19 de maio de 2014

Coordenadora da Ecafo faz analogia ao livro ''O Pequeno Príncipe'' para mostrar a importância da formação

Qual a relação entre o livro 'O Pequeno Príncipe' e a Escola de Capacitação Antonio Frederico Ozanam (Ecafo)? A coordenadora nacional da 'escola', consócia Vera Santos, explica neste artigo divulgado hoje pelo site SSVPBRASIL. O texto deve ser refletido pelos vicentinos e utilizado como sugestão de Leitura Espiritual durante as reuniões da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP). 

"Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante" (Saint- Exupéry)
Muitos devem estar questionando: o que a frase de Exupéry tem a ver com a formação? O que tem a ver com a ECAFO? O que tem a ver com a SSVP? Pois bem, quando Exupéry escreveu esta frase na história do Pequeno Príncipe (um livro que no entender de muitos foi escrito para crianças, devido sua simplicidade), acredito que o autor queria mostrar que só conquistamos alguém ou algo quando nos doamos por inteiro, quando nos colocamos a serviço do outro no amor e na lealdade.
Palavras simples, linguagem simples e figuras simples, mas muita gente leu, releu e não entendeu. Não entendeu a mensagem de amor, a mensagem da verdadeira amizade, da pureza e da sabedoria que só existem naqueles que conseguem ver com o coração, com a alma e com o espírito, naqueles que conseguem ver além das aparências.
Assim é a SSVP, muitos estão inseridos dentro dela, mas ainda não entenderam que seu carisma e sua espiritualidade são reflexos da simplicidade de Jesus Cristo. Assim, os Módulos de formação da ECAFO são simples, com linguagem simples, de fácil reflexão. Mas por detrás da simplicidade das palavras existe uma profunda e incomensurável sabedoria que só os vocacionados ao carisma vicentino entendem. Em cada Módulo existe uma escola onde se aprende a amar profundamente a Deus na pessoa do Pobre sofredor, em que se aprende que o valor da vida consiste em "doar a vida pelo irmão"; em que se aprende o jeito simples de servir Jesus Cristo na pessoa do Pobre. Assim como a rosa do Pequeno Príncipe, os Módulos são simples e belos, cheios de vida e de entusiasmo, prontos para produzirem frutos. Mas para que produzam frutos é preciso estudá-los, entendê-los e analisá-los. É preciso ir mais além, buscar um conhecimento maior por meio das fontes que eles apresentam. É preciso aplicá-los, torná-los conhecidos de todos. Não podemos fazer como o "servo mau" e enterrá-los em uma gaveta, mas sim como o "servo bom e fiel", e fazê-los produzirem frutos "cem por um" para que a formação na SSVP seja completa.
Os "ecafeiros" ou formadores da ECAFO precisam saber com autoridade todos os conteúdos dos módulos. E, quando estiverem dando formação, é preciso que saibam o que estão falando, é preciso que acreditem no que estão falando, é preciso ter zelo e sentimento de pertença sobre o assunto em pauta. O entusiasmo, a alegria, a motivação devem ser incorporados no coração dos formadores, devem ser visíveis em suas palavras, atos e testemunhos. Outro fator importante para quando estivermos em ação a serviço da ECAFO: ser humilde e compassivo; ter um coração amoroso e aberto às luzes do Espírito Santo para que a autoridade de Jesus Cristo, de São Vicente de Paulo e do Beato Frederico Ozanam estejam impregnados no espírito, no olhar e no falar.
Vale a pena perdermos tempo com duas coisas que são essenciais para o nosso aprendizado e dos que estão recebendo a formação: estudar muito para adquirir o conhecimento acreditando na Providência Divina e aplicar esse conhecimento na certeza que toda a formação dos confrades e consócias está voltada para que possam propiciar aos Pobres uma vida digna, justa e feliz. Enquanto formadores, precisamos cuidar primeiramente de nossa formação, precisamos cuidar bem da rosa que existe dentro de cada um de nós.
Concluo parafraseando o Pequeno Príncipe: é o tempo que perdemos com a SSVP e com os Pobres assistidos que os fazem tão importantes em sua vida.
Vera Lucia dos Santos e Santos
Coordenadora nacional da ECAFO do CNB.

