23 de setembro de 2015

Testemunho de como é ser católico na Europa

Brasileira casada com um britânico conta como é viver o catolicismo na Inglaterra


Por Alessandra Borges

Uma família de Londres esteve na sede da Comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP) fazendo uma visita. O casal Sean Mansfield (britânico) e Rebeca Ribeiro Mansfield (brasileira), vieram passar às férias no Brasil com seus filhos Catherine  e Antonhy Mansfield.

O casal  veio passar um dia de espiritualidade e reavivamento de sua fé na Canção Nova. Durante um bate-papo com o casal foi possível destacar as diferenças entre a forma como vivenciamos o catolicismo no Brasil e na Europa.

Rebeca contou que estar no Brasil e realizar uma peregrinação pelo Santuário de Nossa Senhora Aparecida, localizado em Aparecida -SP e estar na sede da Canção Nova é uma forma de poder resgatar e alimentar sua fé para retornar à Londres.

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Com culturas diferentes casal se une em torno da oração e testemunham a fé aos filhos . Foto: Rogéria Nair/cancaonova.com

Para Rebeca Deus preparou uma grande surpresa por ter colocado Sean em seu caminho, pois quando se conheceram ela estava prestes à voltar ao Brasil.

O casal busca viver o catolicismo, apesar das dificuldade em professar a fé em um país em que a religião católica não é tão forte.

A vida em Londres

formacao.cancaononova.com: Quando decidiu ir para Londres e como conheceu seu esposo?

Rebeca: Fui para Londres para estudar inglês, porque desejava aprender a língua para poder voltar ao Brasil e conseguir um emprego melhor.

Na época, Sean estava no México trabalhando como missionário, servindo perto do Santuário de Guadalupe. Nós tínhamos uma amiga em comum, que é a Marta. Um dia Sean conversando com Marta, ele reclamou que estava difícil encontrar uma mulher para casar, pois faziam 10 anos que estava rezando pedindo a Deus por uma esposa e nada acontecia. Neste momento Marta falou para ele que conhecia uma brasileira que morava em Londres e talvez poderia dar certo, nos apresentou pelo facebook.

Nós começamos a conversar e um mês depois ele me escreveu dizendo que estava voltando para Londres, fiquei com um frio na barriga, porque estava em um período de discernimento da minha vocação. Então eu rezei, pois sabia que o retorno de Sean à Londres não seria por acaso. Deus foi preparando tudo de uma forma muito bonita, porque foi algo inesperado, estava preparando meu coração para voltar ao Brasil e retomar a minha rotina de trabalho. Acabamos nos conhecendo, em dois meses ficamos noivos, após sete meses casamos e juntos começamos a construir uma família.

Testemunhar a fé cristã na Europa

formacao.cancaonova.com: Como é ser católica fora do seu país de origem, em que a maioria das pessoas são católicas? Como é testemunhar o Evangelho?

Rebeca: Sinto muita falta do Brasil, por causa disso, falta de fazer parte de uma paróquia, que tenha mais missas, que a comunidade seja mais atuante e que as pessoas se ajudem. Como lá não é um país católico acaba sendo muito difícil encontrar missas diárias e quando vamos a missa é algo muito diferente do que estou acostumada no Brasil, porque é uma missa mais silenciosa, rápida, com cantos mais tradicionais e é raro encontrar jovens dentro da Igreja.

Existem algumas comunidades, mas é preciso se deslocar. Por exemplo existe um grupo de oração no centro de Londres que se encontra uma vez por semana e você não vai encontrar isso ao lado da sua casa. Se torna muito mais difícil e é um desafio diário, especialmente, depois que as crianças nasceram (tenho dois filhos e eles nasceram exatamente com um ano de diferença) ficou ainda mais difícil ir, porque às vezes a comunidade não recebe as crianças como deveriam, eu nem culpo eles, mas as vezes eles querem ir lá para rezar e ter o silêncio e as crianças não fazem. Muitas vezes saí da Igreja aos prantos e o Sean tentava me ajudar dizendo para não levar para o lado pessoal. Pois, pensa que de repente elas estão há 60 anos dentro da Igreja e desejam o silêncio e as crianças vão lá e perturbam.

É difícil, por isso nesta nossa peregrinação de férias no Brasil, nós passamos por Aparecida (SP) e ficamos dois dias na Canção Nova. É um momento muito importante para eu beber um pouco desta fonte que eu sinto tanta falta. É uma graça para a nossa família, porque eu me fortaleço aqui para voltar para as dificuldades de lá.

Educação de filhos

formacao.cancaonova.com: Como seu esposo, Sean, também católico, vê a sua fé e a sua vontade de viver um bom matrimônio e educar os filhos nas doutrinas da Igreja Católica?

Rebeca: Digo que Deus foi muito bom comigo, porque ele é da Renovação Carismática também e sempre ajudou um grupo de oração de jovens, de Londres, onde era servo. Ele ficou fascinado com a Eliana Ribeiro, fui explicar para ele quem é a Eliana, aí ele me falou: "eu sabia que ela era bem conhecida porque quando ela canta sentimos o fervor, o louvor e a música toca o nosso coração". Eu não poderia pedir alguém melhor para Deus, porque Sean gosta, mas como ele cresceu neste meio tradicional de Londres ele também se adapta bem ao meio tradicional e tem menos dificuldade, ele também tenta me ajudar. Isso que é o bom do casal, um ajuda o outro, quando um está caindo o outro vai lá e levanta, mas ele vê o quanto é importante para mim vir ao Brasil e ele apóia. Estamos felizes por vir e ter a oportunidade de cantar e rezar as músicas que eu amo e rever os amigos.

formacao.cancaonova.com: Em Londres, vocês tem contato com outros casais católicos, grupos de oração ou encontros religiosos que possam te ajudar a vivenciar sua fé?

Rebeca: Lá em Londres existe a Capelania Católica Nossa Senhora Aparecida, é uma bênção enorme na vida dos brasileiros que moram lá porque temos esta espiritualidade. Temos também o Hosana Londres e o Aviva Londres e os missionários do Brasil vão para lá nesses dias de encontro. Nós temos dois grandes encontros em todo o ano, então ajuda a comunidade também, ajuda bastante. Já tivemos a presença de Dunga, Emanuel e Ironi Spudaro,  que foram uma bênção para nós lá. Hoje eu moro com a minha família um pouco mais distante de onde tem as missas brasileiras, então não conseguimos ir com muita frequência. Tentamos estar perto de amigos que são católicos e que vivem da mesma forma que a gente para se ajudar. O Sean, tem vários amigos e alguns deles casados com brasileiras também e nós vamos nos ajudando no dia a dia, as vezes, por exemplo eles vem passar o final de semana na nossa casa ou vamos viajar com eles e sempre temos um momento de oração juntos.

Educação dos filhos e a ideologia de gênero

formacao.cancaonova.com: Como vencer estes desafios na educação dos filhos, em um país Europeu, onde as pessoas não querem abraçar o catolicismo?

Rebeca: Basicamente mudamos de casa por causa da questão de escola, porque lá existe a ideologia de gênero e eu quero educar as minhas crianças na fé. Muitas pessoas acham que nós, católicos, somos preconceituosos e homofóbicos, mas não é bem assim, na verdade toda a relação sexual fora do casamento para nós é condenável e quero passar estes valores para as minhas crianças. Não quero que um professor venha e fale que eles podem ter relação sexual aos 10 ou 12 anos, que podem ter um aborto aos 10 ou 12 anos sem o consentimento dos pais, porque é o que acontece, não quero que eles cheguem e falem que é normal o homem dormir com homem e mulher com mulher. Eu quero que os meus filhos amem e respeitem a todos, mas só que vivam de acordo com aquilo que acreditamos que não é o mesmo que o mundo prega.

Meu marido e eu conversamos muito sobre isso e resolvemos sair de Londres e morar em uma cidade vizinha, ele continua trabalhando em Londres. Nesta cidade nos mudamos para perto de uma escola católica que é bem conceituada, conversamos com o padre antes e ele assegurou que podemos ficar tranquilos e que as crianças vão receber uma boa educação, mas que a educação sexual vai ficar por nossa conta.


No mundo ideal não enviaríamos as crianças para a escola, pois o sonho do meu marido é fazer o que nós chamamos de "homeschooling" que é ensinar as crianças em casa. Até cheguei a comprar alguns livros, porque teria que ficar responsável pela educação das crianças, mas na minha pequenez, não me sinto segura porque toda a minha educação foi no Brasil e tudo o que eles ensinam vai ser novidade para mim.

A Catherine vai fazer quatro anos, no ano que vem ela começa a escola, estamos em um período de discernimento para vermos se vamos enviar ela para a escola ou não. Pelo menos assim nos dá paz no coração de saber que o padre da paróquia está dentro da escola e apóia a nossa decisão e aquilo que acreditamos.

Perseguição aos cristãos

formacaocancaonova.com: Como você percebe a questão dos refugiados?

Rebeca: A Europa está muito fechada. É triste de ver isto, tantos anos nós acolhemos os europeus e hoje eles não querem acolher ninguém. Mas o que me deixa muito feliz é ver que o Papa solicitou que cada paróquia européia receba uma família refugiada, porque é uma forma concreta de ajudar estas pessoas.


Acontecem coisas que nós nem imaginamos, porque o que vemos no noticiário não é nada comparado ao que acontece. Algumas pessoas falam que a Europa se fecha também pelo medo de terroristas se infiltrarem no meio destas pessoas que estão sofrendo, são de bem e precisam de um lar. A Europa tem conversado bastante sobre isso e é algo que precisa ser resolvido ainda mais depois da morte daquele menino* que tocou o coração de todo o mundo, tenho certeza que muitas pessoas vão abrindo o coração para esta realidade.

* A entrevistada se refere a criança morta na praia, cuja foto repercutiu em todo o mundo.

Em Londres, por exemplo, é uma grande mistura de pessoas e é muito raro encontrar um britânico no país, porque são pessoas de todo o mundo e isso tem acontecido muito ao longo dos últimos anos, são muitos emigrantes ali, são pessoas do leste europeu, de países mais pobres que tentam ali ter uma vida melhor. Existem partidos políticos na Inglaterra que são muito firmes contra a imigração então é preciso mudar a mentalidade, por caridade e nós seguimos em oração por estes imigrantes porque é muito sofrimento ver a perseguição que eles sofrem.

A perseguição aos cristãos nos países islâmicos é muito triste e muitos muçulmanos são contra isso também porque nós temos uma comunidade muçulmana muito grande na Inglaterra e nós vemos tantas pessoas que são boas de coração, querem ajudar e são contra a violência que acontece nestes países.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/testemunhos/testemunho-de-como-e-ser-catolico-na-europa/

21 de setembro de 2015

Por que tantas pessoas estressadas?

Muitas são as formas de lidar com o estresse do cotidiano

Vivemos tempos onde as relações humanas exigem de nós um alto grau de exposição ou mesmo de uma cobrança social que nos "pede" para que "sempre estejamos bem e felizes". As redes sociais trazem consigo uma boa fatia destas exigências. Nossa sociedade vive o impacto da depressão, do estresse e da ansiedade. A correria cotidiana, as dificuldades econômicas do país, a insegurança pública e tudo mais, têm gerado uma série de dificuldades emocionais entre as pessoas.

Como lidar com as brigas e os desentendimentos no namoro - 1600x1200

Em todas estas situações, notamos que o estresse muitas vezes se manifesta. A saber, o estresse se instala devido a uma "carga excessiva de estímulos estressantes, situações angustiantes que o indivíduo passou ou está passando, como a morte de alguém importante, o término de um relacionamento, eventos estressantes, onde se enquadram viagens, casamentos, mudança de cidade ou país, situação financeira, doenças ou a simples dificuldade de encarar o dia a dia, e de se adaptar no meio social" (Lipp, et al, 1998).

Muitas são as formas de lidar com estas pressões cotidianas, mas podemos pensar em algumas situações favoráveis em nossos relacionamentos.

Contribuição das tecnologias

Um elemento que se faz essencial, mas que muitas vezes a tecnologia tem tirado de nós, e pode nos ajudar demais, é a conversa, a expressão de nossas ideias e uma boa conversa frente a frente, tendo contato humano de fato, olhando nos olhos e vendo as reações que o outro tem.

É muito fácil "escrever sentimentos ou deixar de escrevê-los" pela tela do celular ou de um computador. Estamos perdendo a habilidade de identificar as emoções no outro, de agir com empatia, ou seja, de nos colocarmos no lugar do outro e sentir sua dor ou mesmo entender as circunstâncias que levam o outro a pensar ou agir de determinada maneira.

Esta "falta de atenção" pode, muitas vezes, levar aos desentendimentos em situações das mais simples possíveis: todos nós conhecemos alguém, algum casal, amigos, colegas de trabalho, que andam se desentendendo demais.

Nossos relacionamentos podem oferecer grande ajuda a quem está bem perto de nós. Quantas vezes, você parou para reparar naquele que vive dentro da sua própria casa, naquele que trabalha com você, no seu marido ou na sua esposa, no seu namorado ou na sua namorada?

