22 de março de 2013

Vai e não tornes a pecar

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Jesus valorizava muito a fidelidade à aliança

O Evangelho descreve uma cena dramática: uma mulher pega em adultério está para ser apedrejada até a morte. O Levítico prescreve: "O homem que cometer adultério com a mulher do próximo deverá morrer, tanto ele como a mulher com quem cometeu o delito.


Os escribas e os fariseus, que se dizem justos, são os que conduzem a mulher até Jesus. Mas onde está o homem envolvido no mal? De fato, a Lei de Moisés interditava o adultério, como eles diziam. A pergunta deles é para colocá-Lo à prova. O silêncio de Jesus revela o pecado dos acusadores, os quais vão se retirando um a um. No face a face entre a mulher e Jesus, em que a verdade de cada um é iluminada, a palavra de Jesus liberta, mostra a misericórdia de Deus e abre um caminho novo: "Ninguém te condenou? Eu também não te condeno! Vai e, de agora em diante, não peques mais."

O pecado dos fariseus e dos homens religiosos de Israel, em geral, consistia nisto: condenar os fracos; nesse caso, uma mulher pecadora, e eximirem a si mesmos da culpa e do castigo. Sem nos apercebermos, constituimo-nos como juízes e ditamos sentenças a torto e a direito. Descobrimos que, no mundo, quase ninguém é perfeito, mas pensamos em nosso íntimo que nós mesmos o somos. Basta escutar o tom das críticas, a autossuficiência das opiniões que expomos, as "denúncias proféticas" que emitimos, de vez em quando, para descobrir como esse toque farisaico se aninha em nós.

A solução para tudo isso não é o "vale tudo". Jesus não condenou a mulher, mas não a deixou ir embora simplesmente. Convidou-a a seguir no futuro um caminho diferente.

Jesus valorizava muito a fidelidade à aliança. Ele era um homem de palavra, de compromisso. A mulher que estava diante dele havia rompido a aliança do casamento, havia se oposto à vontade do Criador, pois "no princípio não era assim". Jesus sabia também que um homem – que estava fora do cenário – havia compartilhado com ela dessa ruptura da aliança e que ambos haviam se transformado em símbolos de um povo infiel ao amor de Deus. 


Jesus a convida a um novo começo. Ele também descobre outros rompimentos da aliança entre os acusadores: "Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra." E escreve no chão várias vezes. Não sabemos com certeza plena o que Ele escrevia. Nesse gesto, podemos descobrir o dedo de Deus reescrevendo seu compromisso de aliança na areia movediça e frágil das decisões humanas.

Que o nosso coração se abra para receber essas lições e também para nos colocarmos como protagonistas desta cena descrita no Evangelho, a fim de que possamos aparar nossas arestas.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

20 de março de 2013

"Amai-vos como eu vos amei"

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Para que o mundo seja mais parecido com o Céu

Não existe uma pessoa que não ame. Muda o objeto que é amado, mas faz parte da natureza humana voltar-se, no amor, para o que é desejado e buscado. Pode parecer muito simples, mas a capacidade de amar também pode ser educada num processo de formação que envolve a vida inteira. Mal formada, a inata capacidade para amar pode chegar inclusive à destruição da realidade que é amada. Trata-se de uma força imensa, plantada por Deus nos corações humanos. Ela vem do Céu, para se implantar e multiplicar-se no bem que pode ser feito na Terra e se perpetuará na eternidade.

O amor é um sentimento? Envolve, sim, os sentidos, mas na compreensão cristã, que perpassa a Sagrada Escritura e a experiência secular da Igreja, é muito mais do que um sentimento. Antes, é um ato de inteligência e de vontade. Basta recordar a realidade do martírio, presente em toda a história da Igreja, na qual alguém se dispõe a superar o instinto primordial de defesa da própria vida, para entregá-la pelo bem dos outros, como resultado de sua escolha de vida no seguimento do Evangelho. Existem também situações de pessoas que, mesmo sem conhecimento do Evangelho, chegam a entregar-se pelo bem dos outros, pela causa da vida e da dignidade humana. Tais gestos fazem compreender a possibilidade de uma escolha radical, que orienta todas as energias humanas para o que não se vê nem se pode comprovar, senão pelo testemunho!

"Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares" (Dt 6,4).

A primeira e decisiva opção na vida há de ser esta, como uma veste interior, que envolve e orienta todas as outras decisões: escolher Deus como tudo da própria existência.


O resumo da lei de Deus, expressa o Decálogo, se encontra na lapidar afirmação: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". Mas foram necessários muitos séculos e, mais do que tudo, a revelação que vem do Alto, para que tal mandamento viesse a ser compreendido. Aliás, foi preciso que o Pai do Céu enviasse Seu Filho, como vítima de reparação por nossos pecados, para a humanidade entender o amor (cf. I Jo 4,7-10) e sua medida, que é justamente amar sem medida.

O amor ao próximo suscitou muitas perguntas. Afinal, o próximo é quem está perto de mim? Para povos que vagavam por desertos ou se sentiam ameaçados pelos potenciais inimigos, o estrangeiro é também próximo? Como tratar quem é diferente e incomoda? Jesus Cristo, amor do Pai que se faz carne no meio da humanidade, aproxima o amor do próximo ao amor de Deus, dizendo que o segundo é semelhante ao primeiro mandamento! Próximo é, para o Senhor, aquele de quem nos aproximamos e não apenas quem vem pedir qualquer ajuda: "Na tua opinião – perguntou Jesus –, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" Ele respondeu: "Aquele que usou de misericórdia para com ele". Então Jesus lhe disse: "Vai e faze tu a mesma coisa" (Lc 10, 36-37).

Conhecemos o verdadeiro Bom Samaritano, o próprio Jesus, que veio percorrer as estradas do mundo, tomando a iniciativa de vir em socorro da humanidade.

Mas Jesus guarda a pérola de Seu amor a ser revelada no ambiente especial da Última Ceia: "Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15, 12-13). Aqui está um ponto de chegada, nascido do Alto e que antecipa a realidade do Céu aqui na Terra! Somos feitos para esta qualidade de amor!

Ainda que devamos amar a todos, sem distinção, cada cristão é chamado a ter um espaço de convivência, no qual possa declarar, com gestos e palavras, sua disposição para dar a vida e receber a vida doada. Nisso todos conhecerão que somos discípulos de Cristo (cf. Jo 13,35). Pode ser a família, e quem dera que nossas famílias chegassem a esse ponto! Pode ser a experiência de uma comunidade cristã viva, e para lá havemos de caminhar. Uma amizade sincera e pura proporciona esta declaração de amor. É uma potência indescritível de transformação da vida das pessoas. É necessário olhar ao nosso redor, pois existem, sim, pessoas, comunidades e grupos que oferecem esse testemunho!. De nossa parte, resta corresponder aos dons de Deus (Cf. Oração do dia do VI Domingo da Páscoa).

Cada resposta e cada ato de amor a Deus e ao próximo contribuirão para que o mundo, sem deixar de ser mundo, seja mais parecido com o Céu!

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

18 de março de 2013

Quando é hora de se casar?

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Namoro é um período favorável para o conhecimento

Namorar é uma bela fase e, coincidentemente, este momento acontece na ocasião em que começamos a nos aventurar naquelas coisas que poderiam nos trazer a sonhada independência. Todas as nossas energias estão concentradas na realização de nossos projetos. Há quem prefira, primeiramente, realizar suas conquistas pessoais, isto é, estão empenhados na carreira profissional, em terminar o estudos, conseguir um bom emprego. Outros pensam em comprar uma casa, um carro, fazer viagens etc. Dificilmente, nesse momento, alguém pensaria em casar-se. Para as mulheres, além de desejarem também as mesmas coisas, elas não deixam de considerar a idade como um fator agravante, pois para elas o problema se concentra na possibilidade de que, envolvidas na busca da realização profissional, deixam de realizar, também, o sonho da maternidade.


Apesar de todas as questões, tanto homem quanto a mulher não abrem mão de viver a experiência do namoro.

Contudo, uma vez apaixonado, quem nunca se pegou pensando sobre a melhor momento para se casar? E para isso acontecer não há uma idade determinante.

Quando a pessoa acredita ter encontrado alguém para viver o resto de seus dias, os seus projetos passam a abrir espaço também para a possibilidade do casamento.

Mesmo apaixonados, sabemos que o tempo de namoro é um período favorável para o conhecimento daquela pessoa com quem poderemos, um dia, nos comprometer pelo vínculo do matrimônio. Mas isso não acontece do dia para a noite.


Desta forma, não podemos nos antecipar em estabelecer uma data ou ter aquela pessoa como o (a) esposo (a), somente porque estamos tomados por uma paixão, pois será, no decorrer do namoro, que ambos terão condições de avaliar se é por aquela pessoa que eles estarão realmente dispostos a fazer suas renúncias.


É importante ter em mente que o casamento não é uma maneira de "validar" o senso de responsabilidade de alguém, garantir a aposentadoria, tampouco remendar situações. Muitas pessoas acabam se casando por questões financeiras, por uma oportunidade para sair de casa ou por uma gravidez que acelerou os planos dos enamorados. Entretanto, nenhuma dessas situações pode garantir a felicidade que se deseja quando são assumidas como justificativas para o motrimônio. Igualmente, não será por pressão dos colegas e amigos que, por não entenderem os planos do casal dos namorados, começam a insistir em cada conversa, quando será o dia no qual os namorados pretendem, finalmente, se casar.


Haverá um momento em nossas vidas que, por livre e espontânea vontade, vamos colocar os nossos desejos em segundo lugar, tendo em vista a felicidade do outro. Assim, aquele casal que até pouco tempo atrás mal cogitava a possibilidade de um compromisso, agora, envolvido por esse sentimento, assume o desejo de estabelecer vínculos duradouros. De comum acordo, a moça e o rapaz, sentindo-se prontos, assumem a responsabilidade da exigente vida conjugal. Desta vez, sabendo que podem contar com a dedicação do outro neste projeto, no qual ambos farão juntos novas descobertas.

Essa maturidade permitirá ao casal perceber que o projeto de vida a dois somente se realiza em parceria, tendo em vista a felicidade daquele a quem se ama. É desse desejo de assumir um projeto de vida comum e por conta da intenção de fazer o outro feliz consigo que os casais jamais poderão se esquecer, pois este será o motivo e o ponto de partida em que os nubentes deverão retomar, especialmente, quando as pequenas divergências começarem a aparecer na vida conjugal.

15 de março de 2013

Como o cristão deve dar esmola?

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Não é a quantia que importa, mas o que gesto

Quando ouvimos esta palavra ESMOLA vem logo a nossa cabeça algumas moedas ou um trocadinho que tiramos do bolso para dar a um pedinte na porta de casa, no farol de transito ou nas calçadas de nossa cidade. Quase sempre é algo que nos sobra ou um restinho do que a gente tem, mas esmola, CARIDADE é muito mais do que isso. É dar mais de si do que daquilo que se tem. Precisamos sim assistir aos nossos irmãos nas suas necessidades, a fome não espera, mas esmola é muito mais que assistencialismo é dar vida, dignidade, tirar o irmão da situação que ele se encontra. Dar algo material é muito mais fácil e cômodo do que dar de si, do seu tempo, das suas capacidades, daquilo que você sabe fazer, e principalmente do amor humano carregado do amor Divino. ( A importância da esmola )


Se a Oração celebra o relacionamento do Homem com Deus e daí todos os frutos dela fazem o homem abrir não somente as mãos, mas os braços e o coração. O Jejum abre e une os homens entre si. A cruz simboliza muito bem o que é a nossa fé, dimensão horizontal e vertical. A esmola celebra o relacionamento do homem com o seu próximo, na virtude Teologal da Caridade. Este assunto é polemico para quem não entende que esmola não é somente dinheiro, é doar-se concretamente ao próximo. 


O que significa a esmola? Dar esmola significa dar de graça, dar sem interesse de receber de volta, dar sem egoísmo, sem pedir recompensa, em atitude de compaixão. Nisto ele imita o próprio Deus no mistério da criação e a Jesus Cristo, no mistério da Redenção. Jesus fala sobre esta verdadeira caridade na parábola do Bom Samaritano (cf. Lucas 10,25-37) quem é o teu próximo? 


O homem recebeu tudo do seu criador. Tudo quanto tem, possui-o porquê recebeu. Ora, se Deus dá de graça e se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, se Cristo se doou totalmente, dando sua vida, também ele será capaz de dar de graça. Ao descobrir que dentro de si existe a sublime capacidade de dar de graça, a exemplo de Deus e de Cristo, brota nele o desejo de celebrá-la.

Quando, pois, na Quaresma a Igreja convoca a todos os fiéis a darem esmola, ela comemora aquele que por excelência exerceu a esmola: Jesus Cristo. Convida o homem à atitude de abertura ao próximo, convida-o a servir ao próximo com generosidade e desprendimento. Ora, neste momento a esmola começa a significar toda esta atitude de doação gratuita. Não só de bens materiais, mas o tempo, o interesse, as qualidades, o serviço, o acolhimento, a aceitação. E todo este mistério de abertura e gratuidade em favor do próximo na imitação de Deus e de Cristo possui então uma linguagem ritual. Tem valor de símbolo. Pela celebração da esmola a Igreja comemora a generosidade de Cristo que deu sua vida pelos seus e torna presente Cristo, dando-se a seus irmãos em cada irmão, formando o seu corpo. Assim, quando a Igreja convida os fieis a exercerem a esmola durante a Quaresma, sabe muito bem que não é pela esmola em si que ela vai resolver os problemas sociais e realizar a promoção humana, mas sabe também que é pelo que a esmola significa que ela vai realizar uma verdadeira promoção humana.

Portanto, não é a quantia que importa, mas o que gesto ou o rito da esmola significa. Exercitando a atitude da esmola durante a Quaresma, a Igreja quer levar os cristãos a viverem a atitude da esmola durante todo o ano, durante toda a vida. Descobrimos, então, que no exercício da esmola está contida a atitude de conversão, em relação ao próximo.

Padre Paulo Ricardo: Como o cristão deve dar esmola?

11 de março de 2013

Confissão: Por que me confessar?

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Quando o penitente se aproxima para confessar os pecados, o sacerdote o recebe com benevolência e o saúda amavelmente. Assim começa a celebração do sacramento da penitência. Depois, exorta o penitente à confiança em Deus com estas palavras ou outras semelhantes: "Deus, que fez brilhar a sua luz em nossos corações, te conceda a graça de reconhecer os teus pecados e a grandeza de tua misericórdia". Em seguida, o sacerdote pode recordar um texto da Sagrada Escritura que proclame a misericórdia do Senhor e exorte à conversão. Só então a pessoa que foi ao sacramento para celebrar a grandeza do amor misericordioso de Deus confessa os seus pecados, acolhe oportunos conselhos e a ação penitencial indicada pelo confessor. Misericórdia, benevolência, amor, graça, amabilidade! Que expressões! É a festa do perdão num tribunal, cuja sentença, quando existe a contrição e o desejo de uma vida nova, é sempre a absolvição! Este é o sacramento do amor misericordioso de Deus! É sacramento de Quaresma, é graça oferecida a todos os que se reconhecem frágeis e pecadores.


Mas o que é o pecado? Para muitas pessoas trata-se de infringir uma norma, sendo Deus pensado como um policial que vigia e está pronto para sinalizar e multar! Outras, quem sabe, consideram pecado aquilo que "machuca por dentro" e chegam a ficar muito tranquilas, pois julgam ser errado apenas o que "pesou"! Consciência legalista ou relaxada.


Difícil e frutuoso é entender o sentido do pecado para o cristão. Tendo reconhecido a grandeza do amor de Deus, uma aliança com a qual Ele nos introduz na comunhão com sua vida sobrenatural, sabendo que amor com amor se paga, o cristão toma consciência de ter rompido a aliança com seus gestos de egoísmo e de infidelidade. Volta-se, então, para Deus, reconhece o olhar amoroso que o encontra e decide retornar, com todo o júbilo do coração, à comunhão com a vida verdadeira de amor a Deus e ao próximo. Confessar-se e acolher a Palavra da Igreja que o absolve é sempre festa, alegria renovada, liberdade interior reencontrada. Se muitas pessoas podem ouvir desabafos ou histórias intrincadas de verdadeiros dramas, é no sacramento da penitência que se podem receber as palavras consoladoras: "Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".


O confessor que acolhe o penitente é também pecador. Carece do reconhecimento das próprias faltas e do perdão sacramental. Quando, há poucos dias, explorava-se o tema da infalibilidade papal em matéria de fé, foi necessário esclarecer que o Sucessor de Pedro que aguardamos eleito proximamente, assim como os que o precederam, é homem como todos os outros, frágil, pecador, amado intensamente pelo Pai do Céu, escolhido por meios muito simples, como o voto do Colégio Cardinalício, gente carente das orações, os quais o povo de Deus já assegura e acompanharão durante o Pontificado, pedindo que "o Senhor o guarde e o fortaleça, lhe dê a felicidade nesta terra e não o abandone à perversidade dos seus inimigos" (Oração pelo Papa, usada antes da Bênção Eucarística). Ele será sustentado, como Moisés em oração no alto do Monte, com braços que se estendem do mundo inteiro, fortes na prece e absolutamente confiantes na graça de Deus, para que, infalível para garantir a prática da fé verdadeira, seja "pedra" como Pedro!

Todos nós pecadores amados e salvos pela misericórdia de Deus, parecidos com o apóstolo Pedro, escolhido por Jesus, estamos à vontade para acolher a Palavra proclamada pela Igreja no quarto Domingo da Quaresma, domingo da Alegria. Trata-se da Parábola do Pai Misericordioso ou do Filho Pródigo, verdadeiro Evangelho dentro do Evangelho (Lc 15,1-3.11-32). Podemos participar das várias cenas. Quem nunca sonhou com aventuras, desejo de correr pelo mundo e se esbaldar em prazeres? Entre de cheio na Parábola! Um pai frágil em suas exigências, coração mole, julgado por muitos como exagerado em sua condescendência, nós já encontramos ou o fomos! E os donos da verdade, cujos rastros repousam dentro de nosso pretenso bom comportamento? Cara de filho mais velho, bem comportado, juiz dos outros! A parábola é tão realista quanto profunda e envolvente. Ninguém escapa!


Na certeza de que ela pode iluminar o caminho da casa de Deus para muitas pessoas, aqui está o que Ele oferece a quem jogou fora o que possuía de melhor, sua própria dignidade, arrependeu-se e quer voltar. Esta pessoa, tenha o meu nome ou o seu, é destinada à liberdade, não pode ficar descalça como um escravo. Sua roupa, aquela mesma, novinha no Batismo, está guardada no baú da Igreja, pronta para ser de novo endossada. A aliança de amor, proposta por Deus, caiba como um anel no dedo de todos os que se voltarem para ele. E a festa será a da Eucaristia, banquete em que o próprio Filho amado do Pai se faz alimento. A mesa já está preparada!

Para chegar lá, nesta Quaresma, todos tenham a graça de ouvir de algum sacerdote (Cf. Ritual da Penitência): "Feliz quem foi perdoado de sua culpa e cujo pecado foi sepultado. Meu irmão, minha irmã, alegra-te no Senhor e vai em paz".

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

27 de fevereiro de 2013

Eu estava errado. Perdoe-me!

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Por qual motivo temos dificuldade de pedir perdão?
Em muitas situações de desentendimento e desconfiança nos relacionamentos humanos, bem como nas separações, brigas no trabalho e nos ambientes sociais, é importante reconhecermos uma de nossas grandes falhas: a falta de um pedido de perdão. Não reconhecermos nossos erros é um grande obstáculo na qualidade do convívio.

Por qual motivo temos estas dificuldades? Um deles é admitir a "perda da nossa dignidade", ter de passar por cima do nosso orgulho, sentirmo-nos ameaçados ao expormos nossos pontos fracos, ou que, ao pedirmos desculpas, o outro "nos 'passe na cara' ou use isto como uma vingança", ou ainda que "seja lembrado pelos erros ou punido por ser honesto". (Powell, J. 1985). Acho que, muitas vezes, você já viveu isto, não é mesmo?

Em várias situações, sentimo-nos inferiores ao pedir desculpas; temos a necessidade de passar parte de nossa vida provando que somos sempre certos, que somos sempre capazes, que somos fortes e invencíveis. De alguma forma, esta necessidade vai sendo imposta a nós e pode ser uma grande armadilha em nossas vidas.

Em outras situações, posso usar o seguinte pensamento: "se não recebi as desculpas do outro, por que eu vou me sujeitar a pedir desculpas?". Isto nada mais é do que um grande processo de imaturidade, ao deixarmos que os comportamentos da outra pessoa possam determinar os nossos comportamentos e atitudes. É como achar certo roubar, porque alguém já roubou, não foi descoberto e nunca foi punido.

Para que possamos chegar ao ponto de pedir desculpas, é válido encontrar um ponto de honestidade com nós mesmos, assumindo falhas e limitações. Esta honestidade interior faz com que vejamos, verdadeiramente, nossa responsabilidade nas situações, possamos reconhecer o que fizemos e entrar numa atitude de reconciliação com o outro. Talvez, nem sempre consigamos perdão, mas a atitude de reconhecer é totalmente sua e, certamente, muito libertadora.


Peça desculpas, mas livre-se dos que levam você a pensar: "você provocou isto", "só reagi assim, porque você é culpado", "estou tratando você como fui tratado por você". Tais formas "racionais" de explicar um fato, apenas alimentam em nós mais raiva e mais ressentimento. Faz com que cubramos nossos erros e não permite que, honestamente, possamos admitir o que foi feito de errado.

"O perdão é instrumento de vida" (Cencini, A . 2005) e "força que pode mudar o ser humano". Certamente, "a falha em pedir desculpas"  e em perdoar só servirão para prolongar a separação entre duas pessoas. Para isto, "a verdade precisa estar presente em todos os sinceros pedidos de desculpa" (Powell, J. 1985), compreendendo a extensão dos prejuízos que nossas atitudes, por vezes desordenadas e desmedidas, possam ter provocado na vida do outro.

Por vezes, precisamos quebrar nossas barreiras interiores e realizarmos um grande esforço ao dizer: "Eu estava errado, perdoe-me!", pois este esforço fará sua vida muito melhor, mesmo que o outro não aceite, de imediato, seu pedido, mas sua vida já foi mudada a partir deste gesto.
 
Pense nisto: Para quem você gostaria de pedir perdão hoje?


Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

20 de fevereiro de 2013

Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro

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Ele assumiu a natureza humana sem deixar de ser Deus

"Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus seu Filho, nascido de uma mulher" (cf. Gal 4,4). Assim se cumpre a promessa de um Salvador, que Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso: "Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar" (Gn 3,15). Este versículo do Gênesis é conhecido por "Proto-Evangelho", pois constitui o primeiro anúncio da Boa Nova da salvação. Tradicionalmente, tem-se interpretado que a mulher a que se refere é tanto Eva, em sentido imediato, como Maria em sentido pleno; e que a descendência da mulher refere-se tanto à humanidade como a Cristo. 

Desde então, até o momento em que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1,14), Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher, frutuosamente, a seu Filho Unigênito. Deus escolheu para si o povo israelita, estabeleceu com ele uma aliança e o formou progressivamente, intervindo em sua história, manifestando-lhe Seus desígnios por meio dos patriarcas e dos profetas, santificando-o para si. Tudo isso, como preparação e figura daquela nova e perfeita aliança que havia de concluir-se em Cristo e daquela plena e definitiva revelação que devia ser efetuada pelo próprio Verbo encarnado.

Ainda que Deus tenha preparado a vinda do Salvador, principalmente mediante a eleição do povo de Israel, isto não significa que abandonasse os demais povos, os "gentios", pois nunca deixou de dar testemunho de si mesmo (cfr. Atos 14,16-17). A Providência divina fez com que os gentios tivessem uma consciência mais ou menos explícita, da necessidade da salvação, e até nos últimos rincões da Terra se conservava o desejo de serem redimidos.

A Encarnação tem sua origem no amor de Deus pelos homens: "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco, em que Deus enviou ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por meio dEle" (1Jo 4,9). A Encarnação é a demonstração por excelência do amor do Pai para com os homens, já que nela é o próprio Senhor que se entrega aos homens, fazendo-se participante da natureza humana na unidade da pessoa.

Após a queda de Adão e Eva no Paraíso, a Encarnação tem uma finalidade salvadora e redentora, como professamos no Credo: "por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem". Cristo afirmou de Si mesmo que o Filho do homem veio para buscar e salvar o que estava perdido" (Lc 19, 19; cf. Mt 18,11) e que "Deus não enviou seu Filho para condenar o mundo, mas que o mundo fosse salvo por Ele" (Jo 3,17).

A Encarnação não só manifesta o infinito amor de Deus aos homens, Sua infinita misericórdia, Sua justiça, Seu poder, mas também a coerência do plano divino da salvação. A profunda sabedoria divina consiste na forma segundo o qual Deus decidiu salvar o homem, isto é, do modo como convém à natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo.

Jesus Cristo, o Verbo encarnado, "não é um mito nem uma ideia abstrata qualquer. É um Homem que viveu em um contexto concreto e que morreu depois de ter levado Sua própria existência dentro da evolução da história. A investigação histórica sobre Ele é, pois, uma exigência da fé cristã" .

A existência de Jesus é um fato provado pela ciência histórica, sobretudo mediante a análise do Novo Testamento, cujo valor histórico está fora de dúvida. Há outros testemunhos antigos não cristãos, pagãos e judeus sobre a existência de Jesus. Precisamente por isto, não são aceitáveis as posições de quem contrapõe um Jesus histórico ao Jesus da fé e defendem a hipótese de que quase tudo o que o Novo Testamento diz acerca de Cristo seria uma interpretação de fé que fizeram os Seus discípulos, mas não Sua autêntica figura histórica, que ainda permaneceria oculta para nós.

Essas posturas, as quais encerram um forte preconceito contra o sobrenatural, não levam em conta que a investigação histórica contemporânea concorda em afirmar que a apresentação feita pelo Cristianismo primitivo de Jesus baseia-se em fatos autênticos sucedidos realmente.

José Antonio Riestra