24 de janeiro de 2011

Por que preciso rezar?

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A oração nos torna semelhantes Àquele a quem buscamos
Uma das maiores descobertas que já fiz na vida foi saber que Deus me ama e me acolhe independentemente do que faço, pois Ele me ama a partir do que sou. Neste caso, se eu rezo ou não rezo, Ele continua amando-me com a mesma intensidade. No mundo existem milhões de pessoas que nunca oraram e, no entanto, não deixam de viver. Trabalham, estudam, viajam, fazem descobertas, constroem prédios, vão à praia, ao shopping e vivem naturalmente. Daí vem a pergunta, que já ouvi várias vezes: Então por que preciso rezar?

A resposta pode ser dada de inúmeras formas, mas acredito que a vida diz mais que as palavras. Enquanto escrevo, recordo-me de tantos momentos nos quais, sem saber o que fazer, procurei uma direção da parte de Deus por meio da oração e fui ajudada. Certamente você também já viveu experiências assim e é nessas horas que percebemos o valor da oração em nossa vida.

Padre Kentenich, autor do livro "Santidade de todos os dias", diz que quando oramos, além de nos assemelharmos a Cristo, que é orante por excelência e nos aproximarmos do Pai, que nos ama em Cristo, nos tornamos também possuidores das riquezas divinas, já que a vida dos santos e cristãos piedosos confirma que os tesouros de Deus estão à disposição daqueles que rezam. Na verdade, existe algo que não podemos esquecer jamais: Não é Deus que precisa de nossas orações, mas somos nós que precisamos de Sua graça, e esta costuma manifestar-se quando a Ele recorremos por meio da oração.

A oração também tem o poder de despertar nossos sentidos para percebermos os presentes que Deus nos dá, mas que, por uma razão ou outra, não conseguimos reconhecê-los. É que quando oramos o Espírito Santo nos devolve a calma, assim temos condições de ver o outro lado da história, tirando os olhos de nós mesmos e do problema em si. Aliás essa é uma das maiores graças alcançadas pela oração. Já que quando estamos com dificuldades, naturalmente acabamos colocando o problema no centro da vida e isso nos impede de encontrarmos solução para ele.

Já ouvi dizer que a oração é como um grito, um pedido de socorro, mesmo que seja no silêncio, pois Deus vê o coração e não deixa quem ora sem resposta. Existe até uma história que pode ilustrar essa afirmativa:

"Conta-se que um navio estando há vários dias no mar, havia-se esgotado sua reserva de água potável. O capitão não avistava margem alguma no horizonte e os viajantes sentiam cada vez mais sede... Até que avistaram um barco que navegava ao seu encontro e, aos gritos, pediram que os socorressem com água doce.

No entanto, obtiveram, também aos gritos, a resposta: 'Ora, tirai a água do mar e bebei, não veem que é água doce?' Experimentaram. E recolhendo a água do mar, notaram que, já havia tempo, navegavam em água doce, no imenso estuário de um rio".

Podemos concluir que se os tripulantes do navio não pedissem ajuda, poderiam morrer de sede estando tão próximos da água doce. Em nosso caso, quando não oramos, corremos o mesmo risco. Ou seja, de estarmos bem próximos da solução, mas não conseguirmos percebê-la.

Por essa e outras razões, considero a oração como algo importante e até diria fundamental para uma vida plena. Ela nos coloca em sintonia com Deus e esta é a maior graça que podemos almejar como cristãos. Também é verdade que quando oramos, o brilho da vida divina, que está em nós, brota do interior, como que transfigurando nosso rosto. Não sei se você já observou que as pessoas idosas que levaram uma vida pura e agradável a Deus têm uma aparência sobrenatural; um exemplo claro disso é o inesquesivel e saudoso João Paulo II. Pessoas santas, independente da idade que têm, às vezes nos parecem seres de um outro mundo. É que a oração nos transfigura e nos torna aos poucos semelhantes Àquele a quem buscamos.

Portanto, apesar de saber que Deus nos ama e nos acolhe independentemente se rezamos ou não, temos muitas razões para recorrer a Ele por meio da oração.

Se hoje você passa por alguma situação dificil, se está atribulado e não sabe a quem recorrer, estou o convidando para rezarmos juntos. É o próprio Senhor quem nos fala: "Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mateus 11, 28). Jesus chama para si todas as nossas dores, aflições e angústias e nos dá a certeza de que, se crermos na Sua Palavra e guardarmos os Seus mandamentos, seremos libertos do mal.

