18 de novembro de 2011

O risco da responsabilidade

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O medo do risco nos paralisa
A parábola que Jesus nos propõe, em Mateus 25, 14-30, fala-nos do medo do risco e da busca de seguranças. É o caso do empregado que recebeu só um talento. O medo do risco nos paralisa e nos faz projetar uma imagem falsa de Deus: "Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence."


Naquele tempo, esconder dinheiro no chão era a maneira mais segura de guardá-lo. Esse empregado buscava segurança na luta pela justiça que provoca a vinda do Reino. Era mais fácil e cômodo enterrar o talento do que investir.

A parábola não fala do risco enfrentado pelos empregados que receberam cinco e dois talentos, mas o risco existia e ainda existe. Basta que pensemos nos desafios que a justiça do Reino de Deus proporciona aos que lutam por ela em nossos dias.
A busca de segurança faz pensar nos conservadores do tempo de Jesus e de hoje. No tempo de Jesus, a onda conservadora era provocada pelos doutores da Lei e fariseus e a "justiça" deles impedia o acesso ao Reino do Céu. E hoje, quando os desafios da justiça são mais graves, o que ganhamos? O empregado conservador criou uma teologia própria, fazendo de Deus um patrão cruel, um ídolo.

E hoje? Projetamos imagens distorcidas de Deus?

Não nos esqueçamos de que o patrão chama de "mau, preguiçoso e inútil" àquele que, com medo do risco e buscando seguranças, enterrou parte dos bens de Deus.

A parábola mostra a grandeza e a fragilidade de Deus. Sua grandeza está em "entregar Seus bens" às pessoas. Nada retém para si. Tudo o que tem é entregue. Sua fragilidade apresenta-se em forma de risco. De fato, falando com o empregado mau e preguiçoso, dá a entender que conhecia o modo certo de multiplicar esses bens sem a colaboração das pessoas: "Você devia ter depositado meu dinheiro no banco para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence". Bem que o empregado mau poderia ter-lhe respondido: "E por que você próprio não fez isso?" A resposta parece evidente na parábola: confiando nas pessoas, Deus arrisca perder. Contudo, confia e entrega. Sua fragilidade ressalta Sua grandeza.

A parábola também representa a comunidade cristã empenhada em suas várias atividades. A distribuição desigual dos "talentos" sublinha a diversidade de tarefas que o Senhor entrega a cada um. Deus se serve de nós como Seus cooperadores para a realização dos planos d'Ele. Ele age por meio de pessoas e quer que elas correspondam generosamente às expectativas d'Ele. A vocação cristã não deve ser um capital improdutivo, um depósito morto. É um dom que devemos fazer frutificar com
habilidade, sabedoria e amor, tendo sempre em vista a comunidade. É assim que colaboramos na construção do Reino de Deus, que começa no testemunho e se concretiza definitivamente na eternidade...

Dom Eurico S. Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

16 de novembro de 2011

Você conhece os Mártires do Brasil?

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O culto desses mártires foi confirmado por Pio IX em 1854
Creio que poucas pessoas sabem que o Brasil é berço de muitos mártires que morreram por defender a fé católica em solo brasileiro. Nem todos eram nascidos no país, mas evangelizavam aqui e por isso morreram pela fé católica. Mártir, para a Igreja, oficialmente, é só aquela pessoa que foi beatificada pelo Papa e declarada por ele mártir, após um longo e rigoroso processo. Infelizmente se tem usado a palavra "mártir" na Igreja indevidamente. Não podemos nos adiantar à decisão da Instituição criada por Cristo.


Vejo pessoas chamarem Dom Romero de mártir, por ter lutado pela justiça na sua pátria; outros chamam padre Józimo de mártir da terra, padre Rodolfo Lukenbein, defensor dos índios contra posseiros no Mato Grosso, etc. Nem mesmo um processo de beatificação existe instalado no Vaticano sobre eles, então, não podemos chamá-los de mártires, embora possam ter sido grandes cristãos e terem sido assassinados. Só é considerado mártir pela Igreja quem morre explicitamente em defesa da fé, e não por causa social e política como Martin Luther King, Robert Kennedy, Tiradentes, entre outros. Não se pode querer definir as coisas na Igreja sem o Sumo Pontífice.

Mas no Brasil houve grandes mártires no Rio Grande do Norte na época (1630-1654) em que os holandeses protestantes calvinistas ocuparam alguns lugares no país e quiseram obrigar o povo católico  a se tornar calvinistas. Morreram em defesa da fé católica e por isso os que foram identificados foram beatificados pelo Papa. O primeiro grupo de católicos massacrados pelos calvinistas, cerca de 70 pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da Vila de Cunhaú, Rio Grande do Norte. O segundo grupo de mesmo número foi chacinado em Uruaçu. Esses mártires foram beatificados no ano 2000.  Dom Estevão Bettencourt narrou bem os fatos sobre esse assunto em sua revista (PR, Nº 451, 1999, pg. 530).

Os holandeses invadiram o Nordeste do Brasil e dominaram a região desde o Ceará até Sergipe, de 1630 a 1654. Eram protestantes calvinistas e vieram com seus pastores para doutrinar os índios. Isso gerou uma situação difícil para os católicos da região, porque foi proibida a celebração da Santa Missa. Em Cunhaú, RN, um pastor protestante prometeu poupar a vida a todos, caso negassem a fé católica, o que a população não aceitou. Então, no domingo, 16 de julho de 1645, festa de Nossa Senhora do Carmo, na capela da Vila de Cunhaú concentravam-se aproximadamente setenta pessoas para participar da Santa Missa.

Padre André de Soveral, com seus noventa anos de idade, iniciou a Santa Missa. Os soldados holandeses, armados de baionetas, chefiando um grupo de índios canibais invadiram a capela, em grande algazarra, logo após a consagração do pão e do vinho. Fecharam-se as portas da capela e começaram a massacrar os fiéis, impossibilitados de fugir. O sacerdote foi morto a golpes de sabre. O chefe da carnificina foi um alemão a serviço dos holandeses com o nome de Jacob Rabbi. Terminado o massacre, os algozes se retiraram, deixando os cadáveres estendidos no chão da capela. Um relato da época diz que os índios canibais devoraram as carnes das vítimas.

Outro grupo, mais numeroso, cerca de setenta pessoas, sem contar os escravos e as crianças, foram para um local às margens do Rio Grande (Rio Uruaçú), onde construíram um abrigo fortificado e tomaram o nome de Comunidade Potengi. Essa comunidade foi atacada por índios armados, comandados por Jacob Rabbi e um famoso chefe indígena e acompanhados por soldados holandeses. Mataram todos os habitantes da fortaleza, inclusive padre Ambrósio Ferro e muitas pessoas de Natal. Relatam os cronistas que a uns cortaram os braços e as pernas, a outros degolaram, a outros arrancaram as orelhas ou arrancaram a língua antes de os matarem. Alguns cadáveres foram esquartejados: a Mateus Moreira arrancaram o coração pelas costas; antes de morrer ainda pôde gritar em alta voz: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento!".

Esta é a versão dos fatos como se encontra no livro "O Valoroso Lucideno" de autoria de Frei Manuel Calado, publicado em Lisboa no ano de 1648. Frei Manuel escreveu na mesma época em que tudo ocorreu. Existe outra versão do episódio, idêntica à anterior e com mais detalhes. Encontra-se no livro "Os Holandeses no Brasil" de monsenhor Paulo Herôncio.

Um outro fato que merece menção é o martírio de padre Inácio Azevedo e seus companheiros. Ele foi a Portugal buscar reforços para a evangelização dos índios no Brasil. No dia 5 de junho de 1570, o sacerdote e 39 companheiros, na caravela mercante "São Tiago" partiram de volta para o solo brasileiro. A caravela foi alcançada pelo corsário francês Jacques Sourie, calvinista, que partira de La Rochelle para capturar os jesuítas. Esses foram friamente degolados; o número de mártires foi 40. O culto desses mártires foi confirmado por Pio IX em 1854. (Sgarbosa, 1978, p. 224) e a memória litúrgica deles é dia 17 de julho.

Esses fatos formam uma triste "inquisição" desconhecida e que não é contada.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

11 de novembro de 2011

A comunhão dos santos

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A Igreja é comunhão dos santos
O Sermão da Montanha é o programa do Reino dos Céus. É o Reino proclamado por João Batista e, depois, pelo próprio Jesus. Em Mateus, Jesus faz a Sua proclamação no alto de uma montanha, como momento inaugural do Seu ministério na Galileia. Moisés, também no alto da montanha, recebeu de Deus as Tábuas da Lei e os Mandamentos. Agora, é Jesus, que, no Seu anúncio do programa do Reino, transmite as oito bem-aventuranças aos discípulos que vêm a Ele, no alto.


O estado de felicidade, associado à prática dessas bem-aventuranças, enche de esperança e atrai quem ouve Jesus. Nas bem-aventuranças, encontramos valores universais, que podem ser estendidos e acolhidos por todos. Ser bem-aventurado é ser santo. A Igreja, segundo o Catecismo da Igreja Católica, é comunhão dos santos. Essa expressão designa, primeiro, as coisas santas, ressaltando, antes de tudo, a Eucaristia, que une os fiéis em Cristo. Em segundo lugar, designa a comunhão das "pessoas santas" em Cristo, que "morreu por todos".

Cremos na comunhão de todos os fiéis em Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos que faleceram e estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando todos, juntos, uma só Igreja e cremos também que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e de Seus santos estão sempre à escuta de nossas orações.

Todos os santos e todas as santas de Deus, rogai por nós que recorremos a vós!

Dom Eurico S. Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

9 de novembro de 2011

Tecnologia e sabedoria

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A humanidade se reconhece cada vez mais uma única família.
Colhi de uma agência de notícias na INTERNET a seguinte afirmação: "Steve Jobs foi homenageado até mesmo por veículos ligados ao Vaticano". Note o leitor que o "até mesmo" pode ser interpretado negativamente, pois atrás da expressão poderia estar a ideia de que a Igreja se opõe ao avanço das novas tecnologias, o que não é verdade. "A maior contribuição que Steve Jobs nos deixou é a de sentir a tecnologia como algo que faz parte da vida de todos os dias. Deixou de ser um assunto apenas para técnicos", comentou a Rádio Vaticano.


Recentemente participei de um Seminário de Comunicação para bispos, promovido pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais da Santa Sé, no qual, além das análises sócio-culturais do impacto das novas tecnologias de comunicação, procuramos pensá-las à luz da fé, sobretudo por meio de uma rica exposição com o seguinte título: "Espiritualidade e Elementos para uma Teologia da Comunicação em Rede". Apenas para o leitor fazer uma ideia do significado que a Igreja atribui à Internet, cito um breve trecho da conferência do teólogo: "A rede, colocada ao alcance da mão (também no sentido literal), começa a incidir sobre a capacidade de viver e de pensar. De seu influxo depende de algum modo a percepção de nós mesmos, dos outros e do mundo que nos cerca e daquilo que ainda não conhecemos". Uma nova cultura se instala por intermédio da Internet. A humanidade se reconhece cada vez mais uma única família.

As novas tecnologias estão aí. O que faremos delas? Espaço de relações verdadeiras ou praça de guerra? Espaço de circulação da verdade ou de relações falsas? Com certeza, Steve Jobs, em seu empenho criativo, pensava estar colocando a serviço da humanidade poderosos meios de comunicação. Sua história, por ele mesmo interpretada em discurso de formatura na Universidade de Stanford, em junho de 2005, nos deixa preciosas lições sobre o significado da Vida.

Na primeira parte, que ele designa como "ligar os pontos", descreve como os aparentes contratempos da existência, passado o tempo, se ligam harmoniosamente e afirma: "claro que era impossível conectar os pontos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas ficou muito claro olhando para trás, dez anos depois. Você só pode conectar os pontos de algum jeito olhando para trás" e acrescenta: "Então você tem que confiar que os pontos de algum jeito vão se conectar no futuro".

Na segunda parte, que ele denomina "Amor e Perda", Jobs testemunha que sua demissão da empresa, que ele mesmo fundara, a Apple, significou um grande vazio, mas que, mesmo assim, ele continuava amando o que fazia e decidiu recomeçar tudo de novo e afirma que a demissão, vista depois, "foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. Deu-me a liberdade para começar um dos períodos mais criativos de minha vida", quando criou duas empresas a NeXT e a Pixar e "em que me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa". Ao narrar essa parte ele diz aos formandos: "Às vezes a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé". Amor ao trabalho e às pessoas é o segredo de viver contente. Na terceira parte, Steve narra o diagnóstico do câncer no pâncreas que, finalmente, o levou à morte e passa a refletir sobre a morte.

Começa por lembrar-se de ter lido, aos 17 anos, em algum lugar: "Se você viver cada dia como se fosse o último, algum dia provavelmente você vai acertar". Levou a sério o que lera e afirma ter mudado várias vezes de direção por se perguntar: "se fosse hoje o último dia de minha vida, eu iria querer fazer o que vou fazer hoje?" E assevera: "lembrar que eu logo vou estar morto é a ferramenta mais importante que eu já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida, porque quase tudo, toda expectativa exterior, todo orgulho, todo o medo de dificuldades, de falhas, estas coisas simplesmente somem em face da morte, deixando apenas o que realmente é importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que conheço para evitar a armadilha de achar que você tem algo a perder. Você está nu. Não há razão para não seguir seu coração".

Mais adiante o fundador da Apple diz que ninguém quer morrer mesmo crendo no céu "e mesmo assim a morte é o destino que todos compartilhamos. Ninguém nunca escapou dela. E é como deveria ser, porque a Morte é muito provavelmente a melhor invenção da Vida. É o agente de mudança da vida. Ela tira o que é velho do caminho para dar espaço ao novo". E dirigindo-se aos jovens: "Seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo  a vida de outra pessoa [....]. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar sua voz interior [...] tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição" [...], tudo o mais é secundário". E termina: "Stay Hungry, Stay Foolish", "continue faminto, continue ingênuo", ou seja, nunca desista, acredite sempre.

Dom Eduardo Benes
Arcebispo de Sorocaba - SP

7 de novembro de 2011

A sociedade dos perfeitos

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Aqueles que exigem perfeição dos outros exigem algo que também não têm
Na sociedade dos perfeitos, ser imperfeito está fora de moda. Ao ligarmos a televisão ou acessarmos a internet, encontramos protótipos de pessoas perfeitas. Seres humanos imperfeitos maquiados com aparência sagrada. Uma forte tendência dos tempos atuais é a exigência de que o outro seja perfeito. Esta marca de nossa época vem disfarçada com o nome de "falta de paciência": "Não tenho paciência com as pessoas de minha família", "Sou extremamente impaciente com meus colegas de trabalho", "Meus pais não são do jeito que eu quero"... Frases como estas são mais comuns do que ousamos imaginar.

Exige-se a perfeição do outro a qualquer custo. Pessoas que se consideram perfeitas exigem que seus irmãos e irmãs também o sejam. Caso isso não ocorra, as brigas e decepções acontecem em níveis agressivos.

No tempo de Jesus não era diferente. Os fariseus, escribas e mestres da Lei, responsáveis pelo cuidado do templo e, consequentemente, pela formação religiosa do povo, consideravam-se perfeitos. Julgavam ter atingido um grau de plenitude tal que se achavam no direito de catalogar as impurezas do povo de acordo com normas e critérios religiosos que oprimiam o ser humano.

Jesus percebeu a hipocrisia contida nos gestos e atitudes destes pretensos perfeitos. Estes exigiam que os fiéis carregassem pesados fardos e cumprissem normas que beneficiavam apenas a eles próprios.

Aqueles que exigem perfeição dos outros se esquecem de que também são imperfeitos. Muitas vezes exigem algo que nem eles próprios conseguem cumprir. Ocupam, inconscientemente, o lugar de Deus. Tornam-se juízes: julgam, condenam e decretam a sentença. O outro, raras vezes, tem a chance de defesa, tendo em vista que, na maioria dos casos, o julgamento vem embrulhado em presentes perfeitos.

Quando falamos de imperfeição entramos em contato com nossas próprias imperfeições. Esbarramos em nossos próprios limites e falhas. Uma atitude farisaica descarta a imperfeição e se reconhece canonizado. Os grandes santos nunca se consideraram santos em vida. O que os tornou santos foi a humildade com que se revestiram. Reconciliados com sua própria humanidade, estes homens e mulheres que hoje são venerados nos altares, transformaram as imperfeições em degraus para a santidade. No pecado que estava impresso em seu DNA humano, eles se revestiram da força de Cristo. Viram no Mestre o caminho para a humildade, o serviço e a doação ao próximo.

Respeitar o processo de caminhada de cada pessoa é fundamental para quem deseja construir hoje seu caminho de santidade. Quem não aprendeu a respeitar as imperfeições do outro, dificilmente irá conhecer o caminho da humildade que o guiará à paz interior.

Jesus compreendia as imperfeições humanas. Ele sabia que a natureza que nos reveste precisava ser purificada não por rituais de exclusão, mas sim por rituais de inclusão. Cristo incluía no Seu amor os excluídos do amor dos outros.

Somente quem compreendeu que tão imperfeito quanto o outro é ele mesmo, descobriu o caminho para o amor e a santidade manifestada no cotidiano dos sentimentos.

Pe. Flávio Sobreiro
Vigário da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Cambuí (MG)
Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre(MG)
Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP

4 de novembro de 2011

Cultive as boas amizades

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Uma amizade só é verdadeira se baseada na fidelidade
Não preciso falar aqui da importânica de cultivar as boas amizades para ser feliz. Milan Kundera diz que "toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. Os amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contraído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão."


A verdadeira amizade nos socorre quando menos esperamos! Podemos esquecer aquele com quem rimos muito, mas nunca nos esqueceremos daqueles com quem choramos. Os corações que as tristezas unem permanecem unidos para sempre.

Na prosperidade, os verdadeiros amigos esperam ser chamados; na adversidade, apresentam-se espontaneamente. A fortuna faz amigos. A desgraça prova se eles existem de fato. É preciso saber fazer e cultivar amizades. Isso depende de cada um de nós; antes de tudo, do nosso desprendimento e fidelidade ao outro. Para conquistar um amigo é preciso criar um "deserto" dentro de si, aceitando que o outro venha ocupá-lo.

Acolher o amigo é, em primeiro lugar, ouvi-lo. Alguns morrem sem nunca ter encontrado alguém que lhes tenha prestado a homenagem de calar-se totalmente para ouvi-los. São poucos os que sabem ouvir, porque poucos estão vazios de si mesmos, e o seu "eu" faz muito barulho. Se você souber ouvir, muitos virão lhe fazer confidências.

Muitas pessoas se queixam da falta de amigos, mas poucos se preocupam em realizar em si as qualidades próprias para conquistar amizades e conservá-las.

Se você quiser ser agradável às pessoas, fale a elas daquilo que lhes interessa e não daquilo que interessa a você. A amizade é alimentada pelo diálogo; que é uma troca de ideias em busca da verdade; muito diferente da discussão, que é uma luta entre dois, na qual cada um defende a sua opinião.

A verdadeira amizade não pode ser alimentada pela discussão, somente pelo diálogo.

Em vez de demonstrar exaustivamente que o amigo está errado, ajude-o a descobrir a verdade por si mesmo; isso é muito mais nobre e pedagógico.

Se você quiser agir sobre seu amigo, de verdade, para que ele mude, comece por amá-lo sincera e desinteressadamente.
A amizade também exige que se corrija o amigo que erra; mas devemos censurar os amigos na intimidade; e elogiá-los em público. Nada é tão nocivo a uma amizade como a crítica ao amigo na frente de outras pessoas; isso humilha e destrói a confiança. Nunca desista de ajudar o amigo a vencer uma batalha; não há nem haverá alguém que tenha caído tão baixo que esteja fora do alcance do amor infinito de Deus e do nosso socorro.

Uma amizade só é verdadeira e duradoura se é baseada na fidelidade. Cuidado, pois para magoar alguém são necessários um inimigo e um amigo: o inimigo para caluniar e um "amigo" para transmitir a calúnia.

(Trecho extraído do livro "Para ser feliz")

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

3 de novembro de 2011

Tu és pó e ao pó deves voltar

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A morte cria situações irrevogáveis
Padre Eliano reflete sobre o Dia de Finados, momento em que a Igreja Católica Apostólica Romana reza por todos os seus fiéis defuntos.

A morte nos garante a oportunidade de refletir sobre o valor da vida, mas sabemos que há pessoas que não gostam de fazer essa reflexão.
Na vida cristã, precisamos entender que, para aqueles que creem, a vida não lhes é tirada, mas transformada. Isso é importante, porque cremos na vida eterna, que a morte não vai acontecer dentro do nosso contexto terreno; por isso temos a morte como o meio que transforma a nossa vida.

Essa reflexão faz com que a pessoa se distingua de outras no mundo. Somos finitos e, a partir do momento que nascemos, já começamos nossa caminhada ao encontro da morte. E nessa dimensão a vida recebe um carater de urgência de seriedade no seu sentido. Quando contemplamos a dimensão da morte na nossa vida, levamos mais a sério a nossa realidade atual, nossos relacionamentos.

No Antigo Testamento, a morte é tratada naquilo que ela é na vida do indivíduo, pois, o antigo Israel sabia que a morte era universal e, assim, cria situações irrevogáveis. (Conf. II Sm 14,14).
No dia de finados, precisamos nos perguntar se realmente temos um coração que anseia pela eternidade, pela vinda do Senhor. Qual o meu desejo? Qual a minha esperança?

 

Padre Eliano - Fraternidade Jesus Salvador
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