16 de maio de 2014

Por que ter uma família grande?

O casal precisa planejar a família de acordo com a 'paternidade responsável' 

Eu nasci numa família de nove irmãos. Perto da minha casa, morava um tio, que tinha quinze filhos. Um pouco mais longe, morava o senhor Guatura com seus 24 filhos e mais um adotivo. Era assim há uns cinquenta anos.

E que festa era! Faltava bola para jogarmos futebol no quintal; então, fazíamos bolas de pano.

No aniversário de cada filho, bastava convidar os primos para a casa já ficar cheia. Minha mãe fazia um delicioso 'pão de ló' coberto com suspiro. Era o manjar dos deuses! Cada um tinha o direito – só naquele dia – de tomar um guaraná 'caçula'. Para acabar devagar, pedíamos ao papai para fazer um furinho na tampa. Que tempo bom!

Não tínhamos quase nada, só um rádio. Não havia TV, internet, fogão a gás, geladeira, batedeira, freezer em micro-ondas, mas não nos faltava nada, havia muitos irmãos e muito amor.

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É por isso que o Catecismo da Igreja diz que "a Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem, nas famílias numerosas, um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais" (n.2373). E ainda: "O filho não é algo devido, mas um dom. O 'dom mais excelente do matrimônio' e uma pessoa humana'" (n. 2378).

Ora, se Deus diz, pela boca da Sua Igreja, que "os filhos são o dom mais excelente do matrimônio", então, dentro dessa lógica, quanto mais filhos melhor. Ninguém rejeita um dom de Deus, certo? É por isso que, no altar, o padre pergunta aos noivos: "Prometem receber os filhos que Deus lhes enviar, educando-os na fé de Cristo e da Igreja"?

Bem, sabemos que o mundo mudou muito nesses cinquenta anos. A vida ficou mais cara e os pais têm mais dificuldades para criar e educar os filhos. Mas não há justificativa para irmos ao outro extremo, pois há muitos casais que já não querem ter filhos ou adiam o nascimento destes por muitos motivos.

Todos os países da Europa já estão com a população diminuindo, e muitos deles fazendo fortes campanhas para aumentar a natalidade. O Japão, por exemplo, está investindo três bilhões de ienes para fomentar o nascimento de mais crianças.

O Brasil tem somente 20 pessoas por km2, enquanto o Japão tem 330; dezesseis vezes mais. E eles querem aumentar a população, pois esta está envelhecendo. E o Brasil quer diminuí-la.

A Igreja ensina que cada casal deve viver segundo a "paternidade responsável", isto é, deve ter todos os filhos que puder criar adequadamente. O critério de natalidade não deve ser o egoísmo, o medo ou o comodismo, mas o amor a Deus e ao filho, "o dom mais excelente do matrimônio". Num casal cristão não pode faltar "a fé que move montanhas". A Bíblia diz que "sem fé é impossível agradar a Deus".

Não tenho dúvidas ao dizer que quanto maior uma família tanto mais alegria há nela. Como é gostoso, nos fins de semana, os cinco filhos, o genro e as quatro noras, mais os onze netos. É uma festa que não tem preço! É claro que tudo isso custou caro, muito trabalho, suor e lágrimas. Mas é uma festa contínua. Só quem dela participa sabe o seu significado.

Nós damos valor a uma família grande sobretudo na hora da dor e do sofrimento, quando todos se juntam para ajudar aquele que sofre. Como foi bom ver meus filhos e noras acompanhando, todos os dias, em revezamento, a minha esposa no hospital, em São Paulo, em um mês de internação, antes de Deus a chamar! Como é bom compartilhar as alegrias e as lágrimas com aqueles que têm o nosso sangue!

Portanto, mesmo com as dificuldades da vida moderna, o casal deve, na fé, não negar a Deus os filhos que puder ter. Afinal, o Catecismo diz que "os pais devem considerar seus filhos como filhos de Deus e respeitá-los como pessoas humanas" (n.2222).

A maior glória que podemos dar ao Senhor é gerar um filho, pois nada neste mundo é tão grande e belo quanto ele. A nossa liturgia reza que "tudo o que criastes proclama o Vosso louvor". Pode a criação dar mais glória a Deus do que quando surge uma vida humana? Um cientista disse que "o cosmo chorou quando viu o homem surgir".

Infelizmente, caiu sobre o mundo todo um pavor estranho, um medo enorme de ter filhos; mas o casal cristão não deve se deixar levar pelo pânico de muitos ecologistas exagerados e de outros catastrofistas de plantão.

Felipe Aquino

Felipe Aquino

Prof. Felipe Aquino @pfelipeaquino, é casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos". Saiba mais em Blog do Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/vocacao/matrimonio/por-que-ter-uma-familia-grande/

14 de maio de 2014

O que é oração?

O nosso modo de rezar é o Senhor quem o concebe

Antes de começarmos a falar sobre oração, precisamos adentrar no seu significado, se é que podemos defini-la. Mas vamos buscar clareza sobre o tema e o modo como a oração pode fazer parte da vida do cristão.

A definição de oração pode ser expressa por palavras, mas o jeito de rezar e o relacionamento com Deus é diferente para cada pessoa. Porém, não podemos inventar o jeito próprio de rezar, mas seguir aquilo que a Igreja já determinou com seus séculos de experiência; contudo, a aplicabilidade é diferente.

 Vamos tentar definir oração:

 Diziam os Padres do Deserto que a oração é o espelho da alma. Em hebraico, oração é tefillah, que significa "juízo": [...] a oração é a possibilidade de julgar com Deus, de realizar um discernimento sobre a própria vida, sobre a relação com os outros, sobre o próprio relacionamento com as criaturas. É assim que se ordena e se aprofunda a própria interioridade, que se mede o próprio caminho humano, o próprio amadurecimento como crescimento interior adequado à própria idade e situação. (Livro: Onde está Deus? – Padre Reinaldo)

 Perceba que a oração não é nossa, mas de Deus. O próprio Senhor nos concede o dom de orar. Por isso, na oração, precisa entrar o julgamento de d'Ele. Nós precisamos nos submeter a Ele na oração. O nosso modo de rezar é o Senhor quem o concebe.

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 Sobre a oração pessoal, padre Francis Cardeal Arinze nos ensina:

"A oração pessoal é insubstituível, porque chega um tempo em que cada um é chamado a encontrar Deus frente a frente, no encontro espiritual. Isso pode acontecer na intimidade do próprio quarto, diante do sacrário, debaixo de uma árvore, no alto de um monte ou à beira-mar. Pode acontecer mesmo ao volante do carro ou em algum momento da Missa, como enquanto a preparamos, antes da coleta, após a leitura ou na homilia, sem dúvida após a santa comunhão e na ação de graças, após a Celebração Eucarística.

A nossa oração privada há de ser realmente pessoal: há de brotar do coração. Podemos exprimi-la com ou sem palavras; não podemos nos limitar a repetir preces escritas por mestres espirituais e por santos, ainda que tais fórmulas nos ajudem a entrar na oração pessoal.

 A oração deve ser incessante e continua. Por isso, requer dois pontos:

  1. Qualidade da oração: buscar rezar com o coração para, assim, gerar uma contínua e ininterrupta perseverança. Orai sem cessar (1 Ts 5, 17).

  1. Oração pura e sincera: ser feita com fervor – evitar as inquietações e preocupações. Deixar Deus entrar no santuário do meu coração."

