6 de janeiro de 2014

Perante a Morte

2 de janeiro de 2014

Curso para pais com José de Nazaré

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Um bom pai adquire créditos por aquilo que faz

Vivemos na "Era do Conhecimento", um tempo marcado por inúmeras possibilidades na aquisição de novos conhecimentos. Multiplicam-se, por exemplo, os cursos de mecânica, pintura, elétrica, digitação etc. Mas alguém já ouviu falar de um "curso para pai"? Não. Bem, então isso é preocupante, pois se os filhos aprendem com os pais, com quem estes aprenderão? 


Hoje, nós lhe apresentamos o curso que faltava! "Curso para pais", e o professor é José de Nazaré, o pai de Jesus.

Um bom professor adquire crédito não tanto por aquilo que fala, mas por aquilo que faz. Imagine um instrutor de autoescola que lhe explicasse muito bem como funcionam os pedais de freio e embreagem, mas não fosse capaz de usá-los corretamente. É difícil aprender com alguém e acreditar nele se o que "fala" não condiz com o que "faz"; diz "é assim", mas não vive o que diz. Não se preocupe! Não teremos esse problema com o nosso professor, pois sua vida é uma lição dita sem palavras.

Serão quatro lições. A primeira se chama "Pai Guardião".

Um "pai guardião" é aquele que, a exemplo de José, descobre que recebeu um tesouro de Deus, uma joia chamada "esposa" e um diamante chamado "Filho", por isso decide protegê-los com todas as forças do seu coração. Como "pai guardião", José protege sua esposa primeiramente dele próprio, quando, diante da crise e do conflito, prefere o silêncio à discussão, a paz à guerra. "Saiu sem dizer nada" (cf. Mt 1,20). Protege sua esposa da cultura assassina de uma sociedade que, fundamentada pela certeza das "aparências", não tem dúvidas na hora de "matar" mãe e/ou filho. "Ele não queria difamá-la publicamente" (cf.Mt 1,19).

Como "pai guardião", protege-os por meio do trabalho, não deixando faltar nada de tudo aquilo que lhes era necessário, pois sabia que o dinheiro, resultado do honesto trabalho, não poderia estar em outras "mesas" que não fosse a mesa da família. "Ele era um homem justo" (cf. Mt 1,19), protegia sua família nas estradas, com a consciência de quem colocou na bagagem sobriedade e prudência, itens indispensáveis para quem transporta algo tão sagrado: vidas. "José saiu de Nazaré e foi para Belém" (cf. Lc 2,4).

Um "pai guardião" tem a coragem de dizer: "ninguém vai matar meu Filho!". Mesmo que Sua chegada tenha sido inesperada, mesmo que para alguém Ele tenha sido um erro, mesmo que seja um presidente, um governador ou até mesmo um rei que queira matá-lo ("Herodes" (Mt 2,13)), a resposta do "pai guardião" será sempre a mesma: "Não!"

A segunda lição se chama "Pai Sonhador".

Deus escolheu revelar a José Seus sonhos. Este, por sua vez, soube fazer a escolha certa: decidiu sonhar os sonhos de Deus. Aqui está o ponto mais importante da segunda lição: ainda que todos tenhamos algum sonho, devemos nos questionar se esse é o sonho do Senhor para nós.

Naturalmente, não fazia parte dos sonhos de José o dia de ficar sabendo que sua "noiva" ficaria grávida antes do casamento, muito menos "grávida de Deus". Não havia o sonho de uma longa jornada até Belém com esposa grávida e cidade lotada, não havia gruta, não havia cocho (manjedoura), não havia o sonho de viver uma fuga com os perigos do deserto ou do exílio (Egito); porém, queridos alunos do "curso para pais", foi exatamente porque decidiu sonhar os sonhos de Deus, que o simples José, sem deixar de ser simples, tornou-se "o esposo da mãe do Filho de Deus". Foi naquela pequena e abarrotada Belém que a profecia se cumpriu (Mq 5,1); e foi no Egito que o pai sonhador salvou o "Salvador" (Jo 4,42). Pais sonhadores não são aqueles que vivem com "a cabeça no mundo da lua", mas os que vivem com "os pés na vontade de Deus".