Coloquemo-nos agora na presença de Jesus Cristo e oremos juntos:

Senhor Jesus Cristo, eu tomo posse do Teu amor, acolho a salvação que nos trouxeste pela Tua morte na cruz e ressurreição gloriosa. Convido-te para entrar agora na minha vida, tocar o meu coração e possuir todo o meu ser. Vem curar minhas feridas, Senhor, lava com Teu Sangue o meu coração sofrido e restaura minha esperança, minha fé e minha alegria. Eu só tenho a Ti, Senhor, e hoje Te busco de todo meu coração.
Obrigada por Teu amor infinito, Senhor, obrigada por acolher a minha oração e a de tantos que rezam nesta hora. A Ti toda honra, glória e louvor para sempre!

Você pode dar continuidade à oração. Eu também estarei orando por você.

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

22 de janeiro de 2011

Depressão, um mal que atinge a todos

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Não adianta só falar que a pessoa é fraca
Não há quem não tenha depressão, até entre os salmistas você encontra deprimidos. Até Jesus. Mas não podemos parar nela, senão vira enfermidade. Depressão significa "buraco". A pessoa cai no buraco - e todo mundo cai. Quem nunca ficou triste? Importante é não ficar nele. Com Deus nós saímos do buraco.


O Vaticano fez um congresso sobre esse tema [depressão], porque eles estão preocupados com esse mal. Eu li o resumo desse evento e vi que são 300 milhões de pessoas no mundo que sofrem com essa enfermidade. Precisamos tratar desse povo.

Depressão tem cura, e esta tem 3 caminhos:
- Procure um médico psiquiatra; ele pode dar remédio;
- É preciso um psicólogo para saber como se comportar diante das situações difíceis;
- O tratamento tem de ser físico e espiritual.

A medicina cuida do corpo e Deus cuida da alma. E a depressão é uma doença mais da alma que do corpo. E quem cuida da alma é o psicólogo e a religião. Não tenha medo de procurar os três tratamentos. Vá ao grupo de oração e peça oração, mas vá também ao médico. Se você puder buscar alguém que tenha experiência e maturidade para rezar por você, ótimo.

Essa doença é muito difícil de ser diagnosticada. Eu coloquei no meu livro uma relação de coisas que uma pessoa deprimida pode apresentar: doença crônica, problema afetivo, falta de sentido para a vida, excesso de trabalho. Essas são causas. Mas o que a pessoa sente? Muitos podem ser os sintomas da depressão como: cansaço, pensamento de culpa, tristeza, autoestima baixa, falta de apetite, falta de vontade de rezar, fadiga, memória fraca, insônia, dificuldade para decidir, pensamento de morte, quedas de cabelos.

Não adianta falar que a pessoa é fraca. Não importa por que ela está em depressão, você tem de tirá-la do buraco. Tem de juntar pai, mãe, irmãos, namorado. Rezar abraçado com a pessoa uma Ave-Maria, chamá-la para tomar um sol, sair, tomar um sorvete... Tem de tirar a pessoa do buraco com carinho e devagar. É um ato de amor e caridade - e a família é importantíssima nisso.

O deprimido tem de agir contra esse mal, ou seja, reagir, não pode se entregar à tristeza. Temos de cultivar a alegria. Não podemos ficar no buraco.

Como sair da depressão? Você tem de ver o valor que você tem. Só assim não ficará no buraco. Só fica nesse local quem não dá valor a si mesmo. Quem fica nesse lugar é lixo. E você é uma obra de Deus! Perceba o valor que você tem. Você é um ser, alguém muito importante para Deus. Pare de falar que você não tem valor, que você não presta! Você tem valor: isso é a primeira coisa que um deprimido tem de entender. Você é filho do Dono do mundo!

Você quer a prova de que Deus Pai o ama? Jesus disse que Ele pode ter 99 ovelhas, mas se tem uma perdida Ele deixa as 99 para buscar você. Se você é a ovelha deprimida, perdida, Ele larga as outras e vai buscá-lo.

Entenda o valor que você tem. Você é um filho amado de Deus, e não tem direito de "queimar" sua vida. A graça não dispensa a natureza. O Todo-poderoso está pronto para mover o céu para que seu milagre possa acontecer, mas Ele não move uma palha para fazer aquilo que você pode fazer.

 

(Artigo extraído de uma palestra do professor Felipe de setembro de 2006).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

18 de janeiro de 2011

A fidelidade começa no namoro

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Nós precisamos fazer uma santa revolução na juventude
O namoro não é um tempo para conhecer o outro por fora, mas por dentro e fazer o outro crescer; se isso não acontece, então este relacionamento está furado. Para dizer "sim" ao outro, você tem que dizer "não" para você. E quando isso acontece, você está fazendo o outro crescer, e isso precisa acontecer no namoro, no noivado e no casamento.

O amor é uma decisão. Quando você sobe ao altar para se casar, você diz que jura ser fiel, na saúde, doença, amar e respeitar todos os dias da sua vida, e não é uma declaração poética, mas um juramento de fidelidade até o último dia da sua vida. O jovem que não é fiel no namoro, então não será no casamento também.

É o amor que constrói, o amor não é egoísta, mas tudo suporta, tudo espera, esse é o amor de Deus, não o amor dos homens, ou das telenovelas. São Paulo compara o amor dos maridos com o amor que Cristo tem pela Sua Igreja.

Um dos problemas que mais afetam os jovens é a falta de fidelidade e a não vivência da castidade. Mais uma outra coisa: Por que muita gente não é capaz de amar? Amar é dar-se, é renúncia. E por que muitos não conseguem se dar? Porque não se possuem. Para dar algo para alguém você precisa ter posse daquilo.

Eu tenho que me possuir, e como é isso? É ter domínio sobre mim mesmo. Um homem que não tem domínio sobre si, que não consegue dominar-se diante de um prato de comida, ou aquele que não pode ver uma mulher e já vai atrás, é porque não tem comando sobre si; alguém assim não tem liberdade.

Deus não nos fez livres para fazer o mal, mas para fazer o bem. Se a liberdade não respeitar dois vínculos, que é a verdade e a responsabilidade, então não é liberdade, é loucura. Se você não consegue respeitar essas duas virtudes, é sinal de que você perdeu a razão. Ninguém é livre para abusar das pessoas. Ser livre é não ser escravo das paixões e do pecado. Livre é aquele que luta contra o pecado. Para ajudar o outro a crescer é preciso ser livre. Quem não é livre é egoísta.

Por que nós recebemos muitas cartas falando sobre o sexo no namoro? Porque para os jovens de hoje é muito difícil viver a castidade. O mundo vive um pansexualismo, no qual tudo respira a sexo. Não se vende mais um carro, roupa, sem colocar a foto de uma mulher nua. O homem é fascinado pelo corpo da mulher, por isso para o jovem é tão dificil viver a castidade. Deus fez a mulher maravilhosa, encantadora, mas existe um lugar para viver o sexo e o sexo é para ser vivido no casamento. A Igreja ensina que o sexo tem duas funções, unitiva e procriativa, mas antes disso é preciso unir as vidas, é preciso colocar uma aliança no dedo e prometer fidelidade todos os dias da vida. Depois de colocar a aliança no dedo aquele homem é da mulher e a mulher é do homem.

Marido e mulher não podem ficar muito tempo sem relação sexual, a Igreja chama isso de "débito conjugal". O sexo é a liturgia do amor conjugal, é a maior expressão de amor entre o casal. Ali não está se dando apenas um presente, uma rosa, não, é o seu corpo, a sua intimidade que você está dando ao outro. Não há sentido em entregar o seu corpo sem um compromisso conjugal.

E muitos perguntam: Eu amo meu namorado, por que não posso ter vida sexual com ele? Primeiro porque a lei de Deus não quer. E porque Deus não quer é porque Ele não é bom? Não! É porque não é bom, e isso tem um nome: Isso se chama "fornicação", e é pecado grave. Duas pessoas solteiras que se relacionam sexualmente a Igreja chama de adultério ou fornicação. Como cristão católico, você não pode, porque para nós o que vale é a Palavra de Deus.

Viver a castidade no casamento é não desejar a mulher do outro, não ver filme pornográfico e depois querer fazer o mesmo com a sua esposa. E eu, meus irmãos, continuo lutando, pois eu quero esta medalha de ouro, mas você jovem que consegue viver a castidade, a sua medalha será muito maior que a minha, porque quanto maior for a sua luta, tanto maior será o sabor da sua vitória.

Nós precisamos fazer uma santa revolução na juventude, para que os jovens vivam no namoro a castidade, para que eles se respeitem até o casamento. Porque o sexo antes do casamento estraga muito.

O Papa João Paulo II, em 1997, disse que no Brasil, por causa do sexo livre, há milhares de crianças órfãs de pais vivos. Homens covardes que abusam das meninas. E quem paga a conta é a criança, que muitas vezes é abortada, outras ficam aos cuidados dos avós ou em orfanatos. Quando uma criança é gerada no casamento não acontece isso, ou não é para acontecer de os pais abandonarem os filhos. Quando a Igreja pede que o jovem seja casto, é para ele treinar, exercitar a fidelidade para chegar ao casamento com esta fibra e com a graça de Deus.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

26 de dezembro de 2010

Tenho confiado em Deus ou em mim mesmo?

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Nem sempre é possível caminhar amparado pelas certezas
É feliz quem na vida apreende com tudo o que ela proporciona, e quem consegue perceber nos fatos, nas alegrias e nas decepções realidades que acrescentem positivamente ao próprio universo de compreensão a respeito da existência. Em algumas situações parece que a vida nos "puxa o tapete", quando vemos nossos sonhos e tudo o que construímos desmoronar. Tais situações podem nos ensinar muito, nos levando a compreender a vida de maneira mais autêntica e acompanhada por Deus.

Muitas vezes, sentimos "sumir nosso chão" quando algo que desejávamos muito nos é tirado, e quando o que queríamos não acontece; porém, diante de tais situações é preciso que o coração questione se, de fato, a realidade com a qual sonhávamos era o melhor para nós.

É difícil ver nossos projetos desmoronarem, mas esses são momentos privilegiados para constatarmos se esses eram verdadeiramente os sonhos de Deus para nós.

Deus sabe o que é melhor para nós, Ele consegue enxergar além do que conseguimos compreender, e quando entregamos a Ele as rédeas de nossa vida Sua ação se faz real em tudo e através de tudo, nos retirando de caminhos tortuosos e nos conduzindo pela estrada certa, mesmo quando não somos capazes de perceber.

Muitas vezes, construímos nossa história e pautamos nossas escolhas em ideais puramente nossos, nos amparando somente naquilo que são nossas convicções pessoais, sem submeter a Deus nossa vontade. Agindo assim corremos o risco de viver constantemente frustrados, em virtude de termos confiado em nossas próprias forças e não n'Aquele que verdadeiramente sabe do que precisamos.

Deus nos conhece melhor que nós mesmos; Ele sabe o que, de fato, nos realizará em nossa essência.


O Cristianismo é um território onde a confiança se estabelece como "necessidade", pois nem sempre é possível caminhar amparados pelas certezas nas quais desejaríamos ancorar nossa história.

A certeza que precisa ancorar nossos passos é aquela que brota confiança no Deus que cuida de nós e que sempre tem o melhor para nós, mesmo quando tudo parece escuro.


Deus sempre está agindo, nos moldando e nos fazendo melhores. É preciso que confiemos n'Ele e em Sua maneira de agir, e não somente em nossas potencialidades e convicções.

Deus tem o melhor para nós, Ele sempre tem... É preciso confiar e permitir que Ele conduza todas as coisas, pois Ele sabe o que é o melhor.

Foto Adriano Zandoná
verso.zandona@gmail.com

23 de dezembro de 2010

Quando o inesperado bate à nossa porta

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Precisamos aprender a viver intensamente cada momento
No nosso cotidiano, envolvidos nas tarefas e nas situações do dia a dia, sempre nos esquecemos de algumas coisas básicas, até depararmos com o inesperado. Muitas vezes, nós nos envolvemos tanto com as tarefas que acabamos nos esquecendo de Deus, dos irmãos e de que nossa vida aqui é finita. Vivemos como se o nosso tempo aqui fosse infinito; e assim, perdemos tempo. Deixamos de amar aqueles que nos cercam.

A finitude do nosso tempo faz com que nos esforcemos para aproveitar o tempo de vida de que dispomos e não deixemos passar em vão ocasiões e momentos irrepetíveis. Cada minuto de nossa vida, ao lado das pessoas que conhecemos e amamos, é único e precisa ser aproveitado com toda a intensidade. Cada encontro com o outro é uma oportunidade que não volta a se repetir.

Em 2002, vivi a experiência do inesperado bater à minha porta, quando meu irmão sofreu um grave acidente de carro e, em fevereiro de 2004, foi para junto de Deus. No ano do acidente, posso dizer que tive a graça de aproveitar breves momentos, intensamente.

Ele morava em Araguaína (TO) e eu estava na missão de Natal (RN). Ele foi para casa em férias no final de ano, mas devido à missão eu não pude ir. Como somos pernambucanos ele estava a poucas horas da cidade onde eu estava, na hora de voltar para sua cidade, ele mudou a rota e passou, em plena madrugada, na minha casa, para matarmos um pouco a saudade. Essa foi a última vez que vi o meu irmão com vida. Foram poucos minutos, mas vividos com intensidade, vividos como únicos e irrepetíveis.

Hoje, compreendo que a consciência de nossa finitude nos dá oportunidade para concentrarmos a atenção no essencial. Dá-nos oportunidade de entendermos que cada pessoa é única e irrepetível. Ensina-nos a não pararmos nas diferenças, mas olharmos a individualidade de cada um como riqueza. Ensina-nos a sairmos de nós mesmos para servir o outro, para amar o outro. Ensina-nos a viver cada momento que vivemos como únicos. Dessa forma, conseguimos viver o tempo presente como ele deve ser vivido: colocando nossas preocupações em Deus e nos concentrando na essência da vida: Amar e Servir. Precisamos aprender a viver intensamente cada momento. Aprender a não nos deixarmos levar pelas tarefas e atividades do cotidiano, de forma a não deixarmos passar em vão os momentos de encontro com o outro, e a não deixarmos passar em vão os momentos oportunos para amar.

Foto Manuela Melo
psicologia@cancaonova.com

20 de dezembro de 2010

Tudo tem seu tempo

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A busca dessa sabedoria é tarefa de todos
Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu (cf. Eclesiastes 3, 1). Nesta máxima da sabedoria em Israel, fundamento da cultura grega presente no mundo judaico, bem localizado no horizonte cristão, vê-se o quão oportuna é a figura de um ancião que tem o intuito de instruir os jovens.

Há uma sabedoria que não pode ser esquecida sob pena de perder o verdadeiro sabor das coisas e dos sentidos adequados para a existência, provocando os desvarios absurdos que têm configurado a sociedade contemporânea. Concretizados em violência, corrupção, imoralidade, indiferença com a dor dos outros, perversidade; e ainda no entendimento da vida como disputa, na surdez para o grito dos pobres. Estes desvarios acontecem pela falta de sabedoria que pode estar ausente ou ser cultivada nas estratégias da governança moderna, nas especializações das ciências deste tempo, ou mesmo na aprendizagem dos processos formativos.

Essa sabedoria capacita corações e inteligências para o discernimento adequado, de modo que as escolhas configurem condutas à altura da dignidade humana em todos os níveis e na direção de cada pessoa, respeitada a sua singularidade.

A busca dessa sabedoria é tarefa de todos. Não se pode delegá-la, seja na família, nas instituições, nos variados contextos - ou eximir-se dessa missão. Os fluxos que configuram a cultura ocidental estão comprometidos. Impedem, lamentavelmente, por atos e escolhas, o cultivo permanente dessa sabedoria para equilibrar a vida e vivê-la dignamente desde a fecundação até a morte com o declínio natural. A vida de todos está o tempo todo por um fio. É resultado da falta de sabedoria de que tudo tem seu tempo - discernimento que modula a inteligência livrando-a dos desatinos da irracionalidade e preservando o sentido de limite, sem comprometer a liberdade e a autonomia.

No livro do Eclesiastes, capítulo terceiro, o ancião se empenha na tarefa de instruir os jovens. Insiste na compreensão que não pode ser substituída nem pela ciência e nem por estratégias.

Vale retomar sempre as indicações do sábio ancião: "Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de destruir e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar, tempo de abraçar e tempo de afastar-se dos abraços, tempo de procurar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amor e tempo de ódio, tempo de guerra e tempo de paz". Está indicado que a vida não pode ser vivida e conduzida sem essa sabedoria. Trata-se de um caminho longo na vivência do amor, na prática da justiça, na assimilação de valores, no exercitar-se no gosto de ser bom e de encantar-se com o outro.

As instituições todas, sobretudo a família, têm tarefas fundamentais nesse processo para tecer uma cultura ancorada na sabedoria. Se esse caminho não for percorrido, com urgência e perseverança, os desvarios da violência, das disputas, das agressões e da perda de sentido continuarão desfigurando instituições, culturas, modos de viver. Assim as vítimas, e também agentes, desse processo, serão especialmente os mais jovens.

Diante da atual realidade torna-se premente modular os corações e as culturas no horizonte dos valores que se revelam na pessoa de Jesus Cristo. A propósito de que tudo tem seu tempo, vivenciamos o momento propício para refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal. É preciso sabedoria para não se curvar diante de enfeites, de Papai Noel e de outros símbolos comerciais que parecem ofuscar Jesus Cristo, o Dom maior de Deus Pai para a salvação da humanidade.

É tempo de cultivar símbolos como o presépio, antiga tradição educativa que modelou corações no bem, cuja intuição sábia de São Francisco de Assis nos deixou como herança. É tempo de reavivar o coração na fé e nos valores que só o encontro com Cristo pode garantir.

Resgatando a inspiração de Francisco de Assis, a Arquidiocese de Belo Horizonte convida todos a reacenderem a chama do amor de Deus, fonte inesgotável da sabedoria que sustenta a vida.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

15 de dezembro de 2010

A felicidade que se busca no Natal

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Presente algum poderá eliminar o vazio de nosso coração
É praticamente impossível não deixar de perceber que o Natal está chegando. As casas ganham uma ornamentação especial, árvores são iluminadas, jardins decorados e o comércio se movimenta traçando estratégias para melhores faturamentos. As pessoas se mobilizam de tal maneira que nenhuma outra celebração do ano parece igual. Os mais desavisados podem pensar que dezembro é o mês das festas. O comércio se desdobra em turnos de trabalho, promovendo competições, distribuindo prêmios por meio de sorteios, entre muitas outras ações.

Nas empresas, colaboradores brindam a chegada de mais um Natal, com festas, brincadeiras e troca de presentes... Toda essa movimentação parece revigorar nas pessoas a força de encontrar um sentido para suas vidas que, por muitas vezes, não passam de dias rotineiros, repletos de superficialidades, os quais se repetem por anos a fio.

Não é raro nós vermos pessoas reclamando ou tristes exatamente na noite em que a humanidade se rejubila com a graça que Deus dispensou à humanidade. Talvez, essas pessoas esperassem viver – na atitude de presentear e de serem presenteadas – o verdadeiro significado dos votos de felicidade expressos nos cartões ou nas frases, muitas vezes, repetidas quase que automaticamente. Para outras, os votos de felicidades são traduzidos na esperança de gozarem de muita saúde e muito dinheiro para realizar todos os sonhos de consumo.

Infelizmente, devido à necessidade de se alcançar a alegria vendida pelo mundo, muitos de nós mal nós damos conta da grandeza da oferta concedida por Deus a cada um de nós neste tempo. A felicidade que se busca não está contida num pacote ou, simplesmente, nos votos de dias sem preocupações, crises ou sofrimentos. Sabemos que presente algum poderá eliminar o vazio de nosso coração ou tirar a inquietude de nossa alma com as diversas preocupações e decepções. O grande diferencial que supre as lacunas de nossa alma e que revitaliza nossas forças, especialmente quando somos assolados pelas tempestades da vida, tem sido proclamado pela Igreja há mais de 2.000 anos.

Talvez esteja faltando em nossa vida – entre as atividades agendadas para o feriado de Natal – o compromisso de buscarmos viver o encontro com Aquele que é a salvação para ricos e pobres; brancos e negros; livres e cativos; e razão de toda existência. Em nossos dias, grandes transformações continuam acontecendo na vida daquelas pessoas que se dispõem a conhecê-Lo. Pois, ao vivermos uma experiência com Ele não nos encontramos com um personagem histórico que viveu há milhares de anos, mas com Alguém que vive e realiza prodígios na vida de quem O acolhe como Amigo.

Não se conhece alguém que, ao assumir a participação de Jesus Cristo na sua vida, tenha sido decepcionado ou abandonado às margens do caminho; ou que, ao ter clamado por Sua ajuda, tenha sido desprezado.

Neste novo tempo, em vez de permitirmos que o Menino Deus nasça numa manjedoura fria, que possamos testemunhar a alegria de acolher em nosso coração Aquele que pode preencher a nossa alma e nos propor um novo caminho em direção à almejada felicidade.

Abraços e votos de feliz Natal repleto de mudanças!

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com