4 de maio de 2011

Maio: mês de Maria

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É um convite para voltarmos nosso olhar a esta Mãe
As referências dos Evangelhos e do Atos dos Apóstolos a Maria, Mãe de Jesus, apesar de poucas, deixam ver muito desta privilegiada criatura, escolhida para tão alta missão. São Paulo, na Carta aos Gálatas (4,4), dá a entender claramente que, no pensamento divino de nos enviar o Seu Filho, quando os tempos estivessem maduros, uma Mulher era predestinada a no-Lo dar. Para que se compreenda a presença da Virgem Maria nesta predestinação divina, a Igreja, na festa de 8 de dezembro, aplica à Mãe de Deus aquilo que o livro dos Provérbios (8, 22) diz da sabedoria eterna: "Os abismos não existiam e eu já tinha sido concebida. Nem fontes das águas haviam brotado nem as montanhas se tinham solidificado e eu já fora gerada. Quando se firmavam os céus e se traçava a abóboda por sobre os abismos, lá eu estava junto dele e era seu encanto todos os dias". Era, pois, a predestinada nos planos divinos.

Para se perceber melhor o perfil materno de Nossa Senhora, três passagens bíblicas podem esclarecer isso. A primeira é a das Bodas de Caná, que realça a intercessora. Quando percebeu – o olhar feminino que tudo vê e tudo observa – estar faltando vinho, sussurra no ouvido do Filho sua preocupação e obtém, quase sem pedir, apenas sugerindo, o milagre da transformação da água em generoso vinho. Ela é, de fato, a mãe que se interessa pelos filhos de Deus que são seus filhos.

Outra passagem do Evangelho esclarecedora da personalidade de Maria é a que nos mostra seu silêncio e sua humildade. O anjo a encontra na quietude de sua casa, rezando, para dizer-lhe que fora escolhida por Deus para dar ao mundo o Emanuel, o Salvador. Ela se assusta com a mensagem celeste, porque, na sua humildade, nunca poderia ter pensado em ser escolhida do Altíssimo. Acolhe assim, por vontade divina, a palavra do mensageiro, silenciosamente, sem dizer, nem sequer ao noivo, José, o que nela se realizava. Deus tem o direito de escolher e por isso ela diz apenas o generoso "sim" que a tornou Mãe de Deus.

O terceiro traço de Maria-Mãe é sua corajosa atitude diante do sofrimento. Ao apresentar o seu Jesus no templo, ouve a assustadora profecia do velho Simeão: "Uma espada de dor transpassará a tua alma". Pouco mais tarde, estreitando ao peito o Menino Jesus, deve fugir para o Egito com o esposo, para que a crueldade de Herodes não atingisse a Criança que – pensava ele, Herodes – lhe poderia roubar o trono. Quando seu Filho tem doze anos, desencontra-se dele e, ao achá-Lo após três dias, queixa-se amorosamente: "Por que fizeste isto? Eu e teu pai te procurávamos, aflitos". Sua coragem se confirma na Paixão e Crucifixão de Jesus. De pé, ali no Calvário, sofre e associa-se ao sacrifício do Redentor. É a mulher forte, a mãe corajosa e firme, a quem a dor não derruba. De fato, a espada de Simeão lhe atravessara a alma e o coração. É a Senhora das Dores.

Maio, mês dedicado a Nossa Senhora, pela piedade cristã, é um convite para voltarmos nosso olhar a esta Mãe querida para pedir-lhe que abra as mãos maternas em bênção de carinho sobre nossos passos nesta difícil escalada da Jerusalém celeste.

Dom Benedicto de Ulhoa Vieira
Arcebispo Emérito de Uberaba - MG

2 de maio de 2011

Papa João Paulo II - Bem-aventurado

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O peregrino de Deus
No dia 2 de abril de 2005, véspera do 2º Domingo da Páscoa, o "Domingo da Divina Misericórdia", o Papa João Paulo II, homem de Deus e da Igreja, homem simples do povo, entregou sua alma a Deus, após muitos sofrimentos físicos e depois de quase 27 anos à frente da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O lema que o Cardeal Woytila, de Cracóvia na Polônia, tinha escolhido era composto de duas palavras "totus tuus", início de um hino de louvor e súplica a Santíssima Virgem Maria, a quem o Papa dedicara sua vida e a consagrou.

