10 de agosto de 2012

Sacerdotes, nossos pais

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Eles participam das nossas tristezas e alegrias

Todas as religiões sempre se valeram dos préstimos de coordenação dos líderes religiosos. Encontramos gurus, pastores, sacerdotes, pajés, levitas, mães de santos, feiticeiros... Na maior parte dos casos, trata-se de gente de boa fé, querendo prestar serviços à humanidade diante do mundo divino. Até entre os ateus encontramos "apóstolos" que promovem a "evangelização" e querem libertar a raça humana de vãos temores. 

Não lhes nego a possibilidade de reta intenção, mas sabemos que todos esses líderes ocupam posições frágeis. A membrana que separa a verdade da mentira, a retidão da injustiça, a honestidade da exploração, é muito tênue e porosa. Não é fácil passar por tudo isso sem, ao menos, chamuscar as vestes.

Na Santa Igreja, temos uma figura que, em muitos aspectos, participa de eventuais características de fragilidade dos líderes religiosos. Alguns o chamam carinhosamente de padre, de presbítero, de sacerdote, de clérigo ou até de levita. Dentro da economia de salvação, trazida pelo Sumo-Sacerdote Jesus Cristo, a pessoa central na Igreja é o bispo, sucessor dos apóstolos. 

No dia-a-dia da vida da comunidade, a pessoa fulcral é o padre. É ele quem está em contacto permanente com os fiéis, participa de suas tristezas e alegrias, chama as ovelhas cada uma pelo nome, distribui-lhes os tesouros da salvação, organiza a vida religiosa e lhes ministra a Palavra Sagrada.

Nada a estranhar que o povo espere de seus presbíteros
uma grande santidade de vida. Posso garantir aos meus amigos que a preparação dos padres é séria e se estende por vários anos. Mas quero mostrar também que - muitos talvez não o saibam - uma vez ordenados, os sacerdotes passam por uma formação permanente com cursos, reuniões, planejamentos, retiros, dias de estudo e de oração.

Ademais, uma coisa que muitos veem, mas pouco se comenta é que os padres são pessoas quase únicas, pois eles têm a coragem de apostar sua vida nessa nobre missão; deixam de formar uma família para se tornarem pais de uma grande comunidade, pela qual empatam tudo. "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos" (Jo 15,13).


Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo Emérito de Uberaba, MG

8 de agosto de 2012

Eliminando os maus vícios

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Para manter-se fiel é preciso ser coerente


Nossa vida nem sempre está preparada para acolher novidades, projetos novos, etc. A vida pode ser comparada a um campo virgem; no momento em que se deseja plantar nele, é preciso prepará-lo bem. O agricultor, que somos nós, prepara o terreno, busca fertilizar a terra e só depois planta os grãos. Enquanto não era fértil, nada nele crescia, mas agora que o terreno é bom, nele também podem crescer sementes de outras plantas que não foram semeadas, que estavam ali antes do solo ser adubado e que colocam em risco a boa semente. Assim também acontece com um ideal.

Ao lado de um ideal, surgem também vícios e hábitos adquiridos antes dele, os quais, se não forem combatidos, acabam por ferir ou mesmo destruir todo o objetivo, todo o projeto e, por fim, toda a vida. Não é possível cultivar costumes de naturezas diversas no mesmo campo. No Evangelho de Mateus (Mt 13), encontramos a parábola do semeador e vemos os riscos que a semente corre para seu desenvolvimento, porque o terreno está cheio de hostilidades. Se os espinhos crescem ao lado da boa semente, podem vir a sufocá-la. O ideal, que é a semente, era boa; a terra era de boa qualidade e fertilizada, mas as pragas do campo terminaram por sufocar a semente.

O bom trigo não cresce onde os espinhos não são arrancados. Por isso, se não arrancamos de nós os hábitos contrários aos nossos projetos, eles acabarão sufocando aquilo que de bom estávamos cultivando. Ao lado de um ideal sempre crescem seus opostos; se algo é exigente, a preguiça e a distração logo se achegam como uma força contrária que impulsiona a abandonar tudo. Podemos ter os melhores projetos e propósitos, mas se não estivermos atentos às vozes contrárias que se insinuam, desorganizam nossa vida e enfraquecem nossas determinações, teremos nosso terreno, onde foi semeado o bom trigo, transformado em um grande matagal de espinhos; pior ainda quando se termina por apenas justificar a infidelidade e abandonar o terreno.

É sempre muito forte em nós um hábito antigo, um vício, etc. Se não ficarmos atentos, podemos, depois de ter trabalhado tanto, ter nosso terreno transformado em selva. Imagine tanto tempo e esforço investido em algo que, depois, termina em nada, porque faltou o último esforço. Parecendo com alguém que prepara um bolo e, depois, o deixa queimar no forno, perdendo, assim, os ingredientes e o esforço, ainda sobrando a fôrma para ser lavada.

Um exemplo disto nos dá São Paulo (1Cor 9,24-25): "Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio. Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem para conseguir uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível".

Não se compreende alguém que, desejando um casamento feliz, não procura crescer nas qualidades necessárias para um bom matrimônio e termina por destruí-lo apenas por não ter lutado contra os hábitos incompatíveis a ele. Ou alguém que, num momento de dificuldade, não busca adequar seu jeito de ser ou comportamento, de tal forma que possa superar o problema. A boa disposição deve comportar a capacidade de privar-se daquilo que é menor que o ideal, de tal forma a poder conquistá-lo. Não é possível ficar com a melhor parte de tudo.

Para manter-se fiel e perseverante é preciso ser coerente. Quando se propõe uma meta, um ideal de vida e um crescimento é preciso limpar a alma do vício que lhe é contrário. Interessante que uma gota de veneno em um copo de água limpa torna toda a água um veneno; mesmo a proporção do mal sendo pequena, ele é sempre nocivo. É preciso escolher. Não pode haver incompatibilidade entre os ideais e os meios para atingi-los. Devemos rejeitar tudo que é incompatível com nosso ideal de vida para conseguirmos realizá-lo um dia. Uma vez que se deseja algo também é preciso desejar os meios corretos que conduzem a ele, mesmo que existam incômodos que, se rejeitados, conduziriam o ideal ao fracasso.

Deus os abençoe e até o próximo artigo na semana que vem!

Padre Antônio Xavier - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/padrexavier

6 de agosto de 2012

Apaixonei-me pelo meu amigo

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Nossas carências podem ofuscar nossa visão

Em nosso dia a dia, estamos sempre abertos a viver novas experiências, pois sabemos que a conquista de novas amizades é algo que nos faz crescer. Dessas amizades, há aquelas com quem mantemos maior empatia e, sem grandes dificuldades, estabelecemos grandes vínculos.


Com isso, a conversa flui com facilidade, a simpatia da pessoa nos atrai e as nossas afinidades nos levam a "baixar a guarda" de nossos medos e receios. Sem perceber, está estabelecida uma reciprocidade com quem não hesitamos em partilhar nossas conquistas, vitórias, alegrias, medos, sonhos e, até mesmo, de partir em defesa dessa pessoa se necessário for.

O zelo e o cuidado mútuo alimentam os nossos sentimentos, estreitando e valorizando, fortemente, os laços com os quais estamos envolvidos. Isso faz com que nos tornemos cada vez mais próximos um do outro.

A íntima relação com tal pessoa poderá nos conduzir por veredas, onde a atmosfera estabelecida, tiraria o fôlego de nossa razão e ofuscaria nossa visão, a ponto de acharmos que estamos apaixonados. Tomados por essa sensação, podemos permitir viver outro tipo de envolvimento, somente pelo fato de sermos objeto da preocupação e da atenção recebida da pessoa querida, senão da amizade.

A liberdade que encontramos dentro de tal relação poderá nos abalar emocionalmente, de maneira especial, se estivermos atravessando momentos delicados em outras esferas de nossos relacionamentos. Algumas vezes, podemos viver certos tipos de carências que precisam ser sanadas, a fim de não confundir nossas emoções dentro de um relacionamento que já foi estabelecido ou o que ainda está por se estabelecer. 

Quais limites poderiam nos valer, como alerta, a respeito de outros sentimentos que poderiam emergir entre uma grande amizade que se desponta? Assim como o valor de um diamante se concentra na ausência de impurezas, nossos sentimentos, da mesma forma, precisam ser lapidados, eliminando as impurezas que podemos trazer para dentro de uma nova experiência, especialmente, quando nos sentimos perdidos no "oceano" de nossas carências.

Tal compromisso não isenta aqueles que são apenas amigos ou outros que já vivem o compromisso de namorados; mas também aqueles que já partilham com outra pessoa um estado de vida definitivo, pois ninguém está livre das crises que poderão abrir as portas para outros tipos de afeições.

Os resultados obtidos dessa experiência poderão não ser tão tranquilos quando nos deixamos envolver pelos desejos potencializados, por outras necessidades, e não aquelas que anteriormente intencionávamos estabelecer.

A linha que separa e define as fronteiras de nossos relacionamentos é tênue, mas se estabelece na clareza daquilo que buscamos fundamentar em nossas amizades, especialmente quando se trata do convívio com o sexo oposto.

Precisamos entender que as confusões de nossos sentimentos, quase sempre, está relacionadas a algum outro tipo de cuidado que deixamos de experimentar, o qual poderia nos ludibriar com o menor gesto de atenção, recebidos da pessoa com quem estabelecemos contato.

Dessa forma, para evitar que surja, dentro de uma grande amizade, segredos que poderiam causar sofrimentos para todas as demais pessoas com quem convivemos, precisamos estar atentos a qualquer tipo de intimidade ou aproximação que não caberia no relacionamento, o qual procuramos manter com o (a) amigo (a).

Certamente, a postura contrária para aquilo que os nossos sentidos clamam diante da possibilidade de um envolvimento não será fácil. Assim, a outra pessoa, percebendo os caminhos pelos quais a amizade está se enveredando e as circunstâncias pelas quais fazem crescer outros apelos, precisará também buscar forças para a retomada do equilíbrio daqueles sentimentos fugazes que ambos se encontram envolvidos e que podem esvaziar a beleza daquilo que poderia ser uma pura amizade.

Deus abençoe nossas amizades!

1 de agosto de 2012

Michael Thio em visita a Brasília

07.08.2012


Hoje (2012) com 67 anos de vida, 45 anos de confrade, proclamado aos 22 anos de idade, este é o perfil do dedicado e novo presidente do CGI, Michael Thio, eleito em 2010 para um mandato de 06 anos.

Ele teve 87 votos concorreu à vaga com mais três candidatos: o israelense Karim Albert Cheikho-3 votos; e os brasileiros Cristóvão Gomes Gonçalves-8 votos e Nélson Antônio de Souza-1 voto.

Nascido em 1945, Michael Thio entrou para a SSVP no ano de 1967. Foi secretário e, logo depois, presidente de Conferência, CP e do Conselho Nacional de Cingapura. Entrou no CGI em 1988 (com 21 anos de confrade) na função de coordenador, depois, passou aos cargos de Vice-presidente Territorial Internacional para a Ásia e Oceania; Vice-presidente Geral Adjunto para Estrutura e Vice-presidente Geral até junho de 2009. Também foi presidente da Comissão Técnica Territorial desde 2005.

PROPOSTAS DE TRABALHO:

 

01-Buscar e reforçar a internacionalização da Sociedade de São Vicente de Paulo;

02- Empreender uma iniciativa de marketing e comunicação para promover e dar notoriedade à SSVP, contribuindo também com o recrutamento de novos membros, em particular os jovens;

03- Estender nossos serviços e apostolado pelo projeto de 'Mudança de estruturas';

04- Estender nossa colaboração com outros membros da Família Vicentina e outras organizações missionárias e de caridade; católicas e cristãs;

05- Reforçar a formação espiritual dos membros e líderes, com programas de desenvolvimento e formação, com a contribuição da Fundação Bailly e Lallier;

06- Conservar uma situação financeira sólida para a continuação da ajuda global aos menos favorecidos;

07- Trabalhar com o estabelecimento oficial da Sociedade na China que, devido ao elevado índice populacional, nos dá uma grande oportunidade de incluirmos nosso apostolado;

08- Manter uma relação sólida com a hierarquia da Igreja, e defender os oprimidos e os Pobres, promover o respeito dos Direitos Humanos para restaurar e preservar a dignidade humana.

 

NO BRASIL

 

Michael Thio vindo participar do aniversário de fundação (04.08.1872) da Conferência São José no Rio de Janeiro – R.J. a 1ª do país, quer conhecer a organização da SSVP brasileira e a forma como o maior país vicentino do mundo organiza os trabalhos. Em visita ao Brasil, no mês de agosto, ele pretende conhecer todos os processos pelos serviços aos Pobres. "Será muito interessante visitar o Brasil e ver, por mim mesmo, a organização da SSVP e o grande trabalho que os vicentinos brasileiros estão fazendo em servir a Cristo nos Pobres e necessitados", disse em entrevista à revista Boletim Brasileiro, edição julho/agosto. Ele também quer conhecer os desafios enfrentados pelos confrades e consocias brasileiros. "O Brasil é o maior país vicentino, com o maior número de vicentinos e elevada participação dos jovens. É um país muito grande, e eu tenho certeza que servir aos necessitados apresenta um grande desafio aos membros da SSVP local", afirma. Um dos temas tratados durante a visita será a possibilidade de a SSVP brasileira trabalhar focada no projeto 'Mudança de Estruturas', visando à retirada do vulnerável do ciclo de pobreza, tornando-o independente. "Desta forma, ajudar a restaurar-Lhe a dignidade da pessoa humana. Assim, Ele e Sua família poderão levar uma vida humana normal", reforça Michael Thio. O presidente internacional passará por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

O que o presidente do CGI significa para todos os vicentinos?

Significa o traço de união e autoridade moral. Representa a SSVP junto a Santa Sé e junto de todos os organismos internacionais religiosos e civis, e de uma maneira geral junto de qualquer entidade pública ou privada. Ele personifica a unidade da sociedade no mundo.

Transmissão da palestra em Brasília: www.ustream.tv/channel/ssvp-brasilia

Fiquem todos com Deus

Cfd Mago Rabelo

Maria, humana como nós

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Ela foi a pessoa que melhor realizou a vontade de Deus

O gênero humano possui duas naturezas: a corporal e a espiritual. (CIC, 2337). Uma bonita característica desta realidade é que tudo aquilo que somos neste mundo têm como finalidade última revelar a nossa identidade eterna, como disse o Papa João Paulo II em uma de suas catequeses: "O corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível. Foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério oculto desde a eternidade em Deus, e assim ser sinal d'Ele (Teologia do Corpo, nº 19, de 20/02/1980).

Até a essência humana do "Homem-Deus" teve esse propósito: "a pessoa humana do Cristo pertence 'in proprio' à pessoa divina do Filho de Deus, Sua vontade e inteligência têm como primazia a revelação do ser espiritual da Trindade (CIC, 470).

Podemos identificar uma mostra disso ao checar a vida dos santos, aqueles que já alcançaram a glória junto ao Altissímo, mas que, desde sua vida terrena, enquanto peregrinos neste mundo, demonstravam habilidades, carismas e dons que faziam parte da identidade eterna a respeito deles.

Perceba que aqueles que foram elevados aos altares, os mais conhecidos, são tidos como padroeiros e intercessores de causas específicas conforme suas experiências vividas em sua passagem aqui na terra. Dom Bosco, hoje no céu, continua intercedendo pelos jovens; São Lucas, médico (cf.Cl 4,14), é padroeiro destes profissionais da medicina; Santa Cecília, musicista, é auxiliar espiritual dos músicos, e assim por diante.

Neste contexto, destacamos Maria Santíssima. Ela foi a pessoa humana que realizou, da maneira mais perfeita, a obediência da fé (CIC, 148), por isso está acima de todos os santos. Ela teve, em sua humanidade, a dádiva de ser mãe como maior incumbência e a mantém na eternidade. Tudo nela diz respeito à maternidade.

Aquilo que conhecemos a seu respeito, proclamado pela Igreja em seus títulos, já tinham um traço, uma característica que ela desenvolveu em sua vida neste mundo. A personalidade, a alegria, o silêncio, o serviço, a feminilidade, a prontidão, o ser educadora, a intimidade, o modo particular de ser mãe, correspondem ao cuidado que Cristo desfrutou e que, ainda nos tempos de hoje, nós também podemos obter de Maria. Nisso tudo, ela antecipava o ser "Auxiliadora", "Rainha de Paz", distribuidora de "Graças", "Medianeira", mulher "das Dores" etc.

Nela, o "dom da maternidade" atinge seu significado mais profundo e perfeito desde sempre e para sempre.

Maria, a mãe de Jesus, é e sempre será a mãe de toda a Igreja. Sem nenhuma exceção, aqueles que são gerados no Cristo herdam a filiação do Pai das Misericórdias e também dessa Mãe Dulcíssima, que nos acolhe e nos ama, pois, somos membros do Corpo Místico de Jesus, no qual Sua dimensão física foi gerada por Maria.

Ela é o modelo de mãe que concebe o corpo e também cuida para que o filho alcance a plenitude da vida espiritual e da vontade de Deus a seu respeito.

Ao vislumbrar o rosto humano da Virgem de Nazaré, seremos impulsionados a aumentar nosso amor, nossa devoção e entrega a Nossa Senhora, como também será uma provocação, partindo dos exemplos de Maria, a encontrar a iniciativa do Senhor no sentido de nossa própria existência, conhecer o que Deus pensou a nosso respeito para esta vida e para a eternidade.

Maria, mãe da ternura, rogai por nós!
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Sandro Ap. Arquejada
blog.cancaonova.com/sandro

30 de julho de 2012

O homem tem medo da verdade

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Mas ela tem espaço e destino certo

"A humanidade não aguenta muita realidade". T. S. Eliot (1888-1965)

Dom Quixote é um personagem bem conhecido na ficção, criado no século XVI pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes. Seu clássico romance leva o nome desse personagem. Nessa história, Dom Quixote enche sua mente com lendas e fábulas sobre corajosos cavaleiros vestidos com armaduras reluzentes, salvando donzelas em perigo. Logo, começa a imaginar que ele mesmo é um nobre cavaleiro.

Em um famoso episódio, Dom Quixote ataca um grupo de moinhos de vento, acreditando que são um bando de gigantes perigosos. Achando que está servindo aos interesses de Deus por matar esses gigantes, ele acaba sofrendo completa humilhação.  

Por que Dom Quixote de la Mancha é um dos romances mais lidos do mundo? Possivelmente, porque o herói só se deixa governar pela fantasia. Nós nos identificamos com o personagem, porque ele não quer saber da realidade, desconhece inteiramente o limite entre o imaginário e o real. 

Escreve a psicanalista e escritora Betty Milan: "Os personagens de romance encontram soluções mágicas para os seus dramas. Já nós somos obrigados a aceitar a realidade".

A ilusão, a fantasia, a sedução da luxúria, o engodo pelo capital e a imaginação gananciosa, tudo isso está no contexto da arte do engano. Teologia da prosperidade, astrologia, reencarnação, cartomantes, bruxarias, amuletos, simpatias, paranormalidades, objetos voadores não identificados, pseudociência e rezas supersticiosas. Tudo isso desvia a pessoa para a idolatria e para o falso sistema religioso. Os profissionais líderes da arte do engano sabem que estão servindo seus interesses e os enganados são roubados e humilhados.

Os novos movimentos religiosos têm se constituído em uma indústria sectária financeira. As atuais seitas são empreendimentos capitalistas assustadores! Elas controlam seus fiéis por meio da alienação doutrinária herética. Nenhum ator no mundo desempenha um papel tão excelente como os líderes religiosos sectários no teatro da hipocrisia. Esses tais líderes sofrerão humilhação e condenação. Não é fácil viver a realidade com a verdade, principalmente na atual babel religiosa.

A internet legitima a vida virtual, parcial, superficial e infernal. A pós-modernidade agrega muito bem a face oculta da personalidade doentia e criminosa. Engabela-se com erros refinados na era da globalização. Dizia Santo Agostinho: "os que não se deixam vencer pela verdade serão vencidos pelo erro".

O mundo é tremendamente ilusório e fantasioso, porque a realidade é dura demais. No entanto, a verdade tem seu espaço garantido e seu destino certo.

Padre Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja

25 de julho de 2012

Quem quer ir para o céu?

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Ele é o fim último e a realização de nossas aspirações

O título faz parte de uma história que se conta por aí. Durante um encontro de ensino religioso, a catequista pergunta aos pequerruchos que estão em sua frente: "Quem quer ir para o céu?" Todas as crianças levantam a mão e respondem em coro: "Eu vou!". Umas delas, porém, fica em silêncio. "Você não quer?", indaga curiosa a mestra. E ela: "Não, porque mamãe me disse para voltar logo para casa após a catequese!".

Passando da brincadeira para a realidade, se conhecêssemos, verdadeiramente, quem é Deus e o que significa "Paraíso", seríamos atraídos, irresistivelmente para eles, infinitamente mais do que acontece com a lei da gravidade. Infelizmente, ao longo da vida, tantos e tão fortes  "falsos brilhos" aparecem, que, lentamente, dia após dia, nos tornamos cada vez mais cegos às "coisas do céu" e atraídos pelas "coisas da terra".

Mas, o que é o céu? Para começo de conversa, poderíamos lembrar que sua existência era aceita até mesmo fora do judaísmo, famoso é o exemplo apresentado por Platão. Para ele, o mundo se assemelha a uma caverna escura, habitada por pessoas acorrentadas, de costas para a entrada. Do lado de fora – ou seja, envolvidas pela luz e pela beleza do sol – caminham e trabalham outras pessoas, cheias de vida. É a sombra delas que se reflete no fundo da caverna – sombra que, para os aprisionados, é a única realidade percebida e, portanto, existente.

Para Platão, o frenético corre-corre que atordoa e inferniza os habitantes deste mundo é uma aparência enganosa. A realidade que sustenta e dá sentido a tudo é Deus. Com o filósofo concorda um salmista judeu, que escrevia, mais ou menos, na mesma época: "Setenta anos é a duração de nossa vida. Oitenta, para os mais robustos. A maior parte deles é sofrimento e vaidade. Passam depressa e nós voamos. Ensina-nos, Senhor, a contar os nossos dias, para que tenhamos a sabedoria do coração!" (Sl 90,10.12). 

Na "Escola de Atenas", uma obra estupenda do pintor renascentista italiano Rafael Sanzio, Platão aparece com o dedo apontado para o alto, e Aristóteles, para o chão. É a síntese perfeita da missão do cristão. Quanto mais ele olha para o céu, mais aprende a olhar para a terra. Quanto mais Deus estiver presente em sua vida, mais perfeito e concreto será seu amor pelos irmãos que caminham ao seu lado. Foi provavelmente isso que os anjos quiseram ensinar aos apóstolos no dia da Ascensão de Jesus: "Homens da Galileia, por que ficais aí, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que foi elevado ao céu, virá novamente para vós!" (At 1,11).

Se Jesus "virá novamente no meio de nós", o céu deixa de ser uma casa que se constrói na terra e se ocupa somente após a morte. Pelo contrário, se alguém, já aqui na terra, conseguir transformar a sua vida numa morte ininterrupta ao egoísmo, cada ato seu corresponderá uma nova experiência de paraíso, até a última, quando ele mesmo se identificará com o céu: "Desde agora já somos filhos de Deus, embora ainda não se tenha tornado claro o que vamos ser. Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele é" (1Jo 3,2).

Ao tentar descrever o céu, o Catecismo da Igreja Católica faz esta reflexão: "O céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva. Viver no céu é viver com Cristo. Os eleitos vivem nele, mas lá conservam, ou melhor, lá encontram sua verdadeira identidade, seu próprio nome". Este mistério de comunhão bem-aventurada com Deus e com todos os que estão em Cristo supera toda compreensão e toda imaginação. A Escritura nos fala dele em imagens: "O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração humano não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam" (1Cor 2,9)».

Por tudo isso – e por mil outras razões –, Santa Teresa de Ávila repetia para si mesma: "Espera, ó minha alma, espera! Ignoras o dia e a hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência torne duvidoso o que é certo e longo um tempo que é curto. Considera que, quanto mais lutares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te alegrarás um dia com Teu Bem-Amado numa felicidade e num êxtase que não poderão jamais terminar".
 

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)