20 de outubro de 2014

Sociedade laica não quer dizer sociedade ateia

Numa sociedade pluralista, a laicidade é lugar de comunhão e relacionamento entre diversas tradições espirituais e a nação

O Senhor Jesus se encontrou com os grupos mais diversos de pessoas, dos mais simples e machucados da sociedade até as altas autoridades que circulavam durante sua vida pública, pelos caminhos da Judeia e da Galileia. Muitos acorriam a ele com suas misérias e inquietações, buscando a força da mensagem libertadora do Evangelho e a cura das enfermidades. Tantos emergiam do meio da multidão para se fazerem seus discípulos. Outras pessoas observavam de longe os acontecimentos. Alguns grupos se aproximavam com questionamentos, alguns deles formulados como verdadeiras armadilhas, a fim de envolvê-lo em contradição. A sabedoria do Senhor lhes devolvia muitas das perguntas, remetendo sempre ao confronto vital com a verdade.

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Muito expressivo é o encontro com fariseus e herodianos (Cf. Mt 22, 15-21) a respeito do imposto devido ao Imperador. Pode-se imaginar o contexto do comprometedor diálogo que se travou, num ambiente em que a população vivia oprimida, pagando tributos a uma potência estrangeira, dinheiro que chegava a uma autoridade que se revestia de pretensos poderes divinos. A resposta de Jesus é muito conhecida: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus" (Mt 22, 21). Tal afirmação já foi indevidamente usada para separar fé e vida, negócios e devoção, quando o cerne da questão é justamente dar a Deus o que é de Deus. E a Deus pertence o coração humano e seu destino de vida e salvação.

A narrativa encontrada nas primeiras páginas da Bíblia indica justamente a convicção das pessoas de fé: "Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança" (Gn 1, 26). Somos criaturas de Deus, pensadas desde toda a eternidade para sermos felizes em comunhão com ele. Pertencer a Deus e dar-lhe o devido e primeiro lugar em nossa vida é condição para a realização e a felicidade. O dever do amor e da adoração a Deus é o primeiro dos mandamentos, a primeira condição para o pleno desenvolvimento de todas as potencialidades humanas.

Em todas as épocas da história se fizeram sentir o indiferentismo, o relativismo e o ateísmo. Uma de suas formas ganha o nome de laicismo, diferente da laicidade. Se a justa laicidade do Estado não assume como oficial qualquer religião, a Igreja Católica propugna um mútuo respeito pela autonomia de cada uma das instâncias, a civil e a religiosa. Ao Estado cabe assegurar o livre exercício das atividades espirituais, culturais e caritativas das pessoas de fé. Numa sociedade pluralista, a laicidade é lugar de comunhão e relacionamento entre diversas tradições espirituais e a nação. Sociedade laica não quer dizer sociedade ateia! Infelizmente, ensina o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, permanecem, inclusive em sociedades democráticas, expressões de laicismo intolerante, que hostilizam qualquer forma de relevância política e cultural da fé, procurando desqualificar o empenho social e político dos cristãos, porque se reconhecem nas verdades ensinadas pela Igreja e obedecem ao dever moral de ser coerentes com a própria consciência; chega-se também e mais radicalmente a negar a própria ética natural. Esta negação, que prospecta uma condição de anarquia moral cuja consequência é a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, não pode ser acolhida por nenhuma forma legítima de pluralismo, porque mina as próprias bases da convivência humana. Neste quadro, a marginalização do Cristianismo seria uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização (Cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, números 571 a 574).

Este laicismo, ideologia que pretende se impor no mundo ocidental, e cada vez mais no Brasil, como única admissível, tem livre trânsito na grande imprensa e deseja relegar a fé à esfera do privado e opondo-se à sua expressão pública (Cf. São João Paulo II, no dia 24 de janeiro de 2005). Em nome de tal ideologia se levantam os defensores das contradições correntes, como a defesa dos direitos dos animais a qualquer custo pelos mesmos partidários do aborto ou de eutanásia e da absoluta falta de princípios em assuntos de moral sexual. Podemos ampliar o horizonte, para identificar uma verdadeira cruzada que se espalha pelo mundo pela eliminação de todos os sinais religiosos em escolas ou outros espaços.

O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja no mundo Contemporâneo, Gaudium et Spes (Cf. número 36) já constatava que muitos parecem temer que a íntima ligação entre a atividade humana e a religião constitua um obstáculo para a autonomia dos homens, das sociedades ou das ciências. Se por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal autonomia. Se, porém, com as palavras autonomia das realidades temporais se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem ordená-las ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais afirmações. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todas as pessoas de fé, de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece.

Vivemos uma grande batalha, na qual não nos é possível escolher, como cristãos, a não ser a dependência livre e realizadora de Deus e da força de sua Palavra. Os direitos de Deus se expressam magistralmente na palavra do Apóstolo: "Ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo. Se então alguém edificar sobre esse alicerce com ouro, prata, pedras preciosas ou com madeira, feno, palha, a obra de cada um acabará sendo conhecida: o Dia a manifestará, pois ele se revela pelo fogo, e o fogo mostrará a qualidade da obra de cada um. Aquele cuja construção resistir ganhará o prêmio; aquele cuja obra for destruída perderá o prêmio – mas ele mesmo será salvo, como que através do fogo. Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós. Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus" (I Cor 3, 11-17).

Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

17 de outubro de 2014

Oração à Santa Edwiges, protetora dos pobres e endividados

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

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Senhor meu Deus, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, Vós que tudo regulais em justiça e misericórdia, aceitai a prece que humildemente Vos dirijo por intermédio de Santa Edwiges, vossa serva, que tanto Vos amou, na terra e que usufrui da graça de contemplar Vossa divina face.

Santa Edwiges exemplo de fé cristã, espelho do amor divino.

-Vinde em nosso auxílio.
Santa Edwiges, fiel discípula de Cristo, humilde serva do Senhor, modelo de amor à cruz.

-Vinde em nosso auxílio.
Santa Edwiges, bondosa mãe dos pobres, auxílio dos doentes, refúgio dos oprimidos.

-Vinde em nosso auxílio.
Santa Edwiges, modelo das mães cristãs, glória da Santa Igreja.

-Vinde em nosso auxílio.
Santa Edwiges, por amor a Jesus, Maria e José, fazei vossas, minhas aflições. Apressai-vos em socorrer-me. Amém.

Oremos: Santa Edwiges, socorrei-nos em nossas necessidades – Por amor a Jesus Crucificado, fazei vossas, minhas aflições e minhas angústias, apressai-vos em socorrer-me. Santa Edwiges, por vossa santa vida, por vossa santa morte, fazei vossas, minhas aflições e minhas angústias, apressai-vos em socorrer-me. Amém.

Santa Edwiges, protetora dos endividados, rogai por nós.

15 de outubro de 2014

Você tem coragem de desligar?

Você é daquelas pessoas que passam horas com seu celular e não se sentem satisfeitas enquanto não veem todas as mensagens? 

Seria uma bobagem dizer que precisamos deixar de usar celulares, tablets, smartphones e todos equipamentos que nos ligam uns aos outros pela internet. Da mesma forma, é angustiante, por exemplo, esquecer o celular ou o carregador em casa naquele dia em que esperávamos dar vários telefonemas.

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Você já sentiu isso alguma vez? Aquele desespero, aquela ansiedade por imaginar pessoas ligando ou mandando mensagem, e você sem poder ao menos lhes responder? E aquelas noites em que você fica horas e mais horas respondendo mensagens instantâneas, WhatsApps, SMSs, redes sociais… Ufa! Você sofre muito com isso?

Passa horas em frente a esse aparelhinho como se não ficasse satisfeito enquanto não visse todas as mensagens, todas as notícias do momento e respondesse todos os recadinhos, deixando tantas outras coisas de lado?

Na maioria das vezes, nós perdemos a noção e o bom uso do tempo com essas ferramentas e prejudicamos nossa vida, nosso sono, nossos relacionamentos. Sei o quanto é difícil desligar, desconectar e parar. Mas que tal um desafio? Você consegue esperar 30 minutos para responder uma mensagem? E uma hora? Você conseguiria?

Penso que qualquer meio de comunicação, como o nome diz, é um meio e não um fim. Não deve nunca ser a arma que nos aprisiona, mas que sirva para estreitar laços. Mais ainda, que não nos percamos em nossos relacionamentos pelo uso abusivo desses equipamentos.

Coloco para todos nós a necessidade de parar, perceber e reavaliar o uso dos equipamentos de tecnologia, mas, claro, sem deixá-los de lado. Todos estamos nesse barco, e a grande maioria de nós já se viu rodeado de mensagens e de pessoas lhes procurando. Em certos momentos, tenho a sensação de que fazemos tudo no "modo automático", e com isso nem ao menos paramos para pensar como respondemos e o que respondemos nessas tais mensagens.

E aquela rede social que serve de desabafo? Aquela exposição excessiva de uma vida supostamente feliz ou exibicionista? Será que precisamos disso tudo de verdade?
Quantas vezes prejudicamos nossos relacionamentos com palavras mal colocadas, brigas desnecessárias e a aquela perseguição desenfreada ao que é postado?

Tudo em excesso é prejudicial. Então, deixo a reflexão: "Está na hora de apertar o botão 'desligar' e conectar-se a outras coisas em sua vida".


Elaine Ribeiro

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova. Blog: temasempsicologia.wordpress.com Twitter: @elaineribeirosp


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/tecnologia/voce-tem-coragem-de-desligar/

10 de outubro de 2014

Como celebrar a Palavra quando não tem um sacerdote ou diácono?

Orientações para a celebração da Palavra de Deus

A Eucaristia é, por excelência, a celebração do Dia do Senhor. O Catecismo da Igreja Católica prescreve: "O mandamento da Igreja determina e especifica a lei do Senhor: 'Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da Missa'. Satisfaz o preceito de participar dela quem a assiste segundo o rito católico no próprio dia da festa ou à tarde do dia anterior" (CIC 2180).

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A Celebração da Palavra não deve ser confundida com a Missa. O documento 43 – "Animação da vida litúrgica no Brasil"–, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), assim nos orienta: "Contudo, não confundimos nunca estas celebrações com a Eucaristia. Missa é Missa. Celebração da Palavra, mesmo com a distribuição da comunhão, não deve levar o povo a pensar que se trata do Sacrifício da Missa. É errado, por exemplo, apresentar as oferendas, rezar o Cordeiro de Deus e dar a bênção própria dos ministros ordenados".

O ideal seria que todas as comunidades pudessem participar da Missa, contudo a realidade que vivemos no Brasil não é essa. Segundo o documento 43 da CNBB, cerca de 70% das comunidades no Brasil não tem acesso à Celebração Eucarística presidida por um ministro ordenado. Muitas delas se encontram em regiões distantes que não permitem aos fiéis ir a uma igreja. O que fazer em tais casos? Qual a orientação da Igreja?

Vejamos o que diz a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia: "Promova-se a celebração da Palavra de Deus nas vigílias das festas mais solenes, em alguns dias feriais do Advento e da Quaresma e nos domingos e dias de festa, especialmente onde não houver sacerdote; neste caso, será um diácono ou outra pessoa delegada pelo bispo a dirigir a celebração" (SC, 35.4).

A Congregação para o Culto Divino, no "Diretório para celebrações dominicais na ausência do presbítero", no parágrafo 20, assim prescreve: "Entre as muitas formas celebrativas que se encontram na tradição litúrgica, é muito recomendada a Celebração da Palavra de Deus".

O mesmo diretório diz: "Quando em alguns lugares não for possível celebrar a Missa aos domingos, veja-se primeiro se os fiéis não podem deslocar-se à igreja de um lugar mais próximo e participar aí da celebração do mistério eucarístico.

Quando a celebração da Missa dominical não é possível, é muito recomendada a celebração da Palavra de Deus, seguida da comunhão eucarística. Mas é necessário que os fiéis percebam com clareza que tais celebrações têm simplesmente carácter supletivo, e não venham a considerá-las como a melhor solução para as atuais dificuldades ou concessão feita à comodidade. Por isso, as celebrações dominicais, na ausência do presbítero, nunca podem realizar-se aos domingos naqueles lugares onde a Missa já foi ou vier a ser celebrada nesse dia ou tiver sido celebrada na tarde do dia anterior, mesmo noutra língua". Recomendo a leitura atenta do "Diretório para celebrações dominicais na ausência do Presbítero", publicado pela Congregação para o Culto Divino.

A celebração dominical na ausência do presbítero é orientada por um diácono que a preside ou, na sua falta, por um leigo designado pelo pároco.

A CNBB publicou um documento (número 52) sobre "Orientações para a celebração da Palavra de Deus". Neste documento, encontramos alguns dados importantes:

1. Para a Celebração da Palavra de Deus não existe um ritual próprio. Muitas comunidades seguem o esquema da Celebração Eucarística, omitindo algumas partes ou usando um subsídio específico.

2. Na Celebração da Palavra, sejam valorizados os seguintes elementos: 1) Reunião em nome do Senhor; 2) Proclamação e atualização da Palavra; 3) Ação de Graças; e 4) Envio em Missão.

O documento ainda oferece um roteiro:
1. Ritos iniciais: Saudação, acolhida, introdução no espírito da celebração, rito penitencial. Quem preside conclui os ritos iniciais com uma oração.
2. Leitura, Salmo e Evangelho.
3. Partilha da Palavra de Deus.
4. Profissão de Fé.
5. Oração dos Fiéis.
6. Momento de Louvor: Não deve ter, de modo algum, a forma de Celebração Eucarística.
7. Oração do Senhor – Pai Nosso.
8. Abraço da Paz.
9. Comunhão Eucarística: Nas comunidades onde se distribui a Comunhão durante a Celebração da Palavra, o Pão Eucarístico pode ser colocado sobre o altar antes do momento da ação de graças e do louvor, como sinal da vinda do Cristo, Pão Vivo que desceu do céu.
10. Ritos finais.


Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG. Página pessoal: http://www.padreflaviosobreiro.com Facebook: http://www.facebook.com/flaviosobreiro 


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/liturgia/catequese-liturgica/como-celebrar-a-palavra-quando-nao-tem-um-sacerdote-ou-diacono/

8 de outubro de 2014

Seis dicas para um casamento feliz

À luz da história, é possível dizer que o casamento "nasceu" em crise. Cristo, no entanto, veio redimir o homem - e também o matrimônio.

Não há dúvidas de que a família está em crise. À luz da história, no entanto, é mais exato dizer que a família nasceu em crise. O plano primordial do Criador para o homem e a mulher - que vivessem o amor, como imagem do amor com que Deus os criou -, infelizmente, foi perturbado pelo pecado original. O Catecismo da Igreja Católica destaca que, "desde sempre, a união de ambos foi ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominação, pela infidelidade, pelo ciúme e por conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura" [1].
Mas, como é verdade que "Deus todo-poderoso (...), sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem" [2], Ele mesmo enviou, na plenitude dos tempos, o seu Filho, para redimir não só o homem, mas também todas as suas relações, de que se sobressai a união entre o homem e a mulher. Elevando o matrimônio à dignidade de sacramento, Nosso Senhor fez da aliança conjugal um sinal de Seu amor pela Igreja e um meio para a santificação e o crescimento mútuo dos esposos.
Se o seu casamento começou do jeito certo, com a graça do sacramento e a bênção da Igreja, meio caminho já foi andado. Agora, é preciso conformar-se ao dom recebido e educar-se a partir da moral católica e da cartilha dos santos, para transformar a sua família em uma autêntica Igreja doméstica. Seguem, abaixo, algumas breves dicas para continuar bem o caminho ou, quem sabe, colocar o seu relacionamento no eixo. São palavras da sabedoria de dois mil anos da Igreja, que com certeza ajudarão na construção do seu lar.
    1. Ninguém pode saciar plenamente o seu coração
    A primeira advertência pode parecer desalentadora, mas é, sem dúvida, a mais importante de todas: ninguém - absolutamente ninguém - pode saciar o seu coração. Muitas pessoas hoje se casam para "serem felizes", com a esperança de que os seus esposos e as suas esposas as completem e montem para elas um "pequeno paraíso" nesta terra. Após um tempo, quando elas caem em si e percebem que o paraíso prometido não veio - e nem virá -, bate o desespero e a desilusão: afinal, o que deu errado?
    O casal que entra nessa crise deve entender que nenhuma criatura pode saciar a sede de infinito do homem. Este só se realiza plenamente quando encontra o único Outro que o transcende: Deus.
    "Fizestes-nos para Vós, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Vós" [3], reza Santo Agostinho. Mais do que ser companheiro para uma pessoa do sexo oposto, o ser humano foi "constituído à altura de 'companheiro do Absoluto'" [4], como ensinou São João Paulo II.Mais do que um pacto matrimonial, o homem foi feito para uma aliança eterna com Deus.
      2. Homens e mulheres são real e profundamente diferentes
      Nenhuma ideologia pode obscurecer este fato inscrito na natureza humana: homens e mulheres são real e profundamente diferentes.
      Para explicar a diferença entre os sexos, o escritor norte-americano John Gray chegou a colocar homens e mulheres em planetas diferentes. Em seu famoso best-seller "Os Homens São de Marte, as Mulheres São de Vênus", ele conta que "marcianos" e "venusianas" viveram por muito tempo em paz, até que "os efeitos da atmosfera da Terra assumiram o controle, e certa manhã todos acordaram com (...) amnésia" [5]: tinham esquecido que vieram de planetas diferentes e, por isso, passaram a viver constantemente em conflito.
      Pela história da Criação, nós sabemos que Deus criou o homem e a mulher no mesmo planeta, mas com as suas diferenças, e que a "amnésia" que iniciou o referido conflito nada mais é do que o pecado original, que "teve como primeira consequência a ruptura da comunhão original do homem e da mulher" [6].
      Não se pode, porém, restaurar a harmonia entre o casal negando as diferenças evidentes entre os sexos, como em uma atitude de rebeldia contra o Criador. Mais do que uma história dos contos de fadas, o cavaleiro que, com sua armadura reluzente, mata o dragão e liberta a princesa do alto do castelo, é uma bela imagem de como o homem, por exemplo, é chamado à bravura. Na vida ordinária, isso significa enfrentar o mundo, trabalhando e provendo o sustento da casa e a segurança da família.
      Para a mulher, a figura de mãe não é menos heróica. Significa a doação de amor para que os seus filhos vivam e recebam uma boa educação. Infelizmente, o feminismo tem introjetado na cabeça das mulheres que ser mãe é uma desgraça e que elas só serão felizes quando forem "iguais" aos homens. A realidade, porém, é que, após o tão sonhado "empoderamento" das mulheres, estas não encontraram a felicidade, mas tão somente a desilusão e a frustração de uma vida reduzida ao serviço do mercado e do próprio egoísmo. Como disse G. K. Chesterton, "o feminismo trouxe a ideia confusa de que as mulheres são livres quando servem aos seus empregadores, mas são escravas quando ajudam os seus maridos" [7].
        3. Ame o seu cônjuge como Cristo amou a Igreja
        Em sua Carta aos Efésios, São Paulo exorta os maridos a amarem as suas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela [8]. Com isso, demonstra que o amor não é um "sentimentalismo barato", baseado no fundamento instável das emoções, mas uma determinação viril, baseada na rocha sólida da vontade. O pacto matrimonial é uma aliança de sangue, pela qual os esposos dizem um para o outro: "Eu derramo o meu sangue, mas não desisto de você". Não sem razão o autor do Cântico dos Cânticos canta que "o amor é forte como a morte" [9].
        De fato, o próprio Deus, no ato mais extremo de amor, morreu pelos nossos pecados. Seguindo o seu modelo, todo casal que sobe ao altar deve pensar que está subindo o Calvário, a fim de oferecer a Deus o sacrifício de si mesmo, pela salvação do outro. Para o bem da pessoa amada, na verdade, tanto o homem quanto a mulher devem fazer o que for preciso, mesmo que a isso custe fazer o que não se quer. Muitas contendas entre os casais começam justamente porque um não é capaz de "dar o braço a torcer" em favor do outro. Sacrificam-se, então, a paz e a harmonia entre os dois, para satisfazer as próprias veleidades, ao invés de se sacrificar a própria vontade em favor do outro.
        Também para o casamento vale o chamado de Nosso Senhor: "Quem alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me" [10].
          4. Deus deve ser o centro de suas vidas e de seus dias
          Não adianta morrer um pelo outro se, primeiro, não se ama a Deus. Por isso, Ele deve ser o centro de suas vidas e de seus dias.
          Para amar alguém, primeiro, é preciso conhecê-lo. O que se diria de um casal de noivos que, estando prestes a se casar, não soubessem nada um do outro e não fizessem o mínimo esforço para se conhecerem? Com razão se poderia chamá-los de loucos, pois querem permanecer unidos até o fim da vida a quem nem mesmo conhecem. Ora, se para o casamento terreno, que finda com a morte, é preciso preparar-se com cuidado e empenho, quanto mais para o encontro com Deus, a quem estaremos unidos não por um dia ou uma vida, mas por toda a eternidade!
          Por isso, é importante estudar as verdades de nossa fé, contidas principalmente no Catecismo da Igreja Católica e nos Evangelhos, sem jamais descuidar da oração, pela qual o próprio Deus Se revela e Se comunica a nós.
          Uma vez conhecido o grande amor com que Deus nos amou, então, é preciso que o casal O ame de volta, mudando toda a sua rotina e a sua vida para colocá-Lo no primeiro lugar de tudo. Se de manhã se acordava correndo para ir ao trabalho, urge levantar um pouco mais cedo, para oferecer a Deus o que dia que começa - e, quem sabe, até participar da Santa Missa. Se à noite a família se reunia para assistir à TV e acabava vendo programas que não prestam - como são as novelas -, por que não começar a rezar o Santo Terço em família? Se o domingo tem sido tão somente o "feriado", com passeios e viagens, está na hora de transformá-lo realmente em "dia do Senhor", levando toda a família para um encontro com a melhor de todas as famílias, que é a Igreja.
          Lembrem-se sempre que a sua aliança matrimonial é, antes de tudo, um compromisso com Deus. Dois sozinhos não são capazes de levar adiante um casamento; ao contrário, "a corda tripla não se arrebenta facilmente" [11].
            5. O sexo não é um parque de diversões
            A Igreja, ao mesmo tempo em que valoriza a sexualidade como um dom precioso do Criador, reconhece que "a sexualidade é fonte de alegria e prazer". Com isso, ela não pretende dar aos seus filhos uma autorização para que, depois de casados, façam o que bem entenderem um com o outro, mas que vivam o sexo de forma equilibrada, mantendo-se, na expressão do Papa Pio XII, "dentro dos limites duma justa moderação" [12].
            Infelizmente, em nosso mundo supersexualizado, o que deveria ser uma expressão de amor tem degenerado na busca do próprio egoísmo. É muito comum, por exemplo, que, saturados por múltiplas experiências com pornografia e masturbação, os homens queiram trazer o chiqueiro do mundo para o seu leito conjugal, transformando a mulher em um objeto de satisfação sexual, ao invés de amá-la e respeitá-la como pessoa e companheira. Por outro lado, as mulheres, em troca de compensação afetiva, acabam aceitando ser transformadas em "coisas" e usadas como objetos. Ao fim, o que deveria ser uma "aliança de amor" acaba se tornando um "consórcio de egoísmos".
            Para consertar as coisas, é preciso desmascarar a ideia, que alcançou sucesso com a Revolução Sexual, de que o sexo seria como um parque de diversões, o qual se buscaria tão somente para o prazer próprio e para a satisfação dos próprios caprichos. Isso não é o sexo, mas a sua perversão. A relação sexual foi concebida por Deus para unir os esposos, mas também para gerar vidas. Por isso, sexo significa, antes de qualquer coisa, família.
            De fato, na família, todos vivem - ou deveriam viver - como em uma "ilha de paz": a menina, por exemplo, pode andar tranquilamente por sua casa, consciente de que não será cobiçada por seu pai ou por seus irmãos. Para afastar do pensamento o adultério do coração [13], de que fala Nosso Senhor, seria sadio que os homens olhassem para as mulheres como se fossem suas "irmãs", e vice-versa. Afinal, é nesse estado que todos os seres humanos se encontram, desde que nasceram, e que se encontrarão principalmente no fim de suas vidas, quando estiverem face a face com Deus.
            Quando seu cônjuge envelhecer, por exemplo, vão-se embora com o tempo não só o vigor da juventude, como também os atrativos físicos do outro. Se seu relacionamento está baseado só no sexo, essa é uma péssima notícia. Se desde o começo, no entanto, você foi treinado para amar - e como diz o Apóstolo, "o amor tudo suporta" [14]-, você chegará à velhice feliz por ter sido casto e fiel.
              6. Estejam sempre abertos ao dom dos filhos
              Esta dica é indissociável da anterior: estejam sempre abertos ao dom dos filhos. Quando um casal deliberadamente se fecha à transmissão da vida, inicia um círculo de egoísmo e morte que destrói pouco a pouco a si mesmo.
              Para entender a imperiosidade deste ensinamento, basta olhar para a natureza do ato sexual, que foi concebido pelo Criador tanto para unir os esposos quanto para torná-los participantes de Seu poder criador, na geração dos filhos. Se separar essas duas dimensões fora do matrimônio significa falta de compromisso, separá-las dentro do próprio casamento não deixa de ser uma manifestação "mais refinada", por assim dizer, de egoísmo e falta de amor. Por isso a Igreja condena os métodos contraceptivos, que vão contra a própria verdade do sexo. Como ensina São João Paulo II, "o ato conjugal destituído da sua verdade interior, porque privado artificialmente da sua capacidade procriadora, deixa também de ser ato de amor" [15].
              Todo casal deveria perguntar com sinceridade se a sua decisão de evitar filhos não vem mais de uma atitude de egoísmo por parte dos dois do que de uma razão realmente grave e justa.E, para quem argumenta que "filho dá despesa", o Catecismo da Igreja Católica responde dizendo que "o filho não é uma dívida, é uma dádiva" [16]. Basta lançar um olhar às numerosas famílias de alguns anos atrás, que, embora não vivessem imersas em luxo, eram muito mais felizes que as minúsculas e egoístas famílias de hoje.
              O salmista diz que "os filhos são a bênção do Senhor" [17]. Mesmo que a sociedade de hoje os veja como uma maldição, as palavras do Espírito Santo permanecem. Continua valendo a pena esperar de Deus o número de filhos que Ele quiser, ao invés de reduzirmos o número de crianças à medida do nosso comodismo.
              __________________
              As dicas acima pretendem ser alguns curtos conselhos. Mas, não custa nada lembrar, de novo, que a plena felicidade o ser humano só alcançará no Céu, quando celebrar o matrimônio com o único e verdadeiro Esposo de nossas almas: o próprio Deus.
              Por Equipe Christo Nihil Praeponere

              Referências bibliográficas

              1. Catecismo da Igreja Católica, 1606
              2. Santo Agostinho, Enchiridion de fide, spe et caritate. 3. 11: CCL 46, 53 (PL 40, 236)
              3. Confissões, I, 1: PL 32
              4. Audiência geral, 24 de outubro de 1979, 2
              5. John Gray, Homens são de Marte, mulheres são de Vênus, Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 19
              6. Catecismo da Igreja Católica, 1607
              7. G. K. Chesterton, Social Reform versus Birth Control, 1927
              8. Ef 5, 25
              9. Ct 8, 6
              10. Lc 9, 23
              11. Ecl 4, 12
              12. Catecismo da Igreja Católica, 2362
              13. Cf. Mt 5, 28
              14. 1 Cor 13, 7
              15. Audiencia general, 22 de agosto de 1984, 6
              16. Catecismo da Igreja Católica, 2378
              17. Sl 127, 3

              Masculinidade. As consequências do sexo fácil

              Quando a mulher se entrega "facilmente" pelo sexo ao homem, está condicionando-o a encarar esse relacionamento como algo não essencial para a vida dele

              É claro para todos nós que homens e mulheres têm papéis distintos na procriação, também é sabido que por essa desigualdade, eles percebem o sexo de forma diferente. Para demonstrar isso, faço alusão a obra literária: "Homens fazem sexo, mulheres fazem amor", pois, se nos aprofundarmos no assunto, veremos que sexualidade é um conjunto muito mais complexo que envolve todo o ser.

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              Ao contrário do que muita gente imagina, a sexualidade não está só nos impulsos e órgãos reprodutores, mas também na forma como nos expressamos, como entendemos e olhamos o mundo, os nossos afetos, interesses e nossas inclinações, a construção de nossa personalidade, até no modo de nos locomovermos; tudo isso é perpassado pela nossa sexualidade.

              "A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana em sua unidade de corpo e alma. (ou seja) Diz respeito à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão a criar vínculos de comunhão com os outros" (Catecismo da Igreja Católica, art. nº 2332).

              Percebemos nossa sexualidade no corpo, em nossos impulsos, mas também como uma capacidade psíquica (fantasias, pensamentos), social (atitudes, criação de vínculos) e espiritual (vocação esponsal, paternal ou maternal). O ser masculino é mais inclinado ao ato sexual por um motivo bem simples de entender. A natureza deu ao homem o material genético responsável por fecundar, então o fez com características psicológicas, sociais e espirituais para tal. Para o homem o sexo é algo importantíssimo, latente em seus sentidos quase que todo o tempo.

              Existe um vídeo com o título "Masculinidade: o que está acontecendo com os homens", de autoria do Padre Paulo Ricardo, no qual ele cita que "o substrato básico do ser humano está na feminilidade e que o sexo masculino para se desenvolver precisa surgir de um esforço".

              Em resumo, o homem precisa lutar por algo em que acredita para encontrar sentido na sua existência. Ele necessita esforçar-se para autenticar sua masculinidade. Por isso digo que, mesmo com instintos voltados para tanto interesse sexual, o melhor para o homem é guardar-se, de forma a lutar por aquela que será sua mulher.

              Quando a mulher se entrega "facilmente" ao homem pelo sexo, ela o está condicionando a encarar esse relacionamento como algo não essencial para a vida dele. Ele pensa: "Está lá, fácil e disponível quando quero, não preciso me preocupar em manter". E entendamos "entregar-se facilmente" como "sexo antes do casamento", porque nisso não há comprometimento verdadeiro nem esforço da parte dele. Basta ver o quanto os homens de hoje não querem muito saber de envolvimento afetivo, isso lhes parece prisão. Pois, se eles podem lutar por suas outras preocupações adiante e ainda ter companhia com sexo, para que se amarrarem?

              Mas quando um homem luta por uma mulher, quando ele tem registrado em suas memórias o quanto se esforçou para se comprometer definitivamente com ela pelo sacramento do matrimônio, o ato conjugal terá para ele um valor amplamente significativo, uma parte integrante da validação da sua masculinidade. Além do prazer, será uma gratificante sensação na alma de perceber-se bondoso o suficiente para ela, e o que atesta tudo isto será  perceber sua esposa desejosa de você, e isso será o mesmo que ela lhe dizer: "Valeu a pena tudo o que você fez por mim, então me doo a você". 

              O ato sexual tem de ser a celebração de tudo o que eles viveram em suas histórias e que se entrelaçou, e do que construíram juntos naquele dia, e não somente o prazer pelo prazer. O gozo, portanto, sem levar em conta as outras condições que o envolvem, pode gerar várias impressões negativas nas pessoas, como pensar que estão sendo usadas, que o gozo é apenas uma forma de descontar uma raiva ou uma recompensa.

              O mundo mede a masculinidade de um homem por suas conquistas efêmeras e, quem sabe, pela quantidade de relações sexuais. Mas Deus tem projetos muito maiores para você. O Senhor quer lhe proporcionar o máximo que você pode ser, e levá-lo à plenitude de corpo e alma por meio da sua vocação ao matrimônio. Alcançar essa bênção é o esforço que vale a pena!


              Sandro Arquejada

              Sandro Aparecido Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente trabalha no setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor do livro "Maria, humana como nós" e "As cinco fases do namoro". Também é colunista do Portal Canção Nova, além de escrever para algumas mídias seculares.


              Fonte: http://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-masculina/masculinidade-as-consequencias-do-sexo-facil/

              6 de outubro de 2014

              O homem descobriu a afeição pelos animais, e o cão foi, posteriormente, eleito “o melhor amigo do homem”

              Enquanto algumas espécies de animais correm o risco de se extinguirem em nossas matas e florestas, outros se multiplicam dentro de nossas cidades e casas. É comum andar nas cidades e assistir a donos passeando nas ruas com seus animaizinhos.

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              A relação do homem com os animais é muito antiga. Parece que a mais remota é com os auroques (espécie de bovinos já extintos), que serviam para a sobrevivência do homem. Essa relação foi se aprofundando e surgiu a co-habitação e domesticação de algumas espécies como ovelhas, aves e gatos. A domesticação dos cavalos trouxe grande progresso para a humanidade. O homem descobriu a afeição pelos animais, e o cão foi, posteriormente, eleito "o melhor amigo do homem". Mais recentemente, projetos científicos mostraram e elaboraram formas de relacionamento que trazem benefícios psicológicos e até físicos para o homem, como é o caso da equitação.

              Os animais, então, serviam para o alimento, os serviços gerais e certa amizade, figurada na imagem do cão. Na ideia do domínio natural do homem sobre os animais, o termo usado para se referir aos bichos que alguém cuida em sua propriedade é "criação". Sempre, por mais que se amasse um animal, ele nunca seria mais do que uma "criação".

              Porém, no êxtase do individualismo da pós-modernidade, os animais estão ganhando um novo significado e status na relação com seus donos. É o status amoroso. Em um mundo no qual o homem desiste dos homens, sobram os animais. Qualquer tipo de relação afetiva com uma pessoa humana é exigente, porque a perseverança no afeto pede o amor, e este é exigente. Para evitar esse risco, muitos decidiram ficar sozinhos e manter relacionamentos distantes, pouco comprometidos. Nessa lógica, muitos casais resolveram não ter filhos, ou, quando muito 1 ou 2 que para eles já é demais. Optaram pelo individualismo institucionalizado. Mas a solidão é o fruto indesejável desse individualismo e o homem não foi feito para viver só. Então, como equacionar a crise da solidão individualista?

              O "amor" aos animais é a solução! É simples, compro um bichinho e passo a ter um relacionamento amoroso com ele. Ele passa a ser o amigo, o filho, o confidente. Ele satisfaz minhas carências, é uma companhia, mas anda segundo minhas determinações e obedece meu estilo de vida, porque eu sou o dono dele. Ainda melhor, ele nunca vai exigir meu amor, simplesmente porque, não sendo livre, tem poucas vontades e, assim, o nosso amor nunca passará de um grande afeto. É uma boa solução, mas, na verdade, não resolve o problema da solidão, pois esta só é vencida na grandeza do amor entre duas pessoas.

              A pessoa humana só é plenamente humana, só é feliz, quando persegue o verdadeiro amor. Claro, é muito mais fácil o afeto que o amor. Ainda mais com animais, que, não possuindo liberdade, subjugam-se aos sabores de seu dono. A questão é que o relacionamento de amor entre seres humanos – seja de amizade, esponsal, entre pais e filhos, ou outros (irmãos de uma mesma fé, profissional, coleguismos etc) – tem a grandeza de nos fazer livres a partir da liberdade do outro.

              Esse costume generalizado na sociedade de substituir o amor que nos torna livres por algum afeto traz o perigo de uma cultura pseudo-humana. Não é necessário mais perseguir a grandeza da sexualidade e do amor humano, as virtudes, a capacidade de dar a vida por alguém, a liberdade de ser bom quando o outro é mau. Os relacionamentos se limitam a uniões afetivas e o modelo de amor dentro de uma família se torna apenas mais uma opção, mas indesejável, porque é muito exigente e difícil, e é uma mera opção.

              Os animais são criaturas de Deus, portanto, tem uma dignidade própria. Devem ser respeitados e podem receber dos homens uma grande afeição que, vulgarmente, chamamos "amor". O Catecismo da Igreja Católica 2418 diz que "pode-se amar os animais, porém não se deve orientar para eles o afeto devido exclusivamente às pessoas". As belas histórias de amizade entre pessoas, crianças e animais se tornarão falácias no dia em que esses amores forem, à medida do amor humano, o máximo de amor que um ser humano pode dar a alguém. Se for assim, nos reduziremos à dignidade dos animais.

              Amemos muito mais os homens, para que sejamos plenamente humanos!

              André Botelho

              André L. Botelho de Andrade Casado, pai de três filhos. Com formação em teologia e filosofia Tomista, Fundador e Moderador Geral da Comunidade Católica Pantokrator, onde vive em comunidade de vida e dedica-se integralmente à sua obra de evangelização. http://www.pantokrator.org.br Contato: http://facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


              Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/o-amor-entre-os-homens-e-os-animais/