12 de dezembro de 2016

O amor se mede pelos resultados?

O verdadeiro amor é proposta, não imposição. Não é uma exigência de retorno e resultados

Vivemos um tempo em que a sociedade é extremamente utilitarista; em virtude disso, somos constantemente tentados a acreditar que bom e digno de ser amado é somente aquele que corresponde, com resultados, àquilo que desejamos.

O amor é uma doação, é um gastar-se gratuitamente pelo bem do outro, e, a partir do momento que se ama esperando algum resultado ou retorno, o princípio do amor é traído e este se torna inautêntico.

1600x1200-O amor se mede pelos resultadosFoto: Wesley Almeida / cancaonova.com

Amar é acreditar em alguém mesmo quando este não corresponde. É enxergar o que há de bom naquele que está imerso no mal, é ir além. Enfim, amar é seguir o exemplo da cruz. Jesus, ao ser crucificado, amou, perdoou e entregou-se por amor aos homens. Porém, a doação da cruz não foi uma troca. Cristo não morreu por nós impondo como condição nosso seguimento à vontade d''Ele; ao contrário, Ele primeiro se doou, depois propôs: ""Vem e segue-me"".

É proposta e não imposição. É um convite impresso na liberdade humana, e não uma exigência de retorno e resultados. O verdadeiro amor é entrega que não impõe condições, e, muitas vezes, é sacrifício.

Tal ideal não é fácil de ser vivenciado, principalmente em um mundo que nos leva a crer que somente aquilo que nos dá prazer e satisfação precisa ser buscado e desejado, somente o que satisfaz as nossas vontades e nos traz algum conforto. O que é uma imensa inverdade.

Amar da maneira de Jesus é heroísmo e, acima de tudo, uma decisão. Porém, não existe outra maneira: para amar de verdade é preciso olhar para a cruz.

Muitos dizem que amam alguém, porque este lhe faz bem ou por lhe proporcionar algum prazer, mas se essa interação for sustentada somente por isso, tais pessoas correm o risco de "se amarem" no outro, em vez de amá-lo sinceramente.

Mesmo diante de todas as dificuldades que comporta o amar, não existe outra força maior e com mais capacidade para transformar o ser humano que o amor.

O que atraiu e continua atraindo milhares de pessoas a Jesus é sua livre e total doação, que se resume no mais puro e concreto amor. É este sentimento que dá força e sentido para que o homem enfrente as lutas e dores próprias de sua condição.

O amor é uma verdade constante que potencializa e realiza o homem. Por este, vale a pena lutar, esperar e suportar as consequências dele, pois, "é perdendo que se ganha", "é dando que se recebe", "é morrendo que se vive…", e quem ama sempre vence!

Padre Adriano Zandoná – Comunidade Canção Nova



Padre Adriano Zandoná

Adriano Zandoná é padre e missionário da Comunidade Canção Nova. Graduado em Filosofia e Teologia, exerce atualmente a função Responsável Geral pela Canção Nova em São Paulo (SP). Todas as segundas-feiras celebra a missa na Catedral Maronita, em São Paulo, às 19h30, com transmissão ao vivo pela TV CN. Apresenta o programa "Construindo a Felicidade", todos os dias da semana, exceto às quintas, às 17h pela Rádio América (AM 1410). É autor dos livros: "Construindo a Felicidade" e "Curar-se para ser Feliz", publicados pela editora Canção Nova. Facebook.com/PadreAdrianoZandoná
twitter.com/peadrianozcn
blog.cancaonova.com/padreadrianozandona


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/o-amor-se-mede-pelos-resultados/

7 de dezembro de 2016

Orçamento familiar: um papo para todos!

A família precisa aprender a controlar os gastos para não pesar no orçamento

Começo de ano, sempre há muitas contas para pagar: despesas com a escola, com o carro, com as festas do fim de ano e tudo o que é típico dessa época. Problemas à vista? Não, caso você decida organizar suas finanças.

A melhor situação, nesse caso, quando falamos do orçamento familiar, é tratar do assunto em família. Em muitas casas, apenas o marido é responsável por trazer a renda para casa. Em outras, marido e mulher. Mas e os filhos? Onde entram nessa história? Entram exatamente na necessidade de participarem da vida financeira da família, ou seja, desde pequenos, eles podem aprender a poupar, especialmente saber usar bem o dinheiro.

Alguns passos são importantes para resolver questões financeiras em sua família. Vamos a eles:

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Foto: Daniel Mafra / cancaonova.com

1) A família precisa estar envolvida: saber o que gastar, como gastar, quais as prioridades (quitar o carro, a casa, pagar dívidas pendentes, economizar nos gastos dos passeios, optar por passeios mais baratos ou gratuitos ou mesmo privar-se de algumas coisas faz parte do que chamamos de educação financeira). Ao colocar a família participando, o assunto se torna mais coletivo e compromete a todos em busca de um objetivo comum.

2) O que tenho para pagar? Muitas vezes, as famílias estão com dívidas que são três, quatro ou mais vezes o valor do salário mensal. Logo, há muito mais gastos do que dinheiro para receber. Equilibrar essas despesas é muito importante. Você sabe o que tem para pagar? Tem ideia de quanto gasta no mês? Acha que as suas dívidas estão um pouco exageradas? Coloque tudo no papel. Na internet, você pode encontrar muitos modelos de planilhas ou aplicativos para seu celular, que ajudam você, de forma simples, a controlar tudo isso.

3) Procure eliminar as dívidas: avalie o que tem juros mais altos, se existem contas que podem ser negociadas, procure comprar à vista e pedir desconto (as lojas têm concedido descontos de até 10 ou 12 % quando se opta pelo pagamento à vista, em dinheiro ou cartão de débito). Tem pago apenas o mínimo da fatura do cartão de crédito? Procure fazer um esforço, pois os juros são altíssimos e, quando acumulados, aumentam muito seu débito.

4) Faça uma reserva financeira: faça o propósito de guardar parte do seu salário por mês. Assim, você se previne para situações de risco ou mesmo emergências em saúde ou desemprego.

5) Cuidado com o dinheiro que "escorre pelo ralo": pequenas despesas, presentes, aquele jantar extra, aquela compra que você caracteriza como "eu mereço, porque…" podem desequilibrar seu orçamento. É claro que podemos ter tais atitudes, mas se já existe um desequilíbrio nas suas contas, vale a pena pensar num presente alternativo, em algo que você sabe fazer ou evitar tais despesas para uma tranquilidade posterior.

6) Não encare isso como um sofrimento: estudos revelam que 15% dos trabalhadores sofrem estresse por problemas na forma de usar seu dinheiro. Logo, se há estresse nesta área, é porque as finanças não foram bem trabalhadas e os problemas tendem a aumentar. Se houver um sacrifício hoje, haverá paz amanhã, e isso, certamente, valerá muito a pena.

Que essas dicas possam ajudar você e sua família. Tenha tranquilidade para falar sobre esse assunto com a sua família. Vamos conversar mais sobre isso?


5 de dezembro de 2016

Quem é mais forte: o amor ou o poder?

Não com a força, não com a fúria, mas com o amor e o perdão, é assim que venceremos

Certa vez, disse para uma amiga: "Não desista de viver a bondade!" Passaram-se anos e há poucos dias ela me disse: "Nunca mais esqueci suas palavras e tenho deixado-me conduzir por elas, as quais permanecem como eco em minha memória".

A princípio, fiquei somente surpresa por ela ter se recordado tão vivamente do conselho, mas depois percebi que era mais que isso. Em suas palavras, percebi o Senhor atualizando o recado também para minha vida.

1600x1200-Quem é mais forte o amor ou o poderFoto: Wesley Almeida / cancaonova.com

Em um mundo no qual se coloca em evidência aquilo que não é bom, se não estivermos alicerçados em princípios de fé e esperança, correremos o risco de nos deixar levar pela maldade e agir pela força dos argumentos da razão, desistindo facilmente de ser bons.

Hoje falei sobre isso em um dos programas que apresento na Rádio Canção Nova e resolvi ampliar a partilha na intenção de que ela chegue ao seu coração. Eu acredito no poder da bondade! Posso dizer, por experiência própria, que o amor é mais forte do que o poder do mal.

Existe uma fábula atribuída a Esopo que pode ilustrar essa partilha e eu a apresento aqui:

"Conta-se que o sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte.
O vento disse:
– Provarei que sou o mais forte.
Vê aquela mulher que vem lá embaixo com um lenço azul no pescoço?
Aposto como posso fazer com que ela tire o lenço mais depressa do que você.
O sol aceitou a aposta e recolheu-se atrás de uma nuvem.
O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas quanto mais ele soprava,
mais a mulher segurava o lenço junto a si.
Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar.
Então, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher.
Com este gesto, ela imediatamente esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço.
O sol disse, então, ao vento:
– Lembre-se disso: A gentileza e a bondade são sempre mais fortes que a fúria e a força"
.

Dando a vitória à bondade

Acredito que, com essa narrativa, Deus está nos dando hoje a direção para vencermos os obstáculos de nossa vida. Não com a força, não com a fúria, mas com a gentileza, com o sorriso, com a bondade, com a paciência, com o amor e o perdão, é assim que venceremos!

Não sei em qual etapa da vida você se encontra, quais são os desafios que tem enfrentado, mas acredito que Jesus, o "Homem bom por excelência, pode e quer nos ajudar a darmos uma resposta diferente, fazendo opção pela bondade. A Palavra do Senhor diz: "Não pela força, nem pela violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos […]" (Zacarias 4,1-10).

E o Espírito de Deus nos conduz somente àquilo que é bom, justo e nobre.

Que tenhamos a coragem e a disposição para expressar a bondade que está em nós e pode chegar a muitos corações a partir da nossa decisão e coragem de ser um pouco melhores a cada dia. Eu estou tentando. E você?

Busquemos juntos, neste dia, dar a vitória à bondade. A força dessa virtude, passando por nossos pequenos gestos, pode fazer grande diferença.


30 de novembro de 2016

A nossa vida pode ser transformada pela fé

Ironi Spuldaro explica a importância de termos uma vida de oração e fé

Fé não é mágica nem sentimento, mas adesão. Para vivê-la, precisamos saber em quem estamos confiando e conhecer aquele em quem estamos depositando nossa confiança. Pela vida de oração e pelo conhecimento das coisas de Deus é possível conhecê-Lo, também por meio de uma intimidade com Ele e uma vida sacramental, além de jejum, práticas espirituais, conhecimento e leitura orante da Palavra.

Quanto mais conhecemos Deus, quanto mais mergulhamos na vida de oração, na experiência da adoração, jejum, mortificação e combate espiritual, maior será a ação d'Ele em nossa vida, e muito maior nossa sede e busca pelas coisas do Alto. Assim, certamente progrediremos na fé.

A nossa vida pode ser transformada pela féCopyright: PonyWang

Nós não precisamos procurar ser perfeitos para caminhar na fé

Em Gênesis 17, Deus vai dizer a Abrão: "Não busque a perfeição, mas caminhe na minha presença e eu te aperfeiçoarei a cada passo que você der".

"Deus não veio para os sadios", também diz a Palavra, mas para os enfermos e doentes, seja espiritual ou fisicamente. É nesse caminhar e no progredir na busca pelas coisas do Alto que vamos aprender a crescer na fé e perceber a manifestação e o agir de Deus em nossa vida, na vida de nossa família e no dia a dia.

O poder da fé

A Palavra de Deus vai nos ensinar que pela fé tudo é possível. Foi por meio dela que Abrão se tornou pai, Moisés tocou no mar e este se abriu. Pela fé, Davi lançou a pedra e derrubou o gigante Golias. A fé pode transformar a vida da pessoa e pode mudar o coração mais duro e petrificado, que foi congelado pela ignorância ou até mesmo pela falta de experiência do amor de Deus. A fé muda a pessoa de um modo geral e a leva a transformar a humanidade, além de se tornar um testemunho de Jesus Cristo.

A fé pode mudar a vida de todo homem e de toda mulher a partir de um testemunho de uma pessoa. Deus pode curar, acredite, porque a fé gera em nós um poder sobrenatural como sinais de prodígios e milagres.

Como perseverar na fé?

Reflitamos com a vida dos santos, olhemos as perseguições que eles passaram, as doenças que enfrentaram, a fúria de satanás que se levantou na vida deles e as noites escuras que travaram, mas permaneceram firmes. Portanto, permaneçamos firmes na fé, façamos com que a nossa vida seja alimentada também pela vida daqueles que nos antecederam e tornaram-se força viva do Evangelho no meio de nós.

Veja o que viveu São Francisco, a beata Helena Guerra, Santo Padre Pio, Santa Gema Gualgona, Santa Teresa D'Ávila e todos os outros santos e santas que, com a sua perseverança, tornaram-se para nós um modelo de vida em Cristo.

Alimentemos nossa fé

Umas das maneiras de alimentarmos nossa fé é vivermos cada dia com intensidade, é a experiência do batismo no Espírito, que nos convence do pecado e nos leva a fazer coisas maiores do que aquelas que Deus fez. É a promessa de Jesus: recebereis o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas.

É impossível alimentar a fé e a experiência de Deus em nós sem o batismo no Espírito, sem os exercícios dos carismas, sem a entrega e a total submissão e escravidão ao Espírito Santo. Quanto mais nos aproximarmos do Espírito Santo, mais sadios, fortificados e alimentados na fé seremos.

É o Espírito Santo que nos faz buscar as coisas do Alto. Quanto mais a Ele estivermos ligados, muito mais dependentes d'Ele seremos. Quanto mais nos entregarmos ao Espírito Santo, mais livres nos tornaremos das coisas do mundo, dos apetites da carne, das vaidades, dos vícios, de uma sexualidade desordenada e de um caminho de perdição.

Alimentar a fé é ser possuído, todos os dias, plenamente, pelo Espírito Santo, para sermos livres de toda possessão do mal.


Tenha o Espírito Santo próximo de ti

Não podemos nem queremos deixar de acordar sem dizer: "Bom dia, Espírito Santo! O que vamos fazer juntos hoje?". Nem podemos dormir a noite sem dizer: "Perdão, Espírito Santo, por aquilo que eu fiz sem O consultar". Uma pessoa que quer viver uma fé saudável, estruturada, alimentada pela graça de Deus tem de ser possuída pelo Paráclito.

Invoquemos o Espírito Santo e alimentemos nossa fé, diariamente, pois Ele tem o poder de abater a fúria de satanás, que vai tornando nossa fé anêmica. Ao nos alimentarmos pelo Espírito, mais sólidos na fé, mais livres de tudo aquilo que é mundano e de tudo o que é desprezível aos olhos de Deus e aos nossos olhos nos tornaremos. Portanto, vivamos uma dependência e uma submissão de escravidão total ao Espírito Santo, pois sem Ele não podemos fazer nada de bom.

O Espírito Santo é para nossa alma aquilo que a nossa alma é para o nosso corpo. Se quisermos ter uma fé estruturada, fortificada, precisamos ter a experiência de uma alma mergulhada no "Rio de Água Viva do Espírito Santo".

Viva a fé diante dos obstáculos

É impossível viver a fé sem a cruz. Quem busca Cristo sem cruz vai viver uma cruz sem Cristo. É preciso na cruz buscar a Deus para não desistir e não desanimar.

Se você quer perseverar na fé, se quer ter uma fé firme e inabalável, olhe para a cruz com Cristo e a abrace. Não fique criando cruz nem se autoflagelando ou tornando-se vítima diante dos fatos, mas abrace a cruz com Cristo. A cruz de Cristo é redentora, libertadora, transformadora e nos levará a viver o céu neste mundo.

Busquemos com Cristo a glória plena do Pai e, em todas as circunstâncias, oremos pelo Espírito, apresentando-nos a Deus, dizendo-Lhe as nossas preocupações mediante súplica e ações de graça. Assim, a paz se manifestará com graças, sinais, prodígios e milagres, até alcançarmos a maturidade de São Paulo e nos tornarmos homens e mulheres adultos na fé.

Ironi Spuldaro
(Transcrição e adaptação)


28 de novembro de 2016

Vencendo as barreiras nos relacionamentos

Como vencer as barreiras nos relacionamentos

Se não tivéssemos aprendido um pouco sobre a metamorfose das borboletas, sequer poderíamos imaginar que o mesmo inseto que esvoaça entre flores tenha sido uma asquerosa lagarta, a qual, semanas antes, estava rastejando pelo mesmo jardim.
Foram necessários interesse e maturidade para estudar o delicado comportamento dessas lagartas; do contrário, teríamos nos empenhado no extermínio daquelas devoradoras de plantas e erradicaríamos da natureza a beleza colorida que vivifica os bosques. Uma dedicação semelhante se faz necessária para cada um de nós quando a questão é relacionamento.

Vencendo as barreiras nos relacionamentos
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como seria fácil se, para o nosso convívio diário, – diante das divergências e na tentativa de convencer alguém sobre uma determinada opinião,– pudéssemos inserir um cartão de memória pré-programada para obter os resultados esperados, como fazemos em máquinas. Ou ainda, não estando satisfeitos com as atitudes e procedimentos de alguém, simplesmente cortássemos o contato com ele, como podamos os ramos de uma árvore em nosso jardim.

Não sufocar os relacionamentos

Por diversas vezes, já tivemos vontade de "abrir" a cabeça de alguém e fazer com que ele entendesse o nosso pensamento, para que vivesse nossa vontade. Entretanto, bem sabemos que, diante de tais desafios, muitas vezes, tomamos atitudes enérgicas, apoiadas em nosso autoritarismo. Se assim agirmos, estaremos sufocando a "metamorfose" na vida daqueles que ainda precisarão atingir o próprio amadurecimento, tal como ocorre com as borboletas.


Quem se abre aos relacionamentos deverá estar sempre disposto a resgatar a saúde do convívio, mesmo quando inúmeras situações indicarem a facilidade da fuga como válvula de escape. É verdade que somente nos desentendemos com aqueles com os quais realmente convivemos e, de maneira especial, quando as coisas não vêm ao encontro das nossas cômodas intenções. Muitas vezes, preferiríamos viver numa ilha, isolados de tudo e de todos, especialmente quando experimentamos as asperezas dos desentendimentos, comuns e pertinentes nos relacionamentos. Em outras ocasiões, surge até o desejo de pegar um dos nossos amigos pelo pescoço, chacoalhá-lo e jogá-lo contra a parede. Certamente, tal vontade tem de ser controlada, já que esses sentimentos tendem a desaparecer com a mesma velocidade com que emergiram no calor dos ânimos exaltados.

Rumo a maturidade

Contudo, a lição proposta pela vida é a de sempre conquistarmos alguns passos à frente na caminhada que estamos trilhando rumo à maturidade. Mas como fazer com que um infortúnio se torne uma história de superação? Sem culpar pessoas ou acontecimentos, passemos a considerar as consequências do impasse que estamos enfrentando. Sem parar na dificuldade, busquemos as possíveis soluções ao nosso alcance. Pois, assim como o rochedo desafia um alpinista, as nossas diferenças permanecerão imóveis até que nos coloquemos em ação para superá-las.

Tal como as ondas do mar roubam as areias sob os nossos pés, as desavenças, impaciências, irritações e invejas solapam os alicerces das nossas amizades. Penso não existir coisa mais descabida numa relação pessoal do que o ato de "dar um gelo", ou como alguns preferem dizer, "matar fulano no coração", ou seja, esquecê-lo. Ignorar, mudar de calçada ou desconsiderar a presença de alguém, que antes fazia parte de nosso círculo de amizade, faz com que retrocedamos ao tamanho das picuinhas dos seres mais ínfimos que podemos imaginar. Seríamos injustos se comparássemos tais atitudes ao comportamento infantil, pois, na pureza peculiar das crianças, sabemos que logo após seus acessos de raiva, estas instantaneamente voltam à amizade sem nenhum ressentimento ou mágoa.

Pelos motivos acima apontados, muitas vezes, ferimos os sentimentos daqueles com quem convivemos; talvez, na mesma intensidade de uma agressão física.

Para nós adultos, reviver a aproximação com alguém que tenha nos ferido não é uma atitude fácil. Ninguém é superior o bastante para estar livre dos erros e deslizes em seus relacionamentos. Podemos ser vítimas, também, de nossos próprios ataques que, refletidos em atos potencializados pela ira, descontentamento ou ciúme, tenham decepcionado um amigo com nossas grosserias ou indiferenças. O restabelecimento desses abalos em nossas relações, ainda que não seja algo fácil, poderá ser possível ao tomarmos a iniciativa da reaproximação, por exemplo, a partir das atividades ou coisas que eram vividas em comum.

"Atire a primeira pedra aquele que nunca errou". Assim, ao nos colocarmos na mesma condição, – sujeitos aos mesmos erros, – justificaremos a atitude do destrato sofrido não como sendo um comportamento próprio do nosso amigo, mas como resultado de uma faceta ainda desconhecida dentro do nosso convívio, a qual precisará ser trabalhada.

Deus abençoe o nosso esforço.
Um abraço,

 

25 de novembro de 2016

Como conciliar expectativa e frustração diante da realidade

Expectativa e frustração são frutos de experiências vividas, por isso é preciso aprender com elas

Lidar com a frustração é definitivamente uma tarefa difícil, mas pode trazer benefícios e crescimento emocional, dependendo da forma como a encaramos. Parar no negativo não é a melhor escolha, até porque já está provado que o que alimenta a frustração e aumenta o tamanho da dor são os pensamentos negativos, pois eles alteram o humor e até mesmo o comportamento da pessoa, podendo leva-lá a assumir uma atitude de derrota com frases como: "Nada dá certo para mim" ou "Eu sou um fracasso". Porém, como nem tudo o que pensamos está de acordo com a realidade, principalmente nessa hora é importante questionar os pensamentos e enfrentar a frustração, por exemplo, com uma releitura do acontecimento, dando importância ao que realmente vale a pena.

No meu caso, já passei e passo por diversas experiências de expectativas frustradas e tenho aprendido a superá-las, acima de tudo, com a graça de Deus e por meio da oração. Posso partilhar, por exemplo, uma situação que até relato no meu livro – 'Por onde andam seus sonhos? Descubra e volte a sonhar' –, com relação à celebração das bodas de 50 anos de casamento de meus pais.

Como conciliar expectativa e frustração diante da realidadeFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Minha família e eu vínhamos alimentando, há algum tempo, a expectativa de fazermos uma celebração em comemoração às bodas. Porém, antes da data marcada, meu pai faleceu, e tudo o que havíamos planejado perdeu o sentido. É claro que sofri, chorei e senti-me desapontada, mas procurei discernir o que poderia aprender com aquele acontecimento. Fui percebendo, com o tempo, que era mais importante eu ter a lembrança de um bom pai conservada em minha memória do que festejar suas bodas. Esse pensamento deu um novo sentido para o fato, e, aos poucos, a gratidão foi ocupando o lugar da dor. Não se trata simplesmente de pensar de forma positiva ou fugir da realidade. É procurar ver as coisas do ponto de vista de Deus e pedir que Ele mostre como uma circunstância aparentemente negativa pode, na verdade, trazer-nos algo de bom, inclusive uma nova maneira de ver a vida.

Aprendendo a lidar com as expectativas e frustrações

É claro que cada pessoa aprende a lidar com expectativas e frustrações vivendo suas próprias experiências. E é por isso que não existe uma receita pronta, que funcione com todo mundo.

Em geral, acredito que a dificuldade ou não em lidar com a frustração seja um reflexo da maneira como lidamos com a vida. Alguém que foi criado em um ambiente onde seus desejos eram sempre atendidos, e nunca assumia as consequências de suas ações, provavelmente será um adulto que não saberá lidar com um 'não', muito menos com as expectativas frustradas. Essa pessoa terá forte tendência a ser intolerante e até a produzir conflitos em seus relacionamentos, exatamente pela necessidade em ser sempre aprovado, ou ainda, passar a vida inteira estressado, tentando evitar a frustração, mas não existe uma forma de evitá-la completamente. As expectativas são realidades inerentes à vida, somente quando aceitarmos conviver com elas, mesmo correndo o risco de nos depararmos com a frustração, é que conseguiremos viver plenamente.


Já ouvi, por exemplo, alguém dizer: "Não vou criar expectativas para não me frustrar". Essa atitude é, de certa forma, uma defesa, mas aceitar a possibilidade de frustração não é, na verdade, uma expectativa? E mais: quem procura evitar frustrações limita suas experiências e oportunidades de conquistas, sentindo-se, em todo caso, frustrado no final. É o mesmo que dizer: "não vou amar para não sofrer" e passar a vida sofrendo por causa da solidão.

A meu ver, a grande questão é justamente descobrirmos qual é o verdadeiro sentido da nossa vida. Se já sabemos, por exemplo, que viemos a este mundo para fazer o bem, amar e sermos amados, a primeira providência que tomaremos diante da frustração será confiar no amor de Deus e nos abandonarmos n'Ele, mesmo em meio à dor. Até porque, ao fazermos essa experiência, vamos perceber que nosso passado está na misericórdia de Deus, nosso futuro na Divina Providência. Já o presente está em nossas mãos e podemos escolher vivê-lo com sentido, gratidão e alegria, certos de que Deus vê além e tem sempre o melhor para cada um de nós.


23 de novembro de 2016

Você sabe o que é o purgatório e o que a Igreja diz sobre ele?

Faça uma reflexão sobre o que a Igreja diz sobre o purgatório

É frequente rezar, especialmente neste mês de novembro, pelas "almas do purgatório". Mas o que é o purgatório?

Nós lemos, no Evangelho de Mateus, que um fariseu fez a seguinte pergunta a Jesus: "Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?".

Jesus respondeu: "Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda  a tua alma e toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. E segundo é-lhe semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22,35-39).

Você sabe o que é o purgatório e o que a Igreja dizFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Reflita sobre a passagem bíblica

Vamos refletir sobre essa resposta e nos perguntar com sinceridade: quem de nós ama a Deus com todo o coração, alma e mente?  Quem de nós ama o próximo como  a si mesmo? No primeiro domingo de novembro, a Igreja, no Brasil, celebra a festa de todos os santos e, continuamente, apresenta-nos uns "modelos" daqueles que, de verdade, amaram a Deus e ao próximo "com toda a sua vida".

Nós, humildemente, olhamos para esses modelos e precisamos confessar: eu não amo a Deus como um São Francisco, uma Santa Clara, um Santo Afonso, um S. João XXIII, uma Madre Paulina, um Padre Vítor Coelho de Almeida; ou como muitos outros cristãos pouco conhecidos, mas que deram um extraordinário exemplo de fé e amor.

Nosso amor a Deus e ao próximo, frequentemente, fica misturado com egoísmo, com vaidade, presunção, negligência, falta de delicadeza, instabilidade e "pouca fé".

O que diz o Catecismo da Igreja Católica?

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina a distinguir entre pecado mortal e pecado venial (N. 1855-1856). Na primeira situação, o ser humano teve um comportamento tão grave, que rompeu sua ligação mais profunda, tanto com Deus quanto com o próximo. No segundo caso, essa ligação permanece, mas não é perfeita.

O que acontece quando o homem chega ao fim da sua vida e deve entrar em contato com o Deus totalmente santo? Com Deus ninguém convive se não for totalmente d'Ele. Diz o livro do Apocalipse (21,27) que, no céu, na "cidade santa", na "nova Jerusalém… não entrará nada de impuro".

É aqui que reside o lugar teológico do purgatório. O purgatório significa, pois, a graciosa possibilidade que Deus concede ao homem de poder e dever, na morte, amadurecer radicalmente. O purgatório é esse processo doloroso, como todos os processos de ascensão e educação, no qual o homem, na morte, atualiza todas as suas possibilidades, purifica-se (daí o termo "purgatório") de todos os limites, fruto da própria história de pecado, de maus hábitos adquiridos ao longo da vida.

São Pedro, na sua primeira carta (1,14-16) escreve: "Como filhos obedientes, não vos conformeis com os desejos que tínheis no tempo da vossa ignorância; mas, assim como aquele que vos chamou é santo, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito 'Sereis santos porque eu sou santo' (Levítico 11,44)".

Como não lembrar a outra palavra que lemos em Mateus 5,48: "Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste?".

Deus nos pede a perfeição, ele nos quer perfeitos e, por meio da Sua graça, que sempre nos acompanha nesta e na outra vida, ele nos transforma de imperfeitos em perfeitos. Essa graça, na vida presente, é oferecida à nossa "liberdade". O homem pode dizer a Deus um 'não' definitivo ou 'sim', mas não de uma maneira perfeita. Então, a sua graça nos acompanha até o momento em que esse 'sim' se tornará perfeito: e se isso não acontece antes da nossa morte, acontecerá depois dela, para aqueles que escolheram amar a Deus e ao próximo, mas não chegaram a fazê-lo "com todo o coração". Eis o "lugar", ou melhor, o "estado", a "situação" do Purgatório.

Por que purgatório?

A essa altura, pode-se perguntar quando, na história e na doutrina da Igreja, fala-se do purgatório.

Na antiga Igreja, a ideia do purgatório se desenvolveu em relação à prática penitencial. De fato, se por um lado Jesus concedeu aos apóstolos o poder de perdoar os pecados (cf. João, 20,22-23), por outro, a Igreja organizou sua "prática penitencial" de maneira diferente, em épocas diferentes. Hoje, temos a modalidade do sacramento da "confissão", mas, desde o início até o século VI, houve a modalidade da penitência pública, concedida uma vez na vida e reservada para os pecados mais graves e públicos, caracterizada por um longo (de anos) e difícil caminho de expiação, que se concluía com uma reconciliação eclesial, por meio do bispo. Reinava, então, a insegurança quanto ao batizado que houvesse cometido um pecado mortal e em consequência se achasse excluído da vida comunitária da Igreja, se estava suficientemente purificado e havia feito suficiente penitência para poder ser admitido novamente na Celebração Eucarística. E, em suas dúvidas, as autoridades eclesiásticas se decidiam a conceder a reconciliação, que, às vezes, parecia demasiado prematura, movidas pelo pensamento de que, além da morte, existe uma possibilidade de purificação ou reconciliação. Quem mais difundiu a doutrina do purgatório foi o Papa Gregório Magno  (papa desde o ano de 590 até 604).

A convicção eclesiástica criou diversas formas de expressão na liturgia. Já no século II, atesta-se uma oração pelos falecidos. Desde o século III, existe o costume de orar por eles durante a Celebração da Eucaristia.

A Igreja Católica ensinou explicitamente a existência do purgatório no Segundo Concílio de Lião (1274), no Concílio de Florença (1439) e no Concílio de Trento (1545-1563).


O que fazer para não passar pelo purgatório?

Diante desse ensinamento da Igreja, vamos agora nos perguntar: "O que vamos fazer para "evitar" o purgatório ou para chegarmos no fim da vida mais "purificados" do que estamos agora?

"Viver é aprender", diz o provérbio. Temos a vida toda para aprender a "amar a Deus de todo o coração e  amar o próximo como a nós mesmos". Nessa caminhada, fazemos também a experiência do pecado, mais ou menos grave. Não podemos, então, esquecer o significado da palavra Evangelho. Essa importante palavra vem do grego e se traduz como "boa nova", "bela notícia". Qual é a "bela notícia"? Ei-la: Deus é misericórdia, Deus é graça, Deus perdoa, Deus é como o Pai do Filho Pródigo. Manifestou esse amor dando-nos seu Filho, Jesus, nosso Salvador, que deu a vida por nós, que nos salvou através da sua morte – ressurreição e do dom do Espírito Santo. Naturalmente, o homem tem que fazer a sua parte, acreditando neste amor e convertendo-se.

Falamos que a Igreja é santa e pecadora ao mesmo tempo. Trata-se, para todos nós, de uma luta contínua entre o pecado e a graça. Vamos, aos poucos, aprender a "viver como Jesus viveu". É um processo educacional: os que mais aprendem, às vezes, depois de uma experiência de pecado, chegam no fim da vida "purificados", "prontos" para "ver a Deus face a face". Os que escolheram a Deus de verdade, mas que ainda não se aperfeiçoaram de maneira completa,  na morte irão completar este "processo de conversão": eis o "purgatório".

Quanto vai durar? Depois da morte vamos ficar sem relógio. No fundo, é ridículo falar de 100 anos ou de mil anos de purgatório. Entramos no mistério da vida após a morte. Só Deus sabe.

Em suma, somos chamados, desde já, a percorrer o caminho da santidade. Não vamos esquecer que, no Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja falou da "Vocação universal à santidade" (cf. Documento sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 39-42). Todos os cristãos são chamados a ser santos, naturalmente dentro da específica vocação de cada um.
Por fim, lembramos que, no Dia de Finados, reza-se especialmente pelos mortos, visitam-se os cemitérios. A que se devem essas práticas? São válidas?

A oração pelos mortos têm raízes já na crença dos próprios judeus, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus (II século antes de  Cristo). Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então, Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. O autor sagrado louva a ação de Judas nestes termos:   "Se ele não esperasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. E acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente. Era este um pensamento santo e piedoso. Por isso, pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres das suas faltas". (2 Mac 12,44-46)

Nesse caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé.

No Credo, nós cristão professamos a fé na "comunhão dos santos". O que significa isso?

Procuramos a resposta no Catecismo da Igreja Católica, que assim se expressa: "A expressão comunhão dos santos designa, em primeiro lugar, as coisas santas e, antes de mais, a Eucaristia, pela qual 'é representada e se realiza a unidade dos fiéis que constituem um só Corpo em Cristo'. Esse termo também designa a comunhão das pessoas santas em Cristo, que 'morreu por todos', de modo que o que cada um faz ou sofre por Cristo e em Cristo reverte em proveito de todos. Nós cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que peregrinam na terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do céu: formam todos uma só Igreja; e cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre atento às nossas orações." (N. 960-962).

Então, visitando os cemitérios e rezando pelos falecidos manifestamos a fé na "comunhão dos santos"; e, acima de tudo, manifestamos a fé na ressurreição dos mortos. A esse respeito, gostaria de concluir com as belíssimas palavras do Apóstolo Paulo, que encontramos na Primeira Carta aos Tessalonicenses (4, 13-18).

"Não queremos, irmãos, que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para não vos entristecerdes como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também devemos crer que Deus levará por Jesus e com Jesus os que morrem nele. Seremos arrebatados juntamente com eles (quer dizer, com os que já morreram) sobre as nuvens; iremos ao encontro do Senhor nos ares e assim estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos portanto com estas palavras".

Vamos, então, visitar os cemitérios e rezar pelos falecidos; essas práticas são validas, pois nascem da nossa fé e a alimentam.