmo. Para isso é preciso que coloquemos em prática o que o Pontífice tem chamado de "cultura do encontro".
Como cristãos, não podemos mais nos isolar em nossas ilhas de conforto e bem-estar, saindo de nosso comodismo apenas em épocas natalinas. O remédio para a doença do individualismo é o serviço ao próximo, "uma Igreja que se organiza para servir a todos os batizados e homens de boa-vontade",4 desde os que estão em nosso lar até os mais necessitados e marginalizados da sociedade. Para sermos felizes todos os dias do ano é preciso seguir o conselho do Mestre: "Há mais alegria em dar do que em receber" (At 20,3).
1 Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz – 01/01/2014 2 BAUMAN, Zygmunt "Comunidade – a busca por segurança no mundo atual" 3 Discurso do Papa Francisco durante a Via-Sacra na Praia de Copacabana – JMJ 4 Discurso do Papa francisco ao Conselho do CELAM – 29/07/2013
Não podemos deixar o demônio nos amarrar em algo que vamos carregar a vida inteira. Traumas assim não se resolvem nem durante a velhice
Muitas vezes, temos sérios traumas relacionados ao nosso corpo, à nossa sexualidade. Queríamos ser mais altos ou mais baixos, mais magros ou mais gordos. Passamos a vida inteira insatisfeitos, tentando mudar, fazendo plástica, colocando silicone, tomando remédios para modelar o corpo. Não admitimos a santidade e a beleza do nosso corpo. A Bíblia não tem medo de afirmar, muitas e muitas vezes, que o autor do meu corpo é Deus. Enquanto não chegarmos a essa experiência de termos a visão correta de nós mesmos, que fomos gerados no seio de nossa mãe, vamos carregar embutidas ideias erradas.
Temos vivido a exploração do "voyeurismo", que nada mais é do que a transmissão de valores, ideias e visões erradas em relação à sexualidade e ao corpo. Uma prova disso são as revistas pornográficas.
O homem moderno está bastante evoluído. Se a sexualidade está sendo vivida de modo tão natural como dizem que está, por que então, a cada dia que passa, inventam-se e criam-se novas publicidades nesse campo?
Mesmo tendo trezentas mulheres, Davi não se saciava, pois seu problema não era afetivo. Ele não queria amar alguém, mas ter prazer.
Essa desarmonia está ligada à gestação do ser humano, à sua concepção. Por isso é muito importante fazer a oração de cura interior tomando posse da graça de Deus que estava presente em cada um desses momentos.
Quando começarmos a compreender que a concepção de uma vida é natural do ponto de vista humano, e que o ser humano é chamado a exercer esse ministério participando da graça de Deus, começaremos a mudar a mentalidade relacionada a nossa sexualidade.
Não podemos mais deixar o demônio nos prender, nos amarrar em algo que vamos carregar conosco a vida inteira. Traumas assim não se resolvem nem durante a velhice. Por que ficar a vida inteira com traumas nesta área?
A sexualidade deve ser revestida de um momento, de um lugar sagrado, porque pela unidade física o ser humano está participando de um momento lindo da criação de Deus. Isso precisa ser solenizado, mas o "encardido" tem nos convencido de que é feio e que precisa ser escondido. Por que um casal deve viver essa intimidade a portas fechadas? Porque o momento é lindo demais para ser dividido, íntimo demais para ser partilhado e solene demais para ser vulgarizado. O casal está em íntima comunhão consigo, marido e mulher, daí a nudez total não só de tirar a roupa, mas de abrir o coração, porque Deus está presente.
É algo lindo, maravilhoso, mas o "encardido" espalhou que é feio e que precisa ser escondido. Começa a despertar malícia na criança, no adolescente, nas outras pessoas. Esse é, de fato, o objetivo do demônio: fazer com que o ser humano não se aceite no seu corpo. São João nos revela um critério de discernimento para saber se a pessoa tem ou não contaminação demoníaca. O demônio e qualquer espírito maligno jamais conseguem confessar que Jesus Cristo veio na carne, porque o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós para nos salvar. Ao fazer com que olhemos para a carne com uma ideia pecaminosa, com visão distorcida, o "encardido" está nos fazendo não aceitar a salvação. Por que a sexualidade torna-se fonte de tanto pecado? Porque ela está associada, e não há como a separar, ao mistério da salvação do ser humano.
O silêncio interior é, antes de tudo, o mais necessário e imprescindível para o ser humano
Muito me incomoda, em nossos tempos modernos, o barulho generalizado, ou seja, a falta de silêncio interior e exterior também para podermos rezar, tomar decisões, escutar a Deus, a si mesmo e aos outros. Outro dia, fui ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e li, numa das colunas internas do santuário, o apelo: "Silêncio é também oração!". Parece que, diante de tudo que vivemos, é necessário falar o tempo todo. Pouco se faz silêncio. Um dos motivos, penso eu, é que, na verdade, nós temos medo do que vamos ouvir, por isso, o silêncio nos incomoda tanto.
É verdade que o silêncio é imprescindível para rezar, mas não só para isso. Para qualquer diálogo é preciso escutar, calar e ouvir o outro. Nós aprendemos a falar, porque escutamos nossos pais e irmãos falando e começamos a dizer as primeiras palavras. É necessário escutar bem para falar bem e na hora certa. É necessário ouvir para aprender. Silenciar para se ter coragem para reconhecer o homem interior. É uma viagem tão pequena a que se faz da mente ao coração, mas nós temos um medo muito grande de realizá-la, porque não sabemos o que vamos encontrar. Muitas vezes, porque o sabemos, não temos coragem de nos recolher no coração e nos deparar com alguns monstros bem conhecidos.
Existem alguns níveis de silêncio que fogem, muitas vezes, do padrão, pois esse estado não é somente ausência de barulho.
É verdade que o primeiro nível de silêncio é o exterior, que pode incomodar muito e interferir em nossa vida e saúde. "Sem recolhimento não há profundidade," e vivemos na superficialidade, fazendo muito barulho para não escutar os gritos do nosso interior. Exemplo disso é o barulho das grandes cidades, que hoje é um problema de saúde pública; por essa razão, há muitas famílias procurando residências afastadas dos grandes centros e mudando-se para sítios e cidades menores. A necessidade do silêncio para descansar o corpo e a alma.
O silêncio interior é, antes de tudo, o mais necessário e imprescindível para o ser humano, para o seu equilíbrio, para discernir e tomar decisões, para ouvir a sua consciência. Haverá momentos em que, mesmo em meio a muitas pessoas conversando, trabalhando ou até se divertindo, isso não vai nos incomodar, porque há silêncio interior dentro de nós. Por isso, a ausência de barulho interior, de agitação, de nervosismo e distração são essenciais para a vida de todo ser humano.
A paz é a mãe do silêncio interior
Este estado de espírito se desenvolve em nós quando construímos e temos a paz. Esta paz não é somente ausência de guerra, de confusão, de brigas; ela provém de um caminho de maturidade e equilíbrio que vamos fazendo em nossa vida, de escolhas, de pessoas que caminham conosco, pois o grupo ao qual nos associamos pode nos tirar ou nos dar a paz, e isso influencia diretamente em nosso interior, no silêncio ou no barulho e confusão que transmitimos. Daí nós nos tornamos promotores da paz ou da confusão, do silêncio ou do barulho.
"Shalom" é o nome da paz do Ressuscitado, uma paz completa que atinge o corpo e a alma de cada homem e mulher, que ultrapassa as condições externas e nasce de uma experiência interior, de uma coragem de encarar a vida e escutar as vozes de dentro e de fora. Jesus disse para os discípulos, com medo e escondidos: ""Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração"" (cf. Jo 14,27). Quando Deus visita o interior do nosso coração, nasce a paz, o silêncio e a coragem.
Por isso, silêncio não é somente uma questão de "PSIU"! E como é chato ter a necessidade de fazer, ver e ouvir alguém colocando o dedo indicador na boca e fazendo esse barulho "PSIU", que mais irrita do que resolve. O que resolve, na verdade, é a paz, o "Shalom", que é a mãe do silêncio interior a transbordar para nossa vida exterior.
Desejo para você a paz, para que possa ter silêncio e condições para decidir e viver melhor a vida! Se o silêncio é o porteiro da vida interior, façamos, com coragem, essa viagem preciosa ao mundo desconhecido de nossa alma: nossa consciência. Você verá que conhecendo sua consciência, encontrará mais surpresas agradáveis.
Convido você a rezar comigo essa oração a Virgem Mãe do Silêncio:
Oração: Virgem do Silêncio, Tu que ouve nossas vozes, ainda que não falemos, pois compreende no movimento de nossas mãos a linguagem de nossos corações. Não te pedimos, Senhora, que nos dê a voz e o ouvido para nossos corpos, mas sim que nos conceda entender a Palavra do teu Filho e o discernimento dos espíritos. Chegar a Ele com amor para salvação de nossas almas.
Queremos amar nosso silêncio para evitar a calúnia, o ódio e o pecado, e calando dar testemunho de nossa fé. Queremos oferecer-te o silêncio no qual vivemos para que todos te chamemos de Mãe e sejamos verdadeiros irmãos, sem ódios, nem rancores, como filhos teus. Pedimos que traduzas nosso arrependimento, nossas palavras quando não conseguimos expressar diante do teu Filho, na hora das decisões, da morte, para que na outra vida, possamos ouvir e falar cantando tua louvação por toda a eternidade. Amém.
""Sua mãe guardava todas estas coisas no coração"" (Lucas 2,51).