8 de agosto de 2016

Ciência: evolução ou retrocesso?

A ciência deve beneficiar e construir a pessoa humana

É inevitável a percepção das inúmeras situações que a ciência trazem angústia e inconformismo. A pessoa que é, ao mesmo tempo, definida como um ser especial diante da criação, muitas vezes não é respeitada em seus direitos básicos. Apesar de tudo, é necessário ter um olhar de esperança.

Ciência evolução ou retrocessoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Nos últimos anos, a ciência, por meio da medicina, a biologia e a engenharia genética fizeram descobertas inimagináveis. Temos vários exemplos: os transplantes tornaram-se inúmeros, experimentos bem-sucedidos com animais, óvulos que são fecundados fora do corpo humano, a chamada "fertilização in vitro". Essas situações nos levam a refletir o cenário atual em que nos encontramos. Uma pergunta precisa ser feita mediante tudo isso: o que se chama de evolução da ciência, da biologia e tecnologia, no que toca a moral, de fato, é um progresso ou será um retrocesso?

Ciência e Moral

Aqui não se trata de ser contra o avanço da ciência, da tecnologia, mas sim a necessidade de um questionamento do como ela está sendo usada. Deve-se reconhecer seus benefícios, porém, sem jamais fechar os olhos para as catástrofes que ela tem produzido, como as pesquisas com célula troco embrionária, métodos modernos contraceptivos (DIU, SIU), aborto, eutanásia, clonagem etc.

Muito se tem falado de progresso, o mundo tem progredido. Quando analisamos essa palavra, percebemos que ela provém do latim progressus, que, em linhas gerais, significa avanço. E a palavra avanço indica caminhar para frente. Partindo do significado da palavra, o que muitos estão chamando de progresso da ciência, da tecnologia, da biologia, nada mais é do que um regresso, quando se afasta da ética personalista. O mundo, ao que diz respeito a moral, não está caminhando para frente; pelo contrário, essas situações desumanizantes como aborto, eutanásia, fertilização in vitro, encontra-se caminhando para trás. Toda vez que a pessoa é desumanizada, isto é, tratada sem valor, mostra a fragilidade moral da ciência.


João Paulo II, na encíclica "Fé e Razão", afirma que a fé e a razão são como duas asas pelas quais os homens podem alçar voo e encontrar a verdade. Vejamos bem: asas que levam à verdade, portanto, se a ciência se distancia da verdade, nós como católicos precisamos ser contra esse modelo de ciência, que prega o aborto e a eutanásia, que diz ao ser humano que ele pode ser gerado em laboratório (fertilização in vitro), não é a favor da verdade, logo, não merece credibilidade.

A pessoa está no topo das coisas existentes no universo. Portanto, tudo que for feito pela ciência precisa, necessariamente, beneficiar e construir a pessoa humana. Precisamos compreender uma coisa, tudo que desumaniza o ser humano não pode ser chamado de progresso, antes, de regresso.

Não vos conformeis

Em meio a tudo isso, surge uma pergunta: o que fazer? São Paulo, na Carta aos Romanos, diz: "não vos conformeis com este mundo (Rm 12,2)". Essa frase é muito significativa. Observe que ela está no imperativo, "não vos conformeis!". Essa é a primeira atitude que devemos assumir , não nos conformarmos.

Não se conformar é uma atitude de quem quer fazer alguma coisa e acredita na mudança. O risco que corremos é de achar que tudo está perdido, não adianta lutar, não tem mais solução. Não! É preciso ter esperança, lutar para que a mudança, de algum modo, aconteça.

Martin Luther King tem uma frase de grande valor: "O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons". O silêncio é uma maneira de se conformar. Portanto, sigamos a ordem dada por São Paulo: "Não vos conformeis com este mundo!"

Elenildo da Silva Pereira
Missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP)


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/bioetica/ciencia-evolucao-ou-retrocesso/

5 de agosto de 2016

Você já ouviu falar em “TOC Religioso”?

O TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo – Religioso existe e surge nos pensamentos

Segundo Aristides Volpato, especialista em Transtorno Obsessivo Compulsivo, o TOC é caracterizado por pensamentos específicos, imagens e palavras que "invadem" nosso pensamento e consciência. A questão do problema é que esses pensamentos distorcidos surgem constante e repetitivamente, tornando-se, assim, uma obsessão. Esse pensamento obsessivo provoca nas pessoas um sentimento de angústia, medo, aflição e falta de controle, por não conseguir controlar os pensamentos. Assim, acabam reagindo a esses pensamentos intrusos e impositivos, realizando aquilo que lhe é ordenado.

Você já ouviu falar em
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Imagino que muitos de vocês já ouviram falar sobre TOC, mas tenho certeza que poucos ouviram dizer que existe TOC Religioso. Essa categoria existe e é classificada como obsessiva, ou seja, que surge e é forte a partir dos pensamentos.

O que é TOC Religioso?

Todo mundo que é religioso tem TOC? Não! Existe uma diferença entre o comportamento religioso e o obsessivo. Como diferenciar então? A pessoa que sofre o transtorno tem pensamentos e comportamentos irracionais, tornando-se "desajustados" aos olhos daqueles que estão a sua volta.

No âmbito da obsessão, o conteúdo dos pensamentos mais comuns são: pecado, demônio, culpa, escrupulosidade, sacrilégio e blasfêmia. Um exemplo de conteúdo do pecado: a mulher casada pensa "não posso ter relação sexual com meu esposo, porque sentirei prazer, e isso é pecado".

Independente do conteúdo que a pessoa possui, mesmo sabendo que são absurdas e ilógicas, não se consegue desvincular dele. Assim, surge o comportamento ritualizado e repetitivo para sua sobrevivência. Como assim? A pessoa se confessa, todos os dias, ou um dia sim e outro não. Fica, em tempo integral, com um terço que foi abençoado pelo padre X e que tem muita unção. Faz jejum diariamente como forma de penitência.

O que acontece é que quem tem TOC religioso tem como conteúdo do seu transtorno práticas religiosas, ficando um pouco difícil de saber se é devoção e um relacionamento sadio com Deus, ou se já virou um transtorno.


Aprenda a identificar o TOC Religioso

A dica que dou é: você está exagerando, fora do que a maioria das pessoas de referência da Igreja fazem? Se a resposta for 'sim', então provavelmente é TOC.

Existe também uma categoria, que é a compulsão mental. Essa é mais difícil de ser notada e a mais comum. São aqueles que não conseguem fazer nada antes de uma oração específica. Nesse caso, cada um tem um conteúdo diferente. Por exemplo: há pessoas que só saem de casa depois de fazer a oração do Sangue de Cristo três vezes. Ou, todas as vezes que vai fazer uma refeição, só come depois que fazer a oração de São Bento, por medo de estar contaminada a comida. Há aqueles também que acreditam que, por ser o único da casa que tem "espiritualidade", todos os outros são impuros e pecadores, por isso precisa rezar o terço o tempo inteiro que estiver dentro da sua casa.

Poderíamos ficar dando inúmeros exemplos, seja quanto à obsessão (pensamentos), compulsão (comportamento) ou associação dos dois. Mas o importante é você despertar para essa pergunta. Quanto tempo você tem gastado com esses pensamentos? Eles geram angústia? Como você tem se comportado com suas práticas religiosas? Aquilo que era para trazer paz e confiança em Deus tem trazido incômodo, desconforto e angústia? Seu comportamento, em vez de servir de testemunho, tem dificultado ainda mais seu relacionamento com aqueles que estão próximos?

Se a resposta for 'sim', você é um forte candidato a ter TOC. Procure ajuda! Procure um profissional da Psicologia que seja cristão e, se possível, um diretor espiritual para orientá-lo. Deus nos quer perto d'Ele, mas de forma equilibrada e saudável.

 

3 de agosto de 2016

Como usar o WhatsApp com maturidade

Aprenda algumas dicas de como usar o WhatsApp com maturidade no dia a dia

Quando falamos em WhatsApp, todos se lembram daquele assobio digital inconfundível. Hoje, ele se tornou uma ferramenta de comunicação que facilita o contato para todos os que possuem acesso à internet. Contudo, em meio à facilidade deste recurso de comunicação, o WhatsApp tem gerado algum mal-estar em muitos relacionamentos.
Tudo o que possuímos deve ser usado com sabedoria e discernimento. Com o WhatsApp, não é diferente.
Como usar o whatsap com maturidadeFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Use-o com moderação

Gostaria de elencar algumas dicas de etiqueta para o uso desse aplicativo:
– O fato de você receber uma mensagem não indica a obrigação de respondê-la de imediato. Mesmo que tenha visualizado a mensagem, também não significa obrigatoriedade na resposta no momento exato de sua visualização. Nem todos podem responder a todas as mensagens que recebe vinte e quatro horas por dia. É preciso cuidado, pois o WhatsApp tem escravizado pessoas e feito de outras reféns de um aplicativo virtual.
– Ficar irritado com uma resposta não recebida, enviar mensagens grosseiras e mal-educadas simplesmente porque não obteve uma resposta no WhatsApp indica que a pessoa não tem maturidade suficiente para lidar com a ferramenta.
– Ninguém é obrigado a responder todas as mensagens "fofinhas" de "bom dia", boa tarde" e "boa noite". O fato de não responder não significa que a pessoa não o considera mais um amigo.
– Reduzir a amizade de anos a um aplicativo de comunicação é desvalorizar o amigo e dizer que o WhatsApp é mais importante que o contato real. Muitas amizades estão se perdendo pelo simples motivo de imaturidade de quem não o sabe usar.

– Ficar cobrando resposta para algo banal e sem importância chega a ser o cúmulo da imaturidade. Essa atitude demonstra infantilidade.
– Você não é obrigado a participar de um grupo só porque toda a "galera" está lá. Se o grupo não acrescenta nada de importante à sua vida pessoal e espiritual, não tenha medo de sair.
– Não há nada mais estressante do que ficar lendo uma mensagem codificada, ou seja, escrita por partes intermináveis. Digite de uma única vez o assunto ou grave um áudio. Ninguém tem tempo suficiente para ficar escrevendo a conta-gotas.
– Há horário para tudo. Ficar mandando mensagens de WhatsApp tarde da noite é bastante incômodo para quem a recebe. Lembre-se: nem todos têm insônia. Para quem é vítima de receber mensagens a madrugada toda, recomendo desconectar o wi-fi e os dados móveis do dispositivo. Assim, seu sono será tranquilo. No outro dia, quando tiver tempo, você responde  as mensagens com calma e no seu tempo.
– Lembre-se de colocar seu aplicativo WhatsApp no silencioso. Nada mais desagradável do que ouvir aquele assobio em uma Missa, no teatro, no cinema ou em qualquer outro lugar.
– Por último: o WhatsApp é um aplicativo, um meio de comunicação, mas há outros meios de comunicação como telefonar, encontrar-se pessoalmente. Use com sabedoria esses meios, sem apelar para atitudes imaturas.



Padre Flávio Sobreiro


Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor do livro "Amor Sem Fronteiras" pela Editora Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: facebook.com/peflaviosobreiro

Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/tecnologia/como-usar-o-whatsapp-com-maturidade/

1 de agosto de 2016

A vida familiar é uma verdadeira escola

É preciso compreender que é no núcleo familiar que as pessoas são formadas

Há uma perigosa, progressiva e ameaçadora perda do sentido da vida como dom precioso. São muitos os cenários que comprovam a maneira relativista com que se vem tratando a vida: o resultado é a crescente perda de seu valor sagrado. Assim, torna-se urgente compreender e investir sempre mais em processos educativos que permitam o enfrentamento dessa realidade problemática e ameaçadora. Isso porque a dinâmica da delinquência, incentivada pela impunidade, entra sorrateiramente no tecido da cultura urbana, moldando o comportamento de pessoas e grupos.

Nesse cenário, gravíssimo é constatar o quanto está corroído o núcleo da consciência individual pelas escolhas subjetivistas, voluntaristas, norteadas por conveniências que relevam até mesmo preconceitos e ódios. Desse modo, esses adiantados processos de delinquência surgem na contramão de tudo o que se pode presumir. Há um pisca alerta em último grau indicando a urgência de programas educativos mais efetivos para enfrentar esse caos. Os altos preços já pagos e os prejuízos evidentes alertam para o agravamento dos mais diversos tipos de violência, desde o terrorismo de estado até aquelas que se escondem no silêncio dos lares, a exemplo das abomináveis agressões às mulheres.

A vida familiar é uma verdadeira escolaFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

A família como prioridade

Não bastam, porém, apenas intervenções pontuais nessas situações todas. É preciso completa reorganização nos funcionamentos da sociedade, considerando, sobretudo, o apreço sagrado pelo dom da vida. Inclui-se aí o enorme desafio de articular a complexidade e a diversidade das linguagens e das simbologias em meio às velozes transformações socioeconômicas, religiosas, políticas, culturais e ambientais. Também não bastam as intervenções estruturais na organização externa das realidades urbanas. É preciso investir em contextos com impactos estruturantes. No cenário amplo dos investimentos educativos, os governos, as igrejas, as academias e os demais segmentos devem priorizar a família, sempre mais.

Mesmo considerando-se superada a fase vivida recentemente, de relativização da família e até mesmo da preconização do seu fim, ainda são necessários ajustes na compreensão do que ela realmente representa. É essencial ter-se a clareza da importância de se constituir o núcleo familiar para ser qualificado no contexto educativo e, assim, ser capaz de questionar as realidades. Antes e acima do ensino formal, está a família. Escola indispensável, nela se configuram os elementos estruturantes do caráter, da socialização, do exercício da liberdade, da cidadania e da capacidade de amar. Tudo isso mantém acesa a chama do respeito à sacralidade da vida, força capaz de reconfigurar os cenários que a ameaçam.


É na família que nasce o novo caminho no enfrentamento daquilo que esgarça o tecido da cultura urbana, ao formar cidadãos capazes de oferecer a força do testemunho imprescindível a toda transformação, fundamentado na justiça, na verdade e na paz. Essa competência para intervir positivamente na realidade estrutura-se primeiramente a partir das relações familiares. Com a preponderância das figuras parentais é que se dá o aprendizado da indispensável dinâmica da reciprocidade, do sentido do outro, de sua dignidade e, sobretudo, do gosto por amparar e promover a vida.

Respeito à vida

A primeira e mais importante escola da vida não pode, contudo, caminhar sozinha. Esses desafios todos exigem políticas públicas adequadas, espiritualidade qualificada, sentido social e político da cidadania, que resultem em práticas capazes de fecundar o respeito incondicional à vida.

Âmbito da socialização primária, a família oferece os meios insubstituíveis de produção de um tecido urbano mais civilizatório, constituindo-se em lugar privilegiado para se repensar hábitos, relacionar-se com os outros, respeitar, ouvir e dialogar. Se não se aprende as boas maneiras de convivência em casa, comprometido estará o modo de se habitar em meio à comunidade, empurrando, mais aceleradamente, a sociedade para o caos.

A abordagem desta questão, emoldurada pela complexidade da cultura urbana contemporânea e pela realidade desafiadora própria da família, convida a refletir, debater e investir em novos cenários para fazer da vida familiar uma verdadeira escola. Todos somos sempre aprendizes.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).

http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/vida-familiar-uma-escola/

29 de julho de 2016

Dicas para compreender filhos adolescentes

Os filhos crescem e o pais precisam compreender como lidar com eles nesta nova fase

Como os pais querem que os filhos cresçam! Eles acreditam que vão poder ter mais tempo para si. Adeus fraldas, mamadeiras, brinquedos pela casa e tranqueiras. Doce ilusão! Quando chega a adolescência, sentem falta dos tempos em que os filhos eram crianças, porque, com os adolescentes, as relações são mais complicadas, o controle é mais difícil de ser exercido e as preocupações aumentam quando eles estão fora de casa.

É comum, nesta fase, os filhos se ligarem mais aos amigos e se afastarem dos pais, mas alguns querem lutar contra isso. Neste momento, a importância é não perder o vínculo e a confiança neles. Os limites são importantes, mas precisam ser negociados numa conversa franca e com paciência, para explicar os porquês e as regras.

Dicas para compreender filhos adolescentesFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Vencendo as dificuldades

A grande dificuldade dos pais é ver os filhos cometendo os erros que eles já vivenciaram. Algumas vezes, conseguem evitar alguns erros, porque os filhos assimilam a experiência dos pais. Entretanto, em outras circunstâncias, é preciso deixá-los "quebrar a cara" para aprenderem, pois faz parte do processo de crescimento. Muitas vezes, é importante criar momentos para certas conversas, talvez num restaurante, numa caminhada ou em momentos de lazer. Se possível, evite conversar nos momentos de mau humor tanto dos pais quanto dos adolescentes. Concordam que fica mais difícil um acordo?

Nesse período de crescimento, existe uma forte luta de poder: os pais querendo saber tudo da vida dos filhos, e estes, por seu lado, querendo autonomia para viver. O segredo é haver respeito mútuo e manter aberto o canal do diálogo. Cobranças precisam acontecer a partir das regras estabelecidas, sendo que algumas precisam ser bem trabalhadas, pois, entre outras questões, muitos não sabem o impacto da falta de estudo na sua vida, ou do uso indevido de bebida ou relacionamento com amigos inadequados.

Entretanto, acima das regras, a forma de cobrar faz toda a diferença. Cuidado com os exageros na cobrança! O afeto é a liga para que as relações não se deteriorem pela pressão. O excesso de críticas por questões que não são relevantes, ilegais ou imorais, precisam ser repensadas. A flexibilidade, quando os comportamentos são positivos, ajudam a fortalecer o aprendizado de tomada de decisão nas situações da vida.


Diferença entre acompanhar e vigiar

Muitos pais têm dúvidas sobre o tamanho da liberdade a ser dada aos adolescentes. O segredo é afrouxar a corda, mas checar o que está acontecendo. Por exemplo: se o filho pedir para ir a uma festa, estabeleça as regras e as mantenha; depois, confira se ele realmente foi e com quem foi. Na volta, verifique o estado dele e se o combinado foi cumprido. Atenção: é importante entender a diferença entre acompanhar e vigiar, agir sempre às claras e não escondido, porque, se o adolescente percebe que os pais não confiam, começam a burlar as informações. Nessa fase, a cumplicidade entre pais e filhos faz toda a diferença, mas se lembre de que, antes de ser amigo, você é pai ou mãe.

Como as relações costumam ser mais estressantes, cuidado com o momento de crise, pois é quando são estabelecidos laços ou rompimentos, por causa do tipo e intensidade da reação dos pais. Teoricamente, os pais deveriam ser os mais amadurecidos. Diante de um grande problema, qual é a sua reação? O importante é o adolescente entender as consequências de seu ato e trabalhar para que ele não use a mentira como um artifício para se ver livre das consequências inerentes ao seu comportamento. Observe também se os problemas pessoais do casal ou a pressão do dia a dia influenciam suas reações diante da crise.

Uma atitude importante é não exaltar demais ou minimizar os comportamentos dos filhos, pois uma autoestima boa pode evitar que eles se coloquem em situação de risco para provar que são adultos e podem decidir sozinhos sobre a sua vida. Eles precisam aprender pelos exemplos dos pais e pelas escolhas direcionadas por professores, psicólogos e familiares.

A compreensão e a clareza de regras ajudam os pais-pilotos a navegarem melhor nessa fase; e se o ambiente familiar interno for bom, será mais fácil surfar as ondas de perigo da vida.



Ângela Abdo

Ângela Abdo é coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES) e assessora no Estudo das Diretrizes para a RCC Nacional. Atua como curadora da Fundação Nossa Senhora da Penha e conduz workshops de planejamento estratégico e gestão de pessoas para lideranças pastorais.

Abdo é graduada em Serviço Social pela UFES e pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e em Gestão Empresarial. Possui mestrado em Ciências Contábeis pela Fucape. Atua como consultora em pequenas, médias e grandes empresas do setor privado e público como assessora de qualidade e recursos humanos e como assistente social do CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador). É atual presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) do Espírito Santo e diretora, gerente e conselheira do Vitória Apart Hospital.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/dicas-para-compreender-filhos-adolescentes/

27 de julho de 2016

Casamento é muito mais que uma cerimônia bonita

O casamento é um sacramento que deve ser assumido de forma consciente, livre e aberto à fecundidade

Quem escuta ou lê essa frase pode imaginar que o casamento seja algo simples e trivial, facilmente resolvido com um check in na igreja antes dos vários passeios de lua de mel.

Antes do 'sim', porém, é preciso que os noivos se preparem bem para a mudança de vida. Estou falando da casa? Da comida? Da roupa lavada? Não, nada disso! No topo da lista está a preparação das emoções para a vida de casados. Um dos espaços eficazes para isso é o curso de noivos, quando o casal poderá sedimentar a reflexão conjunta sobre a vida a dois.

Casamento é mais que uma cerimônia bonitaFoto: Jason_Lee_Hughes, iStock.by Getty Images

 

Preparando para o casamento

Cada paróquia faz o curso de um jeito, conforme sua realidade. Eu trago aqui três pontos importantes para essa preparação.

Quando estava noiva, eu queria muito fazer o curso de noivos numa paróquia "superfamosinha" entre as noivas, por oferecer um curso bastante acolhedor, realizado na casa dos responsáveis e cheio de mimos. Mas, como o Senhor nos conduz para aquilo que de fato precisamos, não conseguimos nos inscrever e fizemos nosso curso numa paróquia bastante distante do centro, cuja igreja estava ainda inacabada, um ambiente bastante simples e sem qualquer pompa.

Em meio àquela simplicidade, Deus falou ao nosso coração de maneira completamente inusitada, do jeitinho que precisávamos ouvir .

Para você ter uma ideia, a primeira palestra foi conduzida por um frei bastante idoso, de origem estrangeira e sotaque carregado. O tema nos impactou bastante: como anular seu casamento. Ele afirmou que era fundamental saber quando um casamento é nulo, para não entrarmos "de gaiato", como se fosse fácil se separar. Explicou, ao mesmo tempo, que vários casamentos são apenas teatro, pois faltam premissas básicas para serem considerados válidos para a Igreja Católica.

Casamentos arranjados ou apenas para esconder uma gravidez em curso não necessariamente são válidos, por exemplo. Se não há a livre vontade de ambos para assumir essa vocação ou se esconderam um do outro informações importantes como uma enorme dívida, um casamento católico anterior ou a infertilidade de um dos noivos, não perca seu tempo, pois o casamento não será válido. O matrimônio é entrega total, livre e verdadeira; e estar disposto a assumir essa entrega faz bem para as emoções dos noivos.


Outro tema importante para o qual é preciso se preparar: método natural de planejamento familiar. Se você tem dificuldade de abordar este tema com o noivo, seja porque ele parece resistente à abstinência sexual nos dias férteis, seja por vergonha ou por pouco conhecimento da metodologia, é durante o noivado que esse jogo precisa ser combinado. Não basta só um dos noivos querer, é preciso que ambos estejam cientes não só das renúncias que isso traz, mas da maior cumplicidade, afeto e cuidado despertado com esse método.

No curso de noivos, em geral, apresenta-se a experiência de casais que utilizam esse método e comprovam a sua eficácia, convencendo até os mais céticos. Eu sei que você conhece algumas famílias com vários filhos, que dizem utilizar o método, mas com eles não deu certo. Na verdade, só funciona se houver preparação e utilização correta, e em caso de dúvida, basta procurar as equipes pastorais para acompanhamento dos casais.

Agora, há um outro tema bem interessante, que não foi tratado no nosso curso de noivos, mas uma amiga comentou certa vez: educação financeira do casal. Após uma palestra, cada casal planejava como ficariam as contas, quem pagaria o quê, como organizariam as despesas. Parece bobagem, mas muitos casamentos se desgastam devido ao desequilíbrio financeiro de um dos cônjuges, ou de ambos, que não percebem que não existirá mais o seu e o meu dinheiro, o seu e o meu boleto, mas a nossa dívida, os nossos bônus. E isso deve ser combinado ANTES do casamento. Imagina você ser acusada de que está gastando demais ou ver que seu noivo esbanja em pequenos luxos quando mal conseguem pagar as contas da casa?

A igreja tem como pré-requisito o curso de noivos exatamente para o casal tirar um tempo para si e focar no essencial em meio às diferentes listas e preparativos para a cerimônia. Se você não marcou o seu curso de noivos ainda, não deixe para a última hora. Se você já fez o seu, e esses temas não foram tratados, converse com seu companheiro de vida. Eu lhe garanto que esse papo vai render frutos.

Conversar sobre a validade do matrimônio, o planejamento familiar natural e o orçamento doméstico, além de preparar suas emoções para o casamento, vai evitar dores de cabeça no futuro.

O casamento é uma vocação importante demais, para a emoção se resumir na escolha dos convites em papel brilhante e os docinhos da festa.



Mariella Silva de Oliveira Costa

Mineira , esposa, católica, feliz e amante de uma boa prosa. Jornalista, professora universitária, cientista em formação e servidora pública, Mariella é graduada na Universidade Federal de Viçosa e especialista em jornalismo científico (Unicamp), mestre em ciências médicas (Unicamp) e doutoranda em saúde coletiva na Universidade de Brasília. Participa da Renovação Carismática Católica, desde 1998, onde serviu especialmente no Ministério Universidades Renovadas e no Ministério de Comunicação Social. Cofundadora do projeto Muitas Marias.com (www.muitasmarias.com)
Contato: mariellajornalista@gmail.com Twitter: @_mari_ella_
www.muitasmarias.com


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/casamento-e-muito-mais-que-uma-cerimonia-bonita/

25 de julho de 2016

Compreenda: a natureza da política é boa ou ruim?

A política faz parte da organização da sociedade, portanto, é preciso conhecer seu significado

"A fructibus eorum cognoscetis eos"
"Pelos frutos se conhece a árvore"

Quando falamos em política em nosso país, as pessoas imediatamente associam essa palavra a valores pejorativos, negativos, como corrupção, roubo, desonestidade. No imaginário popular, honestidade e política jamais dividiriam o mesmo espaço. Por que isso ocorre? Qual a origem dessa depreciação do ofício político?

Busquemos o significado etimológico da palavra política: derivada do grego politikos, "relativo ao cidadão ou ao Estado"1. Compreendemos, portanto, que a política se refere a toda nossa organização enquanto civilização, a partir do surgimento do Estado, ou seja, todas as derivações da existência do Estado, sejam elas boas ou ruins, são resultados de deliberações políticas. Sendo assim, as decisões políticas são originadas de situações positivas ou negativas.

Compreenda: A natureza da política é boa ou ruimCopyright: rmnunes

O que determina a ocorrência de uma situação e não de outra? Os indivíduos que tomam essas decisões. As decisões políticas são o reflexo do interior dos que as tomam. Não é a arma que é acusada de assassinato, mas a mão que a manejou. A natureza da árvore é identificada por seus frutos.

Qual o sentido real da política?

A política, nesse sentido, deve ser compreendida apenas como um instrumento que, segundo o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, deve ter a pessoa humana como seu fundamento e fim. Deve estar pautada, portanto, não no "eu" que exerce o mandato, mas no "nós" que o delegou tal encargo.

Nesse sentido, a política, na essência de sua existência, é profundamente boa e necessária, pois se estabelece como via pela qual se efetiva a "caridade social", como expressava o Papa Pio XI, rumo ao nascedouro da Civilização do Amor, prenunciada por Paulo VI, quando o Estado age em função do bem comum, em defesa da vida e da integridade dos que estão mais vulneráveis e desprotegidos.

As ações políticas deliberam sobre as questões materialmente existenciais do homem enquanto ser comunitário; nesse sentido, é importante frisar a atenção que todos devemos ter para com esse ambiente. Todos devemos, sim, buscar informação, esclarecimento, apropriarmo-nos das realidades sobre o que acontece politicamente em nosso país e no mundo. Isso, de forma alguma, tira a nossa atenção primeira do céu. Mas, como cristãos, o mundo espera de nós posturas centradas e de discernimento. Ainda que discordem de nós, é isso que esperam.

Lembro-me de uma vez em que estava em uma das escolas que trabalhava, à época na coordenação. Uma diretora chegou e, na liberdade que tínhamos, pediu-me que votasse em um candidato de sua indicação. Escutei-a com atenção. Ela debulhou as virtudes de tal candidato, seus feitos, e frisou que era um pedido pessoal. Ao fim, respondi: "Professora, gosto muito da senhora e a tenho em muito respeito, mas o meu voto é fruto de uma decisão de minha consciência". Ela protestou, esbravejou, e eu, de forma reiterada, afirmava que meu voto não estava à disposição. Após uma meia hora, ela me olhou profundamente, respirou e disse: "Estou feliz por ter você aqui em nossa escola. Um profissional que sabe o que quer. Não esperava outra coisa de você!".


Somos chamados à política

Sendo assim, acredito ser parte de nossa vocação de batizados ocuparmos, de forma cristã, todos os espaços da sociedade onde somos plantados por Deus para frutificar, dando testemunho do que essencialmente nos caracteriza: a nossa fé no Ressuscitado!

A política a que somos chamados a participar não é necessariamente partidária, muito embora se o for, o partido deve representar, em seu estatuto e diretrizes, os valores da sã doutrina. Não nos deixemos instrumentalizar por agendas partidárias a favor do aborto, da ideologia de gênero, do marxismo cultural e de tantas outras vertentes, que negam a essência do Evangelho de Cristo. Apresentam-se principalmente como arautos da justiça social, mas ao custo de nossas mais sagradas raízes da fé.

Nossa participação política, portanto, precisa ser consciente. Você recorda dos seus últimos votos para os cargos de prefeito e vereador? Quais projetos seus candidatos apresentaram? Eles representam seu voto?

Se você, como cristão católico batizado, é vocacionado a exercer um cargo eletivo, que o faça de forma santa e coerente. A presença do mal não pode afugentar os bons. Não tenha medo dos rótulos, dos preconceitos, pois a luz sempre vence as trevas. Contudo, seja forte, pois é um ambiente inóspito.

Concluo de forma imperativa: nossa bandeira é Cristo! Onde quer que estejamos, façamos o que fizermos, sejamos discípulos seguidores do Mestre.

"Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas". (Mt 10,16)

Christian Moreira de Souza
Membro da Comunidade Canção Nova – 2º Elo em Fortaleza (CE)
Historiador e Mestre em Ciências da Educação


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/politica/compreenda-a-natureza-da-politica-e-boa-ou-ruim/