21 de março de 2012

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19 de março de 2012

O nosso Pai São José

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Homem que agradou a Deus
Não é sem razão que a Igreja, no meio da Quaresma, tira o roxo no dia 19 de março e coloca o branco na liturgia, para celebrar a festa de São José, esposo da Virgem Maria. Entre todos os homens do seu tempo, Deus escolheu o glorioso São José para ser pai adotivo de seu Filho divino e humanado. E Jesus lhe era submisso, como mostra São Lucas. 

Santo Gertrudes (1256-1302), um grande místico da Saxônia, disse que "viu os Anjos inclinarem a cabeça quando no céu pronunciavam o nome de São José".

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), a primeira Doutora da Igreja, a reformadora do Carmelo, disse: "Quem não achar mestre que lhe ensine a orar, tome São José por mestre e não errará o caminho". E ensinava que em todas as suas festas lhe fazia um pedido e que nunca deixou de ser atendida. Ensinava ainda que cada santo nos socorre em uma determinada necessidade, mas que São José nos socorre em todas.

O Evangelho fala pouco de sua vida, mas o exalta por ter vivido segundo  "a obediência da fé" (Rm 1,5). Deus nos dá a graça para viver pela fé (Rm, 5,1.2; Hb 10,38) em todas as circunstancias.  São José, um homem humilde e justo "viveu pela fé", sem a qual "é impossível agradar a Deus" (Hab 2,3; Rm 1,17; Hb 11,6).

O grande Doutor da Igreja Santo Agostinho compara os outros santos às estrelas, mas, a São José, ele o compara ao Sol. A ele Deus confiou suas riquezas: Jesus e Maria. Por isso, o Papa Pio IX, em 1870,  declarou São José padroeiro da Igreja Universal com o decreto "Quemadmodum Deus". Leão XIII, na Encíclica "Quanquam Pluries", o propôs como "advogado dos lares cristãos". Pio XII o propôs como "exemplo para todos os trabalhadores" e fixou o dia 1º de maio como festa de ao José Trabalhador.

São José foi pai verdadeiro de Jesus, não pela carne, mas pelo coração; protegeu o Menino das mãos assassinas de Herodes o Grande, e ensinou-lhe o caminho do trabalho. Jesus não se envergonhou de ser chamado "filho do carpinteiro". Naquela rude carpintaria de Nazaré ele trabalhou até iniciar Sua vida pública, mostrando-nos que o trabalho é redentor.

Na história da salvação coube a São José dar a Jesus um nome, faze-lo descendente da linhagem de Davi, como era necessário para cumprir as promessas divinas. A José coube a honra e a glória de dar o nome a Jesus na sua circuncisão. O Anjo disse-lhe:  "Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,21).
A vida exemplar de São José é exemplo para todos nós. Num tempo de crise de autoridade paterna, onde os pais já não conseguem "conquistar seus filhos" e fazerem-se obedecer como devem, o exemplo do Menino Jesus submisso a seu pai torna-se urgente. Isto mostra-nos a enorme importância do pai na vida dos filhos. Se o Filho de Deus quis ter um pai, ao menos adotivo, neste mundo, o que dizer de muitos filhos que crescem sem o pai? O que dizer de tantos "filhos órfãos de pais vivos" que existem no Brasil, como disse-nos aqui mesmo em 1997 o

Papa João Paulo II? São José é o modelo de pai presente e atencioso, de esposo amoroso e fiel.

Celebrar a festa de São José é lembrar que a família é fundamental para a sociedade e que não pode ser destruídas pelas falsas noções de  família, "caricaturas de família", que nada têm a ver com o que Deus quer. É lutar para resgatar a família segundo a vontade e o coração de Deus. Em todos os tempos difíceis os Papas pediram aos fiéis que recorressem a São José; hoje, mais do que nunca é preciso dizer: São José, valei-nos! Falando de São José, o Papa João Paulo II na  exortação apostólica "Redemptoris Custos" (o protetor do Redentor), de 15 de agosto de 1989, disse: "assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo Místico, a Igreja" (nº1). "Hoje ainda temos motivos que perduram, para recomendar todos e cada um dos homens a São José (nº 31).

Celebrar a festa de São José é celebrar a vitória da fé e da obediência sobre a rebeldia e a descrença que hoje invadem os lares, a sociedade e até a Igreja. O homem moderno quer liberdade; "é proibido proibir!"; e, nesta loucura lança a humanidade no caos.

São José, tal como a Virgem Maria, com o seu "Sim" a Deus no meio da noite, preparou a chegada do Salvador. Deus contou com ele, e não foi decepcionado. Que possa contar também conosco! Cada um de nós também tem uma missão a cumprir no plano de Deus. E o mais importante é dizer "Sim" a Deus como São José. "Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado" (Mt 1,24).