Para concluir o sentido e o significado do que é oração, fixemos nosso olhar na graça de Deus. E a Igreja a define assim:

 "A oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria". (CIC 2558).

Pe. Reinaldo Cazumbá

Pe. Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor do livro: "Onde está Deus?". Acesse: blog.cancaonova.com/padrereinaldo


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/o-que-e-oracao/

13 de maio de 2014

Viva Nossa Senhora de Fátima

"A treze de maio, na Cova da Iria, no céu aparece a Virgem Maria"

Ouvir esse canto vindo do povo português tem um tom diferente. Afinal, foi lá que a Virgem Maria quis aparecer, em Fátima, a mensagem mais atual, confirmada e aceita pela Igreja.


São muitos os elementos que compõe a espiritualidade profunda da Cova da Iria.

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- A Rampa: o local onde fiéis descem, de joelhos ou mesmo rastejando, trazendo no coração pedidos de oração ou a gratidão por uma graça recebida.

- O Valinhos: local onde viviam as três crianças. Hoje, é lugar de peregrinação, onde inúmeros fiéis rezam a Via Sacra em clima de oração e silêncio.

- Oração e silêncio também são elementos marcantes da espiritualidade daquele lugar santo. Não há como calar diante do apelo da Virgem Maria. Aquele céu de um azul inenarrável faz calar qualquer dor, até mesmo a mais profunda, pois, no colo da Virgem Maria, o homem encontra conforto e consolo.

- A linda basílica parece ter sido moldada pelos anjos, numa arquitetura que aponta para o céu. De cor clara, retrata a pureza da Mãe de Jesus e nos conduz a uma profunda reflexão. Inúmeras foram as vezes que rezei olhando para aquele santuário; ali, fiz uma experiência de Céu. Para mim, é, às vezes, difícil narrar tudo o que vivi em Fátima, é como seu eu tivesse me encontrado comigo e com o grande desígnio de Deus a meu respeito, cuja finalidade é única: o Céu.

- Meus pequenos pastorinhos, gigantes na fé, ensinaram-me a amar mais, fizeram-me entrar no mistério da oferta e do sacrifício; não por mim mesma, mas pelo outro. Aquelas simples crianças são mestres na doação e no amor a Jesus e Sua Mãe.


Hoje, vivo na Terra Santa, onde Maria nasceu e viveu – um mistério e uma graça que Deus me concedeu –, mas meu coração não se separa da mensagem de Fátima nem de tudo o que ela me "ensinou", que o Céu é, assim, indiviso, pois não compete entre si, não é reino dividido. A Terra Santa, com seus ensinamentos e espiritualidade, completa em mim o que comecei a viver em Fátima, na Cova de Iria, aos pés da Mulher mais brilhante que o sol.

Cantem meus portugueses amados, celebrem com gratidão a Deus o acontecimento que foi realizado aí. Vocês são privilegiados, por isso, façam memória, levem para todo o mundo, tão ferido pela dor, pelo egoísmo, pelo ateísmo, a sua fé tão repleta de significado e de força tamanha.

Estando no Oriente, vejo o quanto os cristãos precisam da oração e do sacrifício do povo de Deus. Ao nosso redor, vemos relatados, todos os dias, de muita dor e muito sofrimento.

Na Síria, cristãos padecem por professar sua fé, morrem em cruzes, decapitados… Mas não desistem! A oração de um povo os sustenta, os mantêm firmes, mesmo diante do martírio. Em Fátima, rezou-se pelo fim da guerra.

Que a Virgem de Fátima possa ajudar a deixar de lado a guerra que nasce no coração do homem. Francisco, Lúcia e Jacinta, peçam ao Bom Deus por nós. Rezem por nós pecadores!

Amém!

Cristiane Henrique

Missionária da Comunidade Canção Nova.

12 de maio de 2014

Filha testemunha a alegria da adoção

Não nasci do útero de minha mãe, mas nasci do coração dela!
A prática da adoção ainda é um desafio a ser vencido no Brasil, no entanto, muitas famílias têm superado as barreiras do preconceito e da dúvida e colhido os frutos da bela decisão. Como é o caso da fisioterapeuta Maria Isabel Ferminio, que contou ao formacao.cancaonova.com como foi sua história de adoção.
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Redação: Com quantos anos você foi adotada? E como aconteceu todo o processo?
Fui adotada com quatro meses de gestação, minha mãe biológica não tinha condições de me criar e o meu pai biológico não queria assumir um relacionamento com ela, nem me assumir por julgar que ele não era realmente o meu pai. Minha avó biológica, após a tentativa de aborto frustrada da minha mãe, quis de imediato procurar um família que pudesse me adotar. Então ela partilhou a história com a minha mãe adotiva, que trabalhava na mesma escola que ela. Em conversa com meu pai e com meus irmãos adotivos eles me disseram que, desde então, me adotaram no coração. No dia seguinte ao meu nascimento fui diretamente para a casa da minha família adotiva.
Redação: Você foi adotada ainda no período de gestação. Como sua família se preparou para receber você?
Quando foi acertada a minha adoção, não sabiam o meu sexo ainda, e a expectativa era se seria menino ou menina. Assim que souberam que eu era uma menina, pouco a pouco meus pais foram comprando o enxoval. Minha mãe disse que compraram apenas o básico, pois eles ganharam muitas roupinhas e coisinhas de bebê. E sempre combinaram em me dizer a verdade sobre a minha origem.
Redação: Como seus irmãos a acolheram?
Muito bem! Meus irmãos sempre foram maravilhosos. Minha irmã, por ser vinte anos mais velha que eu, se organizava no trabalho para sair mais cedo, e meu pai poder trabalhar no período da tarde. Meu irmão, 10 anos mais velho, hoje falecido, também cuidava de mim. Recordo-me até hoje que, muitas vezes, ele deixou de sair, para brincar com os amigos, para poder cuidar de mim. Nunca houve nenhum tipo de diferença entre nós, penso até que fui paparicada demais.
Redação: Como foi o relacionamento com sua mãe?
Sempre me relacionei muito bem com ela, a admiro muito pela coragem de ter me adotado e a forma como ela e meu pai me criaram. O cuidado que sempre teve comigo é digno de toda admiração que tenho por ela! Não nasci do útero dela, mas nasci do coração!
Redação: Em que sua mãe contribuiu na sua formação, para você se tornar uma mulher e uma profissional tão cheia de valores?
Em tudo, percebo o quanto a minha mãe me ensinou a fazer as escolhas certas, a liberdade na dose exata para cada momento, os incentivos nos momentos em que tive vontade de desistir, as broncas quando estas foram necessárias. Foi o amor dela que me impulsionou a dar passos e a ter a ousadia que, muitas vezes, julguei não ter. Aos poucos foi me moldando em tudo que sou hoje e sou grata a ela por tudo isso, não sei como medir isso em palavras.
Redação: Como foi descobrir que seus pais a adotaram? Como você reagiu?
Eu percebia que eu era muito diferente das pessoas em casa. Sou negra e todos eles são brancos; meu irmão é um pouco mais moreno, mas bem parecido com minha mãe. Então, certo dia, perguntei se, quando ela estava grávida de mim, havia tomado muita Coca-cola e café, por eu era mais escura que todos eles, ou se era porque eu havia sido adotada. E ela disse que havia me adotado. No início eu fiquei sem entender e perguntei por que meus pais biológicos não haviam ficado comigo e minha mãe me explicou que eles não tinham dinheiro para me criar. E conforme eu fui crescendo ela foi me contando o restante da história e nunca me escondeu nada.
Redação: Você conheceu a sua mãe biológica? Como foi o contato com ela?
Não sabia como iniciar a conversa com ela ao conhecê-la, pedia que ela contasse a minha história e depois lhe fiz algumas perguntas. Ela chorou muito durante a partilha e me pediu perdão. Eu a agradeci por ter me dado a meus pais em vez de tentar novamente me abortar.
Redação: Qual foi sua expectativa ao conhecê-la?
Eu queria saber se eu era parecida fisicamente com ela, mas não vi tanta semelhança, de certa forma gostei. Fiquei muito feliz em saber que, ao longo de minha vida, meus pais adotivos nunca omitiram nada da minha vida. A mesma história que eles me relataram foi a mesma que minha mãe biológica me contou.
Redação: Aproxima-se o Dia das Mães, o que você gostaria de dizer à sua mãe?
Obrigada, mãe, pelo seu "sim" à minha vida e por ter tido a coragem de me dar a minha família. Muitas mães temem a adoção. Deixe uma mensagem para essas mulheres.
A generosidade materna é capaz de gestar no coração a vida de alguém que Deus lhe confiou por amor. Deus proverá todas as coisas.

9 de maio de 2014

Uma carta para minha mãe

No Dia das Mães, retomar a moda antiga de escrever cartas, em tempos de redes sociais, pode ser uma grande declaração de amor
Querida mãe, neste clima de homenagens, pensei em lhe escrever uma carta, pois aprendi com a senhora que as palavras escritas com carinho voam como pássaros e chegam ao coração de quem amamos.
Confiando nisso, tenho me arriscado a escrever, de vez em quando, para as pessoas; hoje, resolvi lhe escrever mais uma vez. Pensei em lhe dizer muitas coisas, mas percebo que tudo se resume em uma palavra: obrigada!
Volto ao ano de 1952, quando você, enamorada, disse 'sim' ao casamento, assumindo com meu pai o desafio de construir uma família em meio às diferenças sociais e abrindo mão de tantas outras ofertas e sonhos. Você fez a melhor escolha, mãe, disse 'sim' ao amor e não se prendeu às ideias egoístas e às oportunidades que poderiam lhe proporcionar muitas coisas, mas, certamente, não lhe permitiriam ser minha mãe. Obrigada por isso!
Você abraçou o dom e a tarefa de ser esposa, doando-se gradativamente para que outras vidas surgissem e o mundo tivesse mais brilho, cores e sons. Em seu lar modesto e aconchegante, a pobreza nunca foi empecilho para deixar vir mais um filho ao mundo. E quando já tinha sete, foi a minha vez de chegar.
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Cheguei de mansinho sem nem mesmo você perceber. Deus quis me trazer aqui, pois sabia que você seria a melhor pessoa para me receber, formar e ajudar a crescer. Era um tempo de grandes mudanças para toda a família, sonhos se misturavam com realização; e eu crescendo em silêncio em suas entranhas. Mas, de tanto crescer, chegou o dia que minha existência lhe foi revelada, e você, em festa, começou logo a preparar-se para receber-me em seus braços. Como o tempo passou depressa, mãe!
Aqui fora, eu continuei crescendo com seus cuidados, e, hoje, compreendo bem melhor suas lições. Enquanto preparo-me para também ser mãe e vivo o dom do matrimônio, percebo-me, muitas vezes, reproduzindo seus gestos, e fico orgulhosa disso. Esses dias, arrumei a mesa para meu marido almoçar e, como já havia almoçado, simplesmente fiquei ao lado dele, contemplando seus gestos e ouvindo suas palavras. De repente, lembrei-me de você e disfarcei um sorriso, pois a vi fazer isso tantas vezes com o papai!
Mãe, você é doutorada na arte de amar. Se não aprendi melhor suas lições, certamente é porque não tenho sido boa aluna, mas me deixe sempre em sua escola, porque minha meta é ser como você.
Sua fé também me causa admiração. Tenho viva na memória as tardes de sábado, quando, de joelhos, rezava o "Oficio da Imaculada Conceição", unindo seu coração ao da Virgem Santa, à qual tem uma devoção especial. Eu tentava imitar sua reza mesmo sem saber o significado das palavras, porque sua fé era como um imã me atraindo para Deus. E o mais bonito é que sua fé é viva! Eu mesma sou testemunha de que o perdão tem morada fixa em seu coração, e quem bate à sua porta, procurando um conselho ou uma ajuda qualquer, nunca sai de mãos vazias. Por tudo isso, hoje, só posso agradecer a Deus, por ter me dado uma mãe tão boa, e à senhora por ter tido a coragem de ser minha mãe.
Recordo-me de que, em uma de suas muitas cartas, disse-me da sua alegria em ter uma filha consagrada a Deus na Comunidade Canção Nova e evidenciou a felicidade que sente ao me ver fazendo o bem. Saiba que todo o bem que, na minha pequenez, eu conseguir fazer até o fim da minha vida será sempre consequência do amor que recebi de Deus por meio da senhora e do papai. Portanto, os méritos sãos seus, mãe. Eu sou fruto da árvore que você se aventurou a plantar, cultivar e zelar com grande generosidade: a família. Jamais se esqueça de que valeu a pena sua opção pelo amor. Só existo por causa do seu 'sim'! Obrigada! Parabéns por estar cumprindo tão bem sua missão neste mundo.
Feliz Dia das Mães!

Dijanira Silva

Dijanira Silva

Dijanira Silva, missionária da Comunidade Canção Nova, atualmente reside na missão de São Paulo. Apresentadora da Rádio CN América (SP).

Fonte: http://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/uma-carta-para-minha-mae/

Ser mãe de um bebê anencéfalo

'Passamos a viver um dia de cada vez e aprendemos dar graças por mais um dia de vida dela em meu ventre', testemunha Kellen 

Meu nome é Kellen Reis, tenho 30 anos, sou jornalista e moro em Pindamonhangaba (SP). Sou casada há quase seis anos com Diogo, pai das minhas filhas e parceiro nos melhores e nos piores momentos da minha vida. Quero partilhar com vocês uma parte desses momentos.

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Kellen e Diogo. FOTO: Arquivo Pessoal

Ser mãe não estava nos meus planos aos 24 anos. Namorava, há pouco mais de dois anos, e estávamos começando a planejar o nosso futuro juntos quando fomos surpreendidos com a primeira gestação. Mesmo com o medo e a insegurança, fomos contagiados pela felicidade logo de cara. Casamo-nos no civil primeiro e, ao chegarmos da viagem de lua de mel, fomos correndo pegar o resultado da primeira ultrassonografia morfológica. A surpresa chegou com a frase que ficou guardada em minha mente, tamanho foi o choque: "ausência parcial de massa encefálica, o que sugere anencefalia". Procuramos minha obstetra imediatamente, mas ela não estava mais no consultório. Uma outra ginecologista nos atendeu e, como se estivesse passando uma receita de bolo, nos disse que nossa filha, com cinco meses de gestação, para quem escolhemos o nome de Maria Eduarda, tinha má formação cerebral e não teria condições de sobreviver. E ainda nos sugeriu entrar na justiça para pedir autorização para abortar, pois, segundo ela, não valia a pena levar a gestação até o fim, já que, talvez, nem a bebê aguentasse. Ela deixou bem claro que não havia tratamento ou cirurgia que resolvesse o problema.

Nós a deixamos falando sozinha e saímos do consultório desorientados. Quem aquela profissional achava que era para decidir algo ou nos sugerir tirar a vida da nossa filha? Ficamos indignados!

.: Mães escolhidas a dedo

Depois do baque, com o apoio da nossa família, fui me informar mais sobre o assunto, saber dos riscos, dos casos mais conhecidos, pesquisar outras famílias que já tinham passado pela mesma situação. Somando tudo isso à fé em Deus e em Nossa Senhora, fomos ganhando forças para aguentar até o momento em que a Duda aguentasse. Passamos a viver um dia de cada vez e aprendemos dar graças por mais um dia de vida dela em meu ventre. Cada mexida na barriga era uma vitória celebrada com alegria.

Ela aguentou as 39 semanas. Nasceu em 27 de outubro, chorando, com 40 cm e 2kg. Lembro-me, nitidamente, do seu rostinho colado ao meu, ainda todo sujo, logo que saiu da minha barriga. Não sabia quanto tempo ela teria de vida; então, alí mesmo, disse a ela o quanto a amava e que a amava do jeitinho que ela era.

Nossa princesa resistiu por três dias. Não pude pegá-la no colo, trocar sua fralda, dar-lhe de mamar, sentir seu cheirinho nem lhe fazer cócegas. Havia um bloqueio chamado "incubadora", da UTI neonatal, entre nós. Restava-me apenas segurar sua mãozinha. Ela se foi, mas a maternidade não foi embora com ela. Sentia-me mãe, a todo momento, mesmo sem tê-la comigo.

Não foi fácil. Ainda há horas que não o é. Cada Dia das Mães era um sofrimento, uma agonia e um aperto no peito. Cheguei a deixar de ir à Missa, nessa data, para não ver as homenagens e não sofrer com elas. Sentia-me merecedora delas, mas não concordava em recebê-las a não ser pelas mãos da minha filha que se foi.

O tempo foi passando, mas ela sempre esteve presente em nossa vida. Em 2010, eu e o Diogo, finalmente, recebemos o sacramento do matrimônio. Nós fomos morar em São Paulo e nossa vida sofreu várias mudanças. No ano passado, depois de cinco anos, decidimos que era hora de tentar, de novo, e dar um irmãozinho ou uma irmãzinha para a Maria Eduarda.

Com a vinda do Papa Francisco ao Brasil, aproveitei para ir até ele e pedir sua intercessão, a fim de que nos ajudasse a conquistar esse sonho, assim como outros que pareciam distantes de nós. No dia 24 de julho, quando ele celebrou a Santa Missa, no Santuário de Aparecida, eu estava de folga e fui correndo para lá, com minha mãe e minha tia, um dia antes. Passamos a noite no frio, tomamos chuva, enfrentamos a fome e uma fila quilométrica para tentar participar da Celebração Eucarística dentro do santuário. Mesmo sem saber se conseguiríamos entrar, fui entregando aquele momento como penitência, como sacrifício. Mal sabia eu que minha princesa já estava em meu ventre.

A notícia chegou, com uma alegria sem fim, uma semana depois; ao mesmo tempo, veio uma insegurança. Afinal, somos humanos e, mesmo confiando em Deus e em Seus planos, temíamos que algo de ruim pudesse acontecer novamente. Mas o Senhor nos presenteou com uma gestação saudável de outra menina: a Valentina. Ansiosa como os pais, ela não esperou as 40 semanas e veio ao mundo no dia 3 de abril deste ano, com 2.980 kg e 48 cm, à 37ª semana gestacional. Mais um presente de Deus em nossa vida!

Ainda estamos extasiados com a chegada dela, e não nos cansamos de a olhar e namorar.

Sinto-me realizada em poder fazer tudo o que prevê o papel de uma mãe: amamentar, pegar no colo, fazer cafuné, beijar, cheirar, abraçar, trocar fralda, dar banho, fazer cócegas, massagear e até chorar junto com ela.

Não vejo a hora de comemorar o Dia das Mães este ano, pois sei que terá um gostinho mais que especial, já que, agora, tenho uma filha aqui comigo, cuidando de mim na Terra; e uma filha no Céu, cuidando de minha alma, intercedendo por mim e pela nossa família.

Aliás, estou comemorando o fato de ser mãe novamente desde o dia três de abril.

Que Nossa Senhora, Mãe imaculada de Deus e nossa, abençoe todas as mães, principalmente as "mães de UTI" e aquelas que perderam seus filhos.

Kellen Reis


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-da-vida/ser-mae-de-um-bebe-anencefalo/