Todo teu sou, ó Maria! Assim ele viveu e, quando sofreu o atentado que quase o matou na Praça São Pedro, era 13 de maio,  dia de Nossa Senhora de Fátima, a quem o Pontífice atribuiu "a mão que desviou o projétil" para que ele não morresse.

Quantos trabalhos e viagens pelo mundo! O Papa João Paulo II foi chamado "o Peregrino de Deus, o Peregrino da Paz". A muitíssimos países, povos e nações visitou e a todos fazia ecoar as suas primeiras palavras na homilia do início do seu pontificado em outubro de 1978: "Abri as portas para o Senhor!". E ele ainda reforçava: "Abri as portas, ou melhor, escancarai as portas para o Senhor. Não tenhais medo de Jesus Cristo".

João Paulo II, na sua primeira visita ao Brasil, foi recebido com o canto: "A bênção, João de Deus, nosso povo te abraça. Tu vens em missão de paz. Sê bem-vindo e abençoa este povo que te ama. A bênção João de Deus". E a cada vez que grupos de peregrinos ou mesmo nós, Bispos do Brasil, em Roma, cantávamos este refrão, João Paulo II parava e dirigia um sorriso ou um gesto carinhoso para aquele grupo no meio de tantos outros que o saudavam.

No ano de 2000, o ano do Grande Jubileu e do Perdão, ele convidou a todos para entrarem no terceiro milênio da encarnação e nascimento de Jesus Cristo, com festas e solenidades, mas sem deixarem de lembrar o perdão, a reconciliação com Deus e com os irmãos. Ele mesmo foi ao encontro dos judeus e colocou no muro do templo em Jerusalém o pedido de perdão e reconciliação de toda a Igreja. Convidou as religiões e igrejas cristãs ao encontro da paz e devoção em Assis, pondo em prática os documentos do Concílio Vaticano II, do qual era fiel sustentáculo e incentivador. Durante seu pontificado convidava a todos a buscar e a viver a santidade.

João Paulo II foi o homem da paz ao proclamar contra os que diziam que faziam a guerra em nome de Deus. Ele dizia "Guerra nunca mais! Eu o proclamo em nome da humanidade". O único que poderia falar em nome de Deus não usurpou este direito e preferiu falar em nome das pessoas e dos pequeninos: "Guerras nunca mais".

No dia do seu sepultamento, juntou-se em Roma uma multidão de mais de quatro milhões de pessoas vindas de todas as partes do mundo. Era bela e inusitada a afluência de tantos jovens no enterro do velho Papa.

Na frente da Basílica de São Pedro, junto ao corpo de João Paulo II, os Bispos, Sacerdotes, Religiosos e quantas autoridades de tantos países. Ele, ainda na sua morte, trouxe para junto de si governantes ou representantes de países que estavam em conflitos. O Sumo Pontífice morto ainda falava e ensinava a paz.

O povo aclamava "Santo Súbito", isto é, que ele seja declarado Santo já, agora. Santo Imediatamente.

O cardeal que presidiu no dia 8 de abril de 2005 a Missa Solene de Exéquias, Joseph Ratzinger, foi eleito o sucessor de João Paulo II com o nome de Bento XVI, e será ele que ouviu a aclamação do povo: "Santo Súbito", que neste domingo da Divina Misericórdia, 1º de maio de 2011, Dia do Trabalhador, proclamará Bem-aventurado o Bispo da Santa Igreja, o Papa João Paulo II.

E nós, felizes e sinceros, na verdade da nossa fé, faremos ecoar por todo o mundo: Bem-aventurado João Paulo II.

Rogai por nós.

Amém! Aleluia!

Dom Bruno Gamberini
Arcebispo Metropolitano de Campinas - SP

29 de abril de 2011

Excessos: você os vê em sua vida?

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Por trás da compulsão há um descompasso, um desequilíbrio
Muitos de nós já nos pegamos fazendo algo por excesso: comer, beber, jogar, limpar, comprar, amar, depender afetivamente de alguém, mentir, ter ciúme, dentre outros. É um impulso quase que incontrolável, no qual as pessoas se precipitam e, muitas vezes, têm até dificuldade para planejar qualquer tipo de tarefa, ou mesmo planejar a parada dessa compulsão.


Quantas vezes vemos pessoas cujo "hábito" é comprar, para terem cada vez mais, pois nunca se satisfazem com o que possuem. Tal "hábito" passa a movimentar nosso sentido de felicidade: tendo isso ou tendo aquilo, jogando determinado jogo, comendo isso ou aquilo, seremos mais felizes e preencheremos o "vazio" que há em nós.

As causas do comportamento compulsivo podem ser as mais variadas: predisposição, hábitos aprendidos, histórico familiar (que também é aprendido), razões biológicas. Ao percebermos que algo "é demais", que passa dos limites do normal e saudável, decidimos parar. O ato de parar pode acontecer naturalmente para muitas pessoas, mas para uma parte das pessoas isso não acontece. Ou seja, o comportamento, chamado de compulsivo ou aditivo, continua acontecendo em paralelo à ansiedade que a pessoa vivencia.

Geralmente, são hábitos pouco saudáveis ou inadequados que são repetidos muitas vezes e levam a consequências negativas como o uso de álcool, drogas em geral, comer exageradamente, gastar fora do controle, fugir do contato social, praticar esportes em excessivamente, lavar as mãos de forma exagerada (até mesmo chegando a se ferir), participar de jogos de azar, depender de relações virtuais, excesso do uso de remédios ou de idas a médicos em busca de uma doença, dentre outros. Tais atitudes são feitas quase que automaticamente; quem as pratica não percebe ou nota prejuízos num primeiro momento.


Ter um comportamento compulsivo acontece por hábitos que são aprendidos e seguidos de alguma gratificação emocional, de algum alívio da angústia ou da ansiedade que a pessoa sente. Ou seja, ela faz alguma coisa e recebe outra em troca. Com os prejuízos que essa pessoa pode ter em seus relacionamentos, no trabalho, na saúde, ou mesmo quando os demais indicam que ela tem esse distúrbio, ela passa a se observar mais detalhadamente. Aquilo que, num primeiro momento, era fonte de prazer e gratificação, posteriormente passa a dar uma sensação negativa, pois a pessoa cede em fazer aquilo.

Se por trás dessa compulsão existe um descompasso, um desequilíbrio, é importante canalizar essa energia, que antes ia para os excessos, em outras atividades e buscar "retirar" o foco do comportamento que acarreta prejuízo para a pessoa.
Vale lembrar que todos nós temos rotinas e hábitos e isso é muito saudável; fica apenas a atenção para aquilo que é excessivo! Como dizem, de forma popular, "tudo o que é demais, faz mal"!

Então, se você identifica alguns excessos em sua vida, procure analisar os afetos que lhe faltam e como você tem canalizado suas forças, se tem buscado o ter ou fazer em troca do ser.
 
Deixe seus comentários!

Abraço fraterno!

Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

27 de abril de 2011

Quando o sofrimento bater à nossa porta

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Pare de ficar neste sepulcro e venha viver!
O Evangelho escolhido foi o da Ressurreição de Lázaro, um grande amigo de Jesus. Estar em Betânia com os amigos era uma forma de Jesus curar e restaurar as forças. Jesus Cristo sofreu muito, porque amou muito. Quanto mais estivermos ligados às pessoas, tanto mais sofreremos. Mas não construamos cercas. Tenhamos essa sensibilidade diante do sofrimento. Era isso que Jesus ia buscar em Betânia: consolo em amigos verdadeiros.


Quando Ele chegou em Betânia, já fazia 4 dias que Lázaro estava morto. Não podiam fazer mais nada, mas para Jesus não havia tempo a perder e Ele foi ter com o amigo morto. O Senhor era muito humano. Quando Ele chegou, tapou o nariz, pois a situação estava 'podre', porém, movido pelo amor àquele homem, Ele disse: 'Venha, Lázaro'. 

Na verdade, Jesus queria nos mostrar que a morte não foi feita para nós. Um dia, todos nós iremos morrer, isso é fato, mas Cristo está falando de outra morte e quer nos propor a ressurreição. Se olharmos somente para a pedra posta no sepulcro, não haverá nenhuma esperança e nos desesperaremos, porque ela [pedra] é imóvel. Se ficarmos olhando para a pedra, ficaremos fixados ali, no mesmo lugar, e não é isso que Jesus quer. "Lázaro, venha para fora". Quantas vezes experimentamos estar no sepulcro, que é um lugar escuro e cheira mal? Mas se deixarmos essa pessoa ficar lá muito tempo, não a encontraremos do mesmo jeito, pois ela entrou em processo de decomposição. É um lugar de silêncio e não há mais nada, terminou. Agora, se olhamos a morte como um lugar de transição, daí sim, ele fica cheio e revestido de esperança. Quantas vezes você já morreu?

Estamos ressuscitando todos os dias. A cigarra fica um ano debaixo da terra para cantar somente um dia. Um ano se preparando para cantar até se arrebentar. O sofrimento é isso, um tempo de preparo. Louvado seja Deus pelos sofrimentos!

Todos os artistas compõem maravilhosas obras quando estão sofrendo, e, todas as vezes em que tocamos em nossos limites, vamos além. Compomos músicas, pinturas, criamos vida e caráter. Você pode se perguntar sempre: "Mas eu não sou artista, e aí?" Você pode desenhar a sua alma, pode esculpir o seu caráter.

A cigarra não fica debaixo da terra por motivo de masoquismo. Não. É um tempo de preparo existencial da natureza. Quando você perceber que o seu sofrimento está infértil, é o tempo de parar de sofrer. Quando começamos a derramar as lágrimas, passamos por um processo de cura que está nos lavando e purificando.

Quanto tempo pode durar um velório dentro de nós? O sepultamento do corpo tem que iniciar um processo de amizade com a vida. O sofrimento é criado dentro de nós; o velório não é uma situação de morte. O que fazemos com o ruim que aconteceu conosco? Não importa o que a vida fez com você, mas o que você faz com o que a vida fez com você. Não temos como evitar o desprezo do outro, vão acontecer coisas das quais não vamos gostar, mas somos nós que vamos ver quanto custa esse sofrimento.

Boa parte dos sofrimentos do ser humano está naquilo que nós pensamos e permitimos em nosso pensamento. Se racionalizarmos a nossa emoção, nós não sofreremos.

Neutralizar o pensamento do sofrimento é lançar um pensamento bom em cima de um ruim. Quantas pessoas sofrem por não terem a capacidade de filtrar as coisas ruins que escutam? Não temos o direito de ser mesquinhos por querermos ser o que o outro é. Não tenha inveja, floresça onde Deus o plantou.

Há pessoas invejosas, que querem ser o que você é. Que não são capazes de olhar quem elas, realmente, são. Pare de olhar para a vida do outro, pois você não tem os valores que ela tem; mas você tem valores que ela não tem. Temos que ter nossa coerência e nosso modelo. Liberte-se dessas ideias pessimistas sobre você mesmo, você é capaz!

A ordem de Jesus: "Pare de ficar neste sepulcro e venha viver". Estamos em horário do cristão: Está na hora de viver! Você não tem o direito de ficar no túmulo com seus problemas e lutos. O tempo previsto para o sofrimento tem data marcada para terminar, já passou, chega! Faça alguma coisa pela sua vida! Só sofra de verdade pelas coisas que valem a pena. Quantas pessoas não sofreram o que deveriam sofrer? Esse tempo é curto, e é maravilhoso descobrir que, hoje, temos a oportunidade de escutar a voz de Jesus dizendo que não quer mais a morte para a nossa vida. Deus está segurando na nossa mão.

Se você está sofrendo muito, permita que Jesus cuide de você. Revolucione sua vida, pois quem fica parado é poste. Melhore esta cara e faça o que puder fazer, pois assim beneficiará as pessoas ao seu lado. O cuidado de Deus é lindo: "Saia deste sepulcro!" Não perca seu tempo em bobagens que tornam o sofrimento enorme em sua vida.

O 'cuidar' é sempre expressão de alguém que ama. Ninguém gosta de ver a pessoa amada sofrendo. Precisamos acordar para a vida.

O nosso objetivo é sermos felizes! Não há problema que resista a uma pessoa transformada por Deus! Nem a um ser humano com vontade de resolver os problemas. Não há nada maior do que uma pessoa de coragem.

Quando o sofrimento bater à sua porta, abra a janela para que você veja a dor do outro.

Foto Padre Fábio de Melo

25 de abril de 2011

Ressuscitou de verdade!

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Celebrar a Páscoa é chegar ao encontro com Cristo vivo
Uma antiga e sempre atual saudação para o Tempo Pascal resume em poucas palavras a fé dos cristãos: "Cristo ressuscitou"! A resposta confirma a convicção: "Ressuscitou de verdade"! Pode ser retomada na Liturgia e repetida nos cumprimentos entre as pessoas e, mais ainda, pode ser roteiro de vida! É o nosso modo de desejar uma Santa Páscoa a todos, augurando vida nova e testemunho vivo do Ressuscitado, com todas as consequências para a vida pessoal e para a sociedade.


Celebrar a Páscoa é penetrar no mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nestes dias de Semana Santa salta à vista Seu modo tão divino e humano de viver a entrega definitiva. "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13, 1). É a entrega livre daquele de quem ninguém tira a vida, mas se faz dom de salvação.

Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus, oferece o testemunho de inigualável maturidade, na qual se encontra a referência para todos os seres humanos. "Os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam: Ninguém jamais falou como este homem" (Jo 7, 45-46). Encontrá-Lo é descobrir o caminho da realização pessoal. Mas seria pouco considerá-Lo apenas exemplo a ser seguido. "De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16). O homem verdadeiro é Senhor e Salvador. N'Ele estão nossas esperanças e a certeza da ressurreição. Mais do que Mestre ou sábio de renome, n'Ele está a salvação.

Seus apóstolos e discípulos, antes temerosos diante das perseguições, tendo recebido o Espírito Santo, sopro divino do Ressuscitado sobre a comunidade dos fiéis, tornaram-se ardorosos anunciadores de Sua ressurreição e de Seu nome. Basta hoje o anúncio de Cristo: "Que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes. "Quando ouviram isso, ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: Irmãos, que devemos fazer? Pedro respondeu: "Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar" (At 2, 36-39).

Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo há de voltar! O que parece simplório é suficiente, pois daí nascem todas as consequências: vida nova, alegria perene, capacidade para se levantar das próprias crises e pecados, amor ao próximo, vida de comunidade, testemunho corajoso da verdade, vida nova na família cristã, compromisso social, serviço da caridade! Tudo isso? Sim, na Páscoa de Jesus Cristo está o centro da fé cristã e a fonte de vitalidade, da qual gerações e gerações de cristãos beberam como de uma fonte verdadeiramente inesgotável.

Celebrar a Páscoa é ir além da recordação dos fatos históricos, para chegar ao encontro com Cristo vivo. Nós cristãos O reconhecemos hoje presente, fazendo arder os corações, vamos ao Seu encontro nos irmãos, especialmente na partilha com os mais pobres, acolhemos Sua palavra viva, lida da Sagrada Escritura e proclamada na liturgia, sabemos que Ele permanece conosco se nos amamos uns aos outros e está vivo na Igreja, quando se expressam os sucessores dos Apóstolos e O buscamos na maior exuberância de Sua presença, que é a Eucaristia. Este é nosso documento de identidade!

Com o necessário respeito à liberdade de todas as pessoas, queremos hoje dizer a todos os homens e mulheres, em todas as condições em que se encontram, que as portas estão abertas, mais ainda: escancaradas. Se quiserem, aqui está o convite para a maior de todas as comemorações: "Celebremos a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da maldade ou da iniquidade, mas com os pães ázimos da sinceridade e da verdade!" (I Cor 5, 8). É Páscoa do Senhor! Feliz, verdadeira e santa Páscoa da Ressurreição!

Foto Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

20 de abril de 2011

Espriritualidade Marial Vicentina

Desde o princípio de sua existência a Igreja como Povo de Deus tem vivido com Maria sua experiência do Transcendente. Quando da vinda do Espírito Santo no Cenáculo, lá está Maria junto com os discípulos recebendo a força de Deus para ser testemunha viva de tudo que viram e ouviram de Jesus de Nazaré seu filho e Filho de Deus. Por isso, nos diz e Encíclica Mariales Cultus de Paulo VI n 21 "desde cedo os fiéis começaram a olhar para Maria, a fim de, como ela, fazerem da própria vida um culto a Deus, e do seu culto um compromisso vital. Já no século IV Santo Ambrósio, ao falar aos féis, lhes auspiciava que em cada um deles houvesse a alma de Maria, para glorificarem a Deus: "Que em cada um de vós haja a alma de Maria para bendizer o Senhor; e em cada um de vós esteja o seu espírito, para exultar em Deus!".

A Igreja procura traduzir as multíplices relações que a unem a Maria, em outras tantas atitudes e manifestações culturais, em uma veneração profunda, refletindo de forma única a dignidade da Virgem Santíssima, que, por obra do Espírito Santo, se tornou Mãe do Verbo Encarnado; em amor, que se manifesta na maternidade espiritual de Maria para com todos nós membros do Corpo Místico de Cristo; naquela em quem se pode confiar, quando experimentamos a necessidade de intercessão da advogada e auxiliadora; em serviço amoroso, quando percebemos sua gratuidade em colaborar na obra de salvação tornando-se a mãe do salvador,  sendo modelo de imitação, pois nela contemplamos a santidade e as virtudes queridas pelo Pai.

Seguramente Maria é para nós cristãos deste novo milênio modelo de vivencia da fé e em quem podemos buscar inspiração para a vivência de nosso projeto de vida cristã, pois nas condições concretas da sua vida, ela aderiu total e responsavelmente à vontade de Deus (cf. Lc 1,38). Soube acolher a sua palavra e pô-la em prática, sendo sua ação animada pela caridade e pelo espírito de serviço, tornando-se a primeira e a mais perfeita discípula de Cristo, reconhecida como modelo excelentíssimo de Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo.

a) - Maria é a Virgem que sabe ouvir: acolhe a palavra do Pai com fé. Fé que foi caminho para a maternidade divina. Ela, cheia de fé disse: "Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38); fé, ainda, que foi motivo de segurança no cumprimento da promessa: "Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido" (Lc 1,45); fé com a qual ela, protagonista e testemunha dos acontecimentos da infância de Cristo, guarda-os no íntimo do seu coração (cf. Lc 2,19.51). É isto que também a Igreja faz. Na sagrada Liturgia, ela escuta com fé, acolhe, proclama e venera a Palavra de Deus, distribuindo-a aos fiéis como pão de vida, descobre os sinais dos tempos os interpreta e vive os acontecimentos da história.

b) - Maria é a mulher da oração. Assim Em sua visita à Isabel exulta  no espírito glorificando ao Deus, da humildade, da fé e da esperança: tal é o "Magnificat" (cf. Lc 1,46-55), a oração de Maria, o cântico dos tempos messiânicos no qual confluem a exultação do antigo e do novo Israel. Este cântico da Virgem Santíssima, na verdade, prolongando-se, tornou-se oração da Igreja inteira, em todos os tempos. Neste mesmo caminho segue a experiência vivida em Caná, onde, ao manifestar ao Filho, uma necessidade temporal, obteve também um efeito de graça, que Jesus ao realizar o primeiro dos seus "sinais", confirma os discípulos na fé n'Ele (cf. Jo 2,1 12). Por fim, o ultimo texto sagrado que nos apresenta Maria descrevem-na orando com os Apóstolos: "perseveravam unânimes na oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos dele" (At 1,14). Presença orante de Maria na Igreja nascente, e na Igreja de todos os tempos, porque ela, assunta ao céu, não abdica de sua missão de intercessão e de salvação. Virgem dada à oração e também a Igreja, pois, todos os dias apresenta ao Pai as necessidade dos seus filhos, e "louva o Senhor sem cessar e intercede pela salvação de todo o mundo".

c) - Maria Virgem Mãe, isto é, aquela que "pela sua fé e obediência, gerou na terra o próprio Filho de Deus Pai, por obra e graça do Espírito Santo". Maternidade prodigiosa, constituída por Deus protótipo e modelo da fecundidade da Virgem-Igreja, a qual por sua vez, se torna também mãe, pois com o anúncio e o batismo gera para vida nova e imortal os filhos concebidos por ação do Espírito Santo e nascidos de Deus".

Sendo Maria modelo de vivência de Igreja é de fundamental importância que nossas orações dedicadas a Virgem Maria exprimam, de maneira clara, sua característica trinitária e cristológica que lhes é intrínseca e essencial. O culto cristão é por sua natureza culto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Nesta perspectiva, torna-se o culto extensivo, legitimamente, se bem que de maneira substancialmente diversa, em primeiro lugar e de modo único, à Mãe do Senhor, e depois aos Santos, nos quais a Igreja proclama o Mistério Pascal, por isso mesmo que eles sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados.

A espiritualidade Mariana vivida em nossas comunidades deve levar em conta o que nos pede a norma da Constituição Sacrosanctum Concilium, a qual, ao mesmo tempo que recomenda os exercícios de piedade do povo cristão, acrescenta: "...Importa, porém, ordenar essas práticas de piedade tendo em conta os tempos litúrgicos, de maneira que se harmonizem com a sagrada Liturgia, de certo modo derivem dela, e a ela, que por sua natureza lhes é muito superior, conduzam o povo cristão" (SC 13). Portanto A Igreja católica, apoiada em sua caminhada de dois milênios, reconhece na devoção a Virgem Santíssima um caminho seguro, um auxílio poderoso para todo homem e toda mulher em marcha para a conquista da sua própria plenitude. Maria, a Mulher nova, está ao lado de Cristo" o Homem novo, em cujo mistério, somente, encontra verdadeira luz o mistério do homem. Esta é a nossa garantia que em uma simples criatura, Maria tornou realidade o plano de Deus em Cristo, para a salvação de todo o homem.

Nossa comunidade que vivencia a espiritualidade vicentina, tem a graça de ter recebido em sua família a visita da mãe de Deus. Na tarde de um sábado, dia 27 de novembro de 1830, véspera do 1º Domingo do Advento, em Paris, na capela das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, a noviça Irmã Catarina Labouré, teve uma visão de Nossa Senhora. A Virgem Santíssima estava de pé sobre um globo, segurando com as duas mãos um outro globo menor, sobre o qual aparecia uma cruzinha de ouro. Dos dedos de suas mãos, que de repente encheram-se de anéis com pedras preciosas, partiam raios luminosos em todas as direções. Num gesto de súplica, Nossa Senhora oferecia o globo ao Senhor.

"A Virgem Santíssima — disse Irmã Catarina — baixou para mim os olhos e me disse no íntimo do meu coração: "Este globo que vês representa o mundo inteiro (...) e cada pessoa em particular... Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que mais pedem." Desapareceu, então, o globo que tinha nas mãos e, como se estas já não pudessem com o peso das graças, inclinaram-se para a terra em atitude amorosa. Formou-se em volta da Santíssima Virgem uma figura, no qual em letras de ouro se liam estas palavras que cercavam a mesma Senhora:  "Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECOREMOS A VÓS."

Ouvi, então, uma voz que me dizia: "Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se a trouxerem ao pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança". Então a figura se virou, e no verso apareceu a letra "M", monograma de Maria, com uma cruz em cima, tendo um terço na base; por baixo do "M", os dois Corações, de Jesus e de Maria; o de Jesus, com uma coroa de espinhos e o de Maria atravessado por uma espada; contornava o quadro uma coroa de doze estrelas."

Irmã Catarina disse ainda que a Santíssima Virgem calcava aos pés uma serpente, alusão clara à palavra de Deus a Eva, depois do pecado: "Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre tua descendência e a dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,15). A mesma visão se repetiu várias vezes, sobre o sacrário do altar-mor; ali aparecia Nossa Senhora, sempre com as mãos cheias de graças, estendidas para a terra, e a invocação já referida a envolvê-la.

O Arcebispo de Paris, Dom Quélen, autorizou a cunhagem da medalha e instaurou um inquérito oficial sobre a origem e os efeitos da medalha, a que a piedade do povo deu o nome de "Medalha Milagrosa", ou "Medalha de Nossa Senhora das Graças".

A Medalha Milagrosa não é um objeto mágico, um amuleto. É um sinal religioso, um rico presente de Nossa Senhora, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Foi Maria mesma, quem manifestou sua Medalha a Santa Catarina Labouré. "A rápida propagação, o grande número de medalhas cunhadas e distribuídas, os admiráveis benefícios e graças singulares obtidos, parecem sinais do céu que confirmam a realidade das aparições, a verdade das narrativas da vidente e a difusão da Medalha".

A vivência de nossa espiritualidade Marial vicentina da-se em cada novena realizada em nossa comunidade ou mesmo em nossa pequena comunidade familiares. Através de Maria chegamos ao Cristo nosso Salvador.

 

Pe. Ilson Luis Hübner CM

Mestre em Teologia Sistemática

Reitor do Seminário Vicentino Nossa Senhora das Graças

19 de abril de 2011

Como vencer a violência

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Quando Deus é retirado de cena, o homem ocupa o lugar d'Ele
A Igreja ensina as razões profundas da violência; acima de tudo está num coração sem Deus, sem amor ao irmão, o qual não é visto como "imagem e semelhança de Deus". E quando Deus é retirado de cena, o homem ocupa o lugar d'Ele e a dignidade humana já não é mais respeitada. O "não" dito ao Senhor acaba se transformando em um "não" dito ao homem, por isso vemos hoje a pior de todas as violências: o aborto e a eutanásia, o sacrifício da vida humana; além dos assaltos, sequestros, roubos, corrupções de toda ordem, pedofilia, estupros, incestos, violência nos lares contra as crianças, entre outros.

Não basta encher as nossas ruas de policiais armados e bem equipados para acabar com a violência – embora isso seja necessário para combatê-la de imediato –; é preciso mais. É preciso a "educação para a paz". Essa educação exige que se ensine às crianças e aos jovens, nos lares e nas escolas, a dignidade de todo e qualquer ser humano. A moral cristã tem como base essa dignidade. Tudo aquilo que a Igreja condena como imoral é porque fere a dignidade da pessoa. A base da violência está na falta da vivência moral e na relativização do que seja o bem; o mal tem gerado muitas formas de violência.

Um fator de importância máxima na questão da violência é a família, pois ela é a "escola de todas as virtudes", e é nela que a criança deve aprender com os pais e os irmãos a respeitar e a ser respeitada. Mas como vai a família? Infelizmente mal; a imoralidade tem destruído a família e seus valores cristãos. Muitas estão destruídas e há muitos filhos sem a presença imprescindível dos pais para educá-los. Milhares de adolescentes e jovens ficam grávidas sem ao menos terem um lar para receber seus filhos. Como disse o saudoso Papa João Paulo II, no Brasil há milhares de crianças "órfãs de pais vivos". Que futuro terão essas crianças? Muitas delas acabarão na rua e no mundo do crime e da violência. Sabemos que quase a totalidade dos nossos presos são jovens.

E por que tantos jovens acabam no mundo do crime? Porque lhes faltam um pai e uma mãe que lhes ensinem o caminho da honradez, da virtude, da escola e do trabalho. O trabalho é a sentinela da virtude.

Hoje quase não faltam escolas para as crianças, nem mesmo catequese nas paróquias, mas faltam os pais que as conduzam à escola e à igreja. Portanto, sem a reestruturação da família, segundo o coração de Deus, na qual não existam o divórcio, a traição, o incesto, as brigas, o vício, o estupro, a pedofilia, etc., não se poderá acabar com a violência na sociedade. E  sobretudo, sem Jesus, sem o Evangelho, sem a vivência moral ensinada pela Igreja de Cristo, não haverá paz verdadeira e duradoura. Sem isso será inócuo lutar pela paz. Diz o salmista que "se não é Deus quem guarda a cidade, em vão vigiam os seus sentinelas" (Sl 126, 1).

Foto Felipe Aquino
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