26 de junho de 2013

Protagonistas

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Alegria por ver o despertar dos jovens

Daqui a exatamente um mês, estaremos iniciando a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (RJ). Antes de nos encontrarmos no Santuário Mundial da Juventude, os jovens viverão a "Semana Missionária" por todas as cidades do Brasil. Eis um tempo de graça e esperança!


Na oração oficial da JMJ, nós concluímos pedindo que, impulsionados por este momento único, os jovens se tornem "grandes construtores da cultura da vida e da paz e os protagonistas de um mundo novo".

É justamente isso que tenho visto por onde tenho encontrado os jovens. É o que constatamos com a peregrinação dos símbolos da JMJ por todos os cantos do mundo e, agora, nestes dois últimos anos, pelo nosso país.

Basta ver o "Comitê Organizador Local" – o COL – para perceber a maioria de jovens que decide e organiza o evento mundial com capacidade, criatividade, animação. Também sabem vencer as dificuldades e problemas que a cada momento ocorrem numa organização como essa.

Nestes dias em que os jovens brasileiros expõem ao mundo seus anseios de uma vida mais justa, fraterna e com dignidade, focando de maneira especial na saúde, educação e transporte, vemos a importância desse momento para o país. Esse programa precisa ser acrescentado com o saneamento básico, dignidade de moradia, segurança, lazer, alimentação e tantos outros ítens. Como teremos aqui, durante a JMJ, jovens de mais de 172 nações, a partilha de experiências poderá ajudar o mundo a ser diferente com o protagonismo deles. 


Em todas as dioceses por onde passaram os símbolos da JMJ, o testemunho foi sempre de entusiasmo e participação. É alegria por ver o despertar dos jovens.

O interesse de todos para participar da JMJ aparece a cada momento e para nós, organizadores, isso soa como um momento de comunhão, de unidade em meio a tanta diversidade.

Temos valores que norteiam nossas vidas e também nosso trabalho. Acreditamos que os valores cristãos que marcam a nossa civilização poderão ser a luz que ilumina todos os anseios de um mundo novo nascendo em nosso tempo.

Por isso, é providencial que tenhamos justamente neste tempo esse momento com os jovens do mundo e com o Papa Francisco. É a graça de Deus que nos precede e nos alimenta em nossa esperança e caminhada.

Os episódios lamentáveis que alguns grupos minoritários causaram nestes dias demonstram como necessitamos de uma espiritualidade para alimentar o coração e curar feridas e, assim, construir positivamente esse sonhado tempo novo.

Nós cremos num mundo novo com Cristo Ressuscitado! A boa notícia que nos enche a vida a cada momento deve ser extravasada para contagiar, com uma alegria incontida, todos os que de nós se aproximam nesses dias de partilha de vida em nossa JMJ.

Os jovens que vêm como peregrinos, fazendo sacrifícios para estarem aqui conosco, encontrarão uma família de irmãos e irmãs que os acolhem. Encontrarão uma cidade que, à semelhança do Cristo Redentor, os acolhe de braços abertos. Irão encontrar seus irmãos jovens que anseiam, como eles, por dias melhores para a sociedade. O jovem é protagonista de tudo isso. Eles estiveram no início de tudo e estarão nas consequências como protagonistas desse mundo novo.

Teremos muitos legados importantes da JMJ: rede para atender os dependentes químicos, educação ecológica, sustentabilidade, acessibilidade, trabalho em conjunto com entidades internacionais e nacionais sobre paz, justiça, futuro. Viveremos isso no diálogo com as religiões e entre os cristãos. Teremos também a oportunidade da admiração do belo e da arte para os que em nada creem. Mas a grande herança que queremos deixar para todos é a esperança de um "novo amanhecer" para o mundo. É ver os sonhos que todos trazem em seus corações terem caminhos de solução. Em tempos de tantas situações e diversidades o poder dizer, providencialmente, que "o mundo tem jeito" e que a esperança deve estar presente no olhar de cada jovem será um legado que eles levarão para sempre em seus corações.

E diante de tudo isto, depois de tantas controvérsias, trabalhos, incompreensões, lutas, preocupações poderemos olhar para traz com alegria do dever cumprido e, voltados para o futuro, dizer: "valeu a pena"! Deus seja louvado por esse dom que nos concedeu!

 

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) 

24 de junho de 2013

Frederico Ozanam para além das Conferências

Aos quinze anos ofereceu, como primeiro fruto de seu grande talento e sua experiência em escrever, um livro de poesias a seu pai e outro para sua mãe, demonstrando sua grandeza de alma e sua profunda piedade filial.

Aos dezoito anos publicou dois importantes artigos: um documento e um folheto refutando o sansimonismo e critica a propriedade privada porque conduz a uma organização anárquica da produção e consagra a exploração do homem pelo homem.

No outono do mesmo ano (1831), foi a Paris para estudar Direito seguindo a vontade de seu pai, em vez de Letras, como ele próprio desejava.

Aos vinte e três anos (30 de Abril de 1836), obteve o doutorado em Direito por Sorbonne; e aos vinte e seis anos (07 de Janeiro de 1839) o doutorado em Letras,

No dia 16 de Dezembro de 1839 pronunciou um discurso de abertura da Cátedra de Direito Comercial em Lyon. Vencendo seus sentimentos, que desejavam proximidade dos laços familiares e sociais, voltou para Paris onde no dia 30 de Outubro de 1840, com vinte e sete anos obteve a licenciatura de Línguas Estrangeiras por Sorbonne,

Viu claramente que sua vocação não era para o sacerdócio seguindo o exemplo e os passos de seu amigo, o Pe. Lacordaire. Escreveu numa carta de 26 de Agosto de 1839:

"E para falar com o coração na mão… a incerteza de minha vocação se manifesta mais inquieta como nunca…".

O casamento de Antônio Frederico Ozanam tornou-se um acontecimento famoso na história da Igreja. Pelo menos dois Sumo Pontífices se referiram a ele. O primeiro foi o Papa Pio IX, a quem Frederico visitou poucos anos antes de sua morte.

O Segundo foi o Papa João Paulo I, que numa de suas audiências do seu breve pontificado relatou o assunto ao tratar do matrimônio:

"No século passado havia na França um professor insigne, Frederico Ozanam; ensinava em Sorbonne, sendo eloquente e esplêndido. Tinha um amigo, Pe. Lacordaire, que costumava dizer: Este homem é tão admirável e tão bom que será sacerdote e chegará a ser um bispo. Porém não foi assim. Encontrou uma excelente senhorita e se casaram. O Pe. Lacordaire não se sentiu bem com isso e disse: Pobre Ozanam! Também caiu na armadilha! Dois anos mais tarde, Lacordaire veio a Roma e foi recebido pelo Papa Pio IX que lhe disse: Eu sempre ouvi dizer que Jesus instituiu sete sacramentos. Agora vem você, mexendo as cartas na mesa e me diz que foram instituídos seis sacramentos e uma armadilha. Não é assim padre! O Matrimônio não é uma armadilha, é um grande sacramento!" (João Paulo I, 13 de setembro de 1978).

Frederico Ozanam reforçava dia após dia o seu prestígio profissional como professor, como advogado e como escritor muito requisitado pela imprensa católica.

O Sr. Montalembert o incentivou a colaborar com "O Universo Católico" na obra de propagação da fé.

O Pe. Lacordaire pediu-lhe por carta:

"Não há desculpas para não escrever. Não nego que o trabalho de escrever é difícil, mas a imprensa converteu-se numa força poderosa, tão poderosa que não podemos abandoná-la. Escreva, não para nossa glória, senão para a glória de Jesus Cristo… E quanto a você, deve encontrar motivo de alento em tudo o que publicou até agora. Seu estilo tem vida e esplendor, e possui ainda uma erudição que o ajuda. Insisto que trabalhe nisto. Se eu fosse o diretor de sua consciência não insistiria, eu o obrigaria".

Quando Frederico Ozanam queixa-se sobre as condições em que as famílias Pobres estavam condenadas a viver, não queria que sua pobreza fosse amenizada somente dando esmola. Sugeriu também melhoria na estrutura econômica que causava a pobreza.

Quando lecionava direito comercial, incentivava os estudantes a olharem para sua profissão não como algo isolado, senão como parte integrante da sociedade. Sua formação não deveria ter como objetivo adquirir simplesmente um status profissional. O direito deve ser apreciado como um verdadeiro serviço.

Às vezes pronuncia severas advertências. Como antecipando os pensamentos do Papa Pio XI – que a maior tragédia da Igreja da França durante o século XIX foi a perda da classe operária – Frederico critica não só os empresários mas também alguns padres:

"Se um grande número de cristãos e particularmente de clérigos, tivessem se preocupado com as classes operárias durante os últimos dez anos, estaríamos mais seguros acerca do futuro; e todas nossas esperanças descansam no pouco que foi feito até agora".

Uma advertência aos cristãos:

"Todos eles possuem fé, porém uma fé que não é nem quente nem fria; mesmo assim praticam sua religião com frequência sem entendê-la. Devemos introduzir a luz dentro desta obscuridade, aquecer este frio; edificação, mais que conversão, é a necessidade primordial. Devemos moldá-los para a santidade".

Frederico Ozanam – Carta ao seu irmão Afonso em 1848:

"Há exploração quando o patrão considera o operário não como um associado ou como um auxiliar, mas como um instrumento, do qual se tenta tirar o máximo proveito pelo menor preço possível. Mas a exploração do homem pelo homem é escravidão. O operário-máquina é então apenas uma parte do capital, como o escravo dos antigos; o trabalho torna-se escravidão".

Frederico Ozanam é um precursor reconhecido da Doutrina Social da Igreja. Por ocasião de sua beatificação, o Papa João Paulo II disse sobre Frederico Ozanam:

"A Igreja confirma hoje a escolha de vida cristã feita por Frederico Ozanam, assim como o caminho que ele empreendeu. Caridade e justiça caminham juntas pois nenhuma sociedade pode aceitar a miséria como uma fatalidade, sem que a sua honra não seja atingida. É assim que se pode ver nele um precursor da Doutrina Social da Igreja, que o Papa Leão XIII desenvolverá alguns anos mais tarde na Encíclica Rerum Novarum". João Paulo II, 22/08/1997

Frederico Ozanam é um santo moderno. Sua visão e suas atividades desenvolveram-se num ambiente semelhantes ao de hoje, e os problemas de sua época são os problemas de nossos dias. Ele não foi somente uma figura piedosa. Foi um homem de ação, comprometido com a justiça e a evangelização dos Pobres.

Autor: Joelson C. Sotem, CM

Fonte: http://pt.vicencianos.org/frederico-ozanam-para-alem-das-conferencias/

Imagem de Destaque À espera de um namorado

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Vale a pena esperar em Deus!

O sonho de encontrar um namorado com o qual casaria sempre fez parte de minha vida desde a infância.


Sou a sexta filha de uma família de nove filhos, dos quais sete são mulheres. Assim, cresci vendo minhas irmãs se arrumarem à espera dos namorados que as visitavam nos fins de semana.

Acompanhava o tempo de namoro, noivado e preparação do casamento de uma, depois de outra... E assim, o ritual de preparação e espera do amor sempre fez parte do meu cotidiano familiar. Neste clima de sonhos e realidades, no qual os valores da família cristã tem seu lugar privilegiado, fui crescendo e também trilhando o caminho de espera do meu "príncipe encantado".

Como trazia no coração o desejo de casar, sempre acreditei que, certamente, existia alguém criado por Deus para ser meu esposo. O desafio era somente encontrá-lo. E que desafio!


Recordo-me que, quando cresci e viajava para lugares distantes, ficava imaginando: "Será que ele está por aqui?". Conhecendo a cultura e o povo do lugar onde estava, pensava como ele seria se vivesse inserido naquele contexto. Desejava encontrá-lo, conhecer suas histórias, saber dos seus sonhos e partilhar com ele o "meu mundo". Contar-lhe meus segredos, falar dos meus gostos, segurar sua mão e poder caminhar com a certeza de que já não estava sozinha no universo. O tempo foi passando e a espera foi se tornando cada vez mais madura e exigente.

Como missionária na Comunidade Canção Nova, a vida proporcionou-me várias mudanças de lugar, permitindo-me conhecer muitos rapazes interessantes. Vivi alguns relacionamentos, muitas amizades, mas nada correspondia à minha expectativa de cumplicidade. Até que fui enviada para a missão de Portugal e lá, finalmente, conheci aquele que Deus havia designado para ser meu esposo.

Foi admiração recíproca à primeira vista. Até hoje não sei dizer com palavras o que senti, mas uma coisa é certa: percebi nele algo diferente que eu jamais havia encontrado em nenhum rapaz até então. Tornamo-nos grandes amigos, depois namorados, noivos e, finalmente, chegou o tão sonhado casamento.

Hoje, sou uma esposa feliz e posso testemunhar que valeu (e vale!) a pena esperar em Deus a pessoa com a qual Ele a unirá um dia pelo sacramento do matrimônio.

Se você está vivendo, como eu vivi, o "tempo de espera", tenho uma boa notícia: você não está sozinho! Existem ainda muitos rapazes e moças que querem levar a sério o projeto de Deus e construir uma família baseada nos valores cristãos. Elas estão esperando a pessoa certa assim como você. Tenha paciência e persevere. Deus vai surpreendê-lo qualquer dia desses.

Eu sei que não é fácil esperar, mas há muitas coisas boas a serem feitas neste tempo. Baseada na minha própria experiência, eu o aconselho a buscar, em primeiro lugar, a cura interior. Rezar, ler livros, ouvir pregações e participar de encontros relacionados ao tema é colaborar com Deus no processo de restauração que todos nós precisamos viver para sermos plenos. O namoro é o primeiro passo que o levará à doação total de si mesmo a outra pessoa, e estar com o coração curado e aberto para isso já é uma grande vitória que você pode conquistar pela cura interior.

Depois, não se esqueça de viver. Sua vida não pode parar na espera. Seja agradável, descomplicado, alegre, disponível e esteja aberto a novas amizades. Tenha interesse pelas pessoas, ouse sair de si mesmo e ir ao encontro de quem precisa. Desarme seu coração de todo preconceito. Isso não ajuda ninguém a ser feliz. Leia bons livros, mantenha contato com a natureza, vá ao cinema, ao shopping, à praia, e, na medida do possível, faça o que realmente você gosta.

Procure viver seus dias com leveza e gratidão. A vida é bela! E mesmo em meio aos desafios, também oferece diversas oportunidades para celebrar. Procure aproveitá-las.

Outra dica também importante é cuidar do seu visual: arrumar o cabelo, combinar a roupa com o ambiente e a idade, e para as meninas uma maquiagem sempre ajuda a realçar a beleza que já existe em você. Mas atenção! Os exageros não combinam com nada. Não é verdade que dá gosto contemplar uma pessoa que se ama e se cuida com harmonia e discernimento? Seja você esta pessoa e o mundo será mais bonito com sua presença.

Levante a cabeça, respire fundo e entregue seu coração a Deus. Não deixe que a angústia, a tristeza e a solidão façam morada nele.

Esperar pode ser, hoje, a pedagogia que Deus está usando para formá-lo no homem (ou na mulher) segundo o coração d'Ele.

Acredito que nada acontece por acaso em nossa vida, nem as provas pelas quais passamos. Enfim, não desista do seu sonho de construir uma família nos desígnios de Deus. Ele é fiel e não é indiferente aos anseios do seu coração. Persevere! Ele já está ajudando você.

Estou unida a você. Vou sonhar e rezar junto com você.

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Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

21 de junho de 2013

As linhas invisiveis



Sempre Deixe Seu Recado!!!

A natureza do sofrimento

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Sofremos e assim nos firmamos como humanos

Quando o sofrimento bater à sua porta, é melhor abri-la. Resistir ou negá-lo é apenas um jeito de fugir do que, mais cedo ou mais tarde, você terá de enfrentar.

Sofrimentos são naturais na vida humana. Eles acontecem no percurso dos fatos que nos envolvem.

Quando dizemos que algo é "natural", nós o fazemos para demonstrar que não foi acrescentado, mas faz parte da vida. É natural, porque pertence ou refere-se às leis que nos regem e configuram a nossa condição humana. É natural, porque pertence à ordem das coisas que nascem espontaneamente.

Um dos grandes nomes da filosofia contemporânea, o filósofo Schopenhauer, num ensaio intitulado "Dos Fundamentos da Moralidade", faz a seguinte pergunta: "Como é possível que o sofrimento, que não é meu nem me interessa, afete-me de imediato como se fosse meu e com força tal a ponto de impedir-me a ação?

A pergunta do filósofo é instigante. Para ele, o contato com o sofrimento do outro nos recorda quem somos. O sofrimento é uma espécie de espelho, por meio do qual nos enxergamos a partir daquele que sofre. Nele, o nosso sofrimento está refletido em sua totalidade. Ao encontrarmos o outro e sua precariedade, nele descobrimos a nossa verdade fundamental, nossa condição expressa e viva em toda criatura.
O filósofo teoriza aquilo que todos experimentamos na prática. O sofrimento é uma das molduras que dão sustento à nossa existência. É o tecido que envolve a vida.

Nós o experimentamos desde o momento de nossa concepção. Pesquisas comprovam que muitas crianças, no processo de gestação, já sofrem com a ansiedade e com alguma forma de sofrimento da mãe. Muitos medos e inseguranças, manifestados ao longo da vida, parecem ter raízes em rejeições acontecidas ainda na vida intra-uterina. Nem mesmo na proteção de nossa primeira morada estamos livres do sofrimento.

O nascimento também é uma experiência de sofrimento. O parto não é doloroso somente para a mãe, mas também para o filho.

Nascemos a partir de movimentos de contrações, isto é, em movimentos de estreitamentos, compressões, encolhimentos. As contrações proporcionam o movimento do ato de nascer. É por meio delas que a criança se encaminha para o mundo. A mãe sofre o processo de expulsar o filho de seu ventre. Toda a musculatura trabalha num mesmo objetivo – encaminhar a criança para o nascimento.

Ao perceber o movimento que a retira do ventre, a criança também inicia um processo de dor. Terá que sair da tranquilidade do útero, do lugar da segurança, para passar pelo estreito caminho materno que a conduzirá ao novo mundo.

Nascer já é uma forma de sofrer. Sofrimento físico e psicológico. Físico, porque envolve o movimento de esforço muscular, rompimentos, sangramentos. Psicológico, porque representa mudanças de fases para a mãe e para a criança.

O caminho estreito, por onde chegamos ao mundo, já parece ser uma metáfora do que será a nossa vida. Nem sempre as passagens são amplas, facilitadas.

Outra questão que já nos coloca diante de sofrimentos inevitáveis é a nossa condição de seres inacabados. Os especialistas nos ensinam que o ser humano é o ser vivo que nasce mais incompleto. Nossa incompletude nos expõe a muitos sofrimentos naturais, próprios de quem precisa de cuidados para sobreviver.

Nascemos incapazes de ficar eretos por nós mesmos, diferente de tantos outros animais que já se equilibram sozinhos logo após o nascimento.

Sofremos cólicas terríveis nos primeiros meses de nossa vida. São os movimentos de ajuste que a natureza faz aos poucos, conduzindo-nos às adaptações necessárias para cada fase.

Sofremos quando vivemos as distâncias dos que amamos. Sofremos com os afastamentos temporários, as primeiras experiências de solidão, quando, por necessidade comum à vida de todos nós, temos de ser cuidados por estranhos.

Sofremos e assim nos firmamos como humanos. Homens e mulheres que recolhem, diariamente, o sentido de ser o que são e de sentir o que sentem.

O inegável é o sofrimento humano, pois este é natural.

(Extraído do livro "Quando o sofrimento bater à sua porta")
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Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção Espiritual" na TV Canção Nova

19 de junho de 2013

É proibido proibir?

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Precisamos repensar alguns valores

Um dos ecos mais fortes que o Iluminismo francês fez chegar aos nossos tempos é a reivindicação da liberdade. Nesse sonho cultivado por muitas gerações, a regra era clara: é proibido proibir!


Todos deveriam simplesmente aceitar esse novo dogma sem questionar. A Igreja Católica era vista por muitos como símbolo da proibição, do pecado, da culpa. Filmes mostraram isso sem que os monges pudessem sequer se defender. Dogma é dogma. Está certo, mas qualquer um vê que essa verdade é contraditória. Quem proíbe de proibir já está proibindo. Não faz sentido, mas é a regra de ouro que ainda está em voga nos nossos dias.

Arrisque-se a pedir que as TVs deixem de passar algum programa que prejudique crianças ou adolescentes. É proibido censurar! Arrisque-se a dizer que este ou aquele filme é um desrespeito a milhões de pessoas que cultivam uma determinada fé. É proibido proibir!

Mas agora a situação está ficando catastrófica. Nem vamos perder tempo em comentar o romanceado Código da Vinci. Pode ser até um passatempo para quem quer se distrair com algum tipo de fantasia; a humanidade sempre gostou do surreal. Não me parece honesto colocar a fantasia muito próxima da realidade. Jogos de morte mutilam a mente de muitos adolescentes que passam a odiar seus avós, porque aderiram à lógica de um joguinho de computador. Deixe pra lá! Temos uma outra urgência.


A ciência sempre se vangloriou da liberdade de pesquisa em nome de seus avanços. É desconfortável para a ciência ser limitada pela consciência. Muitos pesquisadores que manipulam embriões humanos preferem dizer: é proibido proibir. Há laboratórios que reproduzem, silenciosamente, o holocausto da Segunda Guerra Mundial.

Mas alguém poderia dizer que nada disso o atinge no dia a dia. Nem os transgênicos que acabamos comendo sem saber? Bem... Vai levar algum tempo para começarem os efeitos. Por que proibir? Lembre-se de que Deus perdoa sempre, nós perdoamos às vezes (deveria ser pelo menos 70 x 7!), mas a natureza não perdoa nunca.

Está começando um novo tempo em que o século das luzes vai mostrando suas penumbras e a célebre liberdade vai deixando claros seus limites. Estamos finalmente descobrindo que é necessário proibir. Não se pode permitir ao alcoolizado pegar no volante. Proíba-se! Quem se atreveria a colocar limites ao celular? Já recebi milhões de e-mails dizendo que as ondas desses aparelhinhos provocam doenças terríveis que começam com dor de cabeça. Pensei que seria câncer. É pior. Por meio deles, torna-se possível a organização de facções criminosas capazes de aterrorizar milhões de pessoas em questão de horas. Não sei se a bomba atômica fez tanto estrago. Nem mesmo o terrorismo clássico, que derrubou os prédios e mudou a cultura nos Estados Unidos da América, teve tanto poder. Um pequeno celular. Por que proibi-lo?

Precisamos repensar alguns valores. Não sou favorável a nenhum tipo de totalitarismo. Nasci em 1964, assisti ao golpe da barriga de minha mãe. Faço parte da geração do silêncio, a qual teve de engolir as aulas de Educação Moral e Cívica, OSPB (lembra o que é isso?) e cantar: "Eu te amo meu Brasil, eu te amo...".

Esse tempo já vai tarde! Não pode mais voltar. Mas não podemos ficar sentados em utopias ocas de liberdade, feito uma avestruz com a cabeça enterrada em suas ideologias, sejam quais forem! É necessário colocar limites!

Alexander Sutherland Neill (1883-1973), o fundador de Summerhill, aquela escola-modelo de liberdade na Inglaterra, escreveu empolgado o livro Liberdade sem medo. Quando sua escola não tinha mais vidros nas janelas, ele escreveu um livro corretivo: Liberdade sem excesso. Pense nisso!

 

(Extraído do livro "Pronto, Falei!")

 

14 de junho de 2013

Sinais de amor

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A porta está aberta!

"Muitos tentaram escrever a história dos fatos ocorridos entre nós, assim como nos transmitiram aqueles que, desde o início, foram testemunhas oculares e, depois, se tornaram ministros da palavra. Diante disso, decidi também eu, caríssimo Teófilo, redigir para ti um relato ordenado, depois de ter investigado tudo cuidadosamente desde as origens, para que conheças a solidez dos ensinamentos que recebeste" (Lc 1,1-4). São características que fazem de São Lucas escritor caprichoso ao apresentar o modo de ser e agir de Nosso Senhor. Uma das vertentes mais atraentes de seus escritos são os gestos de misericórdia de Jesus. Pérolas do Evangelho, como as parábolas da Misericórdia, o encontro do Senhor com pessoas destinadas à rejeição na sociedade ou a atenção aos pobres e enfermos.


Tudo nos chega com beleza indescritível pela pena daquele que, provavelmente, teve contato com uma testemunha privilegiada, chamada Maria de Nazaré. Dificilmente, alguém poderia descrever episódios como os da infância de Jesus sem um contato com quem os viveu tão de perto. Aliás, além de Maria, Mãe do Senhor, várias mulheres encontram lugar privilegiado no terceiro Evangelho, como "Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios, Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes, Susana, e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens" (Lc 8,2-3). Também outros evangelhos as reconhecem presentes: Salomé (Mc 15,40), Maria, mãe de Tiago (Mc 15,40), Maria, mulher de Cléofas (Jo 19,25).


Lucas médico, artista, evangelista! Sua narrativa nos faz acompanhar Jesus em situações intrigantes e recolher, a partir da própria cultura do tempo, as lições que se tornam roteiro de vida para quem quer que faça a escolha da vida cristã. Uma cena aparentemente prosaica como a do fariseu que convidou Jesus para jantar é carregada de sentido. Um homem chamado Simão, uma mulher conhecida na cidade como pecadora, mesa, óleo, beijo, lágrimas, perdão, sinais de amor (Lc 7,36-8,3). Tudo compõe a pintura que a Igreja proclama como "Evangelho", "Palavra da Salvação" também para hoje.

A hospitalidade judaica acrescentava ao convite feito para uma refeição a água para as abluções, o refrescante óleo perfumado e o ósculo de paz. Provavelmente, o anfitrião, curioso diante do Mestre que acolhera seu convite, descuidou-se de gestos correntes de civilidade. Quem cobriu sua falta de cortesia foi justamente uma mulher pecadora. Rompidas todas as barreiras, soltou seus cabelos, numa surpreendente manifestação de liberdade, e transbordou seu coração em lágrimas e beijos. Tendo pecado tanto, amou muito mais e saiu dali com os preciosos tesouros do perdão e da paz.

Os traços de tais gestos se encontram presentes na Igreja nos sinais com os quais se celebram os sacramentos da Iniciação Cristã. Água do Batismo, Óleo da Unção na Crisma e Mesa preparada na Eucaristia. Assim, fomos acolhidos com amor por Cristo no coração da Igreja, para darmos testemunho dele onde quer que estejamos. Entrar na Igreja não é inscrever-se numa associação ou clube, quem sabe com título de sócio proprietário! É antes acolher a expressão do amor de Deus que recebe em sua família os que dele se aproximam, ao escutarem seu provocante convite.

Como Deus tem uma só palavra e seus dons são irrevogáveis (Cf. Rm 11,29), Ele não volta atrás quando uma pessoa é recebida na Igreja, feita filha e templo do Espírito Santo no Batismo e na Crisma. Mesmo quem abandonar a prática da fé cristã, lá dentro de seu coração se encontra latente a graça de Deus. São impressionantes as descrições da segunda conversão: pessoas que deixaram a prática religiosa, depois de um tempo e muitos acidentes de percurso, reencontram o amor de Deus e o seio materno da Igreja. É que a Mãe Igreja não pode abandonar ninguém. Saibam todos que a Igreja ora por eles e os aguarda, como aves viajoras que ao pôr do sol retornam ao seu ninho.

A desculpa será sempre o pecado! Se assim for, bendito seja Deus, pois o mais grave é não ter consciência dele, quando a consciência se relaxa de tal forma, como tão corrente em nossos dias, que do mal se faz propaganda e os crimes, aberrações de todo gênero e insensibilidade se espalham.

Quem se reconhece pecador ou pecadora, parabéns! A porta está aberta. Revista-se de lágrimas, solte seus cabelos, irrompa nos ambientes mais seletos, venha com o Óleo perfumado dos sentimentos mais autênticos plantados pelo Espírito Santo em seu coração! Os que se encontram "em casa" se desdobrem para receber de braços abertos os pecadores de toda ordem. Confessionários a postos, para jornadas de reconciliação, estruturas pastorais mais acolhedoras, templos de portas abertas, braços preparados para abraçar e não para apartar! Agentes de Pastoral, discípulos missionários, em suas mãos e em seus passos se encontra a chance que muitos esperam para voltar à casa paterna. A porta está aberta! Inaugurou-se a estação da misericórdia e do perdão. Que todos tenham o direito de ouvir, através da Igreja, a voz do Senhor: "Teus pecados estão perdoados... Tua fé te salvou. Vai em paz!" (Cf. Lc 7,48-50)

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA