14 de junho de 2013

Sinais de amor

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A porta está aberta!

"Muitos tentaram escrever a história dos fatos ocorridos entre nós, assim como nos transmitiram aqueles que, desde o início, foram testemunhas oculares e, depois, se tornaram ministros da palavra. Diante disso, decidi também eu, caríssimo Teófilo, redigir para ti um relato ordenado, depois de ter investigado tudo cuidadosamente desde as origens, para que conheças a solidez dos ensinamentos que recebeste" (Lc 1,1-4). São características que fazem de São Lucas escritor caprichoso ao apresentar o modo de ser e agir de Nosso Senhor. Uma das vertentes mais atraentes de seus escritos são os gestos de misericórdia de Jesus. Pérolas do Evangelho, como as parábolas da Misericórdia, o encontro do Senhor com pessoas destinadas à rejeição na sociedade ou a atenção aos pobres e enfermos.


Tudo nos chega com beleza indescritível pela pena daquele que, provavelmente, teve contato com uma testemunha privilegiada, chamada Maria de Nazaré. Dificilmente, alguém poderia descrever episódios como os da infância de Jesus sem um contato com quem os viveu tão de perto. Aliás, além de Maria, Mãe do Senhor, várias mulheres encontram lugar privilegiado no terceiro Evangelho, como "Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios, Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes, Susana, e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens" (Lc 8,2-3). Também outros evangelhos as reconhecem presentes: Salomé (Mc 15,40), Maria, mãe de Tiago (Mc 15,40), Maria, mulher de Cléofas (Jo 19,25).


Lucas médico, artista, evangelista! Sua narrativa nos faz acompanhar Jesus em situações intrigantes e recolher, a partir da própria cultura do tempo, as lições que se tornam roteiro de vida para quem quer que faça a escolha da vida cristã. Uma cena aparentemente prosaica como a do fariseu que convidou Jesus para jantar é carregada de sentido. Um homem chamado Simão, uma mulher conhecida na cidade como pecadora, mesa, óleo, beijo, lágrimas, perdão, sinais de amor (Lc 7,36-8,3). Tudo compõe a pintura que a Igreja proclama como "Evangelho", "Palavra da Salvação" também para hoje.

A hospitalidade judaica acrescentava ao convite feito para uma refeição a água para as abluções, o refrescante óleo perfumado e o ósculo de paz. Provavelmente, o anfitrião, curioso diante do Mestre que acolhera seu convite, descuidou-se de gestos correntes de civilidade. Quem cobriu sua falta de cortesia foi justamente uma mulher pecadora. Rompidas todas as barreiras, soltou seus cabelos, numa surpreendente manifestação de liberdade, e transbordou seu coração em lágrimas e beijos. Tendo pecado tanto, amou muito mais e saiu dali com os preciosos tesouros do perdão e da paz.

Os traços de tais gestos se encontram presentes na Igreja nos sinais com os quais se celebram os sacramentos da Iniciação Cristã. Água do Batismo, Óleo da Unção na Crisma e Mesa preparada na Eucaristia. Assim, fomos acolhidos com amor por Cristo no coração da Igreja, para darmos testemunho dele onde quer que estejamos. Entrar na Igreja não é inscrever-se numa associação ou clube, quem sabe com título de sócio proprietário! É antes acolher a expressão do amor de Deus que recebe em sua família os que dele se aproximam, ao escutarem seu provocante convite.

Como Deus tem uma só palavra e seus dons são irrevogáveis (Cf. Rm 11,29), Ele não volta atrás quando uma pessoa é recebida na Igreja, feita filha e templo do Espírito Santo no Batismo e na Crisma. Mesmo quem abandonar a prática da fé cristã, lá dentro de seu coração se encontra latente a graça de Deus. São impressionantes as descrições da segunda conversão: pessoas que deixaram a prática religiosa, depois de um tempo e muitos acidentes de percurso, reencontram o amor de Deus e o seio materno da Igreja. É que a Mãe Igreja não pode abandonar ninguém. Saibam todos que a Igreja ora por eles e os aguarda, como aves viajoras que ao pôr do sol retornam ao seu ninho.

A desculpa será sempre o pecado! Se assim for, bendito seja Deus, pois o mais grave é não ter consciência dele, quando a consciência se relaxa de tal forma, como tão corrente em nossos dias, que do mal se faz propaganda e os crimes, aberrações de todo gênero e insensibilidade se espalham.

Quem se reconhece pecador ou pecadora, parabéns! A porta está aberta. Revista-se de lágrimas, solte seus cabelos, irrompa nos ambientes mais seletos, venha com o Óleo perfumado dos sentimentos mais autênticos plantados pelo Espírito Santo em seu coração! Os que se encontram "em casa" se desdobrem para receber de braços abertos os pecadores de toda ordem. Confessionários a postos, para jornadas de reconciliação, estruturas pastorais mais acolhedoras, templos de portas abertas, braços preparados para abraçar e não para apartar! Agentes de Pastoral, discípulos missionários, em suas mãos e em seus passos se encontra a chance que muitos esperam para voltar à casa paterna. A porta está aberta! Inaugurou-se a estação da misericórdia e do perdão. Que todos tenham o direito de ouvir, através da Igreja, a voz do Senhor: "Teus pecados estão perdoados... Tua fé te salvou. Vai em paz!" (Cf. Lc 7,48-50)

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

12 de junho de 2013

É namoro ou amizade?

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Tenha a coragem de entregar um pouco sua história

A vida é uma experiência que, a cada momento, nos oferece infinitas escolhas, e temos sempre de escolher uma ou duas, ou até não escolher. Desde o momento em que acordamos, estamos escolhendo. Já pensou nisso? Não? Pensemos juntos, então!

Ao acordar, você já vive um enorme drama: abrir os olhos ou deixá-los fechados e, assim, curtir mais um pouco a cama? Tomar um banho ou primeiro escovar os dentes? Ou os dois ao mesmo tempo? Enquanto você toma banho, já ganha tempo escovando os dentes! Ir com aquela camisa azul ou com a branca? Escolhas, escolhas e mais escolhas!

Toda escolha gera angústia e até mesmo certa dúvida! Agora, pense escolher alguém para entregar seu coração e sua alma... Difícil, não? 


Aqui, abro um parênteses: ficar não é um primeiro passo para quem quer um amor maior. Ficar não é a antessala do namoro. Ficar é para quem se contenta em levar uma vida sem compromissos, experimentando e sendo experimentado. Desculpe-me se peguei pesado, mas cabe a mim e a você escolher o estilo de vida que queremos ter!

Cristão não fica, mas namora! Sobre isso, falei no livro 'Nasci pra dar certo!'. Se quiser saber o quanto ficar nos descaracteriza, leia-o. Mas se você está a fim de encarar uma vida autêntica, aventure-se no amor, o qual tem um tempo maravilhoso de descobertas! Fecho parênteses. Continuemos nossa busca pelo "Amor Maior".


Escolher alguém para entregar nosso coração soa até romântico, não? Mas se levarmos em conta que, segundo a Palavra de Deus, o "coração" é a sede dos sentimentos, podemos dizer que namorar é escolher alguém para entregar nossos sentimentos, aquilo que somos e temos de melhor. Essa não é uma tarefa fácil, principalmente em um tempo no qual o "descartável" está em alta, e, infelizmente, as pessoas não só consomem coisas descartáveis como querem pessoas descartáveis. Usar e depois jogar fora! Não deve ser assim para quem quer ter uma vida de valer a pena. Precisamos escolher a quem entregar o presente de nosso coração, nossos segredos, nossos sonhos!

Não é um peso, mas uma decisão. Por isso, a amizade é um primeiro passo para quem quer uma (um) namorada (o) de valer a pena. Ter a coragem de, antes de entregar seus carinhos, abraços e beijos, entregar um pouco sua história. Será ela (e) capaz de receber você com aquilo que, de mais lindo, você traz em si? Também será capaz de receber o seu "pior" e, mesmo assim, ter a disposição de construir com você algo de bom?

A amizade nos pontualiza frente àquela (e) que apareceu em nosso caminho. Neste momento, somos provocados a responder algumas perguntas: "É com essa pessoa que estou disposto a caminhar, lado a lado, na estrada de uma vida feliz? Será que meu coração bate na sintonia do coração dela? Será que tenho disposição de ir além do sentimento e decidir-me a amá-la com seus limites e imperfeições?

Sei que parece meio estranho a palavra "escolha", e você deve não concordar comigo, pois eu não mando no coração. Ele gosta de quem quiser e na hora que quiser! E ainda você deve dizer: "É algo que vem de dentro e não tenho muito controle sobre isso!".

Concordo que vem de dentro, mas descordo do fato de que não se tem controle sobre ele, pois a grande beleza está em você se controlar, pois isso nos difere dos animais. Devemos agir além de nossos sentimentos e instintos. A beleza mais profunda está em nossa liberdade de assumir a vida e com ela também o coração. Sempre você poderá escolher. Assim, o caminho de amizade será bem oportuno para você se decidir, com sentimento e razão, se vale a pena entrar em determinado relacionamento ou não.

Se eu disse que para começar um namoro deve se partir de um coração amigo, quero enfatizar que, nesta hora, você precisa também ser inteligente o bastante para ir se percebendo, dando e colhendo sinais de que o amor, ali presente, vai além de uma mera amizade.

Sei que nem preciso falar, pois, quando estamos apaixonados, tudo muda, não é? A cor do nosso rosto, o brilho dos nossos olhos, nosso corpo vai reagindo também. No momento certo, não tenha medo de dar o passo. Lógico que nós homens temos, por excelência, essa missão e precisamos assumir nosso papel. Mulheres, não tenham medo de serem encontradas! Um coração ancorado em Deus sabe o momento certo.

Não curto muito a ideia de as pessoas deixarem a parte humana, ou seja, a nossa, para Deus executar. Tais como fazer novena para este santo ou aquele em troca de "favores" para conseguir um namoro ou fazer da oração um momento de colocar Deus na parede para que mostre se é ou não aquela a pessoa certa.

Um coração ancorado em Deus sabe ler, nos acontecimentos e na oração, o momento e a hora, mas isso não tira a parte que nos cabe! Afinal de contas, quem vai namorar somos nós.

O Pequeno Príncipe nos ensina muito quando diz: "O essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração!" Esteja atento àquilo que você não consegue ver, pois, geralmente, é isso que permanece. O que vemos, como a beleza ou os bens que o outro tem, podem passar, mas aquilo que se tem dentro só tende a melhorar!

E aí, é namoro ou amizade?

 

(Extraído do livro "Quero um Amor Maior")

 

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Adriano Gonçalves
adriano@geracaophn.com

10 de junho de 2013

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

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Essa devoção tem sua origem na Sagrada Escritura

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus por cada um de nós. Este amor encontra seu ponto alto com a vinda de Jesus.


A devoção ao Sagrado Coração, de um modo visível, aparece em dois acontecimentos fortes do Evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a Última Ceia (cf. Jo 13,23); e, na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34).

Em um acontecimento temos o consolo de Cristo pela dor na véspera de Sua morte. No outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade.


Estes dois exemplos do Evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus feito em 1675 a Santa Margarida Maria Alacoque: "Eis este Coração que tanto tem amado os homens... Não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios, indiferenças... Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o Meu Coração, comungando, neste dia, e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares. Prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino Amor sobre os que tributem esta divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada."


O beato João Paulo II sempre cultivou esta devoção e sempre a incentivou a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, ele afirmou: "Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero, hoje, dirigir, juntamente convosco, o olhar dos nossos corações para o mistério desse Coração. Ele falou-me desde a minha juventude. Cada ano, volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja."

Conheça agora as 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:

1ª Promessa: "A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração";

2ª Promessa: "Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado";

3ª Promessa:
"Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias";

4ª Promessa:
"Eu os consolarei em todas as suas aflições";

5ª Promessa: "Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte";

6ª Promessa: "Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos";

7ª Promessa: "Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias";

8ª Promessa: "As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção";

9ª Promessa: "As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição";

10ª Promessa: "Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos";

11ª Promessa:
"As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração";

12ª Promessa: "A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna".

7 de junho de 2013

A fórmula do fracasso

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Quer montar uma equipe de sucesso?

Quer montar uma péssima equipe de trabalho, um grupo de derrotados? Escolha apenas pessoas maleáveis e fáceis de liderar. Quer montar uma equipe de sucesso? Escolha pessoas difíceis. Elas têm um potencial de liderança que está aplicado no campo errado. Jesus escolheu uma equipe de doze pessoas muito, mas muito difíceis. Com seu jeito amoroso e amável, o Mestre modificou o comportamento de cada um deles, dando início ao maior empreendimento de todos os tempos: o Cristianismo. Procure seguir este exemplo e reconhecer o grande potencial que está escondido por trás das pessoas difíceis. Meus melhores alunos, certamente, não foram os mais calados e disciplinados. Não raro tive alunos difíceis, que hoje reconheço como grandes líderes. 

Você pode transformar aquele fofoqueiro num ótimo relações-públicas. Deixe-o falar, mas ensine a falar a palavra certa, na hora certa, para a pessoa certa. Transforme o ambicioso em um gerente de sucesso. Deixe-o tomar as iniciativas, mas purifique suas motivações e seu egocentrismo. Você pode transformar o vaidoso, o rancoroso, o invejoso... Busque o potencial positivo deles e você terá uma equipe de sucesso, ou seja, uma equipe de líderes.

Sobre este potencial positivo dos "difíceis", encontrei uma dessas simpáticas parábolas da internet, que vale a pena reproduzir aqui. É a "Fábula do porco-espinho":

"Conta-se que, durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos. Assim, agasalhavam-se e protegiam-se mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso, decidiram se afastar uns dos outros e voltaram a morrer congelados. Precisavam fazer uma escolha: ou aceitariam os espinhos dos companheiros ou desapareceriam da Terra. Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam, assim, a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram. Moral da história: o melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele no qual cada um aprende a conviver com os defeitos do outro e admirar suas qualidades."

Se estiver procurando formar uma equipe de liderados, prepare-se para a falência. Sua liderança se confirma quando gera outros líderes. Quando todos lhe obedecerem sem questionar, não se iluda pensando que construiu uma grande equipe. Você atingiu o grau máximo da mediocridade. Tenha pelo menos uma atitude honesta e peça demissão.


6 de junho de 2013

As fases do namoro

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O ser humano tem vocação ao amor

A grande maioria das pessoas, quando imaginam um namoro, consideram como essencial para o êxito desse relacionamento o constante sentimento de paixão. Tanto para iniciar quanto para mantê-lo, essa emoção é valorizada demais, como maior referência para que a pessoa oriente suas futuras decisões em comprometer-se "para sempre" com o outro ou desligar-se dele.


Embora saibamos que o intuito do namoro é se dispor em conhecer e amar uma pessoa especial para eternizar um compromisso com ela, outros aspectos devem pautar o relacionamento amoroso. Comumente, ouvimos de casais, que resolveram terminar o namoro, os comentários: "O amor acabou!", "Incompatibilidade de gênios!", "Não era para ser!", "Tantas diferenças tornaram impossível continuarmos".


Tudo isso porque, depois de um tempo, as emoções do início diminuem e não enxergamos a chance de, a partir daí, incluir, no relacionamento, as dimensões mais elevadas como a disposição da vontade e da doação ao outro.

Por que as pessoas se veem tão atraídas por alguém, e ao invés de conseguirem cultivar cada vez mais o que de bonito havia em seus corações, terminam por colher decepção? O que faz o amor acabar? O que torna tão pesado lidarmos com as diferenças?

É certo que não existe uma "fórmula do amor" ou uma cartilha de como proceder. Talvez por isso, ficamos tão atrelados e norteados somente pelos sentimentos.

Felizmente, o ser humano tem vocação ao amor e por isso é capacitado para superar, a dois, as dificuldades para realizarem-se. Só que isso não acontece de imediato, mas por uma gradualidade. É processual. Vamos aprendendo a amar a outra pessoa, por isso podemos pensar nessa caminhada em estágios.

A primeira fase é a do "sentimento". A segunda fase será do "conhecer". Terceira fase: "decisão". A quarta fase será a de "unir os corações". E a última fase é o "noivado".

Contudo, não basta saber da existência das fases, é preciso aprofundar-se, estudar, conhecer o significado de cada uma delas e analisar-se mediante esses conceitos. Só assim, envolvendo-se e comprometendo-se com aquilo que comporta um namoro virtuoso é que estas etapas indicarão um caminho, um roteiro, de como atingir e superar cada nível. Por estas fases poderemos identificar manias e erros mais comuns em namoros, além de possíveis falhas em seu último relacionamento, principalmente, você se perceberá capaz de ultrapassar barreiras, verá que pelo respeito e amor é possível vencer os desafios de casal e transformá-los em decisão e felicidade.

Deus abençoe você!

 

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Sandro Ap. Arquejada

3 de junho de 2013

Grande cuidado ao se preparar para a comunhão

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Suprirei o que te falta

Cristo – Eu amo a pureza e dou toda a santidade. Busco um coração puro para nele repousar. Prepara-me uma grande sala mobiliada e eu farei em tua casa a Páscoa com meus discípulos (Lc 22,11-12). Se queres que venha a ti e que permaneça em ti, purifica-te do velho fermento (1Cor 5,7) e limpa a morada de teu coração. Nada admitas do mundo e do tumulto do mal que te habita. Senta-te como um pássaro solitário no teto (Sl 101,8) e pensa em tuas faltas na amargura de tua alma. Todo ser que ama prepara para seu bem-amado habitação excelente e magnífica: é nisto que se reconhece a afeição ao hóspede.

Fica sabendo: não conseguirás a preparação pela qualidade de teus atos, mesmo que te prepares durante um ano sem ter outra preocupação. Só minha bondade e minha graça te permitem ter acesso à minha mesa, como um mendigo convidado à mesa do rico: o mendigo nada pode retribuir ao rico por seus benefícios. Só pode humilhar-se e agradecer. Por isso, faze o possível, faze-o com cuidado, não por hábito nem por obrigação; mas com temor, respeito e amor, recebe o Corpo de teu Senhor bem-amado que se digna vir a ti. Sou eu que amo, eu que quero assim: suprirei o que te falta. Vem receber-me.


Dá graças a teu Deus quanto te concedo a graça do fervor, não porque sejas digno, mas porque tenho piedade de ti. Se não tens fervor, mas sentes grande aridez, persiste na oração, geme e bate. Não desanimes até que mereças receber uma migalha ou uma gota da graça da salvação. És tu que tens necessidade de mim, não eu de ti. Não és tu que vens santificar-me: sou eu que venho santificar-te e melhorar-te. Tu vens ser santificado por mim e unido a mim, para receber uma graça nova e inflamar-te de novo para o teu progresso. Não negligencies esta graça: prepara teu coração com muito cuidado, depois introduz em tua casa teu bem-amado.

Não basta que te disponhas ao fervor antes da comunhão; é preciso guardar-te com cuidado depois de receber a Eucaristia. Recolher-te depois da comunhão não é menos necessário do que dispor-se a ela. Recolher-se devidamente depois é a melhor preparação para receber uma graça maior. Toda boa disposição é aniquilada se logo depois se dispersa em preocupações exteriores. Cuidado com a tagarelice, permanece no segredo (cf. Mt 6,4.6.18) e alegra-te com teu Deus. Tu o tens, e o mundo inteiro não pode privar-te dele. É a mim que deves dar-te todo inteiro, de sorte que doravante não vivas em ti, mas em mim, ao abrigo de todo cuidado.

(Extraído do livro "A imitação de Cristo")

28 de maio de 2013

AS CINCO VIRTUDES DA ESPIRITUALIDADE VICENTINA

Fonte: http://www.pbcm.com.br/sao_vicente/cinco_virtudes_da_espiritualidade_vicentina.php

Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, CM

Pe. Alexandre Nahass Franco, CM

 A Espiritualidade vicentina está pautada, desde sua gestação, mediante o testemunho de Vicente de Paulo e seus primeiros companheiros de missão, no contexto da Igreja do século XVII, na França, em cinco virtudes, colhidas do Evangelho de Jesus Cristo e da sua práxis libertadora junto ao povo empobrecido e marginalizado, os protagonistas do Reino de Deus, por Ele mesmo inaugurado na humanidade. Estas virtudes são assim nomeadas pelo próprio Vicente de Paulo: SIMPLICIDADE, HUMILDADE, MORTIFICAÇÃO, MANSIDÃO, ZELO PELAS ALMAS (ZELO APOSTÓLICO), também denominadas pelo próprio Vicente de Paulo de Conselhos Evangélicos.

Ao tratarmos das virtudes vicentinas, não estamos falando de conteúdos teológicos rebuscados de múltiplas interpretações hermenêuticas, mas de posturas humanizantes e humanitárias da pessoa que assume uma missão dentro do universo da espiritualidade vicentina junto aos mais carentes, lugar social, geográfico, cultural e teológico do agente de pastoral com identidade eminentemente vicentina.

Assim sendo, nós vicentinos, somos reconhecidos pelos mais empobrecidos não tanto pelo nosso discurso hermenêutico e teológico, mas primordialmente por nossa postura aproximativa do mundo dos pobres, ou seja, pelo nosso esforço imensurável em nos inculturar no seu universo, que é por demais exigente para nosso padrão de vida enquanto pertencente a uma instituição carregada de tradições milenares, semelhantes a todas as instituições que compõem o catolicismo na humanidade.

Inspirados na própria concepção que São Vicente de Paulo teve dos Conselhos Evangélicos, podemos dizer que as Cinco Virtudes vicentinas dão uma configuração própria à nossa maneira de viver os quatro Votos na Pequena Companhia (Congregação da Missão): Castidade, Pobreza, Obediência, Serviço aos Pobres (Estabilidade).

No presente texto procuraremos expor de forma bastante sintética em que corresponde cada Conselho Evangélico dentro da Espiritualidade Vicentina, desmembrando cada um deles em seis Características ou Dimensões, em se tratando da busca de transformá-los em testemunho vivo no mundo de hoje: Eixo Vicentino, Dimensão Humana, Dimensão Espiritual, Dimensão Intelectual, Dimensão Comunitária, Dimensão Apostólica.

Por final, descreveremos pelas próprias palavras de São Vicente de Paulo, através de seus escritos, pequenos trechos sobre cada uma das Cinco Virtudes Vicentinas.     


1. SIMPLICIDADE

A virtude da Simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo; por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa.

Diante dos desafios que o pluralismo de idéias e de valores e contra-valores que a sociedade capitalista nos impõe, precisamos ficar mais atentos em relação à nossa postura junto ao povo e o cultivo de valores que não são transitórios, mas base para a vida com dignidade. Um desses valores é o cultivo da simplicidade. O povo ao qual procuramos evangelizar se aproximará de nós mediante nossa postura diante dele. A simplicidade impregnada em nossos atos possibilitará essa pedagógica aproximação do povo mais simples a nós e vice-versa.

O próprio São Vicente definiu na sua vivência a importância desta virtude na vida de um vicentino: "A simplicidade é a virtude que mais amo, eu a chamo de meu evangelho" (SV I,284).

a. Eixo Vicentino: A vivência da Virtude da Simplicidade educa-nos para a proximidade do mundo dos pobres na realidade de hoje em seu universo sócio-econômico, cultural, religioso, geográfico; tal aproximação coloca-nos em clima de disponibilidade para acolhermos e nos aproximarmos do diferente, da compreensão do pluralismo no meio da humanidade, favorecendo-nos em nossa missão de instrumentos da universalidade da salvação inaugurada por Jesus de Nazaré em sua práxis libertadora.

 b. Dimensão Humana: A vivência da Virtude da Simplicidade no concernente à dimensão humana leva-nos ao tratamento da pessoa com o devido cuidado e atenção que ela merece, o que favorece à mesma sentir-se saudável psíquica e fisicamente, pois sentir-se uma pessoa amada no seio de uma comunidade e em meio à sociedade produz um aspecto profundamente agradável no sentimento da auto-estima. A simplicidade no nosso viver vicentino leva-nos a quebrar barreiras na convivência com os mais pobres, proporcionando-nos maior aproximação ao seu universo de vida, levando-nos a contribuir no processo de sua própria educação, visando a integralidade da sua própria pessoa.

 c. Dimensão Espiritual: A experiência da Simplicidade na vida exige de cada um de nós uma busca saudável do equilíbrio entre trabalho e descanso recreativo. A Espiritualidade vicentina necessita de uma forte experiência de Deus para que possamos irradiá-la no serviço aos pobres. Conseqüentemente, nossa inserção no mundo dos pobres a partir do cerne da nossa Espiritualidade, exige-nos a clara consciência de que fazemos este esforço não por meras motivações, mas pela convicção de estarmos contribuindo qualitativamente na construção do Reino de Deus aqui e agora.

 d. Dimensão Intelectual: A procura da vivência da Simplicidade no meio dos pobres traz-nos também uma exigência no aspecto intelectual; para que a nossa ação de aproximação ao mundo dos pobres seja sinal de transformação profética, precisamos investir em nossa própria formação inicial e permanente, motivados pelo ideal da compreensão das causas da pobreza para atacá-las com precisão. Para essa formação permanente acontecer precisamos de motivações internas e externas, lembrando que a sociedade atual, por si mesma, já nos faz essa exigência, pois torna-se, progressivamente, mais pluralista e complexa. Neste sentido, trabalhar com os pobres no nosso contexto atual exige de nós busca constante de preparação intelectual justamente pelo respeito que devemos ter à dignidade de todo ser humano. E o empobrecido não é um ser menos humano.

 e. Dimensão Comunitária: Vivenciar a virtude da Simplicidade no concernente à dimensão comunitária exige colocarmo-nos na escola do Evangelho e também de São Vicente, para aprendermos sempre a alegria de partilhar com os irmãos na fé, sobretudo os mais empobrecidos da nossa história o saber, os bens, os dons e a vida. Nossa presença no meio do povo é sempre uma experiência de troca de saberes em todas as dimensões da vida.

 f.  Dimensão Apostólica: Cultivar a Simplicidade em nossas comunidades apostólicas compromete-nos a interiorizar progressivamente o valor de distribuir responsabilidades com os irmãos de fé, lembrando-nos que um dos aspectos da nossa vivência comunitária vicentina é alimentar nossa espiritualidade para um autêntico testemunho missionário no meio dos pobres do nosso tempo. Uma de nossas máximas é esta: Vida em comunidade para a Missão.


Finalizando nossa reflexão sobre a virtude da Simplicidade, vejamos uma belíssima descrição do próprio Vicente de Paulo sobre esta máxima evangélica: "Deus é simples. Onde encontrares a simplicidade cristã caminharás seguro; pelo contrário, os que recorrem a precauções e artimanhas estão num medo contínuo de que descubram seu artifício e que, ao se ver surpreendido em sua falsidade, ninguém quer ter confiança neles.

Da minha parte, posso afirmar, uma grande experiência me demonstrou, para minha satisfação que uma fé vigorosa e um verdadeiro espírito de religião encontram-se freqüentemente entre as pessoas simples e pobres. Deus se compraz em enriquecê-las com uma fé viva: eles crêem, apalpam, saboreiam as palavras de vida eterna que Cristo nos deixou em seu evangelho. Em geral, suportam pacientemente suas enfermidades, aflições e necessidades, sem nunca se queixarem ou murmurar.

Todo mundo sente atração por pessoas que são simples e cândidas, pessoas que se recusam a empregar a astúcia, os enganos. São populares, porque agem ingenuamente e falam com sinceridade; seus lábios estão de acordo com seus corações. São amadas e estimadas em toda parte..."
(SV XI, 740s, 462).


 2.  HUMILDADE

São Vicente de Paulo define a Humildade como a virtude que dá a característica essencial à missão na Pequena Companhia. A humildade é a virtude que nos torna capazes de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, criando assim a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos. A humildade ajuda-nos a nos livrarmos da nossa auto-suficiência, a reconhecermos nossa dependência do amor do Criador e nossa interdependência comunitária. Ao mesmo tempo, a humildade nos capacita para reconhecer nossos talentos, talentos que devem ser postos a serviço das outras pessoas. É a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. É a virtude que nos ajuda a ver que todos somos iguais aos olhos de Deus. A vivência desta virtude educa-nos e capacita-nos, em contrapartida, para aproximar-nos progressivamente dos Pobres. Esta virtude nos impulsiona a um processo contínuo de inculturação no mundo dos pobres, encorajando-nos a um esforço de identificação com os mesmos.

Diante de uma sociedade tremendamente hedonista, individualista, separatista, perfeccionista do ponto de vista da aparência física em detrimento do cuidado integral do ser, a vivência da humildade se torna mais desafiadora, pois exige-nos maior sociabilidade a partir de dentro do nosso próprio lar, nosso grupo de convívio.

 a. Eixo Vicentino: A humildade, segundo São Vicente, é a virtude eminentemente evangélica. Jesus é o único mestre. Na conferência de 18 de abril de 1659, São Vicente se perguntou: "Em que consiste a humildade?" E respondeu: "Em querer o desprezo, em desejar a humilhação, em alegrar-se quando nos vemos humilhados, por amor a Jesus Cristo". (SV XI, 488) A humildade faz-nos criar um sentido de pertença a um objetivo comum. Quando estamos dispostos a formar comunidade, construir unidade, nos entusiasmamos em trabalhar com objetivos comuns, somos capazes de nos doar, propor, aceitar e reconhecer como comunidade em vista da missão de evangelizar comunitariamente os pobres.

 b. Dimensão Humana: A virtude da humildade nos educa para a tolerância dialogada. Torna-se condição necessária para desenvolvermos, crescermos e fortalecermos como pessoas em comunidade, em sociedade de vida apostólica, como atitude que nos leva a reconhecer que todos necessitamos do outro para enriquecermos e superar nossas próprias dificuldades e individualidades. A abertura ao diálogo, o respeito, a atitude de compartilhar, a capacidade de escutar, de falar e de agradecer podem ser formas muito atuais da virtude da humildade.

 c. Dimensão Espiritual: Reconhecer que somos redimidos pelo Ressuscitado. A humildade nos faz ver que o ser humano é pecador e o sensibiliza perante o pecado. A atitude de nos reconhecer pecadores perdoados pelo sangue de Cristo nos responsabiliza a reconhecer que nossa vida se enriquece e fortalece com o perdão; o perdão implica aceitação, e para aceitar é necessário sair de nós mesmos, esvaziarmos de nós mesmos, dar um passo na direção do outro, quebrar nossas arestas, derrubar muros, construir pontes.

 d. Dimensão Intelectual: Reconhecer que somos pessoas limitadas, interdependentes, complementares. Temos opiniões diferentes diante da realidade que nos cerca e por isso mesmo a vivência da virtude da humildade nos faz constatar que é necessário estar dispostos à escuta dos outros e à reflexão, para juntos construir o caminho do discernimento coerente ao clamor da realidade.

e. Dimensão Comunitária: A virtude da humildade nos faz conscientes de nossas limitações e nos capacita para a aceitação da colaboração do outro em vista da missão. A atividade missionária corre sempre o risco de ser dominadora e auto-suficiente, de encerrar-se nas próprias idéias e métodos, de negar a colaboração do outro e da outra. A humildade faz com que o missionário, ao mesmo tempo que evangeliza, se deixe evangelizar e que pregue não sua palavra, mas a Palavra de Deus, assegurada pelo magistério da Igreja.

 f. Dimensão Apostólica: A virtude da humildade nos impulsiona a posicionarmos diante da missão apostólica não como donos de determinada situação mas como seres que estão dispostos a somar nossas qualidades e dons, simplesmente como colaboradores. Isso requer um processo de conversão onde cada um coloca o seu ser e faz o maior esforço para suscitar a mudança pessoal e estrutural, na sã consciência de que o único indispensável é a presença de Deus. Tudo o mais é transitório, instrumental para a eficácia da construção do Reino de Deus.


Concluindo a reflexão sobre a virtude da humildade, lançamos mão de palavras do próprio São Vicente em seus magníficos escritos, destacando sua dimensão missionário-pastoral. Vejamos: "Entendei bem isto, meus senhores e meus irmãos: nunca poderemos fazer a obra de Deus se não tivermos uma profunda humildade e uma humildade de opinião sobre nós mesmos. Não, se a Companhia da Missão não é humilde, se não tem a fé e a convicção de que não pode fazer o bem, que é mais apta para atrapalhá-lo, nunca realizará nada de grande; mas quando tem e vive o espírito do que acabo de dizer, então, ficai seguros, senhores, estará capacitada para fazer a obra de Deus, porque Deus usa de seus membros para suas grandes obras" (SV IX, 71, 284,809). 


 3. MANSIDÃO

Etimologicamente, mansidão vem de "mansuetude" e manso de "mansus", forma do latim vulgar de "mansuetus". Tem um significado de comportamento aconchegante, familiar, doméstico. Conceitualmente, a mansidão se entende como a força, a virtude, que permite a pessoa moderar razoavelmente sua ira e indignação. A razoável indignação pode ser com freqüência sã e saudável, transposição lícita da sobrecarga psicológica a um ato de zelo pela glória de Deus, pela justiça ou pelo bem do próximo. A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Certamente é uma virtude chave na comunidade. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós. Por estas razões podemos dizer que a mansidão é a virtude por demais vocacional, como constatou o próprio São Vicente: "Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra maneira"(SV VII, 226).

A mansidão inspira um trato suave, agradável, educado, e fundamenta a tolerância, valor este muito importante para a convivência em uma sociedade plural em que o respeito à pessoa e à sua liberdade deve ser uma lei indiscutível.

 a. Eixo Vicentino: Com certeza, todas as virtudes contribuem para o dinamismo da vida comunitária em vista da missão. Todas as virtudes trazem em seu bojo um aspecto construtivo da vivência comunitária, porém é evidente que a mansidão entra em jogo por seus próprios valores e porque a comunidade se faz mediante relações plenas de conteúdo humano, cristão e vicentino. Devem ser expressões de pessoas que se estimam, se querem e se entreajudam. Toda atitude dura, de rechaço, de desprezo, pode ser superada precisamente pela prática da mansidão.

b. Dimensão Humana: A vivência da mansidão no aspecto humanitário ajuda-nos no processo da aceitação e compreensão da cultura do outro, nos colocando num processo de crescimento junto ao diferente, abrindo-nos à dinâmica da inculturação, educando-nos no processo da complementariedade. No trabalho junto aos mais pobres essa abertura é essencial para uma autêntica inserção popular.

 c. Dimensão Espiritual: Viver a virtude da mansidão no aspecto espiritual compromete-nos a inspirarmos na mansidão divina para com o seu povo na caminhada da história da salvação. Remete-nos à práxis da paciência histórica mediante a atitude do Criador para com as suas criaturas. Sem dúvida, um tema relacionado com a mansidão é o da hospitalidade, que é uma característica que deve distinguir um Vicentino: uma pessoa acolhedora; uma pessoa que está atenta às necessidades dos outros, especialmente dos marginalizados e transeuntes.

 d. Dimensão Intelectual: A mansidão causa a paz e cria melhores condições para o discernimento. A importância que tem, moral e espiritualmente falando, o cultivo da mansidão, é que livremente, permite-nos ver a importância da paz interior e exterior como condições para um bom discernimento. Se não há paz interior, tranqüilidade e serenidade, a opção sempre é suspeitosa e moralmente imperfeita. Portanto, a mansidão é uma ferramenta que nos ajuda a buscar e defender a verdade, favorece a busca incansável do discernimento no serviço aos pobres.

 e. Dimensão Comunitária: A vida em comum, se não está animada pela mansidão, se torna insuportável. É evidente que é difícil conviver com pessoas irritáveis e duras. A condescendência pode ser uma expressão indubitável de mansidão. São Vicente disse o seguinte sobre a condescendência: "Em uma comunidade, é necessário que todos os que a compõem e que são como seus membros sejam condescendentes uns com os outros. Com esta disposição, os sábios têm que condescender com a debilidade dos ignorantes, nas coisas em que não há erro e nem pecado. Os prudentes e sábios devem condescender com os humildes e simples. E com esta mesma condescendência, não só temos de aprovar os pareceres dos demais nas coisas boas e indiferentes, senão incluso preferirmos aos nossos, crendo que os demais têm luzes e qualidades naturais e sobrenaturais maiores e mais excelentes do que nós. Porém temos de evitar muita condescendência com os outros em coisas más, pois isto não seria virtude, senão um defeito, que proviria da libertinagem de espírito, ou de nossa covardia e pusilanimidade" (SV XI,758).

 f. Dimensão Apostólica: A apostolicidade da virtude da mansidão consiste basicamente em centrar nossas pregações no discernimento da procura da justiça e da paz que brotam da Palavra de Deus. Neste sentido, convém estar convictos de que nossas atitudes de bondade e coerência convencem muito mais as pessoas do que sermões, muitas vezes carregados de sentimentos contraditórios e moralismos exagerados. Nossas atitudes evangelizam mais que nossas palavras. Por isso mesmo, elas necessitam estar imbuídas da sensibilidade social na defesa incondicional dos direitos da pessoa humana, sobretudo dos mais pobres e excluídos.


No final desta reflexão sobre a virtude da Mansidão, vejamos mais algumas palavras do mestre Vicente de Paulo: "Não há pessoas mais constantes e firmes no bem que aqueles que são mansos e pacíficos; pelo contrário, os que se deixam levar pela cólera e pelas paixões são geralmente muito inconstantes, porque agem por impulsos e ímpetos. São como as correntezas que só têm força e impetuosidade nas chuvas, mas secam logo depois de ter passado o temporal, enquanto os rios que representam as pessoas pacíficas caminham sem ruído, com tranqüilidade, sem jamais secar" (SV XI, 752).


 4. MORTIFICAÇÃO

Por esta virtude somos interpelados a morrer para nós mesmos. É a virtude que pede que nos entreguemos totalmente, pensemos primeiro nos outros, pensemos especialmente nos Pobres antes de pensar em nós mesmos. Esta virtude educa-nos para o altruísmo em detrimento do nosso egocentrismo.

Assim nos diz São Vicente: "Os santos são santos porque seguem as pegadas de Jesus Cristo, renunciam a si mesmos e se mortificam em todas as coisas" (SV XII, 227).

 a. Eixo Vicentino: Em tempos de busca de refundação e refontização da Vida Consagrada, urge-nos enquanto vicentinos aprofundar o carisma que nos identifica no mundo e retomar nossas tradições fundantes, bem como nossas constituições, nossos bons costumes como alimentos sólidos em vista de um testemunho mais autêntico na humanidade hodierna.

 b. Dimensão Humana: Embora nosso tipo de trabalho seja diverso do que a maioria da população, cabe-nos saber utilizar bem o nosso tempo e os meios que temos em nossas mãos em vista da nossa missão junto às pessoas. Em respeito e solidariedade ao trabalho duro das pessoas para sobreviver temos o dever moral de fazer bom uso de tudo o que dispomos. É preciso que utilizemos o tempo responsavelmente.

 c. Dimensão Espiritual: A oração pessoal e comunitária é uma fonte irrenunciável para um autêntico vicentino, por isso mesmo foi insistentemente recomendada por São Vicente. É muito importante rezar de modo disciplinado, dar à oração seu tempo, compartilhar com os irmãos sua espiritualidade, fazer dos sacramentos um alimento para a vida missionária.

 d. Dimensão Intelectual: Em contrapartida ao consumismo desenfreado da sociedade, é saudável viver a sobriedade diante do uso das coisas, levar um estilo de vida simples, educarmos numa vida ascética, por mais difícil que seja. Para conseguirmos dar passos neste sentido, é profundamente necessário que utilizemos em tudo o senso crítico dentro de uma corresponsabilidade evangélica.

 e. Dimensão Comunitária: A vivência comunitária exige-nos, progressivamente, profunda sensibilidade evangélica. Por sermos irmãos no Senhor, é de se supor que sempre nos sentiremos mais próximos uns dos outros. Portanto, que nossas amizades não sejam exclusivas nem excludentes. Hoje todos somos chamados a participar no processo de tomada de decisões e a viver uma obediência responsável. Interpela-nos expressar nossas opiniões. Isto gasta muito tempo e, às vezes, é penoso. Por isso mesmo é para alguns uma grande mortificação.

 f.  Dimensão apostólica: Entendendo por mortificação renunciar a comodidades para nos doarmos para que o outro tenha mais vida, cabe-nos estar dispostos para responder às necessidades da própria comunidade e às do povo de Deus, sobretudo aceitando as mudanças de local geográfico e social, vendo nesta dinâmica de vida apostólica os apelos do Deus da Vida. Todos nós somos dotados de muitas qualidades e talentos. Colocá-los a serviço é sempre uma virtude. A apostolicidade da virtude da mortificação nos impulsiona a estarmos sempre abertos ao inesperado, pois com freqüência somos interpelados a responder a novas situações, e isso extrai de nosso interior recursos pessoais que nem sabíamos que possuímos. Portanto, a abertura ao novo é profundamente necessário na espiritualidade vicentina. Bebamos mais um pouco na fonte de Vicente de Paulo sobre a virtude da Mortificação: "Somos firmes em resistir à natureza, pois se permitimos que alguma vez se cole em nós um pé, se meterá até quatro. E estamos seguros de que a medida de nosso progresso na vida espiritual está em nosso progresso na virtude da mortificação, que é especialmente necessária para os que hão de trabalhar na salvação das almas, pois é inútil que preguemos a penitência aos demais, se nós estamos vazios dela e se não a demonstramos em nossas ações e modo de nos comportar" (SV XI, 758-759).


 5. ZELO APOSTÓLICO

Podemos identificar o zelo apostólico com paixão pela humanidade. O zelo é a conseqüência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, paixão pela humanidade e paixão especialmente pelo Pobre. O zelo é uma virtude verdadeiramente missionária. Expressa-se em forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização, mesmo quando as forças físicas já estão decadentes.

Assim sendo, relacionado com o zelo está o entusiasmo, que leva à ação. Podemos entender o zelo como uma expressão concreta do amor efetivo, que é motivado pela compaixão, ou amor afetivo.

 a. Eixo Vicentino: O zelo é a quinta virtude característica e mais própria do missionário vicentino. O próprio São Vicente assim qualifica o "zelo pelas almas": "Se o amor de Deus é um fogo, o zelo é sua chama. Se o amor é um sol, o zelo é o seu raio" (SV XII, 307-308). O Zelo Apostólico é o amor pela missão que dura a vida inteira. Vicente de Paulo trabalhou com constância até o final de sua vida. O Zelo é, pois e antes de tudo, entusiasmo, e entusiasmo significa cheio de Deus, plenitude de Deus.

b. Dimensão Humana: Zelo é amor ardente, uma disponibilidade para ir em qualquer lugar para falar de Jesus Cristo, ainda que em circunstâncias difíceis; disponibilidade para morrer por Ele. O testemunho do zelo apostólico inclui não só um profundo amor afetivo pelo Senhor e por seu povo mas também deve se expressar no amor efetivo e no sacrifício. Para bem e melhor servir ao povo a nós confiado torna-se necessário o devido cuidado com nossa saúde e o equilíbrio do nosso ser.

c. Dimensão Espiritual: O Zelo cria a disponibilidade de ir a todo o mundo levar, como Jesus Cristo e os apóstolos esse fogo de amor e de temor de Deus. O Zelo fortalece, aumenta a capacidade de trabalhar, capacita para sofrer tudo pela glória de Deus e salvação do próximo. O Zelo atualiza o comportamento do missionário, aceitando as exigências da Nova Evangelização: novos conteúdos, novas expressões, um novo ardor que não é outra coisa que a atualização do zelo apostólico ou da caridade apostólica. Para esta finalidade precisamos de uma sólida espiritualidade vicentina.

d. Dimensão Intelectual: Zelo é amor fiel e perseverante. É fácil amar durante algum tempo. Mas amar durante toda a vida é mais difícil. Assumir compromissos permanentes é hoje mais difícil do que foi no século XVII, sobretudo porque muitos dos apoios sociais que ajudavam a sustentá-los naquele tempo, hoje desapareceram.

O Zelo hoje se manifesta como fidelidade. Ouro provado no fogo. Exige-nos encontrar criativamente novas maneiras de amar, apesar das mudanças bruscas. Como afirmava São Vicente: "O amor é inventivo até o infinito" (SV XI, 65).

O Zelo leva o missionário a adaptar-se e encontrar novas formas de servir aos pobres, apelando à capacitação profissional e especialmente através da formação permanente. Assim nos tornamos mais efetivos perante um mundo mais exigente.

 e. Dimensão Comunitária: Demonstra-se Zelo com o desejo de conseguir operários para a messe. Com o entusiasmo em comunicar a Palavra pela convivência agradável dentro e fora da comunidade interna. O amor é contagioso. O fogo se propaga. Um amor ardente busca se comunicar aos outros, atrai todos à mesma maravilhosa missão com que se está comprometido. O Zelo nos leva a compartilhar com alegria com outras pessoas, aproveitando os espaços formais e informais. O Zelo é amor fiel e perseverante.

 f. Dimensão Apostólica: O Zelo indiscreto se mostra hoje com o trabalho excessivo, muitas vezes sem critérios equilibrados. Hoje é tão importante como no tempo de São Vicente, o conhecer nossas limitações, aceitar nossa condição de seres criados,o desenvolver um estilo de vida equilibrado que inclui o descanso suficiente e o tempo de lazer. Também é importante manter-se em boa condição física para ter a energia que caracteriza o zelo. A ética do cuidado aplica-se interinamente ao nosso ser por causa da missão.

Outro aspecto da dimensão apostólica do Zelo é a busca de assumirmos responsabilidades compartilhadas, trabalho em equipe, decisões colegiadas. Esse caráter educa-nos para a valorização dos ministérios em suas múltiplas modalidades apostólicas e teologais.

Enriqueçamos nossa visão sobre o Zelo Apostólico com palavras inquietantes de Vicente de Paulo: "Buscamos a sombra, não nos gosta sair ao sol. Não goste tanto da comodidade! Na missão, pelo menos, estamos na igreja, a coberto das injúrias do tempo, do ardor do sol, da chuva, ao que estão expostas essas pobres gentes. E gritamos pedindo ajuda quando nos dão um pouquinho mais de ocupação que do ordinário! Meu quarto, meus livros, minha missa! Está bem! É ser missionário, ter todas as comodidades? Deus é nosso provedor e atende todas nossas necessidades e algo mais, nos dá o suficiente e algo mais. Não sei se nos preocupamos muito de agradecê-lo. Vivemos do patrimônio de Jesus Cristo, do suor dos pobres" (SV XI, 120-121).

 

Palavras Conclusivas:

As virtudes características nos ajudam a permanecer fortes diante de qualquer obstáculo que nos dificulte viver plenamente a vocação a que fomos chamados. Como sabemos, as virtudes características são aqueles valores evangélicos que São Vicente contemplava, de modo especial em Jesus Cristo. São virtudes de que sentiu necessidade e, ainda mais, que se esforçou por viver, compreender e por em prática durante toda a sua vida.

Façamos da oração de São Vicente para pedir o Zelo, nossa súplica missionária: "Ó Salvador, ó meu bom Salvador, apraza à vossa divina bondade livrar a Missão deste espírito de ociosidade, de busca das próprias comodidades e dar-lhe um zelo ardente por vossa glória, que faça abraçar tudo com alegria e que nunca a deixe recusar uma ocasião de vos servir"(Repetição de Oração de 24 de julho de 1655).

  

BIBLIOGRAFIA DE APOIO:

Congregação da Missão – Constituições e Estatutos. Cúria Geral da Congregação da Missão. Roma – 1984.

Carta do Superior Geral da Congregação da Missão, Quaresma de 2007.

Manual de Espiritualidade Vicentina. Coleção Vicentina 12.

MALONEY, Pe. Roberto P., O Caminho de Vicente de Paulo, Coleção Vicentina 10.

CLAPVI, Ano XXXII, N. 124 (periódico).

FLORES, Miguel Pérez, CM. Revestirse Del Espíritu de Cristo. Expresión de la identidad vicenciana. Editorial CEME. Salamanca.