Dificuldade no relacionamento

Percebo que muitas das nossas dificuldades nos relacionamentos moram bem aí: na dificuldade em falar sobre o que pensamos, bem como na dificuldade para falar do que necessitamos para nos relacionarmos bem. Parte ainda, da dificuldade que temos em ouvir o outro sem dar uma opinião prévia, ou seja, ouvir sinceramente, ouvir empaticamente, ou seja, ouvir de coração aberto, pois a partir da nossa mudança de atitude mudará também nossa forma de conviver com o outro, bem como em ajudar o outro.

Você tem olhado ao seu redor? Muitos, bem perto de você, precisam, hoje mesmo, do seu olhar atento, da sua escuta empática e da sua proximidade. Pense nisto!


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova.
Blog: temasempsicologia.wordpress.com
Twitter: @elaineribeirosp


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/por-que-tantas-pessoas-estressadas/

18 de setembro de 2015

Por que tantas pessoas estressadas?

Muitas são as formas de lidar com o estresse do cotidiano

Vivemos tempos onde as relações humanas exigem de nós um alto grau de exposição ou mesmo de uma cobrança social que nos "pede" para que "sempre estejamos bem e felizes". As redes sociais trazem consigo uma boa fatia destas exigências. Nossa sociedade vive o impacto da depressão, do estresse e da ansiedade. A correria cotidiana, as dificuldades econômicas do país, a insegurança pública e tudo mais, têm gerado uma série de dificuldades emocionais entre as pessoas.

Como lidar com as brigas e os desentendimentos no namoro - 1600x1200

Em todas estas situações, notamos que o estresse muitas vezes se manifesta. A saber, o estresse se instala devido a uma "carga excessiva de estímulos estressantes, situações angustiantes que o indivíduo passou ou está passando, como a morte de alguém importante, o término de um relacionamento, eventos estressantes, onde se enquadram viagens, casamentos, mudança de cidade ou país, situação financeira, doenças ou a simples dificuldade de encarar o dia a dia, e de se adaptar no meio social" (Lipp, et al, 1998).

Muitas são as formas de lidar com estas pressões cotidianas, mas podemos pensar em algumas situações favoráveis em nossos relacionamentos.

Contribuição das tecnologias

Um elemento que se faz essencial, mas que muitas vezes a tecnologia tem tirado de nós, e pode nos ajudar demais, é a conversa, a expressão de nossas ideias e uma boa conversa frente a frente, tendo contato humano de fato, olhando nos olhos e vendo as reações que o outro tem.

É muito fácil "escrever sentimentos ou deixar de escrevê-los" pela tela do celular ou de um computador. Estamos perdendo a habilidade de identificar as emoções no outro, de agir com empatia, ou seja, de nos colocarmos no lugar do outro e sentir sua dor ou mesmo entender as circunstâncias que levam o outro a pensar ou agir de determinada maneira.

Esta "falta de atenção" pode, muitas vezes, levar aos desentendimentos em situações das mais simples possíveis: todos nós conhecemos alguém, algum casal, amigos, colegas de trabalho, que andam se desentendendo demais.

Nossos relacionamentos podem oferecer grande ajuda a quem está bem perto de nós. Quantas vezes, você parou para reparar naquele que vive dentro da sua própria casa, naquele que trabalha com você, no seu marido ou na sua esposa, no seu namorado ou na sua namorada?

Dificuldade no relacionamento

Percebo que muitas das nossas dificuldades nos relacionamentos moram bem aí: na dificuldade em falar sobre o que pensamos, bem como na dificuldade para falar do que necessitamos para nos relacionarmos bem. Parte ainda, da dificuldade que temos em ouvir o outro sem dar uma opinião prévia, ou seja, ouvir sinceramente, ouvir empaticamente, ou seja, ouvir de coração aberto, pois a partir da nossa mudança de atitude mudará também nossa forma de conviver com o outro, bem como em ajudar o outro.

Você tem olhado ao seu redor? Muitos, bem perto de você, precisam, hoje mesmo, do seu olhar atento, da sua escuta empática e da sua proximidade. Pense nisto!


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova.
Blog: temasempsicologia.wordpress.com
Twitter: @elaineribeirosp


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/por-que-tantas-pessoas-estressadas/

16 de setembro de 2015

Como ler a Bíblia dentro do seu contexto

É necessário compreender um pouco o contexto no qual o texto bíblico foi escrito

A proposta desse artigo é entendermos melhor uma regra de ouro da literatura, qualquer que seja ela: ler o texto dentro do seu contexto. Isso significa vê-lo também como produto de pessoas diferentes e de épocas também diferentes.

Muitas vezes, nos sentimos desencorajados com determinados textos bíblicos por não conseguirmos entendê-los. Quem nunca leu uma passagem bíblica e não apreendeu quase nada do que estava escrito ali? Quem nunca deparou com conceitos muito complicados e muito distantes daquilo que entendemos e vivemos hoje?

Como ler a Bíblia dentro do seu contexto
Foto: duckycards, 3910083, iStock by Getty Images

Isso acontece porque cada um dos livros da Sagrada Escritura faz parte de um contexto mais amplo, cujos textos foram escritos numa época muito distante da nossa. Dessa forma, a leitura se torna um pouco mais complexa e, não raras vezes, incompreensível, em virtude de uma distância temporal, linguística e cultural existente entre a redação do texto bíblico e a leitura e a interpretação que fazemos hoje.

A melhor forma de leitura

E por isso chamamos a atenção para a necessidade de uma leitura mais cuidadosa e não tão rápida e superficial, para que não ocorra uma interpretação equivocada e arriscada. Porque é natural entendermos o que lemos a partir de conceitos e da ideia que temos do mundo moderno em que vivemos, esquecendo-nos de que a Bíblia é formada por textos antigos, construídos num mundo diferente do nosso.

Dessa maneira, precisamos buscar o máximo de informações sobre o texto que iremos estudar. Tudo que o cerca, de modo especial o período em que foi escrito e qual contexto histórico que o influencia. Quanto mais informações tivermos a respeito dele [texto], tanto mais poderemos nos guiar pela regra literária citada no começo deste artigo: ler o texto dentro do contexto.

Mas como podemos saber mais sobre a época em que os textos bíblicos foram compostos e sob quais condições se deu esse processo de redação do texto que vamos ler?

É fácil. Basta consultarmos as nossas próprias Bíblias, pois elas nos fornecem essas informações. Precisamos conferir as introduções apresentadas antes de cada livro bíblico. Assim acontece, por exemplo, nas traduções da Bíblia, como a versão da TEB, da Bíblia Jerusalém e do Peregrino. Ou ainda, como na tradução da Bíblia Ave-Maria que traz logo na sua abertura um comentário sobre cada um dos livros bíblicos.

Essas introduções são muito importantes, pois nos dão informações preciosas a respeito do livro que vamos ler, informações estas muito úteis e práticas a respeito do período de composição do texto, sobre o contexto histórico no qual se deu essa redação, a qual grupo esse texto foi primeiramente dirigido, quem o redigiu, entre outros.

Caso tenhamos acesso a fontes confiáveis que podem, da mesma maneira e talvez de forma mais completa, nos fornecer essas informações, podemos e devemos utilizá-las, pois, como dissemos anteriormente, quanto mais informações temos do texto, tanto maior será nossa segurança de que o leremos dentro do contexto, evitando erros e equívocos. Mas, lembre-se: é importante que conheçamos bem essa literatura secundária utilizada para não consultarmos uma bibliografia que possa nos levar ao erro.

O perigo de informações pela internet

Um alerta aos que fazem uso da internet: muito cuidado ao buscar essas informações nesse espaço virtual. Não tenho nada contra a rede mundial de computadores; muito pelo contrário, sou usuário e a vejo como um facilitador da vida cotidiana. Mas, infelizmente, em se tratando de estudos bíblicos, a grande maioria das coisas que encontro nela possui muitos erros ou está ligada a outra doutrina diferente da católica.

Outro recurso apresentado pelas Bíblias, que além de nos auxiliar na compreensão dos textos, também nos fornece informações importantes sobre o conteúdo do que lemos são as notas de rodapé. Essas observações são muito valiosas porque são explicativas e por meio delas nos são esclarecidas questões ligadas à língua, à geografia, à cultura, entre tantas outras coisas que facilitam o nosso entendimento deles. Muitos as ignoram, justamente por serem pequeninas, às vezes é difícil enxergá-las, mas elas estão ali para servir de auxílio para que o texto se torne mais acessível a nós que estamos distantes temporal, cultural e linguisticamente dos textos bíblicos.

Enfim, é necessário fazer uso desses recursos presentes nas nossas Bíblias, assim como das introduções nos livros e das notas de rodapé. Esses recursos fazem, de certo modo, parte da leitura e não podemos ignorá-los. A Igreja, e nossos tradutores, conhecem as distâncias entre nós e o texto e, consequentemente, sabem do risco de uma leitura fora de contexto. Ou seja, informações presentes na própria Bíblia, ainda que não sejam o texto bíblico propriamente dito, são não apenas importantes, mas necessárias para uma leitura da Palavra de Deus sem equívocos e que permita, verdadeiramente, nosso encontro com o sagrado.


Denis Duarte

Denis Duarte é especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor da Faculdade Canção Nova e do Instituto de Teologia Bento XVI. www.denisduarte.com Twitter: @denisduartecom Autor do livro Entenda os textos da Bíblia


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/como-ler-a-biblia-dentro-do-seu-contexto/

14 de setembro de 2015

Crianças superprotegidas tornam-se adultos inseguros

É natural os pais quererem superproteger os filhos, porém não é saudável para a vida pessoal

O instinto dos pais de garantir a sobrevivência dos filhos não é privilégio apenas dos humanos porque também os animais fazem isso. Mas, ao contrário dos homens de hoje, eles preparam os filhotes para lidar melhor com isso. Além da preocupação parenteral, na sociedade moderna existe a preocupação legal em proteger os menores, acrescido da falta de segurança física e emocional que o mundo hoje oferece.

Crianças superprotegidas, adultos inseguros 1200 x 1600
Foto: Rogéria Nair/cancaonova.com

Educar e treinar os filhos para a vida nunca foi uma tarefa fácil para os pais que se preocupam com isso. No mundo em que vivemos isto se torna ainda mais difícil. É natural, portanto, que os pais queiram superproteger os filhos, porém não é saudável para a vida pessoal, profissional e matrimonial futura deles.

As meninas são mais protegidas para o mundo externo, mas são desenvolvidas para desempenharem papel de companheira e mãe, por outro lado, os meninos são mais preparados para o mundo externo para garantir o sustento material, mas pouco desenvolvidos para lidar com as situações internas do lar.

Até onde vai a preocupação natural

Um questionamento que surge para os pais é até onde vai a preocupação natural e saudável e onde começa a preocupação excessiva que pode ser maléfica. Ou seja, cuidado, atenção e carinho são necessários, mas a superproteção pode afetar na infância criando crianças apáticas entediadas e adultos inseguros, desfocados e frustrados.

O que fazer?

Existe algo imprescindível que precisa ser feito para se ter filhos com possibilidades de ser feliz. Primeiro proporcione a ele condições com responsabilidades e limites na educação, de acordo com cada etapa de sua vida.
Entretanto, a cultura atual tem dificultado isso porque o acesso aos bens de costumes tem produzido crianças acostumadas com mimos, poucos limites e baixas exigências de desempenho. Isto tudo acrescido da culpa de trabalharem muito e da insegurança paterna de não serem amados ou aceitos. Todo este contexto contribui para as crianças serem educadas tendo seus desejos atendidos como um passe de mágica.

Quais são as consequências

Filhos que começam e não terminam estudos, adolescentes que busca nas drogas mais prazeres. Entre outras consequências, maridos e esposas que não aguentam as dificuldades de um casamento. Adultos inseguros devido à baixa autoconfiança, passivos esperando que as pessoas venham cuidar de suas necessidades e quando isso não acontece ficam irritados e frustrados.

Portanto, geramos filhos com dificuldades psicossociais na vida sentimental e social e também no relacionamento sexual, além de eternos dependentes de alguém que cuidem material e emocionalmente deles. Precisamos deixar os filhos frequentarem a academia do crescimento pessoal para que possam desenvolver a segurança em si mesmos determinação, resistência, frustração e foco. Quando adquiridos no decorrer da vida, torna-se é mais fácil e menos dolorido porque acompanha o amadurecimento das pessoas.

Quando a culpa é dos pais?

Às vezes é necessário um tratamento dos pais superprotetores, pois o excesso de proteção pode ter como raiz a própria insegurança e ansiedade porque podem estar repetindo nos filhos suas próprias neuroses.

Onde encontrar ajuda

A escola também pode ajudar muito, pois este espaço proporciona à criança desenvolver sua autonomia, autoconfiança e capacidade de decisão. As atividades extracurriculares também ajudam, desde que não sejam em excesso a ponto de as crianças não terem tempo livre para brincar sozinha e livre.

É reconhecido que muitos dos medos dos pais são reais, mas precisam trabalhar este sentimento e proteger os filhos permitindo que tenham suas próprias experiências e construam paramentos de sobrevivência às situações que a vida apresenta.


Ângela Abdo

Ângela Abdo é coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES) e assessora no Estudo das Diretrizes para a RCC Nacional. Atua como curadora da Fundação Nossa Senhora da Penha e conduz workshops de planejamento estratégico e gestão de pessoas para lideranças pastorais.

Abdo é graduada em Serviço Social pela UFES e pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e em Gestão Empresarial. Possui mestrado em Ciências Contábeis pela Fucape. Atua como consultora em pequenas, médias e grandes empresas do setor privado e público como assessora de qualidade e recursos humanos e como assistente social do CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador). É atual presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) do Espírito Santo e diretora, gerente e conselheira do Vitória Apart Hospital.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/criancas-superprotegidas-tornam-se-adultos-inseguros/

10 de setembro de 2015

A Igreja Católica anula casamento?

A Igreja Católica permite a nulidade dos casamentos?

Ao contrário do que muitos querem propor ou estão noticiando a respeito das mudanças propostas pelo Papa Francisco, em relação aos processos de nulidade do matrimônio, não houve e nem haverá uma mudança da doutrina da Igreja a respeito da indissolubilidade do matrimônio e também do divórcio.

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Foto: iStock By Getty Images

A moral e a doutrina são imutáveis, pois não são de origem humana, mas divina. Nas mudanças de época e costumes, sempre se questiona sobre a validade de certas doutrinas e dos valores evangélicos. Será importante lembrar que as verdades da fé não são uma imposição da Igreja, mas vêm do coração de Deus e cabe à Igreja, como mãe e esposa do Cordeiro, ser a fiel zeladora e defensora destes mesmos valores e da verdade revelada.

O casamento que não deu certo é inválido?

A Igreja sempre reconheceu que certos casamentos não preenchem as condições legais para serem considerados válidos. Para avaliar os diferentes casos e situações, os tribunais eclesiásticos foram estabelecidos e, após uma minuciosa avaliação do caso, em particular, determinam a sentença pela validade ou não daquele matrimônio. Porém, o pressuposto do casamento não ter dado certo não significa dizer que, necessariamente, o mesmo seja inválido. O fato é que a Igreja jamais anula um casamento legalmente válido, mas ela pode averiguar a possibilidade de decretar a nulidade de um matrimônio que, na verdade, não existiu.

Facilitar o acesso dos fiéis ao tribunais eclesiásticos

A preocupação do Papa vem somar-se à angústia de muitos casais que querem uma resposta da Igreja sobre a possibilidade ou não de se declarar nula uma união conjugal anterior, e a mesma se protela e se prorroga por um prazo muito longo. Do outro lado, existe, muitas vezes, uma morosidade e uma falta de agilidade no julgamento destes mesmos processos. A Igreja deseja, então, que estes trâmites processuais facilitem o acesso dos fiéis aos tribunais eclesiásticos e que estes ajam de forma mais simplificada ao analisarem os processos que são de sua competência.

Juízos mais simples serão resolvidos pelos bispos

Os decretos emitidos pelo Papa Francisco reforçam e solidificam a autoridade do bispo diocesano como autoridade moral e juiz em sentenças nas quais a palavra final cabe à sua definição. Os juízos mais simples, onde não existam dúvidas sobre o determinado caso, podem ser decididos pelo próprio bispo ou por um único juiz no menor prazo possível. Do outro lado, a Igreja deseja que estes processos não sejam onerosos para os fiéis e sejam facilitados ao máximo para que, em muitos casos, o acesso seja gratuito.


A Igreja deseja favorecer ou estimular os processos de nulidade?

A Igreja não deseja favorecer e nem estimular os processos de nulidade matrimonial, mas agilizar o andamento dos mesmos para que a angústia e as "trevas da dúvida" não sejam prolongadas, e favorecer o cuidado, o esclarecimento para cada fiel sobre a sua real situação. A Igreja, como mãe, usará sempre da misericórdia para com seus filhos, sem contudo abrir mão da verdade, independentemente da situação. O valores essenciais do matrimônio precisam ser cada vez mais valorizados e os fiéis cada vez mais conscientizados sobre os compromissos inerentes à vida matrimonial, pois o primeiro trabalho a ser feito é formar casamentos mais sólidos para que recorram sempre menos aos processos de nulidade.


 


Padre Roger Araújo

Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.

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Fonte: http://formacao.cancaonova.com/familia/nulidade/a-igreja-catolica-anula-casamento/

8 de setembro de 2015

Como deixar o vício da pornografia?

O vício da pornografia desfigura a vivência da castidade 

Tenho recebido vários e-mails de jovens que me perguntam como deixar o vício de estar na frente do computador vendo sites pornográficos. Sabemos que também há muitos filmes e revistas pornôs. Para muitos, isso já se tornou um vício, especialmente porque a internet facilita muito essa atividade negativa. Sei também que muitas pessoas casadas têm também esse vício. Às vezes, uma esposa me procura, porque surpreendeu seu esposo vendo sites pornográficos. Uma delas, apavorada, chegou a me perguntar de deveria abandoná-lo. É claro que não! Elas se sentem traídas.

Como deixar o vício da pornografia
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Antes de tudo, é preciso dizer que é condenado pela moral cristã entregar-se ao deleite da pornografia. O Catecismo da Igreja a coloca como um dos pecados contra a castidade:
§2354 – "A pornografia consiste em retirar os atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros para exibi-los a terceiros de maneira deliberada. Ela ofende a castidade porque desfigura o ato conjugal, doação íntima dos esposos entre si. Atenta gravemente contra a dignidade daqueles que a praticam (atores, comerciantes, público), porque cada um se torna para o outro objeto de um prazer rudimentar e de um proveito ilícito. Mergulha uns e outros na ilusão de um modo artificial. É uma falta grave. As autoridades civis devem impedir a produção e a distribuição de materiais pornográficos".
§2396 – "Entre os pecados gravemente contrários à castidade é preciso citar a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais".

Portanto, o cristão não pode se entregar a essa prática pecaminosa; é preciso lutar com os auxílios da graça de Deus e da força de vontade para combater esse vício moderno. Antes de tudo, é preciso não se desesperar diante do problema, ter calma e não desanimar. O mais importante é lutar com perseverança contra isso, até que se domine a situação. Jesus disse que quem perseverar até o fim será salvo do pecado. Mesmo que se tenha uma recaída, é preciso levantar e retomar a luta.

O grande remédio que Jesus recomendou aos apóstolos contra o pecado foi "vigiar e orar" para não cair em tentação. Duas coisas: rezar bastante, pedir ajuda de Deus, da Virgem Maria, de São José castíssimo, dos anjos e santos. Comungar, sempre que possível, e pedir a Jesus Eucarístico a graça dessa libertação. Sempre que houver uma queda, confessar-se, ainda que isso se repita, pois a confissão dá forças para vencer o vício. Converse com o confessor sobre o assunto, sem medo, ele está cansado de ouvir isso e pode ajudá-lo.

E "vigiar". Isso significa fugir da ocasião de pecado; e essa é um fuga heroica; não abrir nenhum site pornográfico, a revista suja nem o filme impuro; nem mesmo abrir o computador se não puder se controlar diante dele. Suplicar a força de Deus, a intercessão dos santos, da Virgem Maria nessa hora. "Algumas vezes, encontrei-me em perigo de morte, mas fui libertado pela graça de Deus" (Eclesiástico 34,13).

É muito importante você tomar a decisão de não acessar o site pornô, "por amor a Jesus" que morreu na cruz por você. Ofereça a Ele esse "jejum de pecado" e suplique que o Seu preciosíssimo Sangue o ajude. Ele vai gostar muito! E o mais importante é não desistir nunca, não desanimar, mas lutar. Às vezes, para ganhar uma guerra é preciso vencer muitas batalhas, uma de cada vez.

Uma dessas batalhas a vencer é desintoxicar a alma do veneno do sexismo, hoje espalhado por toda parte, especialmente na moda e nos meios de comunicação. Santo Agostinho gostava de lembrar que tudo o que invade a nossa alma entra pelas "janelas", que são os sentidos: olhos, ouvidos, boca, mãos e nariz. Então, é preciso fechar as "janelas da alma" para que a tentação não entre por elas. Não permita que sua alma seja excitada sexualmente pela sujeira que entra por essas janelas.

A Bíblia nos ensina que quem abusa da ocasião cai no pecado. E o povo diz que "a ocasião faz o ladrão", "Quem ama o perigo nele perecerá". (Eclo 3,27)

Gostaria de dizer às esposas ou maridos que surpreendem o outro vendo filmes e sites pornográficos, que não devem se desesperar, mas ajudá-lo, com firmeza e carinho, a vencer o vício; exigir essa mudança para o bem dele e do casamento. Essa tentação é muito forte, e o "paciente" precisa ser ajudado pelo amor, pela oração da (o) esposa (o). Não é isso que deve abalar ou muito menos destruir um casamento; juntos, marido e mulher devem conversar, ajudarem-se mutuamente e vencer o problema. Será uma bela vitória de ambos, do casamento e da família.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/vicio-da-pornografia/como-deixar-o-vicio-da-pornografia/