18 de julho de 2012

Onde está teu irmão?

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O Senhor o convida a olhar para o lado

Essa interrogação é central na importante narrativa do Livro do Gênesis, capítulo cinco. Deus perguntava a Caim sobre seu irmão Abel. Caim tinha matado Abel e, ao ser interrogado, cinicamente, respondeu não saber. Essa página remete o povo de Israel a um capítulo fundamental de qualquer antropologia consistente. A narrativa tem escopo educativo que alimenta o sentido da transcendência de toda pessoa humana.

Nos tempos de hoje, essa interrogação de Deus precisa ecoar nas consciências para que sejam banidas a arbitrariedade e a violência, refletidas nas discriminações e no massacre de inocentes. Entre esses absurdos, representa um grave perigo a onda abortista, que não pode ganhar espaço e consideração lícita para que a sociedade contemporânea, por egoísmo e falta de moralidade, trate a vida como produto descartável. Com o objetivo de evitar esse caminho, é preciso redobrada atenção no acompanhamento da movimentação governamental e político-partidária para fazer contraponto às propostas de legalização do aborto, com a determinação de derrubá-las.

Outra situação preocupante, na qual cabe a pergunta central para recuperação e configuração de uma antropologia sem selvagerias - "Onde está teu irmão?", refere-se à população de rua. É preciso sensibilidade cidadã para abominar e impedir as barbáries contra homens e mulheres que vivem nas ruas das cidades, especialmente nas regiões metropolitanas. Nesse sentido, é importante conhecer a realidade desses irmãos e irmãs mais pobres, apoiar projetos sociais sérios de investimento na integridade dessas pessoas e na constituição dos quadros próprios para a vivência de sua cidadania. Trata-se do desenvolvimento de processos que têm lógicas e dinâmicas próprias, em contraposição a qualquer tipo de entendimento que se enquadre na lógica da "limpeza urbana", do simples esconder para não comprometer a aparência de cidades e bairros.

Como advertência e necessidade de incluir na agenda social de todos, olhando a realidade de nossa inserção e calculando a gravidade das situações, é importante não esquecer os relatos que merecem reflexão e o posicionamento sério de cada um. São casos de homicídio ou tentativas de assassinato, como a que aconteceu em 15 de abril de 2011, com oito moradores de rua no bairro Santa Amélia, vítimas de envenenamento. Pela manhã daquele dia, oito moradores encontraram uma garrafa de pinga na praça onde dormiam e, após beberem, começaram a passar mal. Graças a Deus, não houve vítimas fatais. 

Alguns meses depois, em outubro, três homens tiveram seus direitos desrespeitados ao serem levados para um suposto abrigo com a promessa de tratamento contra dependência química. No entanto, foram colocados em cárcere privado para trabalho escravo. Em julho do ano passado, um morador de rua morreu após ter o corpo queimado no bairro Ipiranga, em Belo Horizonte (MG). Um mês depois, em agosto, quatro pessoas não identificadas, em uma caminhonete preta com vidros escuros, dispararam tiros em direção a um grupo de moradores de rua. Entidades que trabalham com direitos humanos e com pessoas em situação de rua são fontes fidedignas desses e de muitos outros relatos.

Essa realidade precisa ser tratada com a consciência iluminada pelo princípio moral que reza o quinto mandamento da Lei de Deus: "Não matarás." A vida humana é sagrada. A ninguém é lícito destruir um ser humano. O Catecismo da Igreja Católica ensina que esse quinto mandamento proíbe, indicando como gravemente contrários à lei moral, o homicídio direto e voluntário, o aborto direto, bem como a cooperação com ele; a eutanásia direta, que consiste em por fim à vida, por ato ou omissão de ação devida para com pessoas deficientes, doentes ou próximas da morte, e o suicídio.

A moralidade advinda da sacralidade da vida faz com que cada um reconheça o dever de zelar pela existência de todos. Nas grandes cidades é expressivo o número de pessoas que vivem nas ruas. Homens e mulheres que requerem cuidado especial, projetos de inclusão, participação e reinserção. Inaceitáveis são a violência e os assassinatos no tratamento dessa grave problemática social. Pelos que vivem nas ruas, por todos, ecoe nas consciências o dever de responder: "onde está teu irmão?".


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

16 de julho de 2012

Bateu aquela tristeza?

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Não se perca em seus sentimentos

As expressões "estou triste" ou "estou deprimido" parecem tão comuns em nossos dias, mas pouco paramos para pensar no que nos leva a esses "estados de tristeza". Mais ainda: algumas pessoas pensam tanto nela, que alimentam, eternamente, um sentimento que, usualmente, representaria e expressaria apenas uma fase passageira de sua vida. 

Situações difíceis e estressantes exigem de nós uma capacidade de adaptação que nos permite voltar a alcançar um estado emocional normal. Pensar naquilo que é positivo é uma forma de superar os momentos de tristeza sem negá-los, mas, também, sem valorizar fortemente tal situação. Buscar atividades sociais, esportivas e de lazer também são formas externas de lidar com este sentimento.

Estar triste e sentir tristeza são condições psicológicas que fazem parte da vida humana, e não há por que temer vivenciar tal estado. Sentir dor pela perda, viver o luto, terminar um namoro, ter frustrações nas amizades  e experimentar que a vida não é feita só de alegrias é o conjunto dinâmico e equilibrado da vida. Porém, muitas vezes, desenvolvemos respostas emocionais negativas e, a partir delas, tudo se torna uma tristeza constante; ou mesmo criamos nossos filhos deixando-os "protegidos" de qualquer ameaça. 

Depressão é muito mais do que uma tristeza, mas esta, se for cultivada e excessivamente valorizada, pode se tornar uma doença. Ficar triste faz parte da vida, não precisa de tratamento e nos permite experimentar o lado bom e o ruim da vida. Muitas pessoas evitam, a todo custo, o sofrimento ou mesmo evitam que as pessoas ao seu redor sofram. Com isto, apenas alimentam uma vida de conto de fadas. O tempo da tristeza é relativo e está bastante relacionado ao tipo de situação que vivemos. 

Por outro lado, pense no seguinte: nosso tempo nos coloca um ritmo para que vivamos os processos da vida sem dor, sem sofrimento e com muita rapidez. Não admitir a armagura é um mecanismo de defesa, algo que nos protege, que faz com que evitemos as situações.

O que a tristeza tem para nos ensinar? Nem toda melancolia é depressão, nem tudo é curado com remédios. Encarar as situações negativas com serenidade, observando os fatos e as consequências é muito importante. Quando admitimos que somos parte de um problema, podemos rever nossas atitudes e crescer. Ao fazer o papel de vítima – que pode ser mais confortável e bastante cômodo – não assumimos nossas culpas e "terceirizamos" nossos os problemas. Sempre haverá um culpado, uma situação difícil ou coisa assim. Mas vale lembrar também o quanto algumas pessoas têm uma visão extremamente negativa de si, sem perceber nada de positivo no que fazem, olhando o mundo por um olhar altamente crítico, negativo; apenas valorizando as desolações.

A satisfação é feita de frustrações, de perdas e dores. Evitar o sofrimento é como "negar" uma parte importante da vida e experimentar apenas o imediato, a necessidade urgente de estar melhor, as alegrias de um mundo que cultiva o imediatismo e o prazer de uma vida fácil. Nesta reflexão, faço a você um novo convite: que possamos dar um significado às tristezas da vida sem fugir delas, mas saindo fortalecidos desta batalha, superando as dificuldades do momento, valorizando as experiências e retomando o ciclo normal de nossas vidas. Não há solução fácil, mágica ou imediata, mas é algo possível a partir da nossa iniciativa e nosso empenho, com uma forma diferente de encarar a vida.

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12 de julho de 2012

Por que creio na Igreja?

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Ela tem sua origem e fim no desígnio de Deus

A Igreja é um mistério (cf., por ex., Rm 16, 25-27), quer dizer, uma realidade na qual entram em contato e comunhão Deus e os homens. Igreja vem do grego "ekklesia", que significa assembleia dos convocados. No Antigo Testamento, foi utilizada para traduzir "quahal Yahweh", ou assembleia reunida por Deus para honrá-Lo com o culto devido. São exemplos disso a assembleia sinaítica e a que se reuniu em tempos do rei Josias com o fim de louvar ao Senhor e voltar à pureza da Lei (reforma). No Novo Testamento, existem várias significações, em continuidade com o Antigo, mas designa especialmente o povo que Deus convoca e reúne desde os confins da terra para constituir a assembleia de todos aqueles que, pela fé em Sua Palavra e pelo batismo, são filhos de Deus, membros de Cristo e templo do Espírito Santo (cf. Catecismo, 777; Compêndio, 147). 

Na Sagrada Escritura, a Igreja recebe diversos nomes, cada um dos quais sublinha especialmente alguns aspectos do mistério da comunhão de Deus com os homens. "Povo de Deus" é um nome que Israel recebeu. Quando se aplica à Igreja, novo Israel, quer dizer que o Senhor não quis salvar os homens isoladamente, mas constituindo-os em um único povo, reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que o conhecesse na verdade e o servisse santamente . Significa, também, que ela foi escolhida por Deus, que é uma comunidade visível que está a caminho – entre as nações – até sua pátria definitiva. Nesse povo, todos possuem a comum dignidade dos filhos de Deus, uma missão comum, ser sal da terra, e um fim comum, que é o Reino de Deus. Todos participam das três funções de Cristo: real, profética e sacerdotal (cf. Catecismo, 782-786).

Quando dizemos que a Igreja é o "Corpo de Cristo", queremos sublinhar que, pelo envio do Espírito Santo, Cristo une os fiéis intimamente consigo, principalmente na Eucaristia, incorpora-os na Sua Pessoa, pelo Espírito Santo, mantendo-se e crescendo unidos entre si na caridade, formando um só corpo na diversidade dos membros e funções. Indica-se também que a saúde ou a doença de um membro repercute em todo o corpo (cf. 1Cor 12,1-24), e que os fiéis, como membros de Cristo, são seus instrumentos para atuar no mundo (cf. Catecismo, 787-795). A Igreja é também chamada de "Esposa de Cristo" (cf. Ef 5,26 ss), o que enfatiza, dentro da união, que ela mantém com Cristo, a distinção de ambos os sujeitos. Assinala também que a Aliança de Deus com os homens é definitiva, porque Ele é fiel às Suas promessas, e que a Igreja Lhe corresponde, da mesma forma, fielmente, sendo Mãe fecunda de todos os filhos do Senhor. 

A Igreja é também o "templo do Espírito Santo", porque Ele vive no corpo da Igreja e a edifica na caridade, com a Palavra de Deus, com os sacramentos, com as virtudes e os carismas [4]. Como o verdadeiro templo do Espírito Santo foi Cristo (cf. Jo 2, 19-22), esta imagem também enfatiza que cada cristão é Igreja e templo do Espírito Santo. Os carismas são dons que o Espírito concede a cada pessoa para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e, particularmente, para a edificação da Igreja. Aos pastores compete discernir e avaliar os carismas (cf. Ts 5,20-22; Compêndio,160). 

"A Igreja tem sua origem e realização no desígnio eterno de Deus. Foi preparada na Antiga Aliança com a eleição de Israel, sinal da futura reunião de todas as nações. Fundada pelas palavras e ações de Jesus Cristo, foi formada sobre tudo mediante Sua Morte redentora e Sua Ressurreição. Mais tarde, manifestou-se como mistério de salvação mediante a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Ao final dos tempos, alcançará sua consumação como assembleia celestial de todos os redimidos" (Compêndio, 149; cf. Catecismo, 778).

Quando Deus revela Seu desígnio de salvação, que é permanente, manifesta também a forma como deseja realizá-lo. Esse desígnio não terminou com um único ato, mas foi primeiro preparando a humanidade para acolher a salvação; somente mais adiante revelou-o plenamente em Cristo. Esse oferecimento de salvação na comunhão divina e na unidade da humanidade foi definitivamente outorgado aos homens por meio do dom do Espírito Santo que foi derramado nos corações dos crentes, colocando-os em contato pessoal e permanente com Cristo. Sendo filhos de Deus em Cristo, nos reconhecemos irmãos dos demais filhos de Deus. Não há uma fraternidade ou unidade do gênero humano que não se baseie na comum filiação divina, a qual nos foi oferecida pelo Pai em Cristo; não há uma fraternidade sem um Pai comum, ao qual chegamos pelo Espírito Santo.

A Igreja não foi fundada pelos homens; nem mesmo é uma resposta humana nobre a uma experiência de salvação realizada por Deus em Cristo. Nos mistérios da vida de Cristo, o ungido pelo Espírito, cumpriram-se as promessas anunciadas na Lei e nos profetas. Pode-se dizer também que a ação da Igreja coincide com a vida de Jesus Cristo; a Igreja vai tomando forma em relação à missão de Cristo entre os homens e para os homens. Não há um momento único em que Cristo tenha fundado a Igreja, pois a fundou em toda sua vida: desde a encarnação até Sua Morte, Ressurreição, Ascensão e com o envio do Paráclito. Ao longo de Sua vida, Cristo – em quem habita o Espírito – foi manifestando como devia ser Sua Igreja, dispondo as coisas, umas após outras. Depois de Sua Ascensão, o Espírito foi enviado à Igreja e, nela, permanece, unindo-a à missão de Cristo, recordando-lhe aquilo que o Senhor revelou, guiando-a ao longo da história até sua plenitude. Ele é a causa da presença de Cristo pelos sacramentos e pela Palavra, e a adorna continuamente com diversos dons hierárquicos e carismáticos [5]. Por sua presença, cumpre-se a promessa do Senhor de estar sempre com os Seus até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).


Miguel de Salis Amaral
http://www.opusdei.org.br

11 de julho de 2012

No colo da Mãe

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Nele estamos protegidos

O colo da mãe é o aconchego que todo filho precisa, é o lugar seguro que toda criança necessita, principalmente nos momentos difíceis da vida. Quando um filho tem uma necessidade, a mãe é aquela que tudo providencia, que se preocupa com os detalhes e não deixa faltar o necessário. Foi isso que aconteceu nas "Bodas de Caná". A Virgem Maria viu que ia faltar vinha naquela festa de casamento e o vinho fazia parte das refeições do povo judeu. Faltar o vinho naquele casamento significava faltar o essencial, o necessário, e isso, Maria, que era mãe, não podia deixar faltar. Por isso, ela disse a Jesus que o vinho estava acabando (cf. Jo 2, 3).


Nossa Senhora faz o mesmo conosco, principalmente nos momentos difíceis de nossas vidas. Ela intercede por nós, quando nos falta o vinho da alegria. Quando somos tomados de tristeza, de angústia, de desespero diante dos sofrimentos, ela nos segura pela mão e nos acolhe no seu colo de mãe. Mas, por que muitos não experimentam essas graças em suas vidas?

O segredo para experimentar a presença de Jesus Cristo e o aconchego do colo da Virgem Maria está em acolhê-los em nossas vidas. Nas "bobas" das nossas vidas, somos chamados a convidar Jesus e Maria. Pois, a presença de Cristo e da Virgem são a garantia de que não nos faltará o necessário para o nosso casamento, para as núpcias do Cordeiro, no qual nos uniremos definitivamente com Deus (cf. Ap 19, 9).


Nossa Senhora não se preocupa somente com as necessidades para este mundo que passa, mas também e principalmente, ela se preocupa com o que precisamos para chegar ao mundo que não passa, para alcançarmos o Reino dos Céus. Não espere chegar os momentos de dificuldade, de sofrimento, para colocar-se sob a proteção da Virgem Maria, para aconchegar-se no colo da mãe. Coloque tudo nas mãos da Virgem Maria, todas as suas necessidades, todos seus projetos, todas as pessoas que fazem parte de sua vida.

A consagração total a Virgem Maria, pelo método do Tratado de São Luís Maria, é um meio de entregar tudo nas mãos de Nossa Senhora. Pois, muitos de nós temos de confiar tudo nas mãos de nosso pai, temos dificuldade de entregar tudo nas mãos de Jesus e de nosso Pai do Céu. Como nas "Bodas de Caná", convidemos a Virgem Maria para fazer parte de nossa vida, de nossa história e, como Jesus na sua infância, nos coloquemos no colo da Mãe. Se entregarmos tudo nas mãos da Virgem Maria e fizermos tudo que Jesus nos disser, como ela nos ensina (cf. Jo 2, 5b), experimentaremos o melhor vinho, que ainda está por vir.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

9 de julho de 2012

Você conhece Jesus Cristo?

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Não caia no pecado de rejeitar o Cristo

Jesus foi rejeitado, porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré, ao lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram n'Ele nada de extraordinário que pudesse indicá-Lo como o Messias de Deus. No entanto, a extraordinariedade de Jesus-Messias está justamente aí, na encarnação, no fato de não ter nada que possa diferi-Lo da condição humana comum. 


O Filho de Deus se fez como qualquer um de nós, e aqui está o nó da questão. Muitos afirmam que não creem, porque não veem. Os conterrâneos de Jesus não creem, porque veem o Jesus trabalhador, o Filho de Maria, um Homem do povo, que não frequentou nenhuma escola superior, um Homem que vem de Nazaré, lugarejo insignificante.

O escândalo da encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de muito cristão de boa vontade. Por se encarnar nas realidades humanas, Jesus-Messias foi rejeitado. Ele faz pensar no desafio que é a encarnação do Evangelho na realidade do povo. Não podemos ficar paralisados como os conterrâneos do Senhor, pois Este 
rejeita o pecado da vaidade, do orgulho e da prepotência. Também rejeita o pecado da violência, da ganância e do egoísmo.

Muitas vezes, queremos um Cristo que aprove os nossos erros e que aplauda o nosso falso sucesso obtido à custa de opressão e desonestidade. Muitas vezes, não aceitamos um Cristo manso, pacífico, simples, humilde. A soberba nos faz querer um Cristo imponente, rico, opressor.


A nossa cegueira não concebe um Cristo que nos sugere o serviço aos irmãos, a capacidade de perdão, a simplicidade de coração. É preciso que meditemos sobre isto e transformemos a nossa vida. Jesus se fez um de nós a fim de facilitar o nosso entendimento, e não para complicá-lo. Ele se fez um de nós para que percebêssemos que as glórias deste mundo nada valem, que fomos feitos para uma glória maior.

Somos fracos, apegados às ilusões deste mundo e não percebemos os valores eternos. Renunciar ao pecado e aderir à mensagem de Cristo é o gesto mais sábio que um cristão pode ter.

Peçamos ao Senhor Jesus que Ele não permita que as adversidades nos impeçam de seguir adiante no cumprimento da missão a nós confiada.

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

5 de julho de 2012

Pontos básicos da moral católica

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O Dez Mandamentos exprime o sentido da moral
A Igreja valoriza a ciência em todas as suas áreas, mas não se cansa de afirmar que nem tudo que é possível à ciência e à tecnologia realizarem é ético e moral. O parâmetro de discernimento da Igreja é a Lei Natural que Deus colocou de forma permanente e universal nos corações e nas consciências das pessoas. Para a Igreja o que não é natural não é moral, e deve ser evitado. Especialmente quando a dignidade da vida humana está em jogo, a Igreja levanta a voz, em nome de Deus, para dizer ao homem que tenha prudência. O Catecismo da Igreja afirma no §2294, que: "É ilusório reivindicar a neutralidade moral da pesquisa científica e de suas aplicações…"

A Igreja sempre estimulou os estudiosos a procurarem pela ciência ajudar a vida do homem na terra. Mas o Cristianismo tem uma escala de valores onde o homem, por ser  imagem e semelhança de Deus, ocupa um lugar especial, não podendo ser equiparado, em dignidade, a nenhum outro ser vivo. Assim, os resultados da ciência devem servir ao homem e respeitar a sua dignidade. Assim, a Igreja defende que a vida humana é um dom de Deus, sobre o qual o cientista não têm domínio absoluto; ela deve nascer e desenvolver-se não em laboratório, nem como fruto de recursos técnicos, mas como fruto direto do relacionamento pessoal entre esposo e esposa.

O desejo do progresso da ciência parece às vezes insaciável a alguns homens e mulheres de hoje. Em parte, o orgulho humano, o desejo de ser Prometeu (um rival de Deus) está na base de muitas tentativas da ciência sem compromisso com a consciência moral. A ciência e a técnica não são fins; são meios para engrandecer o homem, para que ele viva melhor, mas a ciência e a técnica não podem servir ao orgulho ou deleite do pesquisador, ou mesmo ser fonte de enriquecimento, em prejuízo para a dignidade do homem. A ciência deve trabalhar para o homem, e não contra o homem.

O emprego da ciência contra o homem tem sua causa no abandono de Deus. Michel Foucault, conhecido filósofo, observa que a "morte de Deus" gera a morte do homem: "Em nossos dias… não é tanto a ausência ou a morte de Deus que é afirmada, mas o fim do homem…; descobre-se então que a morte de Deus e o último homem estão estreitamente ligados" (Les mots et les choses 1967, p. 369).

Um personagem de Dostoiewisky, no livro "Irmãos Karamazov", declara que "se Deus não existe, tudo é permitido", pois a morte põe fim a tudo. A sociedade atual, que quer negar Deus, vive, neste triste ambiente, de desconfiança, insegurança, egoísmo e desespero, desembocando, na violência, nas drogas, nos desvios sexuais, na desesperança, e no  profundo vazio existencial que leva à depressão.

A ciência moderna é produto genuíno de uma visão judaico-cristã do mundo e tem sua fonte de inspiração na Bíblia. A visão pagã do mundo é a de um escravizante ciclo de nascimento-morte-renascimento, sem início nem fim, uma visão cíclica, onde a ciência não conseguia fazer progresso. Foi justamente a visão do cosmos, progressiva, derivada da doutrina cristã, que deu margem ao crescimento da ciência.


Paulo VI afirmou que "a ciência é soberana em seu campo, mas escrava com respeito ao homem". Por isso, devemos rejeitar a noção falsa de uma ciência livre dos valores morais, ou a neutralidade moral da investigação científica e de suas aplicações.

Para que o leitor conheça alguns posicionamentos da Igreja no campo Moral, apresento em seguida alguns itens do Catecismo da Igreja Católica sobre este assunto. O filósofo romano Cícero já dizia, e sua República,  que: "Existe sem dúvida uma verdadeira lei: é a reta razão. Conforme à natureza, difundida em todos os homens, ela é imutável e eterna; suas ordens chamam ao dever; suas proibições afastam do pecado.(…) É um sacrilégio substituí-la por uma lei contrária; é proibido não aplicar uma de suas disposições; quanto a ab-rogá-la inteiramente, ninguém tem a possibilidade de fazê-lo" (Rep. 3, 22, 33) .

A Igreja não tem dúvida em afirmara que: "A lei natural é imutável, permanece através da história. As regras que a exprimem são substancialmente sempre válidas. Ela é uma base necessária para a edificação das regras morais e para a lei civil (§1979). Esta Lei, que de modo especial está retratada nos Dez Mandamentos, exprime o sentido moral original, que permite ao homem discernir, pela razão, o que é o bem e o mal, a verdade e a mentira.

Como disse o Papa Leão XIII: "A lei natural se acha escrita e gravada na alma de todos e cada um dos homens porque ela é a razão humana ordenando fazer o bem e proibindo pecar. (…) Mas esta prescrição da razão não poderia ter força de lei se não fosse a voz e o intérprete de uma razão mais alta, a qual nosso espírito nossa liberdade devem submeter-se" (Leão XIII, enc. Libertas praestantissimum).

São Tomás de Aquino dizia que:  "A lei natural outra coisa não é senão a luz da inteligência posta em nós por Deus. Por ela conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar. Esta luz ou esta lei, deu-a Deus à criação" (Decem praec. 1). Com base nisso a Igreja ensina que: "Presente no coração de cada homem e estabelecida pela razão, a lei natural é universal em seus preceitos, e sua autoridade se estende a todos os homens. Ela exprime a dignidade da pessoa e determina a base de seus direitos e de seus deveres fundamentais (Cat.  §1956).

Santo Agostinho exclamava: "O roubo é certamente punido por vossa lei, Senhor, e pela lei escrita no coração do homem e que nem mesmo a iniqüidade consegue apagar" (Confissões, 2,4,9). Portanto, há uma lei natural imutável (GS,10) e permanente através das variações da história. As regras que a exprimem permanecem substancialmente válidas. Mesmo que alguém negue até os seus princípios, não é possível destruí-la nem arrancá-la do coração do homem; é obra do Criador, e que fornece os fundamentos sólidos em cima dos quais pode o homem construir o edifício das regras morais que orientarão suas opções.

Com base na lei natural São Tomás dizia que: "Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção" (Decem. prec. 6). O fim não justifica os meios. O ato moralmente bom supõe, ao mesmo tempo, a bondade do objeto, da finalidade e das circunstâncias.

Assim, a Igreja, "coluna e sustentáculo da verdade" (1Tm 3,15), recebeu dos Apóstolos o mandamento de Cristo de pregar a verdade da salvação. Por isso, diz o Código de Direito Canônico:  "Compete à Igreja anunciar sempre e por toda parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas" (cân. 747,2)
Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

3 de julho de 2012

Perdão

Mateus 18 – 21 a 22 - Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou:
"Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?"
Jesus respondeu: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.."

 

Na caminhada são muitas às vezes em que nos decepcionamos com alguns semelhantes que nos cercam. No relacionamento do dia a dia algumas circunstâncias nos remetem a atritos impensados que acabam por gerar palavras mal ditas ou o cometimento de ações que nos levam ao ódio, e assim  por não suportarmos mais ficar próximo, acabamos por nos  afastar e excluímos de nosso convívio aqueles que antes faziam parte do círculo de amizade e não há mais cumplicidade nem confiança.  

Sem perceber acabamos por alimentar nosso coração com o veneno da raiva e fechamos as portas ao perdão. Quando não aceitamos perdoar acabamos por nos esquecer que a falta do perdão irá resultar em inúmeras transgressões as leis de Deus.

Isso acontece em todas as camadas da sociedade: em casa, no trabalho, na escola, na rua, na igreja e até mesmo nas reuniões. Em muitos casos as pessoas ficam anos sem se falar uma com a outra. São pais e filhos, parentes e vizinhos, amigos que outrora eram inseparáveis, agora se tornaram desconhecidos e não há como se reconciliar, mas lamentavelmente acontece também entre Confrades e Consócias.

No cotidiano aprendemos na escola da vida que seres humanos são seres humanos, imperfeitos e fracos na fé, mas também na escola cristã através da Carta de São Paulo aos Corintios 1, 9-10 aprendemos: Pois o nosso conhecimento é imperfeito e também imperfeita é a nossa profecia. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá.

 Neste artigo propomos uma reflexão sobre alguns casos que ainda acontecem aqui dentro da nossa realidade vicentina. Isso mesmo, no seio de nossa SSVP, onde a palavra de Deus é constantemente pregada sejam nas reuniões, retiros, encontros e manhãs de Louvor. Na SSVP apesar de estarmos sempre sendo alimentados pela espiritualidade ainda existe coração duro que foge e não permite que o perdão se estabeleça.  É triste observar que ainda temos casos de Confrades e Consócias que não se falam por ter tido alguma discordância sobre certos assuntos administrativos. Isso acontece com muita freqüência e o que poderia ser apenas uma simples discussão interna que, diga-se de passagem, é compreensível e normal em muitos casos, passa a ser tratada como questão pessoal e sem uma avaliação espiritual mais detalhada permitem que a desavença se instaure na relação sem direito a reconciliação e a regeneração e o perdão que deveria ser natural devido aos princípios da formação vicentina não acontece.

A vocação vicentina nos fez experimentar o perdão doado graciosamente por Deus e na condição de seguidores de São Vicente de Paulo e Ozanam fomos chamados á prática incondicional desse perdão. Como membros efetivos de uma organização caritativa cujo um de seus principais objetivos é a santificação pessoal, é imprescindível que tenhamos um espírito de generosidade e misericórdia entre nós para sermos agraciados com virtude do perdão para consumarmos de fato a nossa santificação pessoal cumprindo o mais importante motivo que nos fizeram ser vicentinos.   

Refletindo algumas passagens do Evangelho Jesus nos ensinou que a experiência do perdão de Deus leva-nos a perdoar aos irmãos. Aprendemos também que o nosso comportamento com os outros deve refletir o modo como Deus se comporta conosco. O que Ele fez por nós ensina-nos o que havemos de fazer pelos outros. Jesus ainda insiste conosco dizendo: "Ama o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22, 39; Gl 5, 14), "como Eu vos amei" (Jo 15, 12), "como amo o Pai" (Jo 14, 31) … O mesmo Jesus nos ensina a rezar: "perdoa as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" (Mt 6, 12). Jesus não ensina que o preço para sermos perdoados é perdoar, que esse perdão é a única coisa a fazer para sermos perdoados, ou que, uma vez que perdoamos, temos direito ao perdão. O perdão de Deus não é simples eco do nosso espírito de perdão. Pelo contrário: o pensamento da grandeza do perdão de Deus deve sensibilizar o nosso coração, para agirmos de modo semelhante, e sabermos perdoar aos nossos irmãos.

Aqui na SSVP as nossas relações fraternas devem ser marcadas pelo amor, pela confiança e pela estima. Se todos nós vicentinos tratarmos uns aos outros com consideração e confiança, o amor jamais há de faltar sob a forma de tolerância do irmão, de aceitação, de compreensão, de misericórdia e de perdão: na comunhão fraterna, mesmo para além dos conflitos, e no perdão recíproco, queremos e devemos mostrar a fraternidade. Isso é ser Vicentino!

Precisamos nos conscientizar que somos imagem e semelhança de Deus. Para a prática da caridade é preciso inundar o nosso coração de amor, paciência, autocontrole e domínio de si, e aprender a perdoar, mas perdoar de verdade, de coração e não só da boca pra fora. E lembrar sempre que somos todos irmãos diante de Deus, e se somos irmãos, somos filhos do mesmo Pai. Pensemos nisso  e abracemos o nosso irmão hoje mesmo. Nossa prece diária deverá ser: Que sejamos dignos de recitar a Oração que o Senhor nos ensinou. Rezemos com amor e dedicação a todos aqueles que foram instrumentos de mágoas e empecilhos de recomeço e regeneração para depois dizer. Amém com honestidade!

                   Para concluir esta reflexão, nada como lermos Eclesiástico 2 e refletirmos muito sobre a nossa caminhada vicentina. Que saibamos AMAR o próximo de verdade como AMAMOS a nós mesmos.

 

Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; 2.humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, 3.sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça. 4.Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. 5.Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação. 6.Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.

 

Louvado Seja o Nosso Senhor Jesus Cristo... Para sempre seja louvado...

 

Confrade Donizetti Luiz

Conferência Sagrada Família