A terceira lição se chama "Pai Puro".

Todos já devem ter visto aquele lírio que está em quase todos as imagens de São José. O lírio simboliza a "pureza" do esposo de Maria, transmitido pelas Escrituras (CIC 1160). José foi o tipo de marido que não teve vergonha de ser puro e fiel, homem de uma mulher só, em sadia harmonia afetivo-sexual, realidade esta ainda possível para todo pai moderno que encontrar tempo para "brincar" com o "pequeno-grande Filho de Deus" de um simples "caça ao Tesouro"; e, na busca deste Tesouro perdido, reencontrar a si mesmo, reencontrar o significado mais profundo da palavra "homem" como fez José (RC 27).

A quarta lição se chama "Pai Livre".

Começamos com perguntas: "1° - Eu seria forte o bastante para, naqueles momentos em que, escutando o que não queria, ficar calado? 2° -Caso Deus me dissesse: "Se você não estiver mais próximo da sua família, agora, você vai perdê-los", eu teria coragem suficiente para deixar (talvez por um tempo) negócios, empresa ou trabalho? 3° - Quem manda nessa casa sou eu?". Que respostas você daria?

Sobre a primeira pergunta, a resposta do nosso professor José é "sim, eu me calaria" (cf.Mt 1,19). A segunda também é "sim, eu deixaria" (cf. Mt 13,55); e, diferente de muitos homens que têm orgulho de dizer "quem manda aqui sou eu!", ele disse: "Quem manda aqui é Deus. Eu e minha casa serviremos ao Senhor" (Js 24,15).

A família espera por pais livres das reações impulsivas, as quais são capazes de machucar aqueles que ama: "Se ficardes revoltados, não pequeis por vossa ira; meditai no vosso leito e calai o coração" (Sl 4,5).

O "vazio afetivo" que um pai ausente pode causar na sua casa nunca seria suficientemente preenchido por tudo aquilo que o seu dinheiro fosse capaz de comprar (liberdade diante dos bens). Por fim, descobre que a verdadeira liberdade que surge não quando se faz "o que eu quero", mas quando faço o que de Deus quer: "Fica lá até que eu te avise" (Mt 2,13).

Pronto! Concluímos o "curso para pais". Parabéns! Porém, mais importante e belo do que ter mais um curso no currículo da vida ou um certificado a mais para pendurar na parede, certamente será vê-lo realizar-se pouco a pouco, sentir que as letras deste texto tornaram-se vivas na sua vida, porque, ainda que não saiba quem o ensinou a ser pai, ainda que não saiba se o nome da sua esposa é Maria e se o do seu filho é Jesus (provavelmente não), ou mesmo o sobrenome da sua família, de uma coisa eu sei: o certificado mais importante que você vai receber será o de "Família Feliz". Seguindo como aluno dedicado as lições do "curso de pais", você será um homem de honra, um pai-herói e, certamente, um dos sobrenomes que sua família também terá: "Sagrada".


29 de dezembro de 2013

Eis o desafio!

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Viver bem cada coisa a seu tempo

Quando você deseja atravessar a rua e percebe que o sinal está vermelho, já sabe que precisa esperar. Se insistir em passar, pode até ganhar alguns mirrados segundos de tempo, mas coloca em risco o que tem de mais precioso, a própria vida. 


Uma criança que está sendo gerada, por mais esperada que seja, todo mundo sabe que o melhor é esperar seu tempo certo de nascer para que venha perfeita. Assim segue a história, afirmando com fatos que cada coisa é boa e proveitosa quando vivida no seu devido tempo. Mas se o tempo passa veloz, como podemos alcançá-lo para viver bem cada coisa? Eis o desafio! Na verdade, eu não sei se é a vida que está indo rápida demais ou se sou eu que estou meio lenta, mas o fato é que quase todos os dias constato que não deu tempo de fazer o que havia planejado, por mais que tente ajustar os horários. E, pelo visto, partilho este sentimento com muita gente.

Recentemente, eu estava indo apressada para a Missa quando Deus falou comigo sobre isso.

Costumo sair do trabalho e ir diretamente para a Celebração Eucarística, e o tempo é suficiente para o percurso. Porém, se algum imprevisto acontece, e isso é muito comum, "já era!". Terei de recuperar esse tempo andando, apressada e fazendo tudo que esteja ao meu alcance para não chegar atrasada, inclusive atravessar a rua com o sinal vermelho se perceber que não vêm carros na avenida. Acontece que, enquanto eu esperava, impacientemente, o sinal abrir, rodeada de pessoas apressadas como eu, ouvi, no coração, a voz suave e calma de Deus me dizer: "Prefiro que você não vá à Missa!".


Fiquei surpresa e tive dúvidas se era mesmo coisa de Deus, mas era sim. Após refletir e rezar, percebi o que desagradava o Senhor naquela situação. Não era o fato de eu chegar atrasada, mas sim de arriscar a vida atravessando a rua de maneira imprudente e viver correndo contra o tempo, até mesmo quando o assunto é oração. Depressa percebi que o Senhor não estava assim tão contente com minhas escolhas. Ele mostrou-me que preciso priorizar o que é realmente essencial e chamou-me de volta ao lugar de onde jamais devo sair: "Vinde a mim vós todos que estais cansados de carregar o peso de vosso fardo e Eu lhes darei descanso" (Mt 11, 28).

Quando permitimos que a pressa e a agitação nos dominem, naturalmente nos distanciamos de Deus e começamos a carregar sozinhos nosso próprio fardo. Não seria esta a razão de encontrarmos tanta gente cansada em nossos dias? Podemos ter metas e focar nossos esforços para alcançá-las, mas conscientes de que jamais vamos conseguir fazer tudo que almejamos, simplesmente porque somos pessoas humanas e limitadas, e não máquinas. Deus, naquela situação, deu-me a chance de recomeçar e eu estou tentando acertar meu passo com o compasso d'Ele. Acima de tudo, como é bonito perceber que Ele se interessa por nós! E se interessa muito mais por aquilo que somos diante d'Ele do que por aquilo que fazemos, mesmo que seja para Ele. Isso faz toda a diferença na vida quando temos fé.

Já foi dito que a felicidade é um dom que não se encontra no fim da estrada, mas está distribuída pelo caminho e se esconde nas coisas simples do dia a dia. Se passarmos a vida andando com muita pressa, sem tempo para olharmos ao nosso redor, correremos o risco de não encontrá-la e chegaremos ao fim da jornada com as mãos vazias e o coração cansado. E esta certamente não é a vontade de Deus para nenhum de nós. Portanto, calma! Por mais difícil que seja, é preciso desacelerar um pouco para não se perder no tempo nem viver as coisas com superficialidade.

Os antigos sábios ensinam que o segredo para uma vida feliz e plena é viver bem cada coisa a seu tempo, valorizando o presente a ponto de desfrutá-lo sem se preocupar com o minuto seguinte. Vamos tentar fazer esta experiência no dia de hoje?

Podemos começar agora mesmo, priorizando o que é essencial, neste instante, e colocá-lo em prática; no instante seguinte, faremos o mesmo. Sendo assim, poderemos viver um dia após o outro de maneira cada vez mais intensa, e nossa vida, certamente, será mais plena e feliz a partir deste instante que é o presente, pois é aqui onde Deus está. Ele não é alguém que foi ou que será, mas Aquele que é no momento presente.

Estamos juntos!


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Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

Dijanira Silva, missionária da Comunidade Canção Nova, atualmente reside na missão de São Paulo. Apŕesentadora da Rádio CN América (SP).


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13404

26 de dezembro de 2013

Tudo tem seu tempo

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A busca dessa sabedoria é tarefa de todos

Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu (cf. Eclesiastes 3, 1). Nesta máxima da sabedoria em Israel, fundamento da cultura grega presente no mundo judaico, bem localizado no horizonte cristão, vê-se o quão oportuna é a figura de um ancião que tem o intuito de instruir os jovens.

Há uma sabedoria que não pode ser esquecida sob pena de perder o verdadeiro sabor das coisas e dos sentidos adequados para a existência, provocando os desvarios absurdos que têm configurado a sociedade contemporânea. Concretizados em violência, corrupção, imoralidade, indiferença com a dor dos outros, perversidade; e ainda no entendimento da vida como disputa, na surdez para o grito dos pobres. Estes desvarios acontecem pela falta de sabedoria que pode estar ausente ou ser cultivada nas estratégias da governança moderna, nas especializações das ciências deste tempo, ou mesmo na aprendizagem dos processos formativos.

Essa sabedoria capacita corações e inteligências para o discernimento adequado, de modo que as escolhas configurem condutas à altura da dignidade humana em todos os níveis e na direção de cada pessoa, respeitada a sua singularidade.

A busca dessa sabedoria é tarefa de todos. Não se pode delegá-la, seja na família, nas instituições, nos variados contextos - ou eximir-se dessa missão. Os fluxos que configuram a cultura ocidental estão comprometidos. Impedem, lamentavelmente, por atos e escolhas, o cultivo permanente dessa sabedoria para equilibrar a vida e vivê-la dignamente desde a fecundação até a morte com o declínio natural. A vida de todos está o tempo todo por um fio. É resultado da falta de sabedoria de que tudo tem seu tempo - discernimento que modula a inteligência livrando-a dos desatinos da irracionalidade e preservando o sentido de limite, sem comprometer a liberdade e a autonomia.

No livro do Eclesiastes, capítulo terceiro, o ancião se empenha na tarefa de instruir os jovens. Insiste na compreensão que não pode ser substituída nem pela ciência e nem por estratégias.

Vale retomar sempre as indicações do sábio ancião: "Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de destruir e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar, tempo de abraçar e tempo de afastar-se dos abraços, tempo de procurar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amor e tempo de ódio, tempo de guerra e tempo de paz". Está indicado que a vida não pode ser vivida e conduzida sem essa sabedoria. Trata-se de um caminho longo na vivência do amor, na prática da justiça, na assimilação de valores, no exercitar-se no gosto de ser bom e de encantar-se com o outro.

As instituições todas, sobretudo a família, têm tarefas fundamentais nesse processo para tecer uma cultura ancorada na sabedoria. Se esse caminho não for percorrido, com urgência e perseverança, os desvarios da violência, das disputas, das agressões e da perda de sentido continuarão desfigurando instituições, culturas, modos de viver. Assim as vítimas, e também agentes, desse processo, serão especialmente os mais jovens.

Diante da atual realidade torna-se premente modular os corações e as culturas no horizonte dos valores que se revelam na pessoa de Jesus Cristo. A propósito de que tudo tem seu tempo, vivenciamos o momento propício para refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal. É preciso sabedoria para não se curvar diante de enfeites, de Papai Noel e de outros símbolos comerciais que parecem ofuscar Jesus Cristo, o Dom maior de Deus Pai para a salvação da humanidade.

É tempo de cultivar símbolos como o presépio, antiga tradição educativa que modelou corações no bem, cuja intuição sábia de São Francisco de Assis nos deixou como herança. É tempo de reavivar o coração na fé e nos valores que só o encontro com Cristo pode garantir.

Resgatando a inspiração de Francisco de Assis, a Arquidiocese de Belo Horizonte convida todos a reacenderem a chama do amor de Deus, fonte inesgotável da sabedoria que sustenta a vida.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=12131

24 de dezembro de 2013

O Encanto do Natal

Será que o Natal de nossa infância era mais "natalino" do que agora que somos adultos, mais "natal" do que nos dias de hoje? Haverá algum local em que o encanto e inocência do presépio tenha sido preservado, em grande parte? Vejamos:

Natal na Alemanha! É muito difícil dizer se em algum outro lugar soube- se cercar a data máxima da Cristandade com tanto encanto e afeto, diria mesmo, com tanta poesia.

Com efeito, a característica atmosfera do Natal, ou espírito natalino, possui profundas raízes na cultura alemã, a ponto de este povo ter em seu idioma uma palavra própria para expressá-la: Weihnachtsstimmung.natal_1.jpg

Tentar descrevê-la envolve não pequena dificuldade. O Natal, como o vivem os alemães, possui demasiado calor para exprimir-se nas frias linhas de um papel. Mas uma tentativa, embora tímida, certamente trará proveito para nossas almas cristãs, pois jamais se falará a respeito do doce nascimento de nosso Divino Salvador, sem que nossos corações sejam tocados por alguma graça.

Alguns Santos preparam o caminho

O ambiente natalino não brota de repente. Ele surge aos poucos, e começa a se fazer sentir em fins de novembro quando, nas cidades grandes e médias, as lojas montam suas decorações de fim de ano, pondo em evidência todos os artigos que possam servir para presentear os amigos e familiares, no grande dia.

A Liturgia e as festas populares guiam os corações rumo ao Natal.

Próximo ao Advento, comemoram-se os Santos cujas festas ajudam a preparar o caminho para a vinda do Menino Deus. Por exemplo, São Martinho de Tours, em 11 de novembro, muito festejado na linke Niederrheinufer (margem esquerda do Reno), uma região que se estende até a fronteira com a Holanda, onde se ergue o grande santuário mariano de Kevelaer. Essa é a ocasião do Martinsgans (Grande Banquete do Ganso), em memória do insigne Santo que, quando soldado romano, cortou com a espada a metade de seu manto e a deu a um pobre, o qual na realidade era o próprio Jesus. Em Kevelaer as crianças realizam uma procissão com a imagem desse Santo, levada sobre um cavalo. Portando lanternas, elas vão cantando: "Da oben beleuchten die Sternen, hierunter beleuchten wir uns... St. Martin, St. Martin" - "No alto, as estrelas nos iluminam, aqui embaixo nos ilumina São Martinho, São Martinho..." Depois, em 6 de dezembro, o dia do grande amigo das crianças, São Nicolau, o caridoso bispo que há cerca de 1500 anos ajudava os necessitados, na região onde hoje se localiza Bari. O comércio o transformou em São Nick, ou Santa Claus, o "Papai Noel" do Brasil, ou o Weihnachtsmann na Alemanha. Este ano, porém, alguns cristãos preocupados em manter o sentido original da caridade praticada pelo venerável Santo, difundiram adesivos com a mensagem: "Para mim, somente o original!" Visam, com isso, redescobrir aquele que para muitos ficou esquecido: São Nicolau.

E em 13 de dezembro se festeja cada vez mais o dia de Santa Luzia, conhecida no norte da Europa como a "Rainha da Luz". Na Suécia, por exemplo, este é o dia da família. Seguindo uma consagrada tradição, em cada lar a filha mais velha prepara um café da manhã especial, e o serve para toda a família, quando ainda estão todos na cama. Nesse ato, a jovem traja um vestido branco, com um largo cinturão vermelho, e porta sobre a fronte uma coroa feita de velas acesas.

Como "Rainha da Luz", ela traz alegria em uma escura manhã de dezembro.natal_2.jpg

Esse costume relembra um fato da vida de Santa Luzia, a intrépida menina de Siracusa que levava alimentos aos cristãos perseguidos. Segundo uma multissecular tradição, ela caminhava pelas tenebrosas catacumbas do século IV com velas acesas fixas em sua cabeça, únicamaneira de poder dispor das mãos para carregar os víveres. De acordo com o costume da época, usava um vestido branco. E o cinturão de tecido vermelho simboliza sua morte como mártir.

Música, mercados, pinheiros

Os domingos de Advento são recordados nas igrejas e nos lares com o Adventskranz (guirlanda do Advento), com as velas vermelhas, acesas à medida que passam os quatro domingos anteriores ao Natal.

Mas o espírito de Natal faz sentir realmente seu encanto, na Alemanha, com os Weihnachtsmärkte ou Christkindlmarkt (mercados de Natal, ou mercado do Menino Deus), que começam na última semana de novembro, em todas as grandes e médias cidades.

Os mais famosos e concorridos são os de Nürenberg, Frankfurt e München. Para visitar o de Nürenberg, a Deutsche Bundesbahn (Ferrovia Alemã) organiza saídas de trens especiais. Esses mercados natalinos são freqüentados particularmente nos fins de semana, por grupos inteiros de paróquias e famílias das redondezas. Nesses dias realizam- se programas musicais em torno da árvore de Natal.

Pequenos conjuntos musicais de instrumentos de sopro tocam peças natalinas nas praças ou nas vias de acesso, sendo premiados com moedas pelos assistentes, em menor ou maior medida, segundo a qualidade da música. Em Frankfurt, por exemplo, todos os anos, a orquestra de uma escola da cidade faz apresentações numa das principais estações de metrô. Em sua totalidade, os fundos arrecadados são destinados ao Hospital Infantil do Câncer. Conhecendo a nobre e caridosa intenção dos músicos estudantes, todos os transeuntes deixam muitas moedas. Algumas pessoas chegam mesmo a enternecer-se... Estes "mercados" localizam-se na zona antiga de cada cidade, como a Römerplatz de Frankfurt, ou a praça medieval do centro velho de Nürenberg.

Um dos mais famosos é realizado em München, na Marienplatz, a praça de Nossa Senhora, onde no alto de uma coluna está a Patrona Bavariae (Padroeira dos Bávaros), que foi visitada recentemente pelo Papa Bento XVI.

Em um dia previamente definido, coloca-se nesse local um pinheiro de gigantescas dimensões. Para estar de acordo com as proporções da praça, ele deve ter pelo menos cem anos! Geralmente, é um presente do Tirol austríaco, em cujas montanhas ainda se podem encontrar Tannenbäume (pinheiros) desse porte. Os jornais da região informam todos os dados de sua procedência: qual cidade o ofereceu de presente, fotos da instalação, o prefeito que o recebeu, e outros detalhes.natal_3.jpg

Sem demora, erguem-se em torno da magnífica árvore de Natal casinhas de madeira artisticamente decoradas, nas quais se vendemtodos os tipos de enfeites natalinos: imagens de anjos, bolas de vidro colorido caramelos, sininhos, soldadinhos de chumbo...

Cuida-se também do bem-estar corporal

Mas não só isso. Como em toda festa popular alemã, ali se aplica uma regra infalível: "Für das leibliche Wohl wird besorgt". Uma frase consagrada, cujo significado é: "Cuidar-se-á das necessidades do bem-estar corporal".

Ou, em outras palavras, "abundantes comes e bebes"... Não será perda de tempo conhecermos uma breve lista do que se podesaborear enquanto caem os flocos de neve: rum quente, Glühwein (vinho tinto quente, com especiarias), heiße Mandel (castanhas assadas), Lebkuchen und Spekulatius (bolachas e pequenos bolos, com especiarias), deliciosas salsichas ou Leberkäse (bolos de carne), acompanhados de Kartoffelsalat (salada de batatas), Kartoffelpuffer (panquecas de batata com purê de maçã), além das nossas tão conhecidas e apreciadas... pipocas.

A Römerplatz de Frankfurt conta com uma atração especial, encanto da criançada: um enorme e bem-decorado carrossel, com cavalinhos, cisnes e barquinhos que, ao som da música, sobem e descem sem parar. Mas não só crianças são atraídas pelo multicolorido brinquedo: já foram vistos sisudos homens de negócio, com sua pasta na mão, andarem nos cavalinhos como qualquer menino. Cativados pela atmosfera de Natal, deixam por um momento suas preocupações, para recordar os felizes dias da inocência infantil...

A apoteose dos sinos

Dois ou três dias antes do Natal, a Römerplatz precisa estar totalmente livre e limpa. A partir do dia 23 tem lugar o Glockengeläut: o toque dos sinos de todas as igrejas do centro de Frankfurt, que se prolonga durante meia hora, no fim do entardecer.natal_4.jpg

Nessas tardes, aparece nas ruas um gênero muito característico e genuíno do povo alemão, que não se faz notar, ou talvez não se manifeste tanto, em outras épocas no ano: o amante das boas tradições e da metafísica, o qual sabe apreciar aquilo que a pessoa não vê, mas sente no fundo do coração. Nunca esquecerei o olhar vivo de um homem alto, numa hora de Glockengeläut. Cruzou comigo, enquanto caminhava pela praça, e sorriu-me enlevado, durante o grande toque. Não pronunciou palavra alguma, mas seu olhar parecia dizer-me: "Não o conheço de nome, mas sei que seu coração agora bate em uníssono com o meu... e estou feliz de sentir a mesma alegria junto com você e todas as pessoas que aqui estão, neste ambiente maravilhoso".

O toque em conjunto começa com o sino da Paulskirche (Igreja de São Paulo); depois, como uma grande reação em cadeia, fazem-se ouvir os outros sinos. Alguns evocam a história da respectiva igreja, como, por exemplo, o da Liebfrauenkirche, onde se venera uma imagem da Imaculada Conceição milagrosamente preservada dos bombardeios aéreos que reduziram o centro de Frankfurt a um triste monte de ruínas, na II Guerra Mundial. Ou o da torre da Catedral de São Bartolomeu, também sobrevivente da mesma catástrofe.

Em determinado momento, quando os toques vão-se irradiando pela cidade, ouve-se distintamente o som do "Glorioso", como é chamado o sino principal da Catedral: dotado de proporções germânicas, ele pesa nada mais nada menos do que 25 toneladas, e sua poderosa "voz" supera a de todos os outros. Diante da Catedral, uma enorme multidão assiste, encantada e em silêncio, a essa apoteose dos sinos. O sol então já se pôs, vai entrando a noite. É mais um Natal que todos vão viver juntos. "Süßer die Glocken nicht klingen, als zu der Weihnachtszeit... " - "Os sinos nunca tocam tão docemente como no tempo de Natal..." (Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 48 à 51)

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23 de dezembro de 2013

Agir por amor


Conta-se que esta história se passou num acampamento para refugiados no coração da África. Havia ali muitas crianças feridas, abandonadas e sem esperança nenhuma de vida. Sofriam pela fome, sede e falta de afeto. A única atenção que recebiam era a dos missionários.

Certo dia, apareceu por ali um jornalista que fazia uma matéria sobre as guerras e os seus estragos. Foi ao acampamento e acompanhou o trabalho de irmã Lurdes durante um dia inteiro. À noite, já esgotado pelo cansaço, calor e, principalmente por ver tanto sofrimento e dor, o jornalista disse à missionária:

- Irmã, eu não faria o trabalho que a senhora faz nem que me dessem todo o dinheiro do mundo.

A irmã olhou para ele com ternura e respondeu:

- Eu também não. Não faria isso por dinheiro nenhum. Faço este trabalho por amor a Deus e a todos estes que sofrem.

Para refletir

Por amor, somos capazes de fazer as coisas mais difíceis do mundo como se fossem as mais fáceis. Por amor, somos capazes de realizar os maiores sacrifícios e superar todas as dificuldades. O amor nos modifica, nos humaniza e nos embeleza.

O amor nos dá força, nos anima, nos motiva, nos impulsiona a grandes feitos. Quando amamos a Deus e o nosso próximo verdadeiramente, somos capazes de nos doar a eles e assisti-los em todas as suas necessidades.

Pelo amor nos tornamos melhores e mais dignos. O amor transforma o ser humano. Invista no amor. O amor não custa nada, mas tem valor inestimável.

Até onde eu iria em nome do amor? Seria capaz de realizar grandes obras por amor a Deus e ao próximo? Que tipo de obras? O que já fiz motivado pelo amor gratuito? Olhando para a minha vida hoje, como vejo a influência do amor nas minhas atitudes? O que poderia fazer para permitir uma ação maior do amor na minha vida? Como as pessoas que convivem comigo poderiam ajudar?


Fonte: http://www.catequisar.com.br/mensagem/religiosa/msn_81.htm

21 de dezembro de 2013

É preciso ir ao encontro dos outros

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Como cristãos, não podemos mais nos isolar em nossas ilhas de conforto e bem-estar

Um dos maiores milagres, deste tempo de Natal, é o de criarmos em nós a capacidade de repensar e redescobrir valores que, ao longo do ano, foram deixados de lado ou roubados pela cultura do bem-estar individual. Nesta época do ano, somos mais família, solidários, falamos mais de amor e paz, de respeito ao próximo, porque, "no coração de cada homem e de cada mulher, habita o anseio de uma vida plena, que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros"1.


Entendemos que este sentimento de solidariedade e fraternidade, que nos invade no Natal, está dentro de nós, é uma vocação do homem. Mas por que este 'espírito natalino' não se torna algo efetivo, no nosso dia a dia, durante os outros 11 meses do ano?

O fato é que estamos mergulhados numa sociedade que já não constrói pontes entre seus semelhantes, pelo contrário, evidenciam-se, a cada dia, os abismos entre o "eu" e o "tu". Construímos muros cada vez mais altos ao redor de nossas casas, nos agrupamos, inseguramente, em condomínios que são verdadeiras fortalezas (ou prisões) de luxo, consumimos compulsivamente – agora sem sair de casa – para entorpecer nossas angústias interiores. Até ter filhos se tornou um peso associado ao 'custo x benefício', que pode prejudicar uma viagem para Cancun ou Paris, ou até mesmo a aquisição do carro do ano.

Parece que temos mais, vivemos mais, temos melhores condições e conforto, mas, existencialmente, nos sentimos fracassados, inseguros e infelizes. Como diz o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, "a certeza e a segurança das condições existenciais dificilmente podem ser compradas com os recursos da conta bancária". 2

Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco fez duras críticas ao que vem chamando de "cultura do descartável", reflexo desta sociedade individualista e materialista. Segundo Francisco, não há vida digna se cada homem e mulher não redescobrir a sua vocação à fraternidade e à comunhão, ou seja, não podemos falar de paz se não sairmos do nosso comodismo para cuidar de nossos irmãos mais necessitados. Toda guerra, toda injustiça e desigualdade social, segundo o Papa, têm a sua gênese na "rejeição radical da vocação de ser irmãos".

A fome, a desigualdade, a corrupção, o racismo, a violência, as drogas, tudo aquilo que desejamos extirpar da nossa sociedade, tem a sua fonte no meu e no seu individualismo. Sobre todos esses problemas sociais, questionou-nos o Papa Francisco quando veio ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude: "Você é o que lava as mãos e vira para o outro lado?" 

Esses discursos de Francisco contra a cultura do conforto e do individualismo nos ajudam a entender que não basta lutar contra a pobreza, contra a corrupção ou até fazer uma boa ação de Natal se não combatermos uma doença muito mais profunda no coração do homem moderno: o egoísmo. Para isso é preciso que coloquemos em prática o que o Pontífice tem chamado de "cultura do encontro".

Como cristãos, não podemos mais nos isolar em nossas ilhas de conforto e bem-estar, saindo de nosso comodismo apenas em épocas natalinas. O remédio para a doença do individualismo é o serviço ao próximo, "uma Igreja que se organiza para servir a todos os batizados e homens de boa-vontade", desde os que estão em nosso lar até os mais necessitados e marginalizados da sociedade. Para sermos felizes todos os dias do ano é preciso seguir o conselho do Mestre: "Há mais alegria em dar do que em receber" (At 20, 3).3



1 Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial pela Paz
2 BAUMAN, Zygmunt "Comunidade – a busca por segurança no mundo atual"
3 Discurso do Papa Francisco durante a Via-Sacra na Praia de Copacabana - JMJ
4 Discurso do Papa francisco ao Conselho do CELAM – 29/07/2013

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Daniel Machado
conteudoweb@cancaonova.com

Daniel Machado, missionário da Comunidade Canção Nova é estudanre de Psicologia, formado em Filosofia pelo Instituto Canção Nova de Filosofia e produtor do portal cancaonova.com.

twitter: @dancancaonova


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13399