27 de setembro de 2013

Virtudes da espiritualidade vicentina

A Espiritualidade vicentina está pautada, desde sua gestação, mediante o testemunho de Vicente de Paulo e seus primeiros companheiros de missão, no contexto da Igreja do século XVII, na França, em cinco virtudes, colhidas do Evangelho de Jesus Cristo e da sua práxis libertadora junto ao povo empobrecido e marginalizado. Estas virtudes são assim nomeadas pelo próprio Vicente de Paulo: simplicidade, humildade, mortificação, mansidão e zelo pelas almas(zelo apostólico).


Simplicidade

A virtude da Simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo; por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa.


Diante dos desafios que o pluralismo de idéias e de valores e contra-valores que a sociedade capitalista nos impõe, precisamos ficar mais atentos em relação à nossa postura junto ao povo e o cultivo de valores que não são transitórios, mas base para a vida com dignidade. Um desses valores é o cultivo da simplicidade. O povo ao qual procuramos evangelizar se aproximará de nós mediante nossa postura diante dele. A simplicidade impregnada em nossos atos possibilitará essa pedagógica aproximação do povo mais simples a nós e vice-versa.


O próprio São Vicente definiu na sua vivência a importância desta virtude na vida de um vicentino: "A simplicidade é a virtude que mais amo, eu a chamo de meu evangelho" (SV I,284).


Humildade

São Vicente de Paulo define a Humildade como a virtude que dá a característica essencial à missão na Pequena Companhia. A humildade é a virtude que nos torna capazes de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, criando assim a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos.


A humildade ajuda-nos a nos livrarmos da nossa auto-suficiência, a reconhecermos nossa dependência do amor do Criador e nossa interdependência comunitária. Ao mesmo tempo, a humildade nos capacita para reconhecer nossos talentos, talentos que devem ser postos a serviço das outras pessoas.


É a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. É a virtude que nos ajuda a ver que todos somos iguais aos olhos de Deus. A vivência desta virtude educa-nos e capacita-nos, em contrapartida, para aproximar-nos progressivamente dos Pobres. Esta virtude nos impulsiona a um processo contínuo de inculturação no mundo dos pobres, encorajando-nos a um esforço de identificação com os mesmos.


Mansidão

Virtudes vicentinas: simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo apostólico
Etimologicamente, mansidão vem de "mansuetude" e manso de "mansus", forma do latim vulgar de "mansuetus". Tem um significado de comportamento aconchegante, familiar, doméstico. Conceitualmente, a mansidão se entende como a força, a virtude, que permite a pessoa moderar razoavelmente sua ira e indignação. A razoável indignação pode ser com freqüência sã e saudável, transposição lícita da sobrecarga psicológica a um ato de zelo pela glória de Deus, pela justiça ou pelo bem do próximo.


A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Certamente é uma virtude chave na comunidade. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós. Por estas razões podemos dizer que a mansidão é a virtude por demais vocacional, como constatou o próprio São Vicente: "Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra maneira" (SV VII, 226).


A mansidão inspira um trato suave, agradável, educado, e fundamenta a tolerância, valor este muito importante para a convivência em uma sociedade plural em que o respeito à pessoa e à sua liberdade deve ser uma lei indiscutível.



Mortificação

Por esta virtude somos interpelados a morrer para nós mesmos. É a virtude que pede que nos entreguemos totalmente, pensemos primeiro nos outros, pensemos especialmente nos Pobres antes de pensar em nós mesmos. Esta virtude educa-nos para o altruísmo em detrimento do nosso egocentrismo.


Assim nos diz São Vicente: "Os santos são santos porque seguem as pegadas de Jesus Cristo, renunciam a si mesmos e se mortificam em todas as coisas" (SV XII, 227).


Zelo Apostólico

Podemos identificar o zelo apostólico com paixão pela humanidade. O zelo é a conseqüência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, paixão pela humanidade e paixão especialmente pelo Pobre. O zelo é uma virtude verdadeiramente missionária. Expressa-se em forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização, mesmo quando as forças físicas já estão decadentes.

Assim sendo, relacionado com o zelo está o entusiasmo, que leva à ação. Podemos entender o zelo como uma expressão concreta do amor efetivo, que é motivado pela compaixão, ou amor afetivo.


Referências

Família Vicentina no Brasil

Província Brasileira da Congregração da Missão

TERÇO DE SÃO VICENTE DE PAULO

Ó glorioso Vicente de Paulo, despertai em todas as pessoas a convicção profunda de que Jesus Cristo é nossa única esperança e salvação.


1º Mistério – Contemplamos a virtude da SIMPLICIDADE

Para São Vicente a virtude da simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo, por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa.

Pai Nosso – 10 Ave-Maria – Glória e a seguinte oração:

Somente com os olhos a fé poderemos ver Jesus nos pobres. Alcançai-nos, ó glorioso Vicente de Paulo, de Deus a graça desta fé.

 

2º Mistério – contemplamos a virtude da HUMILDADE

São Vicente de Paulo define a Humildade com a virtude que já é característica essencial à nossa missão.

A Humildade é a virtude que nos torna capazes de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, criando assim a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos. A humildade ajuda-nos a nos livrarmos da nossa autossuficiência, a reconhecermos nossa dependência do amor do Criador e nossa interdependência comunitária. Ao mesmo tempo, a humildade nos capacita para reconhecer nossos talentos, que dever ser postos a serviços das outras pessoas. È a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. È a virtude que nos ajuda a ver com que todos somos iguais aos olhos de Deus. A vivencia desta virtude educa-nos e capacita-nos, em contrapartida, para aproximar-se nos progressivamente dos pobres.

Pai Nosso – 10 Ave-Maria – Glória e a seguinte oração:

Ajudai-nos, Vicente de Paulo, a libertamo-nos do amor próprio, para servirmos somente a Deus, quando servimos o pobre.


3º. Mistério – contemplamos a virtude da MANSIDÃO

Para São Vicente a mansidão se entende como a força, a virtude, que permite a pessoa moderar razoavelmente sua ira e indignação. A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Certamente uma virtude chave na comunidade. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós. Por estas razões podemos dizer que a mansidão é a virtude por demais vocacional, como constatou o próprio São Vicente ao escrever: "Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra maneira".

Pai Nosso – 10 Ave-Maria – Glória e a seguinte oração:

Alcançai-nos, Vicente de Paulo, a graça de compreendermos melhor a presença de Cristo no sacerdote e de tratarmos os ministros de Dês com respeito e dedicação, auxiliando-os na sua árdua missão.


4º. Mistério: contemplamos a virtude da MORTIFICAÇÃO

São Vicente afirma que por esta virtude somos interpelados a morrer para nós mesmos.  É a virtude que pede que nos entreguemos totalmente, pensemos primeiro nos outros, pensemos especialmente nos Pobres antes de pensar em nós mesmos. Esta virtude educa-nos para o altruísmo em detrimento do nosso egocentrismo.

Pai Nosso- 10 Ave Maria – glória e a seguinte oração:

Ajudai-nos, Vicente de Paulo, a libertarmo-nos do amor próprio, para servimos somente a Deus, quando servimos o pobre.

 

5º. Mistério – Contemplamos a virtude do ZELO APOSTÓLICO

Podemos identificar o zelo apostólico com paixão pela humanidade. O zelo é a consequência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, paixão pela humanidade e paixão especialmente pelo pobre. O zelo é a virtude verdadeiramente missionária. Expressa-se em forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização mesmo quando as forças físicas já estão decadentes.

Pai Nosso – 10 Ave Maria – Glória e a seguinte oração:

Ajudai-nos, Vicente de Paulo, a alcançar na presença de Cristo na Eucaristia, as virtude que nos dão a tranquilidade de espírito, a paz de consciência e uma verdadeira caridade para com o pobres.

25 de setembro de 2013

Até o deserto floresce!...

24 de setembro de 2013

Padre Pio em minha vida

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Um coração livre de tudo por amor a Deus

Assim como muitos católicos, sempre tive o desejo de ser devota de algum santo, porém não tinha intimidade com nenhum a ponto de dizer: "Sou devota desse ou daquele santo". Até que, um dia, tive a graça de assistir ao filme de Padre Pio e fiquei encantadíssima com sua história: um homem que tinha traços de santidade desde criança e enfrentou terríveis batalhas contra o demônio por amor a Deus e a sua vocação. A partir daí, comecei a pesquisar mais sobre a história desse lindo santo através nos livros e devocionários.


Passei a cultivar uma experiência de amizade e intimidade com Padre Pio. Rezava muito com um devocionário, o qual continha diversas orações desse santo, de modo especial aquela oração que Celina Borges traduziu de uma forma tão bela na canção: "Fica, Senhor, comigo". O mais bonito é que eu o sentia muito próximo de mim.

Estava em discernimento vocacional no ano de 2008. Tinha o desejo de ingressar na Comunidade Canção Nova e sofri terríveis combates espirituais nesse tempo. Foi Padre Pio quem me ajudou a viver essa fase com sua presença e intercessão.

Nesse mesmo ano de 2008, tive a graça de conhecer a cidade que Padre Pio viveu a maior parte de sua vida religiosa: São Giovanni Rotondo. Por ocasião do Reconhecimento Pontifício da Canção Nova, fiz essa viagem com vários missionários da comunidade. Lembro-me que o meu coração estava cheio de dúvidas em relação a minha vocação, pois eu estava com uma vida profissional muito bem encaminhada, estava bem engajada na paróquia, minha família estava crescendo com o nascimento da minha sobrinha Luiza. Como deixar tudo isso para trás? Ao mesmo tempo que eu tinha o desejo de ser toda de Deus, meu coração ficava apertado ao saber que eu teria que abrir mão de pessoas e coisas tão preciosas para mim.


Nessa minha visita a São Giovanni Rotondo, tive a graça de conhecer a igreja onde Padre Pio viveu seu apostolado. Seus pertences se encontravam nela: túnicas, estolas, livros, escritos... Mas o que mais me encantou foi ver o quarto onde ele dormia. Era de uma simplicidade extraordinária! Lembro-me da cama, do seu chinelinho ao lado dela, uma escrivaninha, uma cadeira. Fiquei ali parada durante um bom tempo contemplando aquele lugar. De dentro de mim vinha a pergunta: "Como pode alguém viver de forma tão simples e ser tão feliz?".


Aquele lugar retratava um coração livre, desapegado de tudo por amor a Deus. Continuei a caminhar e vi o confessionário onde Padre Pio passava horas do seu dia a atender confissões, resgatando assim muitas almas para Deus. Mais adiante, o mais impactante momento: assisti a um vídeo que mostrava um pouco da história dele, com cenas reais de sua vida. Eram destacados momentos marcantes de sua história.

Esse vídeo nos preparava para irmos até o local onde estava o corpo do santo. Sim, havia sido feita a exumação do corpo de Padre Pio e, com isso, todos os peregrinos que por ali passavam podiam contemplar esse homem de Deus praticamente intacto. O clima do ambiente era sobrenatural. Contemplar o rosto de um santo, a serenidade que transfigurava naquela face, a paz que tomava conta daquele lugar me fez entrar numa profunda reflexão. Foi ali que pedi o socorro a ele, pedi que ele tomasse conta da minha vocação.

Mais tarde, na Santa Missa, ele respondeu ao meu pedido. Senti tão forte a presença deste santo ao meu lado que não pude conter as lágrimas. Foi na Santa Missa que ele me disse claramente que estava me assumindo como filha espiritual e que iria cuidar da minha vocação. Ele me deu a inspiração de que, todas as vezes que eu fosse receber Jesus Eucarístico, me colocasse de joelhos e rezasse sempre a sua oração: "Fica, Senhor, comigo. Preciso da Tua presença para não Te ofender. Sabes quão facilmente sou fraca e Te abandono, preciso de Ti para não cair..."

Desde então, passei a viver essa rica experiência de amizade e profunda admiração a esse tão lindo santo. Ingressei na Comunidade Canção Nova no dia 10 de janeiro de 2010. Como toda vocação é provada, é claro que comigo não seria diferente. Porém, com o auxílio de Padre Pio, aprendi a olhar para a cruz com amor e docilidade, pois ela é fonte de sabedoria. Se Padre Pio foi fiel até o fim, é porque ele aprendeu a amar a cruz.

Com alegria renovo o meu 'sim' a cada dia, no desejo sincero de ser fiel até o meu último suspiro, assim como Padre Pio.

São Padre Pio, rogai por nós!

Juliana Moraes
Missionária da Comunidade Canção Nova

23 de setembro de 2013

No mundo, sem ser do mundo

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Uma renovada fidelidade na administração dos bens do mundo

"Eu não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Consagra-os pela verdade: a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo" (Jo 17,15-18). 


Em tempos recentes, o Papa Francisco, continuando um processo iniciado pelo seu predecessor, tem sinalizado com uma série de medidas a realização de reformas administrativas na Igreja. Trata-se de confrontar com o Evangelho, cada dia com maiores exigências, a prática dos cristãos e dos organismos de governo da Igreja. Por outro lado, pelo mundo inteiro cresce a consciência dos valores éticos a serem reconhecidos e respeitados no trato com a coisa pública. Em nosso país, pelo menos, a sensibilidade da sociedade se torna mais aguçada para reagir diante da corrupção e dos desmandos existentes nos vários níveis de poder. Aumentado o escândalo, a vigilância se torna mais atenta.

As parábolas de Jesus são tiradas dos fatos cotidianos ou da natureza para lançar luz sobre os acontecimentos e suscitar novas decisões nas pessoas. No Evangelho de São Lucas, recheado de sensibilidade pelos mais pobres, ganham relevo algumas delas, cuja atualidade se torna um verdadeiro presente de Deus para o nosso tempo. Um administrador ladino (Lc 16, 1-13) deve prestar contas de sua administração e, de acordo com os devedores de seu patrão, oferece-lhes um desconto extra. Hoje, tais acordos são milionários, com dinheiro que atravessa fronteiras para ser "lavado" ou entidades fictícias. E envolvem altas esferas dos poderes das diversas nações do mundo! Sabemos ainda que a esperteza dos interesses econômicos pode até ser justificada em nome do grande valor da paz. Não é de pouca monta o que corre pelo mundo com a fabricação e comercialização de armas. Justamente agora, usando as armas bíblicas da oração e do jejum, na grande convocação feita pelo Papa Francisco, foram desconcertados os poderes do mundo. Ele pediu a verdadeira paz para não acrescentar uma guerra a mais às existentes.


Sua voz ressoou pelo mundo: "É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Rainha da paz, quero responder: 'Sim, é possível para todos!' Queria que, de todos os cantos da terra, gritássemos: 'Sim, é possível para todos!' E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: 'Sim, queremos!' A minha fé cristã me leva a olhar para a cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor que nós cristãos e os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: 'A violência e a guerra nunca são o caminho da paz!' Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação. Olha a dor do teu irmão. Penso nas crianças, somente nelas. Olha a dor do teu irmão, e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade. Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: 'Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra!' (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965). 'A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade' (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976). Irmãos e irmãs, perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, homens e mulheres de reconciliação e de paz" (Homilia na Vigília pela paz, no da 7 de setembro de 2013).


O Senhor pede aos cristãos, hoje como ontem, uma renovada fidelidade na administração dos bens do mundo e na procura do progresso e da paz, como consequência da escolha feita no coração de cada um. Um adequado senso de realismo ajudará a perceber os riscos existentes. Como o coração humano pode ser dissimulado e astucioso, vale a vigilância constante, suscitada pela oração, assim como a revisão de vida, a fim de que não se comece pelos centavos para depois chegar aos milhões no uso injusto dos bens da terra. É possível, sim, que a maldade e a corrupção entre nos ambientes da própria Igreja e na prática dos cristãos! É muito fácil acostumar-se ao "todo mundo faz"! Nivelar por baixo o comportamento já trouxe e trará mais ainda muitos desastres. E aos que pretendem cuidar por si dos próprios interesses, as normas de administração aconselham consultorias, que não são outra coisa senão a capacidade de ouvir os outros e levar em conta sua visão mais objetiva. Além disso, transparência é estrada a ser percorrida pelos cristãos presentes em qualquer campo da sociedade. E ela só faz bem!

Podemos acolher o Evangelho para estar no mundo sem ser ou se contaminar com o mundo, por meio de recomendações precisas e límpidas: "Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do 'dinheiro iníquo', quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16, 10-13). É tarefa para uma vida inteira! Para alcançar tais objetivos, "que se façam súplicas, orações, intercessões, ação de graças, por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador" (1 Tm 2, 1-2).

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

20 de setembro de 2013

Deus o abençoe!

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Seja um portador da bondade de Deus aos outros

Ao lembrar de meus queridos pais, de nossa casa lá em Sarandira, distrito de Juiz de Fora (MG) - onde eu nasci e fui criado -, a primeira recordação que vem à minha mente é aquele ensinamento basilar de meus queridos pais: "Bênção, papai"; "Bênção, mamãe". Assim, eu fui criado num ambiente abençoado, de verdadeiro respeito e veneração por meus pais, avós, tios e familiares. Abençoado, porque tomava a bênção diária de meus pais para dormir, ao acordar, ao sair para os estudos ou para o trabalho. Em tudo nós éramos muito abençoados pelos nossos pais. Falo não só de mim, mas de todos os meus irmãos, os quais receberam a mesma educação e a mesma bênção que até hoje sentimos nos acompanhar.


Quando nós damos a bênção ou a recebemos, somos portadores da bondade, da clemência e da misericórdia divina. Diz o ditado que "a boca fala do que o coração está cheio". Se o nosso coração está cheio e é portador de bênção, seremos sempre pessoas abençoadas pelo Deus Uno e Trino. Conforme fazemos o sinal da cruz na fronte, somos protegidos dos maus pensamentos. Ao fazer o sinal da cruz sobre o peito, somos protegidos dos maus sentimentos. E ao fazer, por fim, o sinal da cruz nos ombros, somos protegidos em nosso agir cristão. 


Falo do costume de pedir a bênção aos pais, aos avós, aos tios, aos padrinhos, ao bispo e ao sacerdote, porque vejo, infelizmente, que no mundo agitado em que vivemos estamos perdendo as bonitas tradições que nos foram legadas pela nossa fé, e estamos perdendo a chance de sermos abençoados pelo Deus Uno e Trino.


Os pais que abençoam os seus filhos são também abençoados. Ela vai e volta. Por isso, quem vive sob a bênção divina é uma pessoa abençoada.

Que bom seria que nossos novos casais também passassem a abençoar os seus filhos como nossos pais nos abençoaram no passado!

Devemos dar a bênção aos nossos amigos. Nas despedidas, devemos dizer: "Que Deus o acompanhe"; "Que Deus o guarde"; "Vá com Deus, que Ele o abençoe"; todas essas manifestações são de nossa religiosidade e da nossa fé, e não devemos ter vergonha de proclamá-las.

O poder da palavra "bênção" é muito rico! Diz que a "bênção é um substantivo feminino que significa: s. f. 1. Expressão ou gesto com que se abençoa; 2. [Religião católica] Sinal da Cruz feito sobre o que se benze. 3. [Figurado] Benefício, graça, favor especial".

Por isso, vamos ensinar aos nossos filhos e amigos o poder da bênção de Deus e a grandeza de nós, como batizados, podermos também fazer chegar essa consoladora bênção ao maior número possível de pessoas.

Deus o abençoe sempre!


Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

18 de setembro de 2013

A vitória da Igreja

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De todas as perseguições ela saiu purificada e engrandecida

Nosso Senhor Jesus Cristo nunca perde batalhas: "No mundo tereis tribulações; mas confiai, Eu venci o mundo" (Jo 16,23), declarava o Senhor às vésperas da Sua aparente derrota na cruz. E a sua promessa estende-se à Igreja que fundou: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).


De todas as perseguições, a Igreja saiu purificada e engrandecida, de todas as falsidades ela triunfou. Enquanto os anticristos ruíam por si mesmos ao longo destes vinte séculos, a Igreja lhes sobrevivia.


Georges Chevrot, na sua obra "Simão Pedro", tem umas palavras que merecem reproduzir-se aqui: "Já em tempos de Santo Agostinho de Hipona os inimigos da Igreja declaravam: 'A Igreja vai morrer, os cristãos tiveram a sua época'. Ao que o bispo de Hipona respondia: 'No entanto, são eles que morrem todos os dias e a Igreja continua de pé, anunciando o poder de Deus às gerações que se sucedem'.


'Vinte anos mais – dizia o infeliz filósofo francês Voltaire -, e a Igreja Católica terá acabado...' Vinte anos depois, Voltaire morria e a Igreja católica continuava a viver. [...]


Assim, desde Celso, no século III, não houve uma única geração em que os coveiros não se preparassem para sepultar a Igreja; e a Igreja vive. O notável escritor Charles Forbes René de Tryon, conde de Montalember dizia-o magnificamente, em 1845, na Câmara dos Pares: 'Apesar de todos os que a caluniam, subjugam ou atraiçoam, a Igreja Católica tem há dezoito séculos uma vitória e uma vingança asseguradas: a sua vingança é orar por eles; a sua vitória, sobreviver-lhe'".


Mesmo o doloroso espetáculo dos mártires não deve desanimar-nos, antes o seu exemplo deve servir-nos de estímulo e orientação. Martírio significa "testemunho" e, na verdade, trata-se do máximo testemunho da fé; e por isso o Senhor associou a ele as mais sentidas promessas de glorificação e fecundidade.

Referindo- se aos mártires deste século que acaba de passar, João Paulo II dizia: "A Igreja encontrou sempre, nos seus mártires, uma semente de vida". Sanguis martyrum, sêmen Christiano-rum (Tertuliano, Apologeticum 50, 13: PL 1, 534): esta célebre (lei) enunciada por Tertuliano, sujeita à prova da História, sempre se mostrou verdadeira. Por que não haveria de sê-lo também no século e milênio que começamos? Talvez estivéssemos um pouco habituados a ver os mártires de longe, como se tratasse de uma categoria do passado associado especialmente com os primeiros séculos da era cristã. A comemoração jubilar descerrou-nos um cenário surpreendente, mostrando o nosso tempo particularmente rico de testemunhas, que souberam, ora de um modo, ora de outro, viver o Evangelho em situações de hostilidade e perseguição, até darem muitas vezes a prova suprema do sangue".

 

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Padre Inácio José do Vale
pe.inacio.jose@gmail.com

 

Padre Inácio José do Vale é professor de História da Igreja no Instituto de Teologia Bento XVI (Cachoeira Paulista). Também é sociólogo em Ciência da Religião.