13 de fevereiro de 2012

Estou sofrendo e agora?

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Sua história vai ter final feliz
Quantos de nós tivemos uma infância perfeita? Quantos de nós tivemos uma família perfeita? Quantos de nós tivemos pais perfeitos? E para que ninguém se sinta excluído dessa lista de perguntas a última é: Quantos de nós temos uma história perfeita, na qual tudo sempre deu certo?

Cada vez mais tenho a convicção de que esse tipo de pessoa não existe. Por isso se você teve ou tem problemas na sua história, se você tem traumas e feridas, que parecem eternas, porque não cicatrizam nunca, e se carrega dentro ou fora de si as lágrimas de um passado-presente que teimam em escorrer afogando esperanças e felicidade… então quero dizer que você não está sozinho e, assim como você, muitas pessoas passam por isso agora, e que, felizmente, existe uma forma para fazê-lo feliz mesmo que você tenha tido uma história tão difícil assim.

Se você tivesse a oportunidade de mudar alguma coisa na sua história, o que você mudaria? Com certeza, mudaríamos muitas coisas… Quem sabe aquela pessoa não tivesse morrido? Que eu não tivesse sido rejeitado… violentado… Queria ter recebido mais amor… Enfim, você conhece bem melhor que eu as cenas tristes desse filme. Se observarmos um pouco melhor vamos ver que, mesmo na vida de Jesus, aconteceram coisas que não foram assim muito boas; por exemplo; lembra o que José fez no primeiro instante quando soube que Maria estava grávida? "José, (…) resolveu rejeitá-la secretamente" (Mt 1,19).

E Jesus que estava no ventre de sua mãe também foi rejeitado (mesmo que isso tenha passado logo no coração de José (cf. Mt 1,20). Depois o Senhor sofreu o perigo do "infanticídio" ou mesmo de um "aborto" (pois se Herodes soubesse que Ele iria nascer e onde, certamente o mataria: cf. Mt 2,3). E quanto ao nascimento do Senhor nem preciso comentar… Viveu a pobreza tendo que fugir para o Egito (cf. Mt 2,14) e depois de ter amado "os Seus" sem reservas (cf. Jo 13,1), foi abandonado mais uma vez. Se a sua história não foi fácil saiba que a de Cristo também não o foi.

Jesus viveu em tudo a condição humana (exceto o pecado) (cf. Hb 4, 15), significa que Ele sabe o que é sofrer, significa que Ele sabe o que você sente. E mais: nas cenas mais assustadoras da sua história, se você observar um pouco melhor, vai descobrir que não estava sozinho (a). É verdade que você não é responsável pelo que fizeram com você no seu passado, mas é responsável pelo que vai fazer com isso no seu presente e no seu futuro.

Sabe o que mais? A sua história possui um Autor (com A maiúsculo); o autor é aquele que escreve, por isso determina como as coisas vão acontecer, como um filme, um teatro, uma novela, entre outros. Ainda que durante algum tempo "outros" tenham roubado o lugar do "Autor" e por isso essa história tenha começado de uma forma triste ou sombria, se você deixar o verdadeiro Autor tomar o lugar, que é d'Ele, tenha certeza de uma coisa: essa história não vai terminar como começou, a sua história vai ter final feliz!

O filme triste, que passava na sua cabeça das lembranças e pesadelos, ao qual você assistia com os olhos abertos, precisa, como vilões e os bandidos dos filmes a que assistimos, ser preso e destruído, colocado onde não possa mais lhe fazer mal. Por isso, denuncie para o verdadeiro Autor quem são os vilões da sua história, entregue-Lhe as feridas emocionais que ainda não foram cicatrizadas, entregue-Lhe aquelas situações que estão roubando a cena da sua vida.

Não permita que as coisas ruins, que as pessoas que o machucaram ou mesmo você, tomem o lugar do Autor, porque isso acabaria estragando a história que, mesmo com calvário e cruz, é chamada a ser história de ressurreição, apesar de todo sofrimento que Jesus viveu. Ele ressuscitou, exatamente porque o Pai (Deus-Pai), era e é o grande Autor da sua história; tenha certeza de que o mesmo Autor quer transformar de uma vez por todas sua história de terror em história de final feliz.

Padre Sóstenes Vieira
http://blog.cancaonova.com/padresostenes

10 de fevereiro de 2012

O sacramento do batismo

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Nele o homem une-se a Cristo
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina que os sacramentos são um encontro pessoal com Cristo, este encontro é, no fundo, o sacramento original, eles são sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, mediante os quais nos é concedida a vida divina. São sete os sacramentos: batismo, confirmação – crisma, Eucaristia, penitência – confissão, unção dos enfermos, ordem e matrimônio, todos eles estão ordenados para a Eucaristia, como para o seu fim, segundo santo Tomás de Aquino.

A partir do CIC os sacramentos são categorizados eme três formas. 1) Sacramentos da iniciação cristã (batismo, confirmação – crisma e Eucaristia); 2) Sacramentos de cura (penitência – confissão, unção dos enfermos); 3) Sacramentos a serviço da comunhão e da missão (ordem e matrimônio).

Os sacramentos de iniciação cristã lançam os alicerces da vida cristã: os fiéis, renascidos pelo batismo, são fortalecidos pela confirmação e alimentados pela Eucaristia. O primeiro dos sacramentos de iniciação cristã é o batismo, ele é o caminho do reino da morte para a vida, a porta da Igreja e o começo de uma comunhão duradoura com Deus. Nesse sacramento o homem une-se a Cristo, pois ele é uma aliança com Deus, e a condição prévia para receber os outros.

No Antigo Testamento encontram-se várias prefigurações do batismo: a água, fonte de vida e de morte; a arca de Noé, que salva por meio da água; a passagem do Mar Vermelho, que liberta Israel da escravidão do Egito; a travessia do Jordão, que introduz Israel na Terra Prometida, imagem da vida eterna. O próprio Jesus Cristo se fez batizar por João Batista, no Jordão: na cruz, do seu lado trespassado, derramou Sangue e Água, sinais do batismo e da Eucaristia, e depois da Ressurreição confia aos apóstolos esta missão: «Ide e ensinai todos os povos, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19-20). A Igreja, desde do o dia de Pentecostes, administra o batismo a quem crê em Jesus Cristo.

Batizar significa imergir na água. O batizado é imerso na morte de Cristo e ressurge com Ele como nova criatura (II Cor 5,17). Por isso este [batismo] também é chamado banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo (cf. Tt 3,5) e iluminação, porque o batizado se torna filho da luz (cf. Ef 5, 8). Porque tendo nascido com o pecado original, ele tem necessidade de ser libertado do poder do maligno e de ser transferido para o reino da liberdade dos filhos de Deus.

Entre os efeitos do batismo se destacam o perdão do pecado original e de todos os pecados pessoais e as penas devidas ao pecado, fazendo o homem participar na vida divina trinitária mediante a graça santificante, confere as virtudes teologais – fé, esperança, caridade e os dons do Espírito Santo. Por fim, o batizado pertence para sempre a Cristo.

O rito essencial deste sacramento consiste em imergir na água o candidato ou em derramar a água sobre a sua cabeça, enquanto é invocado o Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, sendo capaz de receber o batismo toda pessoa ainda não batizada. Do batizando é exigida a profissão de fé, expressa pessoalmente no caso do adulto, ou então por parte dos pais e da Igreja no caso da criança. Também o padrinho ou madrinha e toda a comunidade eclesial têm uma parte de responsabilidade nisso. Sendo ele necessário para a salvação daqueles a quem foi anunciado o Evangelho e que têm a possibilidade de pedir este sacramento.

Aqueles que morrerem sem o batismo, o Catecismo da Igreja Católica ensina que, porque Cristo morreu para a salvação de todos, podem ser salvos, mesmo sem o batismo, aqueles que morreram por causa da fé (batismo de sangue), aqueles que estavam sendo preparados para receber tal sacramento – catecúmenos e todos os que, sob o impulso da graça, sem conhecer Cristo e a Igreja, procuram sinceramente a Deus e se esforçam por cumprir a Sua vontade (batismo de desejo). Quanto às crianças, mortas sem batismo, a Igreja na sua liturgia confia-as à misericórdia de Deus.

Portanto, dentre os sacramentos de iniciação cristã, destaca-se o batismo como o primeiro, a porta da Igreja e o começo de uma comunhão duradoura com Deus, lançando o alicerce da vida cristã, configurando o cristão a Cristo, sendo assim, no batismo, o homem para sempre pertence a Cristo.

8 de fevereiro de 2012

Página de um diário

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A vida se organiza no confronto com Deus
O tempo corre implacável, oferecendo-nos, em nome de Deus, incontáveis oportunidades. Mas as pessoas andam apressadas e desejam um dia de quarenta e oito horas, para depois pretenderem mais. A velocidade dos meios de comunicação projeta adultos e jovens para metas sempre mais audaciosas. Alguém um dia disse que "o céu é o limite", expressão que até foi nome de programa de televisão. É natural que, a certo ponto da caminhada, alguém se pergunte a respeito dos rumos e do sentido da própria existência, como também a respeito dos critérios com os quais organiza o uso do precioso tempo. Sabemos que para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia (Sl 89,4), mas nós estamos no tempo, dependemos de programa, calendários, agenda.

Até as crianças das etapas iniciais de vida escolar devem ter suas agendas, nas quais se enviam os recados aos pais ou as próprias crianças enfeitam com seus desenhos, números telefônicos e atividades programadas. Deparei-me com o Evangelho de São Marcos 1, 29-39 e pareceu-me ser possível reconstituir a organização da "agenda" de Jesus, para "aprender Jesus" e ajudar muita gente a se programar com critérios semelhantes. Nós o vemos na Casa de Oração dos Judeus, chamada Sinagoga, depois em visita à Casa de Simão e André. Ao cair da tarde, está cercado das multidões que desejam sua palavra e seus milagres. Na madrugada do dia seguinte, ei-lo em oração, num colóquio de amor com o Pai, recolhido em lugar deserto, antes de partir para novas etapas de missão.

A vida se organiza no confronto com Deus, tempo dedicado à oração cristã, que é a oração de Jesus. Oração pessoal e comunitária. Silêncio para estar com Deus e participação na vida da Igreja, sobretudo na missa dominical. Tomar um tempo a cada dia, bem escolhido, quando e como a pessoa se sentir bem, a Bíblia nas mãos, leitura, meditação, oração, contemplação e propósito de vida nova. Depois, como um bonito ramalhete composto com amor, levar tudo ao altar de Deus na Santa Missa. Nossa vida, no dizer do grande Dom Helder Câmara, fragmentada nos múltiplos afazeres, é posta à disposição de Deus. Dos muitos "caquinhos" ele compõe um magnífico mosaico, uma história de salvação.
Jesus vai à Sinagoga, onde todos ficaram admirados com seu ensinamento. Era um ensinamento novo, e com autoridade. E sua fama se espalhou rapidamente por toda a região da Galileia. (cf. Mc 1,21-28).

A Sinagoga era lugar privilegiado para a leitura e o aprendizado da lei, da Palavra de Deus. Até hoje e assim será sempre para os cristãos. Para discernir o que fazer, como fazer e como organizar a vida, faz-se necessário perguntar o que Deus pensa. Não é necessário aguardar revelações extraordinárias. "Já firmada a fé em Cristo e promulgada a lei evangélica nesta era de graça, não há mais razão para perguntar a Deus, desejando visões e revelações divinas, nem para que ele responda como antigamente. Ao dar-nos, como efetivamente nos deu, o seu Filho, que é a sua única palavra, e não há outra, disse-nos tudo de uma vez nessa palavra e nada mais tem a dizer" (cf. São João da Cruz, "Subida do Monte Carmelo", Livro 2, capítulo 22). Na Palavra está a fonte da vida e a iluminação para as decisões.

Jesus vai à casa de Simão e André. Vêm à tona suas prioridades, que depois se estendem com a atenção aos enfermos e necessitados. Ele está "na casa", estabelece relações pessoais e afetivas, cuida das pessoas, cultiva-as de tal modo que as contagia. De fato, a sogra de Simão, curada da febre, se põe a servir a todos (cf. Mc 1,31). Ele dedica tempo aos que sofrem mais, doentes, pobres e todos os necessitados. Tal indicação não seja desprezada. Vale a pena perguntar sobre o espaço dedicado em nossas vidas para o serviço gratuito e livre aos mais pobres. E os que sabem ser mais pobres não são dispensados de tal serviço. Antes, devem primar pelo amor uns aos outros, capaz de edificar as outras pessoas.

Muitos de nós já experimentamos ser procurados e visados pelas pessoas, o que aconteceu em primeiro lugar com o Senhor de nossa fé. Observadores mais curiosos do que piedosos notavam o comportamento de Jesus, até vigiando para ver se respeitava o sábado, jejuava ou lavava as mãos antes das refeições ou anotando seu comportamento religioso das prescrições da lei mosaica a serem cumpridas (Cf. Mc 2,16-28; Mc 3, 1-6; Mc 3, 20-21; Mc 7,1-23). É com imensa liberdade e com zelo missionário que Jesus quer pregar a todos e testemunhar o Reino pelo qual é apaixonado. Por isso seu programa contempla ir a outros lugares das redondezas, pois para isso ele veio, age com simplicidade, sem formalismo, com a imensa confiança no amor do Pai, com a qual quer contagiar a todos. Os que nele crêem se sabem sempre entregues às mãos da Providência santíssima, sem traumas ou receios que lhes tirem a liberdade. E assim convivem respeitosamente com todos, inclusive com os que têm convicções diferentes.

A nós cristãos chegue o apelo a olhar para a Cruz de Cristo, ponto mais alto e sinal de seu amor eterno. Nela ele se entregou "como remédio contra todos os males que nos sobrevêm por causa dos pecados, mas não é menor a utilidade quanto ao exemplo. Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na perfeição, nada mais tem a fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na Cruz e desejar o que ele desejou. Na cruz, não falta nenhum exemplo de virtude" (Santo Tomás de Aquino, Colatio 6 super Credo in Deum). Assim, nossa vida será "organizada" e nossa agenda perfeita!

Que o Pai do Céu conceda a todos os homens e mulheres de fé o dom de priorizar em suas vidas o que efetivamente tem valor. Por isso a Igreja pede em sua oração que ele vele sobre a sua família com incansável amor, pois confiados apenas em sua graça, esperamos ser guardados sob a sua proteção.

Foto Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

6 de fevereiro de 2012

Prosperidade segundo o Senhor

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A Palavra de Deus é fonte de prosperidade espiritual
Uma visão antiga, que vem sendo muito retomada nos últimos tempos, é a ideia de que Deus recompensa os bons e castiga os maus nesta vida. O que está claro é que a vida humana vive de altos e baixos, de alegrias e sofrimentos, o que constitui um mistério. Pensando bem, não há explicação para o sofrimento. Jó nos mostra que Deus está presente onde o ser humano sofre. Nos Evangelhos entendemos que Jesus cura quem sofre, mostra que Deus conhece o sofrimento do humano por dentro e o assume até o fim.

Falar de prosperidade é ater-se a uma vida sem sofrimento, de mirar para o alvo que só ocasiona gozo e alegria. Esta pode ser uma visão cristã da vida, isto é, prosperidade significando intimidade com Deus, realizando o maior de todos os mandamentos: o amor. É contra os princípios do Evangelho ancorar-se na artimanha da prosperidade, para ferir a liberdade das pessoas, extorquindo delas bens materiais. Pior ainda quando isso é feito em nome de Deus. Isso passa a causar a queda de quem é "fraco na fé".

O anúncio da Palavra de Deus pode estar cheio de ambiguidades, carregado de atitudes escusas. Ela pode ser instrumentalizada para atender aquilo que não favorece o bem comum. Dessa forma deixa de ser uma Palavra de gratuidade e de transformação. A Palavra de Deus é fonte de prosperidade espiritual. Ela aciona os corações e as mentes para a liberdade e abertura ao verdadeiro bem. Não pode ser "privatizada" para bens materiais e enriquecimento ilícito, explorando a sensibilidade das pessoas.

Não podemos ver nas doenças e sofrimentos um castigo. Aí acontece a manifestação do mistério divino. Sabemos que muitos sofrimentos são provocados por imprudências, vícios e atitudes irresponsáveis. Normalmente, o egoísmo aumenta o sofrimento. É violência enganar as pessoas com falsas promessas de prosperidade, que até causam nos sofredores um sentimento de culpa. Muitos se perguntam: que fiz de errado? Por que mereci isso? O importante é dar sinais do amor de Deus, que é nosso Pai.

Dom Paulo Mendes Peixoto

2 de fevereiro de 2012

O que fazer com as opiniões a nosso respeito

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Por que nos incomodamos com os que nos detestam?
Todos nós gostaríamos de exclamar: "Não tenho inimigos! Dou-me muito bem com todos!". A realidade nos mostra que, via de regra, todos temos uma pedra no sapato. Há sempre alguém que nos espicaça e nos tira o bom humor. Na maior parte das vezes é por motivos fúteis. Alguém é frontalmente contra nós por causa do nosso jeito, porque a nossa fisionomia lembra a de um conhecido adversário, porque deixamos de atender um pedido que envolvia corrupção, porque não somos do partido tal...


Posso dizer, pessoalmente, que despertei vários inimigos irreconciliáveis por ter tomado posição em favor daquilo que é ensinamento de Cristo. Outras vezes, não foi possível atender uma solicitação, inteiramente de interesse pessoal, por contrariar o bem comum. Eu tenho muitíssimos amigos. Sinto uma onda de simpatia pela minha pessoa, mas não posso dizer que não tenho inimigos. Existem alguns poucos que me odeiam. Às vezes, nem eles sabem direito o porquê. Chego a gemer na dor: "Salva-me, Senhor, dos meus inimigos" (Sl 143,9).

Fico conjeturando: "Por que passamos por essa provação de encontrar alguém que nos detesta?". O primeiro motivo pode ser nós mesmos, quando prejudicamos alguém irremediavelmente. Neste caso, estejamos abertos para um reatamento da amizade. Todos temos um dia em que cometemos algum erro. Entre os que tomam a iniciativa de nos odiar (sim, isso existe), quem são os nossos inimigos? Não são diretamente os ateus, os espíritas, os evangélicos; são aqueles que deveriam ter um vínculo conosco. "Os inimigos do homem são os da sua casa" (Mt 10,36).

A definição das nossas ideologias costuma ser outro fator de desunião. Os  amigos vão até ficar estupefatos com minha afirmação, mas um divisor de águas é uma velha ideologia do século XIX. Trata-se do socialismo. A partir dele o homem de Igreja é classificado de "avançado", "libertador", "retrógrado", "tridentino", "moderno", "atualizado", "amante dos ricos" ou "inteligente".

O critério não é o Evangelho. Em muitos casos, somos obrigados a conviver com tais pessoas sem esperança de reconciliação e rezar por elas. Mas a pergunta, diante de muitos casos inexplicáveis, sempre permanece: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 22,7).

Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo de Uberaba - MG

30 de janeiro de 2012

Como exercer a Autoridade

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Ela se impõe pelo conteúdo de palavras e pela coerência de vida
A presença de Jesus desconcerta as pessoas, pois Suas palavras e gestos superaram as práticas costumeiras e Seus critérios são totalmente diferentes (cf. Mc 1,21-28). Diante da enfermidade, o Senhor chega com a cura, inclusive tocando com as próprias mãos pessoas excluídas do convívio social, como os leprosos. Anda por todas as partes, vai às casas das pessoas, é procurado pelos pecadores e fracos, não julga, mas acolhe, vence o poder do demônio. Aonde chega, traz um ensinamento novo, dado com autoridade: "Ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da lei" (Mc 1,22). Sua fama se espalha por toda parte!


De fato, "grandes multidões o seguiram, e ele curou a todos. Advertiu-os, no entanto, que não dissessem quem ele era. Assim se cumpriu o que foi dito pelo profeta Isaías: 'Eis o meu servo, que escolhi; o meu amado, no qual está meu agrado; farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará às nações o julgamento. Ele não discutirá, nem gritará, e ninguém ouvirá a sua voz nas praças. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda fumega, até que faça triunfar o julgamento. Em seu nome as nações depositarão sua esperança'" (Mt 12, 15-21). Até hoje e até o fim dos tempos, o nome de Cristo atrai, converte e transforma radicalmente.

Olhando para Jesus, perguntamo-nos sobre a autoridade exercida nos mais diversos níveis da convivência humana. Tem-na uma criança! Tanto que a sociedade aprende a valorizá-la, a ouvir desde o choro dos bebês até o clamor das crianças de rua, ou a sabedoria de perguntas infantis que desarmam marmanjos! E o "dono da bola", nos jogos de futebol de nossa infância! Têm autoridade os pais e mães em suas casas, aos quais se confia a transmissão de valores verdadeiros, capazes de sustentar vidas humanas. Quantos são chamados a exercê-la em repartições públicas e empresas, ou órgãos de governo. Quem nunca se encantou com uma parada militar, em que garbosos soldados desfilam diante da população? E pelo menos uma pontinha de justificado orgulho já passou por tantos corações ao dar notícias a familiares e amigos sobre um cargo de chefia ou uma promoção vieram "em boa hora"! Também na Igreja, sacerdotes e outros ministros são chamados a exercer autoridade, estando à frentes de paróquias, grupos e setores de atividade pastoral.

Difícil é exercer a autoridade sem autoritarismo, sem cair na tentação do despotismo ou manipular vidas e consciências. Autoridade tem que vir de dentro, de convicções purificadas pelo sentido do bem comum. Autoridade se impõe pelo conteúdo de palavras e pela coerência de vida. Autoridade tem a criança pela sua transparência e pela imensa liberdade com que se apresenta. Tem autoridade a pessoa que sabe o que pensa e o que fala, pois pode se estabelecer com competência, objetividade e compromisso com a verdade. Revela-a mais do que outras aquela pessoa que escolheu, como o Senhor em quem acreditamos, servir e não ser servido.

Não é novidade dizer que existe uma crise de autoridade nos dias que correm. Para superá-la, há que se trabalhar na formação das pessoas. Os pais e mães, quando saem de seu fechamento e aprendem a partilhar com outros casais, dialogam mais e não perdem o pátrio poder. Ao lado de tantas outras possibilidades, a Igreja põe à disposição Movimentos e Serviços, que são laboratórios para que as famílias se renovem. As lideranças dos vários setores de Igreja sabem também o quanto se insiste na formação dos quadros de serviço.

Aos responsáveis pela distribuição de cargos públicos, fazemos um apelo a que se valorizem as escolas e cursos já existentes e o necessário treinamento para quem a eles for destinado. Cresce na sociedade o controle da administração por meio da verificação de gastos e acompanhamento dos atos do governo. São caminhos para a superação da corrupção, sempre existente, mas dragão a ser vencido um dia depois do outro. E se o sonho não for alto de mais, quem pode pensar em formação para os que vierem a se candidatar nas eleições do ano em curso?

Que mais pessoas possam ouvir de si mesmas, em muitos níveis da vida social, que é diferente seu comportamento e o exercício de suas funções, com verdadeira autoridade! Mas sabemos de nossos limites, pelo que, para que seja nova nossa vida, é necessário pedir: "Concedei-nos, Senhor, nosso Deus, adorar-vos de todo o coração e amar todas as pessoas com verdadeira caridade". Só o amor a Deus e o amor de caridade no relacionamento com as pessoas podem fazer superar a crise de autoridade do mundo. A receita não mudou!

Foto Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

27 de janeiro de 2012

Confissão: fortaleza contra as investidas do maligno

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Jesus nos cura da paralisia espiritual
Todos os pormenores que envolveram a cura do paralítico (cf. Mc 2,1-12) são profundamente significativos. Aquela doença era bem o símbolo da paralisia espiritual e Jesus, com Seu poder divino, cura a moléstia do corpo e da alma. Com efeito, aquele homem saiu andando, carregando a cama em que o trouxeram até Cristo, que realizou algo ainda mais admirável ao lhe restituir a saúde da alma: "Teus pecados estão perdoados".


Após Sua Ressurreição, Cristo, que demonstrou peremptoriamente Sua divindade, outorgaria esta faculdade aos apóstolos: "A quem perdoardes os pecados, estes lhes serão perdoados" (Jo 20,23). Era a instituição do sacramento da penitência, o sacramento da libertação. Quando alguém diz que vai se confessar não se trata de um ato qualquer como ir ao dentista ou a qualquer consultório médico, o que já indica um mal corporal, mas atitude que se torna necessária para recuperar o bem-estar físico.

Entretanto, o sacramento da reconciliação opera uma cura muito mais premente, que não admite nenhuma dilação, pois se trata do reencontro pessoal com Aquele que ama o que errou muito além de sua expectativa. Esse sacramento oferece o perdão das faltas veniais ou graves, sendo remédio espiritual que fortalece o cristão para os embates contra as investivas do maligno. Sana as falhas das eivas provenientes dos pecados capitais, sobretudo, do defeito dominante.

O sacerdote é apenas um instrumento do Redentor, pois pronuncia, em Seu nome, a fórmula da absolvição. É Jesus quem cura a paralisia espiritual e ajuda para a caminhada rumo a Jerusalém celeste, impedindo as más decisões e as indecisões diante dos ataques demoníacos. O arrependimento sincero é uma volta medicinal aos erros passados, mas, sobretudo, uma largada para frente, para vitórias fulgurantes, obstando o cristão a desistir do mal, na prática das virtudes, na fidelidade à observância dos mandamentos, no anelo ardente de estar com Deus por toda a eternidade. Tira-se um fardo pesado e se imerge no oceano do amor infinito do Ser Supremo.

Percebe-se então que há uma diferença enorme entre o perdão dos homens e o do Criador, pois este é total. O Todo-Poderoso falou por intermédio do profeta Isaías: "Eu não me lembrarei mais dos teus pecados" (Is 43,25). Perdão completo que apaga as manchas devidas à fragilidade humana, benesse ofertada pelo grande amor do Senhor, que é a bondade infinita. Cumpre lembrar que o ato de dileção dos amigos do paralítico permitiu seu encontro com Jesus, encontro que resultou em consequências tão maravilhosas.

Este é um apostolado muito abençoado por Jesus, levar os que estão nas trevas do erro para a luz da anistia divina. Aqueles que se comprimiam ao redor do Redentor tinham uma confiança formidável n'Ele. Cristo, que lia os corações, percebia a fidúcia que neles reinava. Primeiro, foram perdoados os pecados daquele doente, depois se seguiu sua cura. Eis porque, sobretudo, por ocasião de alguma moléstia, é preciso, antes de tudo, colocar a consciência em paz, mesmo porque os medicamentos só produzirão seu efeito total quando a tranquilidade e a imperturbabilidade imperam dentro do coração. Este não deve estar bloqueado, dado que é todo processo psicossomático que necessita ser restaurado.

Os empecilhos que levam à paralisia espiritual podem vir de um passado infeliz, e tudo que esteja lá no inconsciente precisa ser aflorado, ou de um espírito rancoroso, revoltado, amargo que necessita se envolver num perdão cordial ou ainda dos muitos cuidados, ambições terrenas, paixões desregradas, situações familiares, profissionais. Numerosas são as causas que podem impedir o encontro com Jesus. Um sincero exame de consciência é a melhor de todas as terapias.

Com habilidade, diplomacia e muita caridade os bons cristãos podem, de fato, ajudar os amigos a encontrarem o Médico Divino, apostolado admirável, meritório para o dia do juízo final. Adite-se ser de um valor imenso as preces pela conversão dos pecadores. Jesus deseja perdoar a todos, mas respeita a liberdade de nos aproximarmos d'Ele ou não, e conta com o interesse dos verdadeiros cristãos que levem outros até Ele.

Representante de Cristo, o padre no confessionário exerce um tríplice papel. Ele é Juiz e, na verdade quantos, às vezes, pensam estar numa triste situação espiritual e, no entanto, necessitam apenas de pequenos ajustamentos vivenciais. Médico, ele cura enfermidades da alma. Nem sempre o mesmo remédio pode ser aplicado a idêntico tipo de doença, sendo morte para um o que é saúde para o outro. É o que se dá também na esfera espiritual: o confessor, habilmente, diagnostica o que se passa com quem o procura em busca de paz interior, oferecendo-lhe o medicamento adequado. Mestre, ele guia e aponta as veredas salvíficas; tudo isso em nome de Jesus, que tem poder de perdoar pecados.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos