17 de maio de 2013

O preço da intolerância

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Os intolerantes perdem a capacidade de sorrir

No início de um novo ano, Geovani Vicente Ferreira, 33 anos, tomou um táxi e indicou o lugar para onde desejava ir. Lá chegando, foi informado de que a corrida custara R$ 4,64. Geovani pagou somente R$ 4,60, mas o taxista exigiu os quatro centavos que faltavam. Geovani entregou uma moeda de cinco centavos e passou a exigir seu troco: exatamente um centavo. O taxista disse que não tinha uma moeda desse valor e que não iria dar o troco. Os ânimos foram ficando acirrados, até que o passageiro desistiu do seu troco e saiu com raiva do táxi, batendo a porta com toda a força. O taxista não se conteve e deu um tiro, matando o passageiro. O que leva uma pessoa a chegar a esse grau de intolerância? Como a vida pode chegar a valer apenas um centavo? 

Estamos diante de um fato extremo, mas que nos faz pensar. Dificilmente alguém de nós chegaria tão longe, mas é possível que você já tenha dito poucas e boas para aquele carro que fechou o seu ou demorou demais para sair com o semáforo aberto. Você pode ter levantado a voz com aquela pessoa que estava atendendo a fila sem pressa. A verdade é que a intolerância é um mal muito presente no mundo estressado em que vivemos. Queremos tudo para ontem. Ficamos viciados na impaciência.

Coloque, nesse contexto, um pouco de arrogância e violência. Aí está a mistura explosiva. O resultado pode ser verificado no jornal nosso de cada dia. Guerra, sangue, violência.

Os intolerantes perdem a capacidade de sorrir e procuram seu refúgio no mau humor e na ignorância. A inteligência não consegue sobreviver nesse canteiro de ervas daninhas. Terroristas, assassinos e traficantes precisam usar o capuz, esconder o rosto, evitar fazer algum raciocínio, pois se arriscariam a descobrir que sua atitude é totalmente idiota e sem sentido. É por isso que aqueles que estão interessados no lucro que a intolerância pode gerar estimulam o fundamentalismo, que é a ignorância em sua forma religiosa. Então, você tem aqueles que matam e morrem em nome de Deus.

Atenção: há formas de terrorismo presentes nas salas de aula, nas casas e nas ruas. A intolerância pode aflorar até em um táxi qualquer, por um mero centavo. Há pais intolerantes com seus filhos e vice-versa. Há professores que são um verdadeiro terror para os alunos, e há alunos que fazem o terror de seus mestres. Precisamos dar um basta. Se ficarmos em silêncio sempre, teremos apenas que chorar os mortos. Devemos anunciar a solidariedade e a paz.

A calma, a compreensão, a compaixão, o diálogo, o humor e o amor são as raízes dessa atitude profunda que chamamos de tolerância. Não me entenda mal, tolerar não significa deixar as coisas como estão, colocar panos quentes, aceitar o reinado dos maus. Já se falou muito em "tolerância zero". Não devemos tolerar o pecado. Mas precisamos atirar no pecador? Não precisamos perdoar a dívida de R$ 10 mil. Mas precisamos gastar tanta adrenalina por um centavo? Pense nisso!

 

(Extraído do livro "Pronto, Falei!")

 

15 de maio de 2013

É a hora do Rosário

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Nada é mais útil para o aperfeiçoamento da vida cristã

Desde os meus cinco anos de idade, no colo de minha mãe, aprendi a rezar o Terço e o Rosário (mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos) de Nossa Senhora. Todos os dias, às 18h, nossa família se reunia para a oração. Cada filho puxava um mistério. Graças a essa devoção a Maria, nunca presenciei, um dia sequer, de desespero, desânimo ou tragédia em nosso lar.

Aos 15 anos, saí de casa para continuar meus estudos, mas jamais consegui ficar sem rezar o Terço. Maria se faz presente nesta hora e ajoelha-se conosco para interceder a Deus por nós.

Hoje, mais do que nunca, reza-se o Terço, graças a Deus; e muitos são os que rezam o Rosário todos os dias. É a "corrente" com a qual Maria tem amarrado o seu inimigo, satanás. 

Desde as aparições, em Fátima (1917), ela tem falado: "Não há problema de ordem espiritual ou material, pessoal, familiar, nacional ou internacional que não possa ser solucionado com a oração do Terço".

