15 de abril de 2013

Obedecer a Deus antes que aos homens

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A relação da Igreja com o mundo representa-se pelo diálogo

A "barca de Pedro", confiada a ele por amor do próprio Cristo, navega pelos mares da história, mesmo quando estes se mostram agitados (Cf. At 5,27-41; Jo 21,1-19). Os dias que vivemos revelam a grandeza atraente e contraditória do pluralismo de ideias e comportamentos, deixando, muitas vezes, confusas nossas mentes. Se de um lado bandeiras descritas como expressões de um estado laico ou da liberdade das pessoas são içadas com força cada dia maior, observamos, com honestidade, que este mesmo estado pode até criminalizar aqueles que desejam assumir comportamentos coerentes com a fé professada, relegando ao nível privado suas convicções, proibindo-lhes fermentar com o bem o ambiente social e cultural. As constituições dos diversos países asseguram direitos iguais, mas parece que alguns grupos da sociedade se consideram "mais iguais", negando justamente a quem tem raízes cristãs a possibilidade de viver coerentemente, considerando seu comportamento conservadorismo e bloqueio ao que chamam progresso da civilização.


Os cristãos entraram em contato com as diversas culturas, corajosos por serem positivamente diferentes e para melhor! As primeiras perseguições, cujos sinais se encontram nos Atos dos Apóstolos, a chamada "diáspora" - dispersão - fez com que o sangue dos mártires se tornasse semente de cristãos. Passaram as culturas que pretendiam eliminar os que professavam a fé cristã e esta permaneceu. Sucederam-se gerações de cristãos, todos convocados dentre os pecadores e não do meio dos justos, mas suas falhas e pecados não conseguiram acabar com a Igreja de Jesus Cristo.


O século passado, tempo que ainda é nosso, foi dos mais ferozes na perseguição à fé, como constatava o Beato João Paulo II no grande jubileu do ano dois mil. Naquela ocasião, convidou todos os cristãos a tomarem consciência da grandeza do testemunho de homens e mulheres que derramaram o sangue pela fé. E Papa Francisco, numa homilia do dia seis de abril, sobre a coragem para testemunhar a fé, que não se negocia e não se "vende a quem oferece mais", assim se expressou: "Para encontrar os mártires não é necessário visitar as Catacumbas ou o Coliseu; os mártires estão vivos, agora, em muitos países. Os cristãos são perseguidos por causa da fé. Em alguns países não podem usar a cruz, pois são punidos se o fazem. Hoje, no século XXI, a nossa Igreja é uma Igreja de mártires".


Ficaremos então imóveis, certos e orgulhosos de que os outros galhos da árvore cairão e nós seremos os vitoriosos? Sabemos que esta não é a atitude correta, pois queremos proclamar com a palavra e a vida que Deus ama a todos os seres humanos de nosso tempo maravilhoso e contraditório, destinatário dos bens da salvação.

Retomei com alegria a Encíclica "Ecclesiam suam", de Paulo VI, encontrando propostas muito atuais e inspiradoras que iluminam nosso argumento. Esta é a hora da Igreja aprofundar a consciência de si mesma, embora saibamos que nunca seu rosto mostrará toda a sua perfeição, beleza e santidade. Ela tem necessidade de se renovar e emendar os defeitos. Urge uma profissão de fé vigorosa, convicta e sempre humilde, semelhante à do cego de nascença: "Creio, Senhor" (Jo 9,38). Ser cristão é viver a consciência de uma "iluminação" que alumia a vida terrena e torna capaz de dirigir-se, como filho da luz, à visão de Deus.

A Igreja não pode ficar imóvel e indiferente, pois não está separada do mundo. Seus membros estão sujeitos à influência do mundo, de que respiram a cultura, leis e costumes. Se, por um lado, a vida cristã, como a Igreja a defende e promove, deve preservar-se de tudo quanto pode enganá-la, profaná-la e sufocá-la, vencendo o contágio do erro e do mal, por outro, a vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, que o ambiente terreno lhe oferece e impõe, quando forem compatíveis com as exigências essenciais do seu programa religioso e moral, mas deve procurar aproximá-las de si, purificá-las, vivificá-las e santificá-las, o que lhe impõe revisão constante de vida, para dispor o espírito dos cristãos para obedecer a Cristo. Aqui está o segredo da sua renovação, sua conversão e seu exercício de perfeição, o "caminho estreito" (cf. Mt 7,13).

Há outra atitude, que a Igreja deve tomar: o seu contato com a humanidade. O cristão está no mundo sem ser do mundo (Jo 17,15-16), porém, distinção não é separação, indiferença, temor ou desprezo. O tesouro de salvação (Cf. 1 Tm 6,20) é fonte de interesse e de amor por todos. A guarda e a defesa do patrimônio da fé não são os únicos deveres da Igreja, mas também a difusão, a oferta, o anúncio: "Ide, pois, ensinar todos os povos" (Mt 28,19). Este impulso da caridade se chama diálogo, com que a Igreja se faz palavra, mensagem e colóquio.

O diálogo está no plano de Deus. Religião é enlace entre Deus e o homem, e a oração o exprime em diálogo. Deus tomou a iniciativa do diálogo! A relação da Igreja com o mundo, sem excluir outras formas legítimas, representa-se pelo diálogo. O próprio Paulo VI propôs um roteiro para entabular o contato com o mundo. Quem quer dialogar tem propósito de urbanidade, de estima, de simpatia e bondade, exclui a condenação prévia e a polêmica ofensiva. Quem dialoga sabe que não pode separar a própria salvação do interesse pela salvação alheia e anseia por difundir a mensagem que oferece.

O colóquio é arte de comunicação. Para vivê-lo, o diálogo supõe e exige clareza. Pede também mansidão, aprendida na escola de Cristo (Mt 11,29). O diálogo não é orgulhoso nem ofensivo. A autoridade lhe vem da verdade que expõe, da caridade que difunde, do exemplo que propõe; não é comando, não é imposição. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos, é paciente e generoso. Para ser levado adiante supõe confiança. Produz confidência e amizade, enlaça os espíritos numa adesão ao bem, que exclui qualquer interesse egoísta. Enfim, ele é entabulado na prudência pedagógica, que atende às condições de quem ouve (Cf. Mt 7,6), exigindo tomar pulso da sensibilidade alheia e modificarmos nossas pessoas e modos, para não sermos desagradáveis nem incompreensíveis.

É na escola do diálogo que se realizará a união da verdade e da caridade, da inteligência e do amor. Esta é uma estrada de obediência ao mandato do Senhor! A cada cristão caberá a tarefa de concretizá-la diante dos desafios atuais.
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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

11 de abril de 2013

O seu desejo é a sua oração

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Se o desejo é contínuo, também a oração é contínua

"Meu coração grita e geme de dor" (Sl 37,9). Há gemidos ocultos que não são ouvidos pelos homens. Contudo, se o coração está possuído por tão ardente desejo que a ferida interior do homem se manifesta em sons externos, procuramos a causa e dizemos a nós mesmos: talvez ele tenha razão de gemer e, talvez, lhe tenha sucedido algo. Mas quem pode compreender esses gemidos, senão aquele a cujos olhos e ouvidos eles se dirigem? Por isso diz: "Meu coração grita e geme de dor", porque os homens, se ouvem, às vezes, os gemidos de um homem, ouvem, frequentemente, os gemidos da carne; mas não ouvem o que geme em seu coração.


E quem seria capaz de compreender por que grita? Escuta o que diz: "Diante de vós está todo o meu desejo" (Sl 37,10). Não diante dos homens, que não podem ver o coração, mas diante de vós está todo o meu desejo. Se, pois, o teu desejo está diante do Pai, Ele, que vê o que está oculto, o recompensará.


O seu desejo é a dua oração; se o desejo é contínuo, também a oração é contínua. Não foi em vão que o Apóstolo disse: "Orai sem cessar" (1Ts 5,17). Será preciso ter sempre os joelhos em terra, o corpo prostrado, as mãos levantadas, para que ele nos diga: "Orai sem cessar". Se é isto que chamamos orar, não creio que possamos fazê-lo sem cessar.


Há outra oração interior e contínua: é o desejo. Ainda que faças qualquer outra coisa, se desejas aquele repouso do Sábado eterno, não cessas de orar. Se não queres cessar de orar, não cesses de desejar.

Se teu desejo é contínuo, a tua voz é contínua. Ficarás calado, se deixares de amar. Quais são os que se calaram? Aqueles de quem foi dito: "A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos esfriará" (Mt 24,12).

O arrefecimento da caridade é o silêncio do coração; o fervor da caridade é o clamor do coração. Se tua caridade permanece sempre, clamas sempre; se clamas sempre, desejas sempre; se desejas, tu te recordas do repouso eterno.

"Diante de vós está todo o meu desejo". Se o desejo está diante de Deus, o gemido não estará? Como poderia ser assim, se o gemido é a expressão do desejo?

Por isso o salmista continua: "Meu gemido não vos é oculto" (Sl 37,10). Não é oculto para Deus, mas o é para a multidão dos homens. Ouve-se, por vezes, um humilde servo de Deus dizer: "Meu gemido não voa, é oculto" e vê-se também esse servo sorrir. Será por que o desejo está morto em seu coração? Se o desejo permanece, também permanece o gemido; este nem sempre chega aos ouvidos dos homens, mas nunca está longe dos ouvidos de Deus.

Santo Agosinho, Bispo e Doutor da Igreja

(Extraído do livro "Alimento sólido")

 

10 de abril de 2013

Os filhos nos educam

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Aprenda com os filhos

Os pais são educados mediante a educação dos filhos. A razão é muito simples: ninguém pode ensinar o bem sem vivê-lo; não dá para falar em honestidade para o filho, sem praticar esta virtude; e assim por diante.


Não só na exigência da prática das virtudes para poder bem educar, mas também em muitas outras coisas somos educados enquanto educamos, e assim, a família se torna, também para os pais, um educandário.


Ao educar os filhos você vai notar que nem sempre tudo sai bem, como a gente quer, então somos obrigados a exercitar a paciência, a tolerância, a bondade, etc. Muitas vezes aprenderemos que é preciso esperar e ter fé. Aprendemos que o trabalho em equipe é melhor, que a perseverança foi fundamental para resolver aquele problema.


Certa vez um dos nossos filhos, com apenas oito anos de idade nos deu uma grande lição, sem dizer nada. Era nosso costume rezar o Terço com eles desde pequenos; e um dia, antes da oração, eu lhes contei que algumas pessoas rezavam o Terço em cruz, isto é, com os braços abertos e na horizontal, como penitência. Contei isto sem pretensão alguma de que eles o fizessem. Mas qual não foi a nossa surpresa quando o menino nos disse: "pois eu hoje vou rezar o Terço em cruz!". E ficou com os braços abertos por mais de vinte minutos até que tudo terminasse.

Por mais que eu insistisse com ele que já estava bom, que podia baixar os braços, não o consegui convencer. Fiquei abismado! Aprendi a respeitar mais a criança.

Outra vez tive que passar uma noite em claro no hospital com um deles com uma crise aguda de bronquite. Quanta coisa se aprende quando se passa uma noite em claro em um hospital...

Quantas lições de caridade, bondade, meiguice, pureza, naturalidade, espontaneidade, as crianças nos dão. Não é à toa que Jesus disse que para entrar no Reino dos céus temos que nos "tornar crianças".

Elas nos dão grandes lições: não se preocupam com o dia de amanhã, vivem intensamente o presente, confiam em alguém com todo o coração, não se dão ao luxo e aos caprichos dos adultos. Não fazem discriminação de pessoas e se adaptam com facilidade a qualquer lugar.

Aprenda com os filhos.

(Trecho extraído do livro "Educar pela conquista e pela fé")

 

8 de abril de 2013

Eu sou o Primeiro e o Último

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Fora de Cristo não existe qualquer esperança ou sentido de vida

No início do Livro do Apocalipse, João, o vidente, faz a experiência da presença do Senhor Jesus: "No meio dos candelabros havia alguém semelhante a um filho de homem, vestido com uma túnica comprida e com uma faixa de ouro em volta do peito. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como lã alvejada, igual à neve, e seus olhos eram como chama de fogo. Seus pés pareciam de bronze incandescente no crisol, e sua voz era como o fragor de águas torrenciais. Na mão direita, tinha sete estrelas, de sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes, e seu rosto era como o sol no seu brilho mais forte. Ao vê-lo, caí como morto a seus pés, mas ele pôs sobre mim sua mão direita e disse: Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último, aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre. Eu tenho a chave da Morte e da Morada dos mortos" (Ap 1,13-18).


Uma cena celeste que confirma uma outra terrena, mas igualmente verdadeira, vivida pelos discípulos de Jesus no dia da Ressurreição: "Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: A paz esteja convosco. Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor" (Jo 20,19-21).


No centro, está Jesus vivo; as duas cenas têm lugar no primeiro dia da semana, chamado "domingo". Este é o espaço de vida da comunidade cristã, a qual se reúne, na fé, para o encontro com Aquele que é o Senhor e Salvador, o Primeiro e o Último, o Único que pode dar sentido à existência humana e apontar-nos a estrada da eternidade feliz. Por isso a Igreja privilegia o dia de domingo, valorizado desde os tempos apostólicos: "Não abandonemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente – tanto mais que vedes o dia aproximar-se" (Hb 10,25).


Quando a Igreja se reúne para a Eucaristia de domingo, tem como preparação o anúncio de Jesus Cristo, chamado Kerigma, "o encontro com Cristo que dá origem à iniciação cristã. Este encontro deve renovar-se, constantemente, pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do Kerigma e pela ação missionária da comunidade. O Kerigma não é somente uma etapa, mas o fio condutor de um processo que culmina na maturidade do discípulo de Jesus Cristo. Sem ele, os demais aspectos deste processo estão condenados à esterilidade, sem corações verdadeiramente convertidos ao Senhor. Só a partir do Kerigma acontece a possibilidade de uma iniciação cristã verdadeira" (Documento de Aparecida 278).

Evangelização e catequese resumem a formação do discípulo missionário de Cristo. Depois, tendo celebrado o mistério e a presença de Jesus, Aquele que é o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim, Alfa e Ômega, faz-se necessário praticar o que se crê e o que se celebra.

Toda vida cristã é, então, marcada com o sigilo da proclamação do senhorio de Jesus Cristo. A leitura dos Atos dos Apóstolos, oferecida pela Igreja e buscada por todos nós, cristãos, durante o tempo pascal, testemunha o crescimento dos que aderiam "ao Senhor" pela fé, uma grande multidão de homens e mulheres (Cf. At 5,14). Será, então, possível perceber as características dos cristãos de ontem e hoje.

Sua vida se fundamenta no reconhecimento de Jesus Cristo como Deus e Salvador. Não existe, fora d'Ele, qualquer esperança ou sentido de vida. Sua Palavra é reconhecida como fonte para todas as decisões, torna-se norma de comportamento, gera uma nova cultura, estabelece limites morais e, ao mesmo tempo, escancara as portas da liberdade e da felicidade.

Garimpando os textos das Cartas de São Paulo, é possível encontrar pérolas como a que se segue: "Tendo vós todos rompido com a mentira, que cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Podeis irar-vos, contanto que não pequeis. Não se ponha o sol sobre vossa ira, e não deis nenhuma chance ao diabo. O que roubava não roube mais; pelo contrário, que se afadigue num trabalho manual honesto, de maneira que sempre tenha alguma coisa para dar aos necessitados. De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar e de fazer bem aos ouvintes. Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, com o qual fostes marcados, como por um sinal, para o dia da redenção. Desapareça do meio de vós todo amargor e exaltação, toda ira e gritaria, ultrajes e toda espécie de maldade. Pelo contrário, sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo" (Ef 4,25-32).

Para anunciar Jesus aos outros, à luz da Páscoa de Cristo, o primeiro anúncio e a primeira mudança ocorrem dentro de cada cristão ou cristã. Depois, tornamo-nos propagadores da mesma verdade que liberta, tendo ouvido a palavra de missão dita aos primeiros discípulos e que continua a ressoar nas sucessivas gerações: "A paz esteja convosco! Como Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20,21).

Mudará, então, o trato com os bens da terra, com o desafio da comunhão dos bens (Cf. At 2,42-47), o trato com o dinheiro e as relações familiares e sociais: "Perseverai no amor fraterno. Não descuideis da hospitalidade; pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber. Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, pois também vós tendes um corpo! O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem mancha; pois Deus julgará os libertinos e os adúlteros. Que vossa conduta não seja inspirada pelo amor ao dinheiro. Contentai-vos com o que tendes, porque ele próprio disse: Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei" (Hb 13,1-5).

Desafiador? Possível! Com a graça de Deus, sim! Com Aquele que é Senhor, Primeiro e Último, Princípio e Fim.

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

5 de abril de 2013

Um dia triste

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Aproveite a hora de tristeza para purificar as suas motivações

Quem já não teve um dia triste em sua vida? Podem existir ou não razões concretas, mas essas pequenas variações de humor são normais e precisam ser administradas com sabedoria. Não estou falando da depressão, uma doença que deve ser tratada, mas daquele desânimo passageiro que nos deixa um pouco "para baixo".


O próprio Jesus sentiu uma profunda tristeza quando se aproximou o momento em que seria morto na cruz. Conta a Bíblia que Ele convidou três dos Seus melhores amigos para ir a um lugar afastado onde queria rezar, mas não queria estar sozinho.

Este é o primeiro erro que, normalmente, cometemos quando a tristeza bate à nossa porta. Nós a convidamos para entrar e ficamos curtindo-a de maneira solitária, com nossos "botões". A solução é ter a humildade de pedir a ajuda de Deus e dos amigos.


Rezar é o primeiro remédio, realmente eficaz, diante da tristeza. Deus nos ouve e encontra sempre uma maneira, surpreendente, de nos consolar. O que acontece é que, muitas vezes, estamos tão chateados que nem temos inspiração para dizer nada a Deus. E precisa?! Nesses momentos, todas as palavras dizem quase nada e uma palavra parece que já é demais. Mas, então, como rezar?


Uma sugestão é abrir a Bíblia e ler um salmo qualquer. Você verá que a tristeza estava no coração dos autores de muitos daqueles poemas sagrados. Alguns estavam até indignados com Deus. Escutamos frases extremamente verdadeiras como: "debaixo dos salgueiros penduramos nossas harpas e nos pusemos a chorar. Como cantar em uma terra estranha?!".

É sinal de maturidade espiritual mostrar o coração para Deus do jeito que ele se encontra. O Senhor não quer nos ver maquiados ou com algum tipo de máscara. O próprio apóstolo Paulo, quando nos aconselha, reconhece que, nem sempre, estamos tão bem: "Está alegre? Cante! Está triste? Reze!".

Santos e sábios procuraram entender essa dinâmica interior. Inácio de Loyola, por exemplo, a chamou de "moções". Seriam movimentos de ânimo que variam de consolação para desolação. Vale a pena conhecer os Seus Exercícios Espirituais, nos quais ele estabelece regras para discernir o significado desses "sentimentos místicos".

Dizem que até a grande Santa Teresa d'Ávila viveu grandes momentos de tristeza espiritual. Apesar disso, manteve-se fiel. Este é um sinal muito seguro de que o amor é autêntico. Quando vivemos momentos de euforia, não podemos ter certeza de que aquilo que estamos fazendo é movido por "puro amor".

Aproveite a hora de tristeza e desolação para purificar as suas motivações. Lembre-se: nada como um dia depois do outro.

(Trecho extraído do livro "Pronto, falei!")

4 de abril de 2013

O que é a sadia convivência?

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A comunidade nos impulsiona a sermos santos

Faz parte do carisma da Comunidade Canção Nova uma regra de vida muito importante: homens e mulheres vivendo, juntos, em sadia convivência. Mas o que é isso? É viver com naturalidade e sinceridade os nossos relacionamentos - o termo "sadio" é antônimo de "doente".


Hoje, vivemos numa sociedade doente, marcada pela pornografia, pela malícia nos relacionamentos, pelas brincadeiras inconvenientes, e tudo isso conduz para o sensual. Mas quando vivemos de forma sadia, tudo isso precisa ser eliminado. A Palavra de Deus nos diz: "Não vos conformeis com este mundo" (cf. Rm 12,2)


"A imoralidade sexual e qualquer espécie de impureza ou cobiça nem sequer sejam mencionadas entre vós, como convém aos santos. Nada de palavrões ou conversas tolas, nem de piadas de mau gosto: são coisas inconvenientes; entregai-vos, antes, à ação de graças. Pois, ficai bem certos: nenhum libertino ou impuro ou ganancioso - que é um idólatra - tem herança no reino de Cristo e de Deus" (Ef 5,3-5).


Tenho a graça de relacionar-me bem com minhas irmãs e com meus irmãos de comunidade, e isso tem sido para mim motivo de realização pessoal, pois eu era uma pessoa tímida, introvertida, mas a nossa sadia convivência curou também o meu temperamento, a minha forma de lidar com as pessoas.

Hoje, aconselho muitos jovens e luto com eles na busca da cura dos seus afetos. Uma coisa está ligada à outra, não podendo, portanto, separar o afetivo do sexual, sabendo que em Deus buscamos o equilíbrio.

A comunidade nos ajuda a buscar a santidade, ela nos impulsiona a sermos santos. Se você busca esses propósitos, ressurge, no coração, o desejo de corresponder, buscando uma vida íntegra e equilibrada.

"Filho, pecaste? Não tornes a fazê-lo; e suplica pelas faltas passadas, para que te sejam perdoadas. Foge dos pecados como de uma cobra: se deles te aproximares, te morderão" (Eclo21,1-2).

Há pessoas que, com a boa intenção de ajudar o outro, começam a se aproximar dele sem conhecer suas fragilidades. O resultado, no entanto, pode ser desastroso, porque, em vez de ajudar, acabam provocando sentimentos que prejudicam a vida do outro. É maravilhoso perceber essa preocupação de São Pedro: "Vociferando discursos pomposos e vazios, aliciam nas paixões carnais e na libertinagem aqueles que há pouco escaparam dos que vivem no erro. Prometem-lhes a liberdade, enquanto eles mesmos continuam escravos da corrupção. Pois cada um é escravo de quem o domina" (2Pd 2,18-19).

Dom Bosco dizia que para salvar os jovens ele iria até as últimas consequências, mas era preciso ser prudente. Há confusão quando não há maturidade.

Temos um modelo na nossa comunidade: Padre Jonas Abib, o qual atingiu a maturidade na sua sexualidade. Assim como Paulo diz às comunidades: "Sede meus imitadores", o meu fundador também diz: "Sejam meus imitadores, meus filhos". Mas é preciso construir um caminho de luta, de sacrifício, de esforço, dedicação e zelo. Porém, se você busca a castidade, mas não consegue se desvencilhar dos filmes pornográficos e das sessões de piadas, como ser curado?

A Igreja nos ensina que o diabo não entra na nossa vontade, ele apenas age de acordo com nossas sensações, nossos impulsos; ele percebe que houve uma brecha naquele determinado lugar e entra. Dentro de você precisa haver uma disposição interior para fechar todas as brechas.

Somente conseguiremos ser homens profundamente curados na nossa afetividade e sexualidade pelo poder do Espírito Santo. A cada dia, peçamos esta graça para que sejamos homens curados e plenos do amor de Deus.

 

Padre Edimilson Lopes - Comunidade Canção Nova

(Trecho extraído do livro "A cura da nossa afetividade e sexualidade"

2 de abril de 2013

Deixa eu te contar uma coisa...

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Cuidado com as tais "mentirinhas"!

Primeiro de abril – um dia em que, por razões desconhecidas, alguém, com pouca intimidade com a verdade ou com grande inclinação para promover tumultos, tenha estimulado e convencido outros a praticar aquilo que lhe era peculiar: mentir!


De repente, um fato toma proporções incontroláveis e cruza o país sem que ninguém possa confirmá-lo. Já ouvimos histórias sobre moedas de um centavo, as quais teriam sido cunhadas em ouro branco, ou outros fatos mais estranhos, como quem se expõe por muito tempo na chuva tem um envelhecimento precoce.

Não sabemos de onde vêm nem tampouco como surgem os grandes boatos. Muitas vezes, eles surgem a partir de um fato que realmente aconteceu; outras vezes por algumas pessoas que fazem suas próprias conjecturas e começam a divulgar uma história, a qual, de fato, estaria muito longe da verdade.


Não podemos nos esquecer de relatar também outros boatos envolvendo personalidades do meio televisivo "assassinadas" pelos boatos ou cujos casamentos teriam sido rompidos, assim como histórias fantasiosas de adultérios e tantas outras invenções, as quais acabam sendo massificadas nas conversas dos mais ávidos por novidades.


Com a facilidade oferecida pela tecnologia, atualmente qualquer pessoa tem acesso a uma página na internet, a um blog, assim como pode facilmente divulgar, por correio eletrônico, uma fofoca para uma infinidade de pessoas por meio das comunidades virtuais.

Foi-se o tempo em que as mentiras, boatos ou fofocas ficavam somente nas fronteiras dos muros, portões ou peitoris das janelas das comadres, que quase sempre começavam suas conversas com a famosa expressão: "Deixa eu te contar uma coisa…." E a partir disso, muita coisa fluía!

E como bem diz o ditado popular: "O uso do cachimbo faz a boca torta", se começarmos a lançar mão de pequenas "mentirinhas", quer seja no dia Primeiro de Abril, quer seja nos outros 364 dias do ano, facilmente poderemos adquirir o hábito de nos envolver num mundo irreal, no qual se tornaria difícil para a própria pessoa perceber se o que diz é realmente uma verdade ou uma mentira.

Assim, precavendo-nos dos encalços dos maus hábitos, tomemos como regra a instrução: "Protege seus ouvidos com uma sebe de espinhos; não dê ouvidos à língua maldosa e põe em tua boca uma porta com ferrolhos" (Eclo 28,28). Deste modo, tomaremos o cuidado de, antes de fazer qualquer comentário, refletir sobre a veracidade e a necessidade de se propagar uma notícia, pois muitos homens morreram pelo fio da espada, mas não tanto quanto os que pereceram pela sua própria língua (cf. Eclo 28,22).

Deus abençoe o nosso proceder à cada situação.

Abraços e até o próximo encontro!