23 de janeiro de 2014

Casais em crise

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Ninguém mais escuta ninguém. Acabou a comunicação

"Acabou!" Com essa breve observação, muitas pessoas descrevem o fim de seu casamento. Por trás desse verbo há crises, sofrimentos, desabafos e, não poucas vezes, brigas infindas. Em que lugar foram enterrados os sorrisos do dia do casamento e as promessas de fidelidade ditas em "até que a morte nos separe"? Em que fase da vida se desvaneceu a certeza de que "ninguém será mais feliz do que nós dois"? Como entender a amargura que tomou conta de um relacionamento que parecia tão feliz?

Nenhum casamento termina "de repente". Especialistas matrimoniais constatam que, normalmente, o caminho da desintegração tem quatro etapas profundamente interligadas, isto é, cada etapa prepara e, praticamente, condiciona a seguinte.

Na primeira, começam a surgir comentários negativos, um a respeito do outro. Mais do que se queixar do esposo ou da esposa (a queixa refere-se a um comportamento específico), multiplicam-se críticas que são sempre abertas, indeterminadas, gerais: "Você é um chato!"; "Você está cada vez mais insuportável!". Há aqueles (ou aquelas) que sofrem calados, não aceitam o comportamento do companheiro, mas não verbalizam sua insatisfação. O problema é que vão acumulando raiva em seu coração. Quando resolvem falar, não medem as palavras. As agressões – verbais ou de fato – parecem ser de inimigos mortais. Agora, o importante é humilhar o outro para ficar claro que não há mesmo possibilidade alguma de reconciliação.

Para não se chegar a esse ponto, é preciso cultivar o diálogo. Mais do que escutar o outro, é importante ter a capacidade de colocar-se no lugar dele para ver o problema "do outro lado". Um casal me confidenciou que, ao se casar, tomaram uma decisão que marcou a vida deles: prometeram um ao outro que jamais dormiriam sem, antes, solucionar os problemas que pudessem ter surgido entre eles durante o dia. "Solucionar", no caso, significava cultivar o perdão como atitude habitual. O perdão será menos difícil se cada um, em vez de atacar o outro de forma generalizada, chamar à atenção do cônjuge para erros concretos e para comportamentos que precisam ser corrigidos.

Na segunda etapa, cresce o desprezo pelo outro. Desprezar é uma forma de ignorar, de insultar e ferir. O desprezo vem sempre acompanhado da implicância, dos insultos, da ridicularização. O objetivo a alcançar é a destruição do outro. O importante é sair vencedor.

Só se supera essa etapa quando, ao menos um dos dois, aceita não ver o outro como um inimigo, e passa a acreditar que não precisa provar que é o mais forte. "Quando estou fraco, então é que sou forte" (2Cor 12,10), diria o apóstolo Paulo.

Na terceira etapa, quem foi a vítima do desprezo começa a se defender. Impõe-se a ideia de que a melhor defesa é o ataque. Ninguém mais escuta ninguém. Acabou-se a comunicação.

Consegue-se mudar essa situação somente com a disposição de escutar o outro, de prestar atenção nele, demonstrando que ele é importante.

Na quarta etapa, domina o mutismo. Um dos dois passa a ficar em silêncio, talvez até com o desejo de não piorar a situação. Mas não é por aí que se soluciona o problema. É preciso, sim, deixar claro que se está escutando o outro. Ninguém consegue ficar indiferente diante de uma pessoa que lhe dá atenção. Escutar e prestar atenção com um coração pronto a acolher é uma maneira de criar pontes de diálogo e de perdão, pontes de comunhão.

Por fim, o que poderia ter sido escrito no começo: nos meus mais de quarenta anos a serviço da Igreja, atendendo a inúmeros casais, nunca encontrei um casal que rezasse diariamente, que colocasse Deus no centro de suas vidas e que tenha passado por crises matrimoniais insuperáveis. Para dizer isso de forma positiva, lembro a resposta que uma jovem me deu, quando lhe perguntei como estava a sua vida, já que havia se casado dois anos antes: "Meu marido sabe que eu amo a Deus mais do que a ele. Eu sei que meu marido ama a Deus mais do que a mim. A partir daí, tudo fica mais fácil e tudo se resolve sem grandes dificuldades".


Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de São Salvador (BA)


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13426

21 de janeiro de 2014

Pequenos gastos comprometem também seu orçamento

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Providência significa fazer bom uso daquilo que recebemos

No artigo 'Orçamento Familiar', falei um pouco sobre os passos necessários para observarmos melhor nosso orçamento, como envolver a família, saber o que precisa ser pago, eliminar as dívidas, fazer uma poupança, cuidar do dinheiro gasto sem controle e não encarar esta nova educação financeira como um sofrimento, mas, sim, como um alívio de muitas tensões.


As despesas "ocultas" revelam gastos que, somados, podem representar, por exemplo, o valor da entrada na compra de um imóvel, a economia para um curso, a poupança para o futuro, dentre outras coisas que gostaríamos de realizar.

Segundo estudos do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o carro é a "terceira maior fonte de despesas de um brasileiro". Somados combustível, seguro, pedágio, IPVA e outros impostos, lava-rápido e estacionamento, uma pessoa pode gastar cerca de 17 mil reais ao ano. Claro que um automóvel facilita nossa vida, mas se estamos numa condição financeira difícil, adquiri-lo é algo que precisa ser pensado, uma vez que ele é um bem que mais rápido se desvaloriza.

Outro "ralo" para nosso dinheiro são as despesas com lanches na rua, como aquele cafezinho fora de hora. Ao comprar lanches, cafés, sanduíches, salgados e outros petiscos, fora do horário, podemos gastar, facilmente, cerca de 5 mil reais por ano. Parece assustador, mas aqueles 5 reais, por dia, podem nos levar a este assustador gasto.

São cálculos simples, mas que, se forem colocados no papel, podem representar uma economia de 150 reais por mês, ou seja, em 30 anos, teríamos cerca de 200 mil reais de reserva financeira para a aposentadoria, por exemplo. Tudo isso é uma questão de hábito e de prática. Às vezes, basta restringir os gastos com a aquisição de bens supérfluos ou deixar de fazer um gosto do filho, mas, claro, sempre de forma planejada. Dessa forma, muita coisa pode ser feita, e, certamente, sem o estresse do acúmulo de dívidas.

Outro dia, lendo alguns artigos, vi um desafio que achei bastante interessante e o deixo aqui como uma opção para você. Gostaria de economizar 1.378 reais até o fim deste ano, começando com 1 real? Que tal? Poderia ser um dinheiro para a viagem, para as despesas de fim de ano, para um curso que deseja fazer ou tantas outras possibilidades.

Vamos lá! Em 52 duas semanas, você vai poupar, começando por 1 real:

- na 1ª semana – 1 real

- na 2ª semana – 2 reais

- na 3ª semana – 3 reais

- na 51ª semana – 51 reais...


Anote tudo num caderno, numa planilha ou em qualquer outro lugar. Vá depositando esse dinheiro com fidelidade. Às vezes, guardar muito é complicado, mas guardá-lo aos poucos se torna mais viável.

Viver a Providência também significa fazer bom uso daquilo que recebemos como fruto do nosso trabalho e do nosso empenho diário.

Fica a dica. Um abraço! 

  

 

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Elaine Ribeiro
elaine.ribeiro@cancaonova.com

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova.
Blog: temasempsicologia.wordpress.com
Twitter: @elaineribeirosp 

17 de janeiro de 2014

Maria, modelo da Igreja servidora

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Que uma Igreja servidora dos homens seja alma de um país melhor

Maria quer nos recordar que o amor é o mais profundo e significativo sentimento, e que ele se expressa no serviço. Assim, mostra-nos, com seus exemplos, que a Igreja é e quer ser a servidora dos homens.


É fácil, falar de amor e caridade, mas muito difícil vivê-los, porque amar significa servir e servir exige renunciar a si mesmo. Se não fosse assim, estaríamos no paraíso, já que todos os homens e todos os cristãos estão de acordo em cantar as belezas do amor. Entretanto, continua havendo guerras, injustiças sociais, perseguições políticas no mundo. Isso acontece, porque amar e servir custam. O pecado original nos inclina a buscar sempre o próprio interesse, a querer dominar e estar no centro.

Mas o que é servir? Jesus mesmo explica: servir é dar sua vida pelos outros, é entregar-se aos demais. Servir é dar-se de si mesmo, entregando ao outro a nossa preocupação, nosso tempo e nosso amor.

Serve a mulher que passa, até tarde, a camisa que seu marido necessita ou que passa a noite junto ao filho enfermo. Serve quem desliga a televisão, durante a novela, para receber o vizinho e escutar seus problemas. Serve quem renuncia algumas horas de descanso para passear com seus filhos, para participar de uma reunião de trabalho.

A Igreja Servidora, A Igreja do Concílio se proclamou servidora do mundo e dos homens. Por isso, escolheu Maria como modelo desta atitude.

Nós, muitas vezes, cremos que estamos servindo a Deus, porque fazemos uma oração ou cumprimos uma promessa. Olhemos para Maria. Ela nos entrega toda sua vida para cumprir a tarefa que o Senhor lhe encomenda pelo anjo. Maria sabe, por meio do anjo, que seu Filho será o Rei do universo, e de Isabel só o seu precursor. Mas é ela quem corre até onde vivia sua prima; ela não busca pretextos por estar grávida e, assim, não poder arriscar-se numa viagem tão longa.

Quando o anjo lhe anuncia que ela será a Mãe de Deus, Maria compreende que esta vocação exige que ela se converta na primeira servidora de Deus e dos homens.

Sacrifício e serviço. Para poder construir um mundo novo, desejado de todos, é necessário muito espírito de Cristo e de Maria. Deve ser um serviço que busca, realmente, nossa entrega aos demais, e não nosso poder pessoal nem o domínio absoluto de nossa empresa ou partido.

Não queremos substituir uma classe dominante por outra, que traz novas formas de opressão. Sem este espírito, nem a Igreja nem o país serão renovados, mesmo que diminuam as diferenças sociais. Uma justiça que não vai acompanhada do amor serviçal é inumana, é uma justiça sem alma.

Peçamos a Ela que nos ajude a construir uma Igreja conforme sua imagem, uma Igreja servidora dos homens, que seja, realmente, a alma de um país melhor.


Padre Nicolás Schwizer

13 de janeiro de 2014

Evangelizar é propor uma nova realidade

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Todos nós somos missionários pelo batismo

Todos nós somos missionários pelo batismo. Muitas vezes, quando ouvimos falar em missionariedade, achamos que se refere às freiras, aos padres e freis, mas é interessante que ser missionário não é apenas deixar uma terra e ir para outra; é deixar-se para ir ao encontro do outro para levá-lo a Cristo. 

Como diz Marcos no capítulo 16, 15: "É necessário que o Evangelho seja pregado a todas nações". Essa frase está no imperativo, ou seja, Jesus não está pedindo, ele está nos mandando evangelizar.
 
Por que o Evangelho precisa ser pregado a todas as nações? A resposta está em I Timóteo 2, 3-4: "Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador. Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade".

É fácil pregar o Evangelho? Não é fácil pregá-lo às crianças, aos jovens nem mesmo àqueles que já estão na Igreja. Hoje, o mundo está muito diferente, e é complicado entender a cabeça das pessoas. Vivemos numa sociedade na qual nada sacia ninguém.

Existem dificuldades, mas precisamos ter consciência de que o Evangelho é a força que nos dá ânimo. Quantas pessoas têm se convertido! Mesmo diante das dificuldades, precisamos acreditar na força desse instrumento [a Palavra de Deus] e sermos transmissores dessa mensagem.


Uma das coisas mais importantes que a Igreja nos ensina é que a sociedade atual está cansada de mestres, mas tem sede de testemunhos. O que isso significa? Precisamos viver um testemunho autêntico, ou seja, o que fazemos vale mais do que aquilo que falamos. As nossas atitudes mudam vidas.

Dentro da Igreja, muitas vezes, corremos o risco de ter uma consciência pagã. Como está a sua família? Ela está sendo exemplo para os outros? Evangelizar é propor uma nova realidade, e isso pode acontecer de várias formas. Você já fez a experiência de ter um encontro com Deus por meio de um sorriso? Por meio de um abraço? O amor de Jesus se manifesta também nas coisas simples.

Assista a um trecho desta pregação:







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Padre Adriano Zandoná

Adriano Zandoná é padre e missionário da Comunidade Canção Nova. Graduado em Filosofia e Teologia, exerce atualmente a função Responsável Geral pela Canção Nova em São Paulo (SP). Todas as segundas-feiras celebra a missa na Catedral Maronita, em São Paulo, às 19h30, com transmissão ao vivo pela TV Canção Nova. É articulista do site cancaonova.com e apresenta e apresenta o programa "Construindo a Felicidade", todos os dias da semana, exceto às quintas-feiras, às 17h pela Rádio América (AM 1410), também em São Paulo (SP). É autor dos livros: "Construindo a Felicidade" e "Curar-se para ser Feliz", ambos publicados pela editora Canção Nova.
Facebook.com/PadreAdrianoZandoná
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blog.cancaonova.com/padreadrianozandonaexceto às quintas-feiras, às 17h pela Rádio América (AM 1410), também em São Paulo (SP). É autor dos livros: "Construindo a Felicidade" e "Curar-se para ser Feliz", ambos publicados pela editora Canção Nova.


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Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13415

10 de janeiro de 2014

Briguei com meu amigo! O que fazer?

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Saber respeitar as decisões de quem feriu ou foi ferido

Muitos processos de amizade sofrem rompimentos ao longo da vida. Muitos são os motivos que desencadeiam esses rompimentos; desde uma simples palavra mal interpretada até uma complexa traição de confiança.


Quando a amizade é abalada, acontece o rompimento e surge a mágoa, a revolta, o desejo de vingança e outras inúmeras atitudes que brotam dessa situação conflituosa. Muitos, após um período de distanciamento, conseguem recuperar a mesma amizade de antes; alguns a recuperam parcialmente; outros, no entanto, jamais conseguem recuperá-la.

Diante do rompimento da amizade, fica o desejo de que tudo seja como era antes. Em muitos casos, é preciso ter consciência de que não mais será como antes. Onde há rompimento existem feridas que precisam de longas estações para serem cicatrizadas.

Há casos em que ambos os amigos se perdoam e retomam a amizade com o mesmo afeto de antes. Em outros casos, quando um dos lados não concede o perdão, surge a grande questão: o que fazer quando o outro não me perdoa? Nesse caso, não há muito o que fazer. É preciso saber respeitar o tempo dele.

Forçar uma aproximação pode ser tão prejudicial quanto o rompimento da amizade. Feridas abertas levam tempo para cicatrizar. Não adianta tentar buscar uma solução quando as poeiras da raiva e do ressentimento ainda estão altas. Nem todos conseguem fazer a digestão emocional das mágoas de maneira igual. Alguns precisam de muito tempo para perdoar, outros conseguem fazê-lo de maneira rápida. Cada caso é um caso, e cada ferida é uma ferida. Cada pessoa vivencia a sua vida em um determinado tempo.

Nem sempre é fácil respeitar a decisão de alguém que ainda não conseguiu perdoar. Muitas vezes, tenta-se forçar o perdão; como consequência, existe um aumento das feridas. Para que um vínculo de amizade seja restabelecido, é necessário que ambos os lados desejem restabelecer tal laço. Não existe amizade que volte a ser como antes apenas quando há o desejo de apenas um dos lados.

Da parte de quem concedeu o perdão deve haver o respeito por quem ainda não conseguiu digerir toda uma situação de rompimento. Deve haver também a consciência de que não existe amizade restabelecida à base de pressão psicológica ou espiritual. Amizade é fruto de um processo; e quando esse processo é rompido, faz-se necessário uma reconciliação com o tempo do outro. Saber respeitar as decisões de quem feriu ou foi ferido é também um gesto de amizade, mesmo que não seja compreendido logo de imediato.


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Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialpadreflavio
www.padreflaviosobreiro.com


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13413

8 de janeiro de 2014

O perigo das escolhas provisórias

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O que seria para nós, sermos revolucionários da cultura do provisório?

"Eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório" (Discurso do Papa Francisco durante encontro com voluntários da JMJ Rio2013). Mas o que significa ser 'revolucionário' da cultura do provisório? O que é a 'Cultura do Provisório' e onde está a sua raiz?

Desde muito tempo, nós apresentamos como comportamento a necessidade de nos identificarmos com a sociedade em que vivemos. Buscamos responder ao que nos está sendo proposto com a única finalidade de conviver bem, isto é, agradar para ser aceito e, consequentemente, ser agradado. A tentativa de coabitar com quem está ao nosso redor, com as provocações da mídia, as tendências do mundo pós-moderno, colocam-nos diante de um processo de adaptação que afeta o nosso comportamento, e este, por sua fez, influencia o próprio ambiente, trazendo consequências boas e ruins.

Não é fácil corresponder ao que nos é proposto diariamente, quer seja diante do consumismo, da necessidade de satisfazer as nossas vontades, manter relacionamentos aparentemente feitos para durar ou na busca de autoconhecimento, do controle das nossas impulsividades e entendimento sobre o mundo no qual estamos inseridos, a fim de alcançar o equilíbrio necessário para que possamos nos sentir confortáveis, seguros e em paz. Mas como desempenhar essa função proposta pelo tão querido Papa Francisco?

Inúmeras são as causas que têm motivado a instalação da 'Cultura do Provisório'. As modificações que a nossa identidade cultural tem sofrido, ao longo dos anos, tornaram-se uma das principais causas desse fenômeno social.
 
Atualmente, o comportamento humano apresenta traços de uma identidade híbrida e vive sob o signo da pós-modernidade. Ele vai sendo formado de dentro para fora, acreditando, assim, que estamos nos ressocializando com esse novo modelo de viver. Contudo, adaptar-se é estar disposto a negar a possibilidade de viver plenamente, a ter a nossa própria identidade. Ser revolucionário da 'Cultura de Provisório' é nos tornarmos uma "Celebração Móvel: formada e transformada em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam" (Hall, 1998). Assim, conscientes de que somos sujeitos, podemos, de fato, assumir que somos revolucionários da cultura híbrida, líquida e provisória. Precisamos continuar como sujeitos pós-modernos, mas temos de ter uma identidade fixa, mesmo que nascida da diversidade de culturas do mundo globalizado. Uma identidade construída e reconstruída permanentemente ao longo de nossa existência.

Ir contra a corrente é viver atento às tendências da pós-modernidade: relações frágeis, duvidosas, frouxas, livres e inseguras - sugere Bauman (2004), estudioso que escreve sobre o conceito de liquidez nas relações.

Ele defende a ideia de que as relações líquidas nos colocam diante de um problema: como apertar os laços e, ao mesmo tempo, mantê-los tão frouxos? Esse, para ele, é um novo modelo de relação amorosa: a relação líquida, frouxa. Da mesma maneira que queremos sair da solidão com a companhia do outro para mantê-lo próximo, é necessário uma distância que lhe permita o exercício da liberdade. Completa Baumam (2004): "Os casais estão sozinhos em seus solitários esforços para enfrentar a incerteza. A relação pode acabar numa manhã de sol que o outro – este que, um dia antes, disse "eu te amo" – levanta-se da cama e exclama: "Acabou!". Como entender tal mistério? Quais ideias  se auto-organizaram para tal catástrofe? – catástrofe para aquele que perde o objeto de amor "garantido"... E o o anel que era doce, se quebrou...

"Para seguir Jesus devemos nos despir da cultura do bem-estar e do fascínio provisório". Foi o que disse o Papa Francisco, no encontro com os voluntários, durante a JMJ, exortando sobre o casamento, que essa união não deveria ser vista como provisória. Se der certo, deu; se não der, acabou.

Como sempre muito pertinente, o Papa também nos faz pensar sobre os nossos exageros frente à necessidade do bem-estar. O nascimento do filhos, por exemplo. São tantos planejamentos em busca da segurança para tê-los, que este bem-estar nunca chega. As famílias estão cada vez menores, formando indivíduos egoístas e solitários. E, em sua sabedoria, eles fazem uma relação sobre a resistência do mundo diante as propostas de Jesus. De fato, são definitivas e,  segundo ele, nós temos medo do tempo de Deus.

"Peçamos ao Senhor que nos dê a coragem de prosseguir, despindo-nos desta cultura do bem-estar, com a esperança no tempo definitivo."


Judinara Braz da Silva Mota de Carvalho

Membro da Com. Vida da Casa da Rainha- Feira de Santana - BA


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13411



6 de janeiro de 2014

Perante a Morte