Ao beato Alan de la Roche, Nossa Senhora prometeu: todos que rezarem o Terço terão:


1º – Sua proteção especialíssima na vida; 

2º – Uma morte feliz;

3º – A salvação eterna da sua alma;

4º – A morte com a certeza dos sacramentos;

5º – A não flagelação pela miséria;

6º – A obtenção de tudo por meio do Rosário;

7º – A devoção do Rosário como sinal certo de salvação;

8º – O livramento do Purgatório no dia em que morrerem;

9º – Uma grande glória no Céu;

10º – Aos que propagarem a devoção do Rosário, promete socorrer em todas as suas necessidades.

São Domingos, por volta do ano mil, lutava sem sucesso contra os hereges do seu tempo: os cátaros, huguenotes e albigenses. Foi quando Nossa Senhora deu-lhe a "arma" do Rosário. Com ele, São Domingos conseguiu a conversão de mais de 100 mil hereges, conta a tradição.

Os Papas amaram o Rosário e tiveram grande devoção a ele. É a prova da sua importância. O beato João Paulo II disse: "O Terço é a minha oração predileta. A todos, exorto, cordialmente, que o rezem".

Nesses tempos de violência e maldade, no qual o demônio, como nunca, investe contra a família e os filhos de Deus, é preciso refugiarmo-nos sob a proteção daquela que, desde os primórdios, recebeu de Deus o poder e a missão de esmagar-lhe a cabeça. O instrumento maior dessa devoção é o Rosário.

O grande valor do Rosário é o fato de ele ser "Cristocêntrico", isto é, centrado em Cristo. Nos mistérios do Rosário, contemplamos, com devoção e afeto, a nossa redenção realizada por Jesus. Nada é mais útil para o aperfeiçoamento da vida cristã. Enquanto o rezamos, juntos com Maria, por Maria e em Maria, associamo-nos ao Mistério do amor de Jesus que se fez homem para nos salvar.

Aí está o seu profundo valor teológico. Muitos se enganam achando que o Rosário é apenas uma exaltação de Maria; não, é a exaltação de Jesus por Maria. Em cada Ave-Maria dizemos: "bendito é o FRUTO do vosso ventre".

E esse fruto é Jesus.

(Extraído do livro "Entrai pela porta estreita")

14 de maio de 2013

Um tempo de intenso combate espiritual

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Tal combate solicita homens e mulheres de fibra

Vivemos tempos de grande agitação espiritual. Dias decisivos em que os exércitos de Deus e das trevas se mobilizam para a ofensiva definitiva, a qual culminará na volta de Jesus Cristo. Os sinais dos tempos evidenciam a rápida conversão para este imperscrutável momento em que soará a última trombeta, o "toque de reunir" dos guerreiros da luz, convocando o "Sião de Deus" para o início do confronto final.


Uma grandiosa batalha entre a luz e as trevas está sendo travada e pende sobre nós um juízo temível. Se optarmos pela batalha da fé, seremos capazes de resistir aos ataques de satanás e aos poderes da morte, já que, na luta, somente obteremos uma fé genuína e, consequentemente, os milagres. 


E não podemos jamais esmorecer, o que exige de nós muita determinação para enfrentar a batalha, que envolve homens na terra, anjos no céu e demônios no inferno. Se sentirmos que falta vida espiritual, devemos retomar com fé e coragem a vida de oração e invocar o Espírito Santo, dizendo: "Espírito Santo, vivifica-me!"

Por se tratar de uma luta sangrenta entre o bem e o mal, pela conquista da fidelidade e servidão de homens e mulheres em todo o mundo, não é possível ficar indiferente e examinar o fato com ingenuidade. Porém, certamente, encontraremos cristãos letárgicos e alienados, despreocupados com esta realidade que os cerca e "pessoas da Igreja" despreparadas para enfrentar a mais intensa e violenta crítica a ela.

Desse modo, é preciso reconhecer, prontamente, os reais inimigos, ouvir o chamado e deixar-se curar pelo Senhor para não se tornar vítima do maligno. Em Efésios 6, isso fica evidente: preparados ou não, estamos em guerra de vida ou morte contra seres espirituais.

Tal combate solicita homens e mulheres espirituais, de fibra. Não se pode confiar em pessoas insípidas, impotentes e que vivem na "inadimplência devocional", pois elas não resistem aos "dias escaldantes e as noites gélidas" dos campos de guerra. Tempos assim destinam-se a combatentes santos.

Os grandes mestres da espiritualidade – carmelitana, beneditina, inaciana – nos orientam a discernir a ação dos diversos espíritos, que agitam os homens e as comunidades interessados na vida espiritual cristã. Para os inacianos, por exemplo, a luta é inerente à vida espiritual, pois não há vida sem luta.

Em contrapartida, um mundo conformado com a ação do inimigo, que age mentirosa e sorrateiramente, é incapaz de sentir a ação do mau espírito e, por vezes, inábil em reconhecer e agradecer a ação do bom espírito, a qual estimula e orienta todo e qualquer progresso no bem e na vida espiritual, prestando, assim, uma grande ajuda a satanás. Por conseguinte, somente a ação do Espírito Santo, gratificante e consolador, que "geme" em nossos corações, não permitirá que sejamos tentados acima de nossas forças (cf. 1Cor 10,13).

Portanto, somos alertados, pois não afrontamos o homem e sim as autoridades, os poderes, os dominadores deste mundo de trevas, os espíritos do mal (cf. Ef 6,12). A Escritura é clara ao dizer que sendo satanás e seus demônios expulsos do céu, o combate passou a ser travado na terra; foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, aquele a quem chamam diabo e satanás, o sedutor do mundo inteiro (cf. Ap 12,9).

Irmã Maria Eunice – Comunidade Canção Nova

(Extraído do livro "Sob a proteção do Altíssimo")

13 de maio de 2013

Nossa Senhora de Fátima

 Nossa Senhora de Fátima13 de maio. Segundo as memórias da Irmã Lúcia, podemos dividir a mensagem de Fátima em três ciclos: Angélico, Mariano e Cordimariano.

O Ciclo Angélico se deu em três momentos: quando o anjo se apresentou como o Anjo da Paz, depois como o Anjo de Portugal e, por fim, o Anjo da Eucaristia.

Depois das aparições do anjo, no dia 13 de maio de 1917, começa o ciclo Mariano, quando a Santíssima Virgem Maria se apresentou mais brilhante do que o sol a três crianças: Lúcia, 10 anos, modelo de obediência e seus primos Francisco, 9, modelo de adoração e Jacinta, 7, modelo de acolhimento.

Na Cova da Iria aconteceram seis aparições de Nossa Senhora do Rosário. A sexta, sendo somente para a Irmã Lúcia, assim como aquelas que ocorreram na Espanha, compondo o Ciclo Cordimariano.

Em agosto, devido às perseguições que os Pastorinhos estavam sofrendo por causa da mensagem de Fátima, a Virgem do Rosário não pôde mais aparecer para eles na Cova da Iria. No dia 19 de agosto ela aparece a eles então no Valinhos.

Algumas características em todos os ciclos: o mistério da Santíssima Trindade, a reparação, a oração, a oração do Santo Rosário, a conversão, a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Enfim, por intermédio dos Pastorinhos, a Virgem de Fátima nos convoca à vivência do Evangelho, centralizado no mistério da Eucaristia. A mensagem de Fátima está a serviço da Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Virgem Maria nos convida para vivermos a graça e a misericórdia. A mensagem de Fátima é dirigida ao mundo, por isso, lá é o Altar do Mundo.

Expressão do Coração Imaculado de Maria que, no fim, irá triunfar é a jaculatória ensinada por Lúcia: "Ó Meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno, levai as almas todas para o Céu; socorrei principalmente as que mais precisarem!"

Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

10 de maio de 2013

O que a Ascensão de Jesus diz ao cristão de hoje?

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Corações voltados para o alto!

O futuro é fruto do que semeamos nos campos da vida. Não há colheita sem o devido cuidado com a plantação. No campo da vida, o amor é essencial, para que possamos produzir os mais belos frutos de um tempo novo, nascido da esperança que cultivamos com a fé. O céu que esperamos começa a ser construído no hoje de nossa história. Na esperança da glória futura estão impressas as marcas do amor.


Na solenidade da Ascensão do Senhor voltamos nosso olhar para Aquele que nos aponta a esperança de nossa vida futura juntos do Seu amor. O hoje de nossa história é tempo teológico para sacramentalizarmos o amor em gestos concretos de vida em plenitude. O Cristo que olhamos é o mesmo que esteve e continua entre nós. O cotidiano da vida é uma preparação para um tempo novo que sonhamos. Um futuro onde cada um de nós terá uma participação plena na vida de Deus.


Assista: O céu é o meu lugar, lá está o meu tesouro


Juntos de Deus viveremos uma nova relação entre Criador e criatura. Na total transparência dos sentimentos, seremos livres dos limites e dificuldades da condição terrena. No amor trinitário saborearemos a plenitude da comunhão eterna. Em Deus conheceremos o amor que hoje de modo limitado sentimos. A esperança da glória futura nos abre diante da vida as mais belas possibilidades de vivermos hoje o futuro glorioso que esperamos.


A Eucaristia antecipa em nossa alma a comunhão celeste. No pão e no vinho consagrados, corpo e sangue de Cristo, está presente toda a criação, fruto da terra e do trabalho do homem. Na comunhão eucarística já pertencemos aos céus novos e à terra nova. Todos nós que comungamos da Eucaristia estamos, em esperança, na realidade do céu. O céu que nosso coração contempla é antecipado no amor de Cristo doado e partilhado por toda a humanidade.

Esta solenidade que celebramos ensina-nos também a vivermos na terra com as realidades do céu. A comunhão eterna é antecipada em cada gesto de amor e fraternidade entre nós. A paz divina é vivida, ainda que de modo limitado, em cada gesto que devolve vida à humanidade. O amor trinitário é antecipado em cada ato que se faz solidariedade e compaixão entre nós.

Com o coração voltado para o alto, caminhos na terra construindo junto de cada irmão e irmã os céus novos e a terra nova que esperamos um dia viver de maneira plena e infinita. O mundo novo que sonhamos começa a ser vivido em cada gesto de fraternidade.

Corações voltados para o alto com os pés enraizados no amor de Cristo. Eis a nossa missão diante da ascensão de Cristo: fazermos de nossa vida terrena uma antecipação da glória da futura.

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Padre Flávio Sobreiro

Pe. Flávio Sobreiro é Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialpadreflavio
www.padreflaviosobreiro.com

8 de maio de 2013

Da profissão à vocação

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Cada pessoa realiza uma vocação específica no mundo

O chamado que Deus faz a cada pessoa é sempre um mistério. Ao longo da vida, o Senhor vai revelando qual a nossa missão. Deus chama; o ser humano dá uma resposta livre. O Senhor não cria uma situação na qual a pessoa se sinta pressionada a segui-Lo. Na liberdade que Deus nos concedeu, a resposta é sempre uma decisão pessoal e intransferível de cada um.

Nas Sagradas Escrituras, encontramos inúmeros chamados ao longo da história da salvação. Em todo tempo e lugar, o chamado de Deus sempre permanece vivo e atual.

Interessante notarmos que este chamado se realiza nos mais diferentes âmbitos da vida. Nem todos recebem o mesmo chamado, mas a origem dele é sempre divina. Cada ser humano vai descobrindo qual é a sua vocação: médico, veterinário, engenheiro, escritor, professor, agricultor, cozinheiro, padre, psicólogo...

Cada pessoa realiza, no mundo, uma vocação específica. Neste chamado, todos somos convidados a direcionar nossa vocação para que ela seja sinal de vida e luz. Muito mais do que uma profissão, os mais diversos profissionais, de todas as áreas, são convidados a fazer do seu trabalho uma vocação que seja promotora de uma sociedade justa e solidária, na qual o amor de Deus seja também revelado pelos mais diversos serviços e funções.

Quando a profissão abraça o caráter vocacional de um chamado de Deus, ela transforma realidades de trevas em sinais de luz que devolvem a cada pessoa o direito à vida, à paz e à esperança.

No chamado que recebemos, o amor de Deus nos capacita a sermos sinais de esperança, paz, justiça, caridade e amor.

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Padre Flávio Sobreiro

Pe. Flávio Sobreiro é Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialflaviosobreiro
www.padreflaviosobreiro.org

6 de maio de 2013

A Nova Jerusalém

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Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos

Faz parte da vida do cristão esperar o melhor, enxergar as luzes do futuro, construir o dia a dia com os valores do Reino de Deus sem se cansar, recomeçando sempre, ainda que sejam frágeis nossas mãos e trôpegos os nossos passos. Olhamos para a realidade de olhos abertos, positivamente ansiosos por descobrir os rastros da ação do Espírito Santo, o qual sempre nos precede, e lutamos para oferecer à humanidade, em qualquer época, o que sabemos existir de melhor.


A visão descrita pelo Apocalipse nos faz desejar a morada de Deus com os homens, a qual se chama "Nova Jerusalém". Eles serão o seu povo, e o próprio "Deus com eles" será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram (cf. Ap 21,1-23). Esta Jerusalém desce do céu, é presente de Deus, "já" chegou, mas é também preparada e edificada aqui nesta terra, onde quer que se proclame e se espalhe a novidade que vem do Evangelho e, portanto, "ainda não" se manifestou em toda a sua plenitude.


Como ensinou o Concílio Vaticano II (Lumen Gentium 48), "já chegou a nós a plenitude dos tempos (Cf. 1 Cor 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo. Com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (Cf. 2 Pd 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus" (Cf. Rm 8, 19-22).


Caminhamos na esperança, confiantes nas promessas do Senhor, sabendo que, por melhores que sejam todos os esforços humanos, o que Deus preparou para os que O amam supera, infinitamente, nossas capacidades e nos leva à realização plena de todas as justas aspirações plantadas por Ele mesmo nos corações. "O que Deus preparou para os que O amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu. A nós, Deus revelou esse mistério por meio do Espírito" (1 Cor 2,9-10).

O cristão peregrino, rumo ao Absoluto de Deus, carrega consigo alguns tesouros. Conhecê-los possibilita oferecê-los também a muitas outras pessoas, já que não podemos guardar escondidos os dons que Ele destinou a todos por ser universal Seu desígnio de salvação. Quando Jesus fez Seus discursos de despedida, diante do evidente constrangimento de seus medrosos discípulos (Cf. Jo 14,27), garante-lhes sua presença permanente: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23). Não se trata de uma presença caracterizada por relâmpagos, luzes ou terremotos, mas muito viva, real e serena. Ama a Deus quem guarda e vive a Sua Palavra. E vai morar o próprio Senhor no coração de quem dá este passo. O Pai e o Filho habitam em quem vive a Palavra de Deus! Esta tem a extraordinária força para transformar o mundo. Quem a acolhe vive como pessoa renovada interiormente e, ao mesmo tempo, capaz de semear a novidade em torno de si.

Inigualável tesouro é ainda a ação do Espírito Santo, prometido por Jesus: "O Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito" (Jo 14,26). Para garantir-nos a veracidade de Suas palavras, Jesus promete nada menos do que o Espírito Santo, dado em penhor a cada fiel! Daí nasce a coragem com que as sucessivas gerações de cristãos enfrentaram as dificuldades da missão evangelizadora. E a Igreja suplica, incessantemente, a ação do Espírito que vem!

Também nós olhamos para frente e para o alto, dispostos a fermentar, com o Evangelho de Cristo, todos os recantos da vida humana com renovado ardor missionário. Não cabe desânimo no coração do cristão, pois não caminha sozinho, sustentado apenas pelas próprias forças. Entende-se assim a força com que o Papa estimula a ação missionária da Igreja: "Que toda a pastoral seja missionária. Devemos sair de nós mesmos e ir para as periferias existenciais e crescer na 'parresia' - que quer dizer audácia - para anunciar, com coragem, o Evangelho. Uma Igreja que não sai de si, mais cedo ou mais tarde adoece na atmosfera viciada de seu confinamento. Também é verdade que uma Igreja que sai pode se acidentar. Diante disso, quero lhes dizer, francamente, que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma doente. A enfermidade típica dela é o autorreferencial que olha para si mesma. É uma espécie de narcisismo que nos leva ao mundanismo espiritual e ao clericalismo sofisticado, e nos impede de experimentar a doce reconfortante alegria de evangelizar" (Papa Francisco, Mensagem aos Bispos Argentinos).

Sejamos dignos das promessas de Cristo, assumindo, com renovada audácia, os desafios do presente e do futuro!

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA