19 de março de 2012

O nosso Pai São José

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Homem que agradou a Deus
Não é sem razão que a Igreja, no meio da Quaresma, tira o roxo no dia 19 de março e coloca o branco na liturgia, para celebrar a festa de São José, esposo da Virgem Maria. Entre todos os homens do seu tempo, Deus escolheu o glorioso São José para ser pai adotivo de seu Filho divino e humanado. E Jesus lhe era submisso, como mostra São Lucas. 

Santo Gertrudes (1256-1302), um grande místico da Saxônia, disse que "viu os Anjos inclinarem a cabeça quando no céu pronunciavam o nome de São José".

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), a primeira Doutora da Igreja, a reformadora do Carmelo, disse: "Quem não achar mestre que lhe ensine a orar, tome São José por mestre e não errará o caminho". E ensinava que em todas as suas festas lhe fazia um pedido e que nunca deixou de ser atendida. Ensinava ainda que cada santo nos socorre em uma determinada necessidade, mas que São José nos socorre em todas.

O Evangelho fala pouco de sua vida, mas o exalta por ter vivido segundo  "a obediência da fé" (Rm 1,5). Deus nos dá a graça para viver pela fé (Rm, 5,1.2; Hb 10,38) em todas as circunstancias.  São José, um homem humilde e justo "viveu pela fé", sem a qual "é impossível agradar a Deus" (Hab 2,3; Rm 1,17; Hb 11,6).

O grande Doutor da Igreja Santo Agostinho compara os outros santos às estrelas, mas, a São José, ele o compara ao Sol. A ele Deus confiou suas riquezas: Jesus e Maria. Por isso, o Papa Pio IX, em 1870,  declarou São José padroeiro da Igreja Universal com o decreto "Quemadmodum Deus". Leão XIII, na Encíclica "Quanquam Pluries", o propôs como "advogado dos lares cristãos". Pio XII o propôs como "exemplo para todos os trabalhadores" e fixou o dia 1º de maio como festa de ao José Trabalhador.

São José foi pai verdadeiro de Jesus, não pela carne, mas pelo coração; protegeu o Menino das mãos assassinas de Herodes o Grande, e ensinou-lhe o caminho do trabalho. Jesus não se envergonhou de ser chamado "filho do carpinteiro". Naquela rude carpintaria de Nazaré ele trabalhou até iniciar Sua vida pública, mostrando-nos que o trabalho é redentor.

Na história da salvação coube a São José dar a Jesus um nome, faze-lo descendente da linhagem de Davi, como era necessário para cumprir as promessas divinas. A José coube a honra e a glória de dar o nome a Jesus na sua circuncisão. O Anjo disse-lhe:  "Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,21).
A vida exemplar de São José é exemplo para todos nós. Num tempo de crise de autoridade paterna, onde os pais já não conseguem "conquistar seus filhos" e fazerem-se obedecer como devem, o exemplo do Menino Jesus submisso a seu pai torna-se urgente. Isto mostra-nos a enorme importância do pai na vida dos filhos. Se o Filho de Deus quis ter um pai, ao menos adotivo, neste mundo, o que dizer de muitos filhos que crescem sem o pai? O que dizer de tantos "filhos órfãos de pais vivos" que existem no Brasil, como disse-nos aqui mesmo em 1997 o

Papa João Paulo II? São José é o modelo de pai presente e atencioso, de esposo amoroso e fiel.

Celebrar a festa de São José é lembrar que a família é fundamental para a sociedade e que não pode ser destruídas pelas falsas noções de  família, "caricaturas de família", que nada têm a ver com o que Deus quer. É lutar para resgatar a família segundo a vontade e o coração de Deus. Em todos os tempos difíceis os Papas pediram aos fiéis que recorressem a São José; hoje, mais do que nunca é preciso dizer: São José, valei-nos! Falando de São José, o Papa João Paulo II na  exortação apostólica "Redemptoris Custos" (o protetor do Redentor), de 15 de agosto de 1989, disse: "assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo Místico, a Igreja" (nº1). "Hoje ainda temos motivos que perduram, para recomendar todos e cada um dos homens a São José (nº 31).

Celebrar a festa de São José é celebrar a vitória da fé e da obediência sobre a rebeldia e a descrença que hoje invadem os lares, a sociedade e até a Igreja. O homem moderno quer liberdade; "é proibido proibir!"; e, nesta loucura lança a humanidade no caos.

São José, tal como a Virgem Maria, com o seu "Sim" a Deus no meio da noite, preparou a chegada do Salvador. Deus contou com ele, e não foi decepcionado. Que possa contar também conosco! Cada um de nós também tem uma missão a cumprir no plano de Deus. E o mais importante é dizer "Sim" a Deus como São José. "Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado" (Mt 1,24).

Celebrar a festa de São José é celebrar a santidade, a espiritualidade, o silêncio profundo e fértil. São José entrou mudo e saiu calado, mas nos deixou o Salvador pronto para começar a Sua missão. É como alguém disse: "o servo que faz muito sem dizer nada; o especial agente secreto de Deus". Ele é o mestre da oração e da contemplação, da obediência e da fé. Com ele aprendemos a amar a Deus e ao próximo.

São José viveu o que ensinou João Batista: "É preciso que Ele cresça e eu diminua" (Jo 3,30).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

16 de março de 2012

O sacramento do Matrimônio

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Uma via de santidade
O sacramento do Matrimônio e o da Ordem são chamados sacramentos a serviço da comunhão e da missão, por conferirem uma graça especial para a missão particular na Igreja com relação à edificação do povo de Deus, contribuindo em especial para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros. O homem e a mulher foram criados por Deus com uma igual dignidade como pessoas humanas e, ao mesmo tempo, numa complementaridade recíproca como masculino e feminino. Deus quis que fossem um para o outro, para uma comunhão de pessoas. Juntos são também chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimônio uma só carne (cf. Gn 2, 24).

O Matrimônio participa desta dinâmica de serviço para a santificação. O Senhor, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Ao criar o homem e a mulher, chamou-os, no Matrimônio, a uma íntima comunhão de vida e de amor entre si, de modo que já não são dois, mas uma só carne (cf. Mt 19,6). Abençoando-os, Deus disse-lhes que fossem fecundos e se multiplicassem (cf. Gn 1,28).

Esse sacramento se realiza diante de uma promessa entre um homem e uma mulher, prestada diante de Deus e da Igreja, aceita e selada pelo Senhor e concluída pela união corporal do casal. Porque é o próprio Altíssimo quem dá o laço do Matrimônio sacramental e o mantém unido até a morte de um dos consortes. São necessários três elementos para a realização do Matrimônio: o consentimento, a concordância com uma união por toda a vida e apenas com o consorte, e por fim, a abertura aos filhos. Sendo a mais profunda a consciência do casal de que são uma imagem viva do amor entre Cristo e a Igreja.

O sacramento do Matrimônio gera entre os cônjuges um vínculo perpétuo e exclusivo. O próprio Deus sela o consentimento dos esposos. Primeiro, porque corresponde à essência do amor se entregar mutuamente sem reservas. Depois, porque ele é imagem da incondicional fidelidade de Deus à Sua criação. Finalmente, porque ele representa a entrega de Cristo à sua Igreja até à morte de cruz.

Portanto, o Matrimônio concluído e consumado entre batizados não pode ser dissolvido. Esse sacramento confere também aos esposos a graça necessária para alcançar a santidade na vida conjugal e para o acolhimento responsável dos filhos e a sua educação. A união matrimonial é, muitas vezes, ameaçada pela discórdia e pela infidelidade por causa do  pecado original, que provocou também a ruptura da comunhão do homem e da mulher, dada pelo Criador. Todavia Deus, na Sua infinita misericórdia, dá ao homem e à mulher a Sua graça para que possam realizar a união das suas vidas segundo o desígnio originário d'Ele.

O adultério e a poligamia são pecados gravemente contrários ao sacramento do Matrimônio porque estão em contradição com a igual dignidade do homem e da mulher e com a unicidade e exclusividade do amor conjugal; assim como a rejeição à fecundidade, que priva a vida conjugal do dom dos filhos; e o divórcio, que se opõe à indissolubilidade. A fidelidade absoluta no Matrimônio, mais do que ser um testemunho do esforço humano, remete à fidelidade a Deus, que está presente, mesmo quando nós, na questão da fidelidade, O traímos e nos esquecemos d'Ele. A Igreja admite a separação física dos esposos quando, por motivos graves, a sua coabitação se tornou praticamente impossível, embora se deseje a reconciliação deles. Mas eles, enquanto o cônjuge viver, não estarão livres para contrair uma nova união, a menos que o Matrimônio seja nulo e como tal seja declarado pela autoridade eclesiástica.

Jesus Cristo não só restabelece a ordem inicial querida por Deus, como também dá a graça ao casal de viver o Matrimônio na nova dignidade de sacramento, que é o sinal do Seu amor esponsal pela Igreja: "Vós maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja" (Ef 5,25). O Matrimônio não é uma obrigação para todos. Deus chama alguns homens e mulheres a seguir o Senhor Jesus mantendo-se virgens ou sendo celibatários pelo Reino dos céus, renunciando ao grande bem do Matrimônio para se preocuparem unicamente com as coisas do Senhor e para procurarem agradar-Lhe, tornando-se assim sinal do absoluto primado do amor de Cristo e da ardente esperança da Sua vinda gloriosa.

Tão grande é o valor desse sacramento que a família cristã é chamada de "Igreja doméstica" por manifestar e realizar a natureza de comunhão e família da Igreja como família de Deus. Cada membro, a seu modo, exerce o sacerdócio batismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e cristãs, lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos.

Portanto, de acordo com a ordem de São Paulo os "Maridos, devem amar as mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela" (Efésios 5, 25). Nesse lindo sacramento do Matrimônio o casal possui a oportunidade de se doar inteiramente um ao outro, entregando sua vida por amor, à semelhança do próprio Senhor. O beato João Paulo II definiu sabiamente o amor do casal celebrado nesse sacramento, para ele este dom é, acima de tudo, um assumir para si o futuro do outro como seu; esta é a via de santidade por meio do Matrimônio. Desta forma, casar-se significa confiar mais na ajuda de Deus que nas próprias reservas do amor, e certamente na fidelidade ao Senhor pelo sacramento o casal obtém a santificação um do outro pelo amor.

Redação Portal
Fonte: Catecismo da Igreja Católica

14 de março de 2012

Recarregue a sua fé!

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Sem fé não conseguimos dar passos para viver
Carro sem bateria não funciona. Homem sem fé não consegue dar passos para viver!

Fé é uma palavra simples e pequenininha capaz de comandar a nossa vida, sem ela comprometemos o nosso dia a dia. Ela dá forças ao ser humano! Em um carro só percebemos que a "bateria está fraca" quando, ao dar partida, ele não funciona. Muitos de nós já vivenciamos isso! Quando isso acontece sempre chamamos alguém para nos ajudar a empurrar fazendo "pegar no tranco", mesmo sabendo que a melhor solução é colocar bateria nova. Vivemos, muitas vezes, "empurrando-nos" , "aos trancos e barrancos".

Dentro desse quadro, três pontos são fundamentais:

Acreditar: Cada um de nós tem a fé interior que foi colocada pelo próprio Deus.

Constatar: A bateria está no carro, mas não funciona porque acabou a carga. Da mesma forma, a fé está em nós, mas vários fatores contribuem para não acreditarmos nisso e, então, paramos também de "funcionar!"

Acionar: Ligue-se frequentemente a Deus, falar com Ele é simples! Quando estamos precisando falar com alguém rapidamente acionamos o celular. Assim é com Deus, em qualquer lugar e seja o que for que você estiver vivendo Ele entra de cheio em ação para socorrê-lo. Carregue a sua fé em Jesus! A "bateria é recarregada", é alimentada na Bíblia, na Santa Missa e na Adoração Eucarística, só assim continuaremos prontos para caminhar em meio à escuridão, em meio aos sufocos, em meio às crises.

Que a Eucaristia e a Palavra de Deus o fortaleçam e o encorajem para conduzir os seus passos por muitos e muitos quilômetros na fé. Não se amedronte.

Boa caminhada!

Tem jeito!

Cleto Coelho
http://blog.cancaonova.com/temjeito - Twitter @Cletocoelho

12 de março de 2012

A ternura torna a vida mais leve e descomplicada

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Ela nos ensina a saber esperar
A vida da gente seria tão mais descomplicada se nela houvesse um pouco mais de ternura. Sim, ternura para se perceber e perceber os outros com a singeleza que é própria de uma folha embalada pelo vento. Ternura para compreender as tristezas sob um ar de aprendizado e acréscimo.

O terno não se permite amargar por decepções. Ele desenvolve a faculdade de enxergar mais longe, indo além da simples experiência para perceber o positivo que se esconde em cada realidade.

A ternura nos ensina a saber esperar, a ter paciência diante de nossa fraqueza e da alheia, aguardando o derradeiro momento no qual a virtude vai verdadeiramente florescer. Muitos relacionamentos acabam por ausência de ternura, em virtude de um fatal descuido nos detalhes. O que os [relacionamentos] encerra não é tanto a ausência do amor, mas do cuidado (ternura).

Existem várias formas de amar, mas, apenas a via da ternura assegura sua (amor) correta percepção. Amor sem ternura é verão sem sol, arte sem beleza, vida sem movimento. O amor precisa de ternura para se encarnar e para se fazer sentir. Muitos pais amam, mas não são compreendidos assim. Por quê? Será ausência de ternura?

É preciso investir na ternura, ela torna a vida mais leve e o amor verdadeiramente perceptível. Ternura no olhar, falar, abraçar; o coração não se desenvolve sem ternura, pois, ela nos transporta à nossa real essência: afinal, viemos à existência por um ato de extrema Ternura. Não tenhamos medo de ser ternos. Isso não nos diminuirá, ao contrário, nos enobrecerá e tornará nossa vida mais feliz e sinceramente acompanhada (quem é terno atrai ternura).

Ternura, simplesmente ternura! Isso, de fato, descomplicará e qualificará cada fragmento de nosso todo. Sem receio e sem protocolos, ousemos e, no concreto de nossa vida, façamos essa linda experiência!

Foto Padre Adriano Zandoná

8 de março de 2012

O Reinado Social de Cristo

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Jesus deve reinar sobre a vida pública e social
"Cristo" é a tradução grega do termo hebraico "Messias", que quer dizer "ungido". Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n. 436), no antigo povo de Israel eram ungidos em nome de Deus os reis, os sacerdotes e os profetas. Por isso, sendo o Senhor Jesus o Ungido por excelência, a Ele pertence o tríplice múnus de Sumo Profeta, Eterno Sacerdote e Rei Universal. O Catecismo Romano, por sua vez, esclarece que a Unção pela qual Jesus foi sagrado o Cristo consiste na plenitude da graça do Espírito Santo e na abundância dos dons espirituais que Lhe foram conferidos enquanto homem (cf. I, III, 7).

Assim, o fundamento da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo está no mistério da Encarnação, ou seja, no fato de ser Ele verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Trata-se daquela que pelos teólogos é chamada de "união hipostática": duas naturezas, divina e humana, não confundidas, mas admiravelmente unidas na Pessoa divina do Verbo. Em vista disso, Jesus Cristo é Rei do Universo, não apenas por ser Deus e Senhor de tudo, mas também enquanto homem. Como explica o Papa Pio XI, na encíclica Quas Primas: «Segue daí que o Cristo não somente deve ser adorado como Deus pelos anjos e pelos homens, mas também que a Ele, como homem, devem estar submetidos e obedecer: isto é, que unicamente pelo fato da união hipostática o Cristo recebeu o poder sobre todas as criaturas» (n. 7). Efetivamente, ensina o antigo Catecismo Romano: «Jesus é Rei porque Deus reuniu em sua humanidade tudo o que a natureza humana podia comportar de poder, grandeza e dignidade. Entregou-lhe, portanto, o governo do mundo inteiro» (I, III, 7).

Isso significa que Jesus é Rei não apenas da porta da sacristia para dentro. Jesus é Rei não apenas dos homens considerados individualmente, mas também deve reinar sobre a vida pública e social. Com efeito, declara Papa Pio XI: «Os homens, unidos em sociedade, não estão menos sob o poder do Cristo do que o estejam os homens particulares. Somente Ele é a fonte da salvação privada e pública» (Quas Primas, 11). O mesmo Pontífice, na encíclica Ubi Arcano, já havia dito que «o meio mais eficaz de trabalhar pelo restabelecimento da paz é restaurar o Reino de Cristo» (n. 39). E em que consiste esse Reino? Responde-nos o Papa Paulo VI em sua Solene Profissão de Fé (Credo do Povo de Deus): «Consiste em conhecer sempre mais profundamente as insondáveis riquezas do Cristo, em esperar sempre mais ardentemente os bens eternos, em responder sempre mais decididamente ao amor de Deus e em distribuir sempre mais largamente a graça e a santidade entre os homens» (n. 27).

Diz ainda o Sumo Pontífice Pio XI que Jesus «reina na sociedade quando esta, prestando a Deus uma homenagem soberana, reconhece que d'Ele derivam a autoridade e seus direitos» (Ubi Arcano, 38). No entanto, quão longe disso estamos hoje em dia! Mais uma vez vemos cumprirem-se diante de nossos olhos as palavras do Salmista: «Por que os povos agitados se revoltam? Por que tramam as nações projetos vãos? Por que os reis de toda a terra se reúnem e conspiram os governos todos juntos contra o Deus onipotente e o seu Cristo?» (Sl 2,1-2).

Se estendermos o olhar ao nosso redor, veremos ser travada, nos campos da cultura e da política, uma guerra de extermínio contra o Cristianismo. Leis iníquas são aprovadas, arrancam-se os crucifixos das paredes e os cristãos são oprimidos e marginalizados apenas por vivenciarem a sua fé. Este é o panorama de uma sociedade que se rebela contra a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Jesus é Rei, o Legislador supremo e o único verdadeiro Soberano. Todas as vezes em que os homens, arrogantemente, usurparam essa soberania, como se a eles só pertencesse, o resultado invariavelmente foi o mal, a opressão, a tirania. Se não nos organizarmos a fim de devolver à sociedade moderna uma noção do espiritual, defendendo o Reinado social de Jesus Cristo, eles acabarão conosco. «Levantemos o nosso povo do seu abatimento e pelejemos por nossa Pátria e por nossa religião» (I Mac 3,43).

Rodrigo Pedroso

6 de março de 2012

Solícitos para reconciliar

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O caminho da Quaresma proporciona uma qualificação de valores
Momento favorável é uma indicação que o apóstolo Paulo faz dirigindo-se aos cristãos em Corinto. É uma referência ao dia da salvação, mas que deve ser incorporada às situações do dia a dia. Não se pode perder nunca a hora certa para coisas importantes na vida familiar, social e cultural. Aproveitá-la é caminho para o êxito. Contudo, não é tarefa fácil saber discernir o tempo propício para cada coisa da vida. Ainda mais desafiador é inserir-se na dinâmica e nas circunstâncias deste momento.


O momento favorável, abordado pelo apóstolo Paulo, em referência ao dia da salvação, toca existencialmente todos. O dom da vida requer o discernimento sobre esse momento para seu tratamento adequado e sua qualificação. A liturgia da Igreja Católica, com o tempo da Quaresma, iniciado nesta Quarta-feira de Cinzas, até a Semana Santa, é uma sábia e indispensável indicação de um tempo especial para a vida de cada pessoa.

Neste tempo da Quaresma ecoa a profecia que convida insistentemente para um encontro com Deus, de todo o coração. É um processo de reconfiguração qualificada da própria vida que inclui as circunstâncias todas do tecido da sociedade. O ápice da qualificação de qualquer vida pessoal é a consistência da própria interioridade como fonte sustentadora da paixão pela verdade, o gosto pela solidariedade e a coragem de lutar pela justiça. É cultivar a honestidade na palavra dada, no respeito aos outros e, particularmente, na condução da coisa pública e do bem comum.

Pensar a salvação como momento favorável é reconhecer que ninguém pode se furtar ao propósito existencial de reconciliação, com Deus e com o semelhante, superando inimizades. É aproximar-se do pobre, do indefeso e do inocente. Trata-se também de uma reconciliação consigo mesmo, um movimento reverso ao que leva à depressão, à vida vivida nos disparates da arbitrariedade e das tiranias do desejo. O convite central deste tempo da Quaresma, o voltar-se para Deus, se concretiza na indicação direta do imperativo "convertei-vos". Cria a convicção indispensável de que não apenas os sistemas, os governos, os funcionamentos administrativos, os mecanismos da sociedade merecem uma revisão, mas também o si mesmo de cada um.

É o si mesmo de cada um a alma e o sustento de processos, de famílias, de instituições, de lideranças lúcidas e da indispensável capacidade cidadã de indignar-se com o mal. O tempo quaresmal tem a finalidade educativa de motivar a correção do orgulho que perpetua insanidades, atrasa reconciliações e enjaula a possibilidade de se viver mais solidariamente. Quem percorre o caminho quaresmal escutando a Palavra de Deus, falando menos, contemplando mais, sensibilizando-se sob o impulso da caridade fraterna, alcança uma qualificação ancorada na força de valores. Essas pessoas fazem a diferença no que são, onde estão e no exercício de suas responsabilidades.

Oportuno, pode se concluir, o tema deste ano da Campanha da Fraternidade, uma tradição quase cinquentenária promovida pela Igreja Católica no Brasil: a Saúde Pública com o propósito e o compromisso, como reza o livro do Eclesiástico, de espalhar a saúde pela terra. O propósito desta Campanha da Fraternidade 2012 é, de verdade, a corajosa abordagem, visando melhorias no sistema público de saúde.

Os cortes orçamentários feitos em âmbito governamental e o inevitável comprometimento de programas e projetos merecem a mobilização sistemática da sociedade, que tem o direito de discutir esse assunto de interesse coletivo. É preciso amadurecer e encontrar caminhos para a qualificação do sistema público de saúde. Legislação lúcida e garantia do tratamento adequado aos enfermos são conquistas fundamentais. Além disso, deve ser permanentemente buscado o necessário processo educativo de cada cidadão, estimulando-o a viver de forma saudável. Este tempo da Quaresma, de forma especial, ajuda também a entender a saúde como tarefa espiritual. É, por isso mesmo, momento favorável, um verdadeiro antídoto para a crise existencial contemporânea.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

28 de fevereiro de 2012

Quem é Jesus Cristo para mim?

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O Jesus dos Evangelhos é o Jesus real
Essa é uma pergunta que o Papa Bento XVI respondeu no seu livro "Dogma e Anúncio". O Santo Padre afirmou que: "A partir de Jesus Cristo creio vislumbrar o que é Deus e o que é o homem". Deus Pai não é só abismo infinito e altura infinita, mas também distância infinita e proximidade infinita. Podemos nos confiar a Ele e falar com Ele, pois Ele nos ouve, vê e ama. "Embora não seja tempo, contudo, tem tempo: também para mim". Deus se revela em Jesus Cristo quando Este o chama de Pai, e por este mesmo dizer se une intimamente a nós.

Por um lado, o ser humano não é capaz de suportar o homem inteiramente bom, justo, amante da verdade, que não faz mal a ninguém. Quem é assim é crucificado pelo próprio homem. "Assim sou eu também – diz o Santo Padre – esta é a verdade assustadora que vem a mim de Cristo crucificado". Por outro lado, o homem possui uma natureza capaz de ser expressão de Deus. Além disso, por esta mesma natureza, Deus pode unir-se ao homem.

Tais afirmações têm como fundamento a experiência pessoal do Papa de como Jesus Cristo entrou em sua vida. Ele encontrou Cristo na fé da Igreja, não com um grande personagem do passado, mas com "Alguém que vive e age hoje, que se pode encontrar hoje". Jesus e a Igreja são inseparáveis e também se identificam. Todavia, Cristo supera infinitamente a Igreja, é o que diz o Concílio de Calcedônia: Ele é o Senhor da Igreja e a sua norma. Isso é, ao mesmo tempo, uma consolação e um apelo. É uma consolação porque Cristo está muito acima das leis e das coisas exteriores, mas também um apelo, pois "Ele exige muito mais do que a Igreja ousa exigir e, ao radicalismo das Suas palavras, só corresponde propriamente o radicalismo de decisões como as que realizaram o patriarca do deserto Santo Antão ou São Francisco de Assis ao aceitarem o Evangelho em sentido completamente literal".

O Jesus dos Evangelhos é o Jesus real, a quem posso me confiar com tranquilidade. A tradição dos Evangelhos nos dá informações sobre quem Jesus foi e é e, nela, Cristo se faz ouvir e ver sempre de novo. Desta forma, o Senhor continua a se manifestar a quem crê, com a Igreja, sobretudo na oração e nos sacramentos, tendo como destaque a Eucaristia.

Portanto, somente na experiência de fé com a pessoa de Jesus Cristo é possível compreender a radicalidade do chamado do Senhor aos homens. A parábola do jovem rico nos oferece um exemplo de quem não respondeu à voz do Pai e foi embora triste (cf. Mt 19, 22), pois não foi capaz de renunciar àquilo que era quase nada diante da grandeza e da riqueza dos bens celestes.

Para nós fica a pergunta que Cristo fez a Seus discípulos: "E vós", retomou Jesus, "quem dizeis que eu sou?" (Mt 16, 15). Essa pergunta é fundamental no seguimento a Jesus, pois a resposta que dermos determinará todo o nosso intinerário de seguimento ao Senhor, que continua a chamar a cada um de nós à vivência radical de Seus ensinamentos; pois conforme chamou aquele jovem o Senhor hoje diz a nós: "vem e segue-me" (Mt 19, 21).

Natalino Ueda
Missionário da Comunidade Canção Nova