13 de abril de 2012

Aborto nunca!

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O anencéfalo é um ser humano
A grande maioria dos brasileiros continua sendo contrária à legalização do aborto. De acordo com recente pesquisa do Instituto Vox Populi – encomendada pelo Portal iG –  a grande maioria dos entrevistados (80%) é contra mudanças na normativa jurídica que regula o tema.


O aborto mata um ser humano em gestação; é um atentado contra um ser indefeso, uma covardia. Ainda que tenha havido uma concepção por estupro, não se justifica esse mal, pois a justiça deve punir o agressor e não a criança, tirando-lhe a vida. Ainda que uma criança esteja sendo gerada com alguma deficiência, não se justifica matá-la; ao contrário, as verdadeiras civilizações se caracterizam por proteger os mais fracos, e não por os matar.

O anencéfalo é um ser humano; é dotado de uma alma imortal, tem vida. Não importa quanto tempo vá viver, a sua existência tem de ser respeitada pela mãe e pelo Estado.

Desde o século XIX a ciência reconhece que a vida humana se inicia na concepção. O maior geneticista do século XX, Dr. Jerome Lejeune, descobridor da Síndrome de Down, atestou esta verdade. Não existem tratados de embriologia que neguem esse fato. O embrião cresce com autonomia, tem sexo definido, é completo e vai se desenvolver até a sua morte a partir de tudo o que já possui. Toda a mensagem de sua vida já está ali completamente definida. Ele só precisa de três condições para seguir sua vida: oxigênio, nutrição e tempo, o mesmo de que nós precisamos. A vida intrauterina é apenas uma das etapas do desenvolvimento do ser humano, eliminar qualquer etapa significa encerrar as demais fases futuras de uma vida.

A mãe jamais tem o direito de eliminar um filho que está em gestação; é uma vida independente dela; e a mulher, acima de tudo, foi criada para dar e gerar a vida. Ainda que o nascituro esteja temporariamente dentro do corpo de sua mãe, ele não é parte deste corpo. É um descalabro uma mãe matar o próprio filho, nem a cobra venenosa faz isso. 

Se damos à mãe o direito de matar um filho em seu ventre, porque é um "estorvo" para ela, teríamos de dar o mesmo direito a um filho de eliminar a sua mãe velha e doente que é um "estorvo" para ele. Se existe direito ao aborto, então, temos real direito de matar qualquer um, a diferença será apenas a idade da vítima. Mas assim, eliminamos o amor, a fé, a caridade.

Sabemos que 50% dos bebês abortados são mulheres, o que demonstra que o aborto não é instrumento de defesa do sexo feminino; é uma aviltação deste.

Todos aqueles que defendem o aborto já nasceram; vivem porque tiveram acesso primeiramente ao direito à própria vida. Nenhum direito humano ficará de pé se for eliminado "o direito de nascer".

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

12 de abril de 2012

Páscoa: Um tempo se inicia

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Ela renova todas as coisas
Com a Páscoa o mundo se renova e começa uma nova perspectiva de história, porque o Cristo Ressuscitado convoca os cristãos para construir uma humanidade diferente, convencida de que uma vida saudável é possível. Ela tem que ser construída tendo como base a fé e a visão otimista de futuro. Os critérios devem aqueles fundados no testemunho autêntico de vida.

No caminho da Páscoa é importante o desapego de ideias antigas, de antigos costumes e normas. É hora de pensar mais alto e olhar para frente com liberdade, com fermento novo e firmar os pés naquilo que é capaz de dar rumo certo aos nossos ideais. Isso é muito difícil quando nos abandonamos no próprio subjetivismo.

No âmbito da fé, sabemos que Deus dá novo sentido para os acontecimentos. Ele é o guia da história, que tira do fracasso um resultado de vitória para a vida. Não é fácil entender os mistérios de Deus Pai, mas eles estão a serviço do bem da criação, especialmente das pessoas, criadas à imagem e semelhança d'Ele e chamadas para construir o mundo.

Não podemos ficar numa situação de trevas, de incertezas, como aconteceu com os discípulos de Jesus após Sua Morte na cruz. Não sabiam ainda da Ressurreição do Senhor, mesmo sabendo que o sepulcro tinha sido encontrado vazio. Custaram a entender as promessas do Mestre, nas quais estava inscrito que a morte traria vida nova.

Deus vai sempre na contramão dos critérios humanos. O que para nós parece derrota, para Ele é vitória; o que nos parece fim é começo para Ele, e com muito mais força e vigor. A Ressurreição de Cristo é o recomeço da criação, que depende da continuidade da nossa parte como cocriadores com Deus.

Todos nós estamos em busca de um novo mundo, de uma sociedade transformada e ressuscitada para o bem e para a paz. A Páscoa deve ser vida nova, superior a todo o passado de imperfeições e maldades. É olhar para frente com esperança e na certeza de bons frutos de quem se convence do valor dos seus bons atos.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo eleito de Uberaba - MG

10 de abril de 2012

Maria e a ressurreição de Cristo

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"Rainha do céu, alegra-te. Aleluia!"
Depois da deposição de Jesus no sepulcro, Maria "é a única que permanece a ter viva a chama da fé, preparando-se para acolher o anúncio jubiloso e surpreendente da ressurreição" (Alocução da Audiência geral, L'Osserv. Rom. ed. port., 6/4/96, pág. 12). A espera vivida no Sábado Santo constitui um dos momentos mais altos da fé da Mãe do Senhor: na obscuridade que envolve o universo, Ela entrega-se plenamente ao Deus da vida e, recordando as palavras do Filho, espera a realização plena das promessas divinas.

Os Evangelhos narram diversas aparições do Ressuscitado, mas não o encontro de Jesus com a sua Mãe. Este silêncio não deve levar a concluir que, depois da Ressurreição, Cristo não tenha aparecido a Maria; convida-nos, ao contrário, a procurar os motivos dessa escolha por parte dos evangelistas.

Supondo uma "omissão", ela poderia ser atribuída ao fato de que tudo o que é necessário para o nosso conhecimento salvífico é confiado à palavra de "testemunhas anteriormente designadas por Deus" (At. 10, 41), isto é, aos Apóstolos que, "com grande poder", deram testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus (cf. At. 4,33). Antes de aparecer a eles, o Ressuscitado apareceu a algumas mulheres fiéis por causa da sua função eclesial: "Ide dizer a Meus irmãos que partam para a Galileia, e lá Me verão" (Mt. 28,10).

Se os autores do Novo Testamento não falam do encontro da Mãe com o Filho Ressuscitado, isso talvez seja atribuível ao fato de que semelhante testemunho poderia ser considerado, por parte daqueles que negavam a Ressurreição do Senhor, muito interessado e, portanto, não digno de fé.

Os Evangelhos, além disso, referem um pequeno número de aparições de Jesus Ressuscitado, e não certamente o relatório completo de quanto aconteceu nos 40 dias após a Páscoa. São Paulo recorda uma aparição "a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez" (cf. I Cor. 15, 6). Como justificar que um fato conhecido por muitos não seja referido pelos Evangelistas, apesar de seu caráter excepcional? É sinal evidente de que outras aparições do Ressuscitado, embora estivessem no elenco dos notórios fatos ocorridos, não tenham sido mencionadas. Como poderia a Virgem, presente na primeira comunidade dos discípulos (cf. At. 1, 14), ter sido excluída do número daqueles que se encontraram com o seu divino Filho, ressuscitado dos mortos?

É antes legítimo pensar que, de modo semelhante, a Mãe tenha sido a primeira pessoa a quem Jesus Ressuscitado apareceu. A ausência de Maria do grupo das mulheres que ao alvorecer se dirige ao sepulcro (cf. Mc. 16, 1; Mt. 28, 1), não poderia talvez constituir um indício do fato de Ela já se ter encontrado com Jesus? Esta dedução encontraria confirmação no dado que as primeiras testemunhas da ressurreição, por vontade de Jesus, foram as mulheres, que tinham permanecido fiéis ao pé da cruz e, portanto, mais firmes na fé. Com efeito, a uma delas, Maria de Mágdala, o Ressuscitado, confia a mensagem a ser transmitida aos Apóstolos (cf. Jo. 20,17-18). Também este elemento consente talvez pensar em Jesus que aparece em primeiro lugar à sua Mãe, Aquela que permaneceu a mais fiel e, na prova, conservou íntegra a fé.

Por fim, o caráter único e especial da presença da Virgem no Calvário e a sua perfeita união com o Filho, no sofrimento da cruz, parecem postular uma sua particularíssima participação no mistério da ressurreição. Sedúlio, um autor do século quinto, afirma que Cristo Se mostrou no esplendor da vida ressuscitada, antes de tudo, à própria Mãe. Com efeito, aquela que, na anunciação, tinha sido a via do Seu ingresso no mundo, era chamada a difundir a maravilhosa notícia da ressurreição, para se fazer anunciadora da Sua vinda gloriosa. Inundada assim pela glória do Ressuscitado, a Santíssima Virgem antecipa o "resplendor" da Igreja (cf. Sedúlio, Carmen Pascale, 5, 357-364, CSEL 10, 140 s.).

Sendo imagem e modelo da Igreja, que espera o Ressuscitado e que no grupo dos discípulos O encontra durante as aparições pascais, parece razoável pensar que Nossa Senhora tenha tido um contato pessoal com o Filho Ressuscitado, para gozar também ela da plenitude da alegria pascal.

Presente no Calvário durante a Sexta-Feira Santa (cf. Jo. 19, 25) e no cenáculo, no Pentecostes (cf. At. 1, 14), a Virgem Santíssima foi provavelmente testemunha privilegiada da Ressurreição de Cristo, completando desse modo a sua participação em todos os momentos essenciais do mistério pascal. Ao acolher Jesus Ressuscitado, Maria é, além disso, sinal e antecipação da humanidade, que espera obter a sua plena realização mediante a ressurreição dentre os mortos.

No tempo pascal a comunidade cristã, ao dirigir-se à Mãe do Senhor, convida-a a alegrar-se: "Regina caeli, laetare. Aleluja!", "Rainha do céu, alegra-te. Aleluia!". Recorda assim a alegria de Maria pela Ressurreição de Jesus, prolongando no tempo o "alegra-te" que lhe fora dirigido pelo Anjo na anunciação, para que se tornasse "causa de júbilo" para a humanidade inteira.

Beato João Paulo II

8 de abril de 2012

O mistério da cruz e da ressurreição

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Sábado Santo, dia de esperança
A meditação sobre o mistério da cruz de Cristo é fundamental para a vida de todo o cristão. Na Quaresma e na Semana Santa, a reflexão sobre a Paixão de Nosso Senhor ganha ainda mais importância. Neste tempo, ao meditar sobre a Paixão de Cristo, também somos chamados a meditar sobre a Sua Ressurreição, já que pelo batismo ressuscitamos com Ele para uma vida nova (cf. Col 3, 1). O mistério da cruz e da ressurreição são realidades que fazem parte da vida cristã, por isso, precisamos aprender a conviver com elas.

Nesse tempo, somos chamados a refletir a respeito do Mistério Pascal de Cristo, sua Paixão, Morte e Ressurreição. Num primeiro momento, Jesus se apresenta a nós como o Servo sofredor. Cristo crucificado é o homem das dores, experimentado nos sofrimentos (cf. Is 53, 1-12). Porém, este mesmo Servo, que sofreu e morreu por nós, ressuscitou e alcançou para nós a Salvação. Estávamos perdidos por causa de nossos pecados, mas Ele alcançou para nós a vida nova, que se dá pela ação do Espírito Santo em nossas vidas.

Desta forma, o Sábado Santo é o dia da espera, um dia não de luto, tristeza, mas de esperança. Pois neste intervalo de tempo, a cruz toma o seu sentido pleno, na espera da ressurreição. Por isso a cruz e a ressurreição são duas realidades que revelam a presença do Mistério de Cristo em nossas vidas. Jesus se faz presente, pois, pelo Seu Espírito, somos capazes de viver essa vida nova. Esta é a presença do Ressuscitado em nós, que nos dá a força para vivermos a radicalidade do Evangelho.

E já que ressuscitamos com Cristo, como explicar a realidade dos sofrimentos? Continuamos sofrendo porque, apesar de Cristo estar presente em nossa vida, com Ele está presente também o mistério da Sua cruz.

Ainda experimentamos o sofrimento, mesmo que pelo batismo ressuscitamos com Cristo, porque a ressurreição ainda não se realizou plenamente e de modo definitivo. No sacrifício da cruz, o Senhor pagou pelos nossos pecados e tomou sobre si os nossos sofrimentos (cf. Is 53, 4-5). Este é o mistério da cruz de Cristo Ressuscitado, que se deu na Sua Paixão e Morte no madeiro da cruz e que faz parte da vida de todos os cristãos. Por isso, somos chamados a entregar a Cristo os nossos sofrimentos, para que estes, unidos ao Seu único e eterno sacrifício, tenham valor no plano da salvação.

Meditar na cruz de Cristo nos faz lembrar que Ele morreu por nossos pecados. Fomos sepultados com Cristo, mas ressuscitamos com Ele e somos chamados a viver uma vida nova e a buscar as coisas do Alto (cf. Col 3, 1). Nesse chamado, Jesus não nos dá simplesmente uma ordem, mas também nos dá o auxílio do Seu Espírito, por isso, podemos viver como filhos de Deus. Por Seu sacrifício na cruz, Cristo pagou pelos nossos pecados, dessa forma, somos capazes de romper com o pecado e viver essa nova vida.

A cruz de Cristo, os sofrimentos e tendências para o pecado continuam a fazer parte de nossa vida. Mas, Ele também está presente, até o fim dos tempos conosco (cf. Mt 28, 20). O mistério da cruz e da ressurreição se fazem presentes em nossas vidas até a vinda do Reino dos Céus, no qual não haverá mais dor nem sofrimento. Nele acontecerá a nossa ressurreição definitiva, não haverá mais choro nem lágrimas (cf. Ap 21, 4) e viveremos com Cristo por toda a eternidade.

Natalino Ueda
Missionário da Comunidade Canção Nova

5 de abril de 2012

O que é a qualidade de vida?

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A vida humana sempre tem valor e dignidade
Fala-se muito hoje em "qualidade de vida". É bom que se busque uma vida com qualidade, mas desde que seja uma vida no "sentido integral" da pessoa humana (corpo, razão e alma) e não somente na satisfação dos desejos do corpo.

Em nome da "qualidade de vida" muitos querem aprovar procedimentos que a Igreja considera imorais (aborto, eutanásia, manipulação de embriões, inseminação artificial, etc.). Isso se dá porque se despreza a vida sobrenatural do ser humano, sua dimensão maior, por ser criado à imagem e semelhança de Deus. Perdeu-se a noção de vida eterna; não se crê mais numa vida espiritual e imortal. A visão mais reducionista e empobrecedora que se pode dar ao ser humano; é o seu aniquilamento; a mais terrível tragédia humana.

Muitos daqueles que defendem a eutanásia argumentam que ela é uma forma de "evitar o sofrimento", quando a vida não tem mais sentido, quando não se dispõe de "qualidade de vida", quando o velho e o doente já não produzem e estão gastando muito. Outros querem aprovar o aborto como uma forma de "qualidade de vida" para a gestante que não quer gerar o filho, mesmo que isso seja um assassinato, crime hediondo punido pela lei, pelo menos por enquanto.

Deve-se ter em conta, como nos ensina o Papa em sua Carta Encíclica "Fé e Razão" (n. 81), que um dos dados mais salientes da nossa situação cultural atual consiste na "crise de sentido". "Esta crise de sentido em parte está condicionada por algumas posturas "modernas" que acabam por reduzir o significado do termo "qualidade de vida", tornando-o ambíguo e contraditório. São elas o hedonismo, representado pela busca desenfreada do prazer; o individualismo, que exalta o indivíduo de modo absoluto e o pragmatismo, atitude mental própria de quem, ao fazer as suas opções, exclui o recurso a reflexão abstrata ou a avaliações fundadas sobre princípios éticos".

"Qualidade de vida", para muitos hoje, significa apenas ter conforto, beleza física, roupas de moda, produtos sofisticados, prazer, dinheiro, capacidade de consumir, numa vida egoísta e individualista que não se importa com os sofrimentos e carências dos outros. É um materialismo prático; um viver como se Deus não existisse.

Em 19 de fevereiro de 2005, quando do início dos trabalhos da Assembleia Anual da "Pontifícia Academia Para a Vida", no Vaticano, o Papa João Paulo II deixou uma mensagem sobre "A qualidade de vida e a ética da saúde". Nela, o saudoso Pontífice relembra que o significado da expressão "qualidade de vida" hoje é interpretada como eficiência econômica, consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física, esquecendo as dimensões mais profundas da existência, como são as interpessoais, espirituais e religiosas. No impulso da sociedade do bem-estar, a noção de qualidade de vida fica reduzida à capacidade de gozar e de experimentar o prazer.

Para que se tenha um entendimento correto do que seja qualidade de vida, no sentido antropológico e teológico da expressão, o Papa propôs dois aspectos. Um primeiro é que o que distingue cada criatura humana, a sua "qualidade essencial", imagem e semelhança do próprio Criador. A pessoa humana tem corpo e alma, por isso é "anos-luz" superior às demais criaturas que apenas têm corpo. O ser humano adquire esta dignidade desde o exato momento de sua concepção materna quando surge o embrião humano; e isso deve ser respeitado até a sua morte natural.  E essa "qualidade" e "dignidade" realizam-se plenamente na dimensão da vida eterna. Na mensagem o Santo Padre afirma que "o homem deve ser reconhecido e respeitado em qualquer condição de saúde, de enfermidade ou de falta de habilidade".

O outro aspecto  para o correto entendimento da expressão "qualidade de vida" é, em função da dignidade humana, a sociedade promover, em colaboração com a família e com os outros organismos, as condições para que cada um se desenvolva de maneira harmoniosa de acordo com as suas capacidades naturais. Quanto ao conceito de "saúde", esse também passou por deformações. O Pontífice nos lembra que quando falamos de saúde desejamos fazer referência a todas as dimensões da pessoa, na sua unidade harmônica e recíproca: a dimensão corpórea, psicológica, espiritual e moral.

Nessa sua mensagem também afirmou que a saúde não é um bem absoluto, quando é compreendida numa concepção redutiva e deturpada, como um bem físico, idealizado a ponto de limitar ou descuidar os bens superiores, alegando-se motivos de saúde até mesmo na rejeição da vida nascente ou no seu término. E insiste que a vida, a saúde, a qualidade e a dignidade da pessoa humana não podem ser reduzidas a sua dimensão física.

E nos ensina que a vida humana tem valor e dignidade qualquer que seja a condição em que a pessoa esteja e, mesmo enferma e debilitada,  tem um papel a cumprir enquanto lhe restar um sopro de vida. Mesmo desfigurado, maltratado e carente, cada ser humano é um filho de Deus. Essa é a diferença.


Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

3 de abril de 2012

Aprenda com um bom exemplo

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Para o Senhor tudo; para o Salvador o melhor!
O breve e concreto relato da Paixão segundo São Marcos apresenta-nos, ao menos, três modos de nos colocarmos diante do Cristo Nosso Senhor. Dois modos inadequados, que deveremos evitar, apesar de tantas vezes neles cairmos; e um modo correto, a que somos continuamente chamados. Ei-los:

Primeiramente, o modo dos discípulos, tão vergonhoso: "Então todos O abandonaram e fugiram". Oh! meu irmão, que desde o início temos sido covardes, desde o princípio somos um mísero bando de infiéis! Quantas vezes, nos apertos da vida, também fugimos e abandonamos o Senhor: nos vícios, no comodismo, na busca de crendices e seitas, no fascínio por ideologias, ideias e filosofias opostas à nossa fé! Como é fácil fugir, como é fácil, ainda agora, abandoná-Lo! – Perdoa-nos, Senhor Jesus, porque ainda hoje somos assim, ainda somos como os primeiros discípulos: frágeis, inconstantes, covardes mesmo! Perdoa-nos pelo pouco amor, pela falta de compromisso!

Depois, o modo de Pedro, que "seguiu Jesus de longe". Atenção, caríssimos "Pedros" que leem estas palavras! Não se pode seguir o Senhor Jesus de longe! Quem O segue assim? Quem pensa poder ser discípulo pela metade; quem se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e pecados; quem imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do mundo! Como terminarão estes? Como terminou Pedro: negando conhecer Jesus! – Senhor, olha para nós, como olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto pela covardia e frieza em Te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos Teus, que Te sigam de perto até a cruz, como o Discípulo Amado, ao lado de Tua Santíssima Mãe!

Finalmente, uma atitude bela e digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto, da misteriosa mulher, que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo! Notou, irmão em Cristo, o detalhe de São Marcos? "Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus". Quebrou o vaso, isto é, derramou todo o perfume, sem reservas, sem pena, com amoroso estrago...

Para o Senhor, tudo; para o Salvador o melhor! E São João diz que "a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo" (cf. Jo 12,3). Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa com o bom odor de um amor ser reservas! Quanta generosidade dessa mulher "politicamente incorreta"! Quanta hipocrisia, quanta mesquinhez dos apóstolos "politicamente corretos", que não compreenderam seu gesto de amor gratuito! – Senhor Jesus, faz-nos generosos para Contigo!

Que Te amemos como essa mulher: sem reservas, sem fazer contas! Ó Senhor, que nos amaste até o extremo, ensina-nos a Te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo que temos de precioso, a Teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da Tua presença!


Dom Henique Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju
http://www.domhenrique.com/

29 de março de 2012

Laicismo e intolerância

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O laicismo é intrinsecamente intolerante
Uma distinção interessante, proposta pelo Papa Bento XVI, é a que se pode fazer entre laicidade e laicismo. Laicidade, segundo sua definição etimológica, é o caráter próprio do leigo. Laicismo, diferentemente, é a ideologia e o movimento que propõe a exclusão de qualquer influência religiosa na vida pública, social e cultural. A laicidade, diz o Sumo Pontífice, decorre da justa autonomia das realidades temporais. Conforme ensina o Concílio Vaticano II, em seu precioso documento Gaudium et Spes: «Se por autonomia das realidades terrenas entende-se que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal autonomia.

Para além de ser uma exigência dos homens do nosso tempo, trata-se de algo inteiramente de acordo com a vontade do Criador. Pois, em virtude do próprio fato da criação, todas as coisas possuem consistência, verdade, bondade e leis próprias, que o homem deve respeitar, reconhecendo os métodos peculiares de cada ciência e arte» (n. 36). Sobre esta sadia laicidade, acrescenta o Concílio, no mesmo documento: «As tarefas e atividades seculares competem como próprias, embora não exclusivamente, aos leigos. (...) Compete à sua consciência previamente bem formada imprimir a lei divina na vida da cidade terrestre. (...) Os leigos, que devem tomar parte ativa em toda a vida da Igreja, não devem apenas impregnar o mundo com o espírito cristão, mas são também chamados a serem testemunhas do Cristo, em todas as circunstâncias, no seio da comunidade humana» (n. 43).

O laicismo, como ideologia e movimento político, vai além do simples anticlericalismo. Este pretendia apenas excluir a interferência do clero na política terrena; o laicismo pretende banir qualquer expressão religiosa na vida pública, mais  que anticlerical, ele é propriamente antirreligioso. Neste sentido, o laicismo é intrinsecamente intolerante. Aliás, poderíamos dizer que ele é a suma completa da intolerância religiosa: a intolerância laicista não se dirige a uma religião em particular, mas contra toda e qualquer manifestação religiosa, pelo simples fato de ser religiosa, não importando qual seja a religião. O laicismo pretende fundamentar sua intolerância na pretensão de organizar o mundo sem Deus, o que é irrefragavelmente uma falácia.

Conforme o Concílio Vaticano II, no já citado documento Gaudium et Spes: «Se, porém, com as palavras 'autonomia das realidades temporais' entende-se que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais assertivas. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes, de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece» (n. 36).

Fragoroso exemplo dessa intolerância laicista assistimos no começo deste mês, quando o Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, atendendo a requerimento da Liga Brasileira de Lésbicas, determinou a retirada de todos os crucifixos e símbolos religiosos presentes nos edifícios do Poder Judiciário sul-rio-grandense. Segundo os laicistas, a presença de símbolos religiosos no espaço público ofende as lésbicas. O problema é que seu argumento é via de mão única: não se reconhece o mesmo direito aos católicos ofendidos por manifestações de lesbianismo em espaço público. Mais que isso: ao mesmo tempo em que retiram os crucifixos das repartições, querem criminalizar todos aqueles que manifestem seu desagrado em relação a expressões de homossexualismo.

«Ó gálatas insensatos, quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, vós, ante cujos olhos foi já representado Jesus Cristo crucificado?» (Gl 3,1).

A presença dos crucifixos não prejudica a laicidade das repartições públicas, ainda que atraia a sanha perseguidora do laicismo que, como dissemos, é a culminância e a suma completa da intolerância religiosa. A retirada dos crucifixos das salas de julgamento do Rio Grande do Sul, além de constituir desrespeito à insubstuível participação do Catolicismo na formação histórica, cultural e moral do Brasil, é um ato de intolerância laicista que, como tal, deve ser combatido e repudiado não apenas pelos católicos, mas por todas as pessoas sensatas e de boa vontade.

Rodrigo R. Pedroso