11 de novembro de 2013

O pecado venial

8 de novembro de 2013

A importância da cura interior

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Uma chave para a cura total da pessoa

Em resposta àquilo que Jesus e a Igreja fazem por nós, duas ações devem ser realizadas. Jesus, primeiro, foi a todas as cidades e aldeias da Galileia, e a todos os lugares para pregar a Boa Nova a todas as pessoas. Jesus também disse para os seus irem a todos para lhes conceder cura e libertação e, se precisassem, também cura espiritual e cura física.


A cura interior profunda é muito importante e necessária para que sejam descobertas e sanadas as fontes mais significativas de todos os males que nos afligem. Muitas vezes, a pessoa não consegue cura espiritual, sem antes passar por uma cura interior; caso contrário, permanece naquilo que chamamos de hábitos compulsivos de pecar. Com frequência, por exemplo, um viciado em drogas não receberá cura a menos que seja curado interiormente das causas que o levaram ao vício da droga. 


Satanás condena; Jesus cura. A cura interior é uma espécie de chave para a cura total da pessoa. Da mesma forma, sem a cura interior, não é possível ser curado de doenças físicas, tampouco experimentar a libertação. Deus quer que sejamos totalmente curados. São Paulo diz, na Carta aos Tessalonicenses, que Deus não nos quer curados parcialmente, mas por completo; não superficialmente, mas em profundidade. Ele nos quer perfeitos em corpo, mente e alma. "Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso" (Mt 11,28).


No entanto, vale ressaltar que a cura física é a menos importante. Já ouviu falar sobre Helen Keller? Ela era cega, surda e muda, mas foi uma das grandes filósofas do século passado. Qunado damos muita ênfase à cura física, isso não vem de Deus. Jesus disse: "É melhor entrares na vida tendo só uma das mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga" (Mc 9,43). Você já ouviu isso? Eis o motivo pelo qual Jesus não afirmou: "Vinde a mim você que quer cura física". Isso não é o mais importante, mas sim a cura espiritual, a experiência de perdoar todos os pecados, como o que acontece no sacramento da confissão, para que possamos experimentar o "poder perdoador" de Deus, o abraço do Pai.

A importância da cura interior se deve também às limitações da medicina e da psiquiatria. Acreditamos que a cura aconteça por meio da medicina e da oração, mas quando nos deparamos com os limites de ambas, então é Deus que vem e ultrapassa esse conhecimento. Todos os dias, encontro pessoas que me relatam a incapacidade dos médicos de fornecer um diagnóstico preciso.

No processo de cura interior, nada pode ser desvalorizado, tudo deve ser levado muito a sério, pois disso depende uma vida de plena liberdade.


Padre Rufus Pereira 


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6 de novembro de 2013

O sentido da vida

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Por que estamos aqui?

O sentido da vida sempre preocupou a humanidade. Por que vivo? Qual a razão da vida? Qual o objetivo de viver? O grande filósofo grego Aristóteles já perguntava: "Por que estamos aqui?".


Mary Roberts Rinehart disse sobre o sentido da vida: "Um pouco de trabalho, um pouco de sono, um pouco de amor e tudo acabou". Edmund Cooke afirmou: "Nunca vivemos, mas sempre temos a expectativa da vida". William Colton: "A alma vive aqui como numa prisão e é liberta apenas pela morte". Douglas R. Campbell: "Viver é um corredor empoeirado, fechado de ambos os lados". Antoine de Rivarol: "Viver significa pensar sobre o passado, lamentar sobre o presente e tremer diante do futuro". Charles Chaplin: "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, dance, ria e viva intensamente cada minuto de sua vida, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". O célebre William Shakespeare: "Viver é uma sombra ambulante".

Será que todas essas não são afirmações bastante amargas e desanimadoras sobre o sentido da vida? Parece que todos falam apenas de existir e não de viver verdadeiramente.

Nosso Senhor Jesus Cristo tocou no âmago da questão ao afirmar: "Eu sou a Vida" (Jo 14,6). Por isso, o apóstolo São Paulo escreveu sobre o sentido da sua vida: "Portanto, para mim o viver é Cristo" (Fl 1,21). Por essa razão tamém, o apóstolo São João começou sua primeira epístola com as palavras: "O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada)" (1 Jo 1,1-2). 


Na tormenta da vida muita gente se questiona: "Qual o significado da vida quando ela se torna amarga e cruel?". Sem Jesus Cristo a vida é efêmera, superficial, marginal, virtual e infernal. A vida sem a fé e a graça de Cristo é toda tomada pelas trevas. O mundo engana a vida com falsos prazeres e o resultado é o máximo do "sucesso vazio" e do "esquecimento". Tudo se esvai no final como areia entre os dedos. Por isso, dê ouvidos à voz do Senhor Jesus, que resume o sentido da vida numa única frase: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17,3).


O vice-diretor do L'osservatore Romano, Carlo Di Circo, escreve: "O Papa Francisco nos exorta a aprender a discernir os acontecimentos da vida e as respostas mais apropriadas para curar. O Papa Francisco impele a Igreja a respirar o Evangelho, afirmando no serviço pastoral o primado da misericórdia".

Ensina o Papa Francisco: "Uma bela homilia, uma verdadeira homilia, deve começar com o primeiro anúncio da salvação. Depois, deve fazer-se uma catequese, mas o anúncio do amor salvífico de Deus precede a obrigação moral e religiosa". "Os ministros da Igreja devem ser misericordiosos. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado". "Temos necessidades de reconciliação e de comunhão; e a Igreja é uma casa de comunhão" (L'osservatore Romano, 29/09/2013, pp.18,19 e 24).

Realmente, precisamos de sacerdotes que façam o povo encontrar o real e o sagrado sentido da vida no teor de homilias tomadas de paixão, bondade e salvação das almas! O verdadeiro sentido da vida está na misericórdia do Bom Pastor!

Com certeza, o nosso povo quer sacerdotes educados, amorosos, prestativos, mansos, humildes, samaritanos, santos e etnólogos.

 

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Padre Inácio José do Vale
pe.inacio.jose@gmail.com

 

Padre Inácio José do Vale é professor de História da Igreja no Instituto de Teologia Bento XVI (Cachoeira Paulista). Também é sociólogo em Ciência da Religião.


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4 de novembro de 2013

Um local misterioso entre o Céu e a Terra

1 de novembro de 2013

O lado de lá e o lado de cá

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Nossa morte e nosso céu se constroem no dia a dia

O calendário da Igreja nos oferece, neste final de semana, duas faces da magnífica medalha cunhada por Deus, que é a nossa vida, o Dia de todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis falecidos. Olhamos primeiro para o ponto de chegada, que corresponde ao magnífico destino para o qual fomos criados: a plenitude da vida e da felicidade junto de Deus, "uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar" (Ap 7, 9). Temos a certeza de que Ele não fez ninguém para a perdição, todos têm em si a vocação para a plena realização de todas as suas potencialidades. Tanto é verdade que o Pai do Céu enviou o próprio Filho, como nosso Salvador e Redentor, para que todos tenham vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10).


Vida plenamente humana é aquela que enxerga o horizonte aberto pelo próprio Deus. A Solenidade de todos os Santos indica a perspectiva da existência marcada por uma realidade descoberta pela fé: "Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é" (1 Jo 3,2).

Santidade é para todos! Se nos alegramos com a iminente canonização de dois Papas do nosso tempo, os Beatos João XXIII e João Paulo II, é para que sejam reconhecidos como referência e como possibilidade. São duas personalidades carregadas de humanidade, cujo percurso histórico nesta terra teve muito de parecido conosco. São homens que vieram de famílias muito simples, lutaram e amadureceram em tempos de desafios grandes, com a provocação das ideologias do século XX. Souberam dialogar com a cultura de nossa época, alegraram-se e sofreram com as mesmas realidades que até hoje nos envolvem.

Percorreram o caminho dos bem-aventurados, de olhos fixos n'Aquele que é "O Bem-aventurado", Jesus Cristo: os pobres em espírito, dos quais é o Reino dos Céus; os aflitos, que serão consolados; os mansos, porque possuirão a terra; os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; os misericordiosos, que alcançarão misericórdia; os puros de coração, porque verão a Deus; os que promovem a paz, chamados filhos de Deus; os que são perseguidos por causa da justiça, de quem é o Reino dos Céus! Homens e mulheres que se descobriram felizes quando injuriados e perseguidos por causa de Cristo. Pessoas portadoras de uma alegria invencível, certos da recompensa nos céus (Cf. Mt 5, 1-12). 


A santidade, vocação universal dos cristãos, começa com coisas simples. João XXIII registrou, em seu diário íntimo, um caminho bom para todos, adequado para uma festa de Todos os Santos bem vivida, chamado "Decálogo da serenidade": 1. Procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, exclusivamente neste dia, sem querer resolver todos os problemas da minha vida de uma só vez; 2. Hoje, apenas hoje, procurarei ter o máximo cuidado na minha convivência, cortês nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar ou corrigir à força ninguém, senão a mim mesmo; 3. Hoje, apenas hoje, serei feliz. Na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo, mas também já neste; 4. Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias, sem pretender que sejam todas as circunstâncias a se adaptarem aos meus desejos; 5. Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, recordando que assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, a boa leitura é necessária para a vida da alma; 6. Hoje, apenas hoje, farei uma boa ação, e não direi a ninguém; 7. Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custe fazer, e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba; 8. Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado. Talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos o escreverei, e fugirei de dois males, a pressa e a indecisão; 9. Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente, embora as circunstâncias mostrem ao contrário, que a Providência de Deus se ocupa de mim, como se não existisse mais ninguém no mundo; 10. Hoje, apenas hoje, não terei nenhum temor, de modo especial não terei medo de gozar o que é belo, e de crer na bondade.


A santidade que começa com muita simplicidade, é destinada a fazer o bem aos outros. Não é feita para aparecer, não se incha de orgulho. Sua motivação de fundo é a caridade, sem a qual nada vale neste mundo. Até porque é apenas a caridade que será levada para o encontro definitivo com Deus, "o lado de lá", quando veremos face a face o Senhor. Ela é uma aventura feliz e bem-sucedida, construída no dia a dia e unificada pelo fio de ouro do amor de Deus, que nos faz ver o sentido de tudo o que vivemos. De fato, tudo concorrerá para o bem dos que amam a Deus (Cf. Rm 8, 29)! O Livro do Apocalipse vê uma imensa multidão, de toda língua, raça, povo e nação, "os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro" (Cf. Ap 7, 2-14).

O "lado de lá" é preparado pelo "lado de cá" bem vivido, com o qual os homens e as mulheres se preparam para a páscoa pessoal, enfrentando todas as dificuldades e ultrapassando o misterioso e também magnífico umbral da morte. Como ninguém ficará para semente nesta terra, ocorre meditar sobre esta realidade, tomar consciência de sua seriedade e preparar-se bem. Morremos do jeito que vivemos. Nossa morte e nosso céu se constroem no dia a dia, para que o Dia do Senhor não nos surpreenda, mas nos encontre vigilantes e preparados!

Ninguém precisa ficar preocupado com a morte, mas viver bem, amando a Deus e ao próximo, semeando o bem e a bem-aventurança. E quando a morte chegar, será a oportunidade de virar o jogo! O segredo está, também aqui, em nosso Salvador: "Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente" (Jo 10,18). Vale a pena antecipar a morte! Sim, morrendo cada dia para o egoísmo e para a maldade, transformando em dom a Deus e aos outros cada ato de nossa existência. Quem viver assim poderá dizer com São Paulo: "Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro. Ora, se, continuando na vida corporal, eu posso produzir um trabalho fecundo, então já não sei o que escolher. Estou num grande dilema: por um lado, desejo ardentemente partir para estar com Cristo – o que para mim é muito melhor; por outro lado, parece mais necessário para o vosso bem que eu continue a viver neste mundo" (Fl 1,21-24).

Que cheguemos a tais alturas: "Sabemos que, se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá outra moradia no céu, que não é obra de mãos humanas e que é eterna. Aliás, é por isso que gememos, suspirando por ser sobrevestidos com a nossa habitação celeste; sobrevestidos digo, se é que seremos encontrados vestidos e não nus. Sim, nós que moramos na tenda do corpo estamos oprimidos e gememos, porque, na verdade, não queremos ser despojados, mas sim sobrevestidos, de modo que o que é mortal em nós seja absorvido pela vida. quem nos preparou para isto é Deus, que nos deu seu Espírito em garantia. Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos, longe do Senhor; pois caminhamos pela fé e não pela visão. Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor" (2 Cor 5, 1-8).

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.


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30 de outubro de 2013

Transcendência Divina

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Quatro pontos que caracterizam a História da Igreja

Percorrendo as vicissitudes históricas da Santa Igreja, apontamos as linhas gerais do governo de Deus. São quatro os pontos que melhor caracterizam a História da Igreja e manifestam a sua transcendência divina.


1. Invicta estabilidade. É uma lei inexorável que todas as coisas tendem para a sua decomposição. Este princípio é aplicado por Santo Agostinho à história com a profundidade e poder do seu gênio. Nota que qualquer instituição conhece três períodos: o início, ao qual sucede quase sempre um triunfo relativo, e depois a decadência até a extinção. E aduz, como exemplos, os grandes impérios da Babilônia, da Pérsia, da Macedônia. Também o intelectual Jacques-Bénigne Bossuet na História Universal, e o erudito Henri Lacordaire, na Conferência sobre as Leis da História, põem em evidência essa verdade.

De fato, nenhuma instituição humana resistiu à erosão do tempo: empresas industriais, comerciais e econômicas, associações filantrópicas, artísticas, literárias, poderosas famílias aristocráticas, cidades, ditaduras implacáveis, monarquias absolutistas, reinos e impérios, tudo acabou no rápido turbilhão dos anos.


Mas, há uma instituição que resistiu às provas mais difíceis e renova continuamente a sua perene juventude: a Igreja Católica de Cristo. Depois de vinte séculos de existência, mantém os mesmos elementos essenciais, a mesma hierarquia, o mesmo Credo, os mesmos sacramentos, o mesmo sacrifício. As mudanças efetuadas são simplesmente acidentais. Como se explica tão poderosa vitalidade? Muito mais se pensarmos na guerra encarniçada que sempre teve de suportar.


Quantas vezes foi anunciado o seu fim! Plínio, no tempo de Trajano, escrevia: "Dentro em breve, a Igreja desaparecerá". Mais tarde, Juliano apóstata gloriava-se de ter preparado "o caixão para o Carpinteiro de Nazaré". Martinho Lutero, reformador alemão e inimigo de Roma, lançava o grito: "Ó Papa, eu serei a tua morte". Também Voltaire afirmava que estava iminente o fim do Papado. Napoleão Bonaparte, à noticia da morte de Pio IV, exclamou: "Morreu o último Papa!"

E, contudo, o Papa e a Igreja continuam hoje mais vivos do que nunca. Nem se creia poder explicar o fenômeno afirmando que a Igreja encontrou caminho favorável para a sua expansão. Pelo contrário. Já vimos que nenhuma outra instituição teve tanto que sofrer como a Igreja. A única explicação conveniente é que a Igreja não é uma instituição humana. Como diz o Papa Francisco: "A Igreja não é uma ONG piedosa". Teve origem na vontade de Deus e é sustentada pelo Pai celeste. Por isso, nem o diabo, nem o tempo, nem as vicissitudes humanas poderão destruí-la.

2- Unidade católica.
Outro fenômeno singular é a unidade da Igreja de Cristo. Munida do magistério infalível e da autoridade suprema, goza duma ordem perfeita, donde deriva a indefectível coesão de todos os seus elementos. Tal unidade manifesta-se visivelmente na doutrina, no culto e no governo. Os mais diversos povos por origem, por ação, por língua, por caráter, por costumes e por civilização fazem parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Apesar disso, todos professam o mesmo Credo, participam dos mesmos sacramentos, assistem ao mesmo sacrifício e praticam a mesma moral. E a unidade também aparece perfeita no governo. Em toda a parte a hierarquia é composta de párocos, sujeitos aos seus bispos e todos conjuntamente ao Papa. Essa unidade, glória e grandeza da Igreja Católica, é tanto mais admirável se a comparamos com as infinitas divisões das Igrejas dissidentes, cada uma das quais tem uma doutrina, um culto e um governos próprios.

Existe na Igreja Romana, além da unidade, a catolicidade. Universal é a sua fisionomia e abrange, acima das divisões nacionalistas e raciais, povos de todas as cores e civilizações. Aqui está, em parte, o segredo da sua força expansionista. Não tem preconceitos que a impeçam ou barreiras que a detenham no seu caminho. A sua missão é a plena obediência ao Seu Senhor de anunciar o Seu Santo Evangelho no mundo inteiro.

Nos três primeiros séculos, embora no seio das mais tremendas dificuldades, conquista a maior parte do mundo greco-romano. Depois, expande-se por toda a Europa. Descobertas novas terras pelos navegadores e exploradores intrépidos, espalha os seus valentes missionários por todos os cantos do mundo. Hoje, conta milhões de católicos na Ásia, na África, nas Américas e na Oceania e, enquanto os missionários pacientes, mas continuamente estendem o seu reino entre os cismáticos, muitos são os que voltam do cisma e do protestantismo para unidade católica.

3- Santidade admirável. Outra característica da Igreja de Cristo, refulgente ainda hoje de luz admirável, é a sua santidade. Santa é a doutrina da Igreja. Ela ensinou sempre as mais belas virtudes individuais e sociais: a caridade, a humildade, a justiça, o amor para com os inimigos. Deu à família uma vida nova, repudiando a poligamia, impondo a indissolubilidade do matrimônio, defendendo os direitos da mulher, da criança e do idoso.

No campo social, primeiro suavizou e, a seguir, trabalhou contra a escravatura, condenou sempre o despotismo absoluto, limitando as funções do Estado, inculcou aos súditos a submissão que não deriva do terror servil, mas da convicção religiosa de que toda a autoridade vem de Deus. Deus é amor e justiça, daí as autoridades têm que praticar esses valores para o bem comum.

Doutrina tão sublime não podia deixar de produzir frutos admiráveis de santidade, e eis que ao lado dos mártires que deram a vida com heroísmo sobre-humano para defender esta mesma doutrina, germinaram no seio da Igreja falanges escolhidas de virgens, de confessores, de eremitas, monges, frades e de apóstolos. Forjas de santidade souberam ser as famílias espirituais – as ordens religiosas – no seio das quais desabrocham os mais ilustres campeões do catolicismo.

Tal floração maravilhosa de santidade não impede que na Igreja Romana se tenham manifestado fraquezas. Não devemos exagerar como fazem os nossos adversários. A luz excede em muito as sombras e as próprias sombras contribuem para salientar mais a ação da assistência divina a uma instituição em que entra o elemento humano com as suas inevitáveis deficiências.

4- Fecundidade inesgotável. Com a santidade admirável está intimamente ligada a fecundidade prodigiosa que se manifesta, sobretudo na conservação do patrimônio de fé por intermédio das provas mais árduas e do pulular contínuo das mais diversas heresias.

A este propósito escreve o célebre historiador G. Kurtb, autor das "Origens das civilizações modernas": "Sozinha no meio do turbilhão, que agitava os espíritos com todos os ventos de doutrina, a Igreja de Roma, semelhante a um farol sublime na noite tempestuosa, fez sempre brilhar a chama da ortodoxia. Sempre fez ouvir a voz da mais pura tradição apostólica. O apóstolo que tinha recebido a gloriosa missão de confirmar os seus irmãos na fé, não cessou de denunciar o erro e de proclamar a verdade e tal foi a vigor desta palavra invicta e invencível no meio de todas as revoluções dogmáticas que deteve todas as heresias e Roma sozinha salvou a unidade da sociedade cristã e a integridade da sua fé".

E a Igreja aumenta e desenvolve esta fé assimilando, entretanto, tudo o que de verdade, de belo e de bom encontra nas outras doutrinas. Aos poucos e simples escritos dos tempos apostólicos seguem-se as grandes obras dos Santos Padres, as imensas coleções conciliares, as Sumas Teológicas. A mestra da fé tornou-se a mestra da ciência. Das escolas de Alexandrina e de Antioquia às Universidades medievais, aos Seminários, às faculdades filosóficas, teológicas, às universidades católicas, dos últimos tempos, é um gigantesco caminho percorrido pela Igreja no campo científico e da cultura em beneficio da civilização cristã.


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Padre Inácio José do Vale
pe.inacio.jose@gmail.com

 

Padre Inácio José do Vale é professor de História da Igreja no Instituto de Teologia Bento XVI (Cachoeira Paulista). Também é sociólogo em Ciência da Religião.


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28 de outubro de 2013

Fecundidade

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Fecunda há de ser a vida humana nesta terra

"Deus disse: 'Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão'. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: 'Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão'. Deus disse: 'Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento'... E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom" (Gn 1, 26-30).

Fecunda há de ser a vida humana nesta terra, fecunda, esperamos, seja a própria terra, portadora de vida e de alegria. Grávidas de realização e felicidade sejam todas as nossas atitudes e nossos gestos.

E por que muitas vezes nossos atos carecem da desejada fecundidade, com a qual esperávamos frutos e consequências para o nosso bem e o bem dos outros? A esterilidade de palavras e ações nos assusta e, ao mesmo tempo, nos provoca. Parece que não aprendemos com a própria terra, cujo húmus é matéria orgânica depositada no solo, resultante de decomposição de animais e plantas com a consequente liberação de nutrientes. Só pelo caminho da humildade se desencadeia o processo para a multiplicação de frutos na vida humana, tanto que a corrida desleal entre as pessoas ou grupos, quando se atropelam mutuamente, suscita a terrível sensação de tristeza e falta de sentido, infelizmente comum entre nós.

Quando nos deparamos com a Sagrada Escritura, não é difícil perceber que ela pretende nos persuadir do bem da humildade e nos afastar do mal do orgulho. Jesus pronunciou estas palavras: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11,25). Ele próprio não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. Humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! Por isso, Deus O exaltou acima de tudo e Lhe deu o Nome, que está acima de todo nome, para que, ao Nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor (Cf. Fl 2, 6-11). E São Paulo introduz este belíssimo hino com palavras fortes: "Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus" (Fl 2,5). 


Na Parábola do Fariseu e do Publicano, o Senhor nos abre a compreensão dos frutos da humildade e da simplicidade de vida, expressos nada menos do que na vida e na oração de um pecador público, traidor de seus irmãos. No entanto, justamente pelo caminho do reconhecimento da própria fraqueza é que nasce a experiência da felicidade experimentada (Cf. Lc 18, 9-14). A virtude da humildade se expressa na verdade do confronto entre o ser humano, com suas fragilidades e limites, colocado diante do próprio Deus, que não o esmaga nem o destrói, mas o eleva. A iniciativa do amor vem de Deus, que dá o primeiro passo, ao criar-nos e enviar Seu Filho para nossa salvação. Deus não exige primeiro, mas se entrega e assim provoca a resposta.


Diante de Deus, a sinceridade da oração suscitará, em primeiro lugar, a gratidão e o reconhecimento pelas Suas obras. Olhar ao nosso redor para perceber que recebemos muito mais do que merecemos ou pedimos. Depois, ao confrontar-se com Deus, cada pessoa descobrirá a distância entre o que recebeu e o que efetivamente correspondeu! O publicano da parábola evangélica "ficou à distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!" (Lc 18, 13).

Mas a humildade não para no reconhecimento das limitações. Quem se reconhece pequeno diante de Deus dá logo o salto para a gratidão! "A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz" (Lc 1,47-48). O humilde é agradecido, livre, não cultiva traumas ou complexos, mas se eleva pela capacidade de louvar e agradecer!

Diante do próximo, a humildade é capaz de admirar, sem ciúme ou inveja, o bem que existe no outro. Antes, é capaz de superar a percepção de seus erros e limites, aprende a defender e ajudar as pessoas a crescerem. Vale a recomendação da Carta aos Hebreus: "Estejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar ao amor fraterno e às boas obras. Não abandonemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente – tanto mais que vedes o dia aproximar-se" (Hb 10, 24-25). Chega-se inclusive a gestos verdadeiramente fecundos: "Nada façais por ambição ou vanglória, mas, com humildade, cada um considere os outros como superiores a si e não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros" (Fl 2, 3-14).

A prática da humildade pede que não sejamos maiores nem menores do que somos, mas do tamanho que somos! Vale a recomendação da Escritura: "Na medida em que fores grande, humilha-te em tudo e assim encontrarás graça diante de Deus. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios. Pois grande é o poder só de Deus, e pelos humildes ele é honrado. Não procures o que é mais alto do que tu nem investigues o que é mais forte; pensa sempre no que Deus te ordenou e não sejas curioso acerca de suas muitas obras" (Eclo 3, 20-22). Só a prática cotidiana da escuta de Deus e o discernimento de sua vontade nos conduzirá a tal equilíbrio! Para tanto, há que suplicar: "Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis".

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.


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