24 de setembro de 2012

Sem Maria não há Igreja

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Ela compartilha a missão de Seu Filho

Bento XVI afirma que a presença da mãe de Deus com os apóstolos, depois da Ascensão, não é apenas o dado histórico de um acontecimento do passado. A presença de Nossa Senhora no Cenáculo adquire um significado de grande valor, pois ela partilha com eles a memória viva de Jesus na oração. Ela compartilha a missão de Seu Filho, de conservar a Sua memória, a Sua presença.

O Santo Padre nos lembra que para gerar o Verbo, a Virgem Maria já recebeu o Espírito Santo. No Cenáculo, unida em oração com os apóstolos, ela compartilha a expectativa do mesmo dom, para que, no coração de cada crente, "se forme Cristo" (cf. Gl 4, 19). Sem Pentecostes não há Igreja e não há Pentecostes sem a Mãe de Jesus, pois Ela viveu, de modo único, o que a Igreja experimenta todos os dias pela ação do mesmo Espírito. São Cromácio de Aquileia dizia que: "não se pode falar de Igreja se não estiver presente Maria, mãe do Senhor […] A Igreja de Cristo se encontra onde se anuncia a Encarnação de Cristo por meio da Virgem".

A Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma que o lugar privilegiado de Maria é a Igreja, onde Ela é saudada como membro eminente e inteiramente singular. Nossa Senhora é exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade (cf. LG 53).

Bento XVI ressalta que "venerar a mãe de Jesus na Igreja significa aprender com ela a ser comunidade que reza". A oração é uma das características essenciais da primeira descrição da comunidade cristã descrita nos Atos dos Apóstolos (cf. 2,42). Muitas vezes, nossas orações acontecem em momentos de sofrimento para receber luz, consolação e ajuda. Mas Maria nos convida a nos dirigir a Deus "não só na necessidade, nem só para nós mesmos, mas de modo unânime, perseverante e fiel, num só coração e numa só alma.

Nossa vida, às vezes, passa por momentos difíceis e exigentes, que requerem escolhas inadiáveis, renúncias e sacrifícios. "A Mãe de Jesus foi posta pelo Senhor em momentos decisivos da história da salvação e soube responder, sempre, com plena disponibilidade, fruto de um vínculo profundo com Deus amadurecido na oração assídua e intensa". Na Sexta-feira da Paixão, o discípulo amado foi entregue à Virgem Maria e, com ele, toda a comunidade dos discípulos (cf. Jo 19,26). "Entre a Ascensão e o Pentecostes, ela se encontra com e na Igreja em oração" (cf. At 1,14).


Nossa Senhora é Mãe de Deus e Mãe da Igreja. Ela exerce a sua maternidade espiritual até o fim da história. Confiemos a ela toda a nossa existência pessoal e eclesial, e também a nossa passagem final. Maria nos ensina a necessidade da oração e nos mostra que só com um vínculo constante, íntimo e cheio de amor com o seu Filho é que podemos sair de nós mesmos, com coragem, para alcançar os confins do mundo e anunciar em toda a parte o Senhor Jesus, Salvador do mundo.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

19 de setembro de 2012

A ponte das palavras

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Diga palavras que construam os outros

Uma canção popular exalta, em versos muito simples, o valor da palavra: "Palavra não foi feita para dividir ninguém. Palavra é ponte por onde o amor vai e vem…


A alma se exprime pelo corpo, especialmente pela língua. "Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, por meio da linguagem, de gestos e ações" (Catecismo da Igreja Católica, n. 1146).

Nós falamos, comunicamo-nos uns com os outros de inúmeras maneiras. Quanto não diz, com frequência, um simples olhar, um sorriso levemente esboçado, um silêncio significativo, um gesto de paixão ou um aceno impregnado de afeto! Muitos são os caminhos da linguagem que interligam, em comunhão, alma com alma. Mas a grande ponte que Deus nos deu para nos comunicarmos entre nós - e para nos comunicarmos com Ele - é a palavra: palavra pensada, interior; palavra pronunciada; palavra publicada.

