29 de agosto de 2013

Como manter a atração na vida conjugal?

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Isso implica no cultivo de certos cuidados

Quem não se lembra dos inícios de namoro? Nesse começo do envolvimento, a pessoa apaixonada pega-se pensando no outro a todo instante, em tudo vê algo que remete seus pensamentos à pessoa por quem tem um amor ainda platônico. Assim, o galanteador, por meio dos olhares trocados ou nas conversas – que apesar de parecerem bobas, não são descartadas pela pretendente de imediato –, lança mão de todas as "manobras", a fim de prolongar os momentos na presença do outro.


Independente da época em que o casal tenha se conhecido ou da realidade social na qual cada um viva, quase sempre, em seus encontros, estão presentes as mesmas táticas de um jogo de sedução e de desejo silencioso entre eles.

Um jogo que, nas abordagens, visa a aproximação junto da pessoa com o propósito de estabelecer com ela um romance.

Das experiências vividas em outros relacionamentos, aprende-se que, ainda que seja muito agradável estar com alguém bonito, somente os lindos olhos azuis da menina ou o físico "malhado" do rapaz, não tem forças suficientes para sustentar um envolvimento a longo prazo.

Isso nos faz perceber que apenas o sentimento de atração física por alguém não é sinal de amor. 


Amar é muito mais do que desejar estar perto de alguém ou se sentir atraído (a) pelos atributos do (a) pretendente.


Apesar de a atração física não ser unicamente a base de um relacionamento, na vida a dois o desejo e o amor pelo outro se complementam como ingredientes para compor as bases dessa relação. Se a atração física desperta em nós o desejo por alguém, o amor amadurecido nos provoca a querer permanecer no propósito de construir a felicidade com a pessoa.

Assim como numa orquestra é preciso que haja harmonia e nenhum deslize pode acontecer na execução da música, na sinfonia da vida conjugal muitas coisas precisam estar também afinadas entre os cônjuges.

Isso implica na retomada daqueles cuidados que, ainda como namorados, o rapaz e a moça procuravam cultivar em cada encontro, isto é, o interesse do outro para si!

Se tal atenção deixou de fazer parte da agenda do casal, ainda é tempo de recomeçar. Não podemos considerar que somente por estarmos casados, não há mais a necessidade de continuar provocando boas sensações no nosso cônjuge. O desejo em continuar atraindo o outro, por meio dos encantamentos, dos cuidados e dos atributos naturais, deverão ser cultivados e alimentados ao longo da vida conjugal.

Além das obrigações comumente realizadas pelo casal, os momentos de romance e intimidade entre marido e mulher precisam ser observados com o mesmo grau de importância com que eles se dedicam às outras tarefas, pois não é porque já nos encontramos casados que devemos abolir da vida conjugal a arte de continuar seduzindo aquela pessoa que nos faz sentir realizados.

Um abraço!

 

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Dado Moura
contato@dadomoura.com

Dado Moura é membro aliança da Comunidade Canção Nova e trabalha atualmente na Fundação João Paulo II para o Portal Canção Nova como articulista. Autor do livro Relações sadias, laços duradouros e Lidando com as crises
Outros temas do autor: www.dadomoura.com
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28 de agosto de 2013

Aos catequistas, com gratidão!

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Um tesouro para Deus e sua amada Igreja

Catequista, você é uma pérola especial e um tesouro para Deus e sua amada Igreja. A sua singular vocação foi gerada no coração de Deus Pai, para que pudesse chegar aos corações dos seus filhos e filhas com a mensagem da vida – Jesus Cristo. Catequista, você não é apenas um transmissor de ideias, conhecimentos, doutrina ou, mais ainda, um professor de conteúdos e teorias, mas é um canal da experiência viva do encontro intrapessoal com a pessoa de Jesus Cristo. 


Essa experiência é comunicada pelo Ser, Saber e Saber Fazer em comunidade, no coração da missão catequética. O ser e o saber do catequista se fundamentam numa dinâmica divina pautada na espiritualidade da gratuidade, da confiança, da entrega, da certeza de que somos impulsionados pelo Espírito Santo, fortalecidos pelo Cristo e amparados pelo Pai.

Catequista, com certeza são muitos, grandes e difíceis os desafios hoje de nossa catequese. Vivemos numa realidade que muitas vezes é contrária àquilo que anunciamos em nossa missão de levar e testemunhar a mensagem de Jesus Cristo. Mas temos a certeza de que não caminhamos sozinhos, somos assistidos pela grande catequista, a Virgem Santíssima. 

Por isso, peço-lhe que a experiência do encontro com Jesus Cristo seja a força motivadora capaz de lhe trazer o encantamento por esse fascinante caminho de discipulado, cheio de desafios, mas que o faz crescer e acabam gerando profundas alegrias.


"A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, a qual compreende especialmente um ensino da doutrina cristã, dado em geral de maneira orgânica e sistemática, com o fim de iniciá-los na plenitude da vida cristã" (CT). Ensina o Catecismo da Igreja Católica: "no centro da catequese encontramos essencialmente uma Pessoa, a de Jesus Cristo de Nazaré, Filho único do Pai..."(cf CIC 1992). A finalidade definitiva da catequese é levar à comunhão com Jesus Cristo: só Ele pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar da vida da Santíssima Trindade. Todo catequista deveria poder aplicar a si mesmo a misteriosa palavra de Jesus: 'Minha doutrina não é minha, mas Daquele que me enviou' (Jo 7,16) (CIC, 426-427).

Catequista, acolha o afetuoso abraço de gratidão de nossa amada mãe Igreja, nos seus bispos, padres e de milhares de pessoas, vidas agradecidas pela sua presença na educação da fé de nossos catequizandos, crianças, adolescentes, jovens e adultos. Em sua ação se traduz, de uma forma única e original, a vocação da Igreja-Mãe que cuida maternalmente dos filhos que gerou na fé, pela ação do Espírito.

Poderíamos dizer muitas coisas, palavras eloquentes e profundas, mas uma só é necessária: Deus lhe pague! E que a força da Palavra continue a suscitar-lhe a fé e o compromisso missionário!

Que a comunidade continue sendo o referencial da experiência do encontro com Cristo naqueles que sofrem, naqueles que buscam acolhida e necessitam ser amados, amparados e cuidados.

A ternura amorosa do Pai, a paz afável do Filho e a coragem inspiradora do Espírito Santo que cuida com carinho dos seus filhos e filhas, que um dia nos chamou a viver com alegria a vocação de catequista discípulo missionário, estejam na sua vida, na vida da sua comunidade hoje e sempre!

 

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Dom Orani João Tempesta, O. Cist

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

27 de agosto de 2013

Os cinco rostos de Vicente de Paulo

Este texto foi escrito pelo Pe. Robert Maloney,CM. Ele foi durante doze anos o Superior Geral da Congregação da Missão - Padres Vicentinos. Ele foi desde então um grande incentivador e articulador da FAMÍLIA VICENTINA. O texto a seguir é uma belíssima reflexão sobre alguns "rostos" de Vicente de Paulo. Vale a pena conferir!

 

I. Pai dos Pobres

Quando eu era um menino de 13 anos, a primeira imagem que tive de Vicente de Paulo foi a do PAI DOS POBRES. Creio que esta sua imagem seja a mais popular e a mais conhecida pelas pessoas por todo o mundo. Se vê em vitrais, estátuas, quadros em muitíssimas igrejas.

Nos últimos anos temos visto muitas imagens belíssimas de São Vicente de Paulo como PAI DOS POBRES. Uma das que mais me chamou a atenção foi a que apareceu na página da internet da Assembleia Geral da Congregação da Missão em 1999, e em muitas publicações daquele ano. Trata-se de um obra pintada por Kurt Welther para a capela da paróquia São Vicente de Paulo em Graz, Áustria. Vicente de Paulo está sentado entre os Pobres como se fosse um deles. Não tem nenhuma auréola sobre ele. Não se destaca entre eles como se fosse um benfeitor. Dá a impressão de que os Pobres apareceram no justo momento em que Vicente de Paulo havia sentado para comer sua modesta refeição. Ele a reparte com eles. Os rostos dos Pobres sentados à mesa não dá prá ver claramente. Porém, Vicente os vê e nos diria: "verá à luz da fé que o Filho de Deus, que quis ser Pobre, está representado nestes Pobres" (XI, 725). O rosto que se vê no centro da mesa reflete a presença de Cristo. Os que rodeiam a Cristo neste refeição modesta nos lembram a última ceia, a refeição sacramental do amor de Deus por seu povo.

O que podemos falar de Vicente de Paulo, o PAI DOS POBRES?

1. Este rosto de Vicente de Paulo é fundamental para todos os ramos da Família Vicentina. De fato, é a face que a Igreja melhor reconhece de São Vicente de Paulo em todo o mundo. Em 16 de abril de 1885, Vicente de Paulo foi declarado pela Igreja o PATRONO DE TODAS AS INSTITUIÇÕES DE CARIDADE. Quando falo com membros dos mais variados ramos de nossa Família Vicentina, em diversos países, vejo que todos reconhecem Vicente de Paulo como PAI DOS POBRES, bem como seu fundador e fonte principal de inspiração.

2. O que fazemos, fala com mais força do que aquilo que dizemos. O testemunho é frequentemente mais importante que as palavras, sobretudo em nossos dias. Num mundo em que existem muitas pessoas indiferentes perante a religião organizada, a linguagem das obras é cada vez mais importante. As obras de justiça e de misericórdia são um sinal de que o Reino de Deus está realmente atuando no meio de nós: dar de comer ao faminto, de beber ao sedento, ajudar a encontrar as causas de sua fome e de sua sede e a maneira de aliviá-las.

 

II. Missionário

Quando ingressei na Congregação da Missão, aos 18 anos de idade, comecei a conhecer Vicente de Paulo como missionário. A imagem que escolhi para representar este rosto é sem dúvida a que mais se vê entre as imagens de Vicente de Paulo. Milhares de pessoas a veem a cada dia, ainda que se diga que os que a enxergam, são poucos os que realmente a veem!

Esta estátua é uma obra de Pietro Bracci (1700-1773) e foi colocada na Basílica de São Pedro depois da canonização de Vicente de Paulo em 1737. Confesso que sinto um certo orgulho quando levo alguns visitantes à São Pedro e lhes mostro nosso fundador na nave principal, ao lado de Tereza D´Ávila.

São vários os aspectos que nos chamam a atenção nesta estátua. Em primeiro lugar, representa claramente a Vicente de Paulo como missionário. Nesta estátua o Vicente de Paulo que se dirige à nós é o Vicente de Paulo pregador. Está vestido com sobrepeliz e estola, tem uma cruz na mão esquerda e mostra com sua mão direita um gesto dramático dirigido à sua plateia. A concha por detrás de sua cabeça amplia o volume de sua voz. Do lado do pé esquerdo encontra-se o livro do evangelho de Lucas onde está escrito: "O Senhor me enviou para anunciar o evangelho aos Pobres" (Lucas 4,18).

Este é o Vicente de Paulo, que comovido pela conversão de um camponês que agonizava nas terras de uma família rica, os Gondi, fez a pregação de um sermão no dia 25 de janeiro de 1617 chamando todos à conversão. Ele sempre viu neste dia o começo de sua atividade missionária e de muitos missionários que ele mesmo enviou mundo afora: Polônia, Itália, Argélia, Madagascar, Irlanda, Escócia, ...

O que podemos falar de Vicente de Paulo como missionário?

1. Para ele a palavra de Deus era algo totalmente central. Isto é o que quer expressar o evangelho ao lado de seu pé esquerdo: "A palavra de Deus não falha nunca". Ele dizia isto com certa frequência. Para Vicente de Paulo, a palavra de Deus é a regra fundamental da vida humana; é também a fonte de onde brota toda a pregação e todo ensinamento.

2. A cruz é central quando se prega ou se catequiza. Vicente de Paulo cita o impressionante texto de São Paulo: "Deus me livre de gloriar-me, senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Gál 6,14; II,339; XI,20). Porém a cruz não ocupou um lugar fundamental somente na pregação, mas também na formação de seus discípulos e seguidores. 

 

III. Formador

Comecei a conhecer Vicente de Paulo como formador quando tinha 27 anos, porque meus superiores me pediram que eu fosse formador.

Vicente de Paulo fundou três grupos numerosos: As Damas da Caridade (Atualmente conhecidas como AIC – Associação Internacional de Caridades) – 1617; A Congregação da Missão – 1625; e as Filhas da Caridade – 1633. Além de tê-los fundado, ele teve a preocupação de formá-los. Redigiu as regras, fez inúmeras conferências e boa parte das cartas que escreveu tinham por tema a formação.

Vicente de Paulo foi um dos maiores reformadores do clero do século XVII. Sua influência sobre padres diocesanos e sobre futuros bispos da França foi enorme. Fundou 20 seminários nas últimas décadas de sua vida. Foi conselheiro do rei quando se tratava da escolha dos bispos. Os grandes personagens da espiritualidade de sua época participaram dos programas de formação que ele organizou. Durante sua vida fizeram retiro na Casa de Vicente de Paulo, mais de 12.000 padres.Algumas das imagens mais conhecidas de Vicente o representam instruindo as Damas da Caridade, os padres e as Filhas da Caridade. Estas imagens são importante porque refletem um aspecto central do caráter de Vicente de Paulo que as vezes esquecemos: Vicente de Paulo foi um extraordinário formador.

O que podemos falar de Vicente de Paulo como formador?

1. Talvez o mais importante seja o que ele mesmo disse falando sobre formação a um jovem, o padre Antônio Durand, a quem havia nomeado superior de um seminário: "Guiar almas é a arte das artes... Foi a profissão do Filho de Deus quando esteve na terra... Nem a filosofia, nem a teologia, nem os discursos tem influência sobre as almas. É essencial que Jesus Cristo esteja unido conosco intimamente e nós com ele. Que atuemos nele e ele em nós. Que falemos como ele e com seu Espírito, assim como ele esteve em seu Pai e pregou a doutrina que seu Pai lhe ensinou. Isto é o que ensina a escritura. Por isso é necessário para você que se esvazie de si mesmo para revestir-se de Jesus Cristo" (XI, 343). Não existem ideias melhores do que estas para formadores e para os que estão se formando.

2. Vicente de Paulo foi muito criativo para fazer novos programas de formação. A formação pede também hoje uma capacidade inventiva e criativa, uma nova pedagogia e o uso dos meios modernos de comunicação. É fundamental que o formador faça com que os formandos participem no processo de formação de modo que estes se convertam em agentes ativos de seu próprio processo de formação. Afinal de contas, são eles os que tem a responsabilidade primeira em serem bem formados. Espera-se que eles se convertam em "agentes multiplicadores", capazes de transmitir a outros os dons que eles próprio receberam. Os bons formadores devem saber como trabalhar não só com indivíduos senão também com grupos. Devem saber estimular os formandos para que se ajudem uns aos outros no processo de formação. 

 

IV. Contemplativo na Ação

Poucos santos tem sido tão ativos como São Vicente de Paulo. Foram tão impressionantes suas obras que em seu funeral o pregador disse: "Ele quase transformou o rosto da Igreja" (Sermão de Maupas du Tour). Porém, seus contemporâneos viam nele um homem de profunda oração. Um deles escreveu que "seu espírito estava continuamente atento à presença de Deus" (Louis Abelly). Um padre que o conhecia muito bem recorda que o viu uma vez contemplando durante horas um crucifixo que tinha em suas mãos.

A naturalidade com que Vicente de Paulo fala sobre a oração e a contemplação é um sinal de que ele transitava facilmente neste meio. Vicente de Paulo é muito eloquente quando fala de como ele vê Deus. Um ano e meio antes de sua morte, ele disse aos padres e irmãos: "A recordação da presença de Deus cresce na alma pouco a pouco e com a ajuda de sua graça se torna permanente em nós. Nos sentimos vivificados, por assim dizer, por esta presença divina. Meus irmãos, quantas pessoas no mundo que nunca perdem este sentido da presença de Deus" (XII 455).

O que podemos falar de Vicente de Paulo, o contemplativo na ação?

Pouco a pouco fui percebendo a união de oração e ação, tão evidente neste rosto de Vicente de Paulo, como uma das chaves mais importantes para compreender a espiritualidade vicentina. Vicente de Paulo estava totalmente convencido de que a oração e ação caminham juntas. Se deu conta de que separada da ação a oração pode tornar-se uma fuga, pode perder-se em fantasias e produzir falsas ilusões de santidade. Por outro lado, o serviço separado da oração pode ser algo muito superficial, pode ter um aspecto de agir mecânico, pode converter-se numa dependência, num atrativo que vicia. A espiritualidade apostólica é plenamente autêntica quando une oração e ação num equilíbrio saudável.

Vicente de Paulo enfatiza no amor prático e efetivo, porem insiste também com grande força na oração diária. De fato, na tradição espiritual vicentina a oração tem um papel de extrema importância. Em poucas coisas pôs tanta ênfase assim. Disse Vicente de Paulo falando sobre a oração: "Dá-me um homem de oração, e ele será capaz de tudo. Poderá dizer como o apóstolo: Tudo posso naquele que me conforta. A Congregação da Missão durará sempre que mantiver a prática da oração, que é como uma muralha inexpugnável que defenderá seus missionários contra todo tipo de ataques" (XI, 778).

Em outras palavras, considera a oração como essencial para os que estão comprometidos com o trabalho pelos Pobres. 

 

V. O homem mais amável de seu tempo

São Vicente de Paulo admirava enormemente Francisco de Sales, quem considerava a pessoa mais amável que havia conhecido. Aprendeu de tal modo com o exemplo de Francisco de Sales que ele mesmo adquiriu uma notável amabilidade e afabilidade, e teve uma admirável capacidade para tratar e para relacionar-se com todo tipo de pessoa (Louis Abelly, vol. III, cap. XII, p. 669).

Apesar de ser difícil retratar a amabilidade, muitos artistas tentaram. Escolhi este rosto de Vicente de Paulo porque cada vez estou mais convencido que devemos deixar-nos transformar pelo amor de Deus, como o fez Vicente de Paulo.

O que poderíamos dizer de Vicente de Paulo, o homem mais amável de seu tempo?

1. Uma espiritualidade genuína transformará nossa humanidade. Vicente de Paulo diz que quando era jovem era obstinado e se enfurecia facilmente. Tinha também uma tendência a permanecer muito tempo de mau humor. Porém, ao admitir estes aspectos em seu caráter, "voltei-me para Deus e pedi sem cessar que mudasse este meu modo rude e mal humorado de ser e que me concedesse um espírito calmo e amável. E pela graça de Deus e com um pequeno esforço de minha parte que fiz para controlar os movimentos de minha natureza, consegui mudar algo do meu mal humor". Vicente se expressa aqui com uma humildade sem tamanho. Seus contemporâneos deram testemunho de que Vicente de Paulo como adulto, havia se transformado num homem amável que tinha um modo afetuoso e atraente para relacionar-se com as pessoas.

2. Vicente soube unir a amabilidade com a compaixão, e disse que os discípulos de Jesus devem estar cheios de compaixão (XI, 771), sobretudo se levar em conta que somos chamados a servir os mais Pobres deste mundo, os mais abandonados e os que gemem agonizantes por males físicos e espirituais. Nos diz ainda que nossa santidade consiste em servir os Pobres com amor, doçura e compaixão, e que fomos chamados a servir os mais miseráveis (IX, 932).

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Estes são os cinco rostos de Vicente de Paulo. Existem outros, porque a personalidade de Vicente de Paulo era muito rica. Incentivo ao leitor que contemple estes rostos para conhecer e amar com mais profundidade este grande homem.Para concluir esta meditação sobre Vicente de Paulo, convido a você leitor a unir-se comigo nesta oração:

"Deus de bondade, faz-nos instrumentos de teu amor. Ajuda-nos a crescer no exercício da caridade, amável e compassivo como membros da Família Vicentina. Dá-nos força para que seguindo as pegadas de São Vicente de Paulo, possamos contemplar-te e servir-te na pessoa dos Pobres, para que um dia nos unamos contigo e com Eles em teu Reino. Isto te pedimos por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém!"

Fonte: Robert P. Maloney, CM. Publicado no site SOMOSVICENCIANOS em 27 de setembro de 2011. Traduzido do espanhol para o português por Joelson C. Sotem, CM em 22 de agosto de 2013. 

26 de agosto de 2013

Salve-se quem puder?

Deus vem ao encontro dos anseios humanos
Está inscrito na natureza humana o anseio pela felicidade, a busca da plena realização de todas as suas potencialidades. Ainda bem! É altamente consolador ter a clareza de que não fomos feitos para nivelar pelo rodapé da existência nossos sonhos, mas buscar o que é melhor, mirar as coisas do alto, acolher o chamado de Deus a sermos perfeitos. Entra aqui um dado importante, pois não se trata apenas de construção pessoal, mas resposta, a modo de um diálogo iniciado desde toda a eternidade. Fomos pensados e amados por alguém. Não somos obra do acaso nem estamos perdidos, sem rumo.


Entretanto, a luta renhida do cotidiano pode levar as pessoas a se engajarem numa competição, tantas vezes desigual, pelos melhores lugares na sociedade, oportunidades de trabalho e reconhecimento, num "salve-se quem puder" semelhante à correria que se segue a tragédias, como incêndios ou revoltas populares. Cada um quer receber o seu naco de proveito e, infelizmente, tantas vezes à custa do pescoço do outro a ser pisado. Todas as diversas manifestações que pululam hoje pelo mundo e pelo nosso país têm como pano de fundo o desejo profundo de realização e a busca do espaço de liberdade para a qual fomos feitos. Só que muitos entram de roldão nas ondas de protestos, criando-se um estado de insatisfação em que se perde o sentido do respeito às pessoas e os justos limites da liberdade de cada homem e cada mulher. Também as situações pessoais e os dramas familiares nos deixam estarrecidos, de modo a suscitar um "até quando?" que inquieta a todos pela multiplicação de fatos inusitados. E que dizer da absurda eliminação da vida das pessoas e a violência que se espalha? Podemos até destruir justamente o que mais nos atrai, o sonho de felicidade e dignidade!

Deus vem ao encontro dos anseios humanos; antes, criou a todos com uma sede de eternidade e de felicidade. Ele quer que todos se realizem, mas há uma interrogação, cuja atualidade se revela perene, diante das perspectivas que se abrem para a humanidade de cada tempo: "Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?' Ele respondeu: 'Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão'" (Lc 13,22-14). Ao invés de oferecer respostas prontas e aparentemente fáceis de serem absorvidas, Jesus envolve as pessoas numa verdadeira aventura de engajamento na estrada da salvação e da liberdade. De fato, Deus quer o bem de todos e a vida em abundância (Cf. Jo 10,10).

Ninguém se sinta excluído de Seu projeto! No entanto, faz-se necessário, justamente pela liberdade com que as pessoas foram criadas, arriscar-se pela porta estreita do amor ao próprio Deus e ao próximo. Não fomos feitos para ficar assentados, esperando a grande sorte na loteria da vida ou reduzindo a sonhos de consumo o sentido da existência. As soluções aparentemente mágicas não são plenamente humanas. Humano é sair de si para amar e servir! Humano é tecer relações novas entre pessoas e grupos, superar a desconfiança, exercitar a criatividade, inventar soluções novas, acreditar nos pequenos passos.


Daí nasce o convite e o compromisso cristão na construção de um mundo melhor. Começa no alto, no plano de Deus a nosso respeito. "É do amor de Deus por todos os homens que, desde sempre, a Igreja vai buscar a obrigação e o vigor do seu ardor missionário: 'Porque o amor de Cristo nos impele' (2 Cor 5, 14). Com efeito, 'Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade' (1Tm 2,4). Os que obedecem à moção do Espírito da verdade estão já no caminho da salvação. Mas a Igreja, à qual a mesma verdade foi confiada, deve ir ao encontro dos que a procuram. É por acreditar no desígnio universal da salvação que "a Igreja deve ser missionária" (Catecismo da Igreja Católica, 851). O anúncio da "salvação" proclama que a vida tem sentido e que é para a felicidade que Deus nos fez. "Chamado à felicidade, mas ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da salvação de Deus. O auxílio divino lhe é dado em Cristo, pela lei que o dirige e na graça que o ampara: 'Trabalhai com temor e tremor na vossa salvação, porque é o Senhor quem opera em vós o querer e o agir, segundo os seus desígnios'" (Fl 2, 12-13 - Catecismo da Igreja Católica 1949).

Consequência é nosso olhar positivo, ao mesmo tempo realista, a respeito da realidade. Fomos feitos para o bem e temos a semente plantada por Deus em nossos corações, com todas as possibilidades de nos realizarmos. No entanto, existe em nós o mistério da iniquidade, pelo que, olhando no espelho da vida, reconhecemos as rugas deixadas pelo pecado. Olhamos também para os outros e os acolhemos, sabendo que neles existe esta desafiadora mistura de boa intenção e pecado. Acreditamos que o amor de Deus é maior do que toda a maldade existente, engajando-nos na luta pelo bem e pela verdade. Consequência é o primeiro passo a ser dado. Cabe a cada um de nós começar, sem aguardar que os outros venham ao nosso encontro. Consequência é a construção de novos relacionamentos, certos da Palavra de Jesus: "Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13,35).

Para tanto, só a graça de Deus nos sustenta, por isso pedimos: "Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeira alegrias. Amém."

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

23 de agosto de 2013

Quando a amizade passa pela prova da paixão

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Não tome decisões prematuras

Na amizade, encantamo-nos com algo que descobrimos no outro. Afinal, se estamos juntos, é porque temos afinidades e escolhemos ser amigos. Por isso, é natural que, por vezes, o companheirismo com o sexo oposto gere mais do que uma simples amizade. O(a) amigo(a) começa a aparecer com mais frequência em nossos pensamentos e o bom sentimento em relação a ele (a) toma tons de atração ou paixão. Mas temos de ficar atentos! Não é porque estamos buscando viver uma vida de santidade, com amizades sadias e santas para, consequentemente, chegar a um namoro santo e cristão, que estamos isentos de sentir carência, sensação de solidão e impulsos, desejos e fantasias. Isso é inerente ao ser humano, portanto, sinal de que o seu físico e o seu psicológico continuam funcionando muito bem, graças a Deus!


Não tome decisões prematuras. Namoricos em grupos de oração, em grupos de jovens e universitários, quando decididos às pressas, prejudicam até o andamento da comunidade em que estão. 

Tudo pode ser muito mais positivo quando cultivamos um pouco de paciência ao tratar esses sinais do coração. Antes de se declarar e talvez estragar o que vocês já têm, deixe a amizade passar pelo filtro, pela prova dos sentimentos. Afinal, que amor é esse? Amigos ou namorados?


Quando perceber que está paquerando seu(sua) amigo(a), vá com calma. Se o sentimento não for resultado de solidão e carência, ele continuará e, provavelmente, crescerá, dando-lhe certeza do que realmente está ocorrendo em seu interior. O amor falará por si e tirará sua dúvida.

No geral, os namoros mais felizes nascem a partir de uma amizade antes cultivada, mas se o sentimento for motivado puramente pela carência, sensação de solidão, impulsos primitivos e naturais do ser humano, logo diminuirá e acabará passando. Você terá, então, a alegria e a certeza de ter uma grande amizade, nada mais que isso.

Note também os sinais que a outra pessoa transmite e seja verdadeiro com você mesmo para não viver numa ilusão; finalmente, pergunte a Deus, pois Ele sabe o motivo real pelo qual essa pessoa entrou na sua vida. O Senhor revela Sua vontade por meio da Palavra e de sinais, autenticando o que as faculdades humanas do coração e da razão nos apontam. Ninguém está ao seu lado à toa, e em cada um de nós existe a beleza do propósito de elevar os outros ao céu.

 

 

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Sandro Ap. Arquejada

Sandro Aparecido Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente trabalha no setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor do livro "Maria, humana como nós" e "As cinco fases do namoro". Também é colunista do Portal Canção Nova, além de escrever para algumas mídias seculares.

21 de agosto de 2013

Como superar a depressão?

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A fé dá sentido a nossa existência

Hoje, há uma forte tendência ao aparecimento da depressão. Muitos são os fatores que causam esta patologia. Em qualquer caso, faz-se necessária uma ajuda terapêutica. Em muitos casos, é necessária a ajuda de medicamentos. Depressão é um sintoma do nosso tempo. Pode ser que ela sempre tenha existido em outros tempos, contudo, recebia outros nomes e outros diagnósticos.


Não cabe aqui apresentarmos um relato clínico da depressão. Esta tarefa cabe a um profissional da área médica. Contudo, gostaria de conversar com você sobre a depressão a partir de uma perspectiva espiritual. É preciso que fique claro que não pretendo dizer ou afirmar que a causa do processo depressivo seja a área espiritual, mas a espiritualidade pode colaborar no processo de tratamento do depressivo.

Somos um todo. Sabemos que o ser humano não é visto mais como um ser fragmentado. Tudo aquilo que vivenciamos produz em nosso ser uma resposta positiva ou negativa. Neste totalitário que somos, a espiritualidade está inserida. E a maneira como a vivenciamos afeta todo o nosso ser e, consequentemente, nossa vida.


A fé dá sentido à nossa existência. Hoje, o ser humano tem sede de uma vivência espiritual profunda em sua vida. Na maioria dos casos, quando alguém diz que está com depressão e é questionado sobre a sua vivência espiritual, esta pessoa diz: "Não tenho nenhuma vivência espiritual", "Não participo de nenhuma Igreja", "Faz muito tempo que não faço orações", "Não tenho nenhum relacionamento com Deus". Essas respostas são seguidas das seguintes afirmações: "Estou sentido um vazio em meu coração", "Minha vida não tem sentido", "Não consigo sentir Deus perto de mim", "Ninguém gosta de mim", "Queria morrer, porque não faria falta para ninguém". Outras afirmações ainda presentes: "Não consigo me amar", "Não deveria ter nascido".

Não quero afirmar que essas respostas e afirmações de quem passa por um momento depressivo seja a causa da depressão. A raiz pode estar em outros setores da vida, os quais podemos comentar em outra ocasião.

Esse vazio interior, alegado por um grande número de pessoas depressivas, pode ser desencadeado por inúmeros fatores. Do ponto de vista espiritual, o vazio interior pode ser ocasionado pela falta da presença de Deus. E quando me refiro a essa "falta", não estou afirmando que o Senhor não esteja junto da pessoa. Deus está sempre conosco, mas nós estamos sempre com Ele? Esta é uma grande questão espiritual que necessita de uma resposta clara e verdadeira de quem enfrenta um quadro depressivo.

A oração abre nossa alma para percebermos a presença de Deus em nossa vida. A participação na vida de comunidade nos coloca em contato com outras pessoas que se unem para juntos alimentar-se do Pão da Palavra e da Eucaristia. A Eucaristia, o próprio Cristo, devolve-nos o sentido da vida. O relacionamento com o Senhor só é despertado em nós quando tomamos consciência de que somente Ele pode preencher o vazio que carregamos em nosso coração. Santo Agostinho já afirmava: "Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em ti".

Superar o processo depressivo depende, em grande parte, da pessoa que sofre essa patologia. No entanto, a espiritualidade é uma forte aliada neste processo de superação. Afinal, no todo que somos Cristo está presente.

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Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialpadreflavio
www.padreflaviosobreiro.com

19 de agosto de 2013

Um grande sinal

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Leve consigo Maria para caminhar seguro

Uma pessoa do porte do Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, bate à porta do coração de milhões de pessoas, beija crianças, toma chimarrão no meio da multidão, tem em sua história diálogos com homens e mulheres de convicções diferentes, manda uma mensagem aos muçulmanos pelo final do Ramadã, abrindo portas para uma convivência respeitosa e construtiva; conversa sem rodeios com jornalistas que lhe fazem perguntas aparentemente incômodas, sem ceder em seu compromisso com a verdade e em sua fidelidade à Igreja. É o mesmo Papa que chama por telefone um fiel que perdeu um irmão num assalto, na Itália, ou visita de surpresa os operários do Vaticano em seus postos de trabalho! 


Com santo orgulho, podemos dizer que o Espírito Santo tomou a palavra para os cristãos oferecerem ao nosso tempo o que existe de melhor! Trata-se de um sinal de valores dos quais a humanidade vinha sentindo saudades. Volta à moda a ternura e a bondade, caminhos inigualáveis para a mudança profunda. Não é difícil entender que Deus escolhe o que parece insignificante, gestos simples do cotidiano, para tocar no mais íntimo das pessoas.

Ao lado de muitos gestos que revelam as opções pastorais nas quais deseja envolver a Igreja inteira e têm edificado o mundo, o Papa Francisco tem testemunhado sua profundidade espiritual como bom jesuíta. Chama também atenção sua profunda devoção mariana, expressa em manifestações de religiosidade que tocam no coração de nosso povo. Apenas eleito Papa, seu primeiro ato público foi a visita à Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para entregar seu pontificado a Nossa Senhora, onde voltou após a Jornada Mundial da Juventude. O Brasil inteiro se viu ali representado quando depositou sobre o Altar nada menos do que uma bola de futebol e uma camiseta da Jornada! No Brasil, quis visitar o Santuário Nacional de Aparecida, confiando à proteção de Nossa Senhora os dias que se seguiram na histórica viagem ao nosso país. No último dia da Jornada, quando lhe entreguei uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, era como uma criança que ganhava um presente, perguntando-me singelamente: "É para mim?". E beijou a imagem. As alturas do pontificado são pontes que se constroem com a simplicidade de gestos e palavras que não precisam de explicações!

Mais do que as múltiplas formas com que a arte tem retratado a Virgem Maria ou os tantos títulos com que a devoção popular a venera, sua missão há de ser reconhecida pelo lugar que lhe foi reservado na história da salvação. O papel de Maria na Igreja é inseparável de sua união com Cristo, que se manifesta desde a hora da concepção virginal de Cristo até Sua Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céu. Maria percorreu sua peregrinação de fé, manteve fielmente sua união com o Filho até a cruz, onde esteve de pé, sofreu intensamente junto com Ele e associou-se ao Seu sacrifício. E foi dada pelo próprio Jesus, aos pés da cruz, como mãe ao discípulo com estas palavras: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19,26-27). Após a Ascensão de seu Filho, Maria acompanhou com suas orações a Igreja nascente, pedindo e acolhendo o dom do Espírito, que, na Anunciação, a tinha coberto com sua sombra (Cf. Catecismo da Igreja Católica 964-965).


Maria é Mãe da Comunidade que constitui o Corpo místico de Cristo e acompanha os seus primeiros passos. Ao aceitar essa missão, anima a vida da Igreja com a sua presença, grande sinal oferecido a todas as gerações de cristãos. Essa solidariedade vem de sua pertença à comunidade dos remidos. Com efeito, ela teve necessidade de ser remida, pois está associada a todos os homens necessitados de salvação (Lumen Gentium 53). O privilégio da Imaculada Conceição preservou-a da mancha do pecado, em previsão dos méritos de Cristo. Como membro da Igreja, Maria põe ao serviço dos irmãos a sua santidade pessoal, fruto da graça de Deus e da sua fiel colaboração. A Imaculada Conceição é para todos os cristãos apoio na luta contra o pecado e perene encorajamento a viverem como remidos por Cristo, santificados pelo Espírito e filhos do Pai (Cf. João II, Audiência geral do dia 30 de julho).


Verdadeira joia do ensinamento da Igreja a respeito da Virgem Maria, um Sermão do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella, no Século XII, aproxima de forma admirável a Igreja, Nossa Senhora e cada fiel: "Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe, aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria, virgem e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe... Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria de Deus, o Verbo do Pai, que aponta ao mesmo tempo para a Igreja em sentido universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular... No tabernáculo do seio de Maria, o Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim do mundo; e no amor da alma fiel, habitará pelos séculos dos séculos". Não é possível separar Igreja, Maria e os homens e mulheres de fé!

Entende-se assim porque cada discípulo verdadeiro de Cristo levará consigo Maria entre aquilo que lhe pertence de mais precioso, para caminhar seguro, certo de que a mãe bendita entre todas as mulheres já chegou à realização de todas as esperanças. Profeticamente, a própria Virgem Maria anunciou que todas as gerações a chamariam bem-aventurada (Lc 1,48). E ela é honrada com um culto especial pela Igreja. Este culto de veneração é essencialmente diferente do culto de adoração que se presta ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo. Ele se expressa nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus, na Oração Mariana, no Santo Rosário, resumo de todo o Evangelho (Cf. Catecismo da Igreja Católica 971), e em tantas outras e importantes formas que o Espírito Santo suscita por toda parte.

A partir da segunda quinzena de agosto, o olhar de fé dos paraenses se volta para o Círio de Nazaré, nossa grande Festa Mariana. Sem a presença de Maria, falta-nos a água que nos sacia! (Cf. Nm 20,1) Com ela, já sairemos jubilosos pelas ruas, percorrendo as casas e peregrinando pelos corações, sabedores de que o melhor da festa é esperar por ela e prepará-la. As pessoas que coordenarão as peregrinações levem a Palavra de Deus a todos. Nenhum ambiente se feche para as visitas da Imagem Peregrina. Celebrem-se Círios nas mais variadas instituições da Sociedade. Ganhem espaço os cartazes do Círio, saiam a público berlindas, cordas, flores e procissões. Nossos sentimentos e gestos de devoção foram reforçados e estimulados pelo Papa Francisco, ninguém menos do que o Papa!

Ao celebrar com a Igreja, neste final de semana, a Assunção de Nossa Senhora, renove-se em nós a esperança, na certeza de que a última palavra da história da humanidade pertence e pertencerá a Deus. Nenhum problema ou crise, ou mesmo os pecados pessoais ou sociais de quem quer que seja, poderão vencer aquele que é primeiro e o último, princípio e fim, Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.