26 de outubro de 2016

Como superar a traição no relacionamento?

Apesar de ser tão doloroso e traumático, será que pode existir vida a dois após a traição?

Essa é realmente uma das situações mais difíceis que encontramos na vida a dois, e cada vez mais comum, seja por homens ou por mulheres. A traição gera marcas de desconfiança e de decepção muito fortes, que para sempre vão estar presentes na vida de toda a família. Quando alguém trai seu cônjuge, está distorcendo também a imagem de homem e mulher na visão de seus filhos, o que pode torná-los pessoas isoladas, com dificuldade para construir laços afetivos ou com tendência à traição posterior.

Mas apesar de ser tão doloroso e traumático, será que existe vida a dois após a traição? Será possível reconstruir o laço de fidelidade após o adultério? Acredito que a melhor resposta seja: depende. Vários fatores vão interferir nisso.

Como superar a traição no relacionamentoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Traição

O adultério aconteceu várias vezes? A pessoa traiu em seus relacionamentos anteriores? Acontecia desde o namoro? A sexualidade dele/dela está desequilibrada e há vícios sexuais? Existe uma herança familiar muito forte de traição? Se a resposta for afirmativa para algumas dessas perguntas, então essa pessoa provavelmente só irá mudar se experimentar uma grande transformação em sua vida – conversão radical, tratamento terapêutico/psicológico. Se a pessoa se fecha às ações de mudança, fica muito complicado ajudá-la. Em alguns casos extremos, deve-se pensar na possibilidade do afastamento, que pode ser até menos traumático do que o convívio instável. A separação, desde que seguida pela vivência da castidade individual, não é pecado (pode-se inclusive manter a comunhão Eucarística), e tende a garantir um ambiente menos agressivo para a criação dos filhos. Algumas vezes, ao sentir a perda concreta da família, o adúltero acaba encontrando o incentivo para buscar a mudança.

Por outro lado, são muito frequentes os casos de traição isolada, em casais que tinham como conduta moral a fidelidade. Em uma determinada fase da vida, o casamento deixa brecha e espaço para que uma terceira pessoa entre no meio ("a outra" pode ser também o trabalho, o serviço a Deus, os filhos…). A pessoa não tinha a intenção de trair, mas em um momento de fragilidade pessoal e de instabilidade do relacionamento, permitiu-se envolver com alguém externo. Essa traição pode sim ser superada, desde que ambos estejam muito dispostos a reconstruir.

Perdão

O primeiro passo da reconstrução é o perdão. Sim, houve um erro concreto. Em determinado momento, o adúltero tomou a decisão errada de se envolver com outra pessoa. É preciso reconhecer o erro e pedir perdão (com muita sinceridade, humilhar-se mesmo). Nessa fase muito dolorosa, é preciso ser verdadeiro e esclarecer todas as dúvidas e perguntas. Acredite: na maioria das vezes, a imaginação do traído é muito pior do que a realidade da traição. Deve haver muita conversa, trazendo sinceridade e realidade ao pedido de perdão.

A segunda etapa é a decisão do perdão. Quem foi traído precisa decidir se vai tentar reconstruir ou se não consegue fazer isso. E a partir do momento que decidir, faça todo esforço para que dê certo. Claro que não é algo que será esquecido, e para sempre será um erro grave cometido pelo outro. Mas perdoar não é esquecer nem dizer que aquilo foi certo. O perdão só significa que você abre mão de ser o acusador daquela pessoa. Há o erro, mas não cabe a você cobrar a culpa e a justiça. Você abre mão de carregar as pedras que "teria o direito" de jogar na pessoa, todos os dias, para o resto da vida. O perdão é um processo, mas a decisão é um degrau indispensável.


O relacionamento

A partir daí, é preciso voltar-se para o relacionamento. Se houve esse tipo de traição (por pessoas que tinham o propósito firme de fidelidade), é muito provável que ambos tenham construído um casamento onde ficou um vazio, uma falta de intimidade, permitindo que uma terceira pessoa tivesse a oportunidade de entrar. Apesar de, na prática, um só ter cometido o erro, esse desequilíbrio no relacionamento foi causado pelos dois, 50-50%. É preciso então, avaliar como cada um estava atuando na vida a dois. Deixo claro que essa avaliação é uma autoavaliação. Não é um julgamento do outro, mas meu. Quais foram as brechas que eu deixei? Em terapia, entendemos que o período mais importante a ser avaliado é o de seis meses que antecederam a traição. Como andava o carinho, o diálogo, o sexo? Dedicava tempo suficiente para o outro? Fazia com que ele/ela se sentisse amado, valorizado e especial? Permiti interferências externas excessivas (parentes, crises financeiras, trabalho)? Tornei nossa casa um ambiente desagradável e áspero – estresse, brigas e agressões? Descuidei do meu corpo, da higiene e da saúde, tornando difícil a intimidade física? Dei abertura excessiva (conversas muito íntimas, contato físico inconveniente) para pessoas externas, colocando-me em situações de risco?

Após o arrependimento, o perdão e a avaliação do relacionamento, ambos estão aptos a melhorar o que perceberam de ruim, e assim fechar as portas para outras pessoas. Ao longo dos anos, podem acontecer flashs na pessoa traída, com "ataques de ciúmes". Mas, com o tempo e com a demonstração de confiança, ambos vão aprendendo a lidar com isso, os episódios se tornam menos frequentes e a convivência pode voltar a ser boa, e até mesmo melhor que antes.

Sim, é possível reconstruir um casamento após uma traição. Decida-se por ser feliz e por lutar por sua família. Todos os longos e bons casamentos passaram por fases difíceis. A diferença é que eles nem pensavam na possibilidade de desistir!

24 de outubro de 2016

Santuário, memória e profecia do Deus vivo

Santuário é memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama como é grande o seu amor

Dentro da grande peregrinação que Cristo, a Igreja e a humanidade cumpriram e devem cumprir na história, cada cristão é convidado a se inserir e participar, a se encontrar com Deus na "Tenda do Encontro", como a Bíblia chama "o Tabernáculo da Aliança".

Um dia, Deus chamou Abraão e disse: "Parte da tua terra, da tua família e da casa de teus pais para a terra que eu te mostrarei…" e Abraão partiu como o Senhor lhe havia dito. E Abraão parte em busca da terra prometida, terra onde corre leite e mel. E inicia a peregrinação da sua vida e do seu povo guiado pelo próprio Deus.

Santuário, memória e profecia do Deus vivo

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Depois de Abraão vem Moisés. Ele é chamado a conduzir o povo de Deus através do deserto. É o braço poderoso de Deus a fazer passar Israel pelo Mar Vermelho. Mas é o próprio Deus a prová-lo durante quarenta anos no deserto. Ele mesmo conclui: "Se tu não caminhas conosco, eu não me moverei".

Os templos ou santuários são como pedras milenares que orientam o caminho dos filhos de Deus sobre a terra. São, antes de tudo, lugar da memória, da ação poderosa de Deus na história, que é a origem do povo da aliança e da fé de cada um dos que creem.

Na tradição bíblica o santuário não é, portanto, simplesmente o fruto de uma obra humana, carregada de simbolismo cosmológico ou antropológico, mas, testemunha à iniciativa de Deus no seu comunicar-se com o homem para estreitar com ele o pacto de salvação. O significado profundo de cada santuário fez memória na fé da obra salvífica do Senhor.

Santuário assume, portanto, o caráter de memória viva originado do alto para o povo da aliança eleito e amado. Este é o permanente chamado ao fato que não se nasce como povo de Deus pela carne e pelo sangue, mas que a vida de fé nasce da iniciativa admirável de Deus que entrou na história para nos unir a Si e mudar o nosso coração e a nossa vida.

No Santuário, a fidelidade de Deus nos alcança e transforma

Santuário é memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama a todas as gerações como é grande o seu amor, e testemunha como Ele tenha amado primeiro e quis ser Senhor e Salvador do seu povo. É o lugar da divina presença, um sinal, o lugar da sempre nova atualização da aliança dos homens com o Eterno e entre os seus. Cristo é o novo santuário, presença viva no Espírito.

Os templos cristãos são sinais. Sabemos que Deus está sempre vivo e presente entre nós e por nós. O templo é morada santa da Arca da Aliança. O santuário é o lugar do Espírito, porque é o lugar onde a fidelidade de Deus nos alcança e nos transforma.

No santuário vamos antes de tudo para invocar e acolher o Espírito Santo e levá-lo em todas as ações da vida. É sinal do chamado constante da presença viva do Espírito Santo na Igreja. Nos doando Jesus Ressuscitado, a glória do Pai, é um convite visível a atingir a invisível fonte de água viva, do qual se pode fazer sempre uma nova experiência para viver a fidelidade da aliança com o Eterno na Igreja. O santuário é o lugar privilegiado da ação sacramental, especialmente da Reconciliação e da Eucaristia.

O que devemos buscar no interior de um santuário?

O peregrino deve buscar no santuário, particularmente, a graça do perdão que o ajuda a abrir-se ao Pai, rico em misericórdia. Na celebração da Eucaristia, evento de graça que contém e exprime todas as formas de oração, o Santuário – profecia da Pátria Celeste – é um sinal, memória da nossa origem junto ao Senhor e sinal da divina presença, e também profecia da nossa pátria última e definitiva: o Reino de Deus, que se realizará quando: "Eu porei o meu santuário no meio dos homens para sempre", segundo a promessa do Eterno (cf. Ez 37,26).

O sinal do santuário não nos recorda somente de onde viemos e quem somos, mas abre também a nossa visão a discernir para onde vamos na direção da meta de nossa peregrinação na vida e na história. O Santuário, como obra das mãos do homem, nos restitui a Jerusalém Celeste, nossa mãe, a cidade que desce de Deus, toda ornada como esposa, santuário escatológico perfeito onde a divina e gloriosa presença é direta e pessoal.

No santuário ressona constantemente o "Magnificat", no qual a Igreja "viu vencer as raízes do pecado posto no início da história terrena do homem e da mulher, o pecado da incredulidade e da pouca fé em Deus, no qual Maria proclama com força a não ofuscada verdade sobre Deus: O Deus Santo e Onipotente que, desde o início, é a fonte de todo bem, aquele que 'tem feito grandes coisas'". No santuário se testemunha a dimensão escatológica da fé cristã, isto é, nosso caminho na direção da plenitude do Reino de Deus.

A Virgem Maria é o santuário do Deus vivo do Verbo de Deus, a Arca da Aliança nova e eterna. Aproximando-se de Maria, o peregrino deve sentir-se chamado a viver aquela dimensão pascal, que gradualmente transforma a sua vida através da Palavra, da celebração dos sacramentos e do trabalho a favor dos irmãos.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/santuario-memoria-e-profecia-do-deus-vivo/


20 de outubro de 2016

A graça de recomeçar é uma dádiva de Deus

Descubra quais são os caminhos e a graça de recomeçar

Recomeçar nem sempre é fácil. Após uma queda, leva-se algum tempo para levantar. As escoriações requerem o cuidado necessário e o repouso salutar. Contudo, chegará o tempo de começar novamente. E sempre estamos recomeçando: ao ser demitido de um emprego, é necessário buscar outro. Quando a vida espiritual é descuidada, faz-se necessário retomar a caminhada. Ao mudar-se de cidade, surge o desafio de adaptar-se à nova realidade. Assim vamos recomeçando. A graça de recomeçar é uma dádiva que o Senhor Jesus Cristo nos oferece. Em Seu misericordioso amor, Ele vem ao nosso encontro e, com Sua infinita bondade, anima-nos na caminhada.

Foi assim com os discípulos que regressavam a Emaús (cf. Lc 24,13-35). Após a crucifixão e morte de Jesus Cristo, eles voltavam para o povoado de onde haviam saído. Podemos imaginar que levavam na alma a dor da decepção. Aquele no qual haviam depositado toda confiança fora morto. E eis que, enquanto caminhavam, o próprio Ressuscitado aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles.

A graça de recomeçar é uma dádiva de DeusFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Tenha esperança

Diante da decepção que determinada situação provoca, ficamos com o rosto e o coração sombrios. Olhamos e não vemos possibilidade de futuro. Há momentos em que a derrota ofusca a esperança. Diante de tal realidade frustrante, o desânimo pode aprisionar nosso ânimo e ficarmos presos ao que não deu certo.

Os discípulos reconheceram o Senhor ao partir o pão com eles. No gesto da partilha, seus olhos se abriram, e a dor que outrora carregavam no peito tornou-se alegria revigorante. Voltaram e recomeçaram a caminhada de seguir o Mestre. Na dor e mediante as derrotas da vida, o Senhor Jesus Cristo também caminha conosco.


Não estamos sozinhos. Contudo, é necessário não nos deixarmos abater, embora tal sentimento surja involuntariamente em nossa alma. Somos humanos, mas é a divindade de Jesus Cristo que nos dá a graça de recomeçarmos sempre.

Confie na graça

Na vida, não caminhamos sozinhos, pois o Senhor vai conosco. Em meio às quedas, ferimentos e dores, Ele nos estende Sua mão misericordiosa, derrama o bálsamo do amor, revigora nossa alma já desfalecida pelo desânimo e ilumina nosso caminho com a esperança de um novo tempo. Não desanimemos. Nas quedas, confiemos n'Aquele que nos levanta e refaz nossas forças.

Sempre é possível recomeçar. Mesmo que seja necessário um período de recuperação, cultivemos a certeza de que não estamos sozinhos. A graça, o amor e a misericórdia de Cristo estão conosco. No desânimo, oremos. Na angústia, abandonemo-nos nas mãos do Senhor.


18 de outubro de 2016

Por que preciso de direção espiritual?

A direção espiritual nos instrui e nos ilumina nas decisões

Buscar uma direção espiritual é importante, porque, desde que nascemos, precisamos da ajuda do outro. No nascimento, precisamos dos cuidados de nossos pais, precisamos do alimento, do leite materno que não pode ser descartado ou substituído por outro, pois este tem sua riqueza em vitaminas. Para a criança recém-nascida, não tem jeito, ela precisa do leite humano.

Deve ser por isso que Deus quis criar o ser humano. O Senhor quis que as pessoas se relacionassem; então, criou a mulher, a fim de que ela fosse companheira, uma "auxiliar que correspondesse a ele" (Gn 2,20).

Isso também se aplica à vida espiritual. Por mais que já tenhamos um bom tempo de caminhada ao lado de Deus – sejam cinco, dez, vinte anos servindo num grupo, numa pastoral –, para que possamos dar algo precisamos também receber, precisamos de alguém que nos instrua, que nos ilumine nas decisões. Por isso, há a necessidade não só de formação, mas de alguém que caminhe conosco e nos ajude a discernir quais passos devem ser dados.

Vamos usar alguns termos para que essa reflexão fique clara: "acompanhador" e "acompanhado". Acompanhador é o diretor espiritual; acompanhado aquele que é dirigido.

Por que preciso de direção espiritual
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

No acompanhamento espiritual, pode haver um momento de "tirar as dúvidas"; contudo, nesse sentido, o acompanhado deve buscar formação, por isso o acompanhamento trata-se de um diálogo, uma partilha entre acompanhado e acompanhador, para que tal situação seja iluminada. Por essa razão, a vida de oração é imprescindível. Atenção! A vida de oração precisa ser vivida pelo acompanhador e pelo acompanhado; senão, fica muito fácil cobrar o acompanhador e jogar a responsabilidade sobre ele.

Por que preciso de um acompanhador espiritual? Porque preciso dos outros não só nas realidades básicas, humanas e profissionais, mas também na realidade espiritual. Muitas vezes, erramos, porque não temos alguém ao nosso lado para nos escutar, para dar uma luz sobre esse ou aquele assunto.


Preciso de direção espiritual, porque necessito de ajuda, porque sou falho, porque não sou perfeito. A busca por um acompanhador espiritual é também uma atitude de humildade, um remédio contra a autossuficiência, contra o orgulho. Preciso de um acompanhador, porque nem sempre estou certo. Se precisei de alguém quando criança, quando adolescente e até adulto para realizar algumas tarefas, mesmo com alguma autonomia e autoridade, preciso do outro para continuar acertando ou para errar menos.

Por fim, o acompanhador é uma boa ajuda para que se viva bem a vida espiritual e, consequentemente, para que se viva bem as outras realidades da vida, pois estão estreitamente ligadas. Quando eu estiver bem com Deus, estarei bem com o outro, estarei bem com a vida profissional e todas as outras coisas deslancharão. E mesmo que as outras realidades não estejam bem, o fato de estar bem espiritualmente, de estar sendo acompanhado, faz com que eu tenha paciência, sobriedade e calma com as confusões ao meu redor, "mesmo que a figueira não renove seus brotos, a parreira deixe de produzir, se as ovelhas desaparecerem dos pastos, estarei feliz no Senhor (Hab 3,17-18). Não significa ser passivo, mas, sendo acompanhado, terei calma para ver tal situação como um desafio a ser vencido à luz do Espírito Santo com diálogo e esperança.

13 de outubro de 2016

Armadilhas de um relacionamento conjugal

Não caia nas armadilhas do relacionamento; aprenda com elas

Quando falamos das armadilhas na vida conjugal, logo podemos pensar no quanto o outro está armando para nós ciladas ou o quanto é perigoso relacionar-se. Ainda pior é pensar o quanto podemos estar "pisando em ovos" pelo simples fato de estarmos em um relacionamento.

Acredito que a primeira coisa que precisamos ter em mente, quando se entra em um relacionamento conjugal, é que se trata de uma aventura. E como boa aventura, há inúmeras possibilidades e riscos a se viver, e é preciso ter disposição para tal empreitada.

Armadilhas de um relacionamento conjugalFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Por se tratar de pessoas humanas, logo preciso afirmar que não há determinismos a se colocar em pauta quando se trata de relacionamento. O que quero dizer? Quero dizer que, aqui, coloco algumas situações que podem ser armadilhas no relacionamento ou talvez não; talvez você as viverá ou não; pois se trata de sua humanidade que é única, e nunca numa visão determinista de que "será assim".

Armadilha da idealização

A primeira armadilha que gostaria de falar é a da idealização

Sabe aquela mulher ideal, perfeita, dos seus sonhos? Aquela que você sonhou desde sempre, que era perfeitinha para você? De voz doce e fala mansa? Ou, no caso da mulher, sabe aquele príncipe encantado, montado em um cavalo branco, que chega a tirar seu fôlego? Que bom que você traz essa idealização de "mulher" e "homem" dentro de si! É isso que o levará a se apaixonar. Mas quero dizer que isso pode ser uma armadilha, caso não seja capaz de deixar o ideal para viver e construir junto o real. É a armadilha de sempre ficar projetando no outro o que você espera dele, nunca permitindo que Ele seja o que de fato é. O pior é que muitas pessoas vivem uma vida inteira assim, com eternas cobranças! Vivem o conto de fadas e se esquecem de encarar a realidade.

Armadilha da história pessoal

Uma segunda armadilha, que pode ser encarada em um relacionamento conjugal, é a "história pessoal". Como assim? Minha história pessoal pode ser uma armadilha? Sim e não. Sim, se essa história não estiver em processo de integração. O que quero dizer é que quando entramos em um relacionamento, trazemos conosco, em nossa bagagem existencial, um arsenal de vivências afetivas. Situações que nos fizeram quem somos, marcando positiva e negativamente nossa identidade. E é com essa bagagem existencial que vamos nos relacionar com o outro. Nessa hora, é preciso muita paciência e vontade de entender cada um a si mesmo, e entender o outro como um outro.

Por exemplo: talvez a menina tenha, em sua história, um relacionamento com figuras masculinas (pai, irmão, avó e amigo) mais rígidas, de desafetos, de palavras inexistentes ou duras. Essas figuras masculinas moldaram a identidade dessa menina, e na hora de se relacionar com o rapaz, inevitavelmente sua história (de maneira talvez inconsciente) dará "cor" ao relacionamento. Talvez, essa cor seja a de uma identificação e até repetição na forma de olhar para o rapaz com o qual se relaciona e ver nele como que um reflexo das "figuras masculinas" que a formou. Tais reações podem ser de cobrança, insatisfação, frustração etc.


Armadilha da negação

Uma terceira armadilha é a negação de si em prol do outro. Primeiro quero deixar claro que, quando nos relacionamos com alguém, há uma necessária negação de algumas realidades em prol do bem comum do relacionamento. Essa negação é feita por acordos tácitos entre as partes. Exemplo: se você é extremamente pontual e sua namorada não, talvez terão de entrar em acordos, e ela terá de negar "sua vida de atrasos" em prol de seu sorriso; ou talvez você tenha de negar sua rigidez com horários em prol do sorriso dela. Exemplo tosco, mas que diz de pequenas negações.

Quando falo da armadilha da negação de si em prol do outro, falo de uma negação existencial, falo da negação do que em você é essencial, e isso não é amor. Quando você nega a essência de si mesmo, trilha um caminho de morte de sentido da vida. E muitos relacionamentos, em vez de trazer vida, trazem morte para aqueles que se relacionam. Por isso, não entre nesse caminho de negação de si mesmo, pois se perde com isso sua definição como mulher/homem de Deus.

Poderia gastar aqui muitas páginas falando de armadilhas no relacionamento conjugal, mas dessas três você pode ir pensando nas armadilhas que tem vivido em seu relacionamento particular. Não tenha medo de se aventurar e superar tais armadilhas, pois o que está em jogo é sua felicidade.



Adriano Gonçalves

Mineiro de Contagem (MG), Adriano Gonçalves dos Santos é membro da Comunidade Canção Nova. Cursou Filosofia no Instituto da Comunidade e é acadêmico de Psicologia na Unisal (Lorena). Atua na TV Canção Nova como apresentador do programa Revolução Jesus. Mais que um programa, o Revolução Jesus é uma missão que desafia o jovem a ser santo sem deixar de ser jovem. Dessa forma, propõe uma nova geração: a geração dos Santos de Calça Jeans. É autor dos seguintes livros: "Santos de Calça Jeans", "Nasci pra Dar Certo!" e "Quero um Amor Maior"


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/armadilhas-de-um-relacionamento-conjugal/

10 de outubro de 2016

Sexualidade humana: verdade e significado

Como explicar o verdadeiro significado da sexualidade

Entre as múltiplas dificuldades que os pais encontram, hoje, mesmo tendo em devida conta os diversos contextos culturais, está certamente a de poder oferecer aos filhos uma adequada preparação para a vida adulta, em particular no que se refere à educação para o verdadeiro significado da sexualidade. As razões dessa dificuldade, que aliás não é de todo nova, são diversas.

No passado, mesmo quando da parte da família, não se dava uma explícita educação sexual, todavia, a cultura geral, marcada pelo respeito dos valores fundamentais, servia objetivamente para os proteger e conservar.

Sexualidade Humana Verdade e SignificadoFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Valores fundamentais

A falta dos modelos tradicionais, em grande parte da sociedade, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, deixou os filhos privados de indicações unívocas e positivas, enquanto os pais se acharam impreparados para dar as respostas adequadas. Este novo contexto é ainda agravado por um obscurecimento da verdade sobre o homem a que assistimos e em que age, entre outras coisas, uma pressão em direção à banalização do sexo.

Há, portanto, uma cultura em que a sociedade e os meios de comunicação, a maior parte das vezes, oferecem a esse respeito uma informação despersonalizada, lúdica, muitas vezes pessimista; além disso, sem consideração pelas diversas etapas de formação e de evolução das crianças e dos jovens, sob o influxo de um distorcido conceito individualista da liberdade e num contexto privado de valores fundamentais sobre a vida, sobre o amor humano e a família.

Então, a escola, que se tornou disponível a desenvolver programas de educação sexual, fê-lo, muitas vezes, substituindo-se a família e o mais das vezes com intenções puramente informativas. Às vezes, chega-se a uma verdadeira deformação das consciências. Os próprios pais, por causa da dificuldade e da falta de preparação, renunciaram, em muitos casos, a sua tarefa neste campo ou resolveram delegá-la noutra pessoa.

Nessa situação, muitos pais católicos voltam-se para a Igreja, a fim de que essa se encarregue de dar uma orientação e sugestões para a educação dos filhos, sobretudo na fase da infância e da adolescência. Em particular, os próprios pais manifestam, às vezes, a sua dificuldade diante ao ensino, que é dispensado na escola e, portanto, trazido para casa pelos filhos. O Conselho Pontifício para a Família tem, por isso, recebido repetidos e prementes pedidos para que se possa dar uma direção de apoio aos pais neste delicado setor educativo.

Educação para o amor

O nosso Dicastério, consciente dessa dimensão familiar da educação para o amor e a reta vivência da própria sexualidade, deseja propor algumas linhas de orientação de caráter pastoral, tiradas da sabedoria que provém da Palavra do Senhor e dos valores que iluminaram o ensino da Igreja, consciente da "experiência de humanidade" que é própria da comunidade dos crentes.

Queremos, portanto, antes de mais nada, ligar esse subsídio com o conteúdo fundamental relativo à verdade e ao significado do sexo, no quadro de uma antropologia genuína e rica. Oferecendo essa verdade, sabemos que "todo aquele que é da verdade" (Jo 18, 37) escuta a Palavra d'Aquele que é a própria verdade em pessoa (cf. Jo 14,6).

Esse guia não quer ser nem um tratado de teologia moral nem um compêndio de psicologia, mas quer ter em devida conta as aquisições da ciência, as condições socio-culturais da família e a proposta dos valores evangélicos que conservam para cada idade frescura nascente e possibilidade de encarnação concreta.

Algumas certezas indiscutíveis sustêm a Igreja neste campo e guiaram também a elaboração deste documento.

O amor, que se alimenta e se exprime no encontro do homem e da mulher, é dom de Deus; é, por isso, força positiva, orientada à sua maturação enquanto pessoas; é também uma preciosa reserva para o dom de si que todos, homens e mulheres, são chamados a realizar para a sua própria realização e felicidade, num plano de vida que representa a vocação de todos. O ser humano, com efeito, é chamado ao amor como espírito encarnado, isto é, alma e corpo na unidade da pessoa. O amor humano abarca também o corpo e o corpo exprime também o amor espiritual.


A sexualidade, portanto, não é qualquer coisa de puramente biológico, mas se refere antes ao núcleo íntimo da pessoa. O uso da sexualidade como doação física tem a sua verdade e atinge o seu pleno significado quando é expressão da doação pessoal do homem e da mulher até a morte. Esse amor está exposto, assim como toda a vida da pessoa, à fragilidade devida ao pecado original e ressente-se, em muitos contextos socio-culturais, de condicionamentos negativos e, às vezes, desviantes e traumáticos. A redenção do Senhor, contudo, tornou uma realidade possível, e um motivo de alegria, a prática positiva da castidade, tanto para aqueles que têm vocação matrimonial — seja antes, durante a preparação, seja depois, no decurso da vida conjugal como também para aqueles que têm o dom de um chamamento especial à vida consagrada.

Na ótica da redenção e no caminho formativo dos adolescentes e dos jovens, a virtude da castidade, que se coloca no interior da temperança,— virtude cardeal que no batismo foi elevada e impregnada pela graça,— não é entendida como uma virtude repressiva, mas, pelo contrário, como a transparência e, ao mesmo tempo, a guarda de um dom recebido, precioso e rico, o dom do amor, em vista do dom de si que se realiza na vocação específica de cada um. A castidade é, portanto, aquela "energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade e sabe promovê-lo para a sua plena realização".

O que diz o Catecismo da Igreja Católica?

O Catecismo da Igreja Católica assim descreve e, em certo sentido, define a castidade: a castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual".

A formação para a castidade, no quadro da educação do jovem para a realização e o dom de si, implica a colaboração prioritária dos pais também na formação para outras virtudes, como a temperança, a fortaleza, a prudência. A castidade como virtude não pode existir sem a capacidade de renúncia, de sacrifício e espera.

Ao dar a vida, os pais cooperam com o poder criador de Deus e recebem o dom de uma nova responsabilidade: a responsabilidade não só de alimentar e satisfazer as necessidades materiais e culturais dos seus filhos, sobretudo de lhes transmitir a verdade da fé vivida e de os educar no amor de Deus e do próximo. Tal é o seu primeiro dever no seio da "igreja doméstica".

A Igreja sempre afirmou que os pais têm o dever e o direito de serem os primeiros e os principais educadores dos seus filhos.

Retomando o Concílio Vaticano II, o Catecismo da Igreja Católica recorda: os jovens devem ser conveniente e oportunamente instruídos, sobretudo no seio da própria família, acerca da dignidade, missão e exercício do amor conjugal".

As provocações, hoje provenientes da mentalidade e do ambiente, não podem desencorajar os pais. Por um lado, de fato, é preciso recordar que os cristãos, desde a primeira evangelização, tiveram de afrontar desafios semelhantes do hedonismo materialista. Além disso, "a nossa civilização, que aliás registra tantos aspectos positivos no plano material e cultural, deveria dar-se conta de ser, em diversos pontos de vista, uma civilização doente, que gera profundas alterações no ser humano. Por que se verifica isso? A razão está no fato de que a nossa sociedade se distancia da plena verdade sobre o ser humano, da verdade sobre o que o homem e a mulher são como pessoas. Por conseguinte, não sabe compreender de maneira adequada o que sejam verdadeiramente o dom das pessoas no matrimônio, o amor responsável e ao serviço da paternidade e da maternidade, a autêntica grandeza da geração e da educação".

É por isso indispensável a obra educativa dos pais, os quais se "ao darem a vida tomam parte na obra criadora de Deus, pela educação tornam-se participantes da sua pedagogia conjuntamente paterna e materna. Por meio de Cristo, toda a educação, na família e fora dela, é inserida na dimensão salvífica da pedagogia divina, que se dirige aos homens e às famílias e culmina no mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor".

Os pais, no seu dever, às vezes delicado e árduo, não devem desanimar, mas confiar no apoio de Deus Criador e de Cristo Redentor, recordando que a Igreja reza por eles com as palavras que o Papa Clemente I dirigia ao Senhor por todos aqueles que exercem em seu nome a autoridade: ""Dai-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade para que exerçam, sem obstáculos, a soberania que lhes confiastes. Sois Vós, ó Mestre, celeste rei dos séculos, que dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, o seu conselho segundo o que é bem, segundo o que é agradável aos vossos olhos, para que exercendo com piedade, na paz e na mansidão, o poder que lhes destes, vos encontrem propício".

Por outro lado, os pais, tendo dado a vida e tendo-a acolhido num clima de amor, são ricos de um potencial educativo que nenhum outro detém: conhecem de um modo único os próprios filhos, a sua irrepetível singularidade e, por experiência, possuem os segredos e os recursos do amor verdadeiro.

Fonte: vatican


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/vida-sexual/sexualidade-humana-verdade-e-significado/

7 de outubro de 2016

Por que algumas mulheres sofrem de depressão pós-parto?

Pós-parto: o que acontece no organismo para gerar a depressão? Conheça os sintomas e tratamentos

Quando olhamos um comercial com bebês lindos e mães felizes e realizadas na maternidade, amamentando, cuidando com tranquilidade de seus filhos, isso nos passa a sensação de que gerar uma criança é uma das coisas mais naturais e fáceis do mundo! Bom, quem passou por isso sabe que, na verdade, esse é um dos maiores desafios na vida de um casal.

O período pós-parto é extremamente exigente, com muita carga de aprendizado, imenso cansaço devido ao sono acumulado, dificuldades de adaptação à amamentação e fortes expectativas sobre a capacidade de cuidar do bebê.

Por que algumas mulheres sofrem de depressão pós-partoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Além disso, as alterações no corpo da mulher são muito intensas, abalando-a física e emocionalmente. Em torno do quinto dia pós-parto, acontece uma queda hormonal importante, causando vontade de chorar e tristeza (Chamado Baby Blues). Tudo isso acaba gerando uma sensação de incapacidade, instabilidade emocional, que é comum a quase todas as novas mães. Mas, em cerca de 15% delas, esses sintomas podem se tornar mais fortes e duradouros, gerando também uma certa rejeição ao bebê e falta de desejo de interação com ele. Nesses casos, chamamos esse abalo psíquico-emocional de depressão pós-parto.

É difícil determinar os fatores que propiciam essa evolução do processo natural de esgotamento e adaptação à nova realidade para a depressão pós-parto. Já se sabe que as fortes expectativas durante a gravidez, a falta de suporte e de ajuda por parte do marido, e a própria tendência emocional da paciente são fatores importantes. Mas acho necessário mostrar que praticamente todas as mães passam por um período de abalo importante. A diferença está no grau e no tempo. O natural é que esses sentimentos se amenizem em duas semanas. E que, mesmo esgotada, a mãe sinta carinho e tenha capacidade de dar afeto ao bebê. Se os sentimentos ruins se prolongarem por mais tempo, e se isso estiver afetando o desejo de estar com o bebê, e até mesmo gerando sentimentos ruins em relação a ele (pensamentos de morte, de abandono, desejo de afastamento), é indispensável que se converse com o obstetra e, se possível, com o psiquiatra.

Depressão pós-parto é uma doença

É uma doença, precisa de diagnóstico e tem tratamento (feito à base de antidepressivos por um período). O atraso nesse acompanhamento pode trazer repercussões para o bebê, para a mãe e para toda a família. Aliás, o papel dos familiares é muito importante. A mãe precisa se sentir segura, entendida. Enquanto se espera que o tratamento dê resultados, os outros familiares precisam suprir as necessidades do recém-nascido, também emocionalmente, até que a mãe possa se restabelecer. Essa ajuda dos que estão próximos pode adiantar o processo de melhora. Se você está passando por esse período, eu a convido a ter a coragem de pedir ajuda. Seu médico e sua família podem ajudá-la. Fale com eles sobre seus sentimentos, e você verá que o tratamento pode aliviar essa grande dificuldade.


Existe um tabu sobre a maternidade, como se toda mulher tivesse que nascer sabendo como cuidar de uma criança (além de muitos outros, como tipo de parto, amamentação…). Eu lhe digo, porém, que você não precisa saber tudo. Se Deus lhe confiou um filho, é porque Ele sabe que você é capaz de aprender a se relacionar com ele. É uma construção!

Uma mãe de verdade é feita no dia a dia, a cada interação com sua criança, a cada desafio enfrentado. Não se cobre tanto. É uma nova fase, onde tudo é novo e sua estrutura antiga foi jogada pelos ares. Não é fácil. Mas eu tenho a certeza de que Deus não nos dá nada que não seja o melhor. Se você se abrir e focar no que realmente é importante, verá que esse momento é um dos mais belos e ricos da sua vida. Você está aprendendo a amar como nunca antes, e terá a chance de entender um pouco mais o amor que Deus Pai tem por você.

Lembro que, quando meu filho nasceu, fiquei muito cansada e sem saber o que fazer. Tive o apoio do meu marido e da família. Mas quando eu, realmente, chegava ao limite, minha Mãe do Céu, Maria, sempre se tornava próxima, e eu via nela o exemplo de superação. Afinal, ela passou por isso, sendo uma jovem de 14-15 anos, longe de casa e da pouca estrutura que eles tinham preparado.