É falando, conversando, escrevendo que estamos a construir, constantemente, pontes de intercomunicação: por elas a nossa alma - a nossa vida! - vai passando e chega até os outros, com toda a sua carga de alegrias e dores, de ódios e amores, de desconcertos e dúvidas, de enganos e desenganos, de perplexidades e certezas, de esperanças e ilusões. É bom pensar no que significam, todos os dias, as nossas palavras. Constroem ou destroem? Enriquecem ou desgastam? Que fazemos
com a língua diariamente? Talvez, de súbito, não saibamos responder, mas uma coisa é certa: fazemos muito; de bom ou de mau, mas fazemos muito.


Quando as palavras têm raízes no amor, são sempre fecundas. Da abundância do coração fala a boca (Lc 6,45). Muitos corações, torturados pelo erro, pela vergonha ou pelo desespero reergueram-se por uma só palavra (Mt 8,8) de Cristo. Os olhos da mulher adúltera, cerrando-se para não ver as pedras com as quais os fariseus iam esmagá-la, recuperaram a luz perdida e se acenderam com claridades inéditas, mal ela escutou as palavras de perdão e alento de Cristo: "Vai e não peques mais! "(Jo 8,11). Zaqueu, o arrecadador desonesto, sentiu o coração arrebentar-lhe o peito quando Jesus, ao passar junto dele, em vez de lhe espetar um remoque de desprezo, lançou-lhe uma palavra amiga: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa (Lc 19,5). Pedro viu-se como um morto-vivo acabado de desenterrar quando Cristo, com a doçura do perdão na língua, em vez de recriminá-lo pela sua indigna traição, perguntou-lhe: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? (Jo 21,15).


Palavras de compreensão, de perdão, de afeto, de estímulo; palavras que acordam, elevam, iluminam, desvendam erros, apagam dúvidas, apontam rumos; palavras de amor, compaixão e confiança, palavras-dom… Se quiséssemos, a nossa vida inteira, cada um dos nossos dias, poderia ser uma contínua chuva de palavras fecundas, capazes de suscitar vida, sem provocar tristezas nem ira, nem ódio. Não há uma única situação, agradável ou constrangedora; não há uma só pessoa, neste mundo, que não possa fazer surgir, do bom tesouro do coração (cf Lc 6,45) que verdadeiramente ama, uma palavra construtiva.

Já imaginamos o que seria a nossa vida se, em cada instante, fôssemos capazes de proferir a palavra acertada, toda ela impregnada de sinceridade e amor, sem sombra de malignidade, irritação, rancor, orgulho, rudeza ou desprezo? Não há dúvida de que, além de nos tornarmos a alegria de Deus, seríamos a felicidade dos homens. Já pensamos no que seria a "utopia" de um mundo em que as palavras faladas, emitidas ou impressas, fossem apenas veículo da verdade e da caridade? Se a nossa fantasia tivesse um mínimo de asas, perceberíamos que esse mundo admiravelmente novo seria o próprio céu, pois não há um só mal no mundo que, de alguma maneira, não esteja fundido com a maldade das palavras.

Esse "admirável mundo novo" não existe, e toca a cada um de nós examinar a parte com que contribuímos para a sinfonia amorosa ou para a dança macabra das palavras.

Façamos esse exame com sinceridade na presença de Deus. Pensemos que nosso Senhor, como Médico Divino, poderia nos dizer o que, às vezes, os médicos humanos nos dizem: "Mostra-me a língua! E eu te farei ver teu coração, porque as tuas palavras - com as suas mil tonalidades, cargas, intenções e acentos - são um retrato falado do teu coração: dos teus sentimentos mais íntimos, das tuas purezas e sujidades, dos teus tesouros espirituais e das tuas carências lastimáveis. Não esqueças nunca que a boca fala daquilo de que o coração está cheio" (cf Lc 6,45).

Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

17 de setembro de 2012

Exaltação da Santa Cruz

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Conheça os frutos da cruz

Pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cruz não é um patíbulo de ignomínia, mas um trono de glória. Resplandece a Santa Cruz pela qual o mundo alcança a salvação. Ó Cruz que vences!, Cruz que reinas!, Cruz que limpas todo o pecado! Aleluia! A festa da Exaltação da Santa Cruz nasceu, em Jerusalém, nos primeiros séculos do Cristianismo. Conforme um antigo testemunho, começou a ser comemorada no aniversário do dia em que foi encontrada a cruz de Nosso Senhor. A Sua celebração estendeu-se com grande rapidez pelo Oriente e, pouco depois, por toda a cristandade. Em Roma, era particularmente solene a procissão que, antes da Missa, dirigia-se de Santa Maria Maior a São João de Latrão para venerar a cruz.


No começo do século VII, os persas saquearam Jerusalém, destruíram muitas basílicas e se apoderaram das sagradas relíquias da Santa Cruz que, um pouco mais tarde, seriam recuperadas pelo imperador Heráclio. Conta uma piedosa tradição que, quando o imperador, vestido com as insígnias da realeza, quis carregar pessoalmente o Santo Madeiro até o seu primitivo lugar no Calvário, o seu peso foi-se tornando cada vez mais insuportável. Nesse momento, Zacarias, bispo de Jerusalém, fez-lhe ver que, para levar aos ombros a Santa Cruz, deveria desfazer-se das insígnias imperiais, imitando a pobreza e a humildade de Cristo, o qual tinha carregado o santo lenho despojado de tudo. Heráclio vestiu, então, umas humildes roupas de peregrino e, descalço, pôde levar a Santa Cruz até o cimo do Gólgota.

É possível que tenhamos aprendido, desde a nossa infância, a fazer o sinal da cruz sobre a nossa testa, os nossos lábios e o nosso coração, em sinal externo da fé que professamos. Na liturgia, a Igreja utiliza o sinal da cruz nos altares, no culto e nos edifícios sagrados. É a árvore de riquíssimos frutos, arma poderosa que afasta todos os males e espanta os inimigos da nossa salvação: "Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus Nosso Senhor dos nossos inimigos", dizemos todos os dias ao nos persignar. A Cruz – ensina um padre da Igreja – "é o escudo e o troféu contra o demônio". 


É o sinal para que não sejamos atingidos pelo anjo exterminador, como diz a Escritura (cf. Ex 9,12). É o instrumento para levantar aqueles que caem, o apoio para os que se mantêm em pé, o bastão dos débeis, o guia dos que se extraviam, a meta dos que avançam, a saúde da alma e do corpo. Afugenta todos os males, acolhe todos os bens, é a morte do pecado, a semente da ressurreição, a árvore da vida eterna". O Senhor pôs a salvação da humanidade no lenho da cruz para que a vida ressurgisse de onde viera a morte, e aquele que vencera, na árvore do paraíso, fosse vencido na árvore da cruz.


A cruz se apresenta na nossa vida
de diversas maneiras: doença, pobreza, cansaço, dor, desprezo, solidão... Hoje, podemos examinar como é a nossa disposição habitual em face dessa cruz que, às vezes, se mostra áspera e dura, mas que, se a levamos com amor, converte-se em fonte de purificação, de vida e também de alegria. Queixamo-nos com frequência das contrariedades ou, pelo contrário, damos graças a Deus também nos fracassos, na dor, na contradição? Essas realidades nos afastam ou nos aproximam de Deus?

O amor à cruz produz abundantes frutos na alma. Em primeiro lugar, leva-nos a descobrir Jesus, que sai ao nosso encontro e carrega sobre os Seus ombros a parte mais pesada da contradição. A nossa dor, associada à do Mestre, deixa de ser o mal que entristece, arruína e se converte em meio de íntima união com Deus. "Se sofres, submerge a tua dor na dele: diz a tua Missa. Mas se o mundo não compreende estas coisas, não te perturbes; basta que te compreendam Jesus, Maria, os santos. Vive com eles e deixa que o teu sangue corra em benefício da humanidade: como Ele!"

A cruz de cada dia é uma grande oportunidade de purificação, de desprendimento, de aumento de glória. São Paulo ensina, com frequência, que as tribulações são sempre breves e suportáveis, e que o prêmio desses sofrimentos acolhidos por amor a Cristo é imenso e eterno. Por isso, o apóstolo se alegrava nas tribulações, gloriava-se nelas e considerava-se feliz de poder uni-las às de Cristo Jesus, e assim completar a Sua Paixão para bem da Igreja e das almas. A única dor verdadeira é afastar-se de Cristo. Os outros padecimentos são passageiros e se convertem em alegria e paz.

É verdadeiramente suave e amável a cruz de Jesus
. Não contam aí as penas, só a alegria de nos sabermos corredentores com Ele. O trato e a amizade com o Mestre nos ensinam, por outro lado, a ver e a enfrentar as dificuldades que se apresentam com um espírito jovem e decidido sem nenhum assomo de tristeza ou de queixa. À semelhança dos santos, encararemos as contrariedades como um estímulo, como um obstáculo que é preciso transpor neste combate que é a vida. Essa disposição de ânimo alegre e otimista, mesmo nos momentos difíceis, não é fruto do temperamento ou da idade: nasce de uma profunda vida interior, da consciência sempre presente da nossa filiação divina. É uma atitude serena, que cria em todas as circunstâncias um bom ambiente à nossa volta – na família, no trabalho, com os amigos – e constitui uma grande arma para aproximarmos os outros de Deus.

Pe. Francisco Fernández Carvajal
http://www.quadrante.com.br/

14 de setembro de 2012

Paz: Fruto da Reconciliação

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Passos para alcançarmos a reconciliação com Deus

O que é a paz? Muitas opiniões se multiplicam, muitos pontos de vista se antagonizam; uns dizem que a paz é a ausência da guerra, principalmente neste momento delicado, quando, a cada dia, surge mais uma guerra ou um conflito interno em países do mundo inteiro. Outros dizem que a paz é algo interno de cada pessoa, que cada um deve ter sua paz interior e isto basta. Tenho, hoje, uma reflexão sobre ela: a paz é fruto da reconciliação.


A palavra reconciliação é derivada direta da palavra concilio
, do verbo conciliar, concordar, estar de acordo. Então, reconciliar é conciliar de novo. Alguma opinião ou alguma atitude que desgastou esta "concordância", alguma briga, discussão entre as pessoas, entre os povos, entre o homem e Deus precisa, de novo, ser conciliada pela aceitação da posição antagônica, mesmo que, com divergência em algum ponto. É um reatar as relações.

É preciso que cada homem tenha consciência de que a paz só acontece de verdade se ele estiver plenamente reconciliado com ele mesmo, com as pessoas que o cercam e com Deus. Isto significa viver reconciliado.

Primeiro, com nós mesmos, aceitando nossa limitação, nossa incapacidade de atingir algumas coisas. Somos de carne e osso, fracassamos, damos certo em algumas coisas e noutras somos um desastre, por isso precisamos de ajuda. Isto não significa se acomodar às nossas limitações humanas, mas ter como meta o "ser melhor" e progredir a cada dia nesta busca, sem nunca esquecer nossa natureza fraca, frágil. Saiba que Deus nos ama e, por causa disso, precisamos nos valorizar, nos amar e cuidar de nós. Somos importantes neste mundo.

Reconcilie-se consigo mesmo. Comece a se olhar sem acusações, com misericórdia, uma pessoa que luta para ser mais santo ou santa. 


Depois, é preciso estar de bem com as outras pessoas. Procuremos ser tolerantes quando as pessoas são imperfeitas e incoerentes: aceitemo-las. Elas podem estar passando pelo mesmo processo que nós, ou seja, necessitado de ajuda em algumas situações pessoais. Nós podemos ser esta ajuda. Ajudemos! Se magoou alguém, desculpe-se; procure-o, faça as pazes. Isto é divino. E se alguém o magoou, perdoe-o do fundo do coração. Tenha as mesmas atitudes de antes: acolha, dê um sorriso, trate-a como se nada tivesse acontecido. Isto significa esquecer e perdoar definitivamente. 


Para isto é primordial estar de bem com Deus. Se pecamos e fazemos algo que feriu o coração do Senhor (nós sabemos quando fazemos este tipo de coisa), não podemos conviver com esta discordância e dar os passos para nos reconciliarmos com Ele. São necessários três passos para alcançarmos a reconciliação com o Pai:

1 – Reconhecer os próprios erros, pecados e falhas, não dissimular, não jogar a culpa nos outros ou nas situações, admitir que errou, mas quer se levantar;
2 – Arrepender-se profundamente. Ter ódio do pecado cometido. Fugir dele. Comprometer-se com Deus e evitar cair, de novo, na mesma fraqueza;
3 – Confessar-se regularmente com um padre.

Escutei uma explicação magnífica sobre a necessidade de confessar-se com o padre e não direto com Deus. Quando pecamos, este pecado atinge outras pessoas, por isso teríamos de nos confessar com todos aqueles que foram prejudicados pelos nossos pecados, para nos redimir de verdade. O sacerdote é o representante que saiu do meio do povo, foi consagrado para aceitar, em nome destas pessoas, a nossa confissão e nos absolver, perdoar-nos em nome de Deus, que é o Pai de todos nós. É sacramento estabelecido pelo próprio Jesus: "Tudo que ligares na terra, será ligado nos céus" (Mt 16,19a).

Então, reconciliar-se com Deus
, com as pessoas e consigo é "fonte de paz". As guerras acontecem, porque os homens querem permanecer na divergência, no desacordo. Hoje, Deus nos pede uma atitude diferente: viver reconciliado, viver em Paz com todos. Esta atitude é o maior grito de indignação que podemos dar contra a guerra.

A Paz de Jesus o ilumine a a viver reconciliado.

12 de setembro de 2012

Com Deus tem jeito!

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Jovem, reconheça a queda e levante a cabeça

Quero lhe falar de uma história real. Trata-se da vida de um jovem que, aos 25 anos de idade, não tinha mais nenhuma perspectiva, não conseguia ver esperança, era só um vazio existencial.

Os dias iam passando e o desespero aumentava no coração dele por não avistar uma saída. A entrada para o mercado de trabalho lhe parecia muito difícil, Sem faculdade e sem currículo, quem o contrataria e quanto ganharia? Pois quem ganha bem é quem tem um excelente currículo e uma boa formação acadêmica, pensava este jovem. Casar-se e formar família também era complexo, já que não conseguia dirigir sua própria vida; então, não conseguia mirar uma vida de fidelidade a partir de uma única mulher. Outro ponto se tornava mais distante ainda: ter filhos e dar a eles uma educação moral e cristã.

Situações que resultavam numa conclusão: sem perspectiva profissional e sem perspectiva de ser bom esposo e bom pai. Além desses fatos, tinha jogado fora todas as oportunidades que estiveram em suas mãos, uma delas a carreira profissional de jogador de futebol de salão. O mais complicado para este jovem era achar que não tinha mais jeito de dar a volta por cima, não existia esperança em sair do caos.

Não sei a sua idade nem quais são as suas perdas. Só sei de uma coisa: em meio a uma situação de desesperança, é hora de tomar cuidado para não perder os valores da alegria e da esperança.

Há uma música que diz: "reconhece a queda e não desanima; levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Jovem, é preciso reconhecer a queda, reconhecer a perda, reconhecer-se pequeno, mas não desanimar. É preciso ter consciência de que para levantar e dar a volta por cima é preciso o auxílio do Alto, do Céu. Levante a cabeça, acredite, é possível começar um tempo novo! Levantar-se sem Deus é arriscado e levantar-se com Ele é humildade.

"A alegria do coração é a vida da pessoa, tesouro inesgotável de santidade, a alegria da pessoa prolonga-lhe a vida. Tem compreensão contigo mesmo e consola teu coração; afugenta para longe de ti a tristeza. A tristeza matou a muitos e não traz proveito algum." (Eclo 30,23-25).

Essa passagem bíblica nos apresenta um valor que deve ser cultivado: a alegria. Jovem, não deixe que nenhuma perda lhe roube a alegria. Somente a perda de Jesus é que deve nos questionar, pois Ele diz: "sem mim, nada podeis fazer". Viver a vida sem Cristo é perder a esperança de dias melhores.
Jesus é o seu amigo e está junto de você nestes momentos tão difíceis. Ele é o único que não pode se fazer presente na sua lista de perdas. "Eu vos chamo amigos" (Jo 15, 15). O lindo desafio para este dia é virar a folha e começar a escrever um tempo novo. Coloque, no início dessa folha, "Jesus é meu amigo" e isso me basta para dar a volta por cima.

Este jovem, hoje, tem 43 anos de idade, é casado há 15 anos e tem três filhos. Este jovem sou eu! Hoje sou "semeador de alegria e esperança" e aprendiz em descobrir valor em meio às perdas. Não me canso de repetir: "Com Deus tem jeito!"

10 de setembro de 2012

Ele fez bem todas as coisas

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Na obra criadora de Deus, existe a semente do bem

Ao modo de leitura orante da Palavra de Deus, chamada "Lectio Divina", aproximemo-nos do Evangelho que a Igreja proclama nestes dias. Para tanto, comecemos bem longe, no princípio... "Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom" (Gn 1,31). Na obra criadora do Senhor, existe a semente do bem. O sábio, que identifica o sentido daquilo que o Pai fez, tem consciência de que "Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal" (Sb 1,13-15). 


De fato, "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens" (Jo 1,1-3). E esta Palavra "se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1,14). Jesus Cristo é o Verbo de Deus, Palavra eterna que se fez carne, em quem todas as coisas foram criadas, aquele que "faz bem todas as coisas" (Mc 7, 37), o que restaura toda a obra criadora do Pai, em quem tudo ganha sentido e valor (Cf. Ef 1,10).

Tornar-se discípulo da Palavra de Deus que se faz carne é acompanhar Jesus pelas estradas da vida e testemunhar o acontecimento da "nova criação". Vamos lá! Jesus deixou a região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole, onde tinha chegado sua fama. Cercava-o a incompreensão a respeito de sua pessoa e de suas ações. O Evangelista São Marcos, o único que conta este episódio, mostra a entrada em cena de um surdo-mudo que, curado, torna-se um sinal da abertura para acolher o mistério de Jesus. Pedem que o Senhor imponha as mãos sobre o homem.


Jesus, tomando-o à parte, longe da multidão, leva a sério sua presença e sua situação, pôs os dedos nos seus ouvidos, tocou com a própria saliva a língua do homem, olhou para o céu, suspirou e disse: "Efatá!", que quer dizer: "Abre-te". Imediatamente, os ouvidos do homem se abriram, sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente. Jesus recomendou, com insistência, que não contassem o ocorrido para ninguém. É que o anúncio do Evangelho e a resposta da fé devem ser os únicos sinais inequívocos da inauguração dos novos tempos que se realizam com sua chegada. Contudo, quanto mais ele insistia, mais a notícia se espalhava! Cheios de grande admiração, todos diziam: "Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem" (Cf. Mc 7,31-37). Em Jesus Cristo se realizam as promessas antigas reportadas pelo profeta Isaías (Is 35,4-7). Ele realiza uma nova criação e é portador da salvação definitiva. Ele é a Salvação!

Os gestos de Jesus, que faz tudo bem feito, os dedos nos ouvidos do homem, a saliva na boca, o suspiro, a palavra forte que abre os sentidos humanos para Deus, conduzem ao nosso batismo, quando fomos introduzidos numa nova vida. Abram-se nossos sentidos da fé para reconhecer o Salvador e participarmos todos da nova criação! A consequência será um olhar otimista em relação às pessoas e situações, começando pela nossa própria vida. A esperança brotará quando entendermos que Jesus não é um milagreiro à nossa disposição, mas o Salvador, cuja presença e ação conferem novo e definitivo sentido à existência.

Os homens e mulheres renascidos pelo batismo são chamados a se comprometerem com esta nova criação. Cabe-lhes passar pela terra fazendo o bem e fazendo tudo bem feito! Nenhum recanto do mundo fique privado da presença dos cristãos. Antes, aceitem o desafio de transformá-lo a partir de dentro. Uma nova mentalidade ilumine o mundo do trabalho, a política, as relações sociais. E os valores da eternidade, já presentes nesta terra pelo mistério de Cristo, se espalharão por toda parte, pois ele faz bem todas as coisas.

Sabendo que somos frágeis para enfrentar tamanha empreitada, pedimos confiantes com a Igreja (oração do dia do vigésimo terceiro domingo do Tempo Comum): "Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem em Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna".

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

5 de setembro de 2012

Diálogar com Deus a partir do cotidiano

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Falar com Deus é deixar que Ele seja o protagonista no nosso ser

Deus fala de muitas maneiras; a oração é, sobretudo, escuta e resposta. Ele fala na Escritura, na liturgia, na direção espiritual, por meio do mundo e das circunstâncias da vida: no trabalho, nas vicissitudes do dia ou no convívio com os outros. Para aprender esta linguagem divina convém dedicar algum tempo a estar a sós com o Senhor.

Falar com Deus é deixar que Ele seja o protagonista no nosso ser. Meditar a vida de Cristo permite entender a nossa história pessoal para abri-la à graça. Deus Pai nos predestinou a sermos conforme a imagem de Seu Filho, e quer ver Cristo formado em nós para que possamos exclamar: "Já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim".

Especialmente no Novo Testamento, o melhor livro de meditação, contemplamos os mistérios de Cristo: revivemos Seu nascimento em Belém, a vida escondida em Nazaré, as angústias da Paixão. Esta assimilação ao Filho é realizada pelo Espírito Santo com eficácia, mas não é um processo mecânico diante do qual o batizado seria apenas um espectador assombrado. Podemos colaborar, filialmente, com a ação divina, dispondo bem à vontade, aplicando a imaginação e a inteligência, dando passagem aos bons afetos.

Era isto que fazia São Josemaria quando entendia seus próprios sofrimentos, ao considerar a agonia de Cristo: E eu, que também quero cumprir a santíssima vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?

Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsemani; mas, prostrado por terra, reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha alma: Pater mi, Abba, Pater, ... fiat!

A Deus falamos quando oramos, e a Ele ouvimos quando lemos as palavras divinas; "a oração deve acompanhar a leitura da Sagrada Escritura para que se realize o diálogo de Deus com o homem", um diálogo no qual o Pai nos fala do Filho, para que sejamos outros Cristos, o próprio Cristo. Vale a pena mobilizar as nossas potências à hora de rezar com o Evangelho.

Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, aplicamos o entendimento para considerar aquele traço da vida do Mestre. Contamos-lhe, então, o que nos costuma suceder nestes assuntos, o que se passa conosco, o que está nos acontecendo. Permaneçamos atentos, porque talvez Ele queira nos indicar alguma coisa: surgirão essas moções interiores, o cair em si, as admoestações.

Trata-se, em resumo, de rezar sobre a nossa vida para vivê-la como Deus espera. É muito necessário, especialmente para os que procuram santificar-se no trabalho. Que obras serão as suas, se não as meditaste na presença do Senhor para as ordenares? Sem essa conversa com Deus, como poderás acabar com perfeição a atividade do dia?

Ao contemplar, por um lado, os mistérios de Jesus e, por outro, os acontecimentos da nossa existência, aprendemos a rezar como Cristo, cuja oração estava toda "nesta adesão amorosa do seu coração de homem ao 'mistério da vontade' do Pai (Ef 1, 9)"; aprendemos a rezar como um filho de Deus, seguindo o exemplo de São Josemaria. A minha oração, diante de qualquer circunstância, tem sido a mesma, com tonalidades diferentes. Tenho-lhe dito: Senhor, Tu colocaste-me aqui; Tu confiaste-me isto ou aquilo, e eu confio em Ti. Sei que és meu Pai e tenho visto sempre que as crianças confiam absolutamente nos pais. A minha experiência sacerdotal confirmou-me que este abandono nas mãos de Deus leva as almas a adquirir uma piedade forte, profunda e serena, que impele a trabalhar constantemente com retidão de intenção.

A oração é o meio privilegiado para amadurecer. É parte imprescindível desse processo pelo qual o centro de gravidade se transfere do amor próprio para o amor a Deus e aos outros por Ele. A personalidade madura tem peso, consistência, continuidade, traços bem definidos que dão um modo peculiar em cada pessoa de refletir Cristo.

A pessoa madura é como um piano bem afinado. Não procura a genialidade de emitir sons imprevistos, de surpreender. O surpreendente é que dá a nota certa e o genial é que, graças à sua estabilidade, permite interpretar as melhores melodias; é fiável, responde de modo previsível e, por isso, serve. Atingir essa estabilidade e firmeza que dá a maturidade é todo um desafio.

Contemplar a Humanidade do Senhor é o melhor caminho para a plenitude. Ele ajuda a descobrir e a corrigir as teclas que não respondem bem. Para alguns será uma vontade que resiste a pôr em prática o que Deus espera deles. Outros podem notar que lhes falta calor humano, tão necessário para a convivência e para o apostolado. Alguns, talvez enérgicos, têm tendência, no entanto, para a precipitação e para a desordem, levados pelos sentimentos.

É uma tarefa que não acaba nunca. Implica detectar os desequilíbrios, as notas que desafinam com uma atitude humilde e decidida a melhorar, sem impaciências nem desânimos, porque o Senhor nos olha com imenso carinho e compreensão. Que importante é aprender a meditar a nossa vida com os olhos do Senhor! Falando com Ele desperta-se a paixão pela verdade; em contato com ela, perde-se o medo a conhecer o que realmente somos, sem evasões da imaginação ou deformações da soberba.

Ao contemplar a realidade a partir do diálogo com Deus, aprende-se também a ler, nas pessoas e nos fatos, sem o filtro flutuante de uma apreciação exclusivamente sentimental ou de utilidade imediata. É também onde aprendemos a admirar a grandeza de um Deus que ama a nossa pequenez ao contemplar tantos mistérios que nos superam.