2 de abril de 2013

Deixa eu te contar uma coisa...

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Cuidado com as tais "mentirinhas"!

Primeiro de abril – um dia em que, por razões desconhecidas, alguém, com pouca intimidade com a verdade ou com grande inclinação para promover tumultos, tenha estimulado e convencido outros a praticar aquilo que lhe era peculiar: mentir!


De repente, um fato toma proporções incontroláveis e cruza o país sem que ninguém possa confirmá-lo. Já ouvimos histórias sobre moedas de um centavo, as quais teriam sido cunhadas em ouro branco, ou outros fatos mais estranhos, como quem se expõe por muito tempo na chuva tem um envelhecimento precoce.

Não sabemos de onde vêm nem tampouco como surgem os grandes boatos. Muitas vezes, eles surgem a partir de um fato que realmente aconteceu; outras vezes por algumas pessoas que fazem suas próprias conjecturas e começam a divulgar uma história, a qual, de fato, estaria muito longe da verdade.


Não podemos nos esquecer de relatar também outros boatos envolvendo personalidades do meio televisivo "assassinadas" pelos boatos ou cujos casamentos teriam sido rompidos, assim como histórias fantasiosas de adultérios e tantas outras invenções, as quais acabam sendo massificadas nas conversas dos mais ávidos por novidades.


Com a facilidade oferecida pela tecnologia, atualmente qualquer pessoa tem acesso a uma página na internet, a um blog, assim como pode facilmente divulgar, por correio eletrônico, uma fofoca para uma infinidade de pessoas por meio das comunidades virtuais.

Foi-se o tempo em que as mentiras, boatos ou fofocas ficavam somente nas fronteiras dos muros, portões ou peitoris das janelas das comadres, que quase sempre começavam suas conversas com a famosa expressão: "Deixa eu te contar uma coisa…." E a partir disso, muita coisa fluía!

E como bem diz o ditado popular: "O uso do cachimbo faz a boca torta", se começarmos a lançar mão de pequenas "mentirinhas", quer seja no dia Primeiro de Abril, quer seja nos outros 364 dias do ano, facilmente poderemos adquirir o hábito de nos envolver num mundo irreal, no qual se tornaria difícil para a própria pessoa perceber se o que diz é realmente uma verdade ou uma mentira.

Assim, precavendo-nos dos encalços dos maus hábitos, tomemos como regra a instrução: "Protege seus ouvidos com uma sebe de espinhos; não dê ouvidos à língua maldosa e põe em tua boca uma porta com ferrolhos" (Eclo 28,28). Deste modo, tomaremos o cuidado de, antes de fazer qualquer comentário, refletir sobre a veracidade e a necessidade de se propagar uma notícia, pois muitos homens morreram pelo fio da espada, mas não tanto quanto os que pereceram pela sua própria língua (cf. Eclo 28,22).

Deus abençoe o nosso proceder à cada situação.

Abraços e até o próximo encontro!

 

1 de abril de 2013

Sim, nosso Deus está vivo!

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Nada pode abalar esta certeza que temos

Sim, você pode comemorar. Hoje é dia de festa: Cristo ressuscitou! E esta certeza de fé, que trazemos dentro de nós, nada nem ninguém poderá abalar.


A você que está acamado e padece de uma grave enfermidade, que chora por uma perda tão recente, a você que sofre a terrível punhalada de uma traição conjugal, está passando por alguma necessidade financeira ou ainda enfrentando uma terrível crise existencial... Enfim, a você que desanimou na caminhada, cansou ante o peso da cruz que carrega, titubeou na luta contra o mal, eis a melhor notícia da sua vida: o seu Deus vive!

Sim, Deus está vivo! Não há mais razão para nos desesperarmos, pois Aquele que removeu a pedra do túmulo, onde se encontrava o Corpo chagado de Seu Unigênito Filho, agora O levanta dentre os mortos. É verdade, Cristo ressuscitou!


É pela força da Sua Ressurreição que se remove também a pedra da indiferença e da apatia que nos impedia de enxergar Sua Luz. O sepulcro está vazio! Ouça, neste dia de júbilo, a voz daqueles anjos que dizem a mim e a você o mesmo que disseram àquelas mulheres: "Por que estais procurando entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou!" (Lc 24, 5-6).


A Palavra de Deus nos assegura que o discípulo amado, diante do sepulcro vazio e das faixas de linho no chão, "viu e creu" (Jo 20,8). E como é bom poder ver e acreditar!

Trabalhando no Portal Canção Nova, toda equipe de produção toca, diariamente, em inúmeros relatos de vidas transformadas, famílias restauradas, pessoas que largaram seus vícios, corações que reencontraram a esperança e o sentido de viver. Tudo isso, porque houve o encontro não com "algo", mas com Alguém: Jesus ressuscitado, pois ninguém continua sendo a mesma pessoa após esse marcante encontro.

Concluímos com este ensinamento do grande Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja, o qual nos ensina: "A Paixão do Senhor mostra-nos as dificuldades da vida presente, em que é preciso trabalhar, sofrer e por fim morrer. A ressurreição e glorificação nos revelam a vida que, um dia, nos será dada. Agora, pois, irmãos, vos exortamos a louvar a Deus. É isto o que todos nós exprimimos mutuamente quando cantamos: Aleluia".

Cantemos nesse dia, com toda a Igreja, o "Aleluia" cheio de entusiasmo! E que esse canto vibrante invada todas as áreas da nossa existência. Hoje, a tristeza, a dor, a decepção e a obscuridade do pecado perdem sua força em nossa vida. Deixemo-nos envolver por essa Luz!

Segue, mais uma vez, nosso convite: comemore conosco a Ressurreição de Jesus com alegria e santidade. Façamos uma linda festa - aqui na Terra - para celebrar a vitória da vida sobre a morte, na certeza de que outra festa (ainda mais bela e incomparável) acontece no Céu ante esta maravilhosa notícia: o nosso Rei e Senhor vive eternamente. Aleluia!

Desejamos a você e sua família uma Santa e Feliz Páscoa!

Equipe do Portal Canção Nova

28 de março de 2013

Eucaristia, manjar de vida

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Ela nos sustenta no meio das aflições que encontramos neste mundo

É muito belo, meus irmãos, passar de uma festa para outra, de uma oração para outra, de uma solenidade para outra. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o anúncio da Santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado.


Do Seu alimento nos sustentamos como de um manjar de vida, e a nossa alma delicia-se com o Sangue precioso de Cristo como numa fonte. Contudo, temos sempre sede desse Sangue, sempre O desejamos ardentemente, mas o nosso Salvador está perto daqueles que têm sede, e na Sua bondade, convida todos os corações sedentos para o grande dia da festa, dizendo: "Se alguém tem sede, venha a mim, e beba" (Jo 7,37). 


Sempre que nos aproximamos d'Ele para beber, Ele nos mata a sede; sempre que pedimos, podemos nos aproximar do Senhor. A graça é própria desta celebração festiva, não se limita apenas a um determinado momento; nem seus raios fulgurantes conhecem ocaso, mas estão sempre prontos para iluminar as almas de todos que o desejam. Exerce contínua influência sobre aqueles que já foram iluminados e se debruçam, dia e noite, sobre a Sagrada Escritura. Estes são como aquele homem que o Salmo proclama feliz quando afirma: "Feliz aquele homem que não anda conforme o conselho dos perversos; não entra no caminho dos malvados nem junto aos zombadores vai sentar-se; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar" (Sl 1,1-2).


Por outro lado, amados irmãos, o Deus que, desde o princípio, instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte Seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona esta santa solenidade que não tem igual no decurso do ano.

Esta festa nos sustenta no meio das aflições que encontramos neste mundo. Por ela, Deus nos concede a alegria da salvação e nos faz amigos uns dos outros. Conduz-nos a uma única assembleia, unindo espiritualmente a todos em todo lugar, concedendo-nos orar em comum e render comuns ações de graças, como deve-se fazer em toda festividade. É este um milagre de sua bondade: congrega, nesta festa, os que estão longe e reúne, na unidade da fé, os que, porventura, encontram-se fisicamente afastados.

 

Santo Atanásio, Bispo – Século IV

(Trecho extraído do livro "Alimento Sólido" de Prof. Felipe Aquino)

27 de março de 2013

Família, escola do perdão e da vida

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Precisamos amar e valorizar a família que temos

Sabe qual é a maior família que existe? É a que nós possuímos, por mais frágil e complicada que ela seja.


Sabe qual é o pior inimigo do real? Pensou? O pior inimigo do real – da família real, daquela que temos – é o ideal. É aquela "ideia" que carregamos acerca de um modelo, cuja realidade toda é "obrigada" a se adequar, mas que – definitivamente – não corresponde à nossa realidade.

Nem sempre o real corresponderá aos nossos ideais, e quase perenemente precisaremos, com leveza e maturidade, nos reconciliar com o real para podermos, a partir dele, construir uma encarnada felicidade. A felicidade só será possível a partir da verdade e da realidade que, verdadeiramente, nos compõem.

Como dizia o poeta: "Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita (Gonzaguinha). E por mais que a vida nos apresente problemas e deformidades, ela sempre será um palco de belezas no qual precisaremos protagonizar nossa história. 


Nossos familiares são mesmo, inúmeras vezes, imperfeitos e muito difíceis de conviver. Todavia, é no solo dessa verdade (de nossa verdade) que precisamos nos assumir e, com bravura e heroísmo, nos lançar na construção da felicidade e de suas específicas exigências.


Precisamos amar e valorizar a família que temos: o pai, a mãe, os irmãos que Deus nos deu, independentemente de como são. Sem dúvida, isso não é fácil e se revela como realidade muito desafiadora. Entretanto, ninguém poderá construir uma vida verdadeiramente feliz sem ter a consciência tranquila pelo fato de ter lutado pelos seus e de não os ter abandonado em virtude de suas fraquezas.

Percebo como muito sábio e real o ditado que diz: "Quer conhecer alguém? É só observar como ele trata seus pais", pois uma consciente e constante atitude de desamor com relação aos próprios pais revela uma séria e profunda deficiência no caráter e na forma de se relacionar.

Nossos familiares (os pais e os demais) manifestam nossas raízes e nossa identidade, e negá-los seria negarmos a nós mesmos.

Nossa família sempre oferecerá possibilidades, seja por meio de alegrias ou de dores, para nos tornarmos pessoas melhores. Nela, poderemos viver a relação e a abertura aos demais (não sem conflitos, é claro), assim compreendendo que não somos o centro "absoluto" do mundo.

Na família aprendemos – por bem ou por mal - a repartir o que temos e o que somos, com a possibilidade de, constantemente, frequentar a escola do perdão. Assim aprenderemos a oferecer, aos outros e a nós mesmos, uma nova chance diante de cada circunstância ou erro cometido.

Pela família aprendemos a compreender a imensa fragilidade humana que envolve a todos, percebendo-nos também como seres fracos e constantemente necessitados de ajuda e atenção.

Enfim, a família é uma escola de vida e de construção da felicidade; nela, o ser tem espaço para, de fato, "ser" e acontecer.

 

(Trecho extraído do livro "Construindo a felicidade")

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Padre Adriano Zandoná

25 de março de 2013

A maturidade da Igreja

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Os cardeais elegeram o Papa conforme a sua consciência

Durante muitos séculos da História da Igreja, sobretudo por ocasião dos Conclaves para eleger o novo Pontífice, as interferências políticas dos governos foram brutais.


Reis, imperadores, ditadores e presidentes procuravam influenciar diretamente nas eleições do Papa: "Diga aos cardeais que o meu candidato é fulano", ou "Informe os eleitores que não aceitarei como Papa beltrano" ou ainda "Todos saibam que a eleição de sicrano provocará rompimento com a Santa Sé". Com o correr dos séculos, a Igreja aprendeu a livrar-se de tais interferências.

Nos tempos modernos, surgiu um novo modelo de impor candidatos: é a pressão midiática, as pesquisas de opinião, as casas de apostas, as declarações de "vaticanistas". A intenção de tais manipulações – completamente irreais – é fazer a cabeça dos cardeais e, assim, colocar, no poder, as pessoas de seus interesses, que sigam as linhas de atuação prescritas pelos autores.

A eleição do Papa Francisco veio demonstrar a liberdade de espírito do Colégio Cardinalício. Votaram conforme a sua consciência. Isso causa em todos os católicos uma tranquilidade e segurança quanto à lisura da escolha.


O caso atual (sem pôr em dúvida os últimos dez Papas), comprova que a preocupação não é a política ou outros interesses menores. A preocupação é bíblica: "É preciso que um deles se junte a nós para testemunhar a ressurreição" (At 1,22).


Em outras palavras, o Papa deve ser alguém que "viu o Cristo", e d'Ele dê testemunho a partir de sua experiência de vida.

Pelas apresentações até agora ocorridas, percebe-se que o Papa Francisco é um homem de profundo trato com o "Mestre e Senhor". É um homem de fé e oração simples, até popular.

Os "hermanos" vão permitir que, numa espécie de fogo amigo, eu repita o bom humor da minha roda de amigos: "Enfim, um argentino humilde!" Ou ainda: "É a primeira vez que se vê brasileiros trabalhando em favor de um argentino".

A escolha foi feliz, porque ele [Papa Francisco] é uma testemunha autêntica de Jesus. Embora a idade não permita atrasos, pela graça do Espírito Santo ele produzirá frutos em honra do Pai.

Pedimos ao Senhor que o abençoe e ao povo que o acolha como legítimo sucessor de Pedro.

Dom Aloísio Roque Oppermann, scj

Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)

 

Endereço eletrônico: domroqueopp@terra.com.br

22 de março de 2013

Vai e não tornes a pecar

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Jesus valorizava muito a fidelidade à aliança

O Evangelho descreve uma cena dramática: uma mulher pega em adultério está para ser apedrejada até a morte. O Levítico prescreve: "O homem que cometer adultério com a mulher do próximo deverá morrer, tanto ele como a mulher com quem cometeu o delito.


Os escribas e os fariseus, que se dizem justos, são os que conduzem a mulher até Jesus. Mas onde está o homem envolvido no mal? De fato, a Lei de Moisés interditava o adultério, como eles diziam. A pergunta deles é para colocá-Lo à prova. O silêncio de Jesus revela o pecado dos acusadores, os quais vão se retirando um a um. No face a face entre a mulher e Jesus, em que a verdade de cada um é iluminada, a palavra de Jesus liberta, mostra a misericórdia de Deus e abre um caminho novo: "Ninguém te condenou? Eu também não te condeno! Vai e, de agora em diante, não peques mais."

O pecado dos fariseus e dos homens religiosos de Israel, em geral, consistia nisto: condenar os fracos; nesse caso, uma mulher pecadora, e eximirem a si mesmos da culpa e do castigo. Sem nos apercebermos, constituimo-nos como juízes e ditamos sentenças a torto e a direito. Descobrimos que, no mundo, quase ninguém é perfeito, mas pensamos em nosso íntimo que nós mesmos o somos. Basta escutar o tom das críticas, a autossuficiência das opiniões que expomos, as "denúncias proféticas" que emitimos, de vez em quando, para descobrir como esse toque farisaico se aninha em nós.

A solução para tudo isso não é o "vale tudo". Jesus não condenou a mulher, mas não a deixou ir embora simplesmente. Convidou-a a seguir no futuro um caminho diferente.

Jesus valorizava muito a fidelidade à aliança. Ele era um homem de palavra, de compromisso. A mulher que estava diante dele havia rompido a aliança do casamento, havia se oposto à vontade do Criador, pois "no princípio não era assim". Jesus sabia também que um homem – que estava fora do cenário – havia compartilhado com ela dessa ruptura da aliança e que ambos haviam se transformado em símbolos de um povo infiel ao amor de Deus. 


Jesus a convida a um novo começo. Ele também descobre outros rompimentos da aliança entre os acusadores: "Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra." E escreve no chão várias vezes. Não sabemos com certeza plena o que Ele escrevia. Nesse gesto, podemos descobrir o dedo de Deus reescrevendo seu compromisso de aliança na areia movediça e frágil das decisões humanas.

Que o nosso coração se abra para receber essas lições e também para nos colocarmos como protagonistas desta cena descrita no Evangelho, a fim de que possamos aparar nossas arestas.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

20 de março de 2013

"Amai-vos como eu vos amei"

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Para que o mundo seja mais parecido com o Céu

Não existe uma pessoa que não ame. Muda o objeto que é amado, mas faz parte da natureza humana voltar-se, no amor, para o que é desejado e buscado. Pode parecer muito simples, mas a capacidade de amar também pode ser educada num processo de formação que envolve a vida inteira. Mal formada, a inata capacidade para amar pode chegar inclusive à destruição da realidade que é amada. Trata-se de uma força imensa, plantada por Deus nos corações humanos. Ela vem do Céu, para se implantar e multiplicar-se no bem que pode ser feito na Terra e se perpetuará na eternidade.

O amor é um sentimento? Envolve, sim, os sentidos, mas na compreensão cristã, que perpassa a Sagrada Escritura e a experiência secular da Igreja, é muito mais do que um sentimento. Antes, é um ato de inteligência e de vontade. Basta recordar a realidade do martírio, presente em toda a história da Igreja, na qual alguém se dispõe a superar o instinto primordial de defesa da própria vida, para entregá-la pelo bem dos outros, como resultado de sua escolha de vida no seguimento do Evangelho. Existem também situações de pessoas que, mesmo sem conhecimento do Evangelho, chegam a entregar-se pelo bem dos outros, pela causa da vida e da dignidade humana. Tais gestos fazem compreender a possibilidade de uma escolha radical, que orienta todas as energias humanas para o que não se vê nem se pode comprovar, senão pelo testemunho!

"Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares" (Dt 6,4).

A primeira e decisiva opção na vida há de ser esta, como uma veste interior, que envolve e orienta todas as outras decisões: escolher Deus como tudo da própria existência.


O resumo da lei de Deus, expressa o Decálogo, se encontra na lapidar afirmação: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". Mas foram necessários muitos séculos e, mais do que tudo, a revelação que vem do Alto, para que tal mandamento viesse a ser compreendido. Aliás, foi preciso que o Pai do Céu enviasse Seu Filho, como vítima de reparação por nossos pecados, para a humanidade entender o amor (cf. I Jo 4,7-10) e sua medida, que é justamente amar sem medida.

O amor ao próximo suscitou muitas perguntas. Afinal, o próximo é quem está perto de mim? Para povos que vagavam por desertos ou se sentiam ameaçados pelos potenciais inimigos, o estrangeiro é também próximo? Como tratar quem é diferente e incomoda? Jesus Cristo, amor do Pai que se faz carne no meio da humanidade, aproxima o amor do próximo ao amor de Deus, dizendo que o segundo é semelhante ao primeiro mandamento! Próximo é, para o Senhor, aquele de quem nos aproximamos e não apenas quem vem pedir qualquer ajuda: "Na tua opinião – perguntou Jesus –, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" Ele respondeu: "Aquele que usou de misericórdia para com ele". Então Jesus lhe disse: "Vai e faze tu a mesma coisa" (Lc 10, 36-37).

Conhecemos o verdadeiro Bom Samaritano, o próprio Jesus, que veio percorrer as estradas do mundo, tomando a iniciativa de vir em socorro da humanidade.

Mas Jesus guarda a pérola de Seu amor a ser revelada no ambiente especial da Última Ceia: "Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15, 12-13). Aqui está um ponto de chegada, nascido do Alto e que antecipa a realidade do Céu aqui na Terra! Somos feitos para esta qualidade de amor!

Ainda que devamos amar a todos, sem distinção, cada cristão é chamado a ter um espaço de convivência, no qual possa declarar, com gestos e palavras, sua disposição para dar a vida e receber a vida doada. Nisso todos conhecerão que somos discípulos de Cristo (cf. Jo 13,35). Pode ser a família, e quem dera que nossas famílias chegassem a esse ponto! Pode ser a experiência de uma comunidade cristã viva, e para lá havemos de caminhar. Uma amizade sincera e pura proporciona esta declaração de amor. É uma potência indescritível de transformação da vida das pessoas. É necessário olhar ao nosso redor, pois existem, sim, pessoas, comunidades e grupos que oferecem esse testemunho!. De nossa parte, resta corresponder aos dons de Deus (Cf. Oração do dia do VI Domingo da Páscoa).

Cada resposta e cada ato de amor a Deus e ao próximo contribuirão para que o mundo, sem deixar de ser mundo, seja mais parecido com o Céu!

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA