17 de outubro de 2013

Ser grato é ser fraterno

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Você se preocupa em agradecer?

Convivemos, dentro do clima da pós-modenidade, com a esfera do individualismo e com o sistema de egocentrismo muito aguçado, que têm como fonte de sustentação o mito do bem-estar. Isso vem acontecendo na realidade de endeusamento e idolatria do mercado e do consumo, dificultando a essencial prática da gratidão.


Temos muitos gestos evidentes de gratidão. Um deles está nos presentes que oferecemos aos amigos em diversas ocasiões. Mas não basta somente isso se não valorizamos a pessoa na sua identidade, reconhecendo nela o bem que faz, sendo até merecedora do gesto de gratidão. Agradecer é confiar sem ficar exigindo troca. 


Às vezes agradecemos um estrangeiro com mais frequência e facilidade do que a quem está sempre conosco. Na convivência achamos ser um direito o que o outro faz por nós e não nos preocupamos com o ato da gratidão. Isso pode ter a conotação de não valorizar o que recebemos de quem convive conosco todo dia.


A Bíblia fala de dez leprosos que ficaram curados (cf. Lc 17,11-19). Apenas um, que era estrangeiro, voltou para agradecer. Isso foi causa de crítica de Jesus, porque demonstraram atitude de ingratidão, de fechamento em si mesmos. Podemos até concluir que a ingratidão coincide um pouco com a injustiça e o não reconhecimento do valor de quem nos faz o bem.

Louvor, graça, gratidão, gratuidade e agradecimento são palavras-chave, que ajudam no relacionamento comunitário. Há o perigo de sermos mais propensos a pedir do que a agradecer. Pior ainda é quando queremos levar vantagem em tudo, tendo atitude de exploração e de injustiça com o outro. Ser grato é ser fraterno e capaz de ajudar na boa convivência.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

15 de outubro de 2013

Ser professor(a)

Crônica: Ser professor(a) - as múltiplas funções dos mestres
Falar da docência é falar das várias profissões que transpõem e se sobrepõem a esta.
Enquanto professores...
Somos mágicos, ao fazermos malabares com diversas situações que atingem nossa imagem e a vida pessoal.
Somos atores, somos atrizes, que interpretam a vida como ela é, sentimos e transmitimos emoções ao conviver com tantas performances.
Somos médicos, ao receber crianças adoentadas pela miséria, pela falta de tempo da família, pela carência de tempo de viver a própria infância.
Somos psicólogos, ao ouvir as lamentações advindas de uma realidade dura,
que quase sempre nos impede de agir diante do pouco a se fazer.
Somos faxineiros, ao tentarmos lavar a alma dos pequenos,
das mazelas que machucam estes seres tão frágeis e tão heróicos ao mesmo tempo.
Somos arquitetos, ao tentarmos construir conhecimentos, que nem sabemos se precisos, que nem sabemos se adequados.
É só parar para pensar que talvez seja possível encontrar em cada
profissão existente um traço de nós professores. Contudo ser professor,
ser professora é ser único, pois a docência está em tudo, passa por todos,
é a profissão mais difícil, mas a mais necessária.
Ser professor é ser essência, não sabemos as respostas.
Estamos sempre tentando. Às vezes acertamos, outras erramos, sempre mediamos.
Ser professor é ser emoção
Cada dia um desafio
Cada aluno uma lição
Cada plano um crescimento.
Ser professor é perseverar, pois, diante a tantas lamúrias
"não sei o que aqui faço, por que aqui fico?"
fica a certeza de que...
Educar parece latente, é obstinação.
Ser professor é peculiar,
Pulsa firme em nossas veias,
Professor ama e odeia seu ofício de ensinar
Ofício que arde e queima
Parece mágica, ou mesmo feitiço.
Na verdade, não larga essa luta que é de muitos.
O segredo está em seus alunos, na sua sala de aula, na alegria de ensinar
a realização que vem da alma e não se pode explicar.
Não basta ser bom... tem que gostar.

Soraia Aparecida de Oliveira
professora do Ensino Fundamental, Escola Municipal Nilza de Lima Sales, Brumadinho, MG.
Artigo publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 350, setembro de 2004, página 21.

14 de outubro de 2013

Maria, Mãe de Deus e nossa

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Uma conversa com Nossa Senhora de Nazaré

Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, Nossa Senhora de Nazaré, aqui estamos, mais uma vez, para conversar contigo e de ti aprendermos a viver com Jesus, de Jesus e para Jesus. Conduze-nos a Ele, para que recebamos seu amor e sua graça.


Muitas imagens e pinturas foram feitas para retratar-te, ó Maria. Quantos títulos foram cunhados pelos poetas e pelo povo, porque Deus te deu a graça de manifestar-te, modelo e intercessora, em muitas partes desta terra de nosso Deus. Aqui no "mundo do Círio", és chamada de Nossa Senhora de Nazaré! Deixa-nos entrar um pouco no mistério que revelas em tua imagem. Deixa-nos levá-la por nossas ruas, porque sabemos que entraste, Viva, Senhora, Irmã e Mãe, em nossos corações. Permite-nos estender as mãos e olhar para ti, como gente sedenta dos sinais que nos conduzem a Deus!

Ao olhar para tua imagem de Nazaré, nós te contemplamos, Mãe, simples e amiga. Teu rosto mostra seriedade e serenidade, delicadeza e firmeza. Por isso olhamos para ti, pois nos mostras o que sonhamos e o que desejamos testemunhar. Sim, ó Virgem de Nazaré, tu és bendita entre as mulheres, a honra de nosso povo, e em ti se encontra o que queremos ser! Obrigado por nos atraíres a ti, à tua glória, tua berlinda e tua presença amorosa.

E vemos que tu tens nos braços o Menino Jesus, em cujas mãos está o mundo. Uma criança, com o mundo nas mãos! Parece tão pequena e tão grande esta criança, capaz de carregar o peso de tudo o que o mundo é! Tu tiveste com o Menino Jesus tamanha intimidade, que participaste de seus sentimentos e o acompanhaste, quando crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Com Ele caminhaste pelas estradas do mundo, tu o levaste pelos caminhos do Egito, com Ele voltaste a Nazaré, dali a Jerusalém, Caná, Galileia das Nações, ruas e Cenáculo, sempre estiveste com Ele e para Ele viveste, Mãe e Discípula. Dá-nos entrar contigo no mistério do mundo! Ajuda-nos a anunciar a todos a salvação que Ele nos trouxe.


Tudo foi feito por Deus em Jesus Cristo, e sem Ele nada se fez. Deus fez todas as coisas para um destino de felicidade, tanto que olhou para a sua Obra e ficou muito feliz. Olhamos contigo para o bem que existe na Obra realizada por Deus. Desejamos descobrir sempre as entranhas de bondade presentes em toda a sua Obra. Contigo queremos passear pelo mundo, sonhando com o Jardim que Deus criou!


Ao completar sua Obra, o Pai do Céu criou o homem e a mulher. Que graça imensa saber que estas criaturas foram feitas à imagem e semelhança de Deus, preparadas para responder com amor ao amor infinito! O mundo é cheio de gente, mais ainda, de filhos e filhas de Deus. Ajuda-nos, Maria Mãe, esposa, irmã, senhora, a olhar para todas as pessoas com grande amor. Tira de nosso coração os preconceitos, aproxima-nos das pessoas, especialmente as mais difíceis. Tu que és Mãe de Misericórdia, alcança-nos a graça, que vem de teu Filho amado, de ir ao encontro dos pecadores e das pessoas mais frágeis, para amá-las como Jesus amou. E se tens livre um dos teus braços, agasalha-nos aí, no afago de teu coração e perto de Jesus.

A vida no mundo é uma verdadeira batalha! Tu sabes bem, Maria de Nazaré, o que significa trabalhar, cuidar de um filho, viver como esposa, enfrentar as dificuldades. Senhora da Esperança, nós te reconhecemos parte daquele resto escolhido, os pobres de Javé, que nunca perderam a esperança. Aqui está, na conversa contigo, a porção do mundo que mais sofre e também as pessoas que perderam o sentido de sua vida. Deixa-nos entrar em tua casa, levando pelas mãos estas pessoas. Tu que estiveste de pé aos pés da Cruz, dá um jeito para que entrem pela porta da graça e da salvação, Consoladora dos Aflitos, cuida de todos os que sofrem. Porta do Céu, abre a porta para todos serem acolhidos e amados. Auxílio dos cristãos, pede a Jesus que se fortaleçam os corações cansados e fatigados, que se elevem as mãos vacilantes e a confiança seja restaurada.

Mas o mundo é também para ser vencido, pois nele existe o mistério da iniquidade, a triste realidade do pecado e suas consequências. Não tememos, porque sabemos que teu Filho Jesus já o venceu. Entretanto, precisamos ser corajosos e radicais, não nos acomodando com o mal existente, corajosos para mostrá-lo e buscar soluções. Nós te pedimos, Virgem de Nazaré, sejamos firmes e decididos. Que nunca façamos pactos com a maldade e o egoísmo. Dá-nos os valores do Céu para espalharmos na terra. Como estamos no mundo, "mas não desejamos ser do mundo", nós te dizemos confiantes.

A ti recorremos, Maria de Nazaré! Rainha da Paz, vem em auxílio dos povos que estão em guerra e entra, com teu amor materno, nas disputas entre povos e pessoas, para que cheguem à reconciliação! Mãe do belo amor, aproxima os inimigos! Saúde dos enfermos, visita os nossos doentes. Refúgio dos pecadores e Mãe de Misericórdia, estende teus braços aos pecadores, roga por nós, agora e na hora de nossa morte. Sede da Sabedoria, ajuda-nos a entender o sentido da vida e vem ajudar as pessoas que devem tomar decisões em nosso mundo. Espelho de Justiça, corrige os que erram na vida, dá discernimento aos que devem se recuperar de seus erros e pede a Jesus, teu Filho amado, que a justiça reine na terra. Causa de nossa alegria, ajuda-nos a manter o coração alegre e o rosto feliz, pela vida da graça em nossos corações.

Maria, Arca da Aliança, que trouxeste em teu ventre o Guarda e Pastor de Israel, aquele que tem palavras de vida eterna e é o Pão da Vida, faze de todos nós este povo unido, sinal da vida verdadeira, que vem do Pai amado, em Cristo, a quem seja dada a honra e a glória, no Espírito Santo. Amém.

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13332

10 de outubro de 2013

As opções de Vicente de Paulo

Uma vida tão intensa e longa como a de Vicente de Paulo, pode ser contada de muitas maneiras. Desta vez vamos levar em conta os caminhos de Deus e as respostas do homem, as circunstâncias e suas opções. Como diria o próprio Vicente de Paulo: "Minha fé e minha experiência".

Quais foram as opções assumidas por ele? Os Pobres, os padres, os leigos e as mulheres. Se hoje, de alguma forma, nos preocupa a atualização do carisma vicentino, temos a certeza de que Vicente de Paulo esteve à frente do seu tempo com uma naturalidade que nos espanta. E isto é o mais importante e que veremos a seguir.

1. Os Pobres

Disse Jesus que sempre teremos os Pobres entre nós (Mt. 26,11). É uma afirmação indiscutível, não porque Deus quer assim, senão porque assim querem os poderosos. A população mundial sempre pende para os Pobres. E em todos os tempos a Igreja tem se preocupado com eles, desde o princípio até nossos dias. Porém, na opção pelos Pobres, sempre houve diversos graus de intensidade e comprometimento, espiritualidades afins ou alheias, cristãos conscientes ou descompromissados.

Vicente de Paulo nasceu Pobre, de uma família de camponeses, embora eles possuíssem sua casa e algumas terras. E nos parece que perderam quase tudo como a maioria dos Pobres do seu tempo, que eram despojados de mil maneiras. Vicente disse certa ocasião que seus parentes estavam em situação de pedir esmolas.

De forma alguma ele preocupava-se com os Pobres quando ainda não era um "santo". Seu desejo era enriquecer-se. Queria posição, status, um trabalho que lhe garantisse boa renda para viver muito bem e tranquilo. Foi aqui que começaram seus projetos meramente humanos: ida para Toulouse, para Marselha atrás de uma herança, o episódio do seu cativeiro, sua ida até Tunísia, Avignon e até Roma.

De modo que no final do ano 1608 Vicente entra pela primeira vez em Paris de mãos vazias e com o espírito humilhado. Homem de fé e de experiência, tinha que se dar conta de que Deus lhe pedia um outro caminho e outras opções. Vicente de Paulo se põe em busca do crescimento espiritual e ministerial, da paróquia de Clichy ao palácio dos Gondi, do palácio dos Gondi à Chatillon-les-Dombes. E antes mesmo de Clichy, como capelão da ex-rainha Margarida de Valois, passa pela "noite escura" da tentação contra a fé e de sua experiência do Pobre no hospital de caridade. E foi desta forma, segundo seu primeiro biógrafo, quando Vicente de Paulo "para mais honrar a Jesus Cristo e imitá-lo de forma perfeita, tomou a firme resolução de entregar toda sua vida, por seu amor, a serviço dos Pobres".

Sem ter precisão de dia e hora, já poderíamos chamar Vicente de Paulo de santo. Nesta ocasião já tinha mais de trinta anos. Entregou-se totalmente à Jesus Cristo dos Pobres ou aos Pobres de Jesus Cristo. Uma entrega firme e decidida. Nada lhe faria mudar de ideia. Nasceram desta sua entrega, inumeráveis fundações, instituições, ações, e todas elas motivadas e voltada para os Pobres. Nada encontramos neste "santo" que destoasse desta sua entrega e de seu amor afetivo e efetivo aos Pobres por Jesus Cristo.

Hoje muito se fala da "opção preferencial pelos Pobres". Muitos o fazem e fizeram. Porém, depois de Jesus Cristo, ninguém superou ao que fez Vicente de Paulo.

E desta opção primeira, nasceram as demais.

2. O clero

Vicente de Paulo viveu outra experiência: a grandeza do sacerdócio, e contrastando isto, a miséria espiritual de muitos padres. O juízo de nosso "santo" não teve meio termo em ambos aspectos: a grandeza do sacerdócio. Porém sabendo que existiam sacerdotes que mostravam o pior comportamento que um sacerdote poderia ter. E sua conclusão é a de que os mais prejudicados são os Pobres.

Como se chegava até o sacerdócio sem a devida preparação, animado pelo bispo Agustin Potier da diocese de Beauvais, Vicente de Paulo iniciou em 1628 os retiros para os padres. Na verdade era um curso intensivo de formação espiritual e pastoral. Desta experiência é que nasceu alguns anos mais tarde, em 1633, as conferências de terça feira, que era uma reunião semanal para ajudar na perseverança de seus padres, motivar as missões e auxílio para as capelanias onde seus padres não podiam entrar para se dedicarem exclusivamente aos Pobres camponeses. Destas atividades assumiu os seminários, que foram defendidos pelo Concílio de Trento. Provavelmente o seminário mais antigo da França foi o de Annecy, fundado por Vicente de Paulo em 1642. Veio em seguida a casa "Bons Enfants" e muitos outros.

A ação de Vicente de Paulo em favor do clero teve seu auge com sua presença no Conselho de Consciência da Rainha Ana de Áustria e de Mazarino, onde contribuiu eficazmente na nomeação de um episcopado zeloso e reformador da Igreja na França. Porém, antes disto tudo, Vicente havia fundado em 1625 a Congregação da Missão, cujo objetivo ele definiu desta forma: "Fazer com que os Pobres conheçam a Deus, anunciar-lhes Jesus Cristo, dizer-lhes que está próximo o Reino dos Céus e que este Reino é para Eles". Naturalmente, todo seu empenho em prol do clero não tinha outro objetivo a não ser a evangelização dos Pobres.

3. Os leigos

A opção pelos leigos é sem dúvida a que mostra a grandeza e a originalidade de Vicente de Paulo. O modelo de igreja de seu tempo era próprio do Concílio de Trento, que em oposição à Martinho Lutero, exaltava o estado sacerdotal, minimizando o laicato mais ainda do que já estava. Vicente de Paulo, sem desobedecer o Concílio de Trento, nem esquecendo-se dos Pobres, deu um pulo a frente da história. Recordemos sua famosa pregação dos 800 anos para as Damas da Caridade: "Fazem 800 anos que vocês não tem nenhuma ocupação pública na igreja...". E foi convocando a todos, homens e mulheres, Pobres e ricos, para a caridade eclesial. Sua sensibilidade para com os leigos, que não existia em seu tempo, o coloca dentro do pensamento do Concílio Vaticano II e da encíclica "Christifideles laici" de João Paulo II (1988).

4. As mulheres

A mão direita de Vicente de Paulo foram as mulheres. Por detrás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher. É um ditado popular. Ao redor de Vicente de Paulo existe uma legião de grandes mulheres. Desde Francisca Bachet e Carlota de Brie em Chatillon-les-Dombes, passando pela Senhora de Gondi, Luísa de Marillac, a Senhora de Goussault, a duquesa de Aiguillon e tantas outras em Paris, até chegar as Filhas de Caridade: Margarida Naseau, Bárbara Angiboust, Maturina Guerin, Margarita Chetif... Uma e outra se tornaram responsáveis pela ação caritativa nas aldeias, no Hotel-Dieu em Paris e todas as obras fundadas para ajudar as vítimas das incessantes guerras: hospitais, galés, escolas, crianças abandonadas, enfermos, mendigos, idosos... Sem elas Vicente de Paulo não teria sido proclamado o grande santo da caridade, e nem elas teriam saído do anonimato sem Vicente de Paulo. Qual era o segredo daquele magnetismo que irradiava nosso santo sobre as mulheres que o escutavam e o acompanhavam com verdadeiro sacrifício na ajuda dos mais Pobres? Não era outro a não ser sua autenticidade e sua santidade.

5. Outras opções

Dentro destas opções citadas acima, Vicente de Paulo quis e teve que fazer outras. Por exemplo, dentro dos ministérios de sua Congregação, optou pelas missões entre os camponeses: "Deus nos guarde para não abandonarmos estas missões", dizia insistentemente a seus missionários, qualquer que fosse o ministério ou trabalho que fossem convidados.

Depois optou mais tarde pelas missões AD GENTES. Quando a Congregação da Propaganda da Fé, fundada em 1622, lhe pedia sacerdotes, Vicente de Paulo escreve ao superior da Casa de Roma: "Ao celebrar a santa missa, me ocorreu o seguinte pensamento, que como o poder de enviar ad gentes reside na terra unicamente na pessoa de Sua Santidade, tem consequentemente o poder de enviar a todos os eclesiásticos por toda a terra, e que todos os eclesiásticos tem a obrigação de obedecer-lhe; segundo este princípio, ofereço a sua divina Majestade nossa pobre companhia para ir onde Sua Santidade ordene".

E começou o envio de missionários vicentinos fora das fronteiras da França. Teve mais projetos, porém, os que ele conseguiu desenvolver e pôr em prática foram Barbária (Tunísia e Argélia) em 1645 e 1646, Madagascar em 1648, Polônia em 1651 e Irlanda e Escócia também em 1651. Todas estas missões foram de muito sacrifício, especialmente a de Madagascar que de 18 missionários enviados, chegaram somente 8 e que morreram logo em seguida. Isto nunca desanimou Vicente de Paulo. A um dos missionários ele escreveu: "A Companhia coloca seu olhar em vocês como a melhor hóstia que tem para render graças a Nosso Soberano Criador e prestar-lhe este serviço! Vocação tão grande e adorável como a dos maiores apóstolos e santos da Igreja de Deus! Lance as redes com valentia".

Dizia assim porque na verdade ele soube lançar as redes com valentia desde o momento de sua "conversão" até o final de seus dias, agindo sempre com o mesmo entusiasmo e determinação. "Dá-me um homem de oração e ele será capaz de tudo", dizia ele. E foi capaz de tudo o que um ser humano pode fazer em prol dos Pobres. Cumpriu sem romper em momento algum sua primeira "resolução firme e decisiva de entregar-se por toda sua vida, por amor a Jesus Cristo, ao serviço dos Pobres".

Fonte: Texto escrito por Vicente de Dios, CM, extraído de: Caminos de Misión. Traduzido do espanhol para o português por Joelson Cezar Sotem, CM em 09 de outubro de 2013.

Os anjos na doutrina da Igreja

9 de outubro de 2013

Uma reflexão sobre o Dia do Nascituro

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Qual é o lugar mais perigoso de se viver no mundo hoje?

Qual é o lugar mais perigoso de se viver no mundo hoje? Será a Síria, onde milhares morrem vítimas de uma atroz guerra civil? Serão os lugares do submundo do crime? Seria nas igrejas cristãs situadas em pleno território islâmico? Onde? O lugar mais perigoso do mundo de se viver é a barriga da própria mãe! Uma realidade que seria inimaginável se não fosse verdade: o lugar, que deveria ser o mais aconchegante e terno do mundo, se tornou a passagem mais perigosa que um ser humano pode fazer na sua existência.


Se, neste momento, eu fosse uma alma prestes a ser infundida num embrião humano, e tivesse consciência disso, eu estaria apavorado. Não são milhares, mas milhões e milhões de crianças brutalmente assassinadas por ano no ventre materno. E o pior: por quem? Pela própria mãe, pelo próprio pai.

Se a vida humana, em seu momento mais tenro e indefeso, está sob a mira de quem mais deveria guardá-la e protegê-la, de que ela vale? Ela não tem mais valor absoluto e inviolável, mas está condicionada à segurança, ao bem-estar e aos interesses de terceiros. Nessa escala de valores, toda a vida humana está em risco.


Por essa razão, o Dia do Nascituro, comemorado no dia 8 de outubro, celebra especialmente a vida do bebê no ventre de sua mãe, mas não somente isso, celebramos neste dia o valor inviolável da dignidade da vida humana, do seu início até o seu fim. Não é somente a vida do nascituro que está em questão, mas a vida humana, especialmente em sua condição de fragilidade e de inutilidade para a sociedade. Tanto é que a legalização do aborto, até o último instante antes do nascimento, em alguns países, já faz surgir uma lógica que é a "eutanásia de recém-nascidos".


Algumas pessoas na Holanda, na Alemanha e acadêmicos na Austrália raciocinam que, se a criança pode ser morta um minuto antes de seu nascimento natural, por que não poderia sê-lo alguns minutos após o seu nascimento? Muito lógico! Isso pouparia os gastos com exames pré-natais para se verificar patologias genéticas, entre outras. Essa eugenia pós-natal ainda não soa bem, mas em breve se tornará lei. Daí, virão novos passos como eugenia em qualquer fase da existência humana, conquanto que a vida não esteja de acordo com os padrões sociais da época.

Porém, não precisamos ir ao futuro. Hoje, se a vida vale tão pouco diante do bem-estar, sucesso, bem materiais, até mesmo diante dos animais, ela acaba por perder o sentido em si mesma. Sem sentido os jovens se entregam às drogas, à prostituição, até o fim (também "lógico") que é o suicídio, cada vez mais comum entre o público juvenil.

Aí surge a pergunta: "Por que os jovens estão tão violentos e sem esperança?" Novamente a lógica evidente: nessa cultura de morte, na qual inclusive são bem aceitas celebrações artísticas da morte (me refiro, por exemplo, à naturalidade no uso da caveira como ingênuo enfeite nas roupas de nossas crianças), que beleza e sentido tem a vida?

Porém, para nós que cremos em Deus, um sinal inquestionável desse valor é o fato de o próprio Criador ter escolhido passar por esse caminho da existência humana e fazer essa nossa experiência de ser gente indefesa, sob a guarda dos seus pais. O Filho de Deus poderia ter entrado no mundo de qualquer forma que quisesse, mas escolheu ser nascituro. Com isso, esse momento da vida humana, que já era grande por si mesmo, ganhou significado divino, porque o próprio Deus se fez nascituro.

Sendo de tão grande valor e beleza, a vida do nascituro deve ser celebrada. Celebrando o Dia do Nascituro queremos também protegê-lo ao suscitarmos nas pessoas, nas famílias e na sociedade, a consciência de que os nascituros têm o direito à proteção de sua saúde e vida, à alimentação, ao respeito e a um nascimento sadio. Celebrando o nascituro, celebramos a vida de cada ser humano, porque todos, invariavelmente, foram ou serão um dia um nascituro.

 


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André L. Botelho de Andrade
www.twitter.com/compantokrator

Casado, pai de dois filhos. Teólogo, Fundador e Moderador Geral da Comunidade Católica Pantokrator, onde vive em comunidade de vida e dedica-se integralmente à sua obra de evangelização. Contato: facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13329

7 de outubro de 2013

Aumenta a nossa fé!

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Reconhecer os passos de Maria compromete todos os cristãos

Acorre a Belém do Pará uma verdadeira torrente de pessoas, vindas de tantas partes de nosso Estado. Ajuntam-se a ela os paraenses residentes em outras regiões do país, um povo imenso, conduzido pelas mãos de Nossa Senhora de Nazaré, coberto pelo seu manto de amor. Nos andores e nos passos percorridos, nos pés calejados e feridos, em mãos que se unem ou mãos que se agarram à corda da Berlinda, existe um mistério a ser desvendado. De onde vem a força e o ardor de tanta gente? Como explicar estes rios mais caudalosos do que nossas muitas águas? Trata-se apenas de hábitos adquiridos, cultura entranhada em nossos corações e que se esparrama em nossos gestos? Seria fruto da propaganda feita pela Igreja ou outras forças da sociedade?


Os Bispos da América Latina e do Caribe reconheceram, na Grande Conferência de Aparecida, que as maiores riquezas de nossos povos são a fé no Deus de amor e a tradição católica na vida e na cultura. Manifesta-se na fé madura de muitos batizados e na piedade popular que expressa o amor a Cristo sofredor, o Deus da compaixão, do perdão e da reconciliação, o amor ao Senhor presente na Eucaristia, - o Deus próximo dos pobres e dos que sofrem, - a profunda devoção à Santíssima Virgem nos diversos nomes nacionais e locais. Expressa-se também na caridade que em todas as partes anima gestos, obras e caminhos de solidariedade para com os mais necessitados e desamparados. Está presente também na consciência da dignidade da pessoa, na sabedoria diante da vida, na paixão pela justiça, na esperança contra toda esperança e na alegria de viver que move o coração de nosso povo, ainda que em condições muito difíceis. As raízes católicas permanecem na arte, linguagem, tradições e estilo de vida do povo, ao mesmo tempo dramático e festivo e no enfrentamento da realidade. A Igreja tem a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus. (Cf. Documento de Aparecida 7).

Bento XVI, falando aos Bispos, destacou a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos, o precioso tesouro da Igreja católica na América Latina. Convidou a promovê-la e a protegê-la. Esta maneira de expressar a fé está presente de diversas formas em todos os setores sociais, numa multidão que merece nosso respeito e carinho, porque sua piedade reflete uma sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer, expressão da fé católica, catolicismo popular, profundamente inculturado, que contém a dimensão mais valiosa da cultura latino-americana (Cf. Documento de Aparecida 258). 


Não podemos reclamar! Deus nos concedeu o que existe de mais precioso, dando-nos a graça de viver a fé cristã católica e oferecê-la como sinal ao Brasil e ao Mundo. Mas o que fazer com os dons com que o Senhor nos prodigalizou? Cabe a nós que vimos outubro chegar novamente, acolher os presentes de Deus, cultivá-los e oferecê-los às novas gerações.


O tesouro aberto revela uma figura feminina. Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa Mãe. Encontrá-la é descobri-la como modelo de fé. Nós desejamos acreditar em Jesus Cristo, seu Filho, com a mesma intensidade de sua resposta a Deus. A fé, em Nossa Senhora, é compromisso imediato, sem desculpas, no ato de liberdade mais digno que uma pessoa humana pode realizar: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 37). Esta fé foi provada e comprovada, no anúncio da dor, espada que transpassa a alma (Lc 2, 35), no esforço ingente para salvar o que pertence a Deus a qualquer custo, fugindo para o Egito (Mt 2, 13-15), e ainda buscando um filho adolescente que devia cuidar das coisas "do Pai" (Lc 2, 48-50). A Mãe se tornou discípula do Filho (Cf. Jo 2, 1-12) e chegou à plena maturidade aos pés da Cruz: "Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: 'Mulher, eis o teu filho!' Depois disse ao discípulo: 'Eis a tua mãe!' A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu" (Jo 19, 25-27). Após a Ressurreição, a Virgem Maria é o amparo da fé para os discípulos em oração, na expectativa do derramamento do Espírito Santo, para depois permanecer com a Igreja, Mãe, Modelo, Intercessora, acompanhando-a até a volta do Senhor, no fim dos tempos. Todo discípulo verdadeiro traz Maria consigo, como parte essencial de seu seguimento de Jesus Cristo. Este é o quilate daquela que acompanhamos pelas nossas ruas, através dos ícones que apontam para sua presença.

Esta fé é para ser vivida e testemunhada. Olhar para Nossa Senhora e reconhecer os passos dados por ela compromete todos os cristãos. Ninguém venha para o Círio como espectador. Turista não se sente bem! Só desfruta o Círio quem tem coração simples, quem aposta no que vê e descobre o que não vê. Aproveita melhor quem fez a peregrinação preparatória, ou quem acompanha as celebrações e pregações da quinzena do Círio. Melhor ainda será o resultado espiritual naquela pessoa que souber aproveitá-lo como tempo de conversão, especialmente através do Sacramento da Penitência e na participação na Eucaristia.

Quando os pais apontam para a "Santinha", tão pequena e tão grande, encanta-me o olhar das crianças que aprendem o que é ser paraense, acolhendo Nossa Senhora de Nazaré. Quero ver muitos braços que ensinam crianças de colo a fazerem o sinal da Cruz. Desejo ouvir a Ave-Maria de lábios inocentes, para que a inocência se espalhe de novo entre os mais crescidos! Ressoe o "Lírio Mimoso", na ingenuidade eloquente de seus versos, para que nossa ciência se transforme em sabedoria! Cantem "Dai-nos a bênção, ó Mãe de fé, Nossa Senhora de Nazaré" os jovens e adultos. Amarrem-se os corações e a vida nas cordas de amor com que Deus quer envolver-nos, todos os paraenses de nascimento, de adoção ou, melhor ainda, os que aqui descobriram a riqueza maior de nosso povo, a fé católica.

O Círio de Nazaré de 2013 seja o maior, o melhor, o mais perfeito, o mais frutuoso de todos. No próximo ano, vamos fazer mais ainda! Sim, porque haverá "mais gente no rio de gente" que queremos formar! Sim, teremos novas gerações de crianças sobre os ombros dos pais, olhando para Nossa Senhora de Nazaré. Sim, porque nossa Amazônia, cuja Rainha é Nossa Senhora de Nazaré, encontrou seu modo de ser missionária. Amazônia missionária é Amazônia de Nossa Senhora, Amazônia que sussurra "rogai por nós", Amazônia que espalha a Boa Nova do Evangelho, Amazônia de fé calejada pela história e esperançosa no futuro que pertence a Deus e é dado de presente, porque é Círio outra vez.

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13325