10 de novembro de 2012

Radicalidade

Imagem de Destaque

Não corremos atrás de ideias, mas seguimos uma pessoa

A experiência autêntica da fé, posta em luz pela convocação de um ano destinado a fazer crescer nos cristãos a consciência de suas convicções e a testemunhá-las corajosamente, traz consigo consequências a um tempo consoladoras e exigentes. Jesus Cristo não é um escritor de obras famosas, como muitos de todos os tempos, até porque a única vez que o vemos escrevendo foi na areia, no conhecido episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8). 

O vento apagou logo seus poucos escritos, mas nada apaga o que ele é, tanto que muitos escreveram o que disse e fez para conhecermos a solidez dos ensinamentos (cf. Lc 1,4). Seria muito pouco considerá-lo apenas um mestre, ainda que tenha arrebanhado, atrás de si, discípulos, dentre os quais queremos também ser reconhecidos. Ele é Redentor, Salvador, Filho de Deus! Não corremos atrás de ideias, mas seguimos uma pessoa, nada menos do que o Verbo de Deus feito carne. Diante dele todo joelho se dobre e toda língua proclame que é "o" Senhor (cf. Fl 2,5-11).

Homens e mulheres de todas as raças, povos, línguas e nações (cf. Ap 7,9-10) o seguem e o reconhecem Deus verdadeiro, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, aquele que tem a chave para abrir o livro da vida (cf. Ap 5,1-14) de todas as pessoas humanas e da história. Encontrá-lo e aderir a Ele, na fé, dá sentido à existência e possibilita entender os intrincados caminhos da aventura humana nesta terra.

Tudo isso é magnífico e ecoa altissonante pelos caminhos da história. No entanto, viver a fé cristã é algo que se expressa na simplicidade do dia a dia, com gestos que podem parecer prosaicos, mas são densos de sentido. Não se trata, em primeiro lugar, de fazer grandes coisas, mas de realizar com alma grande os pequenos gestos. A aventura cristã no mundo é marcada pela radicalidade no seguimento corajoso de Jesus Cristo. Aquele que não se apegou a si mesmo, mas deu tudo, tomando a forma de escravo, tornando-se semelhante ao ser humano (Fl 2,7), pede a resposta e a reciprocidade da entrega de vida de cada cristão. Dizer "eu creio" é povoar o horizonte da existência com gestos que revelem esta radicalidade.

No Evangelho de São Marcos, verdadeiro documento de identidade de Jesus Cristo (cf. Mc 1,1), o leitor é provocado a ir ao encontro do Senhor, para reconhecê-Lo como Filho de Deus. Mas os modelos oferecidos por Jesus surpreendem pela simplicidade e eloquência de seus gestos e atitudes. Um deles é apresentado pela palavra proclamada nas missas do presente final de semana (Mc 12, 38-44). A prática religiosa de muitos, aos quais havia sido confiada justamente a responsabilidade pela orientação do povo, tinha se reduzido à competição, carreirismo, exploração e exterioridades estéreis. 

A plebe ignara era relegada à margem, os pobres e tanta gente simples considerados massa sobrante diante dos privilegiados da sociedade e da religião. De repente, vem Jesus Cristo, depois de uma viagem pelas margens do Jordão, Jericó e o deserto de Judá, e entra em sua cidade de Jerusalém, acolhido com hosanas pelo povo. Radicaliza-se o confronto com as autoridades, vistas como figueira que não dá fruto (Mc 11,14), purifica o templo, enfrenta o bombardeio de perguntas que são verdadeiras armadilhas (Mc 12,13-34) e contempla, tranquilo, os gestos das pessoas que fazem suas ofertas.


