Os casais de segunda união podem e devem participar da Igreja
Para a Igreja, no conceito jurídico, a relação de um casal é considerada um segunda união quando um deles ou ambos receberam o sacramento do matrimônio, passaram pela separação e, por conseguinte, pelo divórcio; unindo-se, então, a uma outra pessoa. Já no conceito pastoral, os elementos de uma segunda união para a Igreja são: a vontade firme de formar uma nova e séria união responsável e aberta para a vida e a estabilidade do casal, isto é, um estado permanente, sobretudo, com o elemento mais importante, que é percorrer um caminho de vida cristã.
A Igreja tem um serviço pastoral chamado Tribunal Eclesiástico. O casal, que está nessa situação de unir-se pela segunda vez a outra pessoa, deve procurar o seu pároco, conversar com ele, contar-lhe como aconteceu a sua separação, como era sua vida antes do matrimônio, no dia do casamento e mostrar-lhe os fatos. Ele [o padre], conforme os fatos, poderá orientá-los a consultar esse Tribunal. Esse processo é importante para a tranquilidade e a paz de ambos; é um direito deles, pois se a Igreja declara o matrimônio nulo, as portas podem ser abertas para um outro casamento.
Eu estava numa paróquia, no interior do Rio Grande do Sul, chamada Bandeirantes. Lá, a maioria dos casais vivia nessa situação. Então, ninguém podia comungar. As parábolas da Divina Misericórdia, assim com as do bom samaritano, dizem que, diante de uma pessoa em necessidade (não se duvida disso), deve-se fazer alguma coisa para ajudá-la, assim como Jesus o fez. Essas são as duas preocupações da Igreja: a realidade e o jeito de Jesus. Mas qual o jeito, hoje, da Igreja? Essa é uma realidade nova para ela. Só depois do Concílio Vaticano II é que se começou a refletir sobre esse assunto. Antes, nem se cogitava sobre isso; era um capítulo fechado na Igreja. Mas, após o Concílio, começaram-se os estudos e a abertura para os casais de segunda união.
O sagrado do sacramento do matrimônio
Deus ama o ser humano com um amor indissolúvel, eterno e fiel, e é por meio do sacramento do matrimônio que Ele faz uma aliança indissolúvel e fiel também com o casal. A segunda união rompe essa aliança, e aí está o impedimento: esses casais não podem se confessar nem receber a comunhão.
O Papa João Paulo II fala que eles podem e devem participar da vida da Igreja, porque o divórcio não lhes tira a fé nem o valor do batismo. Eles pertencem à Igreja, por isso têm o direito de fazer dela sua casa, sua tenda, de sentirem-se bem dentro dela como em suas casas e de serem acolhidos como irmãos.
Casais de segunda união
Os casais de segunda união podem e devem participar da Igreja. Eles são incentivados a ter uma vida cristã e, por último, ter grande esperança, consolo, conforto e uma firme confiança nela.
Como afirma o saudoso Pontífice, eles esperam o momento que a Divina Providência reconhece a graça da conversão e da salvação. João Paulo II proclama também, em sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, nº 84: "Com firme confiança, a Igreja crê que, mesmo aqueles que se afastaram dos mandamentos do Senhor e vivem atualmente nesse estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se perseverarem na oração, na penitência e na caridade".
Padre Luciano Scampini Sacerdote da Arquidiocese de Campo Grande
A eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja
Essa reflexão procura responder às seguintes perguntas: por que esse período é chamado de Ano Santo ou Jubileu? Existem tempos favoráveis para a salvação? De onde provém a eficácia espiritual do Ano Santo? Para onde ele nos leva?
1. A origem do termo "Jubileu"
A origem do Jubileu está ligada ao Antigo Testamento. A lei de Moisés tinha fixado para o povo de Israel um ano especial (Lev 25,10-13). Esse ano era anunciado ao som da trombeta (Lev. 25,9), um chifre de carneiro que, em hebraico, se chama jobhel, daí a palavra Jubileu. A celebração desse ano significava, entre outras coisas, a devolução das terras aos seus antigos proprietários, a remissão das dívidas, a libertação dos escravos e o repouso da terra.
Foto: reprodução youtube – CTV
No Novo Testamento, Jesus se apresenta como Aquele que veio levar a termo o antigo Jubileu, pois, citando o profeta Isaías (61,1-2), ele chegou para "proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-21).
2. Existem tempos favoráveis para a salvação?
O nosso Deus quis manifestar-se ao homem: é o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Jesus Cristo. Esse chamado à salvação insere-nos na história da humanidade e encontra seu ponto mais alto na vinda de Cristo. O tempo todo é tempo de salvação. Mas no arco de toda a história há alguns "segmentos de tempo", uns tempos propícios, nos quais a salvação age com particular intensidade.
Jesus, em Mt 16,2-3, fala do tempo messiânico e diz aos fariseus e aos saduceus: "Olhando o céu, vocês sabem prever o tempo, mas não são capazes de interpretar os sinais dos tempos".
Ressalta-se, seja neste texto citado, como em outros (2 Cor 6,2; Lucas 19,44), a diferença que os antigos gregos faziam quando falavam do "tempo". Os termos usados eram "Chronos" (Χρόνος) e " Kairos" (καιρός), com significados diferentes. "Chronos" é o tempo que chamados de cronológico. É o tempo, diríamos hoje, do relógio, no qual não há nenhuma diferença entre um minuto e outro minuto: é o tempo quantitativo. Mas o termo "Kairos" indica um "tempo favorável", é o tempo qualitativo.
O Evangelista João, várias vezes, coloca na boca de Jesus a expressão "A minha hora" (2,4; 7,30). Durante a última ceia, Jesus diz: "Pai, chegou a hora. Glorifica o teu filho" (17,1). Portanto, o tempo todo é história da salvação. O tempo da Igreja, que começa com a Encarnação do Filho de Deus e vai até o fim do mundo é, a título especial, tempo de salvação. O tempo da presença de Jesus, nesta terra, é ainda mais tempo de salvação.
Jesus está presente. Mesmo assim, Ele pode afirmar que ainda existe um outro "momento favorável", a sua "hora", que ainda não chegou. É o momento mais alto: o da sua morte-ressurreição.
A partir desses textos do Evangelho conclui-se que existem "momentos favoráveis" mais do que outros em ordem à realização da salvação. Esses momentos podem ser subdivididos por ritmos diários (os momentos de oração durante o dia), semanais (o domingo, dia do Senhor), anuais (Advento e Quaresma; tempo de Natal e tempo Pascal); por ritmos comunitários litúrgicos ou não (exercícios espirituais, encontros de espiritualidade dos vários grupos eclesiais etc.). Há também os ritmos do Ano Santo ordinário (a cada 25 anos) ou extraordinário: este Ano Santo da Misericórdia ou os anteriores (no ano de 1933, Pio XI proclamou o Ano Santo da Redenção, para lembrar os 1900 anos da morte-ressureição de Cristo; e em 1987, João Paulo II, num outro Ano Santo Extraordinário, lembrou os 1950 anos da Redenção).
Nesse sentido, o Papa Francisco escreveu na Bula de Proclamação do Jubileu extraordinário da Misericórdia: "Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos um sinal eficaz do agir do Pai".
3. A eficácia espiritual do Ano Santo
Por que o Ano Santo é um "momento oportuno"? A eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja. Isso significa que a Igreja, esposa de Cristo, pede, com a certeza de que sua oração vai ser atendida, para que Ele derrame de maneira abundante seus dons para todos os cristãos. É essa vontade eficaz que torna o Ano Santo um momento oportuno da salvação.
Mais uma pergunta: quais são os elementos do Ano Santo? São particularmente três: a conversão, a peregrinação e a indulgência. A conversão acontece por meio da reconciliação com Deus e com os irmãos. Observe-se que a reconciliação é uma iniciativa de Deus: Ele mesmo intervém e, estando em paz com Ele, nós nos tornamos criaturas novas, graças à morte de Cristo (2 Cor 5,17-20).
Jesus Cristo revela a bondade do Pai para com os pecadores. A esse respeito, há uma feliz coincidência entre este "Ano Santo da Misericórdia" e a leitura do evangelista Lucas neste mesmo ano litúrgico. De fato, São Lucas narra parábolas de Jesus, centradas na misericórdia de Jesus e na confiança nele que caminha entre os pobres, doentes, humilhados e sofredores da terra (Lucas 10,25-37; 15,1-32; 16,19-31; 18,1-18; 18,9-14). Narra encontros de amizade e compaixão (7, 36-50, 10,38-42; 19,1-10.28; 23,39-43). Lucas ressalta as atitudes de Jesus que consola e ampara (7,11-17; 13,10-17; 14,1-6; 17,11-19).
4. A peregrinação e a indulgência
A peregrinação faz reviver a experiência da história da salvação: a história de Abraão peregrino de Ur dos Caldeus para a terra que Deus lhe teria mostrado (Gen. 12,1); a peregrinação de Israel rumo à Terra Prometida; a peregrinação de Jesus rumo a Jerusalém. E a vida cristã é uma peregrinação até Deus.
Eis como o Papa Francisco fala da peregrinação na citada Bula de Proclamação deste Ano Santo: "A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até a meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco".
Passa-se agora a refletir sobre a indulgência. Antes de tudo, é necessário esclarecer o significado do termo. "Indulgência" indica, na doutrina católica, a promessa de uma particular intercessão da Igreja para que Deus perdoe a pena temporal dos pecados que já foram perdoados, mas cujas consequências continuam. Em outros termos, o pecador arrependido e perdoado inicia um processo de conversão, ou mudança de vida radical, que exige tempo e perseverança. Nesse processo, a Igreja acompanha o fiel arrependido com sua oração de intercessão. Como se vê, existe para os não esclarecidos a possibilidade de confundir "indulgência" com "perdão dos pecados". Geralmente, para a concessão de uma indulgência, a Igreja pede, além da participação aos sacramentos, como acima lembrado, um gesto que seja sinal de conversão, como uma esmola, uma oração, uma peregrinação etc. A indulgência é considerada "plenária", quando diz respeito ao perdão de toda a pena temporal; nos outros casos, a indulgência é "parcial".
Nosso amor a Deus e ao próximo frequentemente fica misturado com egoísmo, com vaidade, presunção, negligência, falta de delicadeza, instabilidade e pouca fé. Daí a necessidade de uma conversão sempre mais profunda: e a indulgência encontra o espaço nesse contínuo esforço de conversão do cristão, que procura tornar-se "homem novo" e sente-se acompanhado pela oração da Igreja. A indulgência, como diz o Papa Francisco na citada bula, "através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado".
Uma conclusão a partir da vida do Papa Francisco
O tema da misericórdia tocou profundamente a vida do jovem Jorge Mario Bergoglio, acompanhou-o e o acompanha até hoje. Seu lema de bispo é o seguinte: Miserando atque eligendo. A frase é tirada das Homilias de São Beda Venerável (672-735), o qual, comentando o episódio evangélico da vocação de São Mateus, escreve: "Jesus viu um cobrador de impostos e olhando-o com amor o escolheu e disse: Segue-me".
Essa homilia é uma homenagem à misericórdia de Deus e está reproduzida na Liturgia das Horas da festa de São Mateus. Foi justo por ocasião da festa de São Mateus, no dia 21 de setembro de 1953, que, com quase 17 anos, Jorge Mario Bergoglio sentiu, pela primeira vez, a vocação à vida religiosa. Naquele dia, depois de uma confissão, o futuro Papa advertiu a presença no próprio coração da misericórdia de Deus, que o chamava a viver a vida como jesuíta, seguindo o exemplo de Santo Inácio de Loyola.
Considera-se, pois, interessante essa ligação entre o Ano Santo da Misericórdia e o caminho espiritual que o Papa Francisco tinha iniciado quando era ainda adolescente.
Como "discípulos que Jesus ama", possamos acolher neste Ano Santo em nossa casa, a mãe Maria, presente na grande hora da misericórdia (João 19,25-27).
"Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes"
A palavra "escatologia", no grego scatom, significa "últimas" e está relacionada ao céu, ao inferno e ao purgatório. A Igreja, apoiada na Sagrada Escritura, diz que estamos aqui, nesta terra, de passagem, porque fomos feitos para céus novos e uma terra nova.
Jesus está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso. Assim como Cristo ressuscitou, nós também vamos ressuscitar em Cristo. Nós cremos que, um dia, Ele há de julgar os vivos e os mortos. Jesus virá uma segunda vez, quando ressuscitaremos. As pessoas que morreram ressuscitarão e todos nós teremos um corpo glorioso. Precisamos acreditar na Ressurreição, caso contrário, não seremos, de fato, católicos. São Paulo diz que se não acreditarmos nela a nossa fé será vã.
O Senhor virá julgar os vivos e os mortos. Quando pensamos que Jesus está sentado à direita de Deus, podemos acreditar que, talvez, Ele esteja parado. Mas não! Cristo está agindo. Diante de tanta injustiça, podemos pensar: "Parece que Jesus está de férias no céu!". Mas quando Ele voltar, toda a justiça de Deus será em plenitude. Tudo mudará.
Não sabemos ao certo quando o Senhor virá, mas, quando Ele vier, passaremos por uma prova de fé. E mesmo que Cristo não volte amanhã, muitos de nós poderemos ir até Ele. Por isso, o Evangelho nos chama à conversão.
O Catecismo da Igreja Católica afirma: "Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes (639). A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na terra (640), porá a descoberto o 'mistério da iniquidade', sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do anticristo, isto é, dum pseudomessianismo em que o homem glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado (641). 676. Esta impostura anticristã já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o nome de milenarismo (642), e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado, 'intrinsecamente perverso' (643)."
Mas já há muitos lugares onde as pessoas estão sendo perseguidas. Não quero ser o profeta do desespero, como alguns fazem, dizendo que Jesus virá tal dia e que o mundo vai acabar logo. Não! Ninguém sabe quando isso vai acontecer; só o Pai, como nos diz a Palavra. O primeiro sinal, no entanto, como nos diz o Catecismo, será a perseguição.
Já neste primeiro milênio, existem mais mártires do que no primeiro milênio do Cristianismo. Talvez, você nem sabia disso, porque essas notícias não aparecem nos jornais, mas há lugares onde os cristãos estão sendo dizimados. O Papa Francisco, em uma entrevista, emocionou-se ao dizer: "Hoje, há mais mártires que no primeiro século do Cristianismo."
Nós, no Brasil, não sofremos essa perseguição de açoites, mas sofremos a perseguição velada. Nós vivemos tempos tristes, quando até o coroinha questiona o Papa, a Igreja, a verdade da fé. Quando o Santo Padre fala alguma coisa, há pessoas que dizem: "Não, não é bem assim", mas elas estão lá, no domingo, professando o Credo. Hoje, pensamos que tudo é normal, porque fomos nos deixando contaminar pelas mídias.
O Berço do Cristianismo
Na própria Europa, berço do Cristianismo, houve uma perseguição nos locais onde havia crucifixo. Se você ler algumas leis brasileiras, perceberá que aqui não tem sido diferente. Quais sãos os sinais de que Jesus voltará?
Você sabia que, há alguns meses, na Bélgica, foi aprovada a eutanásia infantil? É um absurdo! Eu quero chamar a atenção de vocês para esses sinais dos tempos.
Outro ponto é o avanço da perseguição à Doutrina da Igreja, ao Cristianismo. Nós temos pessoas que dizem 'não' a Deus. A consequência disso é dizermos 'não' ao homem; por isso matar o idoso que está ali, no leito do hospital, sem condições financeiras, "é normal" para eles. Num ano, há mais de 50 milhões de abortos. Quando o demônio quer agir, ele vai na destruição do ser humano. Vivemos um tempo em que a sociedade tem colocado o ser humano sem nada de valia.
Você só poderá suportar essas provações que virão se estiver em uma comunidade, se estiver junto com outros que professam a mesma fé que você. É o que diz Bento XVI. É preciso que tenhamos claro isso diante de nós: Jesus voltará. Se Ele voltasse hoje, como estaria a sua fé?
Apesar de ser tão doloroso e traumático, será que pode existir vida a dois após a traição?
Essa é realmente uma das situações mais difíceis que encontramos na vida a dois, e cada vez mais comum, seja por homens ou por mulheres. A traição gera marcas de desconfiança e de decepção muito fortes, que para sempre vão estar presentes na vida de toda a família. Quando alguém trai seu cônjuge, está distorcendo também a imagem de homem e mulher na visão de seus filhos, o que pode torná-los pessoas isoladas, com dificuldade para construir laços afetivos ou com tendência à traição posterior.
Mas apesar de ser tão doloroso e traumático, será que existe vida a dois após a traição? Será possível reconstruir o laço de fidelidade após o adultério? Acredito que a melhor resposta seja: depende. Vários fatores vão interferir nisso.
O adultério aconteceu várias vezes? A pessoa traiu em seus relacionamentos anteriores? Acontecia desde o namoro? A sexualidade dele/dela está desequilibrada e há vícios sexuais? Existe uma herança familiar muito forte de traição? Se a resposta for afirmativa para algumas dessas perguntas, então essa pessoa provavelmente só irá mudar se experimentar uma grande transformação em sua vida – conversão radical, tratamento terapêutico/psicológico. Se a pessoa se fecha às ações de mudança, fica muito complicado ajudá-la. Em alguns casos extremos, deve-se pensar na possibilidade do afastamento, que pode ser até menos traumático do que o convívio instável. A separação, desde que seguida pela vivência da castidade individual, não é pecado (pode-se inclusive manter a comunhão Eucarística), e tende a garantir um ambiente menos agressivo para a criação dos filhos. Algumas vezes, ao sentir a perda concreta da família, o adúltero acaba encontrando o incentivo para buscar a mudança.
Por outro lado, são muito frequentes os casos de traição isolada, em casais que tinham como conduta moral a fidelidade. Em uma determinada fase da vida, o casamento deixa brecha e espaço para que uma terceira pessoa entre no meio ("a outra" pode ser também o trabalho, o serviço a Deus, os filhos…). A pessoa não tinha a intenção de trair, mas em um momento de fragilidade pessoal e de instabilidade do relacionamento, permitiu-se envolver com alguém externo. Essa traição pode sim ser superada, desde que ambos estejam muito dispostos a reconstruir.
Perdão
O primeiro passo da reconstrução é o perdão. Sim, houve um erro concreto. Em determinado momento, o adúltero tomou a decisão errada de se envolver com outra pessoa. É preciso reconhecer o erro e pedir perdão (com muita sinceridade, humilhar-se mesmo). Nessa fase muito dolorosa, é preciso ser verdadeiro e esclarecer todas as dúvidas e perguntas. Acredite: na maioria das vezes, a imaginação do traído é muito pior do que a realidade da traição. Deve haver muita conversa, trazendo sinceridade e realidade ao pedido de perdão.
A segunda etapa é a decisão do perdão. Quem foi traído precisa decidir se vai tentar reconstruir ou se não consegue fazer isso. E a partir do momento que decidir, faça todo esforço para que dê certo. Claro que não é algo que será esquecido, e para sempre será um erro grave cometido pelo outro. Mas perdoar não é esquecer nem dizer que aquilo foi certo. O perdão só significa que você abre mão de ser o acusador daquela pessoa. Há o erro, mas não cabe a você cobrar a culpa e a justiça. Você abre mão de carregar as pedras que "teria o direito" de jogar na pessoa, todos os dias, para o resto da vida. O perdão é um processo, mas a decisão é um degrau indispensável.
O relacionamento
A partir daí, é preciso voltar-se para o relacionamento. Se houve esse tipo de traição (por pessoas que tinham o propósito firme de fidelidade), é muito provável que ambos tenham construído um casamento onde ficou um vazio, uma falta de intimidade, permitindo que uma terceira pessoa tivesse a oportunidade de entrar. Apesar de, na prática, um só ter cometido o erro, esse desequilíbrio no relacionamento foi causado pelos dois, 50-50%. É preciso então, avaliar como cada um estava atuando na vida a dois. Deixo claro que essa avaliação é uma autoavaliação. Não é um julgamento do outro, mas meu. Quais foram as brechas que eu deixei? Em terapia, entendemos que o período mais importante a ser avaliado é o de seis meses que antecederam a traição. Como andava o carinho, o diálogo, o sexo? Dedicava tempo suficiente para o outro? Fazia com que ele/ela se sentisse amado, valorizado e especial? Permiti interferências externas excessivas (parentes, crises financeiras, trabalho)? Tornei nossa casa um ambiente desagradável e áspero – estresse, brigas e agressões? Descuidei do meu corpo, da higiene e da saúde, tornando difícil a intimidade física? Dei abertura excessiva (conversas muito íntimas, contato físico inconveniente) para pessoas externas, colocando-me em situações de risco?
Após o arrependimento, o perdão e a avaliação do relacionamento, ambos estão aptos a melhorar o que perceberam de ruim, e assim fechar as portas para outras pessoas. Ao longo dos anos, podem acontecer flashs na pessoa traída, com "ataques de ciúmes". Mas, com o tempo e com a demonstração de confiança, ambos vão aprendendo a lidar com isso, os episódios se tornam menos frequentes e a convivência pode voltar a ser boa, e até mesmo melhor que antes.
Sim, é possível reconstruir um casamento após uma traição. Decida-se por ser feliz e por lutar por sua família. Todos os longos e bons casamentos passaram por fases difíceis. A diferença é que eles nem pensavam na possibilidade de desistir!
Santuário é memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama como é grande o seu amor
Dentro da grande peregrinação que Cristo, a Igreja e a humanidade cumpriram e devem cumprir na história, cada cristão é convidado a se inserir e participar, a se encontrar com Deus na "Tenda do Encontro", como a Bíblia chama "o Tabernáculo da Aliança".
Um dia, Deus chamou Abraão e disse: "Parte da tua terra, da tua família e da casa de teus pais para a terra que eu te mostrarei…" e Abraão partiu como o Senhor lhe havia dito. E Abraão parte em busca da terra prometida, terra onde corre leite e mel. E inicia a peregrinação da sua vida e do seu povo guiado pelo próprio Deus.
Depois de Abraão vem Moisés. Ele é chamado a conduzir o povo de Deus através do deserto. É o braço poderoso de Deus a fazer passar Israel pelo Mar Vermelho. Mas é o próprio Deus a prová-lo durante quarenta anos no deserto. Ele mesmo conclui: "Se tu não caminhas conosco, eu não me moverei".
Os templos ou santuários são como pedras milenares que orientam o caminho dos filhos de Deus sobre a terra. São, antes de tudo, lugar da memória, da ação poderosa de Deus na história, que é a origem do povo da aliança e da fé de cada um dos que creem.
Na tradição bíblica o santuário não é, portanto, simplesmente o fruto de uma obra humana, carregada de simbolismo cosmológico ou antropológico, mas, testemunha à iniciativa de Deus no seu comunicar-se com o homem para estreitar com ele o pacto de salvação. O significado profundo de cada santuário fez memória na fé da obra salvífica do Senhor.
Santuário assume, portanto, o caráter de memória viva originado do alto para o povo da aliança eleito e amado. Este é o permanente chamado ao fato que não se nasce como povo de Deus pela carne e pelo sangue, mas que a vida de fé nasce da iniciativa admirável de Deus que entrou na história para nos unir a Si e mudar o nosso coração e a nossa vida.
No Santuário, a fidelidade de Deus nos alcança e transforma
Santuário é memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama a todas as gerações como é grande o seu amor, e testemunha como Ele tenha amado primeiro e quis ser Senhor e Salvador do seu povo. É o lugar da divina presença, um sinal, o lugar da sempre nova atualização da aliança dos homens com o Eterno e entre os seus. Cristo é o novo santuário, presença viva no Espírito.
Os templos cristãos são sinais. Sabemos que Deus está sempre vivo e presente entre nós e por nós. O templo é morada santa da Arca da Aliança. O santuário é o lugar do Espírito, porque é o lugar onde a fidelidade de Deus nos alcança e nos transforma.
No santuário vamos antes de tudo para invocar e acolher o Espírito Santo e levá-lo em todas as ações da vida. É sinal do chamado constante da presença viva do Espírito Santo na Igreja. Nos doando Jesus Ressuscitado, a glória do Pai, é um convite visível a atingir a invisível fonte de água viva, do qual se pode fazer sempre uma nova experiência para viver a fidelidade da aliança com o Eterno na Igreja. O santuário é o lugar privilegiado da ação sacramental, especialmente da Reconciliação e da Eucaristia.
O que devemos buscar no interior de um santuário?
O peregrino deve buscar no santuário, particularmente, a graça do perdão que o ajuda a abrir-se ao Pai, rico em misericórdia. Na celebração da Eucaristia, evento de graça que contém e exprime todas as formas de oração, o Santuário – profecia da Pátria Celeste – é um sinal, memória da nossa origem junto ao Senhor e sinal da divina presença, e também profecia da nossa pátria última e definitiva: o Reino de Deus, que se realizará quando: "Eu porei o meu santuário no meio dos homens para sempre", segundo a promessa do Eterno (cf. Ez 37,26).
O sinal do santuário não nos recorda somente de onde viemos e quem somos, mas abre também a nossa visão a discernir para onde vamos na direção da meta de nossa peregrinação na vida e na história. O Santuário, como obra das mãos do homem, nos restitui a Jerusalém Celeste, nossa mãe, a cidade que desce de Deus, toda ornada como esposa, santuário escatológico perfeito onde a divina e gloriosa presença é direta e pessoal.
No santuário ressona constantemente o "Magnificat", no qual a Igreja "viu vencer as raízes do pecado posto no início da história terrena do homem e da mulher, o pecado da incredulidade e da pouca fé em Deus, no qual Maria proclama com força a não ofuscada verdade sobre Deus: O Deus Santo e Onipotente que, desde o início, é a fonte de todo bem, aquele que 'tem feito grandes coisas'". No santuário se testemunha a dimensão escatológica da fé cristã, isto é, nosso caminho na direção da plenitude do Reino de Deus.
A Virgem Maria é o santuário do Deus vivo do Verbo de Deus, a Arca da Aliança nova e eterna. Aproximando-se de Maria, o peregrino deve sentir-se chamado a viver aquela dimensão pascal, que gradualmente transforma a sua vida através da Palavra, da celebração dos sacramentos e do trabalho a favor dos irmãos.
Descubra quais são os caminhos e a graça de recomeçar
Recomeçar nem sempre é fácil. Após uma queda, leva-se algum tempo para levantar. As escoriações requerem o cuidado necessário e o repouso salutar. Contudo, chegará o tempo de começar novamente. E sempre estamos recomeçando: ao ser demitido de um emprego, é necessário buscar outro. Quando a vida espiritual é descuidada, faz-se necessário retomar a caminhada. Ao mudar-se de cidade, surge o desafio de adaptar-se à nova realidade. Assim vamos recomeçando. A graça de recomeçar é uma dádiva que o Senhor Jesus Cristo nos oferece. Em Seu misericordioso amor, Ele vem ao nosso encontro e, com Sua infinita bondade, anima-nos na caminhada.
Foi assim com os discípulos que regressavam a Emaús (cf. Lc 24,13-35). Após a crucifixão e morte de Jesus Cristo, eles voltavam para o povoado de onde haviam saído. Podemos imaginar que levavam na alma a dor da decepção. Aquele no qual haviam depositado toda confiança fora morto. E eis que, enquanto caminhavam, o próprio Ressuscitado aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles.
Diante da decepção que determinada situação provoca, ficamos com o rosto e o coração sombrios. Olhamos e não vemos possibilidade de futuro. Há momentos em que a derrota ofusca a esperança. Diante de tal realidade frustrante, o desânimo pode aprisionar nosso ânimo e ficarmos presos ao que não deu certo.
Os discípulos reconheceram o Senhor ao partir o pão com eles. No gesto da partilha, seus olhos se abriram, e a dor que outrora carregavam no peito tornou-se alegria revigorante. Voltaram e recomeçaram a caminhada de seguir o Mestre. Na dor e mediante as derrotas da vida, o Senhor Jesus Cristo também caminha conosco.
Não estamos sozinhos. Contudo, é necessário não nos deixarmos abater, embora tal sentimento surja involuntariamente em nossa alma. Somos humanos, mas é a divindade de Jesus Cristo que nos dá a graça de recomeçarmos sempre.
Confie na graça
Na vida, não caminhamos sozinhos, pois o Senhor vai conosco. Em meio às quedas, ferimentos e dores, Ele nos estende Sua mão misericordiosa, derrama o bálsamo do amor, revigora nossa alma já desfalecida pelo desânimo e ilumina nosso caminho com a esperança de um novo tempo. Não desanimemos. Nas quedas, confiemos n'Aquele que nos levanta e refaz nossas forças.
Sempre é possível recomeçar. Mesmo que seja necessário um período de recuperação, cultivemos a certeza de que não estamos sozinhos. A graça, o amor e a misericórdia de Cristo estão conosco. No desânimo, oremos. Na angústia, abandonemo-nos nas mãos do Senhor.
A direção espiritual nos instrui e nos ilumina nas decisões
Buscar uma direção espiritual é importante, porque, desde que nascemos, precisamos da ajuda do outro. No nascimento, precisamos dos cuidados de nossos pais, precisamos do alimento, do leite materno que não pode ser descartado ou substituído por outro, pois este tem sua riqueza em vitaminas. Para a criança recém-nascida, não tem jeito, ela precisa do leite humano.
Deve ser por isso que Deus quis criar o ser humano. O Senhor quis que as pessoas se relacionassem; então, criou a mulher, a fim de que ela fosse companheira, uma "auxiliar que correspondesse a ele" (Gn 2,20).
Isso também se aplica à vida espiritual. Por mais que já tenhamos um bom tempo de caminhada ao lado de Deus – sejam cinco, dez, vinte anos servindo num grupo, numa pastoral –, para que possamos dar algo precisamos também receber, precisamos de alguém que nos instrua, que nos ilumine nas decisões. Por isso, há a necessidade não só de formação, mas de alguém que caminhe conosco e nos ajude a discernir quais passos devem ser dados.
Vamos usar alguns termos para que essa reflexão fique clara: "acompanhador" e "acompanhado". Acompanhador é o diretor espiritual; acompanhado aquele que é dirigido.
No acompanhamento espiritual, pode haver um momento de "tirar as dúvidas"; contudo, nesse sentido, o acompanhado deve buscar formação, por isso o acompanhamento trata-se de um diálogo, uma partilha entre acompanhado e acompanhador, para que tal situação seja iluminada. Por essa razão, a vida de oração é imprescindível. Atenção! A vida de oração precisa ser vivida pelo acompanhador e pelo acompanhado; senão, fica muito fácil cobrar o acompanhador e jogar a responsabilidade sobre ele.
Por que preciso de um acompanhador espiritual? Porque preciso dos outros não só nas realidades básicas, humanas e profissionais, mas também na realidade espiritual. Muitas vezes, erramos, porque não temos alguém ao nosso lado para nos escutar, para dar uma luz sobre esse ou aquele assunto.
Preciso de direção espiritual, porque necessito de ajuda, porque sou falho, porque não sou perfeito. A busca por um acompanhador espiritual é também uma atitude de humildade, um remédio contra a autossuficiência, contra o orgulho. Preciso de um acompanhador, porque nem sempre estou certo. Se precisei de alguém quando criança, quando adolescente e até adulto para realizar algumas tarefas, mesmo com alguma autonomia e autoridade, preciso do outro para continuar acertando ou para errar menos.
Por fim, o acompanhador é uma boa ajuda para que se viva bem a vida espiritual e, consequentemente, para que se viva bem as outras realidades da vida, pois estão estreitamente ligadas. Quando eu estiver bem com Deus, estarei bem com o outro, estarei bem com a vida profissional e todas as outras coisas deslancharão. E mesmo que as outras realidades não estejam bem, o fato de estar bem espiritualmente, de estar sendo acompanhado, faz com que eu tenha paciência, sobriedade e calma com as confusões ao meu redor, "mesmo que a figueira não renove seus brotos, a parreira deixe de produzir, se as ovelhas desaparecerem dos pastos, estarei feliz no Senhor (Hab 3,17-18). Não significa ser passivo, mas, sendo acompanhado, terei calma para ver tal situação como um desafio a ser vencido à luz do Espírito Santo com diálogo e esperança.