9 de dezembro de 2013

As Imagens de Ozanam

Sabemos que “São” Frederico Ozanam sofreu muito nos últimos 06 anos de sua de sua vida, devido a um problema renal que acabou levando-o a morte.

Essas duas imagens mostram bem a fisionomia deste “santo”, que mesmo sentindo fortes dores não desistiu de assistir aos mais carentes e de aumentar a rede de caridade com que sonhou desde o início da Sociedade de São Vicente de Paulo.

Que essas duas imagens sirvam para nos mostrar a dedicação e perseverança do nosso fundador e também estímulo para nós em nossa caminhada vicentina.

Figura 01


Tudo bem com ele. Semblante Alegre.

Figura 02


Após vários meses com problema renal. Semblante Carregado.

 

Se tudo isso faz sentido pra você, confrade e consocia, vamos juntos confiar na SANTIDADE DESSE CARA. A Igreja somente santificará, santos com devoção popular. Confie em “São” Frederico Ozanam e peça a sua interseção.

Fiquem todos com Deus.

Cfd Mago Rabelo

Deus, onde estás?

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No Natal, muitos se lembram do Papai Noel, mas se esquecem de Jesus

Em tempos de Advento, de preparação para as festividades do Natal, do nascimento de Jesus Cristo, fica uma pergunta que provoca nos cristãos certa perplexidade: "Onde estás?" (Gn 3,9). Onde está Jesus Cristo dentro do contexto natalino, se Ele não é mais o foco a ser celebrado? As atenções não se voltam mais para a espiritualidade cristã.


Os dados da cultura revelam, tendo em conta os inúmeros erros cometidos, que as pessoas se escondem de Deus. Elas fazem de tudo para anulá-Lo, porque Sua presença implica responsabilidade, cobrança e seriedade na realização das coisas. A presença do Senhor é entendida como aquilo que dificulta o uso da liberdade, por não poder agir de qualquer jeito.

Não é muito diferente no Natal. Jesus Cristo tem sido menos conhecido e menos citado como o Menino de Nazaré do que a imagem comercial do Papai Noel. Não importa o coração, a transformação interior e uma espiritualidade renovada, mas o envolvimento do comércio, o faturamento e o presente material como preocupação primeira.

Eliminando Jesus Cristo do Natal, aumentamos a distância entre o Criador e a criatura. Com isso, as pessoas tornam-se donas de si mesmas, tendendo a se tornarem deusas para si. Assim, pode cair por terra toda dimensão ética, o senso de responsabilidade em relação aos outros e à própria natureza. É a perda de referenciais.

Deus, onde estás? Era a preocupação dos antepassados, vendo n'Ele a realização de um projeto, tendo as pessoas como seus colaboradores. É um projeto que continua, hoje, e reflete as ações da cultura, da ciência e do desenvolvimento da sociedade. Mas o Autor do projeto tem sido pouco percebido e até forçado a estar distante para não dificultar.

No espírito do Natal, todos nós somos chamados a um caminho de perfeição, de sintonia com aquilo que é capaz de proporcionar felicidade completa. Isso, dificilmente, vai acontecer sem assentimento e confiança em Deus. É uma conquista, com grande determinação, seguindo o exemplo de muitos na doação de vida.

Dom Paulo Mendes Peixoto 

4 de dezembro de 2013

Amar é construir alguém querido

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O amor, quando autêntico, é capaz de superar tudo

Normalmente, é no próprio círculo de amizades e nos ambientes de convívio que os namoros começam. Para namorar, você precisa procurar alguém nos lugares onde as pessoas vivem os mesmos valores que são importantes para você. Se você é cristão, então, procure uma pessoa entre famílias cristãs, ambientes cristãos, grupos de jovens etc.


O namoro começa com uma amizade, a qual pode ser um "pré-namoro" que vai evoluindo. Não mergulhe de cabeça num namoro, só porque você ficou "fisgado" pelo outro. Não vá com muita sede ao pote, porque você pode quebrá-lo.

Nunca se esqueça de que o mais importante é "invisível aos olhos".

Aquilo que você não vê - o caráter da pessoa, a sua simpatia, o seu bom coração, a sua tolerância com os outros, as suas boas atitudes etc. - são coisas que não passam, o tempo não pode destruí-las. 

A sua felicidade não está na cor da sua pele, no tipo do seu cabelo nem na altura do seu corpo, mas na grandeza da sua alma. Ao escolher o namorado, não se prenda apenas à aparência física, mas desça até as profundezas da alma dele e busque lá os seus valores. Há uma velha música, dos meus tempos de garoto, que dizia assim: "Quem eu quero não me quer, quem me quis mandei embora; por isso já não sei o que será de mim agora".

Será que você não "mandou embora" quem, de fato, o amava e poderia tê-lo feito feliz? Lembre-se: paixão não é amor. Se você encontrou uma pessoa que satisfaça os valores "mais essenciais", não seja muito exigente naquilo que é secundário. Você terá de aprender a ceder em alguns pontos, repito, não essenciais.

Há um ditado que diz: "Quem tudo quer, tudo perde". Se você for "hiperexigente", poderá ficar só. Muitas vezes, aquele que escolhe muito acaba sendo o último contemplado. Não force um namoro quando o outro não o quer. Se você forçar a situação, o relacionamento não será maduro nem duradouro. Não tente "segurar" o seu namorado junto de você pelo sexo ou por meio de outras chantagens. Namoro não é momento de viver a vida sexual. Espere o casamento.

Certa vez, o Governo fez uma campanha para reduzir o número de acidentes de automóveis e usou este "slogan": "Não faça do seu carro uma arma, a vítima pode ser você!". Posso plagiar esta frase e lhe dizer com toda a segurança: "Não faça do seu corpo uma arma, a vítima pode ser você!".

Ao escolher com quem namorar, não deixe de lado alguns aspectos como idade, nível social e cultural, situação financeira, religião etc.

Uma diferença de idade muito grande entre ambos pode ser uma dificuldade séria, especialmente se a mais idosa for a mulher. O amor, quando é autêntico, é capaz de superar tudo, mas isso será uma pedrinha a mais no sapato dos dois.

A diferença de nível social e financeiro também pode ser uma dificuldade a mais, mesmo que possa ser vencido por um amor autêntico entre ambos.

Um rapaz culto e estudado pode ter sérias dificuldades para relacionar-se com uma moça sem estudos. Também a diferença de religião deve ser evitada, pois será um entrave para o crescimento espiritual do casal; especialmente na hora de educar os filhos. Na hora de escolher alguém, você precisa ter claro os valores fundamentais para a sua vida toda.

Há coisas que são mutáveis, mas outras não o são.Você pode ajudar sua namorada a estudar e chegar ao seu nível cultural – e isso é muito bonito –, mas será difícil fazê-la mudar de religião se ela for convicta da fé que recebeu dos pais.

O namoro existe para que você perceba essas coisas e jamais reclame que se casou enganado. Isso ocorre com quem não leva o namoro a sério. Se você não namorar bem hoje, não reclame, amanhã, de ter se casado mal ou com quem não deveria; a escolha será sua.

Sobretudo, lembre-se de que você nunca encontrará alguém perfeito para namorar, mesmo porque "amar é construir alguém querido, não querer alguém já construído."

Texto extraído do Livro – Namoro

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Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

Prof. Felipe Aquino @pfelipeaquino, é casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos". Saiba mais em Blog do Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13374

2 de dezembro de 2013

Orientações da Igreja aos casais de segunda união

Na Exortação Apostólica do Papa João Paulo II, a "Familiaris Consortio" (Sobre a Família), o saudoso Papa polonês deixou orientações claras, da Igreja, sobre esses casais. São pessoas divorciadas que contraíram nova união fora da Igreja. 

O Pontífice pediu que eles "não se considerem separados da Igreja, podendo, e devendo, enquanto batizados, participar na sua vida. Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorarem, dia a dia, a graça de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança" (n.83). São palavras claras.

Mas o Santo Padre deixa claro o seguinte: "A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à Comunhão Eucarística os divorciados que contraíram nova união. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio".

E explicou que só poderiam se confessar e comungar, "quando o homem e a mulher, por motivos sérios - por exemplo, a educação dos filhos - não se podem separar, «assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cônjuges». João Paulo II proíbe os pastores, por qualquer motivo ou pretexto, mesmo pastoral, de fazer, em favor dos divorciados que contraem uma nova união, cerimônias de qualquer gênero, porque estas dariam a impressão de celebração de novas núpcias sacramentais válidas, e consequentemente induziriam em erro sobre a indissolubilidade do matrimonio contraído validamente. E termina afirmando que "mesmo aqueles que se afastaram do mandamento do Senhor e vivem agora nesse estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação se perseverarem na oração, na penitência e na caridade".

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) repete esta mesma orientação nos parágrafos 1651 e seguintes. O Papa Bento XVI confirmou esse ensinamento. Esses casais podem e devem verificar se o primeiro casamento deles foi válido. Se for o caso podem entrar com a Petição no Tribunal da Igreja para solicitar a Declaração de Nulidade de seus casamentos. Muitas são as razões que podem levar o Tribunal a declarar a nulidade de um casamento. Como recomendou o Papa João Paulo II esses casais não devem se afastar da Igreja, e devem pedir a Deus, sem cessar, a graça de resolverem essa situação. E que as comunidades os ajudem.

Felipe Aquino

29 de novembro de 2013

Como superar a depressão?

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A fé dá sentido a nossa existência

Hoje, há uma forte tendência ao aparecimento da depressão. Muitos são os fatores que causam esta patologia. Em qualquer caso, faz-se necessária uma ajuda terapêutica. Em muitos casos, é necessária a ajuda de medicamentos. Depressão é um sintoma do nosso tempo. Pode ser que ela sempre tenha existido em outros tempos, contudo, recebia outros nomes e outros diagnósticos.


Não cabe aqui apresentarmos um relato clínico da depressão. Esta tarefa cabe a um profissional da área médica. Contudo, gostaria de conversar com você sobre a depressão a partir de uma perspectiva espiritual. É preciso deixar claro que não pretendo dizer ou afirmar que a causa do processo depressivo seja a área espiritual, mas a espiritualidade pode colaborar no processo de tratamento do depressivo.

Somos um todo. Sabemos que o ser humano não é visto mais como um ser fragmentado. Tudo aquilo que vivenciamos produz em nosso ser uma resposta positiva ou negativa. Neste totalitário que somos, a espiritualidade está inserida. E a maneira como a vivenciamos afeta todo o nosso ser e, consequentemente, nossa vida.

A fé dá sentido à nossa existência. Hoje, o ser humano tem sede de uma vivência espiritual profunda em sua vida. Na maioria dos casos, quando alguém diz que está com depressão e é questionado sobre a sua vivência espiritual, esta pessoa diz: "Não tenho nenhuma vivência espiritual", "Não participo de nenhuma Igreja", "Faz muito tempo que não faço orações", "Não tenho nenhum relacionamento com Deus". Essas respostas são seguidas das seguintes afirmações: "Estou sentido um vazio em meu coração", "Minha vida não tem sentido", "Não consigo sentir Deus perto de mim", "Ninguém gosta de mim", "Queria morrer, porque não faria falta para ninguém". Outras afirmações ainda presentes: "Não consigo me amar", "Não deveria ter nascido".

Não quero afirmar que essas respostas e afirmações de quem passa por um momento depressivo seja a causa da depressão. A raiz pode estar em outros setores da vida, os quais podemos comentar em outra ocasião.

Esse vazio interior, alegado por um grande número de pessoas depressivas, pode ser desencadeado por inúmeros fatores. Do ponto de vista espiritual, o vazio interior pode ser ocasionado pela falta da presença de Deus. E quando me refiro a essa "falta", não estou afirmando que o Senhor não esteja junto da pessoa. Deus está sempre conosco, mas nós estamos sempre com Ele? Esta é uma grande questão espiritual que necessita de uma resposta clara e verdadeira de quem enfrenta um quadro depressivo.

A oração abre nossa alma para percebermos a presença de Deus em nossa vida. A participação na vida de comunidade nos coloca em contato com outras pessoas que se unem a nós, para que, juntos, nos alimentemos do Pão da Palavra e da Eucaristia. A Eucaristia, o próprio Cristo, devolve-nos o sentido da vida. O relacionamento com o Senhor só é despertado em nós quando tomamos consciência de que somente Ele pode preencher o vazio que carregamos em nosso coração. Santo Agostinho já afirmava: "Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em ti".

Superar o processo depressivo depende, em grande parte, da pessoa que sofre essa patologia. No entanto, a espiritualidade é uma forte aliada neste processo de superação. Afinal, no todo que somos Cristo está presente.

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Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialpadreflavio
www.padreflaviosobreiro.com


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13274

27 de novembro de 2013

A reforma da Igreja

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Algo que vai muito além da mera atualização de suas estruturas

"Diante das últimas declarações de Papa Francisco, que deixaram alarmados os católicos de sólida formação, não cínicos antipapas de ontem nem fanáticos papistas de hoje, pensamos ser útil dar umas poucas ideias. É muito difícil emitir um juízo sobre as intenções do Papa. Pelo tamanho das 'derrapadas doutrinais', parece-nos que se trata mais de pouca inteligência misturada com a típica loquacidade 'achista' episcopal latino-americana, potencializada pelo próprio idealismo pauperista e espiritualista tão agradável à opinião pública, e certo surto de populismo ansioso, desejoso de aparecer e ganhar espaço nas manchetes".


O desairoso comentário não foi emitido por ateus anticlericais, mas por dois padres católicos, que não hesitaram em publicar seu artigo e assinar seus nomes num site religioso. É provável que o tenham feito por não concordarem com os propósitos renovadores do Papa Francisco, expressos em inúmeros gestos considerados contestatórios, de acordo, aliás, com sua convicção mais vezes repetida: «Estou decidido a cumprir com o mandato que me foi confiado. Tenho a humildade e a ambição de querer fazê-lo».

As críticas dos padres demonstram que, para acolher a novidade trazida pelo Evangelho, não apenas os leigos, mas também suas lideranças precisam da sabedoria do coração, que só vinga em pessoas que colocam o bem da Igreja e da humanidade acima de seus interesses e traumas. Foi o que advertiu o próprio Jesus: «É inútil colocar vinho novo em barris velhos: os barris se arrebentam, o vinho se derrama e os vasilhames se perdem. Vinho novo se põe em barris novos, pois ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo. Para ele, o velho é melhor» (Lc 5,37-39). A grande tentação do cristão é tentar conciliar o "novo" do Evangelho com esquemas mentais mundanos. Quando isso acontece, ele prefere ficar com o vinho velho, pois o novo exige um desapego heroico das falsas seguranças construídas ao longo dos anos e uma fé inquebrantável no projeto de Deus.

O que o Papa Francisco entende por reforma da Igreja pode ser avaliado a partir da homilia que proferiu na Casa Santa Marta, no dia 7 de outubro: «O Evangelho nos fala de um homem semimorto, estendido na estrada. Um sacerdote percorre o mesmo caminho – um sacerdote digno, com barrete e tudo! Olha e pensa: "Não posso parar. Vou chegar tarde à Missa". E foi embora. Não ouviu a voz de Deus. Em seguida, passa um levita, que, talvez, raciocina consigo mesmo: "Se eu toco neste homem, que pode estar morto, amanhã serei chamado pelo juiz para testemunhar". E foi embora. Ele também fugiu da voz de Deus. Somente um pecador, um samaritano, alguém distante de Deus, foi capaz de cuidar daquele homem e levá-lo a um albergue. Perdeu a noite toda atrás do ferido. O sacerdote chegou a tempo para a Missa, e todos os fiéis ficaram contentes. O levita teve um dia tranquilo, de acordo com o que tinha pensado, sem aquela maçada de se envolver com a justiça».

A reforma da Igreja vai muito além da mera atualização de suas estruturas. Ela se concretiza numa fé e numa espiritualidade que demonstram o amor de Deus pela humanidade. Por isso, uma Igreja que atrai, motiva e converte pela compreensão e benevolência de seus pastores, jamais pela imposição e prepotência. É o que lembrou o Cardeal João Braz de Aviz, em entrevista a uma revista brasileira, no mês de setembro: «Precisamos de uma Igreja próxima do povo, formada não de classes, mas de irmãos. Os conceitos de autoridade e de obediência devem mudar e se adaptar: não o valor da obediência e da autoridade em si, mas a maneira de entendê-las e exercê-las. Há muito autoritarismo na Igreja, que é pura dominação. Autoridade não é colocar uma pessoa acima da outra. Autoridade é de irmãos que têm missões diferentes: quem manda e quem obedece estão no mesmo nível».

Por fim, para ser duradoura e eficaz, a reforma da Igreja exige que seus filhos saibam viver a espiritualidade na normalidade da vida. «A graça supõe a natureza», diziam os antigos escolásticos. É a conclusão a que chega também Dom João: «Não podemos passar um verniz de misticismo e de espiritualidade sobre a imaturidade humana. Se não conseguirmos desenvolver os valores humanos, será muito difícil integrar e vivenciar a fé».


Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)

E-mail para contato: redovinorizzardo@gmail.com


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13371

26 de novembro de 2013

A mais longa viagem: rumo ao próprio coração

Observava o grande conhecedor dos meandros da psiqué humana C.G. Jung: a viagem rumo ao próprio Centro, ao coração, pode ser mais perigosa e longa do que a viagem à lua. No interior humano habitam anjos e demônios, tendências que podem levar à loucura e à morte e energias que conduzem ao êxtase  e à comunhão com o Todo.

Há uma questão nunca resolvida entre os pensadores da condição humana: qual é a estrutura de base do ser humano? Muitas são as escolas de intérpretes. Não é o caso de sumariá-las.

Indo diretamente ao assuto diria que não é a razão como comumente se afirma. Esta não irrompe como primeira. Ela remete a dimensões mais primitivas de nossa realidade humana das quais se alimenta e que a  perpassam em todas as suas expressões. A razão pura kantiana é uma ilusão. A razão sempre vem impregnada de emoção, de paixão e de interesse. Conhecer é sempre um entrar em comunhão interessada e afetiva com o objeto do conhecimento.

Mais que idéias e visões de mundo, são paixões, sentimentos fortes, experiências seminais que nos movem e nos põem marcha. Eles nos levantam, nos fazem arrostar perigos e até arriscar a própria vida.

O primeiro parece ser a inteligência cordial, sensível e emocional. Suas bases biológicas são as mais ancestrais, ligadas ao  surgimento da vida, há 3,8 bilhões de anos, quando as primeiras bactérias irromperam no cenário da evolução e começaram a dialogar quimicamente com o meio para poder sobreviver. Esse processo se aprofundou a partir do momento em que, há milhões de anos, surgiu o cérebro límbico dos mamíferos, cérebro portador de cuidado, enternecimento, carinho e amor pela cria, gestada no seio desta espécie nova de animais, à qual nós humanos também pertencemos. Em nós ele alcançou o patamar autoconsciente e inteligente, Todos nós esamos  vinculados a esta tradição primeva.

O pensamento ocidental, logocêntrico e antropocêntrico, colocou o afeto sob suspeita, com o pretexto de prejudicar a objetividade do conhecimento. Houve um excesso, o racionalismo, que chegou a produzir em alguns setores da cultura, uma espécie de lobotomia, quer dizer, uma completa insensibilidade face ao sofrimento humano e dos demais seres e da própria Mãe Terra. O Papa Francisco em Lampedusa face aos imigrados africanos criticou a globalização da insensibilidade, incapaz de se compadeer e de chorar.

Mas, podemos dizer que a partir do romantismo europeu (com Herder, Goethe e outros) se começou resgatar a inteligência sensível. O romantismo é mais que uma escola literária. É um sentimento do mundo, de pertença à natureza e da integração dos seres humanos na grande cadeia da vida (Löwy e Sayre, Revolta e melancolia, 28-50).

Modernamente o afeto, o sentimento e a paixão (pathos) ganharam centralidade. Esse passo é hoje imperativo, pois somente com a razão (logos) não damos conta das graves crises por que passa a vida, a Humanidade e  a Terra. A razão intelectual  precisa integrar a inteligência emoconal sem o que não construíremos uma realidade social integrada e de rosto humano. Não se chega ao coração do coração sem passar pelo afeto e pelo amor.

Um dado entretanto, cabe ressaltar entre outros importantes, por sua relevância e pela alta tradição de que goza: é a estrutura do desejo  que marca a psiqué humana.         Partindo de Aristótles, passando por Santo Agostinho e pelos medievais como  São Boaventura( chama a São Francisco de vir desideriorum, um homem de desejos), por Schleiermacher, Max Scheler nos tempos modernos e culminando em Sigmund Freud, Ernst Bloch e René Girard nos tempos mais recentes, todos afirmam a centralidade da estrutura do desejo.

O desejo não é um impulso qualquer. É um motor que dinamiza e põe em marcha toda a vida psíquica. Ele funciona como um princípio, traduzido tambem pelo  filósofo Ernst Bloch por princípio esperança.  Por sua natureza, o desejo é infinito e confere o caráter infinito ao projeto humano.

O  desejo torna dramática e, por vezes, trágica a existência. Mas também, quando realizado, uma felicidade sem igual. Por outro lado, produz grave desilusão quando o ser humano identifica uma realidade finita como sendo o objeto infinito desejado. Pode ser a pessoa amada, uma profissão sempre ansiada, uma propriedade, uma viagem pelo mundo ou uma nova marca de celular.

Não passa muito tempo e aquelas realidades desejadas lhe parecem ilusórias e apenas fazem aumentar o vazio interior, grande do tamanho de Deus. Como sair deste impasse tentando equacionar o infinito do desejo com o finito de toda realidade? Vagar de um objeto a outro, sem nunca encontrar repouso? O ser humano tem que se colocar seriamente a questão: qual é o verdadeiro e obscuro objeto de seu desejo? Ouso responder: este é o Ser e não o ente, é o Todo e não a parte, é o Infinito e não o finito.

Depois de muito peregrinar, o ser humano é levado a fazer a experiência do cor inquietum  de  Santo Agostinho, o incansável homem do desejo e o infatigável  peregrino do Infinito. Em sua autobiografia,  As Confissões  testemunha com comovido sentimento:

Tarde  te amei,  ó Beleza tão antiga e tão nova.Tarde  te amei.Tu me tocaste e eu ardo de desejo de tua paz. Meu coração inquieto não descansa enquanto não respousar em ti (livro X, n.27).

Aqui temos  descrito o percurso do desejo que busca e encontra  o seu obscuro objeto sempre desejado, no sono e na vigíla. Só o Infinito se adequa ao desejo infinito do ser humano. Só então termina a viagem rumo ao coração e começa o sábado do descanso  humano e divino.

Leonardo Boff é teólogo e filósofo e escreveu Tempo de Transcendência: o ser humano como  projeto infinito,  Vozes 2002.


Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/11/25/a-mais-longa-viagem-rumo-ao-proprio-coracao/