25 de julho de 2016

Compreenda: a natureza da política é boa ou ruim?

A política faz parte da organização da sociedade, portanto, é preciso conhecer seu significado

"A fructibus eorum cognoscetis eos"
"Pelos frutos se conhece a árvore"

Quando falamos em política em nosso país, as pessoas imediatamente associam essa palavra a valores pejorativos, negativos, como corrupção, roubo, desonestidade. No imaginário popular, honestidade e política jamais dividiriam o mesmo espaço. Por que isso ocorre? Qual a origem dessa depreciação do ofício político?

Busquemos o significado etimológico da palavra política: derivada do grego politikos, "relativo ao cidadão ou ao Estado"1. Compreendemos, portanto, que a política se refere a toda nossa organização enquanto civilização, a partir do surgimento do Estado, ou seja, todas as derivações da existência do Estado, sejam elas boas ou ruins, são resultados de deliberações políticas. Sendo assim, as decisões políticas são originadas de situações positivas ou negativas.

Compreenda: A natureza da política é boa ou ruimCopyright: rmnunes

O que determina a ocorrência de uma situação e não de outra? Os indivíduos que tomam essas decisões. As decisões políticas são o reflexo do interior dos que as tomam. Não é a arma que é acusada de assassinato, mas a mão que a manejou. A natureza da árvore é identificada por seus frutos.

Qual o sentido real da política?

A política, nesse sentido, deve ser compreendida apenas como um instrumento que, segundo o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, deve ter a pessoa humana como seu fundamento e fim. Deve estar pautada, portanto, não no "eu" que exerce o mandato, mas no "nós" que o delegou tal encargo.

Nesse sentido, a política, na essência de sua existência, é profundamente boa e necessária, pois se estabelece como via pela qual se efetiva a "caridade social", como expressava o Papa Pio XI, rumo ao nascedouro da Civilização do Amor, prenunciada por Paulo VI, quando o Estado age em função do bem comum, em defesa da vida e da integridade dos que estão mais vulneráveis e desprotegidos.

As ações políticas deliberam sobre as questões materialmente existenciais do homem enquanto ser comunitário; nesse sentido, é importante frisar a atenção que todos devemos ter para com esse ambiente. Todos devemos, sim, buscar informação, esclarecimento, apropriarmo-nos das realidades sobre o que acontece politicamente em nosso país e no mundo. Isso, de forma alguma, tira a nossa atenção primeira do céu. Mas, como cristãos, o mundo espera de nós posturas centradas e de discernimento. Ainda que discordem de nós, é isso que esperam.

Lembro-me de uma vez em que estava em uma das escolas que trabalhava, à época na coordenação. Uma diretora chegou e, na liberdade que tínhamos, pediu-me que votasse em um candidato de sua indicação. Escutei-a com atenção. Ela debulhou as virtudes de tal candidato, seus feitos, e frisou que era um pedido pessoal. Ao fim, respondi: "Professora, gosto muito da senhora e a tenho em muito respeito, mas o meu voto é fruto de uma decisão de minha consciência". Ela protestou, esbravejou, e eu, de forma reiterada, afirmava que meu voto não estava à disposição. Após uma meia hora, ela me olhou profundamente, respirou e disse: "Estou feliz por ter você aqui em nossa escola. Um profissional que sabe o que quer. Não esperava outra coisa de você!".


Somos chamados à política

Sendo assim, acredito ser parte de nossa vocação de batizados ocuparmos, de forma cristã, todos os espaços da sociedade onde somos plantados por Deus para frutificar, dando testemunho do que essencialmente nos caracteriza: a nossa fé no Ressuscitado!

A política a que somos chamados a participar não é necessariamente partidária, muito embora se o for, o partido deve representar, em seu estatuto e diretrizes, os valores da sã doutrina. Não nos deixemos instrumentalizar por agendas partidárias a favor do aborto, da ideologia de gênero, do marxismo cultural e de tantas outras vertentes, que negam a essência do Evangelho de Cristo. Apresentam-se principalmente como arautos da justiça social, mas ao custo de nossas mais sagradas raízes da fé.

Nossa participação política, portanto, precisa ser consciente. Você recorda dos seus últimos votos para os cargos de prefeito e vereador? Quais projetos seus candidatos apresentaram? Eles representam seu voto?

Se você, como cristão católico batizado, é vocacionado a exercer um cargo eletivo, que o faça de forma santa e coerente. A presença do mal não pode afugentar os bons. Não tenha medo dos rótulos, dos preconceitos, pois a luz sempre vence as trevas. Contudo, seja forte, pois é um ambiente inóspito.

Concluo de forma imperativa: nossa bandeira é Cristo! Onde quer que estejamos, façamos o que fizermos, sejamos discípulos seguidores do Mestre.

"Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas". (Mt 10,16)

Christian Moreira de Souza
Membro da Comunidade Canção Nova – 2º Elo em Fortaleza (CE)
Historiador e Mestre em Ciências da Educação


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/politica/compreenda-a-natureza-da-politica-e-boa-ou-ruim/

22 de julho de 2016

Volte a sonhar e reencontre a felicidade

Os sonhos estão intimamente ligados à vida, e não há como seguir em busca da felicidade sem os considerar

Felicidade é a grande meta de todo ser humano, e como encontrá-la é o desafio que nos une a milhões de pessoas espalhadas pelo mundo. Aliás, vale a pena lembrar que buscar a felicidade é condição para encontrá-la, pois se costuma encontrar o que se procura.

Volte a sonhar e reencontre a felicidade!
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Se você busca a felicidade, vai encontrar razões para ser feliz mesmo em meio às adversidades; porém, se não a busca, mesmo quando ela vier ao seu encontro não a reconhecerá. Conheço um provérbio popular que diz: "Para o barqueiro que não sabe aonde quer chegar, nenhum vento lhe é favorável". Ou seja, quem não sabe o que quer, dificilmente chega a alguma conquista, e até mesmo quando acontecem coisas boas, nada parece favorecê-lo. É claro que existem pedras no caminho e nem todos os ventos sopram a nosso favor, mas quando temos uma meta definida, algumas pedras nos servem de degraus e alguns ventos fazem nosso barco avançar mar adentro com maior velocidade. Então, se você deseja ser feliz, é preciso dar passos firmes em direção à felicidade, e um dos passos que considero essencial é reencontrar sua essência, depois fazer as pazes com os acontecimentos que marcam sua história e voltar a sonhar, porque os sonhos estão intimamente ligados à vida, e não há como seguir em busca da felicidade sem os considerar.


Não deixe de sonhar

Talvez você tenha deixado de sonhar por inúmeras razões, entre elas a decepção por não ter alcançado aquilo que tanto desejou no seu tempo, do seu jeito e na sua hora; porém, é preciso confiar que Deus vê além, e quando não permite que algo que tanto desejamos nos aconteça, só pode ser por um motivo: amor. Ele vê além e sabe o que é melhor para nós. Como é Senhor de tudo, também sabe o melhor tempo para nos dar o que desejamos agora. Entretanto, Ele quer que sonhemos, Ele sonha conosco, caminha ao nosso lado e nos incentiva, porque sabe que sonhar para nós é viver. De nossa parte, é preciso reconhecer esse amor incondicional e confiar n'Ele, aconteça o que acontecer. Experimente, hoje, olhar para as marcas da sua história com gratidão, considerando que nada é fruto de um acaso, e os sonhos também não. Na verdade, eles são inspirações divinas plantadas por Deus em sua alma desde seu nascimento.

Lembre-se de que você é único e tem um valor fundamental neste mundo. Portanto, siga seu coração e procure agir de acordo com aquilo que você sonha e deseja, e não de acordo com o que os outros pensam e querem para você. Nessa busca, você precisa ter calma com si mesmo e respeitar seu processo de mudança. O mundo pede urgência, é verdade, mas o coração tem seu próprio ritmo; é necessário respeitá-lo se quiser ser feliz. Converse com seu coração sobre seus sonhos e não tenha medo de dar passos, mesmo que sejam lentos, na direção que ele indicar. "O coração tem razões que a própria razão desconhece", mas se você prestar atenção na sua voz, vai ouvi-lo dizer: volte a sonhar, pois assim você encontrará a felicidade!


 


Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às terças-feiras, está à frente do programa "De mãos unidas", que apresenta às 21h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000. Recentemente, a missionária lançou o livro "Por onde andam seus sonhos? Descubra e volte a sonhar" pela Editora Canção Nova.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/volte-sonhar-e-reencontre-felicidade/

20 de julho de 2016

10 formas de amar seu namorado sem sexo

É possível amar de outras formas, sem ter relação sexual durante o namoro

Depois do texto " 10 formas de amar sua namorada sem sexo", escrito por meu esposo Adriano Gonçalves, trago para você "10 formas de amar seu namorado sem sexo". Lembrando que você encontrará muito mais em nosso livro, que será lançado em breve, "Agora e para sempre: como viver o amor verdadeiro".

Amar descobrindo

Descobrir o amor é descobrir a beleza que existe no interior do seu namorado, a capacidade de dar a própria vida por amor. É descobrir não o desenho dos músculos do seu namorado, mas a força da sua alma.

10 formas de amar meu namorado sem sexoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Amar construindo

Amar é saber que um verdadeiro homem é construído, não nasce pronto. Amar é colaborar na construção desse homem, que poderá ser seu esposo e pai dos seus filhos. Antes de construir uma casa para morar a dois, e depois com os filhos, é preciso construir os alicerces do amor.

Amar recomeçando

Recomeçar é saber que quando caímos, podemos nos levantar. Amar é recomeçar perdoando, acolhendo e amadurecendo. Sempre há um recomeço para quem assume as próprias quedas e tem coragem de se levantar, pois acredita no amor.


Amar servindo

Amar é servir não apenas com uma boa comida, numa mesa bem posta, mas sendo suporte para o outro. É servir com alegria e disposição quando ele solicitar e também quando nem falar. A mulher é aquela que percebe os detalhes e se antecipa na ajuda.

Amar acolhendo

Acolher a pessoa inteira, não querer viver pela metade, é amor. Acolher mesmo que não tenha nada para dar, no silêncio fecundo; se necessário, falar sem julgar, apenas acolher.

Amar rezando

Rezar é amar e amar é rezar. Um casal de namorados que não reza perde-se nas próprias razões. Rezar é olhar além do que os olhos podem ver, é tocar na essência da alma humana, é o diálogo de quem se ama.

Amar respeitando

Respeito com a história e a verdade. Quando se respeita, abre-se caminhos novos e possibilidades de uma nova história. O respeito traduz que o outro é bem-vindo. Respeitar seu namorado é dizer-lhe: você é bem-vindo à minha vida.


Amar celebrando

Celebrar o amor, celebrar datas importantes e, acima de tudo, celebrar o dom, que é o outro. Celebrar é reconhecer que um presente lhe foi dado, e que você pode ser um presente para o seu namorado.

Amar cuidando

Cuidar é diferente de servir. Cuidar é ser o que o outro precisa na medida. O seu namorado, talvez, nunca tenha sido cuidado pelos pais e pela família, então, não queria ser a mãe dele, mas não negue a sua capacidade de cuidar.

Amar conduzindo

Conduzir não é dirigir o seu namorado, não é ser a cabeça do relacionamento. Queira conduzir o coração para o que é eterno, para o que não passa. Mesmo que, após um tempo, esse namoro termine, seja para começar um casamento ou para que cada um realinhe suas escolhas, não queria deixar feridas de dor, mas marcas do céu. Amar é conduzir o outro ao céu.

Achei algo interessante: perceba que o Adriano escreveu "As 10 formas de Amar" com verbos no infinitivo; eu escrevi no gerúndio. Não fizemos de propósito, mas, depois de escrito, identificamos essa diferença. Por que será ? Porque para amar de verdade é preciso amar agora em vista do infinito, mas, ao mesmo tempo, viver como uma ação que ainda está em construção. Pense nisso!

Deus o abençoe
Letícia Gonçalves


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/10-formas-de-amar-seu-namorado-sem-sexo/

18 de julho de 2016

Qual o verdadeiro significado do escapulário?

Compreenda por que devemos utilizar o escapulário e seu significado para a Igreja

Muitas pessoas utilizam o escapulário por modismo ou simplesmente porque outros o usam, mas qual é o verdadeiro significado dele?

São muitos os que usam o escapulário ou outros objetos de devoção sem saber o verdadeiro significado deles, pior ainda quando o usam como um amuleto, algo mágico que "dá sorte", que livra de "mau-olhado" ou coisa semelhante.

Qual o verdadeiro significado do escapulário
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com 

Como se o verdadeiro sentido não viesse do coração daquele que usa tal objeto, que, conhecendo o seu verdadeiro significado, usa-o para sinalizar algo que está em seu íntimo, em sua fé, em seus propósitos e conversão. Muitos usam cruzes, medalhinhas, terços e vários escapulários de Nossa Senhora do Carmo como modismo, porque todo mundo está usando ou porque "aquele artista" usou na novela.

Mas qual o verdadeiro significado do escapulário?

O escapulário ou bentinho do Carmo é um sinal externo de devoção mariana, que consiste na consagração a Santíssima Virgem Maria, por meio da inscrição na Ordem Carmelita, na esperança de sua proteção maternal. O escapulário do Carmo é um sacramental. No dizer do Vaticano II, "um sinal sagrado, segundo o modelo dos sacramentos, por intermédio do qual significam efeitos, sobretudo espirituais, que se obtêm pela intercessão da Igreja" (SC 60).

"A devoção do escapulário do Carmo fez descer sobre o mundo copiosa chuva de graças espirituais e temporais" (Pio XII, 6/8/50).


A devoção ao escapulário de Nossa Senhora do Carmo teve início com a visão de São Simão Stock. Segundo a tradição, a Ordem do Carmo atravessava uma fase difícil entre os anos 1230-1250. Recém-chegada à Europa como nômade, expulsa pelos muçulmanos do Monte Carmelo, a Ordem atravessava um período crítico. Os frades carmelitas encontravam forte resistência de outras ordens religiosas para sua inserção. Eram hostilizados e até satirizados por sua maneira de se vestir. O futuro dos carmelitas era dirigido por Simão Stock, homem de fé e grande devoto de Nossa Senhora.


O escapulário era um avental usado pelos monges durante o trabalho para não sujar a túnica. Colocado sobre as escápulas (ombros), o escapulário é uma peça do hábito que ainda hoje todo carmelita usa. Com o tempo, estabeleceu-se um escapulário reduzido para ser dado aos fiéis leigos. Dessa forma, quem o usasse poderia participar da espiritualidade do Carmelo e das grandes graças que a ele estão ligadas; entre outras o privilégio sabatino. Em sua bula, chamada Sabatina, o Papa João XXII afirma que aqueles que usarem o escapulário serão depressa libertados das penas do purgatório no sábado, que se seguir a sua morte. As vantagens do privilégio sabatino foram ainda confirmadas pela Sagrada Congregação das Indulgências, em 14 de julho de 1908.

O escapulário é feito de dois quadradinhos de tecido marrom unidos por cordões, tendo de um lado a imagem de Nossa Senhora do Carmo, e de outro o Coração de Jesus, ou o brasão da Ordem do Carmo. É uma miniatura do hábito carmelita, por isso é uma veste. Quem se reveste do escapulário passa a fazer parte da família carmelita e se consagra a Nossa Senhora. Assim, o escapulário é um sinal visível da nossa aliança com Maria.

Compromissos de quem utiliza o escapulário

É importante destacar algumas atitudes que devem ser assumidas por quem se reveste desse sinal mariano:

• Colocar Deus em primeiro lugar na sua vida e buscar sempre realizar a vontade d'Ele.
• Escutar a Palavra de Deus na Bíblia e praticá-la na vida.
• Buscar a comunhão com Deus por meio da oração, que é um diálogo íntimo que temos com Aquele que nos ama.
• Abrir-se ao sofrimento do próximo, solidarizando-se com ele em suas necessidades, procurando solucioná-las.
• Participar com frequência dos sacramentos da Igreja, da Eucaristia e da confissão, para poder aprofundar o mistério de Cristo em sua vida.

Eu fui revestido com o escapulário, no dia 16 de julho de 1996, quando estava no noviciado da Canção Nova. Nesse dia, consagrei minha afetividade e sexualidade aos cuidados da Virgem Maria, que pode contar sempre com os meus esforços e abertura de coração, para ser digno de receber as graças dessa santa devoção.

Referência: Província Carmelitana


Padre Luizinho

Padre Luizinho, natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 22 de dezembro de 2000, cujo lema sacerdotal é "Tudo posso naquele que me dá força". Twitter: http://@peluizinho


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/qual-o-verdadeiro-significado-do-escapulario/

15 de julho de 2016

O que entendemos por Ortotanásia?

A ortotanásia é sensível ao processo de humanização da morte e alívio das dores

Morte digna, sem abreviações desnecessárias nem sofrimentos adicionais, isto é, "morte em seu tempo certo". Com o prefixo grego orto, que significa "correto", e thanatos, que significa "morte", "ortotanásia" tem o sentido de morte "em seu tempo certo", ou seja, "morte pelo seu processo natural", sem abreviações nem prolongamentos desproporcionais ao processo de morrer. Portanto, a ortotanásia acontece quando o paciente já não dispõe mais de nenhum recurso terapêutico capaz de reverter seu quadro. Já atingiu o estágio de irreversibilidade.

O que é Ortotanasia
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

A ortotanásia, diferente da distanásia, é sensível ao processo de humanização da morte e alívio das dores, e não incorre em prolongamentos abusivos com a aplicação de meios desproporcionados que imporiam sofrimentos adicionais. Portanto, implica dispensar o uso de recursos extraordinários quando não há a mínima esperança de cura ou de melhoria da qualidade da vida. A prudência e a ética exigem que médicos e parentes mais próximos (especialmente quando o paciente está inconsciente e não reúne condições para oferecer uma opinião) concordam com o processo.

Aceitação da morte natural

Não dispensando medidas analgésicas e humanistas cabíveis, como a hidratação, nutrição, eventual assistência psicológica e religiosa, isso consiste na aceitação razoável da morte natural, mediante eventual desligamento de aparelhos de manutenção artificial de uma vida nem sempre consciente, como justificou Pio XII ("Discurso do Papa Pio XII sobre a anestesia" de 24/02/1957).

É a situação em que se reconhece a inutilidade do tratamento para manter vivo o paciente. Nesse caso, recorre-se aos cuidados paliativos sem, contudo, utilizar meios para abreviar a vida. É situação intermediária entre a eutanásia (abreviar a vida) e a distanásia (prolongamento indevido do processo de morrer). Por isso, a prática da ortotanásia visa evitar a eutanásia e a distanásia ou, como afirma Leo Pessini, "não devemos abreviar a vida nem a prolongar, mas sim humanizar e cuidar".



A ortotanásia dá assistência médica e afetiva ao paciente terminal, para ele morrer com tranquilidade. Nesse caso, o doente recebe cuidados e medicamentos paliativos, que não vão curá-lo, mas evitam um sofrimento maior até o momento em que a morte venha naturalmente.

Segundo a Resolução 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina (CFM), é o procedimento pelo qual o paciente em fase terminal ou o seu representante legal decide renunciar ao uso de terapêuticas consideradas invasivas, e o médico limita ou suspende procedimentos e tratamentos dolorosos e prolongados para amenizar os sintomas que acarretam o sofrimento. Portanto, essa prática é apresentada como manifestação da morte boa ou morte desejável.

O Código de Ética Médica ratifica a ortotanásia, e os médicos podem ministrar somente os cuidados paliativos, que auxiliarão o doente a tolerar melhor a dor e suavizar o sofrimento. Com isso, pode-se entender que é dever do médico praticar a ortotanásia quando solicitada pelo paciente terminal.

Princípios ético-cristãos

A bioética, neste caso, está intrinsecamente ligada ao cuidado, aos prolongamentos e às abreviações da vida. Ela prega, na verdade, a ortotanásia, que é a morte no seu tempo certo, reta, digna, sensível ao processo de humanização. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica (2279): "Mesmo quando a morte é considerada iminente, os cuidados comumente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O emprego de analgésicos para aliviar os sofrimentos do moribundo, ainda que com o risco de abreviar seus dias, pode ser moralmente conforme a dignidade humana se a morte não é desejada, nem como fim nem como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável. Os cuidados paliativos constituem numa forma privilegiada de caridade desinteressada. Por essa razão, devem ser encorajados".

O Santo Papa João Paulo II, na carta Encíclica Evangelium Vitae n.64, ao escrever sobre a morte, diz: "No outro topo da existência, o homem encontra-se diante do mistério da morte. Hoje, na sequência dos progressos da medicina e num contexto cultural frequentemente fechado à transcendência, a experiência do morrer apresenta-se com algumas características novas. Com efeito, quando prevalece a tendência para apreciar a vida só na medida em que proporciona prazer e bem-estar, o sofrimento aparece como um contratempo insuportável, de que é preciso libertar-se a todo custo. A morte, considerada como "absurda" quando interrompe inesperadamente uma vida ainda aberta para um futuro rico de possíveis experiências interessantes, torna-se, pelo contrário, uma "libertação reivindicada", quando a existência é tida como já privada de sentido, porque mergulhada na dor e inexoravelmente voltada a um sofrimento sempre mais intenso".

Ninguém está imune ou livre do sofrimento e da doença (é condição humana). A experiência da doença revela a fragilidade da existência humana, é uma possibilidade concreta, eticamente falando, de a pessoa descobrir o valor da vida, porque ou lhe dá sentido ou fracassa, não tem meio termo. A etapa final da vida merece ser cuidada assim como as demais fases. Falecer com dignidade traz à discussão a qualidade de vida no processo de morrer.

O paciente deve ter o direito de recusar tratamentos quando sente que sua qualidade de vida está ameaçada, pois se procura a dignidade do princípio ao fim da vida, afirma Leo Pessini e Bertachini. É um interesse em humanizar o processo de morte de um paciente terminal, em aliviar suas dores, em não pretender prolongar abusivamente sua existência pela aplicação de meios desproporcionais.

A determinação de não delongar a vida é complexa

Conforme o teólogo Junges, a determinação de não delongar a vida é complexa, entretanto, o limite para designar está claramente fechado à percepção de morte digna associada à plena consciência das restrições de intervenção. Parece claro que o utópico seria ouvir, sentir e pensar com o indivíduo que sofre a amarga presença do evento inevitável da morte, para dessa relação complexa surgir a solução mais apropriada possível para cada caso.

A Dra. Maria Elisa Villas-Bôas, pediatra e doutora em Direito, afirma que a ortotanásia é o objetivo médico quando já não se pode buscar a cura, e visa prover conforto ao paciente, sem interferir no momento da morte, sem encurtar o tempo natural de vida nem adiá-lo indevida e artificialmente, possibilitando que a morte chegue na hora certa, quando o organismo efetivamente alcançou um grau de deterioração incontornável; e mais do que uma atitude, a ortotanásia é um ideal a ser buscado pela Medicina e pelo Direito, dentro da inegabilidade da condição de mortalidade humana.

A ortotanásia ou a morte como condição, que faz parte do nosso ciclo natural, é aprovada pela Igreja Católica. Por isso, na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis, é permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu representante legal (Res. n.1.805/2006, CFM). O direito à morte digna, a partir da ortotanásia, é fundamentado na dignidade da pessoa humana.

Na prática, a aplicação da ortotanásia deve levar em consideração alguns princípios, a saber: a autonomia do paciente terminal ou dos seus parentes próximos em decidir querer morrer dignamente; a não-maleficência de não exagerar um tratamento fútil que lhe cause mais dores e sofrimentos; na beneficência da promoção do alívio, do conforto, do cuidado e da dignidade; e na justiça, na qual se para alguns não há mais chance de cura, deve-se buscar promover o acesso ao tratamento para aquele que pode se tornar sadio. É preciso considerar que o médico não é obrigado a intervir no prolongamento da vida do paciente além do seu período natural, salvo se tal lhe for expressamente requerido pelo doente ou seus familiares.

Como afirma o teólogo espanhol Marciano Vidal, "a ortotanásia é uma síntese ética do direito de morrer com dignidade e do respeito pela vida humana".

 


Padre Mário Marcelo Coelho

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-que-entendemos-por-ortotanasia/

13 de julho de 2016

Na crise da política atual, como escolher um bom candidato?

A política é uma das formas mais elevadas de amor

Os últimos Papas têm insistido muito para que os católicos participem da vida pública, e de modo especial, da política. Vale a pena recordar alguns de seus ensinamentos nesse sentido. O Papa Francisco disse:

"Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós não podemos fazer como Pilatos e lavar as mãos, mas temos de nos meter na política, pelo fato de ela ser uma das formas mais altas de caridade e busca do bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar no meio político.

Na crise da política atual, como escolher um bom candidato
Foto: Rivelino Correia/cancaonova.com

Sei que a realidade da política está muito suja, mas eu pergunto: Por que ela está assim? Por que os cristãos não participaram dela com espírito evangélico? Essas são as perguntas que me faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros, mas o que estamos fazendo para mudar essa realidade? Trabalhar para o bem comum é dever do cristão.

A Igreja não deve cair naquela máxima de querer ficar de fora do meio político; pelo contrário, deve colocar-se na "grande política", porque, como dizia Paulo VI, ela é uma das formas mais elevadas de amor.

Vocação à política

Na Exortação Evangelii Gaudium, nº 205, o Papa Francisco disse: "A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum".

Papa Bento XVI disse em Roma: "Reitero a necessidade e urgência de formação evangélica e acompanhamento pastoral de uma nova geração de católicos envolvidos na política, que sejam coerentes com a fé professada, que tenham firmeza moral, capacidade de julgar, competência profissional e paixão pelo serviço ao bem comum" (Discurso ao CPL, Vaticano, 15 de novembro de 2008).


O Papa pediu aos bispos que estimulem os fiéis leigos a "vencerem todo espírito de fechamento, distração e indiferença, e a participarem, em primeira pessoa, da vida pública", para construir uma sociedade que respeite plenamente a dignidade humana.

Bento XVI insistiu na importância das "iniciativas de formação inspiradas na doutrina social da Igreja, para que quem esteja chamado às responsabilidades políticas e administrativas não seja vítima da tentação de explorar sua posição por interesses pessoais ou por sede de poder". (Roma, 26 de maio de 2011 zenit.org)

São João Paulo II, na exortação Christifidelis laici já tinha dito: "Para animar cristãmente a ordem temporal, no sentido que se disse de servir a pessoa e a sociedade, os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na «política», ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum. As acusações de arrivismo (ambição), idolatria de poder, egoísmo e corrupção não justificam minimamente nem o cepticismo nem o absenteísmo dos cristãos pela coisa pública" (n.42).

Doutrina Social da Igreja

Participar da política não quer dizer apenas ser candidato a algum cargo eletivo; é muito mais que isso; é conhecer o que a Igreja nos ensina na "Doutrina Social da Igreja", ensinar isso aos outros e orientar as pessoas em quem votar e votar bem. Antes de tudo, é preciso conhecer cada candidato e saber se tem boa formação humana e cristã, e se tem bons conhecimentos da ordem econômica, social e política, para exercer bem o cargo público a que se candidata.

Nem sempre será possível encontrar um candidato perfeitamente afinado com o Evangelho e a moral católica; a eleição de alguém para um cargo público não é a mesma coisa que a seleção para ser sacerdote ou bispo. Pode até acontecer de alguém que não seja católico ser mais honesto e competente do que alguém que se intitula católico, mas que não tem as mesmas qualidades.

O que importa é votar com a consciência reta e esclarecida

Uma rápida análise mostra que o nosso país vai mal na economia e na assistência ao povo, porque vai mal politicamente. E o voto é o meio de mudar essa situação, ele é sagrado, é a arma da democracia. Mas se ele não for dado com conhecimento de causa, com honestidade, sem se vender, a democracia fica doente e pode se tornar ditadura disfarçada.

Muitas pessoas não sabem votar, não conhecem os candidatos. Muitos pegam um papel de propaganda no chão para votar no dia da eleição. Outros, pior ainda, vendem o voto, isto é, vendem a própria honra. Não se pode trocar o voto por um benefício, por um emprego. Não se pode votar em alguém só porque é um jogador ou cantor famoso; ou mesmo um excêntrico, como forma de protesto. Não se pode votar por sentimentalismo, só porque a pessoa é ligada à família ou é bonito e simpático. Não é de pessoas assim que a política e o país precisam, mas de gente honesta, competente e abnegada, que faz da política um meio de caridade, de busca do bem comum.

O voto só será consciente se o eleitor conhecer o candidato, informar-se, conhecer seus valores e o que pretende. Sobretudo, se é um político ou um "politiqueiro", que visa se enriquecer ou aparecer.

Para dar um voto consciente, não podemos apenas nos basear no que dizem os candidatos no horário de propaganda eleitoral gratuita ou paga. É preciso mais, é preciso ler jornal e revista, assistir a debates e não ficar apenas nos noticiários da televisão.

Quem vota de maneira consciente nunca anula seu voto. É um grande engano e um verdadeiro perigo para a nação, pois facilita a eleição dos maus políticos. É verdade que faltam, às vezes, bons candidatos para a eleição em algumas funções, que façam da política um verdadeiro sacerdócio em favor do povo, mas jogar fora o voto é a pior opção e uma verdadeira traição a si mesmo e à nação. É um pecado, pois o voto é sagrado. Quem anula seu voto anula sua dignidade. Não adianta se enganar, alguém será eleito para cada cargo. Se nenhum candidato lhe agradar, vote no menos ruim.

O voto consciente não pode premiar candidatos que são bancados por ricas e fortes instituições (banqueiros, empresários, igrejas, sindicatos, cooperativas etc.). Esses, se eleitos, não vão trabalhar pelo bem do povo, mas vão fazer "lobbies" em benefício dessas instituições que bancaram suas campanhas. O voto consciente deve ser dado ao candidato que faz uma campanha limpa, que não tem ficha suja nem faz campanhas milionárias. Identifique aqueles candidatos que são apoiados pela comunidade onde você vive e que se interessam por todos.

Enfim, votar bem é algo essencial para a nação melhorar, é um dom que Deus nos dá. É direito e dever de cada cidadão votar bem e ajudar os outros a votarem bem.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/politica/na-crise-da-politica-atual-como-escolher-um-bom-candidato/

11 de julho de 2016

Piercing e a tatuagem no corpo de um cristão

Será que o uso dessas práticas, mesmo na cultura ocidental pós-moderna, não vem carregado de um sentido espiritual?

"Não fareis incisões na vossa carne por um morto, nem fareis figura alguma no vosso corpo. Eu sou o Senhor" (Lv 19,28).

Vemos, neste texto bíblico, a proibição de Deus ao povo de Israel de fazer incisões na pele. Para não cairmos em fundamentalismos, temos de ir ao contexto e descobrir a essência da mensagem. O que observamos é que o uso dessas incisões trata-se de uma prática idólatra dos povos pagãos que circundavam Israel, e a essência é que não condiz, com o seguimento do Deus Uno, qualquer forma de idolatria; então, o corpo do homem não pode ser um espaço de expressões idólatras.

Piercing e a tatuagem no corpo de um cristão
Foto: Portra by Getty Images/ iStock.by Getty Images

Tatuagem e piercing têm alguma coisa a ver com isso? "A expressão piercing tem sido usada para designar um tipo de adorno inserido por perfuração em certas partes do corpo. Já a tatuagem é a pintura da pele com pigmentos insolúveis e definitivos." 1

Olhando assim, de forma objetiva, parece que a tatuagem e o piercing não têm nada de censurável. Mas precisamos nos aprofundar no significado deles. Penso que a análise da moralidade dessas práticas passa por duas questões:

Significados que carregam

Primeiro: essas práticas geralmente estão relacionadas a comportamentos tantas vezes velados, mas presentes, cheios de vaidade, sensualidade e irreverência. Mesmo que na intenção pessoal isso não esteja claro, tatuagens e piercings, na nossa cultura, carregam esses significados. Nesse sentido, o texto do Levítico não está tão distante dessa realidade, porque vaidade, sensualidade e irreverência são verdadeiros ídolos a quem o homem moderno presta culto e realiza sacrifícios inescrupulosos. Mesmo que pessoalmente seja apenas uma atitude adolescente de inclusão a um grupo, a motivação deste está envolvida com esses valores.

Não nos enganemos, pois tudo o que fazemos com nossas coisas, especialmente com o nosso corpo, comunica nossos valores e transmite mensagens boas ou ruins. Usando isso, ainda que a intenção primeira não seja essa, o usuário contribui para a valorização desses cultos, que tanto têm destruído as virtudes contrárias a esses valores em nossa sociedade: simplicidade, pureza e mansidão.


Alguém pode questionar que outras práticas normais, como o uso de brincos e maquiagens, também podem ter um significado de culto à vaidade, sensualidade e irreverência. Sim, isso é verdade. Mas essa exortação vale também para elas, porque as práticas comuns, sem a virtude da temperança, também podem nos dispor a essas ciladas.

É significativo que, na maioria das culturas, especialmente o piercing tenha um sentido religioso e espiritual. "A ideia hinduísta desse objeto é que ele representa um contato, uma abertura para a atuação de divindades nas mais variadas áreas da vida humana, cada uma representada por uma parte do organismo. É interessante observar que o uso do piercing está tão ligado a essas crenças hinduístas, que os locais de colocação (lábios, umbigo, nariz, sobrancelhas entre outros) correspondem, exatamente, aos pontos correspondentes aos chamados "chakras", ou seja, centros de energia onde se daria a interação entre o corpo e a mente, de onde se poderia estabelecer o controle sobre eles." 2

Será, então, que o uso dessas práticas, mesmo na cultura ocidental pós-moderna, não vem carregado de um sentido espiritual? Será que não expõe, de algum modo, a pessoa a realidades espirituais, uma vez que "vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar" (1Pd 5,8)?

Respeito ao corpo

Outra questão a se considerar é o respeito ao corpo, templo do Espírito. Essa é uma forte exortação de São Paulo em 1Cor 6,12-20, e também do Catecismo da Igreja Católica. Este, quando trata do quinto mandamento da Lei de Deus – "Não matarás"–, além do evidente, fala também sobre a necessidade do respeito à saúde (§§ 2288-2291) como um apelo moral do cristão. Nesse sentido, o piercing e a tatuagem também não se harmonizam com esses valores. De maneira geral, os profissionais de saúde contraindicam o uso dessas marcas em nosso corpo, pois elas o expõem a uma série de complicações, desde a transmissão de doenças contagiosas, no momento da aplicação, como da Hepatite B (HBV), da Hepatite C (HCV) e do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), Sífilis etc., como complicações posteriores: infecções diversas, dermatites, alergias e até há relatos de casos registrados de endocardite infecciosa (uma infecção grave na camada interna do coração). Isso tudo, sem contar que, no caso das tatuagens, a remoção posterior é difícil, podendo expor a pessoa a novas complicações.

Quanto ao piercing, alguém pode perguntar se há alguma diferença entre ele e o brinco usado nos lóbulos das orelhas. Sob o ponto de vista da saúde, há muita diferença. O lóbulo da orelha é a região que apresenta melhores condições, porque tem vascularização adequada (nem muito como a língua e lábios; nem pouco, como nas cartilagens), é arejado, pouco exposto ao suor e às secreções, e é de fácil higienização. Trata-se, assim, de uma região do corpo com improváveis chances de complicações. Outra é a situação dos diversos locais do corpo em que se costuma usar piercing, em que a exposição a riscos é muito maior. Aliás, veja-se como a tradição de culturas civilizadas tem valor. Nela se escondem sabedorias que nem imaginamos. O verdadeiro progresso social e cultural está em um novo que parte da tradição.

Respeita a beleza da pessoa

Ainda ponderando sobre o respeito ao corpo, será que a tatuagem e o piercing respeitam a beleza da pessoa?

Penso que as aberrações que vemos por aí nos dão a pista da resposta: não. Não, porque qualquer coisa que marque o corpo de forma estável ou permanente comunica que ele não é tão bom assim, ele não é tão digno nem tão belo, e precisa ser melhorado (isso seria diferente de uma prótese, que visa justamente restaurar, em um determinado corpo, a integridade perdida e que é própria do ser humano).

A Igreja não tem nenhum pronunciamento claro ou oficial sobre essa questão. Mas ela nos dá os princípios da fé que, com o discernimento dos espíritos (cf I Cor 10,12), podemos, sim, ponderar e fazer um juízo sobre questões como essa. "O corpo, porém, não é para a impureza, mas para o Senhor" (1Cor 6,13b).

Que seus princípios partam sempre da dignidade do seu corpo para Deus, e que seus discernimentos busquem, em tudo, glorificar o Senhor.

Referências:
1. Dra Mannoun, Piercing e tatuagens na adolescência, o que você precisa saber.
2. Marcia Rezende, O que a Bíblia diz sobre o piercing.


André Botelho

André L. Botelho de Andrade é casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica Pantokrator, à qual se dedica integralmente.
http://www.pantokrator.org.br

Contato: http://facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/piercing-e-a-tatuagem-no-corpo-de-um-cristao/