Dijanira Silva
Dijanira Silva, missionária da Comunidade Canção Nova, atualmente reside na missão de São Paulo. Apresentadora da Rádio CN América (SP).Fonte: http://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/uma-carta-para-minha-mae/
"Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade." 1Cor 13,13. Idealizado e Criado em 13/05/2006.
'Passamos a viver um dia de cada vez e aprendemos dar graças por mais um dia de vida dela em meu ventre', testemunha Kellen
Meu nome é Kellen Reis, tenho 30 anos, sou jornalista e moro em Pindamonhangaba (SP). Sou casada há quase seis anos com Diogo, pai das minhas filhas e parceiro nos melhores e nos piores momentos da minha vida. Quero partilhar com vocês uma parte desses momentos.
Ser mãe não estava nos meus planos aos 24 anos. Namorava, há pouco mais de dois anos, e estávamos começando a planejar o nosso futuro juntos quando fomos surpreendidos com a primeira gestação. Mesmo com o medo e a insegurança, fomos contagiados pela felicidade logo de cara. Casamo-nos no civil primeiro e, ao chegarmos da viagem de lua de mel, fomos correndo pegar o resultado da primeira ultrassonografia morfológica. A surpresa chegou com a frase que ficou guardada em minha mente, tamanho foi o choque: "ausência parcial de massa encefálica, o que sugere anencefalia". Procuramos minha obstetra imediatamente, mas ela não estava mais no consultório. Uma outra ginecologista nos atendeu e, como se estivesse passando uma receita de bolo, nos disse que nossa filha, com cinco meses de gestação, para quem escolhemos o nome de Maria Eduarda, tinha má formação cerebral e não teria condições de sobreviver. E ainda nos sugeriu entrar na justiça para pedir autorização para abortar, pois, segundo ela, não valia a pena levar a gestação até o fim, já que, talvez, nem a bebê aguentasse. Ela deixou bem claro que não havia tratamento ou cirurgia que resolvesse o problema.
Nós a deixamos falando sozinha e saímos do consultório desorientados. Quem aquela profissional achava que era para decidir algo ou nos sugerir tirar a vida da nossa filha? Ficamos indignados!
Depois do baque, com o apoio da nossa família, fui me informar mais sobre o assunto, saber dos riscos, dos casos mais conhecidos, pesquisar outras famílias que já tinham passado pela mesma situação. Somando tudo isso à fé em Deus e em Nossa Senhora, fomos ganhando forças para aguentar até o momento em que a Duda aguentasse. Passamos a viver um dia de cada vez e aprendemos dar graças por mais um dia de vida dela em meu ventre. Cada mexida na barriga era uma vitória celebrada com alegria.
Ela aguentou as 39 semanas. Nasceu em 27 de outubro, chorando, com 40 cm e 2kg. Lembro-me, nitidamente, do seu rostinho colado ao meu, ainda todo sujo, logo que saiu da minha barriga. Não sabia quanto tempo ela teria de vida; então, alí mesmo, disse a ela o quanto a amava e que a amava do jeitinho que ela era.
Nossa princesa resistiu por três dias. Não pude pegá-la no colo, trocar sua fralda, dar-lhe de mamar, sentir seu cheirinho nem lhe fazer cócegas. Havia um bloqueio chamado "incubadora", da UTI neonatal, entre nós. Restava-me apenas segurar sua mãozinha. Ela se foi, mas a maternidade não foi embora com ela. Sentia-me mãe, a todo momento, mesmo sem tê-la comigo.
Não foi fácil. Ainda há horas que não o é. Cada Dia das Mães era um sofrimento, uma agonia e um aperto no peito. Cheguei a deixar de ir à Missa, nessa data, para não ver as homenagens e não sofrer com elas. Sentia-me merecedora delas, mas não concordava em recebê-las a não ser pelas mãos da minha filha que se foi.
O tempo foi passando, mas ela sempre esteve presente em nossa vida. Em 2010, eu e o Diogo, finalmente, recebemos o sacramento do matrimônio. Nós fomos morar em São Paulo e nossa vida sofreu várias mudanças. No ano passado, depois de cinco anos, decidimos que era hora de tentar, de novo, e dar um irmãozinho ou uma irmãzinha para a Maria Eduarda.
Com a vinda do Papa Francisco ao Brasil, aproveitei para ir até ele e pedir sua intercessão, a fim de que nos ajudasse a conquistar esse sonho, assim como outros que pareciam distantes de nós. No dia 24 de julho, quando ele celebrou a Santa Missa, no Santuário de Aparecida, eu estava de folga e fui correndo para lá, com minha mãe e minha tia, um dia antes. Passamos a noite no frio, tomamos chuva, enfrentamos a fome e uma fila quilométrica para tentar participar da Celebração Eucarística dentro do santuário. Mesmo sem saber se conseguiríamos entrar, fui entregando aquele momento como penitência, como sacrifício. Mal sabia eu que minha princesa já estava em meu ventre.
A notícia chegou, com uma alegria sem fim, uma semana depois; ao mesmo tempo, veio uma insegurança. Afinal, somos humanos e, mesmo confiando em Deus e em Seus planos, temíamos que algo de ruim pudesse acontecer novamente. Mas o Senhor nos presenteou com uma gestação saudável de outra menina: a Valentina. Ansiosa como os pais, ela não esperou as 40 semanas e veio ao mundo no dia 3 de abril deste ano, com 2.980 kg e 48 cm, à 37ª semana gestacional. Mais um presente de Deus em nossa vida!
Ainda estamos extasiados com a chegada dela, e não nos cansamos de a olhar e namorar.
Sinto-me realizada em poder fazer tudo o que prevê o papel de uma mãe: amamentar, pegar no colo, fazer cafuné, beijar, cheirar, abraçar, trocar fralda, dar banho, fazer cócegas, massagear e até chorar junto com ela.
Não vejo a hora de comemorar o Dia das Mães este ano, pois sei que terá um gostinho mais que especial, já que, agora, tenho uma filha aqui comigo, cuidando de mim na Terra; e uma filha no Céu, cuidando de minha alma, intercedendo por mim e pela nossa família.
Aliás, estou comemorando o fato de ser mãe novamente desde o dia três de abril.
Que Nossa Senhora, Mãe imaculada de Deus e nossa, abençoe todas as mães, principalmente as "mães de UTI" e aquelas que perderam seus filhos.
Kellen Reis
Fonte: http://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-da-vida/ser-mae-de-um-bebe-anencefalo/
A inveja não traz felicidade para o nosso coração
Não é sem razão que a Igreja classifica a inveja como pecado capital. Muitos e muitos males provém dela. Diz o livro da Sabedoria que é por causa da inveja que o demônio levou ao pecado nossos primeiros pais no início da história da humanidade.
"Ora, Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão" (Sb 2,23-24).
Santo Agostinho dizia que "a inveja é o pecado diabólico por excelência". E se referia a ela como "o caruncho da alma que tudo rói e reduz a pó".
A inveja é companheira daquele que não suporta o sucesso dos outros e não se conforma em ver alguém melhor do que ele mesmo. Está sempre com aquelas pessoas soberbas, que querem sempre ser melhores do que as outras em tudo. Muitas vezes, ela também é companheira das pessoas inseguras, fracassadas ou revoltadas, que, não conseguindo o sucesso das outras, ficam corroídas de inveja e desejando-lhes o mal. Fica torcendo pelo mal do outro, e quando este fracassa, diz em seu interior: "bem feito!".
O primeiro pecado dos filhos de Adão e Eva foi cometido por inveja. Caim matou o irmão Abel. Abel era pastor e Caim lavrador (cf. Gen 4). Pior do que um homicídio (assassinato de um homem), o crime de Caim, movido pela inveja, foi um fratricídio (assassinato de um irmão).
Também por causa da inveja os filhos do patriarca Jacó venderam o seu filho caçula, José, para os mercadores que o levaram para o Egito.
O caso mais triste que as Escrituras nos relatam, por causa da inveja, é o da morte de Jesus. O evangelista São Mateus deixa claro a razão que os levou a matar o Filho de Deus: "Pilatos dirigiu-se ao povo reunido: 'Qual quereis que eu vos solte: Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?' Ele sabia que tinham entregue Jesus por inveja" (Mt 27,18).
Vemos, assim, a que ponto chega a inveja. Diante disto, temos que nos acautelar; uma vez movidos por ela, somos levados a praticar muitas injustiças. Quantas fofocas, maledicências, intrigas, brigas, rivalidades, calúnias e ódios acontecem por causa de uma inveja!
O pior de tudo para nós cristãos é constatar que ela se entranha até mesmo nas obras e nos filhos de Deus. Podemos dizer seguramente que muitas rivalidades e disputas que surgem também no coração da Igreja, tristemente são causadas pela inveja, pelo ciúme e despeito.
Ao invés de se alegrar com o sucesso do irmão no seu trabalho para o Reino de Deus, a pessoa fica remoendo a inveja, porque não consegue o mesmo sucesso. O que importa afinal, é o meu sucesso. O invejoso é infeliz com a própria desgraça e com a felicidade do outro.
Precisamos aprender a fazer com que a felicidade do próximo seja um motivo a mais para sermos felizes; não o contrário. A inveja é uma perversão.
Quando o menor sentimento de inveja brotar em nosso coração, precisamos cortá-lo de imediato, com a sábia atitude do "agire contra"; isto é, substituir o sentimento de desprezo por um sentimento de amor, num profundo desejo de que essa pessoa progrida ainda com o sucesso que não conseguimos alcançar. É preciso saber pedir perdão a Deus pelo mau sentimento em nós gerado.
Quem sabe, agindo assim, daremos um tapa na cara do tentador que deseja, a todo custo, semear o veneno da inveja em nossa alma, fomentando a intriga, a maledicência, a rivalidade entre os irmãos. Não o permitamos. São Paulo nos ensina a não dar oportunidade ao demônio para agir em nossa vida. "Não deis lugar ao demônio" (Ef 4,27).
Santo Agostinho nos ajuda a entender a gravidade da inveja: "Terrível mal da alma, vírus da mente e fulminante corrosivo do coração, é invejar os dons de Deus que o irmão possui, sentir-se desafortunado por causa da fortuna dos outros, atormentar-se com o êxito dos demais, cometer um crime no segredo do coração, entregando o espírito e os sentidos à tortura da ansiedade; destroçar-se com a própria fúria!"
Dizia São Leão Magno que "quando todos estivermos cheios de sentimentos de benevolência, o veneno da inveja há de desaparecer inteiramente".
O mesmo santo doutor e Papa ensinava que ardem de inveja da perfeição dos outros; e, como os vícios desagradam as virtudes, armam-se de ódios contra aqueles cujos exemplos não seguem.
São João Crisóstomo (†404), o grande patriarca e doutor da Igreja, chamado de "boca de ouro", mostra bem o perigo da inveja para a vida cristã:
"Nós nos combatemos mutuamente e é a inveja que nos arma uns contra os outros. Pois bem, alegrai-vos com o progresso do vosso irmão e imediatamente Deus será glorificado por vós".
Prof. Felipe Aquino @pfelipeaquino, é casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos". Saiba mais em Blog do Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br
Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/saiba-como-se-afastar-do-pecado-da-inveja/
Nos momentos de consolo a familiares que perderam entes queridos, sempre vemos pessoas que, na melhor das intenções, sugerem que a família tente encontrar, no espiritismo, as explicações para a desgraça, comunicando-se com seus mortos. Para elas, uma forma de compensar a dor é saber em que situação se encontram os entes queridos: se estão bem, onde estão e com quem estão. Até entendemos, do ponto de vista psicológico, esse tipo de comportamento, mas, sob os olhos do Cristianismo, isso não deveria acontecer, pois, no Livro do Deuteronômio, o Senhor nos diz: "Não haja em teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou filha, nem quem consulte adivinhos ou observe sonhos ou agouros, nem quem use a feitiçaria; nem quem recorra à magia, consulte os oráculos, interrogue espíritos ou evoque os mortos. Pois o Senhor abomina quem se entrega a tais práticas. É por tais abominações que o Senhor teu Deus deserdará diante de ti estas nações" (Dt 18,10-12)
O verdadeiro cristão não pode ser adapto ao espiritismo, já que, se for, será incoerente consigo mesmo, pois o espiritismo advoga a reencarnação, enquanto nós, cristãos, cremos em uma única vida, nesta terra, conforme está escrito na Carta aos Hebreus: "E como está determinado que os homens morrem uma só vez, e depois vem o julgamento" (Hb 9,27). Infelizmente, muitas pessoas são enganadas quando se encontram fragilizadas pela morte de um ente querido. Muitas chegam a acreditar que, realmente, fizeram contato com o falecido. Deixo claro que não tenho absolutamente nada contra os espíritas, pois eles são nossos irmãos também, apenas não concordo com o que a filosofia espírita preconiza. Acredito que o que ocorre, durante essas experiências extrassensoriais espíritas, é apenas uma manifestação do nosso próprio inconsciente ou da nossa própria vontade.
Há alguns anos, em uma de minhas viagens pela França, estive em Martezè, uma pequena aldeia da Provence, onde vive a Marielle, uma grande amiga francesa. Ela nos levou à casa de uma senhora, Madame Françoise, sua conhecida, cujo marido tinha falecido há alguns anos e que tinha uma história estranha, que ela acreditava que eu deveria ouvir. Madame Françoise era viúva há muitos anos. Não tinha preocupações financeiras. Embora tivesse filhos, vivia sozinha, mas sempre recordando os momentos vividos com o marido. Para minha surpresa, ela não era uma pessoa triste e deprimida, mas forte, firme e muito enérgica em seus quase oitenta anos de vida. Entre um petit four e uma taça do indescritível vinho da região de Bordeaux, começou a contar-me que, certo dia, se sentou na sua sala para ouvir um pouco de música, pois estava triste, sentindo muita falta de Bernard, seu falecido marido. Colocou, no rádio, um cassete e, após ouvir a primeira música, antes de começar a seguinte, notou ruídos estranhos que, aos poucos, reconheceu como sendo a voz do falecido marido. Ele lhe dizia que estava bem e que a amava muito.\
Não se contentando somente em contar a história, ela se levantou, pegou a fita e a colocou no rádio. Enquanto a fita rodava, a senhora nos mostrava em que ponto havia a suposta mensagem. Evidente, não ouvi nada, a não ser ruídos de uma fita com defeitos técnicos por baixa rotação. Tudo não passava de fruto da sua imaginação. Ela, no entanto, acreditava piamente que Monsier Bernard havia se comunicado com ela.\
Na volta para o castelo da Marielle, conversamos muito a respeito do caso. Evidentemente, tudo não passava de um mecanismo de compensação que ela mesma criara para dar à sua vida uma razão existencial.
Quantas pessoas não criam suas próprias verdades, consciente ou inconscientemente, para explicar fatos de sua vida? Sei que é difícil entendermos os porquês, pois o plano de Deus é um mistério para nós. Cabe-nos apenas entender o para quê.\\
Há muitos anos, participei do espiritismo. Por isso sei que, em momentos de perda e desespero, muitos buscam alguma forma de contato com os mortos, a fim de conseguir um pouco de consolo e paz. Hoje, de volta ao seio da Igreja Católica, na qual sou batizado, tenho consciência da diferença entre a filosofia espírita e a doutrina católica.
Estive com o diácono Nelsinho Correâ e falei com ele sobre o caso da Patrícia. O diácono, em sua imensa sabedoria e discernimento, sempre derrama um pouco de água fria nas minhas ponderações, porque sabe que, como bom descendente de italiano, às vezes não penso no que digo e não raramente ofendo alguns irmãos com minhas opiniões muito radicais. Nesse dia, perguntei ao Nelsinho sobre o que encontramos na Bíblia a respeito do espiritismo. Ele me respondeu: "Savioli, a primeira diferença básica é a nossa fé não na reencarnação, mas na Ressurreição de Cristo, que abriu caminho para nós também! Acrescentado a isso, temos a Palavra de Deus. Primeiro, no Antigo Testemunho, em Deuteronômio 18,10-14. Nessa Palavra, Deus proíbe claramente a evocação dos mortos. Depois, no Novo Testamento, em João 6,54, Jesus fala: 'Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia'. Temos ainda Lucas, capítulo 24: 'Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?' (Lc 24,5). Isso nos abre outra perspectiva do sofrimento, da dor, do choro, do luto, da sublimação".
A Bíblia tem vários exemplos de como o povo de Deus lidava com o luto. Monsenhor Jonas Abib aborda isso em uma palestra que fez sobre a importância do luto. Olhe o exemplo da Bíblia: "Abraão veio fazer luto por Sara e chorá-la (Gn 23,2).
Davi, por conta da morte de Abner, filho do chefe do exército de Saul, diz: "Rasgai vossas vestes e vesti-vos de luto. Ide chorar nos funerais de Abner". […] Quando Abner foi enterrado, em Hebron, Davi levantou sua voz e chorou sobre o túmulo de Abner. Também todo o povo chorou (2Sm 3,31-32).
O próprio Jesus, diz a Bíblia, "teve lágrimas" (Jo 11,35) diante da morte de Seu amigo Lázaro. Enfim, todas essas passagens nos mostram que não devemos "mascarar" a dor, não devemos queimar etapas. É preciso viver o momento da perda, esvaziando-o pelo pranto.
Concordei com suas palavras e lembrei-lhe que, infelizmente, o pranto não tem sido mais permitido. Ao se perder alguém, o enlutado é dopado. Não sabe o que está acontecendo ou então é reprimido, instigado a não chorar e a ser forte. Por isso, deixo aqui um alerta: se este momento não for vivido, o sofrimento não pranteado poderá resultar em depressão e fobia, pois a pessoa foi poupada de algo que ela deveria ter vivido, com ajuda sim, mas com a consciência de que ninguém pode viver a dor em seu lugar.
Doutor Roque Savioli
A Igreja de Jesus Cristo saiu, literalmente, à praça pública, no dia da canonização de São João XXIII e São João Paulo II, dois Papas de nossa geração, testemunhas das muitas vicissitudes e alegrias do tempo desafiador e maravilhoso em que nos encontramos. Quem acompanhou pessoalmente ou pelos meios de comunicação pôde conferir a diversidade de culturas, línguas e povos ali representados. Chamava à atenção o fato de que chefes de Estado e de Governo compartilhavam espaço e emoção com a multidão presente em Roma. As várias confissões cristãs, representantes de outras religiões e pessoas de convicções diferentes... Um mundo inteiro se sentia atraído por duas figuras ímpares quanto à missão exercida a seu tempo e quanto à têmpera de seu modo de ser homens e cristãos.
Papa Francisco salientou, em sua homilia da Missa da Festa da Divina Misericórdia, que João XXIII e João Paulo II não tiveram medo de se defrontar com as chagas do mundo e de sua geração. João XXIII quis abrir as janelas da Igreja para que o sopro do Espírito se espalhasse, a fim de alcançar todos os homens e mulheres. João Paulo II, o missionário mais ardoroso de que temos conhecimento nos últimos tempos, além de todo o empenho pela Evangelização, foi ao encontro das pessoas, conversou com todos, não fugiu das situações mais dolorosas da Igreja e do mundo. É que os cristãos se encontram dentro das realidades do mundo, são passíveis de erros e pecados, podem colocar tudo a perder, se não é a graça de Deus que os acompanha e sustenta.
A chave que abre as portas da esperança e da felicidade é, justamente, o reconhecimento simultâneo das fragilidades humanas e da força de Deus. Aquele que pode abrir o livro da vida das pessoas e da história humana é Jesus Cristo, o Cordeiro Imolado, o Santo de Deus. Só Ele tira o pecado do mundo (Cf. Ap 5, 1-8). Como Deus não nos fez para amassar barro na maldade e no egoísmo, o desejo de ser puros e santos atrai a todos. Por isso, apresentar a Boa Nova de Jesus Cristo, malgrado todos os pecados do mundo, é a estrada mestra para todos, sem exceção. Cabe à Igreja ter a ousadia de apontar para frente e para o alto, fazendo tudo para que o maior número possível de pessoas se envolva nesta grande marcha rumo à perfeição das relações das pessoas com Deus e entre si. Por isso, tantos irmãos e irmãs são inscritos no catálogo dos santos, reconhecidos como modelos no seguimento de Jesus
As imagens do dia da Divina Misericórdia eram suficientemente eloquentes para nos convencermos de que a Igreja tem uma palavra e um testemunho a oferecer ao mundo. Trata-se de sua missão, na qual não pode se omitir. Ela deve ser anunciadora da verdade e lutar pela dignidade das pessoas, assim como há de mostrar que o melhor para todos é o amor ao próximo e o amor a Deus. Ao mostrar este caminho, que tem o nome de santidade, a Igreja e os cristãos aprenderão a se confrontar com as realidades humanas, inclusive quando as diferenças vêm à tona. E o diálogo entre diferentes começa com a valorização recíproca, que comporta superação de julgamentos e preconceitos. Acreditar no bem que existe no outro, seja qual for sua origem, idade ou prática religiosa, é um passo fundamental. Convergem na direção do bem as pessoas que apostam tudo nas próprias convicções e, ao mesmo tempo, se abrem para o bem que existe em quem procede de outras plagas.
As pessoas com quem dialogamos venham também a ter conhecimento de que temos algo a oferecer. Não somos incapazes quanto à humanidade e a cultura. A luz do Evangelho é o que existe de melhor para o mundo. Nada de omissão. Sejam, pois, superados os eventuais complexos de inferioridade com os quais muitos cristãos se apresentam diante das estruturas do mundo. Cresça a presença qualificada dos cristãos nos diversos campos profissionais. Amadureça sua capacidade de dar razão da esperança, segundo o caminho proposto pelo Apóstolo São Pedro: "Se tiverdes que sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência" (1Pd 3,14-16).
A aventura da santidade se tornou mais atraente ainda com São João XXIII e São João Paulo II. Mas o que fazer para ser santo? Santo é quem olha ao seu redor e não se cansa de colher as flores e os frutos da árvore da vida, plantada pelo próprio Deus. Santo é quem não receia olhar nos olhos dos outros e ver o brilho que neles se acende. Santo é quem não se rende diante da maldade, mas persevera na busca do bem e dá nome ao bem que encontra. Santo é quem se convence de que Deus só sabe amar e olha para as pessoas com amor infinito. Santo é quem gosta do bem, da beleza, da verdade.
Nestes primeiros dias do mês de maio, venha em relevo um campo específico, no qual a santidade pode e deve crescer, o do trabalho. Ninguém separe sua vida de fé das suas atividades profissionais, sejam quais forem. E vale oferecer, justamente para o trabalho, dois outros sinais esplêndidos. Trata-se de Maria, Mãe do Redentor, uma simples Mãe de Família, no mês que lhe é dedicado. Outro é São José, o operário! As duas figuras, indispensáveis na vida cristã, foram mundo e Igreja, mãos que trabalharam e santidade inigualável. Os dois santos, apenas canonizados, souberam oferecer tais exemplos e deles foram devotos. É a hora da Igreja, é a hora do mundo, a quem o Senhor Jesus oferece a salvação, pelos méritos de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Ninguém desperdice o tempo de Deus, que se chama hoje!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13500#.U2KPmij2ZRY