5 de setembro de 2012

Diálogar com Deus a partir do cotidiano

Imagem de Destaque

Falar com Deus é deixar que Ele seja o protagonista no nosso ser

Deus fala de muitas maneiras; a oração é, sobretudo, escuta e resposta. Ele fala na Escritura, na liturgia, na direção espiritual, por meio do mundo e das circunstâncias da vida: no trabalho, nas vicissitudes do dia ou no convívio com os outros. Para aprender esta linguagem divina convém dedicar algum tempo a estar a sós com o Senhor.

Falar com Deus é deixar que Ele seja o protagonista no nosso ser. Meditar a vida de Cristo permite entender a nossa história pessoal para abri-la à graça. Deus Pai nos predestinou a sermos conforme a imagem de Seu Filho, e quer ver Cristo formado em nós para que possamos exclamar: "Já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim".

Especialmente no Novo Testamento, o melhor livro de meditação, contemplamos os mistérios de Cristo: revivemos Seu nascimento em Belém, a vida escondida em Nazaré, as angústias da Paixão. Esta assimilação ao Filho é realizada pelo Espírito Santo com eficácia, mas não é um processo mecânico diante do qual o batizado seria apenas um espectador assombrado. Podemos colaborar, filialmente, com a ação divina, dispondo bem à vontade, aplicando a imaginação e a inteligência, dando passagem aos bons afetos.

Era isto que fazia São Josemaria quando entendia seus próprios sofrimentos, ao considerar a agonia de Cristo: E eu, que também quero cumprir a santíssima vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?

Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsemani; mas, prostrado por terra, reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha alma: Pater mi, Abba, Pater, ... fiat!

A Deus falamos quando oramos, e a Ele ouvimos quando lemos as palavras divinas; "a oração deve acompanhar a leitura da Sagrada Escritura para que se realize o diálogo de Deus com o homem", um diálogo no qual o Pai nos fala do Filho, para que sejamos outros Cristos, o próprio Cristo. Vale a pena mobilizar as nossas potências à hora de rezar com o Evangelho.

Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, aplicamos o entendimento para considerar aquele traço da vida do Mestre. Contamos-lhe, então, o que nos costuma suceder nestes assuntos, o que se passa conosco, o que está nos acontecendo. Permaneçamos atentos, porque talvez Ele queira nos indicar alguma coisa: surgirão essas moções interiores, o cair em si, as admoestações.

Trata-se, em resumo, de rezar sobre a nossa vida para vivê-la como Deus espera. É muito necessário, especialmente para os que procuram santificar-se no trabalho. Que obras serão as suas, se não as meditaste na presença do Senhor para as ordenares? Sem essa conversa com Deus, como poderás acabar com perfeição a atividade do dia?

Ao contemplar, por um lado, os mistérios de Jesus e, por outro, os acontecimentos da nossa existência, aprendemos a rezar como Cristo, cuja oração estava toda "nesta adesão amorosa do seu coração de homem ao 'mistério da vontade' do Pai (Ef 1, 9)"; aprendemos a rezar como um filho de Deus, seguindo o exemplo de São Josemaria. A minha oração, diante de qualquer circunstância, tem sido a mesma, com tonalidades diferentes. Tenho-lhe dito: Senhor, Tu colocaste-me aqui; Tu confiaste-me isto ou aquilo, e eu confio em Ti. Sei que és meu Pai e tenho visto sempre que as crianças confiam absolutamente nos pais. A minha experiência sacerdotal confirmou-me que este abandono nas mãos de Deus leva as almas a adquirir uma piedade forte, profunda e serena, que impele a trabalhar constantemente com retidão de intenção.

A oração é o meio privilegiado para amadurecer. É parte imprescindível desse processo pelo qual o centro de gravidade se transfere do amor próprio para o amor a Deus e aos outros por Ele. A personalidade madura tem peso, consistência, continuidade, traços bem definidos que dão um modo peculiar em cada pessoa de refletir Cristo.

A pessoa madura é como um piano bem afinado. Não procura a genialidade de emitir sons imprevistos, de surpreender. O surpreendente é que dá a nota certa e o genial é que, graças à sua estabilidade, permite interpretar as melhores melodias; é fiável, responde de modo previsível e, por isso, serve. Atingir essa estabilidade e firmeza que dá a maturidade é todo um desafio.

Contemplar a Humanidade do Senhor é o melhor caminho para a plenitude. Ele ajuda a descobrir e a corrigir as teclas que não respondem bem. Para alguns será uma vontade que resiste a pôr em prática o que Deus espera deles. Outros podem notar que lhes falta calor humano, tão necessário para a convivência e para o apostolado. Alguns, talvez enérgicos, têm tendência, no entanto, para a precipitação e para a desordem, levados pelos sentimentos.

É uma tarefa que não acaba nunca. Implica detectar os desequilíbrios, as notas que desafinam com uma atitude humilde e decidida a melhorar, sem impaciências nem desânimos, porque o Senhor nos olha com imenso carinho e compreensão. Que importante é aprender a meditar a nossa vida com os olhos do Senhor! Falando com Ele desperta-se a paixão pela verdade; em contato com ela, perde-se o medo a conhecer o que realmente somos, sem evasões da imaginação ou deformações da soberba.

Ao contemplar a realidade a partir do diálogo com Deus, aprende-se também a ler, nas pessoas e nos fatos, sem o filtro flutuante de uma apreciação exclusivamente sentimental ou de utilidade imediata. É também onde aprendemos a admirar a grandeza de um Deus que ama a nossa pequenez ao contemplar tantos mistérios que nos superam.

4 de setembro de 2012

Leitura da Bíblia

3 de setembro de 2012

Identidade Masculina

Imagem de Destaque

O pai deseja que o filho seja levado à plena maturidade

Nunca se falou tanto em direitos humanos e dignidade da pessoa quanto nos tempos atuais. Porém, contrário a estes discursos, o cotidiano mostra, cada vez mais, o aumento do número de casos de crimes e violência de cunho sexual. É uma falsa ideia de liberdade que prega o uso do corpo para alcançar prazer, pois, na prática, os resultados têm se mostrado libertinagem e prejuízo próprio. As consequências de tudo isso são, em sua grande maioria, sentidas pelos mais fracos e indefesos, mulheres e crianças. Assim, fica óbvio atribuir ao ser masculino não só a autoria dos crimes, mas um desvio no comportamento dos homens desta geração.


Então, podemos nos perguntar: "O que está acontecendo com o homem – ser masculino? Porque tantos episódios de uso da força e autoridade para estupros e pedofilia? E ainda, porque vemos tantas esposas frustradas com o marido, e filhos com o pai?"

Para responder a tudo isso é preciso recorrer à essência do homem. O Beato João Paulo II disse, num de seus discursos, que "o mistério da masculinidade se revela em toda a profundidade no significado gerador e paterno". Ou seja, a primeira e mais profunda vocação do homem é ser Pai. Seguindo nesta descoberta, encontraremos o sentido completo e a forma ideal de desenvolver a paternidade. Frei Raniero Cantalamessa, pregador oficial do Vaticano, comparou o amor de Deus ao amor humano de pai e mãe, distintamente. Dizia ele: "O amor paterno é feito de estímulo e solicitude; o pai quer o filho crescido e levado à plena maturidade".

A paternidade é feita pela solicitude e pelo estímulo. O homem é aquele que ensina a realizar, trabalhar e, enquanto não vê seu aprendiz chegar à maturidade, ele se faz seu provedor. A realização pessoal masculina está em transformar os elementos do cosmos para si, para a família e para a sociedade. No início, Deus manda que o homem extraia sustento da natureza (Gn 3, 17).

Desde a época das cavernas, foi assim; então, o cérebro dos homens tem sido condicionado a desenvolver diferentes percepções à da mulher. O homem saía para caçar, o que lhe trouxe maiores aptidões em áreas específicas para cumprir esse seu ofício, como um maior senso de direção (localização, orientação, posicionamento), também de foco em um alvo (a presa), o que o tornou mais sensitivo aos apelos visuais, ainda, agilidade e força física.


Também o homem é mais inclinado ao ato sexual por uma razão biologicamente fácil de entender. Ele possui a semente (sêmen), então, a excitação nele diz respeito ao tempo para distribuir as sementes, diferente do organismo feminino que gera e amamenta. Então, buscando desde a troca de olhares, indícios de segurança e companheirismo para o tempo suficiente de criar os filhos, isso fez a mulher levar mais tempo para se convencer do sexo.


Essa erotização e insistente incidência de estímulos sexuais, quase em todos os ambientes em que estamos, podem acabar tirando todo ser humano do domínio de si, de suas forças vitais e, consequentemente, alterando o comportamento social, pois o dom da sexualidade não diz somente respeito aos órgãos genitais, mas de todos os aspectos da pessoa humana, inclusive em sua capacidade de criar vínculos afetivos, até mesmo em amizades (Catecismo da Igreja Católica, 2332).


Por isso, com a revolução sexual e massificação do sexo, o alvo mais suscetível foi o ser mais visual e propenso ao ato em si: o homem. "Quando um homem olha, repetidamente, para uma pornografia, ele encontra dificuldade em se relacionar com mulheres na vida real, pois se acostuma a ver as mulheres como 'objetos a serem usados'. O prazer acintoso toma o lugar do amor e a fantasia substitui a realidade" (O brilho da castidade, Prof. Felipe Aquino, Ed. Cleofas, pág 77).

Sendo tão subjugado por suas paixões, o ser masculino tende a esvaziar de suas capacidades o sentido e a forma plena de canalizar sua essência. Sua força agora será usada para satisfazê-lo, sua autoridade para impor. O vigor próprio do homem, sem estar direcionado para sua finalidade paterna, esvai-se, tornando o homem um indivíduo de mentalidade fraca, sem firmeza e decisão, com medo da vida e suas exigências.

Aprender e assumir ser "chefe de família" corresponde, antes de tudo, a uma responsabilidade e um serviço perante a mulher e os menores na sociedade. Mas, não raro, percebemos muitas famílias que carecem de presença e bom exemplo por parte do pai, tornando esposas acuadas e filhos revoltados. Ou, então, em casos cada vez mais crescentes, estupros e abusos de menores. Quem deveria proteger está sendo treinado a agredir pela indiferença verbal ou fisica. É a animalização do ser masculino. O feminismo também ajuda este processo, quando, declaradamente, toma o lugar do homem na sociedade ou, quando velado, inverte, sorrateiramente, os papéis de homens e mulheres, até fabricando o homem de hoje como um sujeito vaidoso em excesso.


É certo também que as mulheres
, quando apelam para a sensualidade, ajudam que todo o nosso sentido visual desperte instintos primitivos. Mas não precisamos permanecer olhando. Homem, fuja do que lhe é tentador. Não estou buscando culpados, apenas alertando-os dos perigos. Algumas mulheres podem estar contribuindo, mas não são as culpadas. Enquanto não mudarmos o nosso foco e nos inspirarmos na castidade e na pureza da Sagrada Família, nada disto irá mudar. Para todos nós, seres humanos, - falando principalmente aos homens -, começando por aquilo que é visual e com o conteúdo que estamos absorvendo, devemos nos preencher de sentido existencial por meio dos exemplos dos santos e de Cristo Jesus.

Partindo da consciência do que precisamos ser: pais, estimuladores, provedores, presenças, companheiros, castos é que conseguiremos introduzir algo bom no lugar daquilo que é ruim, trocar a violência pelo amor mudando toda uma mentalidade e a sociedade para melhor. Acredito que o olhar puro de um homem é objeto de cura e restauração a muitas mulheres que nunca tiveram isso e é o que nossas crianças esperam de nós.

São José, valei-nos e rogai por nós!

Foto

Sandro Ap. Arquejada
blog.cancaonova.com/sandro

30 de agosto de 2012

Escravos por amor a Jesus Cristo

Imagem de Destaque

Faça-se em mim segundo a vossa palavra

"Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado" (Mt 23, 12).

Estas palavras de Jesus nos colocam diante de uma realidade fundamental acerca de nossa vocação. Como cristãos, somos chamados a acolher a cruz de Cristo em nossas vidas. Ele se humilhou, assumindo a condição de escravo, cuja vida não pertence a si mesmo, mas ao seu senhor. Como Ele, somos chamados a assumir o "ser servo". Para refletir sobre este tema, é muito importante olharmos para a mãe do Servo Sofredor, para a Virgem Maria.

Na Anunciação de que Nossa Senhora seria a Mãe de Jesus (cf. Lc 1, 31), ela responde ao anjo: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a vossa palavra" (Lc 1, 38). Maria não somente se disse serva, mas se coloca a serviço de sua prima Isabel. Depois da resposta de Maria ao anúncio do anjo, ela visitou sua prima, a qual estava grávida de João Batista. Ao ouvir a saudação de Maria, Isabel ficou cheia do Espírito Santo e disse: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!" (Lc, 1, 42b).

Assista também: "Tratado a Verdadeira Devoção à Virgem Maria", com padre Paulo Ricardo


Maria tinha acabado de chegar. Nem mesmo havia se colocado a serviço e foi exaltada pela saudação de Isabel. Esta declara Maria como a bem-aventurada, a realizada pelo fato de ter acreditado no anúncio do anjo: "Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!" (Lc 1,45). Mais ainda, Isabel profetiza o cumprimento da anunciação feita pelo anjo.

Depois das palavras inspiradas de Isabel, em Nossa Senhora, no cântico do "Magnificat", realiza-se a profecia de Isabel. Maria experimenta, naquele momento, a exaltação de Deus: "A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva" (Lc 1, 47-48a). Maria foi exaltada logo depois no anúncio do anjo, porque se fez humilde, fez-se serva do Senhor. Cheia do Espírito, Maria profetiza a exaltação que lhe será dada até o fim dos tempos: "Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz" (Lc 1, 48b).

Como a Virgem Maria, que se fez serva, fez-se escrava do Senhor, somos chamados também a nos fazer servos, escravos por amor do Senhor. Acolhendo com humildade o desígnio de Deus para nós, o Senhor nos promete que seremos exaltados: "quem se humilhar será exaltado" (Mt 23, 12). Certamente, esta exaltação acontece aqui, ainda que não conforme a nossa vontade, e acontecerá plenamente na glória da Jerusalém celeste, onde estaremos na comunhão definitiva com a Santíssima Trindade, a Virgem Maria, os anjos e os santos.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

28 de agosto de 2012

Falando de fé

Imagem de Destaque

Deus age na nossa história, mas precisamos responder a essa ação

Fala-se muito de fé e sobre a fé em nosso meio, mas, afinal, o que é mesmo fé? O que precisamos conhecer de verdade sobre ela? Quando falamos sobre isso, é necessário considerar dois aspectos diferentes que estão interligados e não podem ser separados entre si. 

De fato, se formos levar em conta a teologia na Idade Média, essa reflexão é confirmada. Tal teologia dizia que a fé indica as verdades em que se creem; e que, por sua vez, se professam pela fé; ao mesmo tempo, para indicar a atitude pessoal em que ela consiste, isto é, o abandono total e a confiança da pessoa no encontro e na comunhão com Deus. Esse último aspecto é o verdadeiro fundamento e a substância daquilo que chamamos de fé.

O primeiro aspecto é, em certo sentido, a consequência disso. Agora, como entender melhor tudo isso? Imagino o povo continuamente distraído pelas sequências de vida da sociedade. Como esse povo pode fazer uma experiência de vida diferente, concentrada em um abandono total a Deus? Como fazer o encontro e a relação com Ele no dia a dia do nosso cotidiano? Como entender melhor tudo isso?

A comunicação nos ensina que a melhor recepção das mensagens tem de partir da realidade e do contexto dos envolvidos. Nesse caso, dos fiéis. O Mestre Jesus nos ensinou muito bem, por meio dos Evangelhos, a opção do gênero literário mediado pelos exemplos, isto é, as parábolas. Eu também quero desfrutar essa linguagem da realidade para poder penetrar no grande mistério da fé na nossa vida. 

Um jovem casal, com dois filhinhos, profissionalmente afirmado e com futuro mais promissor ainda, conduzia a vida normalmente, conforme os parâmetros de sucesso da nossa sociedade. Ah, sim, para melhor definir esse perfil, o casal, às vezes, tinha ainda um tempinho para ir à igreja, sobretudo por certas ocasiões sociais. Uma vida normal, conforme os dias de hoje. De repente, aconteceu aquilo que nunca se espera. Eles, acidentalmente, sem culpa nenhuma, perderam a filha menor. Uma desgraça que foi além da própria família. Parentes, amigos, conhecidos e colegas de profissão se sentiram todos abalados. Todos, por sua vez, tentavam mostrar a sua solidariedade, dando até conselhos mais impensáveis. Alguns, inclusive, chegaram a pensar coisas mais tristes, porque perder uma filhinha assim pode gerar somente desespero. Um túnel sem saída. 

No entanto, o jovem casal enfrentou a dura realidade e se deixou questionar pelo dramático evento da vida que aconteceu com ele, isto é, não soube somente chorar, mas soube se interpelar. A linda filhinha, sim, morreu, mas ela se tornou mais viva nos dois, conduzindo-os para profundas reflexões; uma delas foi constatar como ele, casal, por exemplo, nunca tinha tempo para ir à igreja nem para rezar um pouquinho mais ou aprofundar mais sobre a própria conduta religiosa e familiar.

A partir do trágico episódio, o jovem casal começou a se colocar em questão. Daí em diante, com grande e resoluta firmeza, eles se engajaram mais na vida da igreja para promover a pessoa da fé. De fato, o casal não perde mais uma missa aos domingos, participa toda semana do estudo bíblico e é solidário com aqueles que mais necessitam.

O trágico evento provocou o casal a fazer uma experiência diferente, de confiança total na busca de Deus, porque viu que esta vida foge do nosso controle. Por isso, pude ver, nesse caso, como a fé se tornou operante, como esse casal soube reconhecer que não somos nós que garantimos a vida, embora possamos ter todo o poder e riqueza desse mundo.


Assim, começou no casal uma relação de confiança em Deus, mediado pelo encontro com Jesus. Tudo isso mudou o olhar deles sobre a realidade, a concepção dos valores, o mundo dos desejos e nada ficou como antes; a vida interior desse casal e mesmo o comportamento são submetidos a um processo de conversão. Portanto, esse processo de fé começou com o evento da vida (a história) e lhe permitiu favorecer o encontro com Deus por meio de Jesus, e de fazê-lo amadurecer numa relação mais profunda e continuada na vida do jovem casal. Essa experiência de fé, com certeza, abriu-lhe novos horizontes de vida, os quais, dificilmente, se podem entender sem essa ótica de conversão.

Enfim, Deus age na nossa história, nas nossas realidades, mas, ao mesmo tempo, também nós precisamos agir respondendo a essa ação. Sem essa colaboração, é difícil fazer uma experiência de fé, porque Deus pode agir, mas se nós não respondermos, tudo se torna em vão.

Padre Cláudio Pighin
Doutor em teologia, mestrado em missiologia e comunicação

27 de agosto de 2012

Eu e minha casa serviremos ao Senhor!

Imagem de Destaque

Quem não vive para servir, não serve para viver

A frase é de uma das maiores personalidades do século XX, Mahatma Gandhi, que conduziu seu país, a Índia, assim como muitos outros, a encontrar o caminho da independência e da democracia por meio da não violência ativa: "Quem não vive para servir, não serve para viver". Viver para servir! Proposta desafiadora, fonte de realização para todos os seres humanos, caminho de felicidade. Parece-nos encontrar aí uma das muitas sementes do Verbo de Deus, plantadas na sabedoria e na prática religiosa da humanidade, pois a própria Palavra Eterna do Pai encarnada, Jesus Cristo, mostrou a que veio, abrindo perspectivas novas para Seus discípulos e para toda a humanidade: "Eu vim não para ser servido, mas para servir e dar a vida por resgate de muitos" (Mc 10,45). Jesus Cristo veio ao mundo para fazer a vontade do Pai, para servir. 

O Antigo Testamento reporta a história de Josué, a quem foi dada a tarefa de introduzir o povo de Deus na Terra Prometida. Como havia acontecido na chamada Assembleia do Sinai, quando Moisés, em nome de Deus, pediu ao povo a definição de rumos diante da aliança estabelecida, também em Siquém se reúnem todas as tribos de Israel (cf. Js 24,1-18). A escolha de Josué, em nome de toda a sua família, é muito clara: "Eu e minha casa serviremos ao Senhor"! Nas diversas etapas da história da salvação, retorna a provocação positiva que toca no mais profundo da liberdade humana. Trata-se de escolher o serviço a Deus, optar pela fidelidade à Sua Palavra, cumprir Seus mandamentos, assumir a missão confiada àquele povo escolhido. A resposta do povo de Deus a Josué é decidida: "Nós também serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus" (Js 24,18). Durante os séculos que se seguiram, continuamente o Senhor enviou emissários que o chamaram, de novo, à fidelidade!

Veio Jesus, chamou os discípulos e começou uma nova forma de viver. Do meio deles, escolheu apóstolos, criou relacionamento diferente, acolheu crianças, chamou justos e pecadores, derrubou barreiras culturais e religiosas, abriu a estrada da fraternidade. Também o Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, entrou no maravilhoso jogo de provocação à liberdade humana. Depois das primeiras etapas da pregação do Reino e da constituição de uma nova comunidade de irmãos - os chamados evangelhos sinóticos - Jesus pede aos discípulos uma definição: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (Cf. Mt 16,13-20; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21). 

Já o Evangelho de São João, no texto que a Igreja proclama no vigésimo primeiro Domingo do Tempo Comum (Jo 6,60-69), traz uma pergunta altamente provocante, após a multiplicação de pães e o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida: "Vós também quereis ir embora?". Vem de Pedro a resposta que continua a ressoar pelos séculos: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus!" Os discípulos aprenderam a seguir Jesus a partir da fé professada naquele que é Santo de Deus, Messias, Cristo, Filho de Deus. A Igreja não se cansará de proclamar a mesma fé em Jesus Cristo até o fim dos tempos.

Após a Ressurreição, a ascensão de Cristo e o Pentecostes, foi chamado aquele que, perseguidor implacável, veio a ser apóstolo das gentes. É o próprio Paulo quem conta, numa das narrativas de sua conversão, a pergunta que brota no coração de todas as pessoas que se encontram com Jesus Cristo: "Senhor, que queres que eu faça?" (At 22,10) A graça do apostolado continua a se multiplicar na Igreja. Quantas pessoas são chamadas a servir ao Senhor no anúncio da Boa Nova da salvação, nos ministérios e serviços existentes nas Comunidades Cristãs! Que profusão de carismas suscitados pelo Espírito no coração da Igreja, por meio dos quais as palavras do Evangelho são postas em prática e "lidas" nas inúmeras obras de caridade e de serviço existentes em toda parte! E como não reconhecer a beleza do serviço prestado por homens e mulheres, adultos e jovens que desempenham a missão de catequistas em nossas paróquias?

São pessoas que experimentaram a graça do seguimento de Jesus e não podem se calar. São leigos e leigas que, nos serviços internos da Igreja, nas inúmeras frentes de trabalho apostólico e na caridade, podem dizer com o apóstolo São Paulo: "Anunciar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim se eu não anunciar o evangelho!" (1 Cor 9,16).

Por isso, fixem seus corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Com todas estas pessoas, agradecemos a Deus pelo mês dedicado às vocações. Em sua conclusão, temos o direito e o dever de acolher as novas e muitas vocações para o serviço ao Senhor e à Sua Igreja.



Foto

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

20 de agosto de 2012

Oração do Encontro Internacional da Juventude Vicentina 2013

Deus da vida e do amor, 
nós vos louvamos e agradecemos, 
por que nos chamais a seguir vosso Filho Jesus, 
nas trilhas de São Vicente de Paulo.
Conheceis o nosso íntimo 
e sabeis do bem de que somos capazes,
fazei-nos descobrir o sentido da vida 
no ardor da  caridade e da missão,
como amigos solidários dos pobres,
artesãos da justiça e da paz.
Vós, Senhor,
sois a alegria de nossa juventude,
tornai-nos fecundos na oração, 
criativos no serviço e audazes nas tentativas,
missionários de vossa caridade, 
vicentinos felizes, 
livres e comprometidos, 
no caminho do vosso Reino.

Amém.