Uma pessoa chama a atenção e é escolhida como um dos modelos privilegiados, uma pobre viúva que versa no cofre das esmolas apenas duas moedinhas, tudo aquilo que tinha para viver (Mc 12,42-44). Deu mais, porque deu tudo! Jesus tem um modo radicalmente diferente para entender as pessoas e a vida. Acreditar nele é mudar a mentalidade e enxergar o sentido profundo de gestos semelhantes ao da viúva. Provavelmente, só no céu ela soube que sua atitude percorre os séculos e se torna referência para tantas gerações!

O convite da Palavra de Deus nos despoja de falsas pretensões, desejo de publicidade fácil e orgulho estéril. É necessário olhar ao redor para identificar quantas viúvas pobres ou tantas pessoas aparentemente insignificantes, para descobrir os imensos tesouros de generosidade que edificam a vida e a Igreja. Por outro lado, trata-se agora de converter-nos à simplicidade, olhar ao nosso redor para que ninguém passe em vão ao nosso lado, não desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o bem. E em relação a Deus, o olhar quase furtivo para o Sacrário, o sinal da Cruz bem feito, as orações mais simples que sabemos, o desabafo da oração espontânea, a renovação espontânea da fé, tudo conta, pois o Senhor acolhe os gestos mais singelos, já que no Céu estão escritos os nossos nomes! (cf. Lc 10,20)

Foto

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

8 de novembro de 2012

O verdadeiro amor é eterno

Imagem de Destaque

Não nos contentemos com os amores passageiros

Nos dias de hoje, o amor se apresenta a nós de forma cada vez mais distorcida, pois se apela cada vez mais para os sentimentos, as paixões, os sonhos, as fantasias. Esse falso amor se apresenta nas músicas, nos filmes, nos videoclips, na fotografia. Esse amor irreal também faz parte da vida de muitas pessoas, no "ficar", no namoro e até mesmo no casamento. Hoje em dia, muitas pessoas vivem anestesiadas pelas paixões, pelos falsos amores, pois desconhecem o verdadeiro amor.

O falso amor é convidativo, sedutor, pois explora as fantasias, as imagens, os sentimentos. Estes dão uma falsa impressão de amor, que se confunde com a paixão, o desejo, a luxúria. Essa caricatura de amor se faz presente principalmente nas novelas, nos filmes, nas séries e minisséries que assistimos. Isso faz com que, inconscientemente, façamos da nossa vida um prolongamento da vivência desse falso amor, movido somente pelo desejo, pelas paixões, pela fantasia.

Cada vez mais nos deparamos com pessoas feridas, machucadas por causa do engano desse "amor" que destrói amizades, relacionamentos, casamentos, famílias. Não podemos ficar indiferentes diante desse fenômeno, o qual, se não tomarmos consciência, fará parte de nossas vidas sem que o queiramos. Não deixemos que nossos relacionamentos sejam influenciados por um romantismo vazio, próprio de um amor falso e passageiro, pois fomos criados pelo amor de Deus, e somente Ele é capaz de nos realizar.

O verdadeiro amor se manifestou a nós em Jesus Cristo. "De fato, Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho único para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). O Pai enviou Seu Filho ao mundo pela Virgem Maria e é por ela que temos acesso ao verdadeiro amor de forma mais perfeita. Nossa Senhora nos ensina a acolher o amor de Deus encarnado, que é Jesus Cristo em nossas vidas. Consagremo-nos a Maria de todo o coração para que por ela conheçamos o amor que foi até as últimas consequências, no Calvário, no alto da cruz, por amor de nós.

Com a Virgem Santíssima, coloquemo-nos junto da cruz de Jesus, oferecendo nossas dores, nossos sofrimentos, mas também nossas alegrias e esperanças, unindo-nos ao único e eterno sacrifício de Cristo, pois, na cruz, conhecemos o amor verdadeiro, aquele não foge diante do desprezo, da humilhação, do sofrimento. Ao contrário, o verdadeiro amor, que se manifesta também em nós, assume a cruz da angústia e da dor, pois o sacrifício é próprio dele. Não nos enganemos, mas acolhamos o verdadeiro amor, Jesus Cristo Nosso Senhor, que veio ao mundo pelas mãos maternas da Virgem Maria. Por ela, Jesus vem a nós todos os dias até a consumação dos séculos e também no Reino dos Céus, pois o verdadeiro amor é eterno.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

6 de novembro de 2012

O compromisso com a felicidade do outro

Imagem de Destaque

No matrimônio aprendemos que somos o canal de felicidade

Muitas pessoas se sentem desacreditadas em seus relacionamentos, por não terem aquilo que os contos de fadas ou romances descrevem como a felicidade completa. Tanto para aqueles que vivem um relacionamento ou para outros que esperam vivenciar esse momento, todos têm em comum o desejo de serem felizes… Julgam merecedores da felicidade e, realmente, os são. Entretanto, algumas vezes, correm o risco de antecipar momentos, abreviar etapas ou romper valores, simplesmente, para não deixar vazar pelos dedos das mãos, aquilo que vemos como uma oportunidade de realização de um sonho.

Ouve-se muito dizer que o casamento tira a liberdade da pessoa, que são formalidades que geram custos e que não garantem a união estável do casal. Então, alguns casais de namorados, quando apaixonados – mesmo que o tempo de namoro seja apenas de alguns meses -, assumem morar juntos. Desse modo, aquelas disposições que foram assumidas por nossos pais ou avós – a respeito das fases do envolvimento – em razão da incredulidade dos casais mais "modernos", as classificam como algo não mais aplicável!

As justificativas para defender a ideia de morar com a (o) namorada (o) são muitas. Dentre elas, existem aquelas que esperaram o favorecimento das condições para a oficialização do casamento. Outros casais acreditam que morar junto, possa ser uma forma, mais confortável, de identificar se vai dar certo a convivência com a (o) namorada (o), além de gozar dos privilégios da vida a dois.

Há também aquelas pessoas que após tal experiência, não têm intenção de repeti-la. Pois, dessas, acabaram saindo frustradas ao perceber que apesar de estar vivendo sob o mesmo teto, seu parceiro ainda se comportava como alguém "solteiro (a)". Não será difícil encontrar relatos de pessoas dizendo que foi um período no qual foram apenas um colega de quarto, com quem dividia as despesas, cuidava de suas roupas, alimentação etc…. E, aqueles momentos de uma felicidade avassaladora – que foi motivo para a tomada de decisão de viver juntos – , esvaziou-se, com a falta de comprometimento com aquilo que foi, anteriormente, objeto dos planos do casal.

A dúvida sobre o verdadeiro sentimento que sentia pelo outro ou a deterioração do mesmo, fizeram com que o relacionamento durasse apenas o período de uma estação ou enquanto ardia o fogo da paixão. Desses amores "doloridos", as pessoas reclamam de não ter vivido a sensação de sentir-se importante para a outra pessoa.

Por um lado, se os namorados conseguiam calar o clamor dos hormônios, que diziam ser a "química da relação", eles não conseguiam alimentar o desejo daquela pessoa que ansiava encontrar alguém que seria o seu complemento. Infelizmente, tal situação também é vivida com aqueles que assumiram o sacramento conjugal. Entretanto, percebe-se que a falta de interesse em retomar o relacionamento é maior entre aqueles que assumiram viver como "namoridos".

Na vivência do sacramento do matrimônio
vamos aprendendo que somos o canal que promove a felicidade do outro. Isto é, a maneira como nos comportamos e agimos nessa empreitada de vida comum, é que trará aos resultados daquilo que almejamos para o compromisso a dois. Assim, as atitudes no dia a dia, e as manobras para vencermos os obstáculos comum do desafio conjugal,  precisa ter como foco o bem estar da outra pessoa.

Contudo, muitos casais não querem seguir as primícias estabelecidas de um relacionamento a dois. Mesmo que tenham uma vaga idéia sobre a vida comum, insistem em viver seus caprichos, e o compromisso com a felicidade, muitas vezes, fica preso na condição do egoismo, da autorealização e muito longe do vínculo com a pessoa que se diz amar.

Um abraço

1 de novembro de 2012

Ressuscitou ao terceiro dia

Imagem de Destaque

Esta é a grande certeza de nossa fé

"Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé" (1Cor 15,14). A Ressurreição é a confirmação de tudo o que Ele fez e nos ensinou. Ao ressuscitar, Jesus deu a prova definitiva de sua autoridade divina.

A fé na Ressurreição tem como base um acontecimento historicamente atestado pelos discípulos que viram, muitas vezes, o Senhor Ressuscitado e transcendente e representa a entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus por toda a humanidade. Jesus "ressuscitou dentre os mortos" (1Cor 15,20). Aquele sepulcro vazio e os panos de linho no chão mostraram aos apóstolos e às mulheres que o corpo d'Ele escapou da morte e da corrupção, e os preparou para vê-Lo vivo.

A Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento histórico. No §639, o Catecismo afirma: "O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: "Eu vos transmiti (...) o que eu mesmo recebi: 'Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e, depois, aos Doze'" (1Cor 15,3-4). O Apóstolo fala da viva tradição da Ressurreição.

A Ressurreição de Jesus foi a base de toda a ação e pregação dos apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: "O que vimos, ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos" (1 Jo1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23), aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos apóstolos no Cenáculo com Tomé ausente (Jo 20,19-23) e, depois, com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24), no Monte na Galiléia (Mt 28,16-20). Segundo São Paulo "apareceu a mais de 500 pessoas" (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).

"Deus ressuscitou esse Jesus e disto nós todos somos testemunhas" (At 2,32), disse São Pedro no dia de Pentecostes. "Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes" (At 2,36). "Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos" (Rm 14,9). No Apocalipse, São João arremata: "Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos e tenho as chaves da morte e da região dos mortos" (Ap 1,17s).

Toda a pregação dos discípulos estava centrada na Ressurreição de Jesus. Diante do Sinédrio, Pedro dá testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At 5,30-32 repete. Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus como ponto central. São Paulo, em Antioquia da Pisídia, faz o mesmo (At 13,17-41).

Jesus ressuscitado caminhou com os apóstolos ainda quarenta dias; a fé no Ressuscitado não foi uma invenção fictícia dos discípulos do Senhor. A primeira experiência destes com Cristo Ressuscitado foi marcante e inesquecível: "Jesus se apresentou no meio dos apóstolos e disse: "A paz esteja convosco!" Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito, mas ele disse: "Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho". Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: "Tendes o que comer?". Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles". (Lc 24,34ss)

Os apóstolos não acreditavam a princípio na Ressurreição do Mestre. Amedrontados, julgavam ver um fantasma. Jesus, então, pede que O apalpem e verifiquem que tem carne e ossos. Nada disto foi uma alucinação nem miragem, nem delírio ou mentira, nem fraude dos apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram da Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram, pois o próprio Cristo teve de falar a Tomé: "Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como me vedes possuir" (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados, porque "nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel" (Lc 24,21). A fé na Ressurreição do Senhor não surgiu "mais tarde" como querem alguns na história das primeiras comunidades cristãs, mas é o resultado da missão de Cristo acompanhada dia a dia pelos apóstolos. Eles eram um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um autoconvencimento da volta de Cristo. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e inequívoca.

Impressiona também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas a verem Cristo são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição; pois as mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas sem credibilidade, já que não podiam se apresentar ante um tribunal. Ora, se os apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova religião, por que, então, teriam escolhido testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem preocupados em "provar" ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam colocado mulheres como testemunhas.

Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de Jesus e, por isso, resolveram apagá-la: "Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro..." (Mt 28,12-15). A ressurreição corporal de Jesus era professada tranquilamente pela Igreja nascente sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como fraude ou alucinação. Os apóstolos só podiam acreditar na Ressurreição de Jesus pela evidência dos fatos. Eles não tinham disposições psicológicas para "inventar" a notícia da ressurreição de Jesus ou para forjar tal evento.

A pregação dos apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira deles seria imediatamente denunciada pelos membros do Sinédrio (tribunal dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos apóstolos não fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas eles nunca puderam fazer isto. Jesus morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado. É ridícula a teoria de que Ele estivesse apenas adormecido na cruz. Os vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria Ressurreição do Senhor.

Será que em nome de uma fantasia, de um mito, de uma miragem, milhares de fiéis enfrentariam a morte diante da perseguição romana? Será que em nome de um mito, multidões iriam para o deserto para viver uma vida de penitência e oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos, multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o mundo? Será que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por 2 mil anos, vencendo todas as perseguições (Império Romano, heresias, Nazismo, Comunismo, racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo etc.)? Será que uma alucinação poderia ser a base da religião que, hoje, tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de cristãos)? Será que uma alucinação poderia ter salvado e construído a civilização ocidental depois da queda de Roma?  Isto mostra que o testemunho dos apóstolos sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje o faz.

Na verdade, a grandeza do Cristianismo requer uma base mais sólida do que a fraude ou a debilidade mental. É muito mais lógico crer na Ressurreição de Jesus do que explicar a potência do Cristianismo por uma fantasia de gente desonesta ou alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de história, com 266 Papas, 21 Concílios Ecumênicos e, hoje, com cerca de 4 mil bispos e 417 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada; muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.

Este é o quarto artigo de uma série de outros doze, explicando, resumidamente, cada um dos artigos do 'Credo'.

5 - Desceu à mansão dos mortos 
6 - Está sentado a Direita do Pai

30 de outubro de 2012

O drama da fidelidade

Imagem de Destaque

O Senhor nos convida a estarmos junto a Virgem

"Tomé respondeu: 'Meu Senhor e meu Deus!' Jesus lhe disse: 'Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!'" (Jo 20, 28-29). 


Nós, que hoje cremos em Jesus Cristo, somos os bem-aventurados, que creram sem ter visto. Somos bem-aventurados, pois recebemos de Deus a revelação do Filho de Deus e o dom da fé, para que, pelo seu Espírito possamos crer na Sua presença viva, que é fundamento da Igreja. Nele toda a Igreja se sustenta, Jesus é o alicerce desta construção, da qual somos pedras vivas. Esta Igreja é conduzida pelo Espírito para levar o Evangelho a toda a criatura, para os confins da Terra.

Como permanecermos fiel a Igreja de Jesus Cristo?

Tomé, que precisou ver o Senhor e tocar suas chagas, é a imagem do discípulo que não persevera na oração com a Virgem Maria. Ele não crê porque, apesar de ter recebido a Boa Nova do próprio Jesus e o dom da fé, não perseverou como outros discípulos. Mas, antes do Pentecostes, Tomé, que teve dificuldades para crer, uniu-se a João e aos outros discípulos, que estavam com a Virgem Maria, unidos em oração. Esta perseverança na oração com Nossa Senhora, juntamente com as demais pedras vivas da Igreja, é o segredo da perseverança na fé e no seguimento de Jesus Cristo (cf. At 1, 13-14).


João é a imagem do discípulo fiel de Jesus, que permaneceu com Ele, ao lado da Virgem Maria, até mesmo nos momentos mais críticos da sua entrega na cruz. Aliás, João foi o único que não abandonou Jesus no momento crucial da sua na sua vida na carne aqui na Terra. Como João, somos chamados a permanecer junto à cruz de Jesus, com a Virgem Maria, perseverantes na oração. Pois, este é o modelo do discípulo fiel, que crê em Jesus Cristo, ainda que a cruz e a morte se mostrem sinais de fracasso, de desilusão.


Nós, cristãos, ainda que o sofrimento e as angústias sejam uma tentação para não acreditarmos na Palavra de Deus, devemos crer que a cruz não é a resposta definitiva. Cristo ressuscitado é o fundamento da nossa fé, ainda que Ele continue a manifestar-se entre nós através do mistério da cruz, do sofrimento. Confiantes que depois da cruz vem a ressurreição, nos unamos também a Mãe de Jesus em oração, para pedir um reavivamento do Espírito e, por Ele fortalecidos, sermos fiéis à missão que o Senhor nos confiou: "Ide, por todo o mundo, a todos pregai o Evangelho" (Mc 16, 15).

Permaneçamos com Jesus Cristo, junto com o discípulo amado e a Virgem Maria, unidos em oração, perseverantes nos sofrimentos, pois a cruz é prenúncio da ressurreição. Por isso, perseveremos na fé e na esperança da vida em plenitude que o Senhor quer para nós. Cristo se faz presente em nós pelo Espírito, que age em nós e produz frutos de vida eterna. Somente conduzidos pelo Espírito é que poderemos realizar a maior obra de caridade possível, que é levar a Palavra de Deus, com eficácia, a todos a quem o Senhor nos enviar.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

25 de outubro de 2012

Está sentado a direita do Pai

Imagem de Destaque

De onde há de vir e julgar os vivos e os mortos

A Igreja ensina que a partir da Ascensão, o volta de Cristo na glória pode acontecer a qualquer momento, embora não nos "caiba conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade" (At 1,7). Este acontecimento está "retido", bem como a provação final que há  de precedê-lo. (§673)

A volta de Cristo na glória depende a todo momento da história do reconhecimento dele por "todo Israel". Diz São Paulo aos romanos que uma parte desse Israel se "endureceu" (Rm 5) na "incredulidade" (Rm 11,20) para com Jesus, o que São Pedro confirmou aos judeus de Jerusalém depois de Pentecostes (At 3,19-21). São Paulo explica que: "Se a rejeição deles resultou na reconciliação do mundo, O que será o acolhimento deles senão a vida que vem dos mortos?" A entrada da "plenitude dos judeus" na salvação messiânica, depois da "plenitude dos pagãos, dará  ao Povo de Deus a possibilidade de "realizar a plenitude de Cristo" (Ef 4, 13), na qual "Deus ser  tudo em todos" (1Cor 15,28).

A Igreja sabe que antes da Parusia, a volta gloriosa de Cristo, ela sofrerá uma terrível provação que provará a fé dos seus filhos. O Catecismo diz claramente que: "Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará  a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra" desvendará  o "mistério de iniquidade" sob a forma de uma impostura religiosa que há  de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne" (§675). 

Cristo Senhor já reina pela Igreja, mas ainda não lhe estão submetidas todas as coisas deste mundo. O triunfo do Reino de Cristo não se dará sem uma última investida das potências do mal. Esta ação do anticristo no mundo se manifestou algumas vezes com algum movimento que pretendia realizar na história a esperança messiânica que só pode realiza-se para além dela, depois do Juízo Final. A Igreja rejeitou, por exemplo, esta falsificação do Reino vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo secularizado, "intrinsecamente perverso". (§676)

Fica claro que o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja, mas por uma vitória de Deus sobre o a última ação  do mal.  Assim como os profetas e João Batista, Jesus anunciou o Juízo do último Dia, onde será  revelada a conduta de cada um e o segredo dos corações. Serão condenados aqueles que por incredulidade culpada não corresponderam á graça oferecida por Deus, e atitude de caridade em relação ao próximo: "Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40). Cristo virá na glória para realizar o triunfo definitivo do bem sobre o mal e separar o trigo do joio, crescido juntos ao longo da história.

O direito de julgar definitivamente as obras e os corações dos homens pertence a Cristo porque é o Redentor do mundo. Ele "adquiriu" este direito por sua Cruz. O Pai entregou "todo o julgamento ao Filho" (Jo 5,22). "É pela recusa da graça nesta vida que cada um já  se julga a si mesmo recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se para a eternidade ao recusar o Espírito de amor"(679).

23 de outubro de 2012

Verdadeiras e falsas cruzes

Imagem de Destaque

Dor que faz bem e dor que faz mal

Há um fato indiscutível, e é que o sofrimento é nosso companheiro ao longo de todo o caminho da vida. E há um segundo fato, igualmente incontestável: conforme as pessoas - conforme a qualidade da alma das pessoas -, o sofrimento esmaga ou faz crescer, destrói ou amadurece.

Essa ambivalência da dor - que pode edificar ou arrasar - indica às claras que o problema, para qualquer ser humano, não reside no sofrimento que Deus envia ou permite que apareça na nossa vida, mas na atitude com que aceitamos ou rejeitamos essa cruz, que Deus nos propõe abraçar. Como sucedeu junto de Cristo no Calvário, a cruz rejeitada afundou o mau ladrão, e a cruz aceitada com humildade, com fé e com amor, salvou o bom.

Mas, ao lado dessas cruzes enviadas ou permitidas por Deus há outras que nem Deus quer nem nós queremos, mas aparecem. São as "falsas cruzes", que nada trazem de bom. Em que consistem?

Trata-se das "cruzes" que nós mesmos "fabricamos", "inventamos", e que nunca deveriam ter existido. São as que aparecem só como conseqüência da nossa mesquinhez e dos nossos defeitos. A pessoa egoísta, ciumenta, invejosa, teimosa…, sofre muito e faz sofrer os outros. Mas esses sofrimentos não são "cruzes", no sentido cristão da palavra. São apenas a destilação amarga do nosso egoísmo. Com certeza não são a vontade de Deus; pelo contrário, trata-se de pecados mais ou menos graves, que evidentemente Deus não quer, mas nós colocamos como pedras no caminho da vida.

Se fôssemos fazer as contas, veríamos que a maioria desses sofrimentos "fabricados" indevidamente por nós brotam de uma dupla fonte: a fonte do amor-próprio e a fonte do amor pequeno.

O amor-próprio é uma fonte de péssimas cruzes. Como o orgulho nos faz sofrer! Que feridas infeccionadas não provoca! Basta uma lufada de ar - uma pequena desconsideração ou indelicadeza -, e o amor-próprio sente-se atingido como por um punhal. Uma pessoa orgulhosa é incapaz de tolerar sem ficar magoada - sem se meter num calvário de sofrimentos íntimos - a menor humilhação, mesmo a causada involuntariamente. Fica alterada, abatida; grava a mágoa na memória e a vai remoendo lá dentro; cultiva-a na imaginação, aquece-a ao fogo da autocompaixão, vai engrossando-a à força de lhe dar importância, e termina fazendo dela uma tortura insuportável.

Bastava que fosse um pouco mais humilde, que soubesse relevar minúcias, que se esforçasse um pouco por compreender, por desculpar, por oferecer a Deus as pequenas contrariedades, e não teria nem um miligrama dessa cruz ruim, que não é a cruz de Cristo.

Se a pessoa orgulhosa sofre com tormentos fabricados pelo orgulho, que dizer da invejosa? Sempre comparando-se com os outros, sente subirem-lhe ao coração ondas de melancolia, depressões enciumadas, revoltas contra a sorte e até protestos íntimos contra a Providência de Deus. Essa pessoa invejosa, que chora frustrações, foi ela própria a criadora da sua falsa "cruz". Se tivesse um coração mais generoso, vislumbraria, feliz e agradecida - na mesma situação em que só vê infortúnios e injustiças da vida -, dez mil bondades de Deus e motivos de ação de graças, um panorama de miúdas e saborosas alegrias, que em vez de lágrimas ou revolta lhe poriam canções dentro da alma.

Vejamos agora a segunda fonte de cruzes doentias: a do amor pequeno. Já de início, poderíamos dizer que existe um sinal infalível de que o nosso amor é pequeno: o mau humor. Para quem ama pouco, toda a doação, toda a paciência, toda a compreensão solicitada pelo próximo é excessiva e aborrecida, qualquer sacrifício causa revolta ou malestar. O amor grande pratica generosidades grandes e nem se apercebe do sacrifício que faz. Como dizia Santo Agostinho: "Quando se ama, ou não se experimenta trabalho, ou o próprio trabalho é amado".

Pelo contrário, o amor pequeno transforma uma palha numa "cruz" insuportável. Então, um sacrifício que caberia "dentro de um sorriso, esboçado por amor", não cabe na vida e explode em forma de sofrimento irritado, com contínuos resmungos, queixas constantes e incessantes protestos. O mau humor é a sombra do amor pequeno, o sinal que o dá a conhecer.

Se olharmos de perto o que há por trás desse mau humor, veremos que, em noventa por cento dos casos, é simplesmente a pura e simples realidade da vida, com as suas incidências, lutas, dificuldades e esforços normais. Por outras palavras, o que há na raiz do mau humor é apenas a falta de aceitação da realidade, e da vontade de Deus no dia-a-dia.

É triste lamentar, como se fossem coisa do outro mundo, dificuldades que são normais. Não é nenhuma contrariedade inesperada o fato de que os outros tenham asperezas de caráter, de que o cumprimento do dever canse, de que alcançar metas profissionais custe muito, de que conseguir melhorar os nossos próprios defeitos ou os defeitos dos que nos cercam - especialmente os da mulher, do marido, dos filhos - seja algo lento e demorado. No entanto, é muito comum que, ao constatá-lo, nos sintamos indispostos, nos deixemos levar pelo aborrecimento, pela impaciência, pelo protesto, e percamos o bom humor. Reações de todo desproporcionadas e ridículas, pois lá onde nós imaginamos grandes "cruzes" está apenas a "vida", a vida que, com um pouco mais de amor e bom humor, ficaria pontilhada de alegrias e coroada de ações de graças.

Cristo pede-nos que tomemos com amor a cruz de cada dia (Lc 9, 23), é certo, mas - lembrando o que dizia João Paulo I - essa cruz deveria ser carregada com o "sorriso cotidiano" e não fazendo dela a "tragédia cotidiana". No entanto, muitos conseguem mudar o sorriso em tragédia. Bastam-lhes para tanto duas coisas: em primeiro lugar, amar pouco, como já víamos. Em segundo lugar, viver mergulhados num mundo de imaginações escapistas e sonhos irreais.

Muitos são os que reclamam do real - que é a vida, sempre rica em possibilidades de amar, de crescer por dentro, de fazer o bem - e passam a instalar-se, esterilmente, no mundo irreal das hipóteses: se eu tivesse essas outras condições pessoais, essa sorte, essa oportunidade profissional…; se a minha mulher fosse mais bonita, pacífica e econômica…; se o meu país tivesse uma economia mais confiável… E, assim, enquanto vivem no mundo do "tomara que", atolam-se no que São Josemaria Escrivá chamava a "mística do oxalá". Desse modo, estragam a realidade, que é a única que existe e que a cada instante nos oferece ocasiões de amar e de servir e, como conseqüência, de sermos felizes.

Quem reclama sem razão da cruz cotidiana perde a cruz de Deus e encontra a "cruz" do diabo. São cheias de sabedoria aquelas palavras da Imitação de Cristo que dizem: "Se levas com gosto a cruz, ela te levará. Se a levas a contragosto, acabas por torná-la mais pesada para ti e a ti mesmo te sobrecarregas. Se rejeitas uma cruz, sem dúvida encontrarás outra, e possivelmente mais pesada".

Penso que essas reflexões podem ajudar-nos a distinguir, na nossa vida, entre as "verdadeiras" e as "falsas" cruzes. Peçamos a Deus que não nos permita atolar nas cruzes falsas, para que possamos amar as verdadeiras, que nos elevam até Deus.

Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/