O tema "carisma vicentino no ser e agir" de Frederico Ozanam tem por objetivo ampliar o conhecimento dentro da Família Vicentina daquele que foi um dos que melhor compreendeu e viveu tudo o que S. Vicente de Paulo foi e tudo o que este santo deixou para a posteridade através de suas obras. O tema foi escolhido para a apresentação dentro de uma assembleia da Família Vicentina, onde predominantemente, temos muita representação dos leigos. O tema auxilia o conhecimento de nossa identidade vista através de um leigo, Frederico Ozanam, que segundo historiadores, foi um dos que melhor compreendeu a espiritualidade vicentina refletida no apostolado dos leigos. Quando falamos de CARISMA, instintivamente recordamos o que São Paulo diz na carta aos Coríntios, capítulo 12, onde o apóstolo nos lembra de que o carisma é "um dom do Espírito de Deus em benefício da comunidade". É algo dado em função de uma obrigação social. Os carismas constituem a dinâmica da Igreja: A igreja vive e se desenvolve através do que cada fiel atribui como dom de Deus. Cada qual deve respeitar e aceitar o que os demais atribuem, e reconhecer em seus próprios dons uma "vocação", ou seja, um chamado ao serviço. A diversidade de carismas faz com que a Igreja seja uma realidade pluralista e viva – cada um atribui algo peculiar e novo – porém sem que se perca a unidade fundamental: todos procedem do mesmo espírito. Nosso carisma, nossa vocação, foi mostrado por Vicente de Paulo e foi transmitido por um leigo, Frederico Ozanam. Os confrades e consócias das conferências vicentinas enxergam sua vocação através da vocação de Frederico Ozanam que por sua vez viu sua vocação através da espiritualidade de Vicente de Paulo. Vejamos como o fundador das conferências vicentinas direcionou sua vida a exemplo do Espírito de Deus, compreendido na Divina Providência. Desde sua adolescência, Frederico Ozanam considerou o descobrimento de sua vocação como o ponto chave de sua vida. Sabia perfeitamente que ao fazer esta descoberta e fazê-la bem feita, dela dependeria toda sua vida. Sabia também que descobrir sua própria vocação não era uma mera consulta pessoal sobre o que queria ser, mas confrontar para ver se era o que Deus queria que fosse, já que a vocação é um chamado. Por isso Frederico Ozanam rezou, refletiu profundamente e buscou garantias para discernir estes carismas que Deus lhe havia confiado para direcioná-los e realizá-los no seguimento a uma vocação, onde a Providência Divina o havia escolhido como cooperador de seu desígnio de salvação universal. Através de suas cartas sabemos que aspectos gerais de sua vocação o encaminharam com decisão e firmeza como jovem estudante em Paris. Desde sua juventude considerou o essencial da vocação como um chamado a uma vivência peculiar do evangelho em circunstâncias concretas de profissão de fé e estado de vida. Cristo se revela com toda sua perfeição. E esta vocação caritativa Frederico Ozanam a viveu e quis que vivessem as conferências de espírito vicentino. Por isso, as conferências vicentinas adotaram desde o princípio São Vicente de Paulo como seu patrono. "Radicalmente vicentino foi também nos caminhos concretos escolhidos para exercer a caridade, como a visita aos Pobres em sua casa, como fizeram desde o início as Filhas da Caridade, e as mulheres e homens das conferencias vicentinas; até sua visão global de caridade como a obra de devolver a dignidade ao Pobre, que se preocupava com seu corpo e espírito, que abraçava toda e qualquer iniciativa, desde uma esmola pessoal até a criação de institutos para a educação humana e profissional dos Pobres. Em definitivo, como Vicente de Paulo, através do serviço corporal e espiritual ao Pobre, Frederico Ozanam tinha um objetivo mais além: a restauração cristã da sociedade" (J. M. Román). Um terceiro elemento de sua vivência pessoal do evangelho está centrado na contemplação de si mesmo como um simples cristão, ou seja, um cristão na sua condição laical. O ideal de ação que se propõe é notadamente laical e isto foi decisivo para manter o caráter laical da Sociedade de caridade que fundou: "queremos que seja profundamente católica sem deixar de ser leiga". Conhecendo o seu modo de pensar, reconhecemos o seu pensamento nas palavras que foram ditas bem mais tarde pelo Papa João Paulo II quando diz: "A caridade para com o próximo, nas expressões antigas e sempre novas das obras de misericórdia corporais e espirituais, representa o conteúdo mais imediato, comum e habitual da animação cristã da ordem temporal que constitui o empenho específico dos fiéis leigos" (Christifideles Laici, 414 – 30 de dezembro de 1988). Aquele caráter de Igreja laical que ele assumiu em sua vida de simples cristão, fez dele um "missionário da fé no mundo da ciência, e missionário da fé no seio da sociedade; eis aí o que pouco a pouco Frederico Ozanam quis ser e que brilhantemente chegou a ser" (G. Goyau, Livro do Centenário - p. 3-4). "Se por sua vocação, Frederico Ozanam viveu antecipadamente o ideal que a teologia atual assinala como próprio do leigo cristão: ser, sem abandonar as tarefas mundanas, mais ainda, através delas, o testemunho autorizado da presença e a atuação de Deus no mundo, devolver a Deus a criação nascida de suas mãos e fazer tudo isto com o testemunho de uma existência inteiramente dócil ao chamado à santidade que Deus dirige a todos e a cada um dos cristãos" (J. M. Román). Em síntese, Frederico Ozanam como Vicente de Paulo foi pioneiro numa visão de igreja que o Vaticano II marcou fortemente em seus documentos. Um conceito de igreja predominantemente laical que Frederico Ozanam herdou de São Vicente de Paulo. Uma igreja na qual o Pobre é o espelho de Cristo e que precisamente por isso é uma igreja viva e que se manifesta aos olhos dos seguidores de Cristo. Uma igreja enraizada na mensagem de amor proclamada por Jesus de Nazaré. Mensagem de amor que Ozanam quis traduzir na vivência pessoal da caridade, porém uma caridade que reunisse todos estes três elementos, dos quais dois deles: a profissão de fé e o estado de vida permaneceram indeterminados por longo tempo. Já com o primeiro deles não foi assim. A vivência pessoal do evangelho, que descobriu ainda jovem, primeiro de forma confusa, porém progrediu e depois ainda mais rápido com absoluta clareza. Esta vivência pessoal do evangelho que descobriu tão cedo em alguns elementos e que permaneceram imutáveis e foram incorporados como definitivos em sua vida. Foram estes os pontos"chaves" de todo seu ser e agir, pois aprendeu com seu patrono e mentor Vicente de Paulo e constituem hoje no carisma e identidade de seus seguidores, os vicentinos. O primeiro elemento desta vivência pessoal do evangelho, Frederico Ozanam especificou num projeto de restauração da sociedade sob a orientação do catolicismo. Este foi o sonho de toda sua vida e herdou de seu patrono São Vicente de Paulo. Desde os primeiros anos de estudante em Sorbonne, Frederico Ozanam formulou o binômio: Verdade – Igreja, como princípio de todo seu agir. Sua vida inteira foi de compromisso em defesa da verdade:"A verdade me agarrou mais do que a minha própria vida". Por outro lado, via a Igreja católica como aquela que tinha a custódia da verdade e por isso para Frederico Ozanam todas as distintas manifestações da verdade deveria ser considerada sob o prisma da Igreja. Este é o contexto de um de seus escritos: "todas minhas ambições me direcionam para a Igreja. Assim como seus triunfos me causam grande satisfação e alegria, sua tristeza e contradições me fazem estremecer". O Pe. Lacordaire deixou bem claro quando falando de Frederico Ozanam diz assim sobre o seu amor e entrega à Igreja: "Ozanam tinha um coração sacerdotal numa vida de homem secular. Na França de nossa época nenhum cristão amou tanto a Igreja como ele. Ninguém sentiu mais do que ele as suas necessidades e ninguém mais do que ele chorou com amargura as faltas de seus servidores". Se Frederico Ozanam, com seus 18 anos de idade, realizou o ambicioso plano de defesa do cristianismo através da história das religiões, se centralizou todas as suas aspirações de vida na cátedra de Letras na Universidade de Sorbonne e se em seu exercício das leis, que ele abraçou obrigado por seu amor e respeito a seus pais trabalhou incansavelmente até conseguir a elaboração de uma doutrina social cristã, fez tudo isso porque concebeu desde os primeiros anos de sua juventude a vivência pessoal do evangelho como um projeto de restauração da sociedade sob a orientação do catolicismo e tomou como dever pessoal o propósito de mostrar o catolicismo como o inspirador e realizador da civilização da sociedade europeia. Um segundo elemento de sua vivência pessoal do evangelho que haveria de ser como o princípio vital do primeiro elemento descrito anteriormente, não é outra coisa senão a vivência da caridade na condição de leigo. Isto o impulsionou a ter o amor e a caridade como norma fundamental de sua vida e chegar por ele à santidade. De novo aparece o espírito eclesial de Frederico Ozanam. A força motriz da Igreja é Cristo, que se encarnou na humanidade e se fez Pobre por amor aos homens. Só assim o apostolado de caridade poderia conseguir o objetivo primordial que Frederico Ozanam se propôs a realizar como linhas de ação de todo seu agir: a restauração da sociedade sob a orientação do catolicismo tomando como norma fundamental de vida o amor e a caridade centralizada na visão de uma associação de amigos leigos comprometidos a trabalhar pelos Pobres. Fonte: Autor: Teodoro Martín, C.M. • Ano de publicação original: 1994. • Fonte: Ozanam, 1994. • Traduzido do espanhol para o português por: Joelson Cezar Sotem, CM – 13/set/2012 |