Celebrar a festa de São José é celebrar a santidade, a espiritualidade, o silêncio profundo e fértil. São José entrou mudo e saiu calado, mas nos deixou o Salvador pronto para começar a Sua missão. É como alguém disse: "o servo que faz muito sem dizer nada; o especial agente secreto de Deus". Ele é o mestre da oração e da contemplação, da obediência e da fé. Com ele aprendemos a amar a Deus e ao próximo.

São José viveu o que ensinou João Batista: "É preciso que Ele cresça e eu diminua" (Jo 3,30).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

16 de março de 2012

O sacramento do Matrimônio

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Uma via de santidade
O sacramento do Matrimônio e o da Ordem são chamados sacramentos a serviço da comunhão e da missão, por conferirem uma graça especial para a missão particular na Igreja com relação à edificação do povo de Deus, contribuindo em especial para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros. O homem e a mulher foram criados por Deus com uma igual dignidade como pessoas humanas e, ao mesmo tempo, numa complementaridade recíproca como masculino e feminino. Deus quis que fossem um para o outro, para uma comunhão de pessoas. Juntos são também chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimônio uma só carne (cf. Gn 2, 24).

O Matrimônio participa desta dinâmica de serviço para a santificação. O Senhor, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Ao criar o homem e a mulher, chamou-os, no Matrimônio, a uma íntima comunhão de vida e de amor entre si, de modo que já não são dois, mas uma só carne (cf. Mt 19,6). Abençoando-os, Deus disse-lhes que fossem fecundos e se multiplicassem (cf. Gn 1,28).

Esse sacramento se realiza diante de uma promessa entre um homem e uma mulher, prestada diante de Deus e da Igreja, aceita e selada pelo Senhor e concluída pela união corporal do casal. Porque é o próprio Altíssimo quem dá o laço do Matrimônio sacramental e o mantém unido até a morte de um dos consortes. São necessários três elementos para a realização do Matrimônio: o consentimento, a concordância com uma união por toda a vida e apenas com o consorte, e por fim, a abertura aos filhos. Sendo a mais profunda a consciência do casal de que são uma imagem viva do amor entre Cristo e a Igreja.

O sacramento do Matrimônio gera entre os cônjuges um vínculo perpétuo e exclusivo. O próprio Deus sela o consentimento dos esposos. Primeiro, porque corresponde à essência do amor se entregar mutuamente sem reservas. Depois, porque ele é imagem da incondicional fidelidade de Deus à Sua criação. Finalmente, porque ele representa a entrega de Cristo à sua Igreja até à morte de cruz.

Portanto, o Matrimônio concluído e consumado entre batizados não pode ser dissolvido. Esse sacramento confere também aos esposos a graça necessária para alcançar a santidade na vida conjugal e para o acolhimento responsável dos filhos e a sua educação. A união matrimonial é, muitas vezes, ameaçada pela discórdia e pela infidelidade por causa do  pecado original, que provocou também a ruptura da comunhão do homem e da mulher, dada pelo Criador. Todavia Deus, na Sua infinita misericórdia, dá ao homem e à mulher a Sua graça para que possam realizar a união das suas vidas segundo o desígnio originário d'Ele.

O adultério e a poligamia são pecados gravemente contrários ao sacramento do Matrimônio porque estão em contradição com a igual dignidade do homem e da mulher e com a unicidade e exclusividade do amor conjugal; assim como a rejeição à fecundidade, que priva a vida conjugal do dom dos filhos; e o divórcio, que se opõe à indissolubilidade. A fidelidade absoluta no Matrimônio, mais do que ser um testemunho do esforço humano, remete à fidelidade a Deus, que está presente, mesmo quando nós, na questão da fidelidade, O traímos e nos esquecemos d'Ele. A Igreja admite a separação física dos esposos quando, por motivos graves, a sua coabitação se tornou praticamente impossível, embora se deseje a reconciliação deles. Mas eles, enquanto o cônjuge viver, não estarão livres para contrair uma nova união, a menos que o Matrimônio seja nulo e como tal seja declarado pela autoridade eclesiástica.

Jesus Cristo não só restabelece a ordem inicial querida por Deus, como também dá a graça ao casal de viver o Matrimônio na nova dignidade de sacramento, que é o sinal do Seu amor esponsal pela Igreja: "Vós maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja" (Ef 5,25). O Matrimônio não é uma obrigação para todos. Deus chama alguns homens e mulheres a seguir o Senhor Jesus mantendo-se virgens ou sendo celibatários pelo Reino dos céus, renunciando ao grande bem do Matrimônio para se preocuparem unicamente com as coisas do Senhor e para procurarem agradar-Lhe, tornando-se assim sinal do absoluto primado do amor de Cristo e da ardente esperança da Sua vinda gloriosa.

Tão grande é o valor desse sacramento que a família cristã é chamada de "Igreja doméstica" por manifestar e realizar a natureza de comunhão e família da Igreja como família de Deus. Cada membro, a seu modo, exerce o sacerdócio batismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e cristãs, lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos.

Portanto, de acordo com a ordem de São Paulo os "Maridos, devem amar as mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela" (Efésios 5, 25). Nesse lindo sacramento do Matrimônio o casal possui a oportunidade de se doar inteiramente um ao outro, entregando sua vida por amor, à semelhança do próprio Senhor. O beato João Paulo II definiu sabiamente o amor do casal celebrado nesse sacramento, para ele este dom é, acima de tudo, um assumir para si o futuro do outro como seu; esta é a via de santidade por meio do Matrimônio. Desta forma, casar-se significa confiar mais na ajuda de Deus que nas próprias reservas do amor, e certamente na fidelidade ao Senhor pelo sacramento o casal obtém a santificação um do outro pelo amor.

Redação Portal
Fonte: Catecismo da Igreja Católica

14 de março de 2012

Recarregue a sua fé!

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Sem fé não conseguimos dar passos para viver
Carro sem bateria não funciona. Homem sem fé não consegue dar passos para viver!

Fé é uma palavra simples e pequenininha capaz de comandar a nossa vida, sem ela comprometemos o nosso dia a dia. Ela dá forças ao ser humano! Em um carro só percebemos que a "bateria está fraca" quando, ao dar partida, ele não funciona. Muitos de nós já vivenciamos isso! Quando isso acontece sempre chamamos alguém para nos ajudar a empurrar fazendo "pegar no tranco", mesmo sabendo que a melhor solução é colocar bateria nova. Vivemos, muitas vezes, "empurrando-nos" , "aos trancos e barrancos".

Dentro desse quadro, três pontos são fundamentais:

Acreditar: Cada um de nós tem a fé interior que foi colocada pelo próprio Deus.

Constatar: A bateria está no carro, mas não funciona porque acabou a carga. Da mesma forma, a fé está em nós, mas vários fatores contribuem para não acreditarmos nisso e, então, paramos também de "funcionar!"

Acionar: Ligue-se frequentemente a Deus, falar com Ele é simples! Quando estamos precisando falar com alguém rapidamente acionamos o celular. Assim é com Deus, em qualquer lugar e seja o que for que você estiver vivendo Ele entra de cheio em ação para socorrê-lo. Carregue a sua fé em Jesus! A "bateria é recarregada", é alimentada na Bíblia, na Santa Missa e na Adoração Eucarística, só assim continuaremos prontos para caminhar em meio à escuridão, em meio aos sufocos, em meio às crises.

Que a Eucaristia e a Palavra de Deus o fortaleçam e o encorajem para conduzir os seus passos por muitos e muitos quilômetros na fé. Não se amedronte.

Boa caminhada!

Tem jeito!

Cleto Coelho
http://blog.cancaonova.com/temjeito - Twitter @Cletocoelho

12 de março de 2012

A ternura torna a vida mais leve e descomplicada

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Ela nos ensina a saber esperar
A vida da gente seria tão mais descomplicada se nela houvesse um pouco mais de ternura. Sim, ternura para se perceber e perceber os outros com a singeleza que é própria de uma folha embalada pelo vento. Ternura para compreender as tristezas sob um ar de aprendizado e acréscimo.

O terno não se permite amargar por decepções. Ele desenvolve a faculdade de enxergar mais longe, indo além da simples experiência para perceber o positivo que se esconde em cada realidade.

A ternura nos ensina a saber esperar, a ter paciência diante de nossa fraqueza e da alheia, aguardando o derradeiro momento no qual a virtude vai verdadeiramente florescer. Muitos relacionamentos acabam por ausência de ternura, em virtude de um fatal descuido nos detalhes. O que os [relacionamentos] encerra não é tanto a ausência do amor, mas do cuidado (ternura).

Existem várias formas de amar, mas, apenas a via da ternura assegura sua (amor) correta percepção. Amor sem ternura é verão sem sol, arte sem beleza, vida sem movimento. O amor precisa de ternura para se encarnar e para se fazer sentir. Muitos pais amam, mas não são compreendidos assim. Por quê? Será ausência de ternura?

É preciso investir na ternura, ela torna a vida mais leve e o amor verdadeiramente perceptível. Ternura no olhar, falar, abraçar; o coração não se desenvolve sem ternura, pois, ela nos transporta à nossa real essência: afinal, viemos à existência por um ato de extrema Ternura. Não tenhamos medo de ser ternos. Isso não nos diminuirá, ao contrário, nos enobrecerá e tornará nossa vida mais feliz e sinceramente acompanhada (quem é terno atrai ternura).

Ternura, simplesmente ternura! Isso, de fato, descomplicará e qualificará cada fragmento de nosso todo. Sem receio e sem protocolos, ousemos e, no concreto de nossa vida, façamos essa linda experiência!

Foto Padre Adriano Zandoná

8 de março de 2012

O Reinado Social de Cristo

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Jesus deve reinar sobre a vida pública e social
"Cristo" é a tradução grega do termo hebraico "Messias", que quer dizer "ungido". Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n. 436), no antigo povo de Israel eram ungidos em nome de Deus os reis, os sacerdotes e os profetas. Por isso, sendo o Senhor Jesus o Ungido por excelência, a Ele pertence o tríplice múnus de Sumo Profeta, Eterno Sacerdote e Rei Universal. O Catecismo Romano, por sua vez, esclarece que a Unção pela qual Jesus foi sagrado o Cristo consiste na plenitude da graça do Espírito Santo e na abundância dos dons espirituais que Lhe foram conferidos enquanto homem (cf. I, III, 7).

Assim, o fundamento da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo está no mistério da Encarnação, ou seja, no fato de ser Ele verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Trata-se daquela que pelos teólogos é chamada de "união hipostática": duas naturezas, divina e humana, não confundidas, mas admiravelmente unidas na Pessoa divina do Verbo. Em vista disso, Jesus Cristo é Rei do Universo, não apenas por ser Deus e Senhor de tudo, mas também enquanto homem. Como explica o Papa Pio XI, na encíclica Quas Primas: «Segue daí que o Cristo não somente deve ser adorado como Deus pelos anjos e pelos homens, mas também que a Ele, como homem, devem estar submetidos e obedecer: isto é, que unicamente pelo fato da união hipostática o Cristo recebeu o poder sobre todas as criaturas» (n. 7). Efetivamente, ensina o antigo Catecismo Romano: «Jesus é Rei porque Deus reuniu em sua humanidade tudo o que a natureza humana podia comportar de poder, grandeza e dignidade. Entregou-lhe, portanto, o governo do mundo inteiro» (I, III, 7).

Isso significa que Jesus é Rei não apenas da porta da sacristia para dentro. Jesus é Rei não apenas dos homens considerados individualmente, mas também deve reinar sobre a vida pública e social. Com efeito, declara Papa Pio XI: «Os homens, unidos em sociedade, não estão menos sob o poder do Cristo do que o estejam os homens particulares. Somente Ele é a fonte da salvação privada e pública» (Quas Primas, 11). O mesmo Pontífice, na encíclica Ubi Arcano, já havia dito que «o meio mais eficaz de trabalhar pelo restabelecimento da paz é restaurar o Reino de Cristo» (n. 39). E em que consiste esse Reino? Responde-nos o Papa Paulo VI em sua Solene Profissão de Fé (Credo do Povo de Deus): «Consiste em conhecer sempre mais profundamente as insondáveis riquezas do Cristo, em esperar sempre mais ardentemente os bens eternos, em responder sempre mais decididamente ao amor de Deus e em distribuir sempre mais largamente a graça e a santidade entre os homens» (n. 27).

Diz ainda o Sumo Pontífice Pio XI que Jesus «reina na sociedade quando esta, prestando a Deus uma homenagem soberana, reconhece que d'Ele derivam a autoridade e seus direitos» (Ubi Arcano, 38). No entanto, quão longe disso estamos hoje em dia! Mais uma vez vemos cumprirem-se diante de nossos olhos as palavras do Salmista: «Por que os povos agitados se revoltam? Por que tramam as nações projetos vãos? Por que os reis de toda a terra se reúnem e conspiram os governos todos juntos contra o Deus onipotente e o seu Cristo?» (Sl 2,1-2).

Se estendermos o olhar ao nosso redor, veremos ser travada, nos campos da cultura e da política, uma guerra de extermínio contra o Cristianismo. Leis iníquas são aprovadas, arrancam-se os crucifixos das paredes e os cristãos são oprimidos e marginalizados apenas por vivenciarem a sua fé. Este é o panorama de uma sociedade que se rebela contra a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Jesus é Rei, o Legislador supremo e o único verdadeiro Soberano. Todas as vezes em que os homens, arrogantemente, usurparam essa soberania, como se a eles só pertencesse, o resultado invariavelmente foi o mal, a opressão, a tirania. Se não nos organizarmos a fim de devolver à sociedade moderna uma noção do espiritual, defendendo o Reinado social de Jesus Cristo, eles acabarão conosco. «Levantemos o nosso povo do seu abatimento e pelejemos por nossa Pátria e por nossa religião» (I Mac 3,43).

Rodrigo Pedroso

6 de março de 2012

Solícitos para reconciliar

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O caminho da Quaresma proporciona uma qualificação de valores
Momento favorável é uma indicação que o apóstolo Paulo faz dirigindo-se aos cristãos em Corinto. É uma referência ao dia da salvação, mas que deve ser incorporada às situações do dia a dia. Não se pode perder nunca a hora certa para coisas importantes na vida familiar, social e cultural. Aproveitá-la é caminho para o êxito. Contudo, não é tarefa fácil saber discernir o tempo propício para cada coisa da vida. Ainda mais desafiador é inserir-se na dinâmica e nas circunstâncias deste momento.


O momento favorável, abordado pelo apóstolo Paulo, em referência ao dia da salvação, toca existencialmente todos. O dom da vida requer o discernimento sobre esse momento para seu tratamento adequado e sua qualificação. A liturgia da Igreja Católica, com o tempo da Quaresma, iniciado nesta Quarta-feira de Cinzas, até a Semana Santa, é uma sábia e indispensável indicação de um tempo especial para a vida de cada pessoa.

Neste tempo da Quaresma ecoa a profecia que convida insistentemente para um encontro com Deus, de todo o coração. É um processo de reconfiguração qualificada da própria vida que inclui as circunstâncias todas do tecido da sociedade. O ápice da qualificação de qualquer vida pessoal é a consistência da própria interioridade como fonte sustentadora da paixão pela verdade, o gosto pela solidariedade e a coragem de lutar pela justiça. É cultivar a honestidade na palavra dada, no respeito aos outros e, particularmente, na condução da coisa pública e do bem comum.

Pensar a salvação como momento favorável é reconhecer que ninguém pode se furtar ao propósito existencial de reconciliação, com Deus e com o semelhante, superando inimizades. É aproximar-se do pobre, do indefeso e do inocente. Trata-se também de uma reconciliação consigo mesmo, um movimento reverso ao que leva à depressão, à vida vivida nos disparates da arbitrariedade e das tiranias do desejo. O convite central deste tempo da Quaresma, o voltar-se para Deus, se concretiza na indicação direta do imperativo "convertei-vos". Cria a convicção indispensável de que não apenas os sistemas, os governos, os funcionamentos administrativos, os mecanismos da sociedade merecem uma revisão, mas também o si mesmo de cada um.

É o si mesmo de cada um a alma e o sustento de processos, de famílias, de instituições, de lideranças lúcidas e da indispensável capacidade cidadã de indignar-se com o mal. O tempo quaresmal tem a finalidade educativa de motivar a correção do orgulho que perpetua insanidades, atrasa reconciliações e enjaula a possibilidade de se viver mais solidariamente. Quem percorre o caminho quaresmal escutando a Palavra de Deus, falando menos, contemplando mais, sensibilizando-se sob o impulso da caridade fraterna, alcança uma qualificação ancorada na força de valores. Essas pessoas fazem a diferença no que são, onde estão e no exercício de suas responsabilidades.

Oportuno, pode se concluir, o tema deste ano da Campanha da Fraternidade, uma tradição quase cinquentenária promovida pela Igreja Católica no Brasil: a Saúde Pública com o propósito e o compromisso, como reza o livro do Eclesiástico, de espalhar a saúde pela terra. O propósito desta Campanha da Fraternidade 2012 é, de verdade, a corajosa abordagem, visando melhorias no sistema público de saúde.

Os cortes orçamentários feitos em âmbito governamental e o inevitável comprometimento de programas e projetos merecem a mobilização sistemática da sociedade, que tem o direito de discutir esse assunto de interesse coletivo. É preciso amadurecer e encontrar caminhos para a qualificação do sistema público de saúde. Legislação lúcida e garantia do tratamento adequado aos enfermos são conquistas fundamentais. Além disso, deve ser permanentemente buscado o necessário processo educativo de cada cidadão, estimulando-o a viver de forma saudável. Este tempo da Quaresma, de forma especial, ajuda também a entender a saúde como tarefa espiritual. É, por isso mesmo, momento favorável, um verdadeiro antídoto para a crise existencial